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Direito Penal IV

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Direito Penal IV
Conteúdo:
- Arts. 250 a 361, CP.
- Legislação extravagante. 
14/05/13
Crimes de perigo
Individual			Comum
Concreto			Abstrato
Crime de perigo é todo aquele que é contrário ao crime de dano.
No crime de perigo, o legislador se satisfaz com uma conduta que potencialmente possa causar lesão ao bem jurídico tutelado. 
O crime de perigo não se confunde com o crime formal. O crime formal é aquele em que ocorre previsão da conduta e do resultado, mas o legislador se satisfaz tão somente com a conduta e o resultado é mero exaurimento. 
O crime de perigo individual tem sujeito determinado. Ex.: coloca-se a perigo a saúde de alguém pela transmissão de doença venérea, dirigindo em alta velocidade para coloca-la em situação de perigo e etc. 
Nos crimes de perigo comum, por sua vez, não há essa determinação: visa atingir um número indeterminado de pessoa, ou seja, a coletividade. A incolumidade é transindividual, ou seja, alcança toda uma categoria, toda uma sociedade que possa estar sujeita a determinada conduta.
Nos crimes de perigo, de modo geral, há a possibilidade de crime concreto e abstrato. O crime de perigo concreto tem necessidade de efetiva probabilidade de lesão ao bem penal jurídico protegido. O perigo tem que ser materializado e provado nos autos, ou seja, o juiz tem que aferir, a partir de um juízo probatório, que houve efetivamente a causação do perigo, embora não necessariamente ter que haver um resultado. Ex.: crime de incêndio.
No crime de perigo abstrato, como, por exemplo, o exercício ilegal da medicina, não necessariamente o fato de a pessoa não ter cumprido o requisito legal para a atividade dá curso causal a um perigo. Nos crimes de perigo abstrato não se consegue provar um perigo efetivo, um processo que cause pelo menos possível de se deslumbrar resultado danoso, a própria conduta é danosa. 
Nos crimes de perigo abstrato, há ofensa à lesividade, porque só se pode punir quando a conduta do sujeito ultrapasse e atinja alguém. É por isso que não se pune atos preparatórios, por exemplo. 
Mas por que ocorre essa lesão à lesividade? A tipicidade, ilicitude e culpabilidade existem para que o indivíduo seja punido de forma correta, quando realmente deve ser. 
O primeiro elemento da tipicidade é a conduta, que pode ser dolosa ou culposa. O sujeito, com vontade livre e consciente, dirige seu comportamento para um resultado. O segundo elemento é o nexo causal, porque da conduta dolosa ou culposa que, finalisticamente, se dirige, tem um nexo de causalidade que possa ser atribuído ao agente. E aí vem o terceiro elemento que é o resultado. Nos crimes de perigo, o momento ex ante e o momento ex post não são devidamente analisados. 
Nos crimes de danos, ocorre um desvalor da conduta analisada ex ante e um desvalor do resultado analisado ex poste. Nos crimes de perigo, não há essa análise, porque o que é típico é que a conduta tão somente seja perigosa, independente do resultado. É necessário ter dado curso causal a uma conduta que, concretamente, tinha condições de produzir o resultado. Não se trata, portanto, da tentativa, em que o sujeito quer e não pode. Aqui, o que importa é o curso causal. Essas condutas são analisadas dentro da ilicitude. 
Pela teoria da imputação objetiva, só pode ser imputado ao agente qualquer comportamento que ele criou o risco do resultado. Independente do resultado, a valoração ex ante é feita com base no processo de risco que ele cria com o seu comportamento.
Então, o crime de perigo não perfaz o caminho estabelecido dentro do projeto finalista, que é majoritariamente aceito em nosso ordenamento jurídico. Por isso ocorre uma discussão em torno da constitucionalidade dos crimes de perigo. Além da inconstitucionalidade, há também o problema da impossibilidade de verificação dos três elementos da imputação objetiva. 
Para não se cair na inconstitucionalidade e na imputação objetiva, o crime de perigo concreto tem que ser provado, ou seja, ele é um crime material. Embora seja de perigo, é crime material. 
Título VIII, CP – Crimes contra a incolumidade pública.
Capítulo I – Dos crimes de perigo comum
Art. 250 ao art. 259.
Nesse capítulo, há diferentes modalidades de conduta, todas representando crimes de perigo. 
Art. 250, CP: Incêndio. 
Causar incêndio/expor a perigo vida, integridade física, patrimônio de outrem. 
O tipo não é misto alternativo, apesar dos dois verbos: não basta causar incêndio, tem que causar perigo também. Ex.: Flavia mora em um sítio na saída de JF, em uma área isolada. Ela juntou muito papel e resolveu colocar fogo. Mas ela nunca tinha feito isso, não sabia como era o procedimento e acabou causando incêndio. Foi só lá, não atingiu outras pessoas e etc. Ela causou um incêndio, mas não expos a perigo nem a vida, nem a integridade física e nem o patrimônio de outrem. Então, muito embora ela tenha causado incêndio e colocado em risco sua própria vida, integridade física e patrimônio, é uma conduta indiferente para o Direito Penal.
Se, por outro lado, esse incêndio tivesse colocado em perigo a vida de outras pessoas, aí sim teria sido uma conduta típica. 
Ex.2: Kelly causou um incêndio na faculdade, jogando bomba caseira no banheiro. Não queria atingir uma pessoa determinada, causou perigo a um número indeterminado de pessoas. 
Pena: reclusão de 3A e 6M + multa.
§1º - Aumento de pena (1/3)
I - $
Tem que ser vantagem pecuniária, não é vantagem indevida. 
II – a) casa habitada;
b) edifício público, 
Todas as possibilidades demonstram que é mais reprovável a conduta do agente que recai sobre locais em que há possibilidade de atingir um número maior de pessoas. 
§2º: modalidade culposa.
1 – Objeto jurídico: incolumidade pública (transidividual).
2 – Objeto material: as pessoas ou as coisas sobre as quais recai a conduta do sujeito.
O fogo é o meio.
3 – Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4 – Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Trata-se de um crime comum. 
5 – Elemento subjetivo: dolo, embora haja a previsão da modalidade culposa. 
6 – Classificação: crime comum, não transeunte, material. 
8 – Ação penal: pública incondicionada. 
9 – Competência: Justiça Comum. 
CPP: art. 173: 158 e 167.
173: Crime não transeunte, ou seja, é um crime que deixa vestígio, então obrigatoriamente tem que ser periciado, nos termos do art. 173 do CPP.
158: O exame de corpo de delito as vezes se faz necessário porque pode atingir alguma pessoa.
167: as vezes, não é possível, na situação do incêndio, realizar exame de corpo de delito imediato. As vezes por desídia da autoridade policial ou as vezes por se tornar impossível mesmo. Se não for possível mesmo, substitui pela prova testemunhal, que pode corroborar o conjunto probatório. Se é por desídia ou se por algum motivo a perícia poderia ter sido feita e não foi, a regra é absolvição, porque não houve prova suficiente dentro do prazo estabelecido pela lei. 
- Agravação pelo resultado – art. 258, CP.
