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RESUMO TEORIA DO CRIME A2 UVA

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Fato típico + Ilícito + Culpável
↳ Todo ato para ser considerado crime tem que estar previsto em lei.
· Conceito Formal de Crime art 23 cp
	 FATO TÍPICO + ILICITUDE + CULPABILIDADE |
	Fato que se ajusta a lei penal
Ex: matar alguém 
	Se é licito ou ilícito Ex: matar alguém em legítima defesa não é ilícito.
	Capacidade de auto-determinação ou socitiva, responder pelos atos. Ex: criança e deficiente mental não são culpáveis.
Imputável: Responde Penalmente | Inimputável: Não responde penalmente (criança, adolescente, doente mental). ECA: não prevê prisão para crianças menores de 12 anos.
Conduta nexo causal resultado = tipicidade
Ex: A dá um tiro em B
- Caio ao conduzir uma moto, munido do equipamento regulamentar é picado por uma abelha que acaba entrando em seu capacete. O condutor acelera de forma espontânea e involuntária e acaba lesionando um pedestre. ↳ Situação Jurídica: Não há crime por ausência de conduta. Fato atípico. Não existe conduta sem vontade. 
Conduta comissiva: é a conduta consistente em um fazer. Vontade na própria conduta.
Conduta omissiva: consiste, evidentemente, em deixar de fazer algo.
Ilicitude
Causas de Exclusão – art 23 CP
Excesso Punível | Ex: Ofendículos (mecanismos de defesa do patrimônio cerca elétrica, arames farpados) desde que não haja excessos.
Excludentes de ilicitude:
Estado de necessidade: Há um conflito entre 2 bens jurídicos (vida x vida – confronto) (furto famélico [matar a fome]).
Legítima Defesa art 25 CP: A fim próprio e para terceiros – prisão injusta – pode haver dolo de matar.
Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do Direito.
Culpabilidade
Imputabilidade: critério de aferição biopsicológico (art 26)
	↳ Capacidade intelectiva | Capacidade de auto-determinação (volitiva).
↳ Causas que afastam a imputabilidade (inimputabilidade): Doença mental, desenvolvimento mental incompleto (criança, adolescentes), embriaguez**. Art 21
** Embriaguez: voluntaria art 28 II | culposa art 28 II | preordenada art 61 || “L” | acidental (por caso fortuito ou por motivo de força maior) art 28 § 1.
Potencial Consciência da Ilicitude
	↳ Causa que afasta – art 21
Exigibilidade de conduta diversa - art 22
	↳ Coação irresistível, estrita obediência a ordem
Concepção Hipotética de Tyren
Concausas absolutamente independente: Eclodem sem que tenham sido provocadas pelo agente.
Concausas absolutamente independente preexiste à conduta do agente.
- Caio com dolo de matar desfere tiro que acaba por pegar no pé da vitima. A vítima morre, pois uma hora antes do fato havia ingerido veneno – Caio responde por tentativa de homicídio art 121. 
Concausas absolutamente independente concomitante à conduta do agente:
- Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. A vítima morre, pois coincidentemente no momento do disparo a vítima teve um colapso cardíaco constatando a perícia que nada teve a ver com o tiro – Caio responde pela tentativa de homicídio e pelos atos praticados.
Concausas absolutamente independente superveniente à conduta do agente:
- Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. A vítima morre porque logo depois do tiro cai uma viga sobre a cabeça da vítima – Caio responde pela tentativa.
Concausas relativamente independentes: A ação do agente não é a causa direta do resultado, porém sua conduta está ligada à causa provocadora do resultado, ou seja, o resultado somente ocorreu porque o sujeito ativo realizou a conduta.
Concausas relativamente independentes pré-existente: 
- Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. A vítima morre por se tratar de pessoa hemofílica e Caio sabia dessa condição – Caio responde pelo resultado (homicídio). Se o tiro não tivesse disparado, a vítima não teria morrido.
Concausas relativamente independentes concomitantes:
- Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. Em função do tiro, a vítima teve um colapso cardíaco e vai à óbito – Responde por homicídio doloso.
Concausas relativamente independentes supervenientes:
- Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. A vítima morre, pois o ehospital que se encontrava internado na UTI pegou fogo – Não responde pela morte, mas por tentativa.
	
↳ Situação: Caio com dolo de matar desfere um tiro que acaba por pegar no pé da vítima. A vitima morre no hospital devido a uma infecção hospitalar decorrente do tiro – Não há quebra do nexo causal, morreu pelo tiro. Responde por homicídio.
Relação de causalidade
Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (3.1)
Superveniência de causa independente
§ 1º – A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (3.2)
Relevância da omissão
§ 2º – A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (3.3)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
1 – Conceito de crime. Nesse ponto tem início o Título II da Parte Geral do Código Penal, que trata do crime Antes de analisarmos o art. 13, é necessário que passemos a um breve estudo do crime, envolvendo seus requisitos e elementos.
O que é crime? Nos interessa buscar uma resposta através de um estudo analítico do crime, ou seja, por meio da decomposição de cada um dos seus requisitos e elementos.
