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Exteriores e Raças

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Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 48
8 DESENVOLVIMENTO DO BOVINO 
8.1 AS ONDAS DE CRESCIMENTO 
 Os bovinos vivem entre 15 a 20 anos e o ciclo de desenvolvimento se dá por 
ação de vários hormônios, em especial o hormônio do crescimento ou somatotropina, 
produzido na hipófise posterior. Os hormônios sexuais também ajudam no 
desenvolvimento do animal promovendo as características sexuais secundárias. 
 O crescimento se dá por dois tipos de ondas específicas, primárias e 
secundárias (Figura 1). As primárias agem da órbita ocular para o focinho, do joelho 
para o casco e do jarrete para o casco. Após essa fase, entram em ação as ondas 
secundárias com direção invertida, ou seja, do pescoço para o corpo, do joelho para o 
corpo e dos jarretes para o corpo. Quando essas ondas atingem a altura do lombo ou 
rins, o animal para de crescer entre 36 e 40 meses dependendo da maturidade 
fisiológica. 
 No decorrer da vida do animal verifica-se uma mudança corporal, no início as 
pernas são longas, o corpo estreito e a cabeça com maior proporção em relação ao 
corpo. Depois essa tendência vai se invertendo, as extremidades vão encurtando em 
relação à massa corporal (Figura 3) 
 
 
 
 
 Considerando os três principais tecidos de uma carcaça, osso, músculo e 
gordura, todos se desenvolvem simultaneamente, mas em proporções diferentes, ou 
seja, no início da vida do animal os ossos crescem mais intensamente, depois os 
músculos e mais tardiamente a gordura (Figura 5). A mesma tendência acontece em 
relação à paralisação de crescimento, os ossos param de crescer mais cedo, mas os 
músculos e a gordura diminuem drasticamente esse ritmo posteriormente, sendo a 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 49
gordura o último tecido a se acumular no corpo. A partir dessa etapa a alimentação 
rica em proteína não mais será transformada em músculo, mas em gordura. A 
multiplicação celular (hiperplasia) e o aumento do tamanho das células (hipertrofia) 
são os fundamentos principais do crescimento. Na Figura 2 está demonstrada, 
resumidamente, a ação hormonal que determina o desenvolvimento do bovino. 
 Desta forma, o animal destinado ao abate deve chegar ao frigorífico pesando 
entre 450 e 500 kg, de acordo com sua maturidade, uma vez que acima desse peso ele 
passará ganhar menos peso e acumular mais gordura na carcaça, conforme já 
informado acima. Isto significa prejuízo para o criador, uma vez que nesta fase o 
animal estará transformando o alimento em gordura e não em músculo. O músculo é 
que será transformado em carne, cujo consumidor vem exigindo com um mínimo de 
gordura, ou seja, carne mais magra. Uma camada de gordura subcutânea é importante 
para garantir a proteção da carne contra o endurecimento pelo resfriamento e um 
mínimo de gordura intramuscular que assegure o melhor sabor. 
 
 
 
 
 As modificações ao longo do crescimento permitem, em muitos casos, ter uma 
idéia de como o animal será no futuro. Os jovens se diferenciam dos adultos pelo 
comprimento dos seus membros, pelo pequeno perímetro torácico e pelo corpo mais 
curto. As modificações durante o crescimento aparecem em ciclos, isto é, há períodos 
de menor e de maior crescimento. A curva de crescimento é maior nos três primeiros 
meses, depois fica mais lenta e é retomada com um ano, com ligeiro retardamento em 
um ano e meio, novamente acelerando até os 2,0 anos (Figura 3). O úmero e o fêmur 
atingem o desenvolvimento completo aos 3,5 anos, enquanto a escápula, o coxal e a 
coluna vertebral continuam até aproximadamente 5,0 anos. 
 A ação hormonal durante o crescimento está descrita de maneira sintética na 
Tabela 1 abaixo. São incluídas várias atividades biológicas exercidas pelo hormônio de 
crescimento no organismo, como a regulação do crescimento propriamente dito, 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 50
função galactopoiética, gliconeogênese, ativação da lipólise, incorporação de 
aminoácidos nas proteínas dos músculos e ativação de processos imunes envolvidos na 
resistência a doenças. Qualquer deficiência ou irregularidade nos órgãos responsáveis 
pela produção hormonal, ou seja, qualquer deficiência terá como resultado problemas 
no desenvolvimento normal do animal, com repercussão na reprodução e na morfologia. 
Portanto, algumas dessas falhas podem ser também identificadas através do exterior. 
 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 51
 Na Tabela 1 estão descritos os principais hormônios, os órgãos responsáveis 
pela produção e suas respectivas ações durante o desenvolvimento de bovinos. 
 
TABELA 1 – Ação hormonal durante o desenvolvimento de bovinos. 
 
HORMÔNIOS LOCAL DE 
PRODUÇÃO 
AÇÃO 
Tiroxina Tireóide Permite a ação do hormônio de 
crescimento (crescimento ósseo e 
produção de GH) 
IGF Fígado Permite a ação de GH no esqueleto 
Insulina Pâncreas Estimulante do crescimento: ingresso de 
aminoácidos e glicose na célula 
Glucocorticóides Córtex adrenal Inibidores do crescimento 
 
Testosterona Testículos Regulação do crescimento: peso, massa 
muscular e liberação de GH 
Estrógenos Ovários Regulação do crescimento: em doses 
baixas estimula o crescimento e a 
produção de IGF. Em doses altas inibe 
Progesterona Ovários Anabólica: fêmeas em gestação 
GH – hormônio de crescimento. IGF – fator de crescimento insulínico. 
 
