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Nota de aula Civil 1

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Direito Civil I 
Nota de aula 2ª AP 
Monitora: Brenda Barros Freitas 
Profª: Maria José Fontenelle Barreira 
 
Código Civil de 2002 | Parte Geral 
 
Atenção!! A nota de aula não substitui a leitura combinada da doutrina, do 
código, das legislações complementares, da jurisprudência, bem como a 
resolução de questões. 
 
A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, naturais e jurídicas, como 
sujeitos de direitos; dos bens, como objeto das relações jurídicas que se 
formam entre referidos sujeitos; e dos fatos jurídicos, disciplinando a forma de 
criar, modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação da Parte 
Especial do CC. 
 
Dos fatos jurídicos 
Do negócio jurídico 
 
Classificação dos fatos jurídicos: 
 
Inicialmente, cabe destacar a diferença entre um fato material e um fato 
jurídico: 
1. Fato material: é aquele que não produz consequências jurídicas, como um 
terremoto no fundo do oceano ou um raio que caiu no meio do mar ou no meio 
da floresta. Veja que nesses casos não há lesão à pessoa ou ao seu 
patrimônio. 
2. Fato jurídico: é qualquer tipo de acontecimento natural ou humano, relevante 
para o direito, ainda que não gere efeitos no mundo jurídico, a exemplo de um 
testamento. Ou seja, basta que seja constatada a potencialidade de gerar 
consequências para o direito. Em uma visão mais utilitarista, como defendido 
por Maria Helena Diniz e Orlando Gomes, fato jurídico é todo acontecimento 
natural ou humano capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas 
(conceito atrelado à eficácia). 
 
Pontes de Miranda assevera: “O mundo jurídico nada mais é senão o mundo 
dos fatos jurídicos”. 
 
2.1. Fatos naturais (fato jurídico em sentido estrito ou stricto sensu): aqueles 
que não dependem do ato humano para se configurar. Assim, quando atingem 
o interesse jurídico, criando, modificando, conservando ou extinguindo relações 
jurídicas, tem-se o fato jurídico natural em sentido estrito. 
 Ordinários: acontecimento do quotidiano. Ex: morte, maioridade... 
 Extraordinários: imprevisível, que fogem ao quotidiano. Ex: terremoto, 
maremoto, tsunami. Enquadram-se aqui o caso fortuito e a força maior 
(excludentes de responsabilidade civil). 
 
2.2. Fatos humanos (ato jurídico lato sensu): faz-se necessária a presença da 
vontade exteriorizada e consciente a fim de obter um resultado. 
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 Ilícitos: condutas humanas contrárias ao direito, que produzem 
consequências para o direito, impondo a obrigação de indenizar. 
 
 Lícitos: condutas condizentes com o direito. 
- Meramente lícitos (atos jurídicos stricto sensu): denominado pelo 
CC/02 de ato jurídico, decorre da vontade humana intencional, mas seus 
efeitos são disciplinados na lei. Ex: aceitação de uma herança, o sim no 
casamento, o reconhecimento voluntário de filiação... 
- Ato fato jurídico: nesse caso é ressaltada a consequência gerada por 
ação humana, cuja produção dos efeitos se abstrai a intenção. Ex: achar um 
tesouro, absolutamente incapaz que compra merenda escolar, a prescrição... 
- Negócio jurídico: manifestação de vontade qualificada (declaração de 
vontade), em que a exteriorização é bastante para regular os efeitos jurídicos 
desejados, independentemente de lei, mas dentro, claro, dos limites da boa-fé, 
da função social e do ordenamento jurídico (é o que o diferencia do ato jurídico 
stricto sensu). Dessa forma, consiste no exercício pleno da autonomia privada, 
no encontro de vontades visando criar, modificar, conservar ou extinguir 
relações jurídicas. Ex: testamentos e contratos. 
 
Elementos do negócio jurídico: 
 
a) Essenciais: indispensáveis à existência do ato: 
 Gerais: comuns a todos os negócios. Ex: declaração de vontade. 
 Particulares: peculiar a certa espécie de negócio jurídico. Ex: o preço e o 
consentimento na compra e venda (art. 482, CC). 
 
b) Naturais: consequências ou efeitos que decorrem da própria natureza do 
negócio, sem necessidade de expressa menção. Ex: responsabilidade do 
alienante pelos vícios redibitórios (art. 441, CC) e pelos riscos da evicção (art. 
447, CC). 
 
c) Acidentais: estipulações acessórias, que as partes podem facultativamente 
adicionar ao negócio para modificar alguma de suas consequências naturais – 
condição, termo e o encargo (arts. 121 a 137, CC). 
 