1.1 – Requisitos do crime. A maioria dos doutrinadores analisa o crime através de uma visão tripartida. O crime é um fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável (Heleno Cláudio Fragoso, Francisco de Assis Toledo, Luiz Régis Prado, Guilherme de Souza Nucci, Paulo José da Costa Jr., Manoel Pedro Pimentel, Aníbal Bruno, Rogério Greco, Juarez Tavares, e outros).
A corrente minoritária sustenta uma divisão bipartida do crime. O crime é um fato típico e antijurídico (ou ilícito). Dentre os doutrinadores podemos citar Flávio Augusto Monteiro de Barros, René Ariel Dotti, Damásio de Jesus, Fernando Capez, e mais alguns outros.
Para essa corrente minotária a culpabilidade não integra o crime, sendo apenas um pressuposto de pena. O correndo um fato típico e ilícito, pressupõe-se que o autor sofrerá uma sanção penal (pena). A culpabilidade representa um desvalor, uma reprovação social da conduta.
Nos filiamos à corrente minoritária. Embora não seja a intenção, neste trabalho, discorrer sobre questões doutrinárias que nos afastem, em muito, dos artigos de lei examinados, nos pareceu ser apropriado justificar nossa posição.
Quando o legislador cria um tipo penal, ele o faz em razão do interesse maior da sociedade que corresponde a um não concordar com aquela conduta. O corpo social entende que aquela ação humana não deve ser aceita e, por tal motivo, deve merecer uma repreensão.
Primeiro passo do legislador: descreve a conduta imprópria, a conduta que causa repulsa aos membros daquela sociedade.
Segundo passo: disciplina o valor da sanção penal (pena) a ser imposta a todos que agirem na conformidade da conduta descrita.
Temos, então, uma regra: todo fato típico (conduta não tolerada) é ilícito, ou também denominado de antijurídico (contraria o ordenamento jurídico – não é lícito no sentido de não ser tolerado). Se a regra geral é a de que todo fato típico é ilícito, podemos afirmar que, excepcionalmente, o fato típico é lícito. Tomemos como exemplo o art. 121, caput, do Código Penal, a conduta típica: matar alguém (a sociedade não tolera que alguém mate a alguém); como essa conduta é tipificada penalmente (há a uma pena), ela contraria o direito,ela afronta o direito que diz: matar alguém é uma infração penal. Essa é a regra geral, mas existem situações em que matar alguém é lícito, a sociedade aceita, como ocorre, por exemplo, nas quatro situações do art. 23 do Código Penal . Se eu mato alguém, é ilícito, mas se eu mato alguém em legítima defesa, é lícito. A sociedade diz: não pode matar, mas se matar em legítima defesa, nós, sociedade, aceitamos.
Temos até agora que o crime é um fato típico e ilícito. Portanto não há crime se o fato for típico, mas não for ilícito, tiver a ilicitude excluída, é o que diz o nome jurídico do art. 23 do CP:
Exclusão da ilicitude.
Vejamos agora a descrição do art. 23, CP: “Não há crime quando o agente pratica o fato:”. Vejam que o legislador afirma: “Não há crime”. Insistimos na afirmação: O crime necessita de um fato típico e um fato ilícito, pois se o fato for lícito, não há crime. 
Sigamos na explicação: Uma vez ocorrido um fato típico e ilícito, o autor fica sujeito a uma pena, cujos parâmetros são estipulados, entre um mínimo e um máximo, no próprio tipo penal.
Voltemos ao art. 121 do CP: Se alguém matar alguém, de forma simples (art. 121, caput), e o fizer de maneira que não esteja acobertado por uma excludente de ilicitude, ficará sujeito a uma sanção penal de reclusão que irá variar entre 6 e 20 anos .
Essa pena a ser imposta representa a reprovação social da conduta (conduta é igual a fato típico e ilícito). A sociedade reprovou aquela conduta e exige a aplicação de pena.
1.2. Exclusão da pena. É possível então afirmar que ocorrendo um fato típico e ilícito, haverá a imposição de uma pena? A resposta é, não. É de se pressupor que ocorrerá a punição do sujeito, mas é apenas uma suposição, pois se ele for inimputável, não poderá ser punido em razão da prática do fato típico e ilícito. Inimputável é quem não pode sofrer uma pena.
É como se a sociedade pudesse dizer: Não toleramos que alguém mate alguém, exceto no caso em que se possa excluir a ilicitude, mas se a ilicitude não puder ser afastada, deverá ser aplicada a pena, exceto se o fato ocorrer em razão de uma impossível percepção do ilícito, ou por uma força maior que levaria qualquer pessoa a agir daquela maneira. Nessas situações de excepcionalidade, exclui-se a reprovação social, e por consequência, a pena.
1.2.1. Quem são os inimputáveis? São todos aqueles que, no momento do fato típico e ilícito praticado, se encontrarem nas situações do art. 26, caput, do art. 27, e do § 1º do art. 28, todos do Código Penal. Há ainda a hipótese de inimputabilidade nos casos do § 1º do art. 20, art. 21 e art. 22, todos do Código Penal.