 
8.2 CURVA DE CRESCIMENTO 
 O desenvolvimento de um animal até atingir o estado adulto é determinado pela 
ossificação dos ossos longos. Pode-se constatar então que um animal ou determinado 
grupo genético tenha um período de tempo maior para atingir a fase adulta e outro 
que alcance esta mesma fase em um tempo bem mais reduzido. No primeiro caso, o 
animal ou grupo genético é considerado tardio e no segundo precoce. O termo 
precocidade é também utilizado para animais que alcançam acabamento para o abate 
mais cedo, isto é, aqueles que acumulam mais cedo certa espessura de gordura 
subcutânea. Pela observação do exterior a precocidade é identificada nos animais que 
apresentam maior profundidade de costelas em relação à altura dos membros e a 
observação de depósitos de gordura (maneios) na virilha, inserção da cauda, maçã do 
peito, paleta e coluna vertebral. Em geral, quanto mais definida a musculatura, menor 
será a gordura subcutânea de acordo com a região, assim como o animal com 
precocidade reprodutiva também possui precocidade de acabamento. As Figuras 4 e 5 
exibem dois gráficos, o primeiro representa a curva de crescimento geral e o segundo 
a curva de crescimento por tipo de tecido. 
 
 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 52
 
 
 
 A curva de crescimento se aplica também ao gado de leite. Uma novilha da raça 
Holandesa pode entrar na reprodução com 350 kg de peso, antes de atingir o peso 
adulto entre 500 a 600 kg. Neste caso, a novilha continuará a ganhar peso para seu 
crescimento normal e para o bezerro que nascerá com cerca de 40 kg em média. 
Portanto, deve ser observada a estrutura, o arcabouço ósseo, a saúde e o estado 
corporal em geral. 
 
8.3 VELOCIDADE DE CRESCIMENTO E PRECOCIDADE 
 O termo velocidade de crescimento está relacionado ao ganho de peso e se 
aplica ao animal que atinge um determinado peso em menor espaço do tempo, mas não 
significa que seja precoce. Conclui-se, então, que todo animal precoce tem velocidade 
de crescimento alta, mas nem todo animal que cresce rapidamente é precoce (Figura 
6). Essa comparação pode ser feita entre animais de diferentes espécies, raças, 
variedade, linhagens e famílias ou dentro destas. Búfalos, por exemplo, têm alta 
velocidade de crescimento, mas não são precoces, pois se tornam adultos mais 
tardiamente quando comparados aos bovinos. 
 Ao considerar animais de portes diferentes (Figuras 7), os de pequeno porte 
tendem a ser mais precoces, enquanto os de grande porte tendem a ser mais tardios. 
Isto quer dizer que ao se consideraranimais com a mesma idade cronológica, os de 
pequeno porte são normalmente mais maduros do que os de grande porte. Nestes 
últimos, o acúmulo de gordura é mais tardia e apresentam maior proporção de 
musculatura na carcaça. Assim, os animais tardios são geralmente mais altos e 
compridos (longilíneos) enquanto os animais baixos e curtos (brevilíneos) são mais 
precoces, pois atingem rapidamente o peso de abate e a maturidade sexual. 
 Outro aspecto é o da maturidade de acabamento, como dito acima, os bovinos 
quando são encaminhados ao abate devem possuir uma espessura de gordura de 
cobertura ou de gordura subcutânea. Quer dizer que se não atingirem tal espessura 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 53
ainda não estarão acabados. Assim também é usado o mesmo termo, mas com outra 
finalidade. Pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Carcaça atual os bovinos devem 
possuir uma espessura de gordura mediana entre 3,0 e 6,0 mm, sendo considerado 
acabado, ou seja, aquele animal que atinge tal espessura mais cedo terá precocidade 
de acabamento. Esta precocidade é correlacionada com a relação entre profundidade 
do peito ou profundidade do tórax, definida como a distância que vai da cernelha em 
sua porção mediana ao externo ou cilhadouro, e a altura do animal. Pode se concluir 
então que os animais brevilíneos têm maior profundidade do peito, portanto maio 
precocidade de acabamento. 
 
 
 
grande porte (tardio) 
Pequeno porte (precoce) 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6 – Desenvolvimento de acordo com a maturidade fisiológica. 
 
 
 
 
 
 
 Mas qual o melhor tipo a ser adotado? Para responder essa pergunta é 
necessário avaliar as condições brasileiras, isto é, o Brasil é um país continental, com 
ampla biodiversidade, diferentes sistemas de produção e mercado consumidor. Por 
 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 54
isso, há espaço para os diferentes tipos de animal, desde que a produção seja 
economicamente viável. 
 
 
 
 
 O comprimento do corpo e a profundidade do peito crescem em proporções 
semelhantes a altura na cernelha, com leve vantagem em favor do comprimento do 
corpo. O tronco se amplia ao longo do crescimento, aumentando em altura, 
comprimento e espessura. 
 
