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1 Direito Civil I Nota de aula 2ª AP Monitora: Brenda Barros Freitas Profª: Maria José Fontenelle Barreira Código Civil de 2002 | Parte Geral Atenção!! A nota de aula não substitui a leitura combinada da doutrina, do código, das legislações complementares, da jurisprudência, bem como a resolução de questões. A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, naturais e jurídicas, como sujeitos de direitos; dos bens, como objeto das relações jurídicas que se formam entre referidos sujeitos; e dos fatos jurídicos, disciplinando a forma de criar, modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação da Parte Especial do CC. Dos fatos jurídicos Do negócio jurídico Classificação dos fatos jurídicos: Inicialmente, cabe destacar a diferença entre um fato material e um fato jurídico: 1. Fato material: é aquele que não produz consequências jurídicas, como um terremoto no fundo do oceano ou um raio que caiu no meio do mar ou no meio da floresta. Veja que nesses casos não há lesão à pessoa ou ao seu patrimônio. 2. Fato jurídico: é qualquer tipo de acontecimento natural ou humano, relevante para o direito, ainda que não gere efeitos no mundo jurídico, a exemplo de um testamento. Ou seja, basta que seja constatada a potencialidade de gerar consequências para o direito. Em uma visão mais utilitarista, como defendido por Maria Helena Diniz e Orlando Gomes, fato jurídico é todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas (conceito atrelado à eficácia). Pontes de Miranda assevera: “O mundo jurídico nada mais é senão o mundo dos fatos jurídicos”. 2.1. Fatos naturais (fato jurídico em sentido estrito ou stricto sensu): aqueles que não dependem do ato humano para se configurar. Assim, quando atingem o interesse jurídico, criando, modificando, conservando ou extinguindo relações jurídicas, tem-se o fato jurídico natural em sentido estrito. Ordinários: acontecimento do quotidiano. Ex: morte, maioridade... Extraordinários: imprevisível, que fogem ao quotidiano. Ex: terremoto, maremoto, tsunami. Enquadram-se aqui o caso fortuito e a força maior (excludentes de responsabilidade civil). 2.2. Fatos humanos (ato jurídico lato sensu): faz-se necessária a presença da vontade exteriorizada e consciente a fim de obter um resultado. 2 Ilícitos: condutas humanas contrárias ao direito, que produzem consequências para o direito, impondo a obrigação de indenizar. Lícitos: condutas condizentes com o direito. - Meramente lícitos (atos jurídicos stricto sensu): denominado pelo CC/02 de ato jurídico, decorre da vontade humana intencional, mas seus efeitos são disciplinados na lei. Ex: aceitação de uma herança, o sim no casamento, o reconhecimento voluntário de filiação... - Ato fato jurídico: nesse caso é ressaltada a consequência gerada por ação humana, cuja produção dos efeitos se abstrai a intenção. Ex: achar um tesouro, absolutamente incapaz que compra merenda escolar, a prescrição... - Negócio jurídico: manifestação de vontade qualificada (declaração de vontade), em que a exteriorização é bastante para regular os efeitos jurídicos desejados, independentemente de lei, mas dentro, claro, dos limites da boa-fé, da função social e do ordenamento jurídico (é o que o diferencia do ato jurídico stricto sensu). Dessa forma, consiste no exercício pleno da autonomia privada, no encontro de vontades visando criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas. Ex: testamentos e contratos. Elementos do negócio jurídico: a) Essenciais: indispensáveis à existência do ato: Gerais: comuns a todos os negócios. Ex: declaração de vontade. Particulares: peculiar a certa espécie de negócio jurídico. Ex: o preço e o consentimento na compra e venda (art. 482, CC). b) Naturais: consequências ou efeitos que decorrem da própria natureza do negócio, sem necessidade de expressa menção. Ex: responsabilidade do alienante pelos vícios redibitórios (art. 441, CC) e pelos riscos da evicção (art. 447, CC). c) Acidentais: estipulações acessórias, que as partes