Ex.: esqueci o gás ligado em casa e minha vizinha morreu. 
É uma conduta culposa, cujo resultado agravador também é culposo. Se ocorrer lesões graves, aumenta-se a pena de metade e, se produzir morte, responde pela pena do homicídio culposa mais 1/3. Muitas pessoas fazem crítica a essa política criminal, dizendo que não é proporcional. 
Na agravação pelo resultado a título de dolo, há duas possibilidades:
1 – Dolo no antecedente e dolo no consequente;
2 – Dolo no antecedente e culpa no consequente – preterdolosa. Tenho uma conduta antecedente culposa ou uma conduta antecedente dolosa de perigo. Como se pode ter conduta consequente de dano? Dogmaticamente isso não é possível. 
Se o resultado agravador for a título de dolo, o sujeito responde com essas penas. Ele não responderia, por exemplo, pelo incêndio. Ex.: coloquei fogo em um ônibus. Causei o incêndio, expos a perigo a vida de número indeterminado de pessoas. Não respondo por incêndio em concurso material com o homicídio, porque o 258 determina como se responderá em caso de morte. 
Concurso
Ex.: boate Kiss. Incêndioconjugado ao fato de que a boate não tinha os dispositivos de segurança necessários. Houve incêndio agravado pelo resultado morte ou lesão corporal grave por número indeterminado de pessoas. 
Os donos da boate foram processados por homicídio culposo – omissão imprópria e o pessoal da banda por homicídio doloso. 
O que aconteceu de fato foi um incêndio culposo qualificado pelo resultado morte. 
Artigo 251, CP: Explosão.
Crime de forma vinculada. Se diferencia do incêndio pelo uso da dinamite ou substância de efeitos análogos. Logo, seria crime de forma vinculada.
É importante diferenciar a explosão da contravenção penal – art. 28 do Decreto Lei 3688 de 41. A lei trata de disparo, explosão, incêndio... As contravenções que envolvem explosão e incêndio são crimes de perigo abstrato: somente a conduta é considerada contravenção penal. Os crimes, por sua vez, são crimes de perigo concreto. É, portanto, uma relação subsidiária.
Parágrafo primeiro: privilégio – indivíduo utiliza substância que não seja dinamite ou outras de efeitos análogos, de modo que a explosão não tenha a mesma repercussão. 
Parágrafo segundo: causas de aumento de pena que são as mesmas do crime de incêndio. 
Modalidade culposa também traz as mesmas penas do crime de incêndio. 
Assim como no incêndio, ex.: se quero levar a óbito a Aline e jogo uma dinamite numa casa dela, se, com essa explosão, atinge somente a Aline, responde por homicídio qualificado por meio cruel. Se, por outro lado, atingir Aline e outras pessoas, responde em concurso formal por homicídio e explosão. 
Artigo 252, CP:
Também é crime de forma vinculada. O tóxico vai envenenar, enquanto o asfixiante vai sufocar. Isso é importante para a perícia. Se for outro tipo de gás, a conduta não restará qualificada no tipo, por ser vinculado. Responde por lesão corporal. 
Artigo 253, CP: 
Há vários problemas no dispositivo. 
É um tipo misto alternativo ou de conteúdo variado: há vários verbos na conduta.
Ex.: possuir sem licença da autoridade substância perigosa. Elemento normativo do tipo: sem licença. Se está se discutindo a periculosidade da conduta, não é o fato de ter ou não a licença que determina essa periculosidade. É discutível. É um crime de perigo abstrato, então pode ser que eu não tenha licença porque eu não pedi, porque eu estou aguardando, e não porque estou fora das exigências que a regulamentação vai me pedir. 
Aqui, o que é punido é tão somente a conduta, independente de ela produzir riscos ou não para a sociedade. Por isso que é discutido, por conta do elemento normativo de estar sem licença. Essa questão de licenciamento e fiscalização é mais do direito administrativo do que do direito penal. 
Ex.: pessoa que esteja transportando vários botijões de gás. Geralmente é uma empresa que está fora da regulamentação, mas quem será responsabilizado é o motorista do caminhão. Greco fala que é crime de perigo concreto, mas essa posição é minoritária. 
Fica também a discussão do iter criminis: os atos preparatórios são puníveis? Ex.: eu mesma estou fabricando o explosivo que vou utilizar para explodir um lugar. A fabricação é ato preparatório, então não pode ser punida. É a mesma coisa aqui com o licenciamento. 
Artigos 254 e 255
Ambos são crimes de perigo concreto. A diferença é que o 255 a pena é menor, porque o sujeito tão somente cria o perigo. No 254, é um perigo real de inundação que pode causar a inundação ou não.
No 254, não há nenhuma modalidade qualificada caso o indivíduo promova o resultado.
Se dessas inundações, incêndios ou explosões, forem produzidas lesões graves ou mortes, vai nas formas qualificadas do art. 258.
Artigo 256, CP: Desabamento. 
Artigo 257, CP: 
Art. 269: revogação tácita. 
Capítulo II – Dos crimes contra a segurança dos meios de comunicação, transporte e outros serviços públicos.
Artigo 260, CP.
Não há a modalidade culposa.
Parágrafo primeiro: o tipo é um dolo de perigo. O desastre seria preterdoloso: sujeito tem conduta perigosa e acaba produzindo um resultado não querido, porque, se querido, seria dolo de dano. A discussão da doutrina, então, é que esse desastre tem que ter natureza preterdolosa.
Parágrafo terceiro: culpa de perigo, ou seja, eu fui negligente, vi que tinha alguma coisa no trilho e, de forma imprudente, mesmo assim impedi o serviço. Culposamente. Não fiz a sinalização adequada e etc. Ocorre o desastre. Eu teria culpa no antecedente e culpa no consequente. 
Mas e no caso de culpa que não ocorre desastre? Não há uma tipificação. A tese defensiva vai trabalhar que a conduta é atípica. 
Artigo 261, CP.
Ocorre a mesma coisa. Não fala do caso de não ocorrer. 
Artigo 262, CP.
Parágrafo segundo: se ocorre desastre, tem uma pena, mas, se não ocorre, não tem.
Artigo 263, CP: formas qualificadas dos artigos anteriores. 
Artigo 264, CP.
Ex.: estou em uma via pública e por qualquer motivação lanço um objeto contra um veículo. Pode ser particular, desde que em movimento. Questão vinculada do tipo: veiculo em movimento. E se o veiculo tiver parado? Em tese, é atípica a conduta. Mas isso é muito difícil de passar nos tribunais e a conduta acaba caindo aqui no 264. 
21/05/13
Dos crimes contra a fé pública
Do FALSUM: 	- Potencialidade para enganar número indeterminado de pessoas.
		- Potencialidade para causar prejuízo.
Falsidade	Monetária (289 a 292, CP)
		Documental (293 a 298, CP)
		Ideológica (299 a 302)
Art. 289, CP: Moeda Falsa.
Falsificar, fabricando ou alterando, moeda de curso legal no país ou estrangeiro. 
P: R, 3 a 12A + M
A fé-pública se relaciona com a expectativa de verdade em relação aos documentos e objetos materiais que são objetos do tipo. A ideia é que se trata de fé, ou seja, se há perspectiva de proteção da verdade, dessa relação de confiança, o meio de se lesar esse bem jurídico é através do falso.