8.4 DIMORFISMO SEXUAL E CASTRAÇÃO 
 Os bovinos apresentam características sexuais primárias, que são os próprios 
órgãos genitais, vulva e úbere na fêmea, prepúcio, verga e testículos no macho, 
enquanto as características sexuais secundárias podem ser observadas pela 
morfologia própria de cada sexo por influência dos hormônios sexuais, a testosterona 
nos machos e o estrógeno nas fêmeas. Portanto, a masculinidade do macho e 
feminilidade da fêmea são fatores que devem ser bem definidos, uma vez que são 
indícios de fertilidade. 
 O macho tem maior porte que a fêmea, sua cabeça é máscula, mais larga e 
curta em relação à cabeça da fêmea que é comprida e mais delicada. O pescoço do 
macho tem musculatura evidente, especialmente no gado taurino que desenvolve o 
congote, ausente na fêmea. No gado Zebu, o cupim é mais desenvolvido que o da 
fêmea; No macho adulto, o trem anterior (frente do animal) desenvolve mais que o 
posterior (traseiro do animal), sendo o inverso na fêmea. A espessura do couro é 
maior no macho e menor na fêmea. Os membros são mais delicados nas fêmeas e as 
cores são mais vivas e escuras nos macho, especialmente, nas extremidades. 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 55
 Com a ausência dos testículos, o macho desenvolve menos o pênis, a próstata e 
as glândulas de Cowper entre outras, enquanto as tetas, que ficam na região inguinal, 
se tornam maiores e engrossadas. A castração provoca mais o crescimento em 
comprimento dos membros pelo alongamento do fêmur e da tíbia. Se a castração for 
praticada logo após o nascimento, a forma da bacia não terá correspondência a do 
macho nem e da fêmea, podendo ser qualificada como neutra. 
 O desenvolvimento corporal prolonga-se até cinco ou seis anos, quando no 
inteiro esse crescimento vai até os 4,5 anos. A altura fica maior, os quartos traseiros 
se desenvolvem mais e a bacia fica mais ampla, o corpo mais curto e engrossado. O 
crânio torna-se alongado e fino, os chifres maiores e finos, a marrafa mais baixa. A 
pele fica mais fina e a musculatura do pescoço bem menos desenvolvida, assim como a 
cor que fica mais clara nesta região, no traseiro e nos membros. O temperamento 
torna-se linfático e a voz com menor potência. Devido à ausência da testosterona, o 
macho acumula mais gordura na carcaça. 
 Em relação à fêmea, esta tende a diminuir de tamanho, ficando parecida com o 
macho castrado. A cabeça alonga-se mais e afina-se, os chifres ficam mais grossos e 
maiores, a lactação prolonga-se. Em suma, o macho castrado ganha algumas 
características de fêmea, assim como as fêmeas castradas ganham algumas 
características de macho. A Figura 8 exibe o desenvolvimento ponderal dos tecidos 
corporais, bem como o aumento da gordura corporal de acordo com a categoria animal. 
 
9 IDADE DOS BOVINOS 
 O animal passa por três fases durante sua vida, a infância e adolescência em 
que cresce e se desenvolve, a idade adulta em que o desenvolvimento se estabiliza e a 
velhice em que perde sua energia vital, conseqüentemente, perde tecido corporal. A 
determinação da idade aproximada de bovinos tem alguns empregos práticos, isto é, 
na fazenda, nos julgamentos de exposições agropecuárias, para definir categorias em 
concursos leiteiros, para classificação da carcaça nos frigoríficos. Mas é preciso ficar 
claro que a melhor forma de se definir a idade de um animal é através do registro de 
nascimento, isto é, através do controle zootécnico. Além disso, a maturidade 
fisiológica tem grande influência na determinação da idade, uma vez que ocorrem 
diferenças entre o nascimento, a troca e o desgaste dos dentes entre animais tardios 
e precoces. 
 Os elementos primários e secundários de exterior são de grande valia, 
entendendo como primários a dentição e os secundários as demais características de 
exterior, conhecidos como órgãos cronométricos. 
 Os olhais, as têmporas, os chifres, a pelagem e a musculatura vão sendo 
modificados a partir do nascimento até a idade adulta. Esses fatores ajudam a 
estimar a idade do animal, mas com baixa precisão. Os chifres aparecem no primeiro 
mês de vida e são fixados aos seis meses, uma vez que até esta idade são móveis, 
opacos e rugosos e crescem entre 1,0 e 1,5 cm por mês de acordo com o tamanho o 
grupo genético em estudo. No terceiro ano de vida, um anel ou sulco (Figura 9) 
aparece nos chifres e mais um a cada ano consecutivo. Portanto, um animal com cinco 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 56
anos terá três anéis e outro com sete anos terá cinco sulcos em cada chifre. Muitas 
vezes a distinção dos anéis não é precisa porque é bastante dependente da 
maturidade e do ambiente que o animal viveu. 
 Os elementos primários são os dentes, que em bovinos são classificados como 
heterodontes incompletos, isto é, os bovinos têm molares e incisivos, mas os caninos 
estão ausentes (Figura 10). São também difiodontes porque têm duas dentições, uma 
temporária e outra definitiva ou permanente. São sinônimos de dentes temporários, 
dentes provisórios, dentes de leite, dentes caducos e dentes decíduos. Portanto, são 
duas fórmulas dentárias, a dos dentes temporários (0/4 I + 0/0 C + 3/3 PM + 0/0 M) 
= 20, e a dos dentes definitivos (0/4 I + 0/0 C + 3/3 PM + 3/3 M) = 32. Isto quer 
dizer que os bovinos não têm incisivos superiores, devidamente substituídos por um 
espessamento da mucosa ou do forro ou céu da boca. 
 
