Buscar

20161017 151153 Seguro

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

2.16 SEGURO
Direito Civil III
Professora Keli Herpich
a) Conceito
É o negócio jurídico por meio do qual, mediante o pagamento de um prêmio, o segurado, visando a tutelar interesse legítimo, assegura o direito de ser indenizado pelo segurador em caso de consumação de riscos predeterminados (art. 757 CC).
 
1. Conceito e partes
Segurado: é a pessoa física ou jurídica, consumidora da prestação do serviço da companhia seguradora, o qual deverá pagar uma obrigação pecuniária que se chama prêmio, para que tenha direito à receber o valor indenizatório do seguro.
b) Partes
Segurador: é necessariamente pessoa jurídica, devidamente autorizada pelo Poder Executivo (parágrafo único, art. 757 CC).
Beneficiário: não é tecnicamente uma parte, mas sim um terceiro que experimenta efeitos patrimoniais favoráveis decorrentes do contrato de seguro.
É o risco transferido ao segurador, com o propósito de resguardar interesse legítimo do segurado.
Em caso de sinistro, obriga o segurador ao pagamento de uma indenização, cujos critérios de mensuração são previamente estabelecidos pelas próprias partes. 
c) Objeto
Se o contrato de seguro for pactuado para a garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, beneficiário ou de representante de um ou de outro, ocorrerá a nulidade absoluta do mesmo (art. 726).
Não é permitido celebrar contrato de seguro que tem como objeto acobertar um comportamento ilícito intencional do segurado, do beneficiário ou do representante de qualquer destes.
Na hipótese de inexistir a situação de perigo e dano, o contrato de seguro carece de objeto e deve ser considerado inexistente.
Nesta situação, se a apólice for expedida, o segurador pagará em dobro o prêmio, à titulo de indenização (art.773 CC).
 É possível a celebração de um contrato de seguro para proteger o patrimônio de outra pessoa. 
 
Trata-se do seguro à conta de outrem, no qual o risco não pesa sobre o patrimônio do estipulante, mas sobre o interesse de outrem.
Neste caso, o segurador pode opor ao segurado qualquer defesa que tenha contra o estipulante, por descumprimento de normas do contrato ou de pagamento do prêmio (art. 767 CC).
a) Princípio da boa-fé: é uma regra impositiva da eticidade na relação negocial derivada do contrato de seguro (art. 765). 
A violação da boa-fé no contrato de seguro, traduz a sua ineficácia jurídica com a consequente imposição de responsabilidade civil. 
2. Princípios reguladores
Fato que se caracteriza como violação do princípio da boa-fé no contrato de seguro, diz respeito ao descumprimento do dever de informação, por meio da omissão ou inexatidão das informações prestadas pelo segurado (art. 766).
Neste caso o segurado perde o direito à garantia e fica obrigado ao prêmio vencido. 
Atenção para a conduta não intencional ou culposa!
 Com base ainda no principio da boa-fé, se o segurado agravar intencionalmente o risco objeto do contrato, ele perderá o direito da garantia (art. 768). 
É um comportamento que vulnera a lealdade contratual e se caracteriza como abuso de direito por parte do segurado, por ter agravado o risco de forma intencional.
b) Princípio do mutualismo: a viabilidade jurídica e econômica do contrato de seguro é possível em virtude da base mutuaria do seguro. 
Devem concorrer um número mínimo de segurados que, por meio de seus aportes financeiros, garantem a solvência do sistema.
a) Bilateral: embora o sinalagma não se manifeste com muita nitidez.
b) Oneroso: o benefício que proporciona corresponde a um sacrifício patrimonial. 
c) Aleatório: o segurado pode eventualmente vir a não sofrer dano algum pela não consumação do sinistro.
3. Características
d) De adesão: justifica-se pela necessidade social de contratação em massa. 
e) De duração, com execução continuada: prolonga-se durante o tempo de vigência estabelecido pelas partes, admitindo-se a recondução tácita uma única vez (art. 774 CC). 
f) Consensual.
g) Não solene.
h) Personalíssimo: quanto a pessoa do contratante, cuja figura tem influência decisiva para o consentimento do outro. 
i) Principal: não depende de qualquer outra avença. 
 A apólice é simplesmente um instrumento que consubstancia e descreve os limites de incidência do seguro pactuado. 
Nela descreve-se o risco e delimita-se o período de vigência do seguro, em dias e horas, visando tornar clara e precisa a assunção do risco pelo segurador, permitindo, em contrapartida, ao segurado, ter a exata noção da abrangência do seu direito. 
4. Da apólice
 Alguns contratos podem ser celebrados com dispensa da apólice, emitindo-se um documento mais simples denominado bilhete de seguro.
 A apólice serve de prova do contrato de seguro e na falta dela, deve-se apresentar um documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio (art. 758).
Precede a emissão da apólice proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco (art. 759).
Quanto à forma de emissão, a apólice ou o bilhete serão nominativos, à ordem ou ao portador (art. 760).
De acordo com o STF, a apólice não pode consignar cláusula que afronte norma legal.
Segurado:
 
