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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS NO PROCESSO CIVIL PROF. GUILHERME ANTUNES DA CUNHA EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO § Em geral, a atividade jurisdicional toca as partes do processo. § Assim, os efeitos da sentença ocorrem inter partes, somente a estas sendo oponíveis a decisão judicial. § Porém, eventualmente o patrimônio de terceiros estará sujeito aos efeitos de uma decisão judicial. EMBARGOS DE TERCEIRO § Em algumas situações, há responsabilidade patrimonial de terceiros, como, por exemplo, CPC 592; NCPC 790. § Nestes casos, ao atingir patrimônio de terceiro, a atividade jurisdicional extrapola seus limites, ao atingir bens de alguém que não guarde relação com a lide. § Nesses casos, a lei lhes confere um instrumento hábil a mover uma ação “contra o processo”, de onde provém a decisão judicial que os atinge. EMBARGOS DE TERCEIRO § Assim, por meio desta ação, os terceiros protegem os seus interesses e liberam os seus bens. § Têm natureza jurídica de ação e constitui um processo autônomo, mesmo dirigindo-se contra um processo já existente. § Finalidade: proteção possessória ou dominial de bem objeto de medida judicial constritiva (ou ameaça de constrição). CPC 1.046; NCPC 674. EMBARGOS DE TERCEIRO § Legitimidade: podem ser ajuizados por qualquer pessoa que ostente a condição de terceiro em relação à demanda de onde provém a decisão judicial que efetua a constrição do bem. § Há discussão jurisprudencial acerca da legitimidade ativa do adquirente do bem litigioso, do herdeiro da parte e do sócio de empresa executada. EMBARGOS DE TERCEIRO § No caso da reserva de meação, é necessário comprovar que a dívida não foi contraída em benefício do casal. § O adquirente de bem litigioso não pode valer-se dos embargos de terceiro, pois sujeita-se aos efeitos da ação originária, nos termos do CPC 42 (NCPC 109), a menos que não tenha ingressado no processo. [3º de boa-fé] § O herdeiro de parte, sendo sucessor processual desta, não pode colocar-se na condição de terceiro para fins de Embargos. EMBARGOS DE TERCEIRO § Também não é terceiro o sócio que tem seu patrimônio atingido em execução contra a sociedade por desconsideração da personalidade jurídica, visto que torna-se parte no processo. § A condição de terceiro possuidor dispensa formalização de eventual transferência do bem. Assim, cabem Embargos pelo promissário-comprador. § O cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defender sua meação, quando o bem não estiver sujeito à responsabilidade patrimonial em questão. EMBARGOS DE TERCEIRO APELAÇÕES CÍVEIS. EMBARGOS DE TERCEIRO. PROMESSA DE COMPRA E VENDA NÃO REGISTRADA. PENHORA. AUSÊNCIA DE REGULARIZAÇÃO DA PROPRIEDADE DA VENDEDORA. PREJUDICIALIDADE AO REGISTRO DA AQUISIÇÃO DO IMÓVEL PELOS EMBARGANTES. BOA-FÉ DEMONSTRADA. PENHORA DESCONSTITUÍDA. SENTENÇA MANTIDA. É possível o ajuizamento da ação de embargos de terceiro para defesa da posse advinda de contrato de promessa de compra e venda, ainda que não registrado […]. A demonstração de que o imóvel penhorado foi objeto de contrato particular de promessa de compra e venda dois anos antes da penhora enseja o reconhecimento da boa-fé. […] Boa-fé dos adquirentes demonstrada. Penhora desconstituída. Sentença mantida. APELOS DESPROVIDOS. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70042243261, Julgado em 29/11/2012) EMBARGOS DE TERCEIRO § Tem legitimidade para opor Embargos a parte que for equiparável a terceiro pela condição com que defende a posse do bem. Terceiro adquirente de boa-fé. § É o caso dos bens alienados fiduciariamente quando alienados a terceiro. O adquirente de boa-fé pode opor embargos para ver o bem liberado de eventual penhora. § Ainda, cabem Embargos para defesa da posse em relação à ações de divisão ou demarcação de terras particulares. EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. COMPRA DE VEÍCULO. EXISTÊNCIA DE PENHORA. AUSÊNCIA DE REGISTRO NO DETRAN. MÁ-FÉ DO ADQUIRENTE NÃO COMPROVADA. Quando o embargante adquiriu o veículo, o mesmo constava como sem restrição junto ao DETRAN. Não foi registrada a penhora efetuada no processo de execução movido pelo embargado contra o anterior proprietário do bem. Aliás, o executado havia alienado o carro a terceiro, o qual, posteriormente, o