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Ansiedade e medos anteriores à cirurgia são esperados, tendo em vista as circunstâncias. Destaca-se que a ansiedade e o medo quando em graus elevados podem dificultar a recuperação pós-cirúrgica. A atuação do psicólogo é muito variável nesses casos e pode ocorrer antes, durante e depois da cirurgia, sendo a última dividida em pós-operatório imediato e tardio. A indicação da intervenção psicológica deve ser pautada nas necessidades individuais de cada paciente. Dessa forma, o trabalho engloba questões sociais, psíquicas e biológicas, trazendo a necessidade de uma atuação interdisciplinar visando a minimização de sofrimentos decorrentes da hospitalização, do adoecimento e do processo cirúrgico. O número de amputações vem crescendo nos países ocidentais devido principalmente à doença arterial periférica. O processo de retirada de um membro engloba uma complexidade de fenômenos psicológicos e de interação entre família-paciente-equipe. -Características da amputação de membros Prioritariamente, as amputações ocorrem por três razões: doenças crônicas, tumores ou acidentes. -A relação médico-paciente na decisão de amputar A decisão de amputar deve ser definida com cautela, sabendo-se que a comunicação com o paciente é fundamental. Deve-se abrir espaço para perguntas, usar linguagem acessível, ter materiais sobre a cirurgia e sua reabilitação para oferecer a sensação de controle para o paciente. No pré-operatório, a meta é conseguir o paciente ativo na descoberta do processo de tratamento, para que o mesmo tenha autonomia na decisão até a reabilitação. A entrevista pré-operatória é fundamental, com o objetivo de informar o paciente sobre o que esperar da cirurgia e esclarecer dúvidas. A comunicação deve ser honesta e realística, avaliando a aceitação e compreensão das informações recebidas. O luto pela perda de um membro compara-se com a perda de uma pessoa querida. A elaboração do luto se inicia antes da cirurgia e pode durar por tempo indeterminado. O processo de aceitação da amputação se inicia com descrença e outros sentimentos incapacitantes. A perda física é permeada de aspectos sociais e psicológicos, sendo necessária a atribuição de um sentido para o evento. Após a amputação ocorrem os processos de adaptação física e psicológica à perda do membro. -Aspectos psicológicos e a amputação de membros Sintomas depressivos são mencionados com frequência em pessoas com amputação. Alguns sintomas são respostas esperadas após a perda do membro, porém a depressão clínica traz maiores implicações. Os efeitos da amputação nos anos iniciais mostram-se como sintomas depressivos durante a hospitalização e após a amputação. Nesse período, é difícil determinar se é uma depressão maior ou uma resposta de adaptação ao processo de amputação. A ansiedade durante a hospitalização mostra-se como uma reação ao adoecimento e suas implicações, A falta de controle que faz parte do contexto hospitalar é uma geradora de ansiedade.Nos anos seguintes da amputação, as taxas de ansiedade de pessoas amputadas são equivalentes à da população geral. Os distúrbios de autoimagem corporal trazem muita ansiedade, mostrando-se em reações negativas como vergonha ou aversão ao próprio corpo. Essas reações podem interferir no processo de reabilitação e autocuidado, além de aumentar o isolamento social. A autoimagem relaciona-se com o desconforto social desencadeado pelos olhares de outros. As pessoas amputadas podem sentir-se pertencentes a um grupo estigmatizado, promovendo mal estar e diminuição de atividades sociais. Os indivíduos precisam ajustar-se a mudanças físicas, psicológicas e sociais advindas da perda do membro e incorporar estas no seu novo senso de self. As perdas causadas por acidentes e tumores são mais frequentes entre os jovens, o que pode representar uma ruptura no seu desenvolvimento e a dificuldade de aceitação maior em relação às pessoas idosas. Quanto mais jovem, mais difícil a adaptação, principalmente em relação à restrição de atividades. O nível da amputação é um preditor importante para a reabilitação, devido aos tipos de prótese e adaptação ao coto. Quanto mais alto for o nível da amputação em membros inferiores, mais pobre é o ajustamento psicológico. A dor fantasma pode ser um dificultador na adaptação psicológica e no processo de reabilitação motora. Os aspectos psicológicos referem-se à imagem corporal, que com a amputação surge uma dificuldade de adaptar-se e aceitar a nova imagem corporal. Os aspectos fisiológicos estão associados à reorganização cortical central após a perda do membro, pois o córtex cerebral possui a representação de cada região do corpo e a amputação não remove tal representação, dificultando o fio da sensação corporal. Os aspectos psicológicos antes da amputação podem ser preditivos da dor fantasma posterior, assim como o baixo suporte emocional. A dor fantasma pode ser prevenida se os pacientes forem encorajados a expressar os sentimentos de perda e sofrimento. A dor no coto envolve sensações de dor no local da amputação, sendo diretamente associada com a depressão, pois dificulta as atividades diárias e diminui o bem estar psicológico. Essa dor residual é um atributo da amputação que pode contribuir para o estresse e impedir o uso da prótese. Ambas as dores podem tornar-se crônicas, além de interferir no processo de reabilitação. A adaptação positiva ocorre quando o indivíduo fundamenta seu mundo interior nas qualidades não físicas e no seu senso de valores intrínsecos. -Estratégias de enfrentamento da amputação O coping nas pessoas amputadas é um processo que envolve múltiplas demandas físicas e psicológicas. Trata-se de um conjunto de estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptar-se às circunstâncias adversas. Identificou-se cinco categorias de coping: 1) fuga psicológica, 2) solicitação de suporte, 3) humor, 4) avaliação cognitiva e 5) coping prático (manutenção de independência, continuar reabilitação física). As estratégias variam de acordo com o tempo de amputação. Conforme o tipo de estratégia de enfrentamento utilizada, o indivíduo pode ter a presença ou ausência de dor fantasma. Esses fatores modificam-se através do tempo de amputação e tem associação com o tipo de apoio social que a pessoa tem disponível, bem como o nível de depressão existente. O bem estar de pessoas amputadas foi relacionado com o suporte social, verificando que a rede de relações pode favorecer a manutenção da saúde mental. -Considerações finais A presença de aspectos emocionais no processo de amputação torna-se evidente nos estudos apresentados. Entretanto, nota-se lacunas metodológicas. A psicologia nesta área mostra-se essencial tanto na pesquisa como no campo da intervenção, podendo auxiliar o paciente e sua família no período anterior à cirurgia, durante a hospitalização, no período de adaptação e na reabilitação. Iniciando pela entrevista pré-cirúrgica, verificando a condição psicológica do paciente para enfrentamento do processo, preparando-o para a operação e oferecendo apoio constante ao paciente e sua família, além da mediação entre paciente-família e equipe de saúde.
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