a) Pagar o prêmio: é a remuneração do segurador, devida em dinheiro pelo segurado, ainda que não se concretize o risco. 
5. Direitos e obrigações das partes
b) É obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia (art. 769).
c) Comunicar o sinistro ao segurador, logo que saiba e tomar as providências imediatas para minorar as consequências, sob pena de perder o direito à indenização.
Segurador:
a) Consumado o sinistro – ou como no seguro de vida, com o alcance da idade limite – deverá o segurador efetuar o pagamento da contraprestação devida. 
A base obrigacional do contrato de seguro é: prêmio x indenização. 
 O pagamento da indenização deve, em princípio, ser efetuado em dinheiro (art. 776).
 
 Em caso de mora, a indenização será monetariamente atualizada, sem prejuízo dos juros moratórios (art. 772).
 Prêmio é o valor que o segurado deve pagar à seguradora, visando à cobertura do sinistro.
Será pago por inteiro, independente de haver se consumado o risco (art. 764).
 Quando o pagamento for parcelado, a autonomia privada das partes pode estipular vigência imediata ou condicionada ao pagamento do prêmio. 
6. Prêmio
 A diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a redução do prêmio estipulado, salvo disposição em contrário.
Se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio ou a resolução do contrato (art. 770).
 De acordo com o artigo 763 CC, a mora por parte do segurado implica a perda total do direito à indenização.
Segundo o STJ, o simples atraso não implica a suspensão ou o cancelamento automático do contrato de seguro, sendo necessária a devida ciência do segurado para a extinção do contrato e a negativa ao direito à indenização.
O art. 775 CC prevê a responsabilidade do segurador por ato de seu agente autorizado: o corretor de seguros.
Trata-se de responsabilidade por ato de terceiro, de natureza objetiva, sendo facultada à seguradora ingressar com ação regressiva em face do agente causador do dano.
7. Agente autorizado do segurador
a) Seguro de dano: tem por objeto a assunção do risco de lesões materiais do segurado.
 Possui natureza compensatória da prestação contratual assumida pela companhia de seguro.
 