Então, quando se tiver crime contra a fé-pública, trabalhe-se com o falso. Independente do tipo de falsidade, há como requisito: potencialidade para enganar número indeterminado de pessoas, ou seja, não se quer atingir sujeito específico. Quando se pratica um falso, leva-se alguém a erro. Se é especificamente, ocorre estelionato.
Então, a característica essencial para diferenciar se é crime de falso ou estelionato é se houve lesão a um número indeterminado de pessoas. O que se visa proteger não é o patrimônio específico da vítima que virá a ser lesada, e sim a própria fé pública. Assim, o sujeito passivo é o Estado, é a coletividade, por mais que mediatamente seja o cidadão prejudicado ou seu patrimônio. Imediatamente, o que o tipo visa tutelar é a relação de confiança que se tem, tanto que pode ser que haja concurso entre crime de moeda falsa e furto ou apropriação indébita. Ex.: fabrico lote de moedas falsas e recebo pagamento com moedas verdadeiras e me aproprio dela.
Mas o crime de falso, de moda geral, não visa tutelar o sujeito prejudicado, embora este possa ser objeto de outra apreciação típica.
O objeto material será sempre aquilo que estiver sendo falsificado.
É muito importante não confundir o crime de moeda falsa com o roubo, os crimes contra o patrimônio, que se insere outro rol de bem jurídico e relação.
O segundo elemento é a potencialidade para causar prejuízo, que não é necessariamente financeiro. Ex.: crime de falsa identidade – não há prejuízo financeiro. Se eu me apresento como outra pessoa em uma relação de emprego, há prejuízo, mas não financeiro.
Finalmente, tem que haver o elemento subjetivo de DOLO em todos os crimes contra a fé-pública. Não há nenhuma modalidade culposa, porque não é dever objetivo de cuidado. Busca-se tutelar uma relação de confiança entre todos os cidadãos, que só pode ser lesada dolosamente. 
Há vários tipos de falsidade. O primeiro rol está nas falsidades monetárias, que implica em falsificação de moeda ou títulos que tenham valor monetário. A falsidade documental é de guias, de documentos, que envolvem um documento que sempre traz estabelecido, a partir dele, uma relação jurídica. 
Crime de moeda falsaSempre esteve relacionado ao monopólio do agente de poder de cada sociedade sobre a economia. 
O crime de moeda falsa começa a partir do império romano, no século III a.c.
É um tipo misto alternativo porque há duas possibilidades: fabricar ou alterar. 
A fabricação implica na CONTRAFAÇÃO: o sujeito produzir uma moeda totalmente falsa. Ele fabrica, cria uma moeda falsa. Ou então ele altera uma moeda verdadeira, alterando o valor sempre para mais. Se altera para menos, sua conduta é atípica. 
Hoje em dia, altera-se o valor. Antigamente, as moedas variavam conforme peso.
Tem que ser moeda de curso legal. Pode falsificar dólar, euro e etc, mas se eu falsificar cruzeiros, a conduta é atípica. Ex.: Fernando coleciona cédulas antigas e ele oferece um bom lance por uma nota de cruzeiros de reis. Eu falsifico essa nota para conseguir o lance dele. Isso é estelionato, não é crime de moeda falsa, porque a moeda não tem curso legal e o sujeito é determinado. 
O objeto material é a moeda. 
Só a conduta de importar já é punível, independente de colocar em circulação. Trata-se de um crime formal. O resultado do crime é mero exaurimento. 
Existe um entendimento de que todas as condutas do parágrafo primeiro praticadas pelo mesmo agente do caput seria um desdobramento do iter criminis. Ex.: sujeito A fabrica um lote de notas de 50 reais e esse mesmo sujeito introduz em circulação ou vende para alguém, isso é entendido pela maioria da doutrina como desdobramento do iter criminis, então ele só será punido uma vez, ou pelo caput ou pelo parágrafo. O entendimento é que, em se tratando da mesma pessoa, são atos preparatórios. 
Mas alguns autores entendem como consecução: fabricar seria o crime meio. Mas isso não tem relevância – o que importa é que o indivíduo será punido apenas por uma conduta, há apenas uma responsabilização.
Regis Prado entende como tipo misto cumulativo. Então, se não for a mesma pessoa, ela pode responder autonomamente. Ex.: fabrico lote de 50 reais para vender para o Fernando. Ele tem ciência de que essas moedas são falsas, mas ele não participou da contrafação. Ele vai transportar ou guardar as moedas apenas. Fernando responderá tão somente pela guarda. Mas se ele não produziu, mas de alguma forma concorreu para a fabricação com auxilio ou instigação, ai sim ele poderia ser responsabilizado pelas duas. É um posicionamento complicado, porque pune-se o partícipe mais severamente do que o autor. 
É o posicionamento minoritário.
Rogério Greco traz de forma mais simplificada: tipo misto alternativo. É punível punir só pelo parágrafo primeiro, mas se o sujeito colocar em circulação e tiver também fabricado, ele responde por um crime só. 
Modalidade privilegiada: parágrafo 2º.
Há boa-fé no antecedente e dolo no consequente. É o sujeito que recebeu de boa-fé a moeda falsificada, de modo que é importante que não seja uma falsificação grosseira. Ex.: policial, pessoa que é perito em identificar a falsidade é muito difícil cair no crime. 
-Súmula 73, STJ. Ex.: minha mãe recebeu moeda grosseiramente falsa e ela não tem os requisitos essenciais do falso. Embora seja sujeito determinado, essa moeda não cumpre os requisitos necessários para o 289. Então essa conduta pode ser estelionato. Nesse caso, a minha mãe, ainda que queira passar pra frente, não se encaixará na modalidade privilegiada. Se ela passar pra frente, segue no estelionato. 
Configura, em tese, porque tem que ser provado de acordo com os requisitos do tipo. Mas então toda vez que o indivíduo receber moeda grosseiramente falsa, ocorre estelionato. Se passar pra frente, ocorre estelionato de novo e assim por diante.
Se ele recebe a moeda falsa, sabe que é falsa, mas não sabe que a falsificação é grosseira e tenta repassar, embora ele não tenha o dolo perfeito do estelionato, é discutível o erro de tipo, que excluiria o dolo. Mas é muito difícil isso passar. 
Ex.: sujeito recebeu de boa-fé moeda falsa. Cumprindo os requisitos mínimos, ele não sabe que é falsa e reintroduz a circulação para que não fique no prejuízo. Essa modalidade é menos reprovável, então a pena também é menor – par 2. Pode ser até competência dos juizados especiais federais, porque todos os crimes de moeda falsa são de competência da justiça federal, já que compete exclusivamente à União a produção de moedas. 
A ação penal é pública incondicionada em todas as situações. Quem é lesado é o Estado. 
Sujeito ativo é qualquer pessoa, exceto na modalidade do parágrafo terceiro, que se trata de crime próprio. 
