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Aula 10 - O papel do psicólogo no tratamento dos transtornos alimentares e da obesidade Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1- Identificar os principais conceitos relacionados aos transtornos alime 2- Reconhecer os tipos de transtornos alimentares; 3- Conhecer os aspectos psicológicos dos transtornos alimentares; 4- Entender a participação do psicólogo em cirurgias bariátricas. INTRODUÇÃO Os transtornos alimentares consistem em descontroles no comportamento da ingestão de alimentos, normalmente causados por uma crença distorcida acerca da imagem corporal. Atualmente, o Manual de Diagnóstico de Doenças Mentais (DSMIV) entende como transtornos alimentares a anorexia nervosa e a bulimia nervosa . Esses transtornos são ocasionados por uma distorção da própria imagem corporal e pela necessidade de obter um corpo perfeito. Este corpo é buscado, erroneamente, por meio de: • Privação de alimentos (AN); • Ingestão em grandes quantidades, acompanhados de vômitos (BN). Nesta aula, vamos abordar os principais conceitos sobre a AN e BN, os tratamentos clínicos disponíveis e esclarecimentos sobre a compulsão alimentar e a obesidade. PREOCUPAÇÕES A preocupação com os transtornos alimentares é grande, pois se eles não receberem a devida atenção, podem levar à morte. A obesidade é preocupante para a OMS, pois indivíduos obesos desenvolvem depressão. A depressão acontece pelo fato de estarem acima do peso, por serem discriminados pela sociedade e por serem estigmatizados como obesos sempre. Mas os tratamentos para combate-la são muitos: dieta, atividades físicas, pílulas de emagrecimento e cirurgias. Todos eles devem ser acompanhados por profissionais habilitados e capacitados. Esta condição pode causar problemas respiratórios, vasculares, cardiovasculares e levar também à morte. ANOREXIA NERVOSA A anorexia nervosa (AN) é um transtorno alimentar em que o indivíduo passa a ingerir uma taxa muito baixa de calorias por dia, tentando alcançar o corpo perfeito que nunca obtém. Praticam ainda exercícios físicos em quantidade abusiva, podendo provocar o desmaio devido à fraqueza. As pessoas com AN sentem uma culpa enorme quando comem e têm a impressão de que engordaram muito com o alimento ingerido. De acordo com Russell (1970, apud Claudino e Borges, 2002, p.9), “diversos critérios operacionais foram propostos para a AN, a maioria deles englobando basicamente: • Comportamentos visando à perda de peso e sua manutenção abaixo do normal; • Medo de engordar; • Distúrbio de imagem corporal; • Distúrbio endócrino (ex.: amenorreia). - Detecção da anorexia: Para avaliar se o paciente tem ou não anorexia, o dado mais simples seria a grande perda de peso, mas nem sempre o emagrecimento é sinônimo de anorexia. Portanto, alguns critérios de padronização foram criados, tais como: • Índice de massa corporal (IMC = peso/altura ao quadrado) abaixo de 17,5 (critério utilizado pela CID-10); • Percentual de adequação de peso inferior a 85% (critério utilizado pelo DSM-IV). A anorexia é muito perigosa e pode levar o paciente à morte. Familiares, amigos e pessoas próximas devem estar atentos às reações desses pacientes e incentivá-los a buscar um tratamento o quanto antes. TRATAMENTO DA ANOREXIA O tratamento não tem o único intuito de trabalhar os processos mentais, mas também os processos fisiológicos, pois o paciente anoréxico não consegue ingerir alimentos e, quando ingere, muitas vezes passa mal, pois seu organismo não está acostumado. A AN envolve também uma disfunção endócrina, especialmente do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, identificada pela amenorreia (mulheres) e perda do interesse e potência sexual (homens). Em pré-púberes, há retardo no desenvolvimento das características sexuais secundárias (Claudino e Borges, 2002, p.9). BULIMIA NERVOSA A bulimia nervosa se difere da anorexia em relação ao comportamento. Na BN, ocorre a ingestão de alimentos em grandes quantidades, num intervalo curto de tempo e de altas calorias, seguida de arrependimento. Na tentativa de eliminar o alimento do corpo, essas pessoas provocam vômitos ou tomam laxantes. Russell (1979 apud Claudino e Borges, 2002, p.10), em artigo clássico, foi o primeiro a definir e distinguir a BN como categoria independente da AN, propondo três critérios básicos: 1. Impulso irresistível de comer excessivamente; 2. Medo mórbido de engordar; 3. Indução de vômitos e/ou abuso de purgativos na tentativa de evitar os efeitos “de engordar” da comida. PERSONALIDADE DOS PACIENTES COM AOREXIA NERVOSA E BULIMIA NERVOSA Diante dos dois transtornos alimentares estudados, conclui-se que: Traços como obsessividade, perfeccionismo, passividade e introversão são comuns em pacientes com anorexia nervosa e permanecem estáveis mesmo após a recuperação do peso. As características de personalidade da bulimia nervosa são diferentes: • Sociabilidade; • Comportamento gregário; • Comportamentos de risco e impulsividade. (MORGAN, Vecchiatti e NEGRÃO, 2002, p. 19). OBESIDADE A obesidade é um tipo de compulsão alimentar em que normalmente o indivíduo perde o controle sobre a quantidade de alimento ingerido, levando a um sobrepeso que ameaça sua saúde e lhe