E o que disse o legislador nos tipos penais acima elencados? Que não há crime? Não, o legislador afirmou que fica isento de pena, que não é punível o autor do fato típico e ilícito.
Observem: no art. 23, CP, afastada a ilicitude, não há crime; nas hipóteses de inimputabilidade, estando ela presente, isenta de pena. O crime se faz presente, o que fica afastada é a possibilidade de aplicação da pena.
É de se perguntar: o menor de 18 anos então comete crime? O louco, sem capacidade de discernir o certo do errado, comete crime? Nos parece que sim. O legislador, quanto ao menor, criou a _gura do ato infracional, que não deixa de ser um crime praticado por um menor de idade. E o insano? Também pratica um crime, e tanto é assim que fica sujeito a uma medida de segurança nos termos do art. 97 do Código Penal.
A reprovação social da conduta está presente no ato praticado por qualquer inimputável, apenas aceita-se que _quem isentos de pena, mas insistimos, a conduta continua sendo reprovável. Na inimputabilidade não se exclui o crime, se exclui a aplicação da pena. Voltemos ao estudo do crime através de seus requisitos. Foi visto que o crime, dependendo da corrente doutrinária que se siga, pode ser um fato típico, ilícito e culpável, ou um fato típico e ilícito.
Do fato ilícito ou antijurídico, e da culpabilidade, exploraremos em tipos penais mais à frente. Cabe, neste momento, voltar às atenções ao estudo do fato típico.
2 – Do fato típico. Temos aqui o primeiro requisito do crime. O fato típico corresponde ao encaixe da conduta na norma penal. Para que esse encaixe se torne perfeito é necessário o exame dos elementos que compõem o fato típico. O fato típico é composto de conduta, resultado, nexo causal, tipicidade formal e tipicidade material. Na falta de qualquer um desses elementos, o fato será atípico e, por consequência, não será crime. Passemos à análise de cada um desses elementos.
2.1 – Conduta. O Direito se presta a regular a conduta humana. O homem é livre na sua conduta, mas encontra parâmetros quanto à legalidade dessa conduta. A conduta, seja ela positiva, no sentido de fazer, ou negativa, no sentido de omitir-se a fazer , não tolerada pela sociedade é transcrita em um tipo penal, sujeitando seu autor a uma pena. É a aplicação do princípio nullum crimen sine conducta (não há crime sem conduta). Se a conduta é uma ação humana, como punir a pessoa jurídica que é um ente desprovido de capacidade de conduta?
A pessoa jurídica não age por vontade ou instinto. Sua ação depende de um ser humano que promove o ato realizado pelo ente jurídico.
Lamentavelmente o legislador constituinte acatou a teoria da realidade ou organicista, em contraposição à teoria da ficção, que não admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, justamente por faltar-lhe a capacidade de conduta. É o que está representado no art. 173, § 5º da Constituição Federal (responsabilidade do ente jurídico no que diz respeito à ordem econômica e financeira), e no art. 225, § 3º, também da Carta Maior (responsabilidade da pessoa jurídica nas lesões ao meio ambiente).
2.1.1 – O dolo e a culpa na conduta. O Código Penal de 1940 adotou, inicialmente, a chamada teoria causalista ou clássica, onde se perquire sobre dolo e culpa no exame da culpabilidade.
A partir de 1930, através de Hanz Welzel, desenvolvia-se uma nova corrente sobre o estudo da vontade como elemento necessário à realização da conduta. Era necessária uma vontade humana para a realização de um ato contrário ao direito. Surge a teoria finalista da ação. A ação é uma atividade final humana. Diz Damásio de Jesus: “A finalidade, ou atividade finalista da ação, baseia-se em que o homem, consciente dos efeitos causais do acontecimento, pode prever as consequências de sua conduta, propondo, dessa forma, objetivos de distinta índole. Conhecendo a teoria da causa e efeito, tem condições de dirigir sua atividade no sentido de produzir determinados efeitos” (Direito Penal, Parte
Geral, 1º vol. 32ª ed., Saraiva, p. 274).
O nosso legislador, a partir da reforma da Parte Geral do Código Penal, em 1984, adotou a teoria finalista da ação.
De praticidade podemos afirmar que a doutrina clássica ou causalista examinava o dolo e a culpa, após a apreciação do fato típico e ilícito. Com a adoção da teoria finalista da ação, dolo e culpa têm o exame no momento da apreciação da conduta, o que equivale dizer que, não existindo dolo ou culpa na conduta humana, o fato é atípico. Não se faz mais necessário o exame de toda a estrutura do crime para, ao final, excluir a culpabilidade pela inexistência de dolo ou culpa.
2.1.2 a – Conduta. Conduta representa uma ação ou uma omissão humana, de forma consciente, e consistente em um movimento ou abstenção de movimento corporal. Sem consciência ou voluntariedade, não há conduta. Existindo a conduta temos o primeiro elemento do fato típico.