Classificação: crime comum, exceto no parágrafo terceiro, doloso, comissivo, para a maioria da doutrina é crime de dano, para a minoria é crime de perigo, para a maioria da doutrina é crime formal, para alguns, principalmente para Regis Prado, é um crime material. Pra ele é material porque o resultado que el exige não é a introdução em circulação, que continua sendo mero exaurimento, o que se exige é que se estará completamente perfeita a conduta é quando o sujeito consegue produzir a moeda que está apta para cumprir os requisitos do falso. Então, tão somente a falsificação tendo potencialidade lesiva já lesa a fé pública. É o posicionamento minoritário: a maioria entende que é crime formal. 
Admite tentativa. É u m crime não transeunte, em tese ele deixa vestígio que é a própria cédula falsificada. Em tese porque nem sempre é encontra, porque pode ser danificado e etc.
Par 3: pelo princípio da máxima taxatividade, somente serão puníveis de forma qualificada as condutas desses 2 incisos. 
O gravame maior é porque aquele que deveria tutelar a relação de confiança (dirigente de determinada instituição financeira, gerente de banco e etc.) é que produz o falso. Então, o desvalor da conduta é muito maior do que a de um cidadão comum. 
Então, é qualificada porque é mais reprovável, já que a esse sujeito seria cabível relação de confiança ainda maior na questão da fé da coletividade. 
Art. 327, CP: define quem são os funcionários públicos. 
Par 4: confusão. O reprovável é o elemento normativo do tipo que diz que a circulação ainda não estava autorizada. O objeto material aqui é a moeda verdadeira, porque o que implica é o sujeito tão somente colocar em circulação contrária a disposição legal.
É importante não confundir com o objeto material que, de modo geral, é a moeda falsa.
No 4, o sujeito não falsifica nada, apenas tem uma conduta em desacordo. Então a elementar é que ele coloque em circulação contraria a regulamentação. É uma norma penal em branco: como se sabe? Através da lei 4595. 
24/05/13
Artigo 289, CP.
. Princípio da insignificância
É analisado em sede de tipicidade material, por isso que quando uma conduta é considerada insignificante ela é considerada atípica.
O entendimento majoritário no Brasil é que aos crimes contra a fé pública não é admissível o princípio da insignificância. Assim, se o indivíduo falsifica 2 milhões de reais em nota falsa ou duas notas de 2 reais, para o Estado essa conduta tem o mesmo desvalor. O que pode variar é o quantum de pena. 
O crime de perigo não exige lesividade e para se trabalhar com o grau de afetação do bem jurídico é preciso analisar o princípio da lesividade. 
O tipo conglobante impede que na tipicidade seja analisado apenas o aspecto objetivo, ele tem a função de permitir que se façam as duas análises. Seria um sentido de defesa dos mecanismos do sujeito para que a conduta fosse analisada conforme a doutrina. É uma crítica que se faz.
O entendimento majoritário é de que não é admissível o princípio da insignificância. 
Uma ou várias moedas?
Se eu produzir 2 milhões ou 2 notas de dois, respondo por 2 milhões de crimes, 2 crimes? É crime continuado?
Art. 71, CP. Para que haja continuidade delitiva, em algum momento tem que ter havido rompimento. A continuidade delitiva se caracteriza como a forma que as condutas foram se sucedendo no tempo. Então, não se trata da quantidade. 
O fato de ser uma ou várias moedas não é concurso de crime, pode ser continuidade delitiva.
Concurso de crimes
O tipopode ser praticado ou produzindo uma moeda totalmente nova ou colocando uma moeda com um valor maior do que realmente tem: contrafação ou alteração.
A maioria da doutrina entende como tipo misto alternativo, então pode se praticar uma conduta ou as duas condutas, o sujeito responde tão somente por uma infração. Regis Prado, minoritariamente, entende como tipo misto cumulativo: praticando os dois, responde em concurso formal. 
Parágrafo 1º. Ex.: sujeito A, além de produzir, introduziu em circulação. A maioria da doutrina entende que esse é um desdobramento da conduta que, ao final, seria introduzir a moeda em circulação.
Neste caso, há 3 interpretações: atos preparatórios, consunção ou crime formal e post factum impunível. As três soluções são corretas doutrinariamente, porque, ao final, o sujeito responde por uma só pena.
Na denúncia, o sujeito está incurso no 289 caput e parágrafo 1º, mas, na aplicação da pena, somente será aplicada uma, porque não há concurso. 
Regis Prado entende que sendo o tipo misto cumulativo, trabalha com a possibilidade do concurso. 
Ex.2: sujeito A produz e o sujeito B teve acesso a essas moedas que foram fabricadas pelo sujeito A. Ele introduz essas moedas em circulação, ou seja, ele não fabricou, mas introduziu a moeda em circulação.
Par 2: o sujeito, em tese, está de má-fé. O MP tem que provar.
Pode haver concurso de crime desde que seja misto cumulativo ou se o sujeito que não tem nada a ver com a primeira conduta ficar verificado que ele tinha sim a ver. O sujeito B pode ter liame subjetivo com A desde o início e conseguiu a impressora, a tinta e etc., de modo que há modalidade de concurso a ser apurada.
Então, há possibilidade de concurso de crime e de pessoa, mas depende de verificação no caso concreto.
Ex.: A fabrica, não bota em circulação, mas ajuda B a botar. Há concurso de crime e de pessoa.
Artigo 290, CP.
Restituição. Está relacionada às duas condutas anteriores.
Ele tem que saber da falsificação e restituir. Mesma relação: ex.: Ellen consegue suprimir o sinal de inutilização e depois ela restituiu a moeda em circulação. Ocorre consunção.
Parágrafo único. Modalidade qualificada. Crime funcional. A multa em cruzeiro será atualizada. 
Artigo 291, CP. Petrechos.
O sujeito é punido porque porta, possui, armazena, guarda qualquer material que possa ser utilizado para a fabricação de moeda falsa.
O tipo pune, então, o sujeito que tem a caneta que faz o sinal de inutilização. Só o fato de ter a caneta faz com que o sujeito esteja em curso na pena do tipo. 
Isso poderia ser considerado como ato preparatório, porque não há lesividade. Então, mais uma vez, trata-se de crime de perigo abstrato que não exige que se prove nada, porque só a conduta é incriminada.
O que se questiona é a seletividade dos crimes.
Se o indivíduo é encontrado com o petrecho e também com o produto da falsificação, ele responderá só pelo 289. Esse é o entendimento majoritário hoje, mas ainda existem juízes que trabalham com o concurso. 
04/06/13
Falsidade material: contrafação (total ou parcial) e alteração
- Art. 293, CP: falsificação de títulos ou papéis públicos
I – Tributos 
Natureza privilegiada do 293, parágrafo 2º: é uma conduta menos reprovável, porque não há nem contrafação nem alteração, há apenas supressão. O sujeito não tem o dolo de enganar a fé pública, por isso é privilegiado. 
Art. 294: trabalha também a questão dos petrechos. É necessário questionar que a punição de atos preparatórios a uma tipificação autônoma quebra o iter criminis. No entanto, a política criminal da fé pública é mais reprovável, porque se leva em consideração os interesses da sociedade. Então, essa politica criminal considera o possuir petrechos como crime.