 
 
 Os dentes têm um ciclo de vida, eles nascem, crescem, se desgastam, diminuem 
de tamanho e caem, seguindo a seguinte ordem. Dos oito dentes incisivos, as pinças (1º 
par central) nascem em primeiro lugar, depois os primeiros médios (2º par),os 
segundos médios (3º par) e por fim os cantos (4º par). A queda desses dentes também 
se dá na mesma ordem. 
 O dente possui uma camada superior chamada esmalte, uma segunda camada 
chamada de dentina ou marfim de cor amarelada e revestida pelo esmalte. Cimento é 
uma parte que reveste a raiz do dente e a polpa é o local que penetra os vasos 
sangüíneos e nervos. A face labial e convexa e a face lingual e côncava, mas apresenta 
uma pequena elevação denominada avale, limitada por dois sulcos. Quando o desgaste 
atinge esta saliência, diz-se que o dente está rasado (desgaste em forma sinuosa na 
face lingual – Figura 11) e quando o avale desaparece, formando uma mesa com 
aparecimento da estrela radial, diz-se que o dente está nivelado. 
 O primeiro período é o da erupção dos caducos: pinças e primeiros médios 
aparecem com 8 dias após o nascimento, os segundos médios com 20 dias e os 
extremos com 30 dias. O crescimento dos cantos se completa com seis meses estando 
finalizada a dentição de leite. 
 O segundo período é caracterizado pelo rasamento dos dentes caducos: pinças 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 57
e primeiros médios são rasados entre cinco e seis meses, os segundos médios entre 
seis a sete meses e os cantos ou extremos entre sete a 9 meses. 
 No terceiro período ocorre o nivelamento da primeira dentição: pinças aos 10 
meses, primeiros médios aos 12 meses, segundos médios aos 16 meses e os cantos aos 
18 meses de idade. 
 O quarto período se inicia aos 18 meses e vai até os 6,0 anos de idade e 
caracteriza-se pela muda dos dentes temporários pelos definitivos. 
 A queda das pinças caducas acontece entre 18 e 20 meses e as pinças 
definitivas apresentam um crescimento completo aos 2,0 anos. A queda dos primeiros 
médios temporários ocorre aos 2,5 anos e o crescimento completo dos definitivos aos 
3,0 anos. A queda dos segundos médios temporários acontece aos 3,5 anos e o 
crescimento completo dos permanentes se dá aos 4,0 anos. A queda dos cantos 
caducos ocorre aos 4,5 anos e os definitivos nascem logo após, estando crescidos 
entre o quinto e sexto ano de vida. 
 No caso dos zebuínos, as pinças são substituídas em torno de 28,2 meses, os 
primeiros médios aos 35,4, os segundos médios aos 41,9 meses e os cantos aos 50,8 
meses. Portanto, os zebus iniciam a muda com atraso, mas se recuperam em seguida. 
 No quinto período é caracterizado pelo rasamento e nivelamento dos 
definitivos. O rasamento das pinças se dá aos 6,0 anos e o nivelamento aos 7,0 anos. O 
nivelamento dos primeiros médios se dá aos 8,0 anos, dos segundos médios aos 9,0 
anos e dos cantos aos 10,0 anos (Figura 12). 
 Na última fase os dentes diminuem de tamanho, afastam-se entre si e 
apresentam um formado arredondado após os 12,0 anos e depois ocorre a queda. 
Também com os bovinos podem ocorrer mau formações e ausência de dentes. 
 
10 TIPOLOGIA 
 O tipo é definido como o conjunto das características fisiológicas, econômicas 
e morfológicas semelhantes. É o somatório dos caracteres morfológicos externos que 
indicam a função predominante exercida pelo animal ou ainda, é a conformação 
correlacionada com a função zootécnica ou produtiva. É a forma ou estrutura do corpo 
de um animal que deve permitir seu melhor desempenho no sentido de uma função 
específica. 
 A forma e a função desempenhada pelo indivíduo são os elementos básicos para 
o julgamento de um animal, tendo por base o exterior. O tipo então pode ser resumido 
na fórmula TIPO = FORMA + FUNÇÃO PRODUTIVA. Portanto, animais com 
predisposição a adquirir musculatura é do tipo corte, enquanto aqueles sem 
capacidade de deposição de músculo ou é enxuto ou descarnado é do tipo leite. Um 
animal intermediário entre os dois tipos é de aptidão mista. 
 
10.1 CARACTERES INDICATIVOS DO BOVINO DE CORTE 
 O gado de corte como animal produtor de carne deve possuir conformação 
adequada com boa saúde e temperamento. A cabeça deve ser leve e denotar ossatura 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 58
fina, costelas compridas, oblíquas e arqueadas (Figura 14). A pele deve ser fina, 
macia, elástica e bastante flexível a fim de facilitar a engorda. Os animais criados a 
campo têm pele mais espessa em relação aos confinados. Os pêlos devem ser curtos, 
finos, macios e luzidios. Em geral devem possuir grandes depósitos de músculo, sobre 
as paletas, dorso, lombo, garupa, coxas e nádegas. Animais mais musculosos com boa 
distribuição pelo corpo pesam mais e ainda apresentam maior rendimento e qualidade 
da carcaça. 
 