2.1.2 b – Não conduta. A falta de vontade humana afasta o elemento conduta exigível no fato típico.
Exemplo: O ato praticado durante o período de sonambulismo, ou uma conduta provocada por reflexo, poderia ser considerada conduta para efeitos penais?
O reflexo é uma reação automática provocada por um nervo sensitivo. O sujeito, que de forma não voluntária, sofre um corte na mão e, em razão do corte, joga o braço para trás e esbarra em um objeto de arte e o derruba ao solo danificando-o, não poderá responder pelo crime de dano (art. 163, CP), por seresse um fato atípico. Não existiu um movimento corporal por influxo anímico.
Não se confunde ato reflexo com ato instintivo. O ato instintivo decorre de uma reação voluntária, como por exemplo o sujeito que é empurrado por alguém e, instintivamente, desfere um soco no rosto do sujeito que o empurrou. Não havia uma intenção anterior, mas o ato foi praticado mediante voluntariedade.
A coação irresistível, física, também não constitui uma conduta humana relevante para o fato típico. Como exemplo podemos citar o caso do sujeito que é dominado, e o dominador, através de uma coação física, coloca o dedo do dominado no gatilho da arma e provoca o tiro que vem a matar terceira pessoa. Estaremos diante de um fato atípico. É importante ressaltar que a coação deve ser física, pois a coação moral pode, apenas, afastar a culpabilidade, como nos casos do art. 22 do Código Penal.
Há, ainda, outras situações que afastam a voluntariedade da conduta, e, por suposto afastam a tipicidade, como por exemplo nas situações de sonambulismo e hipnose, em que o sujeito se coloca, ou é colocado, em estado de inconsciência.
2.2 – Resultado. Segundo elemento do fato típico. Todo crime possui um resultado, seja ele jurídico ou naturalístico. Compreende-se por resultado naturalístico a mudança no mundo exterior. Tomemos o crime de homicídio por arma de fogo como exemplo: Temos o comportamento do sujeito ativo (conduta de disparar a arma contra a vítima) e a modificação do mundo exterior provocada pela morte do sujeito passivo (resultado). O que era um ser com vida, deixa de sê-lo, acarretando consequências jurídicas em razão da morte. Como resultado jurídico é possível afirmar que sua ocorrência se dá com a lesão ou o perigo de lesão a um bem penalmente tutelado, o que encampa os crimes omissivos próprios e os crimes de mera conduta, que são incapazes de promover uma mudança no mundo exterior.
Vejamos o caso do art. 150 do Código Penal (violação de domicílio – crime de mera conduta).
Típico crime de mera conduta cuja ação consiste em, simplesmente, invadir o domicílio de terceiro sem seu consentimento. Essa simples conduta não provoca qualquer resultado naturalístico. Costumamos dar o exemplo de você tendo um cunhado, este resolve permanecer em sua casa não querendo mais dela se retirar. Não há um resultado naturalístico, mas há a ofensa a um interesse jurídico que é a sua tranquilidade doméstica (resultado jurídico).
2.3 – Nexo causal ou relação de causalidade. Corresponde ao terceiro elemento do fato típico e consiste na apuração de se verificar se o resultado, jurídico ou naturalístico, tem uma ligação com a conduta, um liame subjetivo. Este elemento será mais aprofundadamente analisado mais abaixo, no exame efetivo do art. 13 (relação de causalidade).
2.4 – Tipicidade formal e tipicidade material: dois últimos elementos para a verificação da existência, ou não, de fato típico na conduta.
2.4.1 – Tipicidade formal: Ocorrendo uma conduta típica, estando presente o dolo ou a culpa, e o resultado estando vinculado àquela conduta, basta verificar em que tipo penal se amolda, com todos os elementos e circunstâncias, aquele fato. É o perfeito encaixe do fato na norma legal. A essa forma de ajuste dá-se o nome de Tipicidade Direta. Assim, por exemplo, se ‘A’ se apropria de um bem móvel, um automóvel, querendo se apossar do mesmo – que não lhe pertence, mas que tem a posse por deliberação espontânea de ‘B’, seu proprietário. Aqui temos a figura típica do crime de apropriação indébita (art. 168, CP). É possível observar que há um fato típico (conduta com dolo – art, 168, caput, CP); há um fato ilícito (não há permissão legal para que alguém se aproprie de um bem alheio); todos os elementos descritos na figura típica se apresentam no caso, ‘coisa alheia’, coisa móvel. A conduta está formalmente em consonância com o crime de apropriação indébita (art. 168, CP).
Imaginemos uma segunda situação: ‘A’, funcionário público, escrivão de polícia, se apropria de um bem móvel, querendo se apossar de algo que não lhe pertence, mas que tem a posse por ato espontâneo de ‘B’ (por exemplo, pagamento de fiança para responder o processo em liberdade, cuja guarda, até depósito bancário em favor do Estado, é de responsabilidade do escrivão). Observemos que esse segundo exemplo é parecido com o primeiro, porém, carrega um elemento diferenciador que, no caso, é a qualidade de funcionário público do sujeito que se apropria do bem. Ao procurarmos pelo Código Penal a figura que se encaixa na conduta, vamos passar pelo art. 168, e perceber que há um encaixe, mas ao chegar ao tipo penal do art. 312 encontraremos, aí sim, o perfeito encaixe do fato na norma penal. Além da apropriação indébita do art. 168 do CP, há um outro elemento para a adequação típica perfeita, a qualidade de funcionário público.