Tricotomia existência, validade e eficácia: 
 
a) Plano da existência: são os elementos estruturais: 
 Declaração de vontade: que pode ser por manifestação de vontade 
expressa (palavra, gestos), tácita (deduzida do comportamento) ou presumida 
(estabelecida por lei por meio de determinada postura do agente). 
 
OBS: 1) silêncio como manifestação de vontade – art. 111, CC; 2) Reserva 
mental: ocorre quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, 
isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara querer, objetivando 
enganar o outro. Em regra a reserva mental é irrelevante para a validade e 
eficácia do negócio jurídico, todavia, se o destinatário tinha conhecimento o 
negócio não subsistirá, nem produzirá os efeitos – art. 110, CC. 
 
 
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 Finalidade negocial: consiste no propósito de adquirir, conservar, 
modificar ou extinguir direitos. 
 
 Idoneidade do objeto: deve apresentar os requisitos ou qualidades que a 
lei exige para que o negócio produza os efeitos desejados. Ex: no contrato de 
mútuo (tem que ser coisa fungível), na hipoteca (garantia dada tem que ser em 
bem imóvel, navio ou avião). 
 
b) Plano da validade: Art. 104, CC: agente capaz; objeto lícito, possível, 
determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei (forma livre 
é a que predomina no ordenamento brasileiro – art. 107, CC, exceções: art. 
108, CC, c/c art. 166, IV e V, CC) + consentimento válido (sem vícios, feita de 
forma livre). 
 
c) Plano da eficácia: produção de efeitos do negócio jurídico, que podem ser os 
desejados pelas partes (eficácia própria ou típica), como aqueles indesejados 
(eficácia imprópria ou atípica). Via de regra, se o negócio existe e é válido será 
também eficaz, excepcionalmente, porém, é possível que possua algum fato 
acessório ou acidental de ineficácia a exemplo da condição, do termo e do 
encargo (cláusulas acidentais). 
 
Da representação 
 
Conceito: Consiste na manifestação de vontade por alguém (representante) em 
nome de outrem (representado). Representante efetivamente realiza o negócio 
jurídico, substituindo o representando, ou seja, em nome deste. 
 
Espécies: 
 
a) Legal: determinada pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos, 
administradores. É munus, tendo em vista que o representante exerce uma 
atividade obrigatória. Utilizada para cuidar de interesses de pessoas incapazes 
e capazes. Nesses casos o representante não pode ser privado por ato do 
representado. 
 
b) Convencional: decorre de negócio jurídico específico, de ato de vontade, 
tendo por finalidade permitir o auxílio de uma pessoa na defesa ou 
administração de interesses alheios. Tem a outorga de procuração como 
instrumento para investir outra pessoa no poder de agir em seu nome (art. 653, 
CC), impondo os limites (art. 116, CC). Aqui o representante pode ser privado 
por ato do representado (revogação a qualquer tempo). 
 
c) Judicial: quando o representante é nomeado pelo juiz para exercer poderes 
de representação no processo, como o inventariante, o síndico da falência, o 
administrador da empresa penhorada... 
 
Autocontrato ou contrato consigo mesmo: art. 117, CC – via de regra é anulável 
tal situação, salvo se o contrato de mandato, explicitamente, permitisse essa 
situação ou lei específica assim estabelecesse. Prazo de 2 anos para pleitear 
anulação (art. 179, CC). 
 
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Anulação por conflito de interesses: art. 119, CC – divergência de interesses do 
representado com os do representante. Prazode 180 dias para pleitear 
anulação, a partir da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade. 
 
Da condição, do termo e do encargo 
(cláusulas acidentais) 
 
a) Condição: é evento futuro e incerto que condiciona os efeitos do negócio 
jurídico e deriva exclusivamente da vontade humana. (art. 121, CC). 
 Suspensiva (art. 125, CC): deixa em suspenso os efeitos do negócio 
jurídico enquanto não for implementada, bem como impede a aquisição e o 
exercício do direito. 
 X 
 Resolutiva (art. 127 e 128, CC): produz efeitos o negócio jurídico 
automaticamente e implementada a condição resolutiva o negócio de pronto se 
extingue. Não há necessidade de notificar a parte. Os efeitos são ex nunc, ou 
seja, não retroativos. 
 