podem facultativamente adicionar ao negócio para modificar alguma de suas consequências naturais – condição, termo e o encargo (arts. 121 a 137, CC). Tricotomia existência, validade e eficácia: a) Plano da existência: são os elementos estruturais: Declaração de vontade: que pode ser por manifestação de vontade expressa (palavra, gestos), tácita (deduzida do comportamento) ou presumida (estabelecida por lei por meio de determinada postura do agente). OBS: 1) silêncio como manifestação de vontade – art. 111, CC; 2) Reserva mental: ocorre quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara querer, objetivando enganar o outro. Em regra a reserva mental é irrelevante para a validade e eficácia do negócio jurídico, todavia, se o destinatário tinha conhecimento o negócio não subsistirá, nem produzirá os efeitos – art. 110, CC. 3 Finalidade negocial: consiste no propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Idoneidade do objeto: deve apresentar os requisitos ou qualidades que a lei exige para que o negócio produza os efeitos desejados. Ex: no contrato de mútuo (tem que ser coisa fungível), na hipoteca (garantia dada tem que ser em bem imóvel, navio ou avião). b) Plano da validade: Art. 104, CC: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei (forma livre é a que predomina no ordenamento brasileiro – art. 107, CC, exceções: art. 108, CC, c/c art. 166, IV e V, CC) + consentimento válido (sem vícios, feita de forma livre). c) Plano da eficácia: produção de efeitos do negócio jurídico, que podem ser os desejados pelas partes (eficácia própria ou típica), como aqueles indesejados (eficácia imprópria ou atípica). Via de regra, se o negócio existe e é válido será também eficaz, excepcionalmente, porém, é possível que possua algum fato acessório ou acidental de ineficácia a exemplo da condição, do termo e do encargo (cláusulas acidentais). Da representação Conceito: Consiste na manifestação de vontade por alguém (representante) em nome de outrem (representado). Representante efetivamente realiza o negócio jurídico, substituindo o representando, ou seja, em nome deste. Espécies: a) Legal: determinada pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos, administradores. É munus, tendo em vista que o representante exerce uma atividade obrigatória. Utilizada para cuidar de interesses de pessoas incapazes e capazes. Nesses casos o representante não pode ser privado por ato do representado. b) Convencional: decorre de negócio jurídico específico, de ato de vontade, tendo por finalidade permitir o auxílio de uma pessoa na defesa ou administração de interesses alheios. Tem a outorga de procuração como instrumento para investir outra pessoa no poder de agir em seu nome (art. 653, CC), impondo os limites (art. 116, CC). Aqui o representante pode ser privado por ato do representado (revogação a qualquer tempo). c) Judicial: quando o representante é nomeado pelo juiz para exercer poderes de representação no processo, como o inventariante, o síndico da falência, o administrador da empresa penhorada... Autocontrato ou contrato consigo mesmo: art. 117, CC – via de regra é anulável tal situação, salvo se o contrato de mandato, explicitamente, permitisse essa situação ou lei específica assim estabelecesse. Prazo de 2 anos para pleitear anulação (art. 179, CC). 4 Anulação por conflito de interesses: art. 119, CC – divergência de interesses do representado com os do representante. Prazode 180 dias para pleitear anulação, a partir da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade. Da condição, do termo e do encargo (cláusulas acidentais) a) Condição: é evento futuro e incerto que condiciona os efeitos do negócio jurídico e deriva exclusivamente da vontade humana. (art. 121, CC). Suspensiva (art. 125, CC): deixa em suspenso os efeitos do negócio jurídico enquanto não for implementada, bem como impede a aquisição e o exercício do direito. X Resolutiva (art. 127 e 128, CC): produz efeitos o negócio jurídico automaticamente e implementada a condição resolutiva o negócio de