 Tanto pode servir para cobrir prejuízo sofrido pelo segurado, como também aquele que ele causa a terceiro, seja de natureza material ou moral.
8. Espécies de seguro
 Neste seguro a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse do segurado no momento da conclusão do contrato (art. 778 CC), assim como a indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, salvo em caso de mora do segurador (art.
781 CC).
Ou seja, é proibida a contratação de mais de um seguro sobre o mesmo bem, ou por valor superior a que valha, para evitar, em caso de sinistro, enriquecimento sem causa do segurado.
essa problematica iimpede um sobreseguro
Se o segurado pretender, na vigência do contrato, obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a fim de se comprovar que não está cumulando seguros, em obediência ao disposto no art. 778 CC.
 Quando o risco envolvido, em caso de sinistro, implicar o pagamento de vultuosas indenizações, é comum seguradoras associarem-se para a mesma cobertura, visando repartir o ônus em caso de pagamento de indenização ao segurado. 
Trata-se do cosseguro, previsto no art. 761 CC. 
 O risco do seguro deve compreender todos os prejuízos resultantes ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano ou salvar a coisa (art. 779). 
A cobertura deve ser completa e isso não traduz a necessidade de um seguro maior.
 Se for contratado um seguro por valor menor do que o preço justo, opera-se uma redução proporcional na prestação devida, em caso de sinistro parcial (art. 783).
 Não se inclui na garantia do segurador o sinistro provocado por vício redibitório ou aparente intrínseco da coisa segurada e não declarada pelo segurado. 
Como sanção, por violação do princípio da boa-fé, há exclusão da garantia (art. 784 CC). 
 O seguro no transporte de coisas inicia-se no momento em que o objeto é recebido pelo transportador e cessa com a sua entrega ao destinatário, a quem se impõem, a partir daí, a responsabilidade sobre o bem adquirido (art. 780 CC). 
 Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do contrato de seguro a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado (art. 785 CC).
 Uma vez paga a indenização, o segurador fica sub-rogado, nos limites do valor pago, nos direitos e ações que competirem o segurado contra o autor do dano (art. 786 CC);
Depois que o segurador paga a indenização ao segurado, poderá ingressar com ação regressiva em face do causador do dano. Prazo será de 3 anos. 
 
 
Salvo em caso de atuação dolosa, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins (art. 786, § 1º).
Qualquer ato do segurado que diminua ou extinga os direitos a que se refere este artigo, será ineficaz (art. 786, §2º).
 No seguro de dano é possível a estipulação do seguro de responsabilidade civil, no qual o segurado visa obter cobertura em face de eventuais danos que culposamente venha a causar a terceiros (art. 787 CC). 
O segurado deve comunicar o fato ao segurador tão logo saiba das consequências de seu ato. 
Caso a demora do segurado agrave a dimensão do prejuízo, impondo efeitos colaterais gravosos a direito seu, poderá o segurado eximir-se da responsabilidade, alegando a não observância da cobertura de risco contratada (art. 787, §1º).
No seguro de responsabilidade civil é defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador. Se assim agir, fará por sua própria conta (art. 787, §2º, CC).
 
Se for intentada ação contra o segurado, ele deverá dar ciência ao segurador, por meio do instituto jurídico da denunciação da lide (art. 787, §3º, CC).
 Não possui natureza compensatória, pois visa acautelar bens extrapatrimomiais: a integridade física e a vida, que são valores e bens de natureza personalíssima.
 Em razão disso, é possível a pactuação múltipla, ou seja, mais de um contrato em garantia do mesmo interesse, não havendo limitação de valor (art. 789 CC).
 
b) Seguro de pessoa
 Outra característica do seguro de pessoa é a proibição de o segurador sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro (art. 800 CC). 
 No seguro de pessoa não se admite qualquer acordo para o pagamento reduzido do capital segurado, sendo nula de pleno direito qualquer cláusula nesse sentido, por violar a boa-fé e o princípio da função social do contrato (art. 795 CC).
O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro se a morte ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviços militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade de auxílio de outrem, ainda que da apólice conste a restrição (art. 799 CC).
O capital estipulado no seguro de pessoa não está sujeito ás dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito, razão pela qual o seu levantamento independe de inventário administrativo ou judicial, podendo se realizar mediante simples alvará judicial (art. 794 CC).
 