 Lícita (art. 122, CC): todas as condições não contrárias à lei, à ordem 
pública ou aos bons costumes. 
 X 
 Ilícita: as condições em sentido diverso do supracitado. São defesas as 
que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio 
de uma das partes. 
 
OBS: existem determinadas condições que o legislador determina que 
invalidarão o negócio ou serão tidas por inexistentes, a depender do caso – ler 
arts. 123 e 124, CC. 
 
 Condições puramente potestativas (arbitrárias): subordinam os efeitos do 
negócio jurídico ao arbítrio das partes (art. 122, CC), é condição ilícita. Ex: art. 
489, CC. 
 
 Condições meramente potestativas (discricionárias): lícita. Ex: atrelar os 
efeitos do negócio a fator exterior, como uma doação atrelada à vitória de uma 
prova. 
 
OBS: é possível ao titular de direito eventual praticar atos de conservação? 
Sim! Pode lançar mão de proteção a este direito eventual – art. 130, CC. 
 
Quanto à presunção de verificação (implementação): art. 129, CC. 
 
b) Termo: é evento futuro e certo. Termo nada mais é senão o dia ou momento 
em que o negócio começa (termo inicial ou dies a quo) ou termina (termo final 
ou dies ad quem – art.). Relaciona-se com o exercício do direito, mas não com 
a aquisição do mesmo. 
 
OBS: não confundir com o prazo, que consiste no lapso temporal entre o termo 
inicial e o termo final. Forma de contagem: art. 132, CC/ Demais regras: art. 
133 e 134, CC. 
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c) Modo ou encargo: ônus (restrição) imposto para que a parte usufrua de certo 
benefício estipulado no negócio jurídico, devendo ser cumprido/adimplido pela 
parte para que adquira os benefícios. Ex: doação modal. O encargo não 
suspende a aquisição nem o exercício do direito, via de regra – art. 136, CC, há 
possibilidade de execução do que não for cumprido, posteriormente – art. 553, 
CC ou revogação pelo doador – art. 560, CC. 
 
Dos defeitos do negócio jurídico 
 
Essa expressão contempla tanto os vícios de consentimento/vontade - 1) erro 
ou ignorância; 2) dolo; 3) coação; 4) estado de perigo; 5) lesão -, quanto os 
vícios sociais - 6) fraude contra credores; 7) simulação. Os defeitos 1 ao 6 dão 
ensejo à nulidade relativa (anulabilidade) do ato, enquanto a simulação, 
constante na parte do CC que trata das invalidades do negócio (art. 167), gera 
nulidade absoluta. 
 
1) Do erro ou ignorância: percepção da realidade equivocada/inexata. 
 
Erro substancial/principal/essencial/determinante: art. 138 e 139, CC – 
relacionado ao fato gerador do negócio jurídico. Ex: compra de relógio 
banhado, acreditando ser efetivamente de ouro. OBS: aqui não há presença de 
induzimento. 
a) Erro sobre o negócio: quanto à modalidade do negócio pactuado. Ex: 
empréstimo – gratuito x locação – oneroso; 
b) Erro sobre o objeto: relacionado à qualidade, quantidade; 
c) Erro sobre a pessoa: contratar pessoa errada; 
d) Erro sobre o direito: equívoco quanto ao alcance da norma. OBS: não 
consiste em recusa à aplicação da lei, nem desconhecimento dela. 
 
Erro acidental/acessório/secundário: “erro menor”, por isso não tem 
repercussão para o direito civil. Trata-se de erro de indicação da pessoa ou da 
coisa, mas que pode ser sanado pela identificação decorrente das 
circunstancias , do contexto. Não é fato gerador do negócio jurídico, mas 
apenas uma qualificação mais específica, sem consequência – art. 142, CC. 
 
Falso motivo: art. 140, CC. 
 
Erro de transmissão de vontade: art. 141, CC. Ex: procurador no ato da 
celebração do casamento – arts. 1.542 e 1.550, CC. 
 
Erro de cálculo: art. 143, CC – erro meramente material. 
 
2) Do dolo: é um induzimento malicioso/ardiloso para que alguém pratique um 
ato contra a sua própria vontade. Enquanto o erro você comete sozinho, aqui 
há induzimento. OBS: apenar ocasionará a anulação do negócio se consistir 
em dolo principal, assim como vimos no erro principal. 
 
