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DA CONDUTA

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– DA CONDUTA
- Conceito de Ação (Causalista, Finalista e Social)
Segundo a concepção causalista, devemos analisar o conceito de ação em dois momentos diferentes. O primeiro, proposto inicialmente pela teoria clássica, dentro do sistema causal-naturalista criado por Liszt e Beling, diz ser a ação o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior. Posteriormente, em virtude das críticas sofridas pela teoria clássica, que não conseguia explicar o problema da omissão, surgiu a teoria neoclássica que passou a entender a ação como um comportamento humano (positivo ou negativo) voluntário, manifestado no mundo exterior (causando um resultado).
Com o finalismo de Welzel, a ação passou a ser concebida como o exercício de uma atividade final. É a ação, portanto, um comportamento humano, voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre a determinada finalidade, que pode ser ilícita (quando atua com dolo) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo).
De acordo com a teoria social da ação, o conceito jurídico de comportamento humano é toda a atividade humana social e juridicamente relevante de acordo com os padrões estabelecidos em determinada época e que pode ser dominada ou dominável pela vontade.
– Classificação da Conduta: Positiva ou Negativa / Dolosa ou Culposa
O agente pode praticar a infração penal fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou omissivas (negativas). Nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita (ex.: no homicídio, o agente age querendo a morte da vítima). Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei penal ao agente (ex.: art. 135 do CP.
Os crimes omissivos podem ainda ser próprios (puros ou simples), quando são descritos como uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, não sendo necessário qualquer resultado naturalístico; ou impróprios, em que somente as pessoas definidas no § 2º do art. 13 do Código Penal podem praticá-los, uma vez que, para elas, existe o dever especial de proteção (quando se encontram na posição de agente garantidor – obrigação de cuidado, proteção ou vigilância – de outra forma tenham assumido a responsabilidade de evitar o resultado; ou, com seu comportamento anterior, tenham criado o risco da ocorrência do resultado). Nos crimes omissivos impróprios, o omitente responde como se tivesse praticado a conduta de forma comissiva.
Além de agir de forma positiva ou negativa, o autor da prática do fato pode agir, também, de duas formas: dolosa (quando quer diretamente o resultado) ou culposa (quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, negligência ou imperícia). A regra, para o Código Penal, é a de que todo crime seja doloso, somente sendo punida a conduta culposa quando houver previsão legal expressa nesse sentido, conforme determina o parágrafo único do art. 18.
– A Ausência de Conduta: Coação Física Irresistível, Movimentos Reflexos e Estados de Inconsciência 
A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à consecução de um fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em conduta (não existe vontade de nada ou para nada – a vontade é sempre de algo, tem sempre um conteúdo).
Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há ação. Isso pode acontecer quando o sujeito se vir impedido de atuar, como nos casos de:
Coação física irresistível – pode ser proveniente da natureza (ex.: sujeito é arrastado pelo vento esbarrando em outra pessoa, vindo a causar-lhe lesões corporais) ou da ação de um terceiro (ex.: agente coloca uma faca na mão de um terceiro e o obriga, através de sua força, a esfaquear outra pessoa / uma pessoa é empurrada por outra indo de encontro a objetos, vindo a danificá-los). Nesses casos, a ausência de conduta é do coacto, pois, o coator, tendo agido com vontade e consciência, será autor de uma conduta que pode ser típica, ilícita e culpável e, nesse caso, teremos o que se chama de autoria mediata.
Movimentos reflexos – há situações em que nosso organismo reage a determinados impulsos e, em virtude disso, podem advir, por exemplo, lesões ou danos. É o caso em que alguém, ao colocar o fio de seu aparelho de som em uma tomada, recebe uma descarga elétrica e, num ato reflexo, ao movimentar seu corpo, atinge outra pessoa causando-lhe lesões. Nesse caso não se pode imputar-lhe o resultado em face da ausência de conduta, pois, sem conduta não há fato típico e, sem fato típico, não há crime, salvo se o movimento reflexo era previsível. No exemplo acima, se o agente percebesse que poderia receber a descarga elétrica e, mesmo assim insistisse na conduta, o resultado poderia ser-lhe imputado, no mínimo, a título de culpa.
Estados de inconsciência – existem casos de total inconsciência, que têm o condão de eliminar a conduta do agente, como o sonambulismo, ao ataques epiléticos etc. No caso de embriaguez completa, desde que seja proveniente de caso fortuito ou força maior, também estará ausente a conduta (ex.: indivíduo que, por recomendação médica, toma um determinado remédio que lhe causa um efeito colateral deixando-o completamente embriagado. Se der causa a um resultado ilícito nessas condições, não será responsabilizado em virtude de seu estado de inconsciência).

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