 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 59
 
 
 
 
 
 
 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 60
10.2 GADO DE CORTE TRADICIONAL E MODERNO 
 Até meados do século passado as condições de vida no Brasil eram bastante 
diferentes de hoje, até a década de 50 mais da metade da população se encontrava no 
meio rural. Nesse período, a gordura animal era utilizada na alimentação e, 
praticamente, em todo o mundo havia um tipo de bovino que produzia carne e gordura, 
gado taurino proveniente da Europa (Figura 13). 
 O gado de corte era conduzido para ser um animal muito profundo, largo, 
uniforme e compacto. A cabeça, os membros e as espáduas mostravam refinamento. 
Aspectos como espessura, firmeza, regularidade na cobertura de gordura entre uma 
grande quantidade de musculatura natural do corpo marcavam este tipo de gado. O 
corpo apresentava uma forma retangular ou cilíndrica com muita largura e 
profundidade, com as linhas superior e inferior retas. Os animais eram compactos ou 
brevilíneos com pernas curtas e muito cheias, largos e profundos, com grande 
equilíbrio entre o trem anterior e posterior. O pescoço curto, harmonizando-se com 
as espáduas em uma só linha. Havia a necessidade de distância entre as pernas, com 
peito largo e profundo, bem como a caixa torácica. 
 A carcaça deste animal era muito rica em gordura de cobertura, Em gordura 
interna, gordura entre músculos e marmoreio. Basicamente, as raças britânicas eram 
os melhores representantes do tipo tradicional. Resumindo, o tradicional, clássico ou 
convencional novilho de corte tinha as seguintes características: formas corporais 
compactas (corpo em forma de paralelepípedo, simétrico, equilíbrio entre anterior e 
posterior, esqueleto relativamente reduzido, linhas corporais paralelas e maneios 
evidentes), extremidades reduzidas (cabeça, pescoço e membros), grande capacidade 
torácica e digestiva (peito amplo e cheio, tórax largo e profundo, costelas longas, 
perímetro torácico amplo, ventre desenvolvido, largo e profundo), aparência geral 
atraente e vigorosa (conformação própria, temperamento, vigor, saúde, masculinidade 
e feminilidade). 
 Mas o óleo de soja veio revolucionar a alimentação e a gordura animal deixou 
de ser uma prioridade na cozinha. Ninguém mais quer consumir gordura, muito menos 
saturada, que é a produzida pelos ruminantes. Os hábitos alimentares mudaram 
radicalmente e o gosto do consumidor evoluiu para o desejo de uma carne magra e 
saborosa sem excesso de gordura, inclusive para prevenir doenças cardiovasculares. E 
assim nasce o moderno novilho de corte com características bastante diferentes do 
tradicional. 
 Este animal visto de frente apresenta pontas das espáduas afastadas, 
desenvolvidas e cheias de músculos, aprumos corretos, peito largo, sem excesso de 
gordura, boa distância entre os membros anteriores e posteriores. No animal visto de 
perfil (Figura 14), o pescoço é curto e forte, inserido harmoniosamente nas paletas, o 
peito com pouca gordura. Os membros são mais longos e os músculos do braço bem 
desenvolvidos, a linha superior reta, comprida, larga e musculosa. As ancas são largas 
com espessa cobertura de carne, as costelas bem compridas, oblíquas e bem 
arqueadas, com boa profundidade, tórax e abdômen bem desenvolvido e bom 
comprimento do corpo de extremo a extremo. A forma cilíndricado corpo tem um 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 61
leve desequilíbrio com posterior mais desenvolvido que o anterior, considerando que 
as carnes de primeira estão no traseiro, cuja coxa denota grande musculosidade. 
 No animal visto de trás apresenta grande desenvolvimento dos quartos 
traseiros que são largos, profundos (nádegas bem descidas), cheios e musculosos. A 
largura deve ser a mesma das paletas até os quartos. As ancas no horizontal de 
extremo a extremo, a bolsa escrotal sem gordura, as pernas aprumadas e bem 
separadas. O que interessa na conformação é a musculatura, devendo-se dar 
importância às características como largura entre as pontas das espáduas, largura e 
forma do garrote, largura e forma do dorso, lombo e garupa, trem posterior bem 
desenvolvido, musculoso e cheio. Os reprodutores abaixo representam desde a 
tipologia do passado até os nossos dias. 
 Em suma, deve-se valorizar animais volumosos e de rápida velocidade de 
crescimento com carcaça de qualidade, ou seja, animais possuidores de carnes magras 
(músculos), compridos e com os quartos posteriores volumosos, largos e profundos, 
com nádegas volumosas, arredondadas e descidas, esqueleto bem estruturado e 
robusto, membros com aprumos corretos e cascos resistentes e firmes. 
 Em resumo, o gado de corte moderno (Figura 14) pode ser assim descrito: 
formas corporais alongadas (corpo em forma de barril, ligeiro desequilíbrio entre 
dianteiro e traseiro, grande desenvolvimento de massas musculares em regiões 
distintas, sem evidência de maneios, linhas corporais não planas, isto é perfil corporal 
convexo, extremidades mais alongadas (pescoço e membros mais compridos), maior 
comprimento do corpo (talhe mais alto), grande capacidade torácica e digestiva (peito 
amplo e cheio, com menos altura do tórax, costelas curtas, porém, bem arqueadas, 
corpo em forma de pêra, quando visto de cima, aparência geral atraente e vigorosa.). 
 Os animais hipertróficos ou de musculatura dupla (animal à direita da Figura 
14) são aqueles que apresentam sulcos nas regiões da espádua, do lombo e da perna 
com perfil corporal extremamente convexo, cujos limites e contornos ficam bem 
visíveis. Esses animais têm alto rendimento de carcaça e porcentagem mínima de osso 
e gordura, alta rendimento de cortes nobres. A hipertrofia muscular é provocada por 
um gene parcialmente recessivo, presente no lócus 2, o chamado de GDF-8 (Growth 
Differentiation Factor 8) ou mh ou simplesmente, miostatina, originário de uma 
mutação gênica. Este gene inativa a miostatina, que é um inibidor do crescimento 
muscular, provocando a hipertrofia muscular. Esta característica não está presente 
em todas as raças, isto é, existem raças com maior freqüência deste gene, são as 
raças continentais como nas raças Belgian Blue, Piemontês, Limousin e outras. 
Entretanto, apenas uma parte dos indivíduos destas raças tem hipertrofia muscular. É 
praticamente inexistente nas raças zebuínas e bubalinas e de baixa freqüência nas 
raças britânicas. 
 