Dolo acessório: art. 146, CC – ocasiona perdas e danos. 
Dolo principal: art. 145, CC. Classificação: 
a) Negativo/por omissão: art. 117, CC – é quando uma das partes de forma 
intencional silencia para induzir a outra a praticar um ato contra a sua 
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própria vontade. Ex: contratação de um seguro de vida ou de saúde em 
que você recebe a DPS (Declaração Pessoal do Segurado) para fins de 
identificação do perfil e não coloca que tem doença preexistente; 
b) De terceiro: art. 148, CC – decorrente da conduta de terceiro. Ex: venda 
de carro ruim em que um terceiro fica maliciosamente incentivando a 
compra. OBS: Consequências jurídicas: Se quem aproveitou sabia ou 
deveria saber: negócio anulável/ Se quem aproveitou não sabia: a 
prejudicada entra com perdas e danos contra terceiro e o negócio 
subsiste. 
c) Do representando (legal ou convencional): art. 149, CC – o menor só 
responderá na medida do seu proveito econômico, se o dolo tiver sido 
praticado pelo representante legal (medida equânime). Se o dolo é 
efetivado por representação convencional/voluntária: a responsabilidade 
é solidária. 
d) Recíproco/bilateral: art. 150, CC – ambas as partes procedem no dolo, 
são atitudes que se autoanulam. Não geram nulidade, nem perdas e 
dano. 
 
3) Da coação moral: pressão para que você pratique um ato contra sua própria 
vontade. 
 
Requisitos para que a coação possa viciar o negócio: 
a) A coação deve ser a causa do ato (determinante); 
b) Gravidade: a coação deve imputar ao coagido um verdadeiro temor de 
dano sério; 
c) Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva) – art. 153, CC. OBS: ameaça 
do exercício normal do direito, nem mesmo mero temor reverencia; 
d) Iminência ou atualidade: a coação dever ser atual ou iminente (para fins 
de afastamento da coação impossível); 
e) A coação deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou bens da 
vítima, ou às pessoas da sua família; terceiro ou seu patrimônio – art. 
151, CC (juiz analisará as circunstâncias do caso). 
 
OBS: Na análise dos requisitos acima se leva em consideração as 
circunstâncias subjetivas da vítima – art. 152, CC. 
 
Coação exercida por terceiros: arts. 154 e 155, CC – mesmo raciocínio. 
Novidade: responsabilidade solidária (terceiro e quem aproveitou) gerada pelas 
perdas e danos + anulação do ato. Caso quem aproveitou não soubesse: o 
terceiro responde por todas as perdas e danos e o negócio subsiste. 
 
4) Do estado de perigo: funciona como aplicação do estado de necessidade 
aos defeitos do negócio jurídico – art. 156, CC. Ex: época o hospital 
condicionava o atendimento à garantia pecuniária (como cheque caução), 
quando o indivíduo não tinha plano de saúde ou este não tinha cobertura 
integral. Veja que nesse caso o hospital é conhecedor do grave dano que 
atinge a pessoa e mesmo assim impõe obrigação excessivamente onerosa. 
OBS: no caso de terceiro: juiz analisará as circunstâncias do caso. 
O que fazer? 
a) Sob o ponto de vista legislativo: art. 171, CC – anulação do ato. 
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b) Sob ponto de vista doutrinário: enunciado 148 CJF – por analogia à 
lesão, antes de anular deve-se tentarrevisão. 
 
Atenção!! Não confundir Estado de Perigo com Lesão: no primeiro o dano é 
conhecido pela outra parte, enquanto no segundo o grave dano não é 
conhecido. 
 
5) Da lesão: art. 157, CC. 
 
Requisitos cumulativos: 
a) Objetivo: manifesta desproporção entre as parcelas pactuadas/aferidas 
no momento da celebração do negócio jurídico. OBS: observa-se que o 
CC não quantificou o valor, falando em desproporcionalidade 
quantitativa como conceito aberto, sem definir o padrão; 
b) Subjetivo: premente necessidade e inexperiência de uma das partes. 
 
Uma vez constatada a lesão dois caminhos podem ser seguidos: revisão: art. 
157, §2º (preferencial), ou anulação – nulidade relativa. 
 
6) Da fraude contra credores: 
 
Premissa: no Brasil a responsabilização é patrimonial – “O patrimônio do 
devedor é o domicílio da garantia do credor” (Alexandre Câmara). Por isso há 
preocupação com o desfazimento do patrimônio, porque consiste em 
desfazimento da garantia do crédito. 
 