pronto se extingue. Não há necessidade de notificar a parte. Os efeitos são ex nunc, ou seja, não retroativos. Lícita (art. 122, CC): todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. X Ilícita: as condições em sentido diverso do supracitado. São defesas as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. OBS: existem determinadas condições que o legislador determina que invalidarão o negócio ou serão tidas por inexistentes, a depender do caso – ler arts. 123 e 124, CC. Condições puramente potestativas (arbitrárias): subordinam os efeitos do negócio jurídico ao arbítrio das partes (art. 122, CC), é condição ilícita. Ex: art. 489, CC. Condições meramente potestativas (discricionárias): lícita. Ex: atrelar os efeitos do negócio a fator exterior, como uma doação atrelada à vitória de uma prova. OBS: é possível ao titular de direito eventual praticar atos de conservação? Sim! Pode lançar mão de proteção a este direito eventual – art. 130, CC. Quanto à presunção de verificação (implementação): art. 129, CC. b) Termo: é evento futuro e certo. Termo nada mais é senão o dia ou momento em que o negócio começa (termo inicial ou dies a quo) ou termina (termo final ou dies ad quem – art.). Relaciona-se com o exercício do direito, mas não com a aquisição do mesmo. OBS: não confundir com o prazo, que consiste no lapso temporal entre o termo inicial e o termo final. Forma de contagem: art. 132, CC/ Demais regras: art. 133 e 134, CC. 5 c) Modo ou encargo: ônus (restrição) imposto para que a parte usufrua de certo benefício estipulado no negócio jurídico, devendo ser cumprido/adimplido pela parte para que adquira os benefícios. Ex: doação modal. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, via de regra – art. 136, CC, há possibilidade de execução do que não for cumprido, posteriormente – art. 553, CC ou revogação pelo doador – art. 560, CC. Dos defeitos do negócio jurídico Essa expressão contempla tanto os vícios de consentimento/vontade - 1) erro ou ignorância; 2) dolo; 3) coação; 4) estado de perigo; 5) lesão -, quanto os vícios sociais - 6) fraude contra credores; 7) simulação. Os defeitos 1 ao 6 dão ensejo à nulidade relativa (anulabilidade) do ato, enquanto a simulação, constante na parte do CC que trata das invalidades do negócio (art. 167), gera nulidade absoluta. 1) Do erro ou ignorância: percepção da realidade equivocada/inexata. Erro substancial/principal/essencial/determinante: art. 138 e 139, CC – relacionado ao fato gerador do negócio jurídico. Ex: compra de relógio banhado, acreditando ser efetivamente de ouro. OBS: aqui não há presença de induzimento. a) Erro sobre o negócio: quanto à modalidade do negócio pactuado. Ex: empréstimo – gratuito x locação – oneroso; b) Erro sobre o objeto: relacionado à qualidade, quantidade; c) Erro sobre a pessoa: contratar pessoa errada; d) Erro sobre o direito: equívoco quanto ao alcance da norma. OBS: não consiste em recusa à aplicação da lei, nem desconhecimento dela. Erro acidental/acessório/secundário: “erro menor”, por isso não tem repercussão para o direito civil. Trata-se de erro de indicação da pessoa ou da coisa, mas que pode ser sanado pela identificação decorrente das circunstancias , do contexto. Não é fato gerador do negócio jurídico, mas apenas uma qualificação mais específica, sem consequência – art. 142, CC. Falso motivo: art. 140, CC. Erro de transmissão de vontade: art. 141, CC. Ex: procurador no ato da celebração do casamento – arts. 1.542 e 1.550, CC. Erro de cálculo: art. 143, CC – erro meramente material. 2) Do dolo: é um induzimento malicioso/ardiloso para que alguém pratique um ato contra a sua própria vontade. Enquanto o erro você comete sozinho, aqui há induzimento. OBS: apenar ocasionará a anulação do negócio se consistir em dolo principal, assim como vimos no erro principal. Dolo acessório: art. 146, CC – ocasiona perdas e danos. Dolo principal: art. 145, CC. Classificação: a) Negativo/por omissão: art. 117, CC – é quando uma das partes de forma intencional silencia para induzir a outra a praticar um ato contra a sua 6 própria vontade. Ex: contratação de um seguro de vida ou de saúde em que você recebe a DPS (Declaração Pessoal do Segurado) para fins de identificação do perfil e não coloca que tem doença preexistente; b) De terceiro: art. 148, CC – decorrente da conduta de terceiro. Ex: venda de carro ruim em que um terceiro fica maliciosamente incentivando a compra. OBS: Consequências jurídicas: Se quem aproveitou sabia ou deveria saber: negócio anulável/ Se quem aproveitou não sabia: a prejudicada entra com perdas e danos contra terceiro e o negócio subsiste. c) Do representando (legal ou convencional): art. 149, CC – o menor só responderá na medida do seu proveito econômico, se o dolo tiver sido praticado pelo representante legal (medida equânime). Se o dolo é efetivado por representação convencional/voluntária: a responsabilidade é solidária. d) Recíproco/bilateral: art. 150, CC – ambas as partes procedem no dolo, são atitudes que se autoanulam. Não geram nulidade, nem perdas e dano. 3) Da coação moral: pressão para que você pratique um ato contra sua própria vontade. Requisitos para que a coação possa viciar o negócio: a) A coação deve ser a causa do ato (determinante); b) Gravidade: a coação deve imputar ao coagido um verdadeiro temor de dano sério; c) Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva) – art. 153, CC. OBS: ameaça do exercício normal do direito, nem mesmo mero temor reverencia; d) Iminência ou atualidade: a coação dever ser atual ou iminente (para fins de afastamento da coação impossível); e) A coação deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou bens da vítima, ou às pessoas da sua família; terceiro ou seu patrimônio – art. 151, CC (juiz analisará as circunstâncias do caso). OBS: Na análise dos requisitos acima se leva em consideração as circunstâncias subjetivas da vítima – art. 152, CC. Coação exercida por terceiros: arts. 154 e 155, CC – mesmo raciocínio. Novidade: responsabilidade solidária (terceiro e quem aproveitou) gerada pelas perdas e danos + anulação do ato. Caso quem aproveitou não soubesse: o terceiro responde por todas as perdas e danos e o negócio subsiste. 4) Do estado de perigo: funciona como aplicação do estado de necessidade aos defeitos do negócio jurídico – art. 156, CC. Ex: época o hospital condicionava o atendimento à garantia pecuniária (como cheque caução), quando o indivíduo não tinha plano de saúde ou este não tinha cobertura integral. Veja que nesse caso o hospital é conhecedor do grave dano que atinge a pessoa e mesmo assim impõe obrigação excessivamente onerosa. OBS: no caso de terceiro: juiz analisará as circunstâncias do caso. O que fazer? a) Sob o ponto de vista legislativo: art. 171, CC – anulação do ato. 7 b) Sob ponto de vista doutrinário: enunciado 148 CJF – por analogia à lesão, antes de anular deve-se tentarrevisão. Atenção!! Não confundir Estado de Perigo com Lesão: no primeiro o dano é conhecido pela outra parte, enquanto no segundo o grave dano não é conhecido. 5) Da lesão: art. 157, CC. Requisitos cumulativos: a) Objetivo: manifesta desproporção entre as parcelas pactuadas/aferidas no momento da celebração do negócio jurídico. OBS: observa-se que o CC não quantificou o valor, falando em desproporcionalidade quantitativa como conceito aberto, sem definir o padrão; b) Subjetivo: premente necessidade e inexperiência de uma das partes. Uma vez constatada a lesão dois caminhos podem ser seguidos: revisão: art. 157, §2º (preferencial), ou anulação – nulidade relativa. 6) Da fraude contra credores: Premissa: no Brasil a responsabilização é patrimonial – “O patrimônio do devedor é o domicílio da garantia do credor” (Alexandre Câmara). Por isso há preocupação com o desfazimento do patrimônio, porque consiste em desfazimento da garantia do crédito. Necessidade de cinco requisitos cumulativos: a) Anterioridade do crédito: crédito preexistente; b) Eventus Damni: dano ao credor (quando a disposição patrimonial for capaz de gerar insolvência) – fato objetivo da disposição dos bens: prejuízo; c) Consilium fraudis (má-fé): intenção de lesar – arts. 158 e 164, CC (vincula presunção de boa-fé). OBS: ¹ no ato gratuito presume-se o “consilium fraudis”, como na doação e non perdão (remissão); ² professora não concorda com esse último requisito citado pela doutrina, acredita não ser necessária a má-fé. Cumpridos os requisitos deve ser ajuizada a chamada Ação Pauliana ou Revocatória (pleiteia a anulação do ato no prazo de 4 anos, contados da conclusão do negócio – art. 171 e 178, CC), instrumento processual cabível. 7) Simulação: art. 167, CC - “o ato enganoso de vontade” – Clóvis Beviláqua. Classificação: a) Absoluta (simulação): nulidade absoluta – pratica-se um ato que não terá nenhum objetivo prático com o intuito de burlar a lei ou terceiro. b) Relativa (dissimulação): consequência que demanda análise do operador do direito. OBJETIVA: A prática de ato simulado/ “de fachada” (nulo): compra e venda por exemplo, existiu para que o ato dissimulado (anulável) se efetivasse, ex: doação vedada – art. 550, CC. SUBJETIVA: realizada por interposta pessoa, o famoso “laranja”. Ex: transferência de 8 patrimônio à A (ato nulo, simulação) para que este repasse à B (ato dissimulado). Da invalidade do negócio jurídico 1) Nulidade absoluta: arts. 166 e 167. Características: O ato nulo atinge interesse público superior; Pode ser arguida pelas partes, por terceiro interessado, pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir, ou até mesmo pronunciada de ofício pelo juiz – art. 168, CC; A nulidade pode ser reconhecida a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição, não se sujeitando a prazo prescricional (imprescritível) ou decadencial. Não admite confirmação (ratificação), mas pode ser convertido em ato válido. A ação declaratória de nulidade é julgada por sentença de natureza declaratória de efeitos ex tunc (retroativos). Atenção!! Apesar de o juiz poder reconhecer de ofício a nulidade, ele não tem permissão para supri-la, ainda que a requerimento da parte - art. 168, parágrafo único, CC. 2) Nulidade relativa (anulabilidade): art. 171, CC. Características: O ato anulável atinge interesses particulares, legalmente tutelados (por isso a gravidade não é tão relevante quanto na hipótese de nulidade). Somente pode ser arguida pelos legitimados interessados. Admite confirmação expressa ou tácita (ratificação)/ saneamento/ convalidação – art. 172, CC; A anulabilidade somente pode ser arguida pela via judicial (sentença desconstitutiva), em prazos decadenciais de 4 (regra geral) ou 2 (regra supletiva) anos, salvo norma específica em sentido contrário – arts. 178 e 179, CC. OBS: decisão que reconhece a anulabilidade tem efeitos ex nunc, via de regra – art. 177, CC. 3) Princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos (mecanismos de aproveitamento do ato nulo): a) Conversão substancial: é uma media sanatória por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais de uma negócio jurídico inválido, convertendo-o em negócio válido de fins lícitos. Está prevista no art. 170, CC, e consiste na recategorização de determinadas circunstancias. Enunciado 13, CJF: ¹ requisito objetivo (aproveitamento dos elementos materiais do negócio nulo ao novo – ex: qualificação as partes, forma de pagamento); ² requisito subjetivo (aproveitamento da manifestação de vontade originária no novo negócio). Ex: ¹ compra e venda por instrumento particular (desrespeito ao art. 108, CC, – nulo, art. 169. CC), juiz pode considerar convertendo em promessa de compra e venda, possibilitando a adjudicação compulsória do bem; ² testamento público 9 nulo por desrespeito ao requisito de forma é convertido em testamento particular. b) Ratificação (saneamento/ convalidação/ confirmação): arts. 169 e 172, CC – pode ser expressa (direta) ou tácita (indireta). Ex: filho que realizar compra e venda sozinho (sem assistência) – ato anulável, pode ser convalidado. Expressamente: assina/ tácita: deixar o prazo decadencial de 4 anos transcorrer in albis (deu efetividade ao negócio). c) Redução do negócio jurídico (incomunicabilidade das nulidades): permite uma invalidade parcial (apenas da parte acessória, mantendo a principal); negócios com manifestações de vontade cindíveis/ separáveis entre si e cujo defeito atinja a parte acessória – art. 184, CC. Ex: contrato coligado (um instrumento, duas ou mais figuras contratuais autônomas): locação e fiança, em que a desrespeito à regra do art. 1.647 (exigência de vênia conjugal) – derruba a fiança e mantem a locação, pois a fiança é acessória. Dos atos jurídicos lícitos Art. 185, CC. Dos atos ilícitos 1) Conceito: infração de um dever preexistente (culpa/ dolo) + violação a direito + dano = responsabilidade. Responsabilidade contratual: arts. 389 e 395, CC – inadimplemento contratual gera a responsabilidade de indenizar em perdas e danos; presume-se culposo; é gerado pelo descumprimento da convenção; capacidade sofre limitações. X Responsabilidade extracontratual (aquiliana): arts. 186, 187 e 927, CC – gera a responsabilidade de indenizar em perdas e danos; ônus de provar a culpa ou dolo do causador do dano é do lesado; dever genérico de não lesar a outrem; capacidade ampla. Responsabilidade civil: pode decorrer de ato lícito; interesse lesado é o privado; patrimonial (exceto dívida de alimento); é mais genérica, basta que cumpra o que diz o art. 186, CC; culpabilidade é mais ampla; imputabilidade: maior de 18 anos. X Responsabilidade penal: interesse lesado é o da sociedade; pessoal; necessidade de tipicidade; imputabilidade: maior de 18 anos. Responsabilidade subjetiva: pressuposto necessário para o dano indenizável: culpa latu sensu (dolo ou culpa stricto sensu): ação /omissão + culpa/dolo + dano + nexo de causalidade. X Responsabilidade objetiva: não há necessidade de comprovar culpa/dolo; decorre da lei: fato + dano + nexo de causalidade. 10 2) Imputabilidade e responsabilidade: não há possibilidade de se exigir livre determinação de vontade (art. 186, CC) daquele que não tem capacidade de discernimento. 3) Responsabilidade do incapaz: art. 928, CC – mitigação da responsabilidade, que inclusive é subsidiária, pois o incapaz somente responde quando as pessoas por ele responsáveis não tiverem a obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes, ainda, nesse caso, não pode a indenização (equitativa) privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.4) Pressupostos da responsabilidade extracontratual: a) Ação ou omissão: nesta em relação ao animal, por exemplo, a culpa do dono é presumida; nos casos de dever jurídico, com no caso em que o condutor não presta socorro; b) Culpa ou dolo: a primeira consiste em falta de diligência que se exige do homem médio, OBS: a indenização se mede pela extensão do dano; o segundo é a vontade deliberada de lesar. c) Relação de causalidade: é quebrado pela culpa exclusiva da vítima e pelo caso fortuito/ força maior. d) Dano: patrimonial ou moral. 5) Atos lesivos não considerados ilícitos: legítima defesa, exercício regular de um direito, estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal. Da prescrição e da decadência Da prescrição 1) Conceito: art. 189, CC. É a perda de uma pretensão em virtude do passar do tempo, relativa a um direito subjetivo patrimonial e disponível, que é manejado através de ação condenatória. O que é pretensão? É a possibilidade de coercitivamente exigir de outrem o cumprimento de determinado dever jurídico; nasce no momento de violação do direito subjetivo. Imprescritibilidade: imprescritíveis são as pretensões relacionadas a um direito subjetivo extramatrimonial e indisponível, que manejado é por ação declaratória. Ex: pretensão de reconhecimento de paternidade. 2) Prazos: art. 192, CC – sempre legais e não pode ser alterado pela vontade das partes! Estão reunidos nos arts. 205 e 206, CC, o primeiro trata da prescrição ordinária, que é de 10 anos, enquanto o segundo traz o rol de prazos prescricionais especiais em seus parágrafos, variando de 1 a 5 anos. 3) Causas que ¹ impedem ou ² suspendem a prescrição: arts. 197 ao 201, CC. Consistem em causas que impedem o início da contagem do prazo prescricional ou então vem a suspender a fluência desses prazos. É o mesmo rol de causa para ambos; para diferenciar os institutos: ¹ É preexistente ao nascimento da pretensão – impede início do prazo. 