 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 62
 
 
 
 Os animais com hipertrofia muscular são bem mais exigentes e devem ser 
utilizados em sistemas intensivos como o confinamento ou semi-confinamento, 
considerando que nas condições de pastagens tropicais sem suplementação serão 
ineficientes e não poderão ser comparados aos zebuínos. Daí a possibilidade de serem 
utilizados nos cruzamentos com gado zebu e outros grupos genéticos melhor 
adaptados. Além do problema de adaptabilidade, esses animais ainda trazem algumas 
deficiências como testículos pequenos e acabamento deficiente, embora, tudo isso 
possa ser corrigido também através da seleção. 
 
 
 
 
 
 Na Tabela 2 estão expostos os valores comparativos entre a carcaça de de 
tipologia tradicional e moderna obtidos por Felício (1987). Praticamente, os valores 
para peso de abate, peso da carcaça e rendimento de carcaça foram semelhantes 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 63
entre os dois tipos. Entretanto, verifica-se que a área do olho do lombo ou área do 
músculo longissimus dorsi e a espessura de gordura de cobertura ou subcutânea 
foram diferentes. Esses valores são associados ao quantidade de músculo e de 
gordura, concluindo-se que o moderno novilho de corte apresenta maior proporção de 
carne e menos de gordura na carcaça. Portanto, a carcaça do longilíneo tem maior 
qualidade, identificado com a maior proporção de cortes comercializáveis. 
 
 
TABELA 2 – Peso vivo e carcterísticas de carcaça dos tipos compacto e longilíneo em 
zebuínos e corte. 
 
TIPO Peso vivo 
Kg 
Peso da 
carcaça 
Rendimento 
% 
Área do 
olho do 
lombo 
Espessura 
de gordura 
subcutânea 
Compacto 515 299 63,2 64,5 5 
Longilíneo 508 303 64,9 85,8 3 
 
 
10.3 MANEIOS 
 As gorduras localizadas no corpo do animal ajudam a avaliar se um animal está 
magro ou muito gordo, indicando o momento de modificar o tipo de alimentação ou até 
o manejo (Figura 15). Sabe-se ainda que um animal muito gordo pode ter problemas 
reprodutivos. Os maneios são determinados pela palpação local, isto é, utilizando os 
dedos para se avaliar o grau de acúmulo de gordura em cada região do corpo. 
 Maneios são definidos como formações de gordura localizadas na superfície 
corporal que atestam o estado de engorda de bovinos. De acordo com a localização 
eles têm denominações próprias. Bordos ou cimeiros se situam entre a base da cauda 
e a ponta da nádega, cordão ou entre nádegas ficam na região posterior e central da 
nádega ao longo do períneo, escroto localiza-se no saco ou bolsa escrotal, gordinho na 
dobra da pele que liga a coxa ao abdômen, ante leite situa-se adiante do úbere, flanco 
no centro do flanco propriamente dito, anca situa-se na ponta da anca, lombeiro fica 
na região sub-lombar nas apófises transversais das vértebras lombares, costelas no 
costado nos espaços existentes entre as costelas, paleta fica no ângulo dorsal das 
espáduas, coração um pouco atrás das espáduas, entre a paleta e o contra-coração, 
contra-coração fica entre os bordos inferior e posterior da espádua e a costela, peito 
na ponta exterior do esterno, orelha fica na base da orelha, baixo língua na região 
intermaxilar. 
 Maneios como peito, paleta, costelas, gordinho e cimeiro aparecem no início da 
engorda, enquanto escroto, entre nádegas e orelhas aparecem no final da engorda, 
ajudando a definir o momento de se conduzir os animais para o frigorífico. 
 Os maneios também têm alguns significados. Paleta, coleira, costela, contra-
coração e peito indicam gordura de cobertura, anca, coração e lombeiro indicam 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 64
gordura entremeada, enquanto baixo-língua, escroto, entre-nádegas, gordinho e ante-
leite indicam gordura na forma de sebo. 
 