Necessidade de cinco requisitos cumulativos: 
a) Anterioridade do crédito: crédito preexistente; 
b) Eventus Damni: dano ao credor (quando a disposição patrimonial for 
capaz de gerar insolvência) – fato objetivo da disposição dos bens: 
prejuízo; 
c) Consilium fraudis (má-fé): intenção de lesar – arts. 158 e 164, CC 
(vincula presunção de boa-fé). OBS: ¹ no ato gratuito presume-se o 
“consilium fraudis”, como na doação e non perdão (remissão); ² 
professora não concorda com esse último requisito citado pela doutrina, 
acredita não ser necessária a má-fé. 
 
Cumpridos os requisitos deve ser ajuizada a chamada Ação Pauliana ou 
Revocatória (pleiteia a anulação do ato no prazo de 4 anos, contados da 
conclusão do negócio – art. 171 e 178, CC), instrumento processual cabível. 
 
7) Simulação: art. 167, CC - “o ato enganoso de vontade” – Clóvis Beviláqua. 
 
Classificação: 
a) Absoluta (simulação): nulidade absoluta – pratica-se um ato que não 
terá nenhum objetivo prático com o intuito de burlar a lei ou terceiro. 
b) Relativa (dissimulação): consequência que demanda análise do 
operador do direito. OBJETIVA: A prática de ato simulado/ “de fachada” 
(nulo): compra e venda por exemplo, existiu para que o ato dissimulado 
(anulável) se efetivasse, ex: doação vedada – art. 550, CC. SUBJETIVA: 
realizada por interposta pessoa, o famoso “laranja”. Ex: transferência de 
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patrimônio à A (ato nulo, simulação) para que este repasse à B (ato 
dissimulado). 
 
Da invalidade do negócio jurídico 
 
1) Nulidade absoluta: arts. 166 e 167. Características: 
 O ato nulo atinge interesse público superior; 
 Pode ser arguida pelas partes, por terceiro interessado, pelo Ministério 
Público, quando lhe couber intervir, ou até mesmo pronunciada de ofício 
pelo juiz – art. 168, CC; 
 A nulidade pode ser reconhecida a qualquer tempo, em qualquer grau 
de jurisdição, não se sujeitando a prazo prescricional (imprescritível) ou 
decadencial. 
 Não admite confirmação (ratificação), mas pode ser convertido em ato 
válido. 
 A ação declaratória de nulidade é julgada por sentença de natureza 
declaratória de efeitos ex tunc (retroativos). 
 
Atenção!! Apesar de o juiz poder reconhecer de ofício a nulidade, ele não tem 
permissão para supri-la, ainda que a requerimento da parte - art. 168, 
parágrafo único, CC. 
 
2) Nulidade relativa (anulabilidade): art. 171, CC. Características: 
 O ato anulável atinge interesses particulares, legalmente tutelados (por 
isso a gravidade não é tão relevante quanto na hipótese de nulidade). 
 Somente pode ser arguida pelos legitimados interessados. 
 Admite confirmação expressa ou tácita (ratificação)/ saneamento/ 
convalidação – art. 172, CC; 
 A anulabilidade somente pode ser arguida pela via judicial (sentença 
desconstitutiva), em prazos decadenciais de 4 (regra geral) ou 2 (regra 
supletiva) anos, salvo norma específica em sentido contrário – arts. 178 e 
179, CC. 
 
OBS: decisão que reconhece a anulabilidade tem efeitos ex nunc, via de regra 
– art. 177, CC. 
 
3) Princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos (mecanismos de 
aproveitamento do ato nulo): 
a) Conversão substancial: é uma media sanatória por meio da qual 
aproveitam-se os elementos materiais de uma negócio jurídico inválido, 
convertendo-o em negócio válido de fins lícitos. Está prevista no art. 
170, CC, e consiste na recategorização de determinadas circunstancias. 
Enunciado 13, CJF: ¹ requisito objetivo (aproveitamento dos elementos 
materiais do negócio nulo ao novo – ex: qualificação as partes, forma de 
pagamento); ² requisito subjetivo (aproveitamento da manifestação de 
vontade originária no novo negócio). Ex: ¹ compra e venda por 
instrumento particular (desrespeito ao art. 108, CC, – nulo, art. 169. CC), 
juiz pode considerar convertendo em promessa de compra e venda, 
possibilitando a adjudicação compulsória do bem; ² testamento público 
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nulo por desrespeito ao requisito de forma é convertido em testamento 
particular. 
b) Ratificação (saneamento/ convalidação/ confirmação): arts. 169 e 172, 
CC – pode ser expressa (direta) ou tácita (indireta). Ex: filho que realizar 
compra e venda sozinho (sem assistência) – ato anulável, pode ser 
convalidado. Expressamente: assina/ tácita: deixar o prazo decadencial 
de 4 anos transcorrer in albis (deu efetividade ao negócio). 
c) Redução do negócio jurídico (incomunicabilidade das nulidades): 
permite uma invalidade parcial (apenas da parte acessória, mantendo a 
principal); negócios com manifestações de vontade cindíveis/ separáveis 
entre si e cujo defeito atinja a parte acessória – art. 184, CC. Ex: 
contrato coligado (um instrumento, duas ou mais figuras contratuais 
autônomas): locação e fiança, em que a desrespeito à regra do art. 
1.647 (exigência de vênia conjugal) – derruba a fiança e mantem a 
locação, pois a fiança é acessória. 
 