Se houver maquinário e mesmo assim falsificar, princípio da consunção. A súmula 17 não se aplica nesse caso.
Há duas normas regulando o mesmo fato, mas isso é resolvido pelo princípio da consunção.
Art. 295: causa especial de aumento de pena. É uma norma penal de determinação, não é mandamental e nem proibitiva, o dispositivo apenas explica o aumento de pena para o funcionário público.
O aumento para o funcionário público se aplica a todos os crimes de falso, porque a ideia é proteger a fé-pública, então maior é a reprovabilidade do funcionário público. 
E se eu pratico com esse funcionário em concurso um falso? Não é elementar do crime, mas a maioria da jurisprudência entende que eu responderia também, mas isso é problemático, por causa da analogia in malan partem.
Art. 297 e 298, CP:
O documento precisa ter quatro requisitos: tem que ser escrito, tem que ter autor certo, fato juridicamente relevante e tem que fazer prova por si mesmo. Ex.: comprei do João Pedro uma casa. Vou apresentar contrato de compra e venda, escritura e etc. A nossa relação se prova por um contrato.
Se o documento é público, a reprovabilidade é ainda maior. 
Documento público é todo aquele emanado por um agente público. a competência para julgar o falso vai depender de onde trabalha esse funcionário. 
Parágrafo único do 298: cartão de crédito é equiparado a documento particular. 
Falsidade ideológica
Art. 299 – R: 1 a 5ª + M.
O sujeito presta uma declaração falsa. Mas só pode fazer isso aquele que tem autoridade para fazer uma declaração real.
Ex.: Aline consegue o maquinismo e produz uma carteira de habilitação falsa. Ela responde por falsificação de documento público, porque ela não tem legitimidade para dizer a verdade, embora exista também uma mentira. Só que essa mentira não é a exigência do tipo penal. 
Além disso, existem três possibilidades de falsidade ideológica ou falso penal: omitir/inserir/fazer inserir. De todas as formas que cometer, deve haver um especial fim de agir, para dar maior gravame ao tipo final: prejudicar direito, criar obrigação, alterar verdade fato juridicamente relevante. 
07/06/13
Dos crimes contra a Administração Pública
O que se protege é a Administração Pública.
Esses crimes são divididos entre funcionais, praticados por funcionários públicos e os particulares, que são aqueles que particulares praticam contra a Administração Pública. 
Funcionário público: art. 327, CP. Funcionário público é todo aquele que exerce cargo ou função pública, e também aqueles que são equiparados, nos termos do parágrafo 1º. 
Como são crimes contra a administração, ele responde ao processo penal e ao processo administrativo. No entanto, aquele que é equiparado ao funcionário público não responde ao processo administrativo, responde apenas ao processo penal. 
Além disso, um juízo não vincula o outro: pode ser condenado em penal e não ser condenado em administrativo e vice-versa. Pode haver aproveitamento de prova, mas não há vinculação. 
A não autoria ou a não existência do crime, no entanto, é aproveitada na esfera administrativa. 
Os crimes funcionais podem ser próprios ou impróprios. O primeiro só pode ser praticado pelo funcionário público; o segundo junta uma figura funcional com outro tipo penal já existe. Ex.: peculato – se o sujeito não fosse funcionário público, ele responderia por apropriação indébita do mesmo jeito. 
Art. 312 – Peculato 
Pena: reclusão, 2 a 12 anos + multa
- Apropria-se 
O primeiro requisito é que o sujeito tenha a posse de determinado bem da administração. O sujeito precisa ter liberdade desvigiada, porque somente assim será entendido que ele tem a posse. É essa liberdade desvigiada que será essencial, porque o gravame é que o sujeito que tinha posse de determinado bem em razão de seu cargo, descumpre com sua obrigação de cuidado sobre esse bem dolosamente.
Embora exista o peculato culposo, todas as modalidades são dolosas.
Em sede de crime contra a Adm pública, não incide o princípio da insignificância, pelo entendimento de que como esses crimes envolvem muito mais o âmbito normativo da relação estabelecida até constitucionalmente dessas pessoas para com a Administração, então não há possibilidade de graduar a lesão ao bem jurídico, porque o funcionário tem o dever de lealdade com aAdministração.
Assim, não se pode valorar significância máximo ou mínima.
Doutrinariamente, isso é uma aberração, porque qualquer conduta precisa admitir o juízo de lesividade. 
Juízo de intervenção mínima: não retira a tipicidade do fato, mas permite que o julgador, mediante caso concreto, valore se é interessante para o Estado movimentar a máquina pública para questões que são insignificantes. Ex.: sou funcionária da faculdade e utilizo um carro para serviços da faculdade. Quando estou indo embora para casa, paro no Bretas para fazer compras e levo essas compras em casa. Tem que se questionar se isso se configura com o peculato apropriação. E não ocorre nesse caso, porque o crime está mais relacionado com pessoas que desviam a conduta rotineiramente. 
Nesse exemplo, a conduta é típica, mas por juízo de intervenção mínima, se ficasse comprovado, no caso concreto, foi somente essa conduta, o juiz poderia levar isso em consideração.
Mas o que é majoritário é a possibilidade de se fazer juízo de intervenção mínima, e não a incidência do princípio da insignificância. 
É importante pensar que na apropriação indébita, não existe AI de uso. Ex.: fui a casa da Aline, ela não está, fiquei esperando um tempão, ela não apareceu. Mas eu queria pedir o vestido emprestado da Aline. A mãe dela mandou eu esperar no quarto, mas ela não chega. Pego o vestido e no dia seguinte devolvo o vestido do mesmo jeito, nas mesmas condições. Esse é o furto de uso, que é uma conduta atípica. 
Durante a noite alguém tira uma foto e bota no facebook. Aline liga para polícia. O furto já está consumado. 
Na AI, não existe isso, porque em nenhum momento eu tenho que devolver algo. Eu já estou na posse. Então, esse exemplo do bretas pode ser típico. A questão é: por força da intervenção mínima, vale a pena que ele seja típico? É o que o juiz vai analisar no caso concreto.
- Desvia
O requisito do desvio é: ser em proveito próprio ou alheio. Normalmente é o desvio de verbas. Ex.: recebi dinheiro da faculdade para realizar um evento, mas, de algum modo, dei um jeito de não usar todo esse dinheiro e o que sobrou eu transferi para a conta da Leinara. Mas a Leinara não sabe disso, então ela não responde por nada. Mas se Leinara desde o início sabia, ela responderá junto comigo. 
Assim, tem eu – funcionária pública + Leinara. Leinara não é funcionária pública, então eu respondo pelo 312 caput e Leinara responde também pelo 312 caput pelo art. 30 do CP: as circunstancias de caráter pessoal não se comunicam, salvo se elementares do crime. Então, Leinara responderá, desde que ela saiba. E ela tem que saber também que eu sou funcionária pública. 
A comunicação da elementar precisa que o sujeito tenha consciência da elementar.
Ex.2: eu sou funcionaria pela parte financeira e recebo verba pra aplicar nas bibliotecas, mas não investi na biblioteca e investi na eletricidade. Houve um desvio. Mas foi em proveito da própria administração. Então, nesse caso, não caracteriza o peculato desvio. Mas eu posso responder administrativamente, embora criminalmente não tenha aplicação.