 
 
 
10.4 HPERTROFIA MUSCULAR ou MUSCULATURA DUPLA 
 A musculatura se desenvolve exageradamente e o animal apresenta um perfil 
corporal convexo, de modo que os músculos externos com seus limites são bastante 
evidentes pelo exterior, especialmente, na região do traseiro, dorso, lombo e 
espáduas. Os principais sulcos externos ocorrem entre os músculos bíceps femoris e 
semitendinosus e entre o bíceps femoris e vastus lateralis. 
 A chamada síndrome da musculatura dupla é uma designação imprópria, uma 
vez que não existe duplicação e sim um desenvolvimento exacerbado dos músculos, 
caracterizado pela hipertrofia e hiperplasia das fibras musculares, isto é, aumento do 
tamanho e da quantidade de células. A hipertrofia muscular não ocorre apenas em 
bovinos, já sendo descrita em suínos, ovinos, aves, peixes e roedores. 
 O reconhecimento de bovinos com dupla musculatura é baseado em avaliação 
subjetiva (visual) da característica (grau de hipertrofia muscular), presença de sulcos 
intermusculares a outras características externas associadas à síndrome como a 
inclinaçãopélvica e o aparente alto ponto de inserção da cauda. 
 
 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 65
RAÇAS 
 Embora existam algumas raças mais afetadas, nem todos os indivíduos dessas 
mesmas raças apresentam hipertrofia, variando a frequência da característica. As 
raças com maior frequência de hipertrofia muscular são as taurinas continentais como 
a Belgian blue (principal raça hipertrófica), Piemontesa, Asturiana de Los Valles, 
Maine Anjou, Charolesa, Limousin Parthenaise, Rubea Gallega, Marchigiana, Blonde 
d'Aquitane entre elas. A característica já foi descrita também nas raças britânicas 
Herford, Angus, Shorthorn e Ayrshire. Nas raças zebuínas não há relatos de 
hipertrofia muscular em animais puros, mas há grupos de pesquisa com a idéia de 
introduzir o gene nessas raças. Assim, programas de seleção auxiliados por 
marcadores genéticos, permite a identificação de indivíduos portadores e 
homozigotos para a mutação. No levantamento realizado por Teixeira e Oliveira 
(2007) ficou demonstrado que a frequência do genótipo para musculatura dupla da 
raça Marchigiana no Brasil é de 6,9 %. 
 
GENÉTICA 
 A hipertrofia é promovida por um gen autossômico, ou seja, é o gen da 
miostatina modificado por mutação, que se localiza no cromossomo 2 (BTA 2) chamado 
locus mh. O gen da miostatina é também denominado Fator de crescimento TGF-β 
(Transcription Growing Factor Beta) ou Fator de Crescimento Beta Miostatina ou 
GDF-8 (Growth Differentiation Factor 8). A presença deste gen promove a regulação 
negativa do crescimento muscular esquelético, isto é, não permite o desenvolvimento 
muscular continuado. Mas se este gen estiver alterado ou modificado por mutação, o 
desenvolvimento muscular exagerado se processa e promove a síndrome da 
musculatura dupla. O gen é "parcialmente recessivo", pois quando apenas uma cópia do 
gene está presente há algum efeito na expressão da característica. No entanto, para 
a expressão completa do fenótipo musculatura dupla, o animal deve ser homozigoto, 
ou seja, possuir dois genes mh mutantes. 
 
VANTAGENS 
 As vantagens da hipertrofia só têm sentido na exploração para carne, uma vez 
que promove nos animais maior conversão alimentar, maior rendimento de cortes 
nobres e menor proporção de osso e gordura na carcaça, bem como maior rendimento 
em músculos (cerca de 20% a mais), menor proporção de gordura separável, 
subcutânea, inter e intramuscular e menor porcentagem de colágeno na carne. Menor 
teor de colágeno (tecido conjuntivo) promove maior maciez à carne. Enfim, há uma 
maior proporção de cortes de carne comercializáveis. A carne dos animais 
hipertróficos é mais magra e mais clara, esta última característica é por ter maior 
teor de fibras brancas e menor de mioglobina. 
 Conforme exposto na Tabela 3 (levantamento elaborado por Teixeira et al., 
2006b), observa-se que os gens modificados estão presentes em algumas raças, mas 
com descrição diferente em cada uma delas para promoção da hipertrofia muscular. 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 66
TABELA 3 – Descrição das mutações que caracterizam a musculatura dupla em 
diversas raças de bovinos. 
 