Desdobra-se em seguro de vida e de acidentes pessoais. 
b1) Seguro de acidentes pessoais: visa a cobrir danos que atinjam a integridade física, psicológica ou até mesmo moral do segurado, mediante pagamento de indenização em dinheiro.
 
b2) Seguro de vida: é um seguro que encontra assento na estipulação em favor de terceiro, no qual uma parte convenciona com o devedor que este deverá realizar determinada prestação em benefício de outrem, alheio à relação jurídica-base. 
No seguro de vida as partes são chamadas de: estipulante (aquele que estabelece a obrigação) e promitente ou devedor (aquele que se compromete a realizá-la). 
O terceiro ou beneficiário é o destinatário final da obrigação pactuada. 
O terceiro beneficiário, ainda que não tenha feito parte do contrato, tem legitimidade para ajuizar ação direta contra a seguradora, para cobrar a indenização contratual prevista em seu favor (STJ).
Em geral o segurado pactua o seguro, visando beneficiar terceiro, admitindo o legislador, que a vida de outrem seja segurada (art. 790 CC).
É possível a substituição beneficiário no seguro de vida, por ato entre vivos ou de última vontade, desde que o segurado não renuncie esta faculdade ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de uma obrigação (art. 791 CC).
Se o segurador não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital ao antigo beneficiário (parágrafo único do art. 791).
 Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem de vocação hereditária (art. 792 CC).
Na falta de tais pessoas, serão beneficiárias as pessoas que integram a dimensão socioafetiva do conceito de família, não necessariamente unidas por vínculos de sangue (art. 792, parágrafo único).
 O segurador não poderá ingressar com ação de cobrança em face do segurado, em havendo inadimplemento (art. 796 CC). 
Apenas terá direito de resolver o contrato, com a restituição da reserva já formada (art. 796, parágrafo único CC).
 No seguro de vida para o caso de morte, é lícita a estipulação de um prazo de carência, durante o qual o segurador não responderá pela ocorrência do sinistro (art. 797 CC).
Neste caso, o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário a quantia da reserva técnica já formada, devidamente atualizada (art. 797, parágrafo único, CC).
 No caso de suicídio do segurado, não se reconhecerá o direito do beneficiário ao valor do seguro, caso o suicídio ocorra nos primeiros dois anos de vigência do contrato, sendo garantida a restituição da reserva técnica do capital (art. 798 CC).
Enunciado 187: a presunção de suicídio premeditado cometido nos dois primeiros anos do contrato de seguro de vida deve ser relativa. 
Caberá ao beneficiário demonstrar a ocorrência do suicídio involuntário.
Será nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado (art. 798, parágrafo único).
 É possível a estipulação
do seguro de vida em grupo, o qual é celebrado entre uma seguradora e uma grande empresa, em benefício dos seus empregados, os quais irão desfrutar das vantagens da estipulação, mediante contribuição determinada e global a ser paga pelo estipulante (art. 801 CC).
O estipulante é o único responsável para com o segurador pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais (art. 801, §1º, CC)
Co-seguro: dois ou mais seguradores assumem a responsabilidade sobre um mesmo seguro direto, com a emissão de uma única apólice, onde se fixam obrigações para todos os co-seguradores. 
O art. 761 do CC, dispõe que quando o risco for assumido em co-seguro, a apólice indicará o segurador que administrará o contrato e representará os demais, para todos os efeitos.
9. Co-seguro, Resseguro e Retrocessão
Resseguro: como o nome sugere, resseguro é o seguro do seguro. 
Quando uma companhia assume um contrato de seguro superior à sua capacidade financeira, ela necessita repassar esse risco, ou parte dele, a uma resseguradora.
O resseguro é uma prática comum, feita em todo o mundo, como forma de preservar a estabilidade das companhias seguradoras e garantir a liquidação do sinistro ao segurado. 
Desta forma, a seguradora dilui os riscos do seu contrato com outras seguradoras. 
A cumulação de seguros é proibida ao segurado, que não pode contratar dois seguros relativamente ao mesmo interesse segurável, a não ser que se trate de seguro de vida.
Retrocessão: na linguagem dos seguros, entende-se a transferência ou a cessão de parte dos riscos aceitos por uma companhia a outra, pelo que também lhe cede ou transfere parte dos prêmios cobrados, na proporção dos riscos transferidos. 
Praticamente, a retrocessão é a descarga do seguro, a fim de que a companhia, em que foram descarregados os riscos, assuma a responsabilidade da parte que lhe foi cedida ou transferida.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando