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resumo instituicoes PROVA 3

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TEXTO 10 - Manicômios, prisões e conventos – ErvingGoffman
Toda instituição possui tendência ao fechamento, sendo umas mais fechadas do que as outras. 
Instituições totais: são aquelas em que o seu “fechamento” ou caráter total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no sistema físico (portas fechadas, paredes altas, arame farpado, água, floresta..).
As instituições totais da nossa sociedade separadas em 5 agrupamentos: 
1- criadas para cuidar de pessoas que são incapazes e inofensivas (casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes).
2- locais para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si próprias e que são uma ameaça a comunidade, embora de maneira não intencional (sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais e leprosáros).
3- organizado para proteger a comunidade contra perigos intencionais e o bem estar das pessoas isoladas não constitui o problema imediato (cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerra, campos de concentração).
4- para realizar de modo mais adequado alguma tarefa de trabalho e que se justificam apenas através de tais fundamentos instrumentais: quartéis, navios, escolas internas, campos de trabalho, colônias e grandes mansões. 
5- destinados a servir de refugio do mundo, embora sirvam como locais de instrução para religiosos (abadias, mosteiros e conventos).
A sociedade moderna tende a dormir, brincar e trabalhar em diferentes lugares, com diferentes co-participantes, sem um plano racional geral. Já nas instituições totais existe um aspecto central, que é a ruptura dessas barreiras que comumente separam estas três esferas da vida:
Todos os aspectos da vida são realizados no mesmo local e sob uma única autoridade.
Cada fase da atividade diária do participante é realizada na companhia de um grupo relativamente grande de outras pessoas, todas tratadas da mesma forma e obrigadas a fazer as mesmas coisas. 
Todas as atividades são rigorosamente estabelecidas em horários e são impostas por um sistema de regras formais explícitas.
As atividades obrigatórias são reunidas num plano racional único, supostamente planejado para atender aos objetivos oficiais da instituição.
O controle de muitas necessidades humanas pela organização burocrática de grupos completos de pessoas é o fato básico das instituições totais, isto gera algumas consequências:
1 - quando as pessoas se movimentam em conjunto, podem ser supervisionadas, gerando uma vigilância: fazer com que todos façam o que foi claramente exigido.
Há um divisão básica entre um grande grupo controlado (grupo dos internados) e uma pequena equipe de supervisão (equipe dirigente).
Os participantes da equipe dirigente tendem a sentir-se superiores e corretos.
Há restrição para conversa entre as fronteiras, assim com há restrição à transmissão de informações, sobretudo dos dirigentes para os internados.
2 – a segunda consequência refere-se ao trabalho: na vida usual da sociedade o empregado decide o que vai fazer com o seu dinheiro. Já os internados têm tudo determinado, ou seja, equivale a dizer que todas as suas necessidades essenciais precisam ser planejadas. Existe incompatibilidade entre as instituições totais e a estrutura básica de pagamento pelo trabalho de nossa sociedade.
3 – incompatibilidade com a família: a instituição total é um híbrido social, parcialmente comunidade residencial, parcialmente organização formal.
O mundo do internado:
As instituições totais não procuram uma vitória cultural para o internado. Elas criam e mantém um tipo específico de tensão entre o mundo doméstico e o mundo institucional e, usam esta tensão persistente como uma força estratégica no controle dos homens.
Quando o novato chega à instituição ele começa a passar por mudanças radicais em sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudanças que ocorrem nas crenças que tem a respeito de si mesmo e a respeito dos outros que são significativos para ele. Ele passa por processos que mortificam o seu eu.
A primeira mutilação do eu é assinalada pelas barreiras que a instituição coloca entre o internado e o mundo externo. O internado perde alguns papéis em virtude desta barreira que o separa do mundo externo.
Existe uma forma de iniciação denominada “boas-vindas”, dela fazem parte os processos de admissão e os testes de obediência. Nessa iniciação a equipe dirigente e até os internados antigos procuram dar ao novato uma noção clara de sua situação.
O processo de admissão pode ser considerado uma despedida e um começo, e o ponto médio pode ser marcado pela nudez (o internado é despojado de seus bens).
Uma das formas mais eficientes para perturbar a “economia” de ação de uma pessoa é a obrigação de pedir permissão ou instrumentos para atividades secundárias que a pessoa pode executar sozinha no mundo externo, por exemplo, fumar, barbear-se, ir ao banheiro...
Uma instituição total se assemelha a uma escola de boas maneiras, mas pouco refinada. As regras ativamente impostas são muitas vezes ligadas a obrigação de executar uma atividade regulada em uníssono com grupos de outros internados. Isso se denomina de arregimentação. Além disso, estas regras difusas ocorrem num sistema de autoridade escalonada: qualquer pessoa da classe dirigente tem alguns direitos para impor disciplina a qualquer pessoa da classe de internados, o que aumenta a possibilidade de sanção.
Três problemas gerais:
As instituições totais perturbam ou profanam exatamente as ações que na sociedade civil têm o papel de atestar. A impossibilidade de manter este tipo de competência executiva adulta pode provocar o internado o horror de sentir-se radicalmente rebaixado. Algumas comodidades materiais são perdidas ao entrar numa instituição total. Esta perda tende a refletir na perda de escolha pessoal, pois o indivíduo procura consegui-las no momento em que tem recursos para isto.
Justificativas para o ataque ao eu são mortificadas, ou seja, são simples racionalizações criadas para controlar a vida diária. Além disso, estas mutilações ao eu ocorrem mesmo que o internado esteja cooperando.
A relação entre o esquema simbólico de interação para a consideração do destino do eu e o esquema convencional, psicofisiológico, centralizado no conceito de tensão. A mortificação ou mutilação do eu tendem a incluir uma aguda tensão psicológica para o indivíduo, mas para um indivíduo desiludido do mundo ou com sentimento de culpa, a mortificação pode provocar alívio psicológico.
Três elementos básicos do Sistema de privilégios:
“regras da casa”: um conjunto explícito e formal de prescrições e proibições que expõe as principais exigências quanto a conduta do internado.
Pequeno número de prêmios ou privilégios definidos, obtidos em troca de obediência à equipe dirigente.
Castigos são definidos como consequências às desobediências. Os castigos enfrentados nas instituições são mais severos do que qualquer coisa já encontrada pelo internado fora dali.
Modos de adaptação:
"colonização": o pouco do mundo externo que é dado pelo estabelecimento é considerado pelo internado como o todo, e única existência estável, relativamente satisfatória, é construída com o máximo de satisfações possíveis na instituição.
"conversão": o internado parece aceitar a interpretação oficial (ou da equipe dirigente) e tenta representar o papel do internado perfeito. Se o internado "colonizado" constitui, na medida do possível, urna comunidade livre para si mesmo, ao usar os limitados recursos disponíveis, o convertido aceita urna tática mais disciplinada, moralista e monocromática, apresentando-se como alguém cujo entusiasmo pela instituição está sempre a disposição da equipe dirigente.
"afastamento da situação": o internado aparentemente deixa de dar atenção a tudo, com a exceção dos acontecimentos que cercam o seu corpo, e ve tais acontecimentos em perspectiva não empregada pelos outros que aí estão.
"tática de intransigência": o internado intencionalmentedesafia a instituição ao visivelmente negar-se a cooperar com a equipe dirigente.
Toda instituição total pode ser vista como uma espécie de mar morto, em que aparecem pequenas ilhas de atividades vivas e atraentes. Essa atividade pode ajudar o indivíduo a suportar a tensão psicológica usualmente criada pelos ataques ao eu. No entanto, precisamente na insuficiência de tais atividades, podemos encontrar um importante efeito de privação das instituições totais. Na sociedade civil, um indivíduo que fracassa num de seus papéis sociais geralmente tem oportunidade para esconder-se em algum local protegido onde pode aceitar a fantasia comercializada - cinema, TV, rádio, leitura - ou empregar "consolos", como o cigarro ou a bebida: Nas instituições totais, principalmente logo depois da admissão, tais materiais podem não estar ao seu alcance.
Frequentemente as instituições totais afirmam sua preocupação com a reabilitação, isto é, com o restabelecimento dos mecanismos auto reguladores do internado, de forma que, depois de sair, manterá, espontaneamente, os padrões do estabelecimento. (Espera-se que a equipe dirigente tenha essa auto regulação ao chegar a instituição total, e, como os participantes de outros tipos de estabelecimento, tenham apenas a necessidade de aprender os processos de trabalho.) Na realidade, raramente se consegue essa mudança, e, mesmo quando ocorre mudança permanente, tais alterações frequentemente não são as desejadas pela equipe dirigente.
As instituições totais aparecem como depósitos de internados, e apresentam-se ao grupo como organizações racionais, conscientemente planejadas como máquinas eficientes para atingir determinadas finalidades. Um frequente objetivo oficial seria a reforma dos internados na direção de um padrão ideal.
Na equipe dirigente trabalha-se com objetos e produtos que são as pessoas, portanto, por exemplo, ao passar por um sistema de hospital para doentes mentais precisa ser acompanhado por uma série de recibos que digam o que foi feito para o paciente, e feito por este, bem como quem teve a responsabilidade mais recente por ele. Tudo precisa ser registrado, de modo que seja possível fazer a contabilidade e ajustamentos nas despesas.
Nos hospitais para doentes mentais, as equipes dirigentes acreditam que os pacientes podem bater "sem razão" e ferir um funcionário; alguns auxiliares acreditam que a exposição contínua a doentes mentais pode ter um efeito contagioso. Os determinantes decisivos do trabalho com pessoas decorrem de aspectos singulares das pessoas. Quase sempre se verifica que padrões tecnicamente desnecessários de tratamento precisam ser mantidos com materiais humanos. Essa manutenção do que são denominamos padrões humanitários passa a ser definida como parte da “responsabilidade” da instituição e, presumivelmente, como uma das coisas que a instituição garante ao internado, em troca de sua liberdade. Uma segunda contingencia no trabalho da equipe dirigente é que os internados geralmente têm status e relações no mundo externo e isso precisa ser considerado. Isto está ligado ao fato de que a instituição precisa respeitar alguns dos direitos dos internados como pessoas.
A equipe dirigente é lembrada dessas obrigações, quanto a padrões e direitos, não apenas por seus superiores hierárquicos, mas também por várias agencias da sociedade mais ampla e, muitas vezes, pelos parentes do internado.
	O pessoal da equipe dirigente precisa enfrentar a hostilidade e as exigências dos internados, e geralmente precisa apresentar aos internados a perspectiva racional defendida pela instituição. Os objetivos confessados nas instituições totais não são muito numerosos: realização de algum objetivo econômico; educação e instrução; tratamento médico ou psiquiátrico; purificação religiosa; proteção da comunidade mais ampla; e, segundo sugestão de um estudioso das prisões, "incapacitação, retribuição, intimidades e reforma".
O esquema de interpretação da instituição total começa a atuar automaticamente logo que o internado e admitido, pois a equipe dirigente tem a não de que a admissão é prova prima facie de que essa pessoa deve ser o tipo de indivíduo que a instituição procura tratar. O objetivo principal dessa cultura do pessoal auxiliar é conseguir o controle dos pacientes – um controle que deve ser mantido, independentemente do bem-estar do paciente. Esse objetivo fica muito claro com relação aos desejos ou pedidos apresentados pelos pacientes. Todos esses desejos e pedidos, por mais razoáveis que sejam, por mais calmamente que sejam apresentados, ou por mais educadamente que sejam formulados, são considerados como prova de doença mental.
Texto 13 - Resistência e criação de uma gaia ciência em tempos líquidos
Para a modernidade, quem não consegue separar a natureza da sociedade, o signo da coisa são culturas atrasadas e pouco desenvolvidas. Somente os modernos são capazes de diferenciar a natureza e a cultura, e isso é assim porque somente os modernos possuem o conhecimento científico.
Paradigmas: são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. Quando abandonamos o paradigma, estamos abandonando a prática de pesquisa que ele define. Contudo, o abandono se dá no momento em que tal paradigma não consegue mais explicar os acontecimentos a sua volta, especificamente falando, os acontecimentos científicos.
O conceito de paradigma pode ser uma imagem daquilo que podemos ver e compreender do mundo. É a partir dele que podemos constituir nossas crenças e percepções sobre o mundo, a educação, a ciência...
A finalidade prática da ciência: explicar a forma da natureza, dominando-a e controlando-a, na busca da compreensão racional da mesma, tornando o homem um ser ativo, ao contrário do paradigma anterior, que colocava o homem como um ser passivo, contemplando a natureza. No entanto, dominar essa ciência pode nos levar a pensar que o contrário também é verdadeiro. Como um cientista que, ao mesmo tempo em que domina, é também dominado pelos saberes que produz.
A proposta de modernidade sólidaera derrubar os grandes ideais até então vigentes, querendo instaurar outros grandes ideais em seus lugares: no lugar de Deus, o homem racional, por exemplo. A tentativa do Projeto Oficial da Modernidade eradescobrir ou inventar sólidos de solidez ‘duradoura’, solidez em que se pudesse confiar e que tornaria o mundo possível e, portanto, administrável.
A modernidade líquida é um sintoma de uma sociedade que vive as metanarrativas modernas, mas, paradoxalmente, dá às costas na tentativa de entender como esses discursos vêm se produzindo, fazendo nos tornar aquilo que somos. Muitos de nósnão estamos acostumados a viver em um mundo sem certeza e sem segurança, sem a claridade dada pelas verdades científicas. Isso resulta do fato de termos sido produzidos pelo paradigma moderno. Com novas configurações nesse cenário contemporâneo e problematizações da universalidade e supremacia da ciência, enfraquecemos, é certo, todos os ideais modernos. Com isso não digo que a ciência deixa de existir, ela toma, agora, um local não privilegiado, ela é, dentre tantos outros saberes.
Pensando nessa outra concepção de ciência, a solidificação moderna se dilui. Abrem-se outros horizontes e olhares para o caminho científico. A prática científica, não mais obrigada a prescrever o mundo pode abandonar um pensamento totalizante de explicação do mundo, por meio da razão moderna. Mudam-se as análises, as metodologias, os problemas, as promessas. O mundo da razão soberana científica morreu, abrindo espaços para uma ciência alegre.
Estamos acostumados a sermos guiados por alguém ou alguma coisa: seja a religião ou filosofia, seja a própria ciência.
Na medida em que colocamos sob suspeita nossos valores, ideais e utopias estamos produzindo, em nós mesmos, uma ruptura epistêmica. Existe uma crise que está relacionada não com a troca de um paradigma por outro, mas a um olharavesso a toda produção moderna que nos constituiu/constitui/constituirá.Vivemos em um espaço heterogêneo, inusitado, complexo, ambíguo para nós, e não é fácil viver num tempo como este. Dessa forma, pensar em que tempo estamos e em que tempo vivemos sãoquestionamentos necessários para refletirmos sobre a ciência que, até pouco tempo atrás, era vista como linear, clara e precisa. Os conhecimentos científicos agora são vistos como provisórios, incertos, instáveis. A ciência é uma das muitas maneiras de produzirmos conhecimentos e não é mais vista como a melhor e a única condição de chegarmos à verdade.
Com tudo isso, não se tem a pretensão de dar um fim à modernidade, mas questionar as verdades consagradas por séculos. Ao contrário do que fez a modernidade, colocando-se exclusivamente como a única forma possível de se chegar aos conhecimentos, através da ciência, substituindo ídolos, esse novo tempo assume um caráter mais modesto: o que conta como verdade hoje? Quais as condições para validação da verdade?
Entendemos a ciência como produtora de um discurso que institui e legitima saberes, não por ser mais verdadeiros, mas por ser um campo que se constitui através de um consistente regime. 
Sabemos a dificuldade de se viver num mundo em que, ao mesmo tempo que nos forçamos a problematizar a ciência, encontramos uma ordem discursiva instaurada: a ciência como o grande regime de verdade da modernidade. Parece que exercermos sobre nós mesmos outra forma de viver, lutarmos para romper com estratégias de governo da conduta que muitos discursos exercem sobre nós, seria uma possibilidade de resistência e criação de outros olhares para o campo da ciência. A questão não é “derrotar” a ciência, mas criar fendas para que possamos olhá-la de uma outra forma e, sendo assim, compormos novas formas de produzi-la.
*O que é Gaia: Na mitologia grega, Gaia é o nome da deusa da Terra, companheira de Urano (Céu) e mãe dos Titãs (gigantes). Gaia é a personificação do planeta Terra, representada como uma mulher gigantesca e poderosa.
Texto 14 - Inventando a contra-mola que resiste: um estudo sobre militância na contemporaneidade
O artigo problematiza a militância a partir de entrevistas realizadas com militantes de movimentos sociais com objetivo de colocá-la em análise, tomá-la como uma questão em aberto, que esta em constante mutação.
Vivemos num mundo com fronteiras extremamente tênues, difusas. Se antes sabíamos quais eram os bairros perigosos e violentos e quais eram aqueles em que podíamos transitar com tranquilidade, hoje já não podemos identificar onde se localiza a violência.  A ordem e a disciplina, tão valorizadas pela modernidade, não dão mais conta de intermediar nosso relacionamento com o mundo contemporâneo. Não podemos mais contar com parâmetros rígidos, bem definidos, claros e constantes: nossos valores não têm sentidos fixos.
	Inicialmente quando pensamos em militância a imagem em nossa cabeça é: um homem, barbudo, jovem, sisudo e que só fala de politica, que não relaxa e não tem vida social e familiar, de chinelo de dedos e sem muita preocupação com a estética. Porém está imagem não se encaixa mais na militância de hoje, com a queda das grandes narrativas, abriu o leque de possibilidades de subjetivação, ampliando espaços de multiplicidade, bem como provisoriedade.
Através da internet, na qual temos acesso a todo momento, temos maiores possiblidades de conhecer diferentes culturas, realidades e pessoas, com uma ampla diversidade em nossas vidas. Porém, ao mesmo tempo, trabalhamos muito, e quando encontramos uma possiblidade, esse jeito de nos relacionarmos com e no mundo, serve de pano de fundo, de cenário para o palco dos movimentos sociais e da militância.
Apesar da militância não ser tratado como algo individual, ela acaba tendo uma importante ligação com as histórias de vida de cada um, sendo uma possibilidade de autonomia e cidadania. Estes sujeitos com uma história na militância falam sobre suas famílias (sua origem e criação), fazendo conexões disso com os motivos que os levaram a militância.
Militantes produzem e são produzidos pela militância continuamente, o que faz com que não possamos esmagar ou dicotomizar a dimensão individual/singular e subjetiva dos processos coletivos. A militância surge na vida como uma forma exercer-se como sujeito, serem o que são; pessoas com historias na militância, mostram não encontram espaço no mundo para serem o que são (sentindo-se oprimidos por um sistema carregado de preconceitos, estigmas e exclusões), buscando no movimento social um território onde isso seja possível. 