11 ² Atinge o prazo em curso e o suspende. OBS: não há limites de suspensão. 4) Causas que interrompem a prescrição: art. 202, CC. Essas zeram o prazo, interrompendo e fazendo nova contagem do início (integralidade). A interrupção só poderá ocorrer UMA ÚNICA VEZ. OBS: art. 196, CC, preceitua que a prescrição continua a correr contra o sucessor da pessoa sobre a qual foi iniciada. Assim, a morte não suspende, interrompe ou impede a efetivação desse instituto. Atenção!! Vide aspectos prescricionais tratados no ponto 2 do tópico abaixo. Da decadência 1) Conceito: decadência ou caducidade é a perda de um direito potestativo1 em virtude do passar do tempo, manejado através de ação constitutiva. 2) Categorias: a) Legal: prevista em lei, ex: art. 178, CC. b) Convencional (voluntária) – decorre de ato de vontade, ex: garantia estendida presente no Código de Defesa do Consumidor. 2) Observações correlatas (prescrição e decadência): a) Os prazos prescricionais, por serem sempre legais, não podem ser alterados pela vontade das partes. Art. 192, CC. E os decadenciais? Não, se for legal, e sim, se for convencional. b) A prescrição, por ser uma defesa do devedor, pode ser renunciada – art. 191, CC, e só pode ocorrer depois do prazo consumado, bem como desde que não prejudique terceiro, podendo ser expressa ou tácita. Na mesma linha, a decadência convencional também pode ser renunciada, não se admitindo, porém, a renúncia ao prazo decadencial legal – art. 209, CC; c) A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. O mesmo não acontece com a convencional – arts. 210 e 211, CC. No caso da prescrição, pode ser reconhecida de ofício em qualquer hipótese; d) Enquanto a prescrição se impede, se suspende e se interrompe, a decadência, em regra, não se impede, não se suspende e não se interrompe, salvo se existir disposição em contrário na lei. e) Não corre nem prescrição, nem decadência em face dos absolutamente incapazes, todavia, contra os relativamente incapazes o prazo corre normalmente – arts. 207, 208, 198, I, e 195, CC. 1 Direito potestativo: atribuem ao titular a possibilidade de produzir efeitos em determinadas situações projetando-se sobre a esfera jurídica de interesses do outro, por ato próprio de vontade do titular, inclusive atingindo terceiros interessados nessa situação, que não poderão se opor. É poder de ação, que se limita pela vontade discricionária do titular. Ex: direito assegurado ao empregador de dispensar um empregado (no contexto do direito do trabalho); cabe a ele apenas aceitar esta condição; como também num caso de divórcio, uma das partes aceitando ou não, o divórcio será processado. 12 Da prova 1) Conceito: meio empregado para a verificação da existência de um fato jurídico, objetivando obter a verdade possível (formal), que é aquela alcançável no processo. Há de ser admissível (permitida por lei), pertinente (adequada à demonstração que se pretende) e concludente (clarificar os fatos). OBS: o objeto probatório é o fato e não o direito, pois este é de conhecimento do magistrado. Art. 212, CC, traz rol ilustrativo/exemplificativo, não taxativo. 2) Confissão: consiste no livre reconhecimento da veracidade de fato que a outra parte da relação pretende provar. Trata-se de ato contrário ao interesse do confitente e favorável à outra parte. Pode ser classificada em: a) Judicial ou extrajudicial; b) Espontânea ou provocada; c) Expressa (real) ou presumida (ficta) pela revelia – arts. 344 a 346, NCPC. Elementos necessários: capacidade da parte, declaração e objeto possível. Aspectos interessantes: Art. 214, CC: É irrevogável e irretratável, pois não admite arrependimento. O que não quer dizer que deva prosperar a confissão viciada, sob pena de invalidade do ato, como já visto; Art. 213, CC: a confissão feita pelo representante, que tenha poderes especiais para tanto, apenas será eficaz nos limites em que possa vincular o representado. Extra! Carlos Roberto Gonçalves informa que o representante ou assistente do incapaz não poderá, em princípio, confessar ao passo que lhe é vedado a prática de ato em conflito de interesses com o titular do direito. 