acarreta uma série de problemas fisiológicos, tais como diabetes, riscos cardiovasculares, problemas na coluna e nos joelhos, fadiga, falta de ar, entre outros. Mas nem sempre o obeso come muito mais do que um magro. Portanto, a compulsão alimentar não é a única causa da obesidade; existem os fatores biológicos, sociais e psicológicos. No que diz respeito aos fatores biológicos, pode prevalecer a hereditariedade, o descontrole hormonal e o funcionamento do cérebro. Caso a pessoa não tenha o núcleo hipotalâmico ventromedial (responsável pela saciedade da fome) funcionando de maneira equilibrada, sentirá fome constantemente. COMPORTAMENTO ALIMENTAR: O comportamento alimentar pode ser determinado por dois fatores: Fatores Sociais: Pessoas inseridas numa cultura onde é costume ingerir alimentos gordurosos e não saudáveis como fast food são mais propensas a ser obesas, como é o caso dos americanos. Fatores Psicológicos: Os fatores psicológicos podem ser a ansiedade, a compulsão e a depressão, que facilitam o exagero na ingestão dos alimentos ou, às vezes, a perda de apetite. TRATAMENTO DA OBESIDADE Os tratamentos contra a obesidade podem ser tão variados como: dietas associadas a atividade física ingestão de pílulas para emagrecer cirurgias tratamento psicológico No tratamento psicológico, é preciso controlar os comportamentos e pensamentos compulsivos em relação à ingestão dos alimentos. Para isto, tem-se aplicado muito frequentemente as técnicas da terapia cognitivo -comportamental. PROGRAMAS PARA O TRATAMENTO DA OBESIDADE De acordo com Straub (2005, p. 253), os programas de modificação do comportamento incluem os seguintes componentes: Procedimentos de controle de estímulos para identificar e limitar o número de estímulos que levam o indivíduo a começar a comer (por exemplo: restringir-se a comer em um único local); Técnicas de autocontrole para tornar o ato de comer mais lento (por exemplo: mastigar cada porção várias vezes, largando os talheres entre cada uma); “Contratos de contingência”, dependendo de se atingir objetivos de perda de peso (por exemplo: o cliente deposita uma quantia que será recuperada à medida que os objetivos sejam alcançados); Apoio social de familiares e amigos convocados para proporcionar reforço adicional pelo sucesso obtido e pela adesão ao tratamento; Automonitoramento cuidadoso e anotações para aumentar a consciência de quais alimentos são consumidos e as circunstâncias em que isso acontece. CIRURGIA BARIÁTRICA E A OBESIDADE A cirurgia bariátrica é uma das medidas para o tratamento do indivíduo obeso quando este se encontra no sobrepeso há muito tempo, com histórico de várias tentativas para emagrecer sem sucesso. Entenda como ela funciona: • Parte do estômago é grampeado, reduzindo o espaço para o alimento; • O desviointestinal causa um aumento de hormônios que promovem a saciedade, diminuindo assim a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial. Para que este procedimento seja realizado, é fundamental que o paciente seja atendido por uma equipe multidisciplinar. O psicólogo, nesta equipe, tem a função de avaliar o quanto o paciente está comprometido e disponível para a cirurgia e informá-lo sobre as responsabilidades que ele deverá desenvolver no pós-cirúrgico. Esse tipo de medida mais invasiva requer um preparo psicológico muito grande. Oliveira e Yoshida (2009) ressaltam que é preciso haver uma investigação por parte do psicólogo, anteriormente à cirurgia, sobre o comprometimento deste paciente com a perda de peso após o procedimento. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NA CIRURGIA BARIÁTRICA O preparo para cirurgia bariátrica envolve uma equipe multidisciplinar, tais como: MÉDICO: esclarece os procedimentos cirúrgicos e as possíveis complicações; FISIOTERAPEUTA: explica a estimulação da musculatura do estômago e aos pulmões antes e após a cirurgia; NUTRICIONISTA: explica quais alimentos poderá ingerir e como eles deverão ser ingeridos; PSICOLÓGO: entrevista o paciente antes da cirurgia e o acompanha após a cirurgia. Todos esses profissionais são preparados para receber as queixas, dúvidas e inquietações dos pacientes que passarão por este procedimento cirúrgico. MELHORA DO QUADRO EMOCIONAL Apesar de os resultados sobre o trabalho do psicólogo, diante dos pacientes que já realizaram a cirurgia bariátrica, serem escassos, alguns apontam que: “Em relação aos indivíduos já submetidos à cirurgia, apesar de também não haver unanimidade, a maioria dos estudos indica uma melhora no quadro emocional, principalmente nos primeiros meses, se estendendo até por dois anos” (Dixon et al., 2003; Dymek et al., 2002; Malone & Mayer-Alger, 2004; Mello, 2001; Peixoto & Geloneze, 2006, apud Oliveira e Yoshida, 2009, p.13 ). Alguns pacientes se sentem deprimidos após a cirurgia, pois não conseguem mais depositar suas angústias e ansiedades na alimentação. O organismo passa a não aceitar o mesmo padrão de antes e o corpo rejeita quando é ingerida uma quantidade maior de alimento. Esta questão requer um trabalho psicológico contínuo de aceitação ao novo corpo e ao novo comportamento alimentar, fazendo com que o indivíduo consiga enxergar novos prazeres.
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