	O Estado mínimo não tem condições de prover uma qualidade de vida razoável aos cidadãos, misturando isso a uma sociedade capitalista com valores competitivos, individualistas e preconceituosos temos o que um militante chamou de “pulga atrás da orelha”. Com esta “pulga” sujeitos refletem sobre suas condições de vida, produzindo questionamentos, inquietações, incomodações e revoltas que abrem caminho para o engajamento em uma causa, esta desacomodação aparece como um pré-requisito implícito para militância. O coletivo, o movimento social aparece como um lugar de acolhimento das angústias e revoltas partilhadas. 
	O termo “militância” parece desgastado, a contemporaneidade apresenta múltiplas possibilidades de engajamento, o que faz com que, todos se sintam e nomeiem-se militantes de alguma coisa. Existe um cuidado em manter o foco da luta na causa com a qual os sujeitos militantes estão envolvidos. Por fazerem parte de movimentos, organizações, precisam ficar constantemente atentos para que não se tornem militantes de uma determinada entidade, o que acabaria por deixar a causa em segundo plano. 
A valorização é um fator importante para os militantes, trata-se do reconhecimento de seu valor, de suas potencialidades, que pareciam não ter espaço e visibilidade fora do coletivo organizado. A inserção no movimento agrega aprendizagens, possibilitando contato com situações, que em outra condição, não teriam acesso. A militância é compreendida como território de aquisição, de crescimento pessoal e profissional. 
	A relação dos cidadãos com o Estado é um dos principais pontos de tensão da militância hoje, ele é percebido como omisso e insuficiente, jogando para os movimentos sociais, ONGs e outras entidades a responsabilidade pelas ações de transformação da realidade. 
Os militantes acreditam que os movimentos sociais têm mais condições de exercerem sua autonomia como grupo, tomando decisões, criando suas regras e estratégias próprias. O Estado é incapaz de fornecer respostas às reivindicações da população e os movimentos sociais são procurados na tentativa de que possam dar algum ar aos que se sentem asfixiados.
 É dessa forma que se inicia um processo de agenciamento coletivo para a obtenção do que lhes é negado pelo Estado. Podemos dizer que a militância busca o "comunitarismo solidário", apostando na força da comunidade, na cooperação e na participação engajada.Ao mesmo tempo em que apostam no grupo como uma alternativa para "fazer acontecer", têm que conviver com as disputas e preconceitos internos ao movimento, além das divergências em relação à compreensão das lutas. Fica claro que a luta é pela autonomia, mas que as práticas paternalistas, tão presentes num sistema capitalista como o nosso, influenciam diretamente as estratégias dos movimentos sociais. Além disso, a existência de uma rivalidade entre diferentes movimentos que lutam pela mesma causa mostra a dificuldade de composição de rede, deixando de fortalecer a luta em nome de rixas grupais.
A relação da militância com a mídia assume um papel importante na articulação das ações dos militantes. Assim, o que é veiculado ou não (e mais, como é veiculado) fica a cargo de poucos, que obviamente procuram defender seus interesses, mesmo que para isso precisem deturpar algumas notícias. A mídia, por ser de grande alcance, se mostra como o instrumento mais eficiente de divulgação das causas defendidas pelos militantes.A modernidade líquida (Bauman, 2001) tornou as fronteiras e as posições mais difusas, tornando o "inimigo" também escamoteado. Em outros tempos, era possível identificar os movimentos de esquerda e as forças de direita, reacionárias. Porém, atualmente vemos estratégias de direita em grupos ditos de esquerda e vice-versa. Isso causa certa angústia nos militantes, que ainda não descobriram como atacar esse inimigo difuso, diluído.	
A militância do contemporâneo tem novos e grandes desafios em relação à construção de seus objetivos e, mais, à construção de suas ferramentas e estratégias para alcançá-los, sempre tentando esquivar-se das seduções e ditames do capital.A militância não se pretende mais a grande salvadora, embora ainda estejamos explorando essas novas possibilidades de militância em meio a liquidez e incertezas, sabemos que é preciso deixar afetar, realizar manobras transbordantes e flexíveis para que sigamos colocando em xeque os ditames neoliberais que adestram e culpabilizam os sujeitos pelos males do mundo contemporâneo.

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