DESCRIÇÃO TIPO RAÇA AFETADA REFERÊNCIA 
Deleção de 11 pb no 
exon 3 
Stop codon 
prematuro 
Belgian Blue 
Piemontês e outras 
Grobet et al., 1997 
McPherron e Lee, 
1997 
Inserção/deleção 
de 7 pb na posição 
419 
Stop codon 
prematuro 
Maine Anjou Karim et al., 2000 
Trasição C®T na 
posição 610 
Sem sentido 
Terminação 
prematura 
Limousin e Charolês Antoniou e Grosz, 
1999 
Transversão G®T na 
posição 676 
Sem sentido 
Terminação 
prematura 
Maine Anjou e 
Parthenaise 
Karim et al., 2000 
Trasição G®A na 
posição 938 
Substituição de 
cisteína por tirosina 
Piemontês e 
Gasconne 
Grobet et al., 1997 
Fahrenkrug et al., 
1999 
Transversão G®T na 
posição 874 
Stop codon no 
domínio 
C-terminal bioativo 
Marchigiana Cappucio et al., 
1998 
Marchitelli et al., 
2003 
 
 
 Na Tabela 4 estão os valores para características da carcaça de bovinos da 
raça Marchigiana normais e com musculatura dupla, bem como o fenótipo dos animais 
da raça Marchigiana com musculatura dupla (TEIXEIRA e OLIVEIRA, 2007), ficando 
claro o maior rendimento de carcaça e o maior rendimento de cortes nobres, 
ratificados pela maior proporção de músculos, menor proporção de gordura e maior 
área de olho de lombo, nos animais hipertróficos. Nas Figuras 14, 16, 17 e 18 estão 
expostos exemplares com musculatura dupla com expressivo desenvolvimento 
mescular, animais convexos e com sulcos divisores dos músculos nítidos. 
 
 
 
 
 
 
 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 67
TABELA 4 – Características de interesse conforme tipo de acasalamento para o 
fenótipo de musculatura dupla na raça Marchigiana 
 
CRUZA RENDIM. 
DA 
CARCAÇA 
(%) 
CORTES 
NOBRES 
(%) 
GORDURA 
(%) 
MÚSCULO 
(%) 
ÁREA DO 
OLHO DO 
LOMBO 
(cm2) 
DM x DM 63,2 61,3 22,8 61,6 90,5 
DM x N 60,2 60,3 28,0 57,4 92,1 
N x N 59,8 58,5 32,1 52,4 83,5 
DM x DM – pai e mãe com fenótipo para musculatura dupla. 
DM x N – pai com fenótipo para musculatura dupla e mãe com fenótipo normal. 
N x N – pai e mãe com fenótipo normal. 
 
 
 
FIGURA 16 – Animais da raça Marchigiana com fenótipo de musculatura dupla 
(Teixeira e Oliveira, 2007) 
 
 
CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS À HIPERTROFIA 
 A musculatura dupla esta associada ou tem correlação positiva com vários 
fatores físicos, fisiológicos e histológicas (Tabela 5) como adelgaçamento dos ossos 
do traseiro, alta frequência de animais com subdesenvolvimento da genitália externa 
(órgãos genitais infantilizados) e consequentemente redução da fertilidade, aumento 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 68
da língua em bezerros recém-nascidos e menor tolerância ao estresse. Há também 
menor viabilidade do bezerro, menor produção de leite da mãe, comportamento sexual 
pobre, isto é, menor libido. As dificuldades no parto (distocia) também ocorrem e são 
provocadas pelo estreitamento da abertura pélvica associado ao peso maior do 
bezerro ao nascer. Com a hipertrofia dos músculos da coxa, aumenta a largura do 
bezerro, especialmente na região dos trocanters (Figura 19), produzindo muita 
dificuldade no parto. 
 
 
 
FIGURA 17 – Bovino com hipertrofia da raça Belgian Blue. 
 
 
 
 
 
FIGURA 18 – Bovino hipertrófico da raça Piemontês. 
 
Exterior e raças de bovinos e bubalinos 
 69
CRESCIMENTO E MANEJO 
 Bovinos de musculatura dupla têm peso ao nascimento 30% superior aos 
bovinos normais com alta taxa de crescimento até o período de pré-desmama, 
podendo apresentar crescimento inferior após a desmama. Uma menor ingestão de 
nutrientes devido ao menor tamanho do trato digestivo no período pode ser a causa 
do menor crescimento na pós-desmama. A hipótese da menor ingestão de alimentos é 
devido à redução no tamanho do trato digestivo. Assim, os bovinos hipertróficos 
expressam maior potencial de crescimento com rações ricas em concentrado e 
tendem a se adaptar menos facilmente a mudanças na ração e a condição de restrição 
alimentar. 
 A superioridade das carcaças dos animais de musculatura dupla tem aumentado 
a participação deste tipo de animal em cruzamentos, cujos machos de musculatura 
dupla são cruzados com fêmeas normais e toda progênie destinada ao abate 
(cruzamento terminal). Essa prática tem resultado em melhor rendimento e qualidade 
da carcaça. De qualquer modo, animais de musculatura dupla têm menor habilidade de 
adaptação às condições de manejo extensivo do rebanho que bovinos normais, 
especialmente no clima tropical. 
 
 
FIGURA 19 – Bezerros com musculatura dupla 
 
 
 
 
 
 
 
Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 
 70
TABELA 5 – Características associadas à hipertrofia muscular.CARACTERÍSTICAS IDADE MÁXIMA DE EXPRESSIVIDADE 
Macroglossia (língua hipertrófica) Do nascimento até três semanas 
Hipertrofia da espádua Três meses a um ano 
Compacidade geral (espádua -anca) Toda vida 
Largura do corpo Toda vida 
Aprumos particulares Toda vida 
Retração do ventre (ventre de galgo) Três meses a um ano 
Inclinação da garupa Toda vida 
Cauda acessória Toda vida 
Hipertrofia da coxa Três meses a um ano 
Presença de sulcos Três meses a um ano 
Ossos mais finos Toda vida

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