Dos atos jurídicos lícitos 
Art. 185, CC. 
 
Dos atos ilícitos 
 
1) Conceito: infração de um dever preexistente (culpa/ dolo) + violação a direito 
+ dano = responsabilidade. 
 
Responsabilidade contratual: arts. 389 e 395, CC – inadimplemento contratual 
gera a responsabilidade de indenizar em perdas e danos; presume-se culposo; 
é gerado pelo descumprimento da convenção; capacidade sofre limitações. 
X 
Responsabilidade extracontratual (aquiliana): arts. 186, 187 e 927, CC – gera a 
responsabilidade de indenizar em perdas e danos; ônus de provar a culpa ou 
dolo do causador do dano é do lesado; dever genérico de não lesar a outrem; 
capacidade ampla. 
 
Responsabilidade civil: pode decorrer de ato lícito; interesse lesado é o privado; 
patrimonial (exceto dívida de alimento); é mais genérica, basta que cumpra o 
que diz o art. 186, CC; culpabilidade é mais ampla; imputabilidade: maior de 18 
anos. 
X 
Responsabilidade penal: interesse lesado é o da sociedade; pessoal; 
necessidade de tipicidade; imputabilidade: maior de 18 anos. 
 
Responsabilidade subjetiva: pressuposto necessário para o dano indenizável: 
culpa latu sensu (dolo ou culpa stricto sensu): ação /omissão + culpa/dolo + 
dano + nexo de causalidade. 
X 
Responsabilidade objetiva: não há necessidade de comprovar culpa/dolo; 
decorre da lei: fato + dano + nexo de causalidade. 
 
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2) Imputabilidade e responsabilidade: não há possibilidade de se exigir livre 
determinação de vontade (art. 186, CC) daquele que não tem capacidade de 
discernimento. 
 
3) Responsabilidade do incapaz: art. 928, CC – mitigação da responsabilidade, 
que inclusive é subsidiária, pois o incapaz somente responde quando as 
pessoas por ele responsáveis não tiverem a obrigação de fazê-lo ou não 
dispuserem de meios suficientes, ainda, nesse caso, não pode a indenização 
(equitativa) privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.4) Pressupostos da responsabilidade extracontratual: 
a) Ação ou omissão: nesta em relação ao animal, por exemplo, a culpa do 
dono é presumida; nos casos de dever jurídico, com no caso em que o 
condutor não presta socorro; 
b) Culpa ou dolo: a primeira consiste em falta de diligência que se exige do 
homem médio, OBS: a indenização se mede pela extensão do dano; o 
segundo é a vontade deliberada de lesar. 
c) Relação de causalidade: é quebrado pela culpa exclusiva da vítima e 
pelo caso fortuito/ força maior. 
d) Dano: patrimonial ou moral. 
 
5) Atos lesivos não considerados ilícitos: legítima defesa, exercício regular de 
um direito, estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal. 
 
Da prescrição e da decadência 
Da prescrição 
 
1) Conceito: art. 189, CC. É a perda de uma pretensão em virtude do passar do 
tempo, relativa a um direito subjetivo patrimonial e disponível, que é manejado 
através de ação condenatória. 
 
O que é pretensão? É a possibilidade de coercitivamente exigir de outrem o 
cumprimento de determinado dever jurídico; nasce no momento de violação do 
direito subjetivo. 
 
Imprescritibilidade: imprescritíveis são as pretensões relacionadas a um direito 
subjetivo extramatrimonial e indisponível, que manejado é por ação 
declaratória. Ex: pretensão de reconhecimento de paternidade. 
 
2) Prazos: art. 192, CC – sempre legais e não pode ser alterado pela vontade 
das partes! Estão reunidos nos arts. 205 e 206, CC, o primeiro trata da 
prescrição ordinária, que é de 10 anos, enquanto o segundo traz o rol de 
prazos prescricionais especiais em seus parágrafos, variando de 1 a 5 anos. 
 