Parágrafo primeiro: subtrai ou concorre para a subtração
Aqui, é uma modalidade equiparada. Então, o sujeito responde na mesma pena. Há essa distinção para saber que o apropriar e o desviar são dolosos, mas aqui envolve relação de que o sujeito não tem posse. Justamente por não ter posse, é que é subtrai ou concorrer para subtração.
Essa modalidade é conhecida como peculato furto. 
Aqui, o sujeito pratica uma conduta de furto, mas, por força da especialidade, como ele é funcionário público e a subtração é relacionada ao cargo, então ele responde aqui. 
Todas as modalidades têm que ser relacionadas ao cargo. Ex.: sou funcionária pública, passo no Bretas e furto uma garrafa. Respondo por furto, 155. 
Ex: Ellen está em seu gabinete e subtrai um pc que tem lá. Responde na modalidade do parágrafo 1º ou eu concorro para a subtração: vou concorrer para que José subtraia. Como? Nas diferentes modalidades do concurso de pessoa.
CONCORRER: art. 29 – concurso de pessoas. Pode ser participação moral, material e etc. Ex.: incentivo José a furtar o pc. Tem que haver um liame subjetivo. 
O concorrer para a subtração envolve necessariamente concurso de um funcionário público com um terceiro. Esse terceiro pode ser também funcionário público ou não. Se for, responde pelo peculato na modalidade subtração. E, se não, também, porque é elementar. 
Essa subtração é dolosa, então ambos respondem pelo peculato furto.
Parágrafo segundo: peculato culposo.
Não há, entre funcionário público e o terceiro, um liame subjetivo. 
Pena: detenção de 3 meses a 1 ano. A reprovabilidade é bem menor e aqui é um tratamento diferente de concurso de pessoas, até porque essa é considerada uma exceção na teoria do concurso de pessoas.
Não se pode ter participação dolosa em crime culposo e etc. 
Nessa modalidade, o terceiro age com dolo e o funcionário público age com culpa. Ex.: eu negligentemente esqueci a porta do meu gabinete aberta. José percebeu isso, o que facilitou a subtração que ele já queria praticar. Eu concorri culposamente para a conduta dolosa do José. Eu respondo pelo art. 312, par 2. José responde por furto – 155. Não houve comunicação de elementar, porque não houve concurso. 
É uma discussão que é uma política criminal muito gravosa em muitos casos, porque, por ex, o fato de eu ter esquecido a porta do meu gabinete aberta e daí a exigência de previsibilidade do agente é muito grande. Esse tipo penal é muito criticado. O DNA da culpa é a previsibilidade. É previsível que se deixar alguma coisa aberta, alguém pode entrar? Sim, mas tem que se observar quais eram as condições do trabalho. Ex.: se eu deixei aberta porque fui ao banheiro, será que quebra o dever objetivo de cuidado? É uma política criminal que visa incentivar maior cuidado em relação ao dever objetivo de cuidado.
Na pratica, isso termina não acontecendo dessa forma, porque agir com confiança de achar que pode deixar aberta é um outro tipo de relação e não essa relação normativamente desvalorada que o direito penal busca tutelar. 
Esse crime tem que envolver uma modalidade de peculato, porque o tipo faz referência ao tipo peculato. Eu posso ser funcionária e concorrer para diversos crimes. Ex.: e se ao invés de subtrair uma coisa, outra pessoa entre na sala e estupre outra? Qual será a responsabilidade da funcionária pública?
Então, na modalidade culposa, tem que haver um nexo funcional entre o resultado e aquilo que a função da pessoa exigia. Com relação ao estupro, a funcionária não tem a menor responsabilidade. 
Paragrafo terceiro:
Ex.: o que José subtraiu foi um notebook. Eu, funcionária pública, dou outro computador para a faculdade para acabar com o caso. se eu restituir até a data da sentença, extingue a punibilidade, mas abre mão de ir até o final e provar a inocência. 
Se a restituição for depois da sentença, diminui a pena até metade. 
Ex.2: devolvi o note, extinguiu a punibilidade. O José vai se aproveitar disso? Em tese, não. Existe maior divergência na jurisprudência, mas o entendimento majoritário é que não. 
Os que entendem que diz fazem parte do entendimento minoritário, porque não existe restituição no furto. 
É uma faculdade do funcionário público. 
Art. 313 – Peculato por erro de outrem
- Apropriar-se: posse, que é a liberdade desvigiada.
Não é apropriação porque é decorrente de erro, ou seja, só tenho a posse por erro de alguém. Eu não deveria ter, só tenho porque a pessoa errou. Ex.: trabalho na secretaria de algum cartório e uma pessoa vai pagar uma parcela de um acordo de 500 reais. A pessoa chega lá, por algum erro, me da um valor a mais. Recebi esse dinheiro em razão do meu cargo. Não subtrai, não peguei nada de ninguém. Tenho a posse em razão do meu cargo. Mas esse outrem me deu por erro. Só que, ao invés de procurar a pessoa para devolver, eu me aproprio desse dinheiro. 
Esse tipo penal é o peculato por erro de outrem. Qual é majoritariamente o entendimento desse tipo penal?Que o erro foi espontâneo, ou seja, a pessoa errou sem que eu tivesse interferido em seu erro.
Mas e se esse erro foi por minha causa? Ex.: até meio dia, era 500 reais. Passou do meio dia, é 600. Isso é estelionato.
Esse peculato é muito entendido como peculato estelionato, mas ele não é, porque o erro é espontâneo. No estelionato, o dolo é anterior ao erro: a pessoa já quer ter a vantagem indevida e leva a pessoa ao erro. Aqui, o dolo é posterior pela própria interpretação gramatical: RECEBEU, ou seja, a pessoa já recebeu pelo erro, que antecede o dolo de apropriar-se. 
A doutrina majoritária, desde Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Regis prado, entende que se o erro não for espontâneo, ou seja, se ele foi provocado pelo agente, ele responderá por estelionato. 
Rogério Greco pensa diferente: não faz diferença o erro ser espontâneo ou não, porque não é exigência do tipo legal. Sendo ou não espontâneo, o sujeito responderá por peculato por erro de outrem. Ainda que reconheça que há exigência do erro não espontâneo que desclassifica para outro tipo penal, tem que desclassificar para outro tipo funcional, de modo que não será estelionato: se o sujeito solicitou, ele responde por corrupção e, se ele exigiu, ele responde por concussão – art. 317 e art. 316, respectivamente. 
Isso é problemático, porque, na corrupção, não tem erro. O que está expresso é a solicitação. Na concussão, a mesma coisa. Não tem ninguém em erro. 
Art. 313- A: peculato eletrônico
Inserção de dados falsos no sistema da adm. pública.
O requisito é que o sujeito é autorizado, então o elemento normativo do tipo exige que o sujeito seja autorizado, por isso que ele é mais reprovável: ele é o funcionário designado para inserir dados certos, mas ele insere errado.
Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa.