Ficamos assim: no primeiro exemplo, o sujeito ‘A’ comete o crime de apropriação indébita (art. 168, caput, CP); no segundo exemplo, o sujeito ‘A’ comete o crime de peculato (art. 312, caput, CP).
2.4.2 – Tipicidade material: o fato sendo típico através de uma conduta dolosa ou culposa, ocorrendo uma ligação subjetiva entre o resultado e a conduta, encontrado o tipo penal que se amolda perfeitamente àquela conduta, resta saber se o fato é penalmente relevante.
O Direito Penal deve ser visto como a última ratio (último recurso) para solucionar conflitos de interesse. Devem ser esgotados todos os meios de solução antes de se lançar mão do Direito Repressivo.
A nossa doutrina e jurisprudência são unânimes em, dependendo de cada caso concreto, afastar a aplicação da lei penal àquilo que se denomina de delitos de bagatela, ou princípio da insignificância.
2.4.2.a Princípio da insignificância. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem jurisprudência firmada no sentido de que, presente o princípio da insignificância, não há tipicidade material, tornando, por consequência, o fato atípico. A falta de um dos elementos do fato típico (conduta com dolo ou culpa, resultado, nexo causal, tipicidade formal e tipicidade material) torna-o atípico, e afasta o crime naquele caso concreto.
Os parâmetros utilizados pela Excelsa Corte de Justiça são os seguintes:
a) mínima ofensividade da conduta do agente: ficam afastados os crimes praticados mediante violência ou grave ameaça;
b) nenhuma periculosidade social da ação: o cometimento do crime sem provocar um intenso alarme social;
c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento: a sociedade não tolera o crime, mas é possível entender que a conduta delituosa, embora mereça uma repreensão, não impõe como necessidade o autor ser mandado detrás das grades;
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada: neste requisito tem-se em conta a suportabilidade da vítima em sofrer aquela lesão a um bem seu, juridicamente tutelado. É o caso de se perguntar: um furto simples de uma moeda de R$ 1,00 (um real) admite a aplicação do princípio da bagatela? A resposta é a resposta clássica no Direito: Depende. Se a vítima for razoavelmente abastada financeiramente, é possível a aplicação do princípio, o que não se dará no caso de um trabalhador que ganha um salário mínimo, mora de aluguel e é obrigado a utilizar quatro conduções para a ida e volta ao trabalho.
Esses quatro requisitos devem estar cumulativamente presentes para que se possa reconhecer o delito de bagatela, ou princípio da insignificância, e declarar a conduta como atípica por falta da tipicidade material.
3 – Da análise do art. 13, caput e parágrafos.
A relação de causalidade representa o nexo, o vínculo – que une a causa que produziu o resultado – ao resultado produzido.
3.1 – Caput. O texto da cabeça do artigo apresenta duas sentenças ou frases:
1ª – “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.”: Vimos acima que todo o crime possui um resultado (jurídico ou naturalístico). Afirma aqui o legislador que a prática do crime somente pode ser imputada a quem tenha dado causa ao resultado. O que pode ser considerado como causa para efeitos de obtençãodo resultado? A resposta vem na segunda sentença ou frase.
2ª – “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”: Toda ação ou omissão, que abstraída da linha que liga o autor ao resultado, impeça o resultado, é considerada causa.
Exemplifiquemos: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo, e o mata. Antes de ‘A’ sair de casa armado, resolve ir à padaria tomar um café. Temos uma ação de ‘A’ (tiro) e um resultado naturalístico (morte); temos, também, uma ação de ‘A’ ir à padaria tomar café. Se abstrairmos a conduta de ir à padaria, o resultado morte teria ocorrido? A resposta que se impõe é, sim. Conclusão: a ação de ‘A’ ir à padaria não é causa, pois o resultado morte teria ocorrido fosse ele à padaria, ou não fosse. É o juízo de eliminação hipotética desenvolvido pelo jurista e filósofo sueco Johan C. W. Thyrén.
No mesmo exemplo: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo, e o mata. O pai e a mãe de ‘A’ são causas? Se abstrairmos o pai e a mãe de ‘A’ da linha que liga sua conduta ao resultado, esse resultado teria ocorrido? Claro que não, pois sem o pai e mãe de ‘A’, ‘A’ não teria nascido e o resultado morte de ‘B’ não teria ocorrido. Conclusão: o pai e a mãe de ‘A’ são causas do resultado morte, e dessa forma o resultado morte também pode ser imputado aos pais de ‘A’. O mesmo ocorre com o dono da loja de armas que vendeu o revólver a ‘A’. O dono da loja também é causa do resultado, pois se não houvesse feito a venda, ‘A’ não teria utilizado aquela arma para obter o resultado de matar ‘B’. Ao dono da loja também pode ser imputado o resultado morte de ‘B’. A isso a doutrina denomina de regresso ao infinito, pois todos os ancestrais de ‘A’ seriam
responsabilizados, assim como todos que participaram da produção da arma utilizada, até sua venda.