revendeu ao embargante. Ausência de prova de má-fé do adquirente do veículo, ônus do embargado, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se desincumbiu. Incidência da Súmula 375 do STJ. (Apelação Cível Nº 70041020512, TJRS, 29/05/2014). O gravame de alienação fiduciária não estava inscrito no registro do DETRAN. EMBARGOS DE TERCEIRO § Assim como cabem Embargos pelo credor com garantia real, para obstar alienação judicial do bem objeto da hipoteca ou do penhor. § Neste caso, o credor com garantia real deverá comprovar que o executado tem outros bens penhoráveis, pois a garantia real não obsta a venda do único bem. A garantia se transfere ao produto da venda do bem. § Poderá o embargante discutir, ainda, nulidades relativas à alienação do bem penhorado (na arrematação, adjudicação ou alienação por iniciativa particular). EMBARGOS DE TERCEIRO § Novo CPC é mais expresso nos casos (art. 674, §2º): • I – o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação; • II – o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução; • III – quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; • IV – o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado dos atos expropriatórios respectivos. EMBARGOS DE TERCEIRO § Legitimidade passiva: parte beneficiária da decisão judicial guerreada. Ainda, sempre que o provimento dos Embargos puder afetar ambas as partes do processo originário, haverá litisconsórcio passivo necessário. § Prazo: art. 1.048 do CPC (NCPC 675). 5 dias da arrematação, adjudicação ou remição, antes da assinatura da carta. § Se o terceiro não tinha ciência da expropriação do bem, a jurisprudência admite que o prazo conte a partir da turbação ou esbulho. EMBARGOS DE TERCEIRO § Existe entendimento doutrinário no sentido de que, não cumprido prazo do CPC 1.048 (NCPC 675), perde-se o direito à suspensão da ação principal, mas não de discutir a constrição ilegítima. § Competência: os embargos de terceiros serão distribuídos por dependência à ação na qual ocorrer a constrição do bem, em autos distintos. § Na execução por carta, o juízo deprecado é competente para julgar os embargos de terceiro, salvo se o bem foi indicado pelo juízo deprecante. EMBARGOS DE TERCEIRO § Petição inicial deve observar os termos dos arts. 282 e 283 do CPC (NCPC 319/320). Deverá o autor, ainda, provar sumariamente sua posse e sua qualidade de terceiro, além de arrolar testemunhas. § Prazo de defesa e procedimento: alteração no NCPC (679). 15 dias e, após, procedimento comum. CPC de 1973: 10 dias e, após, procedimento cautelar (art.1.053). § Caso o requerente não tenha como demonstrar documentalmente a sua posse, poderá fazê-lo em audiência preliminar, com ou sem a presença do réu. EMBARGOS DE TERCEIRO § Quando a presença do réu puder tornar ineficaz os Embargos, será a audiência realizada sem ele. § Convencendo-se o juiz da prova documental ou na audiência de preliminar da existência da posse do autor, deferirá liminarmente os embargos. Tutela da evidência. § Neste caso, expedir-se-á mandadode manutenção ou restituição da coisa, que só será devolvida após caução pelo embargante quanto aos rendimentos. CPC 1.051; NCPC, art. 678, salvo se a parte for hipossuficiente. EMBARGOS DE TERCEIRO AGRAVO DE INTRUMENTO. PEDIDO LIMINAR DE RESTITUIÇÃO DO BEM CONSTRITO. NECESSIDADE DE CAUÇÃO IDÔNEA. Nos termos do artigo 1051 do CPC, pode ser deferida medida liminar em sede de embargos de terceiro para haver a restituição dos bens. Contudo, para afastar o perigo de irreversibilidade da medida, é necessária a prestação de caução idônea. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70039104757, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angelo Maraninchi Giannakos, Julgado em 18/10/2010) EMBARGOS DE TERCEIRO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE TERCEIRO. MANUTENÇÃO DE POSSE. CABIMENTO, NO CASO. 1. É de ser confirmada a liminar de manutenção de posse concedida em favor do agravado que, bem ou mal, está dando destinação ao imóvel condizente com sua função social (moradia). 