Ex.: inserir nome de pessoa que não foi aprovada em concurso público na lista dos aprovados e etc. A pena é grave porque a consequência é grave também. 
Art. 313 – B: peculato eletrônico
Pena: detenção de 3 meses a 2 anos e multa. 
Aqui, o sujeito não é autorizado. O que é reprovável é o funcionário público que não deveria ter mexido ali, mas mexe e coloca dados falsos.
Parágrafo único: ex.: pode resultar dano para administração quanto para a ufjf, que pode ter que realizar outro concurso público.
Então, até se discute, de certa forma, a quebra de proporcionalidade: a conduta daquele que não é autorizado e muito desproporcional em relação a daquele que é. Esse par visa a suprir a deficiência. Mas, mesmo se aumentar a metade, continua sendo desproporcional.
Em tese, se não houver aumento de pena, isso é inclusive da competência de Juizado Especial, dando a ideia de menor potencial ofensivo que é essa conduta. 
O peculato, assim como homicídio, estupro, roubo, tem alta complexidade, por isso é muito importante. 
11/06/13
Dos crimes praticados por FP contra a Administração Pública
Existem crimes cometidos por particulares contra a Administração Pública, mas aqui estamos estudando os crimes cometidos por funcionários públicos – art. 327.
O bem jurídico protegido é a Administração Pública, mas há também o princípio da moralidade administrativa. 
O funcionário público é chamado de intraneus ou “longa manus”, enquanto partícula pode ser chamado também de extraneus. 
Art. 327, par 2: faz recair sobre os tipos penais cometidos por FP uma causa especial de aumento, nos casos em que o funcionário público exerce cargo de chefia, que pressupõe uma confiança ainda maior. É exigida uma máxima moralidade, porque dele é mais reprovável o ato.
Esse dispositivo incide sobre qualquer crime cometido por funcionário público.
Art. 316 – Concussão 
Pena: reclusão, 2 a 8A + M
Exigir/ em razão da função/ vantagem indevida
É um crime que guarda uma natureza que, pelo menos em tese, é bilateral. No peculato, o sujeito pode subtrair ou concorrer para que alguém subtraia, mas nesses casos essa bilaterialidade não está tão clara quanto aqui, porque o verbo núcleo do tipo é EXIGIR, v.t.d. quem exige, exige de alguém, de modo que precisa de um terceiro. 
O FP exige, do terceiro, antes de assumir a função ou fora da sua atividade, mas em razão da função, vantagem indevida (ex.: em um dia de folga, durante as férias. Helen encontra com Elen em CF, exige um pagamento de mais uma semana no hotel para que ela seja aprovada em Penal IV).
Diferente da extorsão, em que também há exigência, não há violência ou grave ameaça. Em nenhum momento a professora dirá: se você, não me der dinheiro, além de te reprovar, eu vou te bater. Não há isso. Mas a exigência, de algum modo, tem um temor imbutido, embora não haja a violência. 
Ex.2: você está com um problema em relação a um inventário e o juiz disse que só defere a liminar por 10 mil reais. Não há uma violência expressa, mas há uma coação (não é moral irresistível), uma ameaça, embora não seja física.
Tem que ser EM RAZÃO DA FUNÇÃO, ou seja, a vantagem indevida que o funcionário público exige tem relação com a função. Ex.: professora exige 20 mil reais de João Pedro para ele entrar no mestrado da UERJ. Isso não caracteriza o tipo.
Pode estar de férias, de folga, viajando. Só não pode estar aposentado, porque aí não caracterizará. 
A pena da concussão é até 8 anos, de modo que a doutrina faz uma crítica em relação com o crime de peculato. Política criminal seletiva para o funcionário público. 
Quem exige, exige de alguém. Então, o crime é formal: independente de receber qualquer coisa, só a exigência é crime. Se houver a vantagem indevida, será mero exaurimento para o funcionário público. Mas e para quem deu essa vantagem? A maioria da jurisprudência entende que o terceiro não responderia por nada, porque não há previsão legal – p. da máxima taxatividade. 
Outros defendem como coação moral irresistível, mas isso é discutível, tem que ser analisado em cada caso concreto. 
Para uma parcela da doutrina, o terceiro responderia por corrupção ativa – art. 333, CP. Oferecer ou prometer: quem oferece é o terceiro. Alguns entendem que o funcionário público exige e o terceiro promete, e o prometer também é crime formal. Então, há o entendimento de que o terceiro responde pela corrupção ativa. 
§1º Excesso de exação 
Exige/ tributo ou cont. social/ sabe ou deve saber indevido/ meio vexatório 
Pena: reclusão, 3 a 8 A + M
Questão econômica e funcionário público que sozinho exige. Não há terceiro. Se ele ceder, ele estará em erro.
Aqui, a ideia é de exigência que é feita em face de tributo. É uma normal penal em branco que tem que ver se ali residiu tributo ou contribuição. Se assim o for, duas possibilidades:
1 – o funcionário, dolosamente (dolo direito ou dolo eventual). Ex.: suspeito que a Leinara não deve os tributos, mas eu mesmo assim faço a cobrança dolosamente, e cobro esse tributo indevidamente. Por que é excesso de exação? Porque a exação não é punível. Ela é até esperada, o problema é o excesso: cobrar o que a pessoa não deve.
2 – realizar a cobrança, ainda que devida, por meio vexatório. Ex.: colocar o nome da pessoa em uma lista que a envergonhe, fazer a cobrança agressivamente, falar o nome da pessoa em público.
São as duas possibilidades de excesso em relação a essa cobrança. É um tipo penal antigo, que envolvia cobrança de tributos feita por um oficial, não igual hoje em que se faz carnê e etc. 
A conduta é formal: independente de o sujeito pagar ou não, a exigência já é crime consumado. 
§2º Desvio em proveito próprio ou alheio 
Pena: reclusão, 2 a 12 A + M
A pessoa não deveria pagar, mas ela pagou. É diferente do peculato por erro de outrem: neste, o dolo de me apropriar vem posteriormente. Aqui, não: houve dolo de cobrar indevidamente. Não é estelionato porque não fiz a pessoa cair em erro, simplesmente me excedi e cobrei o que não deveria cobrar.
Se eu fico com o dinheiro para mim ou dou para alguém, respondo por aqui na modalidade mais grave. Aqui, não é peculato porque o sujeito não tem a posse anteriormente: o sujeito passa a ter o tributo em razão da conduta anterior.Essa modalidade está necessariamente vinculada ao parágrafo anterior. 
Art. 317 – Corrupção passiva
Solicitar
Receber			Vantagem indevida 
Aceitar promessa 
Pena: reclusão, 2 a 12 A + M
Exceção pluralística à Teoria Unitária. Requisitos da teoria: unidade de desígnios, pluralidade de agentes, nexo causal e unidade de infrações. É por isso que se chama teoria unitária ou monista, porque, apesar de haver mais pessoas, todos respondem pelo mesmo crime.
Aqui é exceção: há pluralidade de infrações. Principalmente na modalidade receber e aceitar, há a bilateralidade necessária: quem recebe, recebe de alguém. Quem aceita promessa, é porque alguém fez promessa. Se encaixa na conduta do 333. 