3.1.1 – Limite ao alcance do regresso ao infinito.
Dentre as várias teorias sobre a relação de causalidade, o nosso Código adotou a teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non, como está expresso na segunda parte do caput do art. 13 do Código Penal (“Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”). É justamente essa teoria que permite o sistema de regresso ao infinito e, por razões claras, não atende à justa aplicação da lei penal.
Para que se possa imputar a alguém uma conduta considerada como delito, é necessário que esse alguém apresente um vínculo subjetivo com o resultado.
Para o Direito Penal, a causalidade relevante é aquela em que o sujeito age tendo uma previsibilidade do resultado, que não se confunde com previsão do resultado.
Com a adoção da teoria finalista da ação, como já vimos acima, o exame do dolo e da culpa no primeiro elemento do fato típico representa um freio à teoria da equivalência dos antecedentes.
Sem dolo ou culpa na conduta, não há como imputar a alguém a realização de um fato típico, o que, em consequência, exclui a imputação penal. Nos nossos exemplos de regresso ao infinito, o pai e a mãe de ‘A’ estarão excluídos da responsabilidade penal, assim como o vendedor da arma que, se o fez sem dolo ou culpa em relação ao resultado morte de ‘B’, não poderá ser responsabilizado criminalmente, muito embora sua conduta tenha sido causa do resultado morte.
3.2 – § 1º: Superveniência de causa independente.
Embora um sujeito possa realizar uma conduta tendente a um resultado, esse liame, essa ligação entre conduta e resultado pode não ocorrer por força da conduta realizada, mas sim por outra causa que se interponha no desdobramento da conduta. Superveniência significa aquilo que vem depois. O sujeito realiza uma conduta; enquanto essa conduta não atinge o resultado, uma outra causa se antecipa àquela conduta e provoca, então, o resultado.
Exemplifiquemos: ‘A’ atira em ‘B’ querendo matá-lo (‘A’ dá início à conduta que pretende chegar ao resultado morte); ‘B’ é socorrido ao hospital (o resultado morte ainda não ocorreu); ‘B’ é submetido a intervenção cirúrgica e acaba afetado por uma infecção hospitalar que causa sua morte. Vejam que uma causa posterior à conduta de ‘A’ provocou a morte de ‘B’ (infecção hospitalar). ‘B’ não faleceu (resultado morte) em razão direta do tiro desfechado por A. Poderá ser A responsabilizado penalmente pela morte de ‘B’?
3.2.1 – Causas absolutamente independentes e causas relativamente independentes.
Podem, ou não, as causas estarem ligadas ao resultado produzido pela conduta do autor. Existem situações em que a causa do resultado não tem qualquer ligação com a conduta do autor, ou seja, o resultado iria se produzir, tivesse o autor agido, ou não. A causa da morte de alguém pode ter sido provocada por uma conduta direta ou indireta do autor, ou pode não ter ligação alguma com a conduta. Se, por exemplo, ‘A’ atira em ‘B’ querendo mata-lo, e ‘B’ morre, eu não posso afirmar, somente com esse fragmento de informação, que a causa da morte de ‘B’ foi o tiro promovido por ‘A’.
a) Causas absolutamente independentes: Eclodem sem que tenham sido provocadas pelo agente. Podem ser pré-existentes, concomitantes, ou supervenientes à conduta do agente. Veja:
a.1) Causas absolutamente independentes pré-existentes. Sujeito ‘A’ tomauma porção de veneno querendo o suicídio; antes que o efeito letal pudesse acontecer, sujeito ‘B’ desfere um tiro contra ‘A’ com intenção de matá-lo; ‘A’ morre. A pergunta que deve ser feita: qual o motivo do resultado morte? Se o laudo necroscópico apontar que a morte se deu em razão da ação do veneno ingerido, essa será uma causa absolutamente independente em relação à conduta de ‘B’, que produziu o resultado, e produziria independente de ‘B’ ter efetuado o disparo da arma de fogo. ‘B’ não pode ser responsabilizado criminalmente pela morte de ‘A’. Responderá ‘B’ por tentativa de homicídio. A causa da morte já existia anterior à conduta de ‘B’.
a.2) Causas absolutamente independentes concomitantes. ‘A’ atira em ‘B’ querendo produzir sua morte; no mesmo instante que o tiro é desfechado, ‘B’ está tendo um ataque cardíaco fulminante que o laudo necroscópico prova ser a causa da morte, sem qualquer agravamento pelo tiro desfechado por ‘A’. ‘A’, da mesma forma que o exemplo anterior, responderá por tentativa de homicídio. A causa da morte é concomitante, no mesmo momento, à conduta de ‘A’.
a.3) Causas absolutamente independentes supervenientes. Nessa situação há, primeiro, a conduta do autor, e, na sequência, surge uma causa, desvinculada da conduta do autor, que provoca o resultado. Como exemplo: ‘A’ coloca veneno na comida de ‘B’ para que este, após a ingestão, morresse. ‘B’ come o que lhe foi servido, com o que iria certamente morrer, porém, há um tremor de terra que faz com que o teto da casa em que ‘B’ estava, desmorone, provando-se que sua morte ocorreu pelo esmagamento do crânio provocado pelo teto que desabou. O resultado morte (homicídio) não foi provocado pela conduta de ‘A’, embora fosse consegui-lo, mas por uma causa que surgiu posteriormente à conduta, uma causa superveniente. Da mesma forma que os outros exemplos, ‘A’ responderá por tentativa de homicídio.
Conclusão: sempre que uma causa absolutamente independente provocar o resultado, em hipótese alguma, esse resultado pode ser imputado ao agente, que responderá somente pelo crime tentado em razão de seu dolo.
b) Causas relativamente independentes: A ação do agente não é a causa direta do resultado, porém sua conduta está ligada à causa provocadora do resultado, ou seja, o resultado somente ocorreu porque o sujeito ativo realizou a conduta. Podem ser preexistentes, concomitantes, ou supervenientes à conduta do agente.
b.1) Causas relativamente independentes pré-existentes. É a causa que já existia antes da conduta do agente. Exemplo clássico: ‘A’, hemofílico, é agredido a facadas por ‘B’. Os golpes de faca não seriam suficientes para provocar a morte de ‘B’, eis que atingiram regiões não letais, porém, em razão de seu estado fisiológico – portador de hemofilia -, não se consegue estancar a hemorragia e ‘B’ acaba morrendo. Podemos perceber que embora o estado de hemofilia pudesselevar ‘B’ à morte a qualquer instante, foi a conduta de ‘A’ que antecipou o resultado. Há um nexo causal entre conduta e resultado, não de forma direta, mas através de uma causa relativamente independente. A hemofilia não é causa absolutamente independente. Ela tem uma ligação com a conduta de ‘A’. ‘B’ só morreu porque ‘A’ desferiu as facadas. ‘A’ responderá por homicídio consumado se sua intenção era matar ‘B’. Ou responderá por lesão corporal seguida de morte se sua intenção fosse apenas lesionar ‘B’ (art. 129, § 3º, CP). Devemos ressaltar que o Direito Penal não tolera a responsabilidade penal objetiva, que é aquela que decorre da falta de conhecimento do agente de certas circunstâncias ou condições da vítima. No exemplo que propusemos ao tratar das causas relativamente independentes pré-existentes, o agente somente responderia pelo resultado morte se soubesse da condição de hemofílico da vítima, pois estaria assumindo o risco de produzir o resultado. Se “A” queria agredir “B”, sem intenção de matá-lo, e “B” morre em razão de seu estado fisiológico, “A”, não sabendo dessa condição, não poderá ser penalmente responsabilizado pela qualificadora do § 3º do art. 129 do Código Penal (lesão corporal seguida de morte). Sua conduta será tipificada como lesão corporal simples (art. 129, caput).
b.2) Causas relativamente independentes concomitantes: Há uma simultaneidade entre a conduta do agente e outra causa que produz o resultado. Exemplo: “A” atira contra “B” no mesmo instante em que “B” está sofrendo um ataque cardíaco. Prova-se, através de perícia, que a lesão provocada pelo tiro de “A” contribuiu para que o ataque cardíaco fosse letal. Não foi o tiro que matou a vítima, mas foi fundamental para o resultado. Se não houvesse o disparo da arma de fogo, talvez a vítima sobrevivesse ao infarto.
b.3) Causas relativamente independentes supervenientes: a causa superveniente é aquela que se apresenta após a conduta do autor. Ela se interpõe entre a conduta e o resultado, e provoca o surgimento deste. Da análise do caso em concreto podemos chegar à conclusão se é possível, ou não, a aplicação do § 1º do art. 13 do Código Penal, afastando a responsabilidade do agente pelo resultado provocado.
Tomemos como exemplo duas situações:
I – Sujeito é ferido a golpes de faca por alguém que queria sua morte. Socorrido é levado a um hospital onde se submete a cirurgia, que o coloca, naquele instante, fora de perigo de perder a vida. Devido à falta de uma melhor higienização do hospital, há uma propagação de infecção hospitalar, sendo que um vírus se aloja no local em que foi efetuado o corte da cirurgia, provocando uma septicemia e levando a vítima à morte.
II – Sujeito é ferido a golpes de faca por alguém que queria sua morte. A vítima é prontamente socorrida e transportada de ambulância ao hospital. No caminho, a ambulância envolve-se em um acidente que provoca a abertura da porta traseira. A vítima, que estava em uma maca, é arremessada para fora do veículo, vindo a bater com a cabeça no asfalto e morrendo, exclusivamente, de traumatismo crânio encefálico. Temos, nos dois exemplos, uma causa superveniente causadora da morte.