2. Ademais, a definição sobre o direito à posse do bem - conflito entre o título dominial do agravante (arrematação) e o do agravado (compra e venda) -, consiste no próprio mérito dos embargos, afastada a urgência da pretensão vindicada pelo recorrente. Agravo de instrumento desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70047218193, Tribunal de Justiça do RS, Julgado em 13/03/2012) EMBARGOS DE TERCEIRO POSSE (BEM IMÓVEL). AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE TERCEIRO. DECISÃO LIMINAR QUE DEFERIU A MANUTENÇÃO PROVISÓRIA DA EMBARGANTE NA POSSE DO IMÓVEL, CANCELANDO MANDADO DE IMISSÃO EXPEDIDO NO PROCESSO PRINCIPAL (AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE). TEMPESTIVIDADE. CABIMENTO. [… ] Estando suficientemente provada a posse, ao menos em sede de cognição sumária, afigura-se correta a decisão que deferiu liminarmente a manutenção provisória da embargante no imóvel. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70023783962, Tribunal de Justiça do RS, Julgado em 26/08/2008) EMBARGOS DE TERCEIRO § Quando os embargos versarem sobre todos os bens, suspende-se o processo principal; se apenas sobre alguns, prossegue-se quanto aos bens não embargados. § A liminar não se sujeita aos requisitos gerais da antecipação de tutela – urgência, bastando a aparência da posse do terceiro. § Sempre que a constrição judicial não estiver inscrita no registro do bem, presume-se o terceiro de boa-fé, cabendo prova em contrário. EMBARGOS DE TERCEIRO APELAÇÕES CÍVEIS. EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO. BOA-FÉ DO ADQUIRENTE. DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA. A aquisição do imóvel pelo terceiro embargante, antes da penhora nos autos da execução, e quando inexistia qualquer restrição sobre o bem, evidencia sua boa-fé. Não demonstrada a má-fé do adquirente, descabe a penhora sobre o imóvel. Súmula 375 do STJ. […] Sentença de parcial procedência dos embargos de terceiro, mantida. APELAÇÕES DESPROVIDAS. (Apelação Cível Nº 70041971219, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 29/11/2012) EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS INFRINGENTES. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. EMBARGOS DE TERCEIRO. Inocorrência de fraude à execução. Súmula 375, STJ. Inexistência de gravame no registro do veículo quando da alienação procedida. Falta de prova da má-fé da adquirente. Embargos ACOLHIDOS, POR MAIORIA. (Embargos Infringentes Nº 70047345368, Sétimo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Sbravati, Julgado em 30/03/2012). Não se reconhece fraude à execução quando não registrada a penhora do bem ou haja prova da má-fé do adquirente. EMBARGOS DE TERCEIRO APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO FISCAL. FRAUDE À EXECUÇÃO. OCORRÊNCIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 375 DO STJ NAS EXECUÇÕES FISCAIS. […]. A partir da redação dada ao artigo 185 do CTN pela Lei Complementar nº 118/05, presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas por sujeito passivo com débito regularmente inscrito como dívida ativa em fase de execução, sendo dispensável a averbação da penhora no registro do bem. Caso em que a alienação do imóvel ocorreu após a inscrição do débito em dívida ativa e a citação do executado nos autos da execução fiscal, o que caracteriza a fraude à execução. […]. (Apelação Cível Nº 70050668540, Tribunal de Justiça do RS, Julgado em 28/11/2012) EMBARGOS DE TERCEIRO APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO. VEÍCULO. RESTRIÇÃO DE ALIENAÇÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO. Adquirido o veículo pelo embargante, após a citação do executado nos autos da execução, evidencia-se a fraude à execução, nos termos do art. 593, II, do CPC, ante a má-fé do adquirente evidenciada nos autos. Aplicação da Súmula 375 (in fine) do STJ. Sentença de improcedência dos e m b a r g o s d e t e r c e i r o , m a n t i d a . A P E L A Ç Ã O DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70042053942, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 29/11/2012) EMBARGOS DE TERCEIRO § A sentença que julgar procedente a demanda confirmará a liminar concedida ou conferirá mandado de manutenção ou reintegração da posse, determinando o levantamento da caução. NCPC 681. § Em caso de embargos com fundamento no direito real de garantia, a contestação está limitada aos temas do art. 1.054 do CPC (NCPC 680). § Isto porque a garantia real sujeita o bem a regime especial, conferindo ao credor prioridade na satisfação de seu crédito.
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