3) Documento: escrito representativo de determinado fato jurídico. Trata-se de prova pré-constituída de um determinado fato. Pode ser classificada em: a) Público: consiste naquele lavrado em notas de tabelião, ou seja, dotado de fé pública, fazendo prova plena – art. 215, caput, CC (quanto à “prova plena” a doutrina assevera tratar-se ainda sim de presunção relativa, juris tantum, e não absoluta, juris et de jure). OBS: a ausência de qualquer dos requisitos da escritura pública elencados ao decorrer do supracitado artigo acarreta a nulidade absoluta do documento, pois esta é a consequência quando a lei exige uma forma ou solenidade e há seu desrespeito – art. 166,CC. b) Particular: confeccionado por particulares, devendo ser assinado apenas por quem tenha plena capacidade, sendo hábil a provar as obrigações convencionais de qualquer valor. Os efeitos do documento particular serão, em regra, inter partes. Não é exigível a presença de testemunhas – art. 219. CC. Para que ganhem oponibilidade erga omnes (em relação a todos) far-se-á necessário o registro público – art. 221, CC. O documento particular gera uma presunção relativa (juris tantum) de veracidade das declarações em relação aos signatários, sendo possível o afastamento desde que haja prova em contrário, como uma coação, por exemplo. 13 4) Observações: Art. 220, CC: caso a lei exija uma determinada autorização para a prática válida de um ato da vida civil (a denominada legitimação, capacidade negocialou privada), esta haverá de ser colhida na mesma forma do instrumento principal e, sendo possível, no mesmo instrumento. Ex: vênia conjugal – art. 1.647, CC, no caso em que a venda de um imóvel ultrapasse a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país, a forma haverá de ser pública – art. 108, CC; assim como a outorga conjugal que, se possível, deve ser conferida no mesmo instrumento; O documento, em regra, deverá ser exibido no original, mas o CC admite que se prova por: certidões textuais2 (art. 216, CC); traslados3 e certidões (arts. 217 e 218, CC); cópia fotográfica de documento (art. 223, CC); reproduções fotográficas, cinematográficas, dos registros fonográficos (art. 225, CC) 4 ; e livros e fichas dos empresários e sociedades (art. 226, CC); Necessidade de tradução para o português dos documentos em língua estrangeira – art. 224, CC. 5) Testemunha: é a prova mais imprevisível, pois o ser humano se sujeita à ingerências, contradições, palpitações, ou seja, subjetividades. Serve para comprovar fato jurídico – art. 212, III, CC. OBS: a prova testemunhal, independentemente do valor do negócio jurídico, é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. Podem ser: a) Instrumentárias: aquelas que firmam determinado negócio jurídico juntamente com as partes; b) Judiciais: aquelas convocadas para serem escutadas em juízo. Quem não pode testemunhar? Art. 228, CC. 6) Perícia: o perito é um auxiliar da justiça e satisfaz um munus público. Os arts. 231 e 232, CC, preceituam que a negativa à perícia médica não poderá ser aproveitada por aquele que se negou. Ex: caso o juiz ordene uma perícia médica e o réu negue-se, contra ele existirá uma presunção relativa (juris tantum). É o que ocorre no caso da negativa do exame de DNA, a qual gera presunção de paternidade – súmula 301, STJ. 2 Entende-se por certidão a reprodução de escritos de um determinado livro ou documento, realizado por funcionário público ou sob sua atenção. 3 Traslado é a cópia daquilo que se encontra lançado em livro ou em autos de um processo judicial; também denominado de cópia fiel. 4 Aceitação de documentos eletrônicos – Enunciados 297 e 298 do Conselho da Justiça Federal.
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