3) Causas que ¹ impedem ou ² suspendem a prescrição: arts. 197 ao 201, CC. 
Consistem em causas que impedem o início da contagem do prazo 
prescricional ou então vem a suspender a fluência desses prazos. É o mesmo 
rol de causa para ambos; para diferenciar os institutos: 
¹ É preexistente ao nascimento da pretensão – impede início do prazo. 
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² Atinge o prazo em curso e o suspende. OBS: não há limites de 
suspensão. 
 
4) Causas que interrompem a prescrição: art. 202, CC. Essas zeram o prazo, 
interrompendo e fazendo nova contagem do início (integralidade). A interrupção 
só poderá ocorrer UMA ÚNICA VEZ. 
 
OBS: art. 196, CC, preceitua que a prescrição continua a correr contra o 
sucessor da pessoa sobre a qual foi iniciada. Assim, a morte não suspende, 
interrompe ou impede a efetivação desse instituto. 
 
Atenção!! Vide aspectos prescricionais tratados no ponto 2 do tópico abaixo. 
 
Da decadência 
 
1) Conceito: decadência ou caducidade é a perda de um direito potestativo1 em 
virtude do passar do tempo, manejado através de ação constitutiva. 
 
2) Categorias: 
a) Legal: prevista em lei, ex: art. 178, CC. 
b) Convencional (voluntária) – decorre de ato de vontade, ex: garantia 
estendida presente no Código de Defesa do Consumidor. 
 
2) Observações correlatas (prescrição e decadência): 
a) Os prazos prescricionais, por serem sempre legais, não podem ser 
alterados pela vontade das partes. Art. 192, CC. E os decadenciais? 
Não, se for legal, e sim, se for convencional. 
b) A prescrição, por ser uma defesa do devedor, pode ser renunciada – art. 
191, CC, e só pode ocorrer depois do prazo consumado, bem como 
desde que não prejudique terceiro, podendo ser expressa ou tácita. Na 
mesma linha, a decadência convencional também pode ser renunciada, 
não se admitindo, porém, a renúncia ao prazo decadencial legal – art. 
209, CC; 
c) A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. O mesmo 
não acontece com a convencional – arts. 210 e 211, CC. No caso da 
prescrição, pode ser reconhecida de ofício em qualquer hipótese; 
d) Enquanto a prescrição se impede, se suspende e se interrompe, a 
decadência, em regra, não se impede, não se suspende e não se 
interrompe, salvo se existir disposição em contrário na lei. 
e) Não corre nem prescrição, nem decadência em face dos absolutamente 
incapazes, todavia, contra os relativamente incapazes o prazo corre 
normalmente – arts. 207, 208, 198, I, e 195, CC. 
 
 
1 Direito potestativo: atribuem ao titular a possibilidade de produzir efeitos em determinadas 
situações projetando-se sobre a esfera jurídica de interesses do outro, por ato próprio de 
vontade do titular, inclusive atingindo terceiros interessados nessa situação, que não poderão 
se opor. É poder de ação, que se limita pela vontade discricionária do titular. Ex: direito 
assegurado ao empregador de dispensar um empregado (no contexto do direito do trabalho); 
cabe a ele apenas aceitar esta condição; como também num caso de divórcio, uma das partes 
aceitando ou não, o divórcio será processado. 
12 
 
Da prova 
 
1) Conceito: meio empregado para a verificação da existência de um fato 
jurídico, objetivando obter a verdade possível (formal), que é aquela alcançável 
no processo. Há de ser admissível (permitida por lei), pertinente (adequada à 
demonstração que se pretende) e concludente (clarificar os fatos). OBS: o 
objeto probatório é o fato e não o direito, pois este é de conhecimento do 
magistrado. Art. 212, CC, traz rol ilustrativo/exemplificativo, não taxativo. 
 
2) Confissão: consiste no livre reconhecimento da veracidade de fato que a 
outra parte da relação pretende provar. Trata-se de ato contrário ao interesse 
do confitente e favorável à outra parte. Pode ser classificada em: 
a) Judicial ou extrajudicial; 
b) Espontânea ou provocada; 
c) Expressa (real) ou presumida (ficta) pela revelia – arts. 344 a 346, 
NCPC. 
 
Elementos necessários: capacidade da parte, declaração e objeto possível. 
 