Há a ideia de que na modalidade receber e aceitar, há a bilateralidade necessária. 
Corrupção passiva: ele aceita ser corrompido. E ainda que ele tenha o comportamento ativo, ainda seria modalidade passiva, porque ele solicita. É crime formal, porque a bilateralidade não é clara: pode ser que se exija, mas a pessoa não dê nada. 
O entendimento da melhor doutrina, embora não seja a majoritária, reconhece de que são crimes materiais, porque se eu recebo, recebo algo de alguém. Se eu aceito a promessa, aceito a promessa de alguém. Então seria material, admite a tentativa, porque são fracionados. Ex.: no dia que eu estou indo receber, sou impedida. É tentativa. São materiais porque envolvem comportamento do outro. 
Alguns autores trabalham com a possibilidade de que todos os 3 são crimes formais. 
O art. 333 é um crime formal, porque aqui o crime vai se consumar com a mera conduta. 
Art. 317: objeto material é a vantagem indevida, no art. 333 é o ato indevido. 
Na corrupção passiva, há uma relação que o concurso de pessoa fica claro de forma excepcional. 
§1º +1/3 (retarda ou deixa de praticar ato de ofício)
§2º Modalidade privilegiada
Pena: detenção, 3 meses a 1 ano ou multa. 
Diferente de todos os crimes vistos até agora, não se relaciona com vantagem econômica, mas tem natureza pessoal. 
Não há retardo ou se deixa de praticar o ato por receber qualquer vantagem, mas se faz em razão de sentimento pessoal porque um terceiro excede influência, faz um pedido. Se esse terceiro oferece vantagem indevida, é o caput.
Ex.: JP é policial, estou vindo para a faculdade sem minha carteira e sou parada na blitz. JP deixa. Eu não dei dinheiro nenhum, ele não pediu nada, mas ele descumpriu dever funcional. 
É uma diferença muito curta da prevaricação, em que o fp descumpre o dever também. Ex.: na blitz, estou vindo, até mentalmente sei que estou toda errada, JP fala que a professora pode ir. A prof não pede nada, ele, por sua conta e risco, deixa eu passar. 
Ex.2: prisão em flagrante. Estou com porte de armas. JP me vê, mas, por motivo pessoal, cedendo a um sentimento pessoal, ele me libera porque eu não pedi nada. 
Art. 318 – Facilitação de contrabando ou descaminho
Pena: reclusão, 3 anos a 8 meses + multa
Envolve funcionário público que tem o dever de atuar no controle ou inibindo o contrabando e o descaminho, que são crimes praticados pelo particular, que estão no art. 334. 
Então, aqui, há um particular. 
Art. 334: o contrabando é a pessoa comercializar algo que é proibido, importando ou exportando. Também é norma penal em branco: para saber o que é proibido, tem que ir em lei específica. Ex.: tráfico – responde por aqui? Não, porque essa mercadoria proibida tem sua comercialização definida em outra lei.
Descaminho: deixar de recolher os tributos devidos para importação ou exportação dessa mercadoria.
Sobre quem recai o não pagamento dos tributos? Sobre o Estado, que é o sujeito passivo.
Aqui, o FP não pratica isso aqui. Ele pode praticar, mas não tem nada a ver com a minha função. Aqui é um crime próprio, que envolve o FP envolvido diretamente no controle do contrabando e descaminho, porque só ele poderia facilitar. A reprovabilidade não é, no concurso de pessoas, embora alguns autores falem que é também exceção pluralística, não é, porque até há liame subjetivo, mas, nesse caso, um não está necessariamente envolvido na conduta do outro. Pode ser que o sujeito pratique contrabando sem o funcionário público estar envolvido. 
Alguns autores, no entanto, trabalham nesse sentido.
O FP responderá aqui SE ele facilitar. Se ficar comprovado que ele nada teve a ver com o contrabando ou com o descaminho, ele não responderá.
Não existe modalidade culposa. Então tem que ficar claro que o sujeito quis colaborar. 
Art. 319 – Prevaricação 
Pena: detenção, 3 meses a 1 ano + multa
Fronteira com o abuso de autoridade: princípio da especialidade. O abuso de autoridade tem dolo de abusar com violência, ameaça, existe uma lesão corporal que dorme, ou no minimo uma ameaça. Aqui, não: ele quer simplesmente me ajudar ou me prejudicar, porque ele quer, porque eu não pedi nada. 
É muito questionável, porque, se for pensar a relevância que tem determinados atos de funcionários públicos em face da segurança pública e da própria organização judiciária, um crime que envolve o funcionário no momento que ele deve agir tem uma pena muito pequena. 
Prevaricação da modalidade privilegiada da corrupção passiva: nesta, o terceiro me pede ajuda e solicita minha ajuda, mas não é me dando qualquer vantagem. E, na prevaricação, o terceiro nada fez, ele está mudo. Eu decido fazer isso para ajudar. 
Casos de prevaricação são vários. Ex.: você está em uma cena de crime, tem um perito judicial que decide favorecer alguém e não coloca determinados objetos encontrados. Isso pode ter uma relevância muito grande dentro da instrução penal. Por isso a discrepância entre conduta e pena. 
Art. 319-A
Pena: detenção, 3 meses a 1 ano
É importante chamar atenção porque aqui é o direito penal simbólico: hoje existe uma discussão muito grande que envolve o caráter simbólico que o direito penal adquire na sociedade. Se tem um grave problema social, de segurança pública, e quando não há politicas eficientes para resolver esses problemas, escolhe-se um sujeito simbolicamente para resolver o problema e cria-se o tipo penal.
Houve sofisticação do sistema de telefonia, de modo que há possibilidade de os criminosos, dentro dos presídios, continuarem se comunicando e até organizando crimes. Isso envolve um problema muito maior, que é a própria política de segurança pública, que precisa refletir sobre ela mesma, sobre o custo social das penas privativas de liberdade e etc. Mas, por não se ter no Brasil uma plataforma política que se possa responder a isso, se pune mais severamente. 
Foi assim que surgiu o art. 319-A: simbolicamente, se pretende resolver problema de alta complexidade com essa conduta que, além de tudo, tem uma previsão de pena que não alcança o objetivo que pretende. 
Art. 320 – Condescendência criminosa
Pena: detenção, 15 dias a 1 mês ou multa
Está ligada com a prevaricação, com a corrupção passiva privilegiada, porque envolve o FP, que precisa ter o cargo de chefia.
A palavra condescendência envolve ideia de proteção, favorecimento e etc. 
Ex.: eu sou chefe da Aline e ela cometeu uma falta gravíssima, mas eu sei que foi difícil pra ela passar no concurso e tal, então eu resolvo não fazer nada. Eu decido, por minha conta e risco, infringindo o p. da moralidade administrativa, não praticar a punição ou não comunicar o fato para o superior que efetivamente possa fazer cumprir essa punição.
Aqui, não há facilitação de terceiro, mas de outro funcionário público que errou, seja qual foi erro.
Mais uma vez, há desproporção na pena. Ex.: e se a Aline tivesse praticado um peculato? O peculato fere o bem jurídico. E a pena é de 15 dias a 1 mês.

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