*Questão: A pergunta que devemos responder: A causa superveniente, por si só, provocou o resultado?
Resposta não: o agente que queria a morte, vai responder por crime de homicídio.
Resposta sim: o agente não responde pelo resultado morte, responsabilizando-se, apenas, pelos atos anteriormente praticados. É a aplicação do § 1º do art. 13 do Código Penal, “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado. Se agiu querendo a morte, o crime será de tentativa de homicídio; se agiu querendo apenas lesionar, o crime será de lesões corporais. No primeiro exemplo o resultado morte se deu em decorrência direta da conduta do agente. Foram os ferimentos dos golpes de faca que receptaram o vírus causador da septicemia. No segundo exemplo a morte, embora a vítima estivesse na ambulância pelo motivo de ter sido esfaqueada, foi ocasionada por uma causa que sozinha provocou o resultado. Não há ligação entre a causa da morte e os golpes de faca. O acidente da ambulância cortou o nexo causal entre a conduta do agente e o resultado morte. O traumatismo crânio encefálico se intrometeu entre as facadas e o resultado morte que poderia, ou não ocorrer, e por si só provocou a morte.
3.3 – § 2º – Relevância da omissão.
Inicialmente devemos separar os crimes omissivos próprios, dos crimes omissivos impróprios, também denominados de crimes comissivos por omissão.
a) Crimes omissivos próprios ou puros: são aqueles que correspondem a uma abstenção de um comportamento determinado por uma norma penal incriminadora. É necessário que exista um tipo legal de crime descrevendo uma conduta omissiva, como, por exemplo, o 269 do Código Penal: “Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória” (Ney Moura Teles, Direito Penal, Parte Geral, Atlas, 2004, p. 176).
b) Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão: correspondem a uma abstenção de movimento corpóreo quando o agente deveria e podia agir para impedir um resultado naturalístico capaz de lesionar um bem jurídico. Não há um tipo penal próprio, mas uma norma impondo uma obrigação de realizar uma conduta para evitar que um bem jurídico seja atingido (Ney Moura Teles, Direito Penal, Parte Geral, Atlas, 2004, p. 177). Em síntese: é a omissão provocando um resultado. Não basta a simples omissão, mas que essa omissão seja capaz de produzir um resultado.
Voltemos à análise do § 2º do art. 13 do CP:
O nexo causal se estabelece entre conduta e resultado através de um movimento corpóreo. Há uma ação do agente. Nos crimes omissivos não há uma conduta, ao contrário, há uma falta de conduta, uma omissão de conduta representada pelo dever de agir.
A importância, a relevância, dessa abstenção consiste em analisar se a ação socialmente esperada deixou de ser efetuada e, em razão dessa abstenção produziu-se o resultado. Em outras palavras: a ação esperada e não realizada, teria evitado o resultado?
Essa relação, esse nexo causal, entre omissão e resultado naturalístico não pode ser aplicada a qualquer pessoa, pois o próprio § 2º limita a responsabilidade ao agente que devia e podia agir para impedir o resultado. O agente se coloca na posição de garantidor, de fiador, de se ver obrigado a fazer aquilo que é determinado por lei, e não o faz.
O legislador citou três hipóteses de sujeito que tem o dever de garantidor. Elas estão elencadas nas alíneas do artigo em comento:
a) Quem “tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”: incluem-se nessa situação os pais, os tutores, curadores, carcereiros. Se um preso adoece gravemente, e o carcereiro não providencia um atendimento médico, vindo esse detento a morrer, esse mesmo carcereiro poderá responder pelo crime de homicídio doloso ou culposo. A omissão do carcereiro, que tinha o dever jurídico de agir, causou o resultado morte. A omissão, gerando um resultado.
b) Quem “de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado”: corresponde em responsabilizar alguém que se omite, por ter promovido uma espécie de contrato de garantia, como o enfermeiro, o guia de turismo, a babá, etc. É o caso do exemplo citado por Nucci: “O vigia contratado para tomar conta de casas de um determinado condomínio não pode ficar inerte ao acompanhar a ocorrência de um furto. Se agir dolosamente, responderá pelo crime contra o patrimônio como os agentes da subtração.” 
Há ainda um exemplo clássico na doutrina, que é aquele em que um nadador de renome convida um amigo para nadarem uma longa distância juntos, prometendo que dará assistência caso o amigo corra algum risco de afogamento. No meio da travessia o amigo começa a dar sinais de esgotamento, mas o nadador de renome, não se importando, abandona o amigo em situação de risco.
c) Quem “com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado”. Nas palavras de Paulo José da CostaJr.: “Quem cria o perigo tem o dever de impedir que este venha a converter-se em dano”. Segue o mestre exemplificando: “Quem estiver fumando num paiol, ao deixar cair centelhas no chão, não poderá permanecer inerte, permitindo que as chamas se propaguem” (Paulo José da Costa Jr., Direito Penal Curso Completo, Saraiva, 2000, p. 69).

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