Aspectos interessantes: 
 Art. 214, CC: É irrevogável e irretratável, pois não admite arrependimento. O 
que não quer dizer que deva prosperar a confissão viciada, sob pena de 
invalidade do ato, como já visto; 
Art. 213, CC: a confissão feita pelo representante, que tenha poderes 
especiais para tanto, apenas será eficaz nos limites em que possa vincular o 
representado. Extra! Carlos Roberto Gonçalves informa que o representante ou 
assistente do incapaz não poderá, em princípio, confessar ao passo que lhe é 
vedado a prática de ato em conflito de interesses com o titular do direito. 
 
3) Documento: escrito representativo de determinado fato jurídico. Trata-se de 
prova pré-constituída de um determinado fato. Pode ser classificada em: 
a) Público: consiste naquele lavrado em notas de tabelião, ou seja, dotado 
de fé pública, fazendo prova plena – art. 215, caput, CC (quanto à “prova 
plena” a doutrina assevera tratar-se ainda sim de presunção relativa, 
juris tantum, e não absoluta, juris et de jure). OBS: a ausência de 
qualquer dos requisitos da escritura pública elencados ao decorrer do 
supracitado artigo acarreta a nulidade absoluta do documento, pois esta 
é a consequência quando a lei exige uma forma ou solenidade e há seu 
desrespeito – art. 166,CC. 
b) Particular: confeccionado por particulares, devendo ser assinado apenas 
por quem tenha plena capacidade, sendo hábil a provar as obrigações 
convencionais de qualquer valor. Os efeitos do documento particular 
serão, em regra, inter partes. Não é exigível a presença de testemunhas 
– art. 219. CC. Para que ganhem oponibilidade erga omnes (em relação 
a todos) far-se-á necessário o registro público – art. 221, CC. O 
documento particular gera uma presunção relativa (juris tantum) de 
veracidade das declarações em relação aos signatários, sendo possível 
o afastamento desde que haja prova em contrário, como uma coação, 
por exemplo. 
 
13 
 
4) Observações: 
 
Art. 220, CC: caso a lei exija uma determinada autorização para a 
prática válida de um ato da vida civil (a denominada legitimação, 
capacidade negocialou privada), esta haverá de ser colhida na mesma 
forma do instrumento principal e, sendo possível, no mesmo instrumento. 
Ex: vênia conjugal – art. 1.647, CC, no caso em que a venda de um 
imóvel ultrapasse a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país, a 
forma haverá de ser pública – art. 108, CC; assim como a outorga 
conjugal que, se possível, deve ser conferida no mesmo instrumento; 
 
O documento, em regra, deverá ser exibido no original, mas o CC 
admite que se prova por: certidões textuais2 (art. 216, CC); traslados3 e 
certidões (arts. 217 e 218, CC); cópia fotográfica de documento (art. 223, 
CC); reproduções fotográficas, cinematográficas, dos registros 
fonográficos (art. 225, CC) 4 ; e livros e fichas dos empresários e 
sociedades (art. 226, CC); 
 
Necessidade de tradução para o português dos documentos em língua 
estrangeira – art. 224, CC. 
 
5) Testemunha: é a prova mais imprevisível, pois o ser humano se sujeita à 
ingerências, contradições, palpitações, ou seja, subjetividades. Serve para 
comprovar fato jurídico – art. 212, III, CC. OBS: a prova testemunhal, 
independentemente do valor do negócio jurídico, é admissível como subsidiária 
ou complementar da prova por escrito. Podem ser: 
a) Instrumentárias: aquelas que firmam determinado negócio jurídico 
juntamente com as partes; 
b) Judiciais: aquelas convocadas para serem escutadas em juízo. 
 
Quem não pode testemunhar? Art. 228, CC. 
 
6) Perícia: o perito é um auxiliar da justiça e satisfaz um munus público. Os 
arts. 231 e 232, CC, preceituam que a negativa à perícia médica não poderá 
ser aproveitada por aquele que se negou. Ex: caso o juiz ordene uma perícia 
médica e o réu negue-se, contra ele existirá uma presunção relativa (juris 
tantum). É o que ocorre no caso da negativa do exame de DNA, a qual gera 
presunção de paternidade – súmula 301, STJ. 
 
2 
Entende-se por certidão a reprodução de escritos de um determinado livro ou documento, 
realizado por funcionário público ou sob sua atenção. 
3 
Traslado é a cópia daquilo que se encontra lançado em livro ou em autos de um processo 
judicial; também denominado de cópia fiel. 
4
 Aceitação de documentos eletrônicos – Enunciados 297 e 298 do Conselho da Justiça 
Federal.

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