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1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS FLORESTAIS Ronald Zanetti 1 Alexandre dos Santos 2 Nívia da Silva Dias 3 Alan Souza-Silva 3 Geraldo Andrade Carvalho 1 1. INTRODUÇÃO A Entomologia Florestal é um ramo da ciência florestal que trata do estudo dos insetos associados às árvores e seus produtos, buscando reduzir as perdas na qualidade e quantidade do fim a que se destinam, sem prejudicar o ambiente. Para isso, é necessário saber como detectar, identificar e quantificar as populações de insetos-praga florestais, determinar a importância dos danos causados por eles, analisar as causas dos surtos e planejar e aplicar os princípios e técnicas para a proteção de florestas e seus produtos, dentro dos princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O MIP é uma filosofia de controle de pragas que procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas as técnicas de combate possíveis, selecionadas com base em parâmetros econômicos, ecológicos e sociológicos, buscando manter a população dessas pragas abaixo do nível de dano econômico. Atualmente, essa filosofia é fundamental para o setor florestal, pois as companhias florestais passaram a implantar programas de qualidade total, buscando melhorar sua eficiência e competitividade, por imposição do mercado internacional, que exige certificação florestal dos tipos Cerflor, ISO, SFC entre outras, para atestar a qualidade técnica, ecológica e social das empresas, como pré-requisito para a aquisição de seus produtos. Com isso, houve a necessidade de se reestruturar, também, o controle de pragas florestais, que ainda utiliza grande quantidade de inseticidas e de mão-de-obra, correndo riscos de contaminação humana e ambiental. 1 Professor do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras, Caixa Postal 37, CEP 37200-000, Lavras, MG. E-mail: zanetti@ufla.br 2 Aluno de graduação em Engenharia Florestal da UFLA. 3 Alunos de Pós-graduação do Departamento de Entomologia da UFLA. 2 2. HISTÓRIA DA ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO MUNDO A Entomologia Florestal surgiu como ciência juntamente com os estudos de Silvicultura, provavelmente, no século XVII, na Europa Central. Os primeiros estudos e publicações sobre o assunto iniciaram-se na Alemanha, impulsionados pelos constantes surtos de insetos que destruíam grandes áreas de florestas, importante matéria-prima usada para a produção de energia, construção etc. Os estudos iniciais eram fruto de esforços individuais e quase sempre sem apoio institucional. Isso começou a mudar em 1830 com a criação da Escola de Florestas de Eberswalde, na Alemanha (primeira escola de florestas do mundo), tendo como titular da cadeira de entomologia o professor Julius Theodor Christian Ratzeburg (pai da entomologia florestal). A partir daí, diversos pesquisadores surgiram na Europa e em diversos países de outros continentes, que contribuíram para enriquecer os conhecimentos sobre Entomologia Florestal (Tabela 1). TABELA 1. Acontecimentos marcantes na história da Entomologia Florestal no mundo. Data Acontecimento Século XVII Criação da Silvicultura na Europa Central Século XVIII Surgimento de grandes surtos de pragas florestais 1752 Publicação dos primeiros livros sobre pragas florestais. Shaffer publica estudos sobre a ocorrência da lagarta Lymanthria dispar (Lepidoptera: ) 1772 Ocorrência de grandes surtos do escolitídeo Ipis typographus (Coleoptera: Scolytidae) na Alemanha 1782 Criação dos primeiros laboratórios de entomologia florestal na Alemanha 1830 Criação da Escola de Florestas de Eberswalde na Alemanha 1837 Ratzeburg publica estudos sobre insetos associados a florestas 1871 Morte de Ratzeburg (pai da entomologia florestal) Séc. XIX Surgem os primeiros estudos sobre pragas florestais nos EUA. Hopkins publica estudos sobre ataque de besouros da casca Dendroctonus frontalis (Coleoptera: Scolytidae) 1939 Uso de DDT como inseticida 1947 Identificado o primeiro caso de resistência ao DDT 1962 Rachel Carson: publicação do livro “Primavera silenciosa” 1967 Surgem os primeiros conceitos de MIP 1970 a 1980 Proibição do DDT em vários países Década 1980 Implantação de programas de MIP em diversos países 3 3. HISTÓRIA DA ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO BRASIL A entomologia florestal brasileira surgiu com a criação da silvicultura brasileira, que teve início no século XIX com a implantação da Floresta Nacional da Tijuca, por ordem do império. A partir daí, diversos pesquisadores surgiram no Brasil e contribuíram para enriquecer os conhecimentos sobre a Entomologia Florestal Brasileira (Tabela 2). Os primeiros estudos foram dedicados ao registro de insetos que atacavam essências florestais, principalmente as formigas cortadeiras. A implantação do eucalipto no Brasil em 1904 deu grande impulso aos estudos sobre a entomologia florestal, pois essa essência, juntamente com o Pinus, foi cultivada em larga escala, principalmente nas décadas de 60 e 70, necessitando de investimentos em pesquisa para o controle de suas pragas. Nesse contexto surgiram diversas escolas de floresta no país, que tinham na cadeira de entomologia florestal a responsabilidade de conduzir tais pesquisas. Com o fim dos incentivos fiscais ao reflorestamento, a partir de 1988, o setor florestal foi influenciado pelos movimentos ecológicos e sociais, além de mudanças econômicas profundas em nível internacional e nacional, levando à reestruturação do setor, inclusive da entomologia florestal. As empresas reduziram grandemente os investimentos em pesquisa e passaram a implantar programas de qualidade total, na busca de certificação de seus produtos. O caminho da pesquisa sobre entomologia florestal aponta para estudos sobre levantamento e flutuação populacional e métodos de controle sem o uso de produtos químicos, mostrando a tendência atual de se conhecerem os insetos associados às florestas e sua interação com o ambiente. Essa tendência é fruto das exigências do mercado internacional de produtos florestais, o qual obriga as empresas a conhecer o ecossistema onde atuam, buscando reduzir impactos ambientais decorrentes da atividade, inclusive com respeito ao controle químico de pragas. 4 TABELA 2. Acontecimentos marcantes na história da Entomologia Florestal no Brasil. Data Acontecimento Século XIX Criação da Silvicultura Brasileira com a implantação da Floresta Nacional da Tijuca 1893 Forel publica “A fauna de formigas do Brasil” 1896 Dafert publica estudos sobre controle de formigas cortadeiras 1904 Hempel publica “Novo método de combate à saúva (Atta sexdens) e outras formigas nocivas às plantas” 1904 Introdução do eucalipto no Brasil por Navarro de Andrade 1909 Navarro de Andrade publica “Os insetos nocivos do Eucalyptus“ Década 1920 Surgem diversos estudos sobre levantamento de insetos associados a essências florestais: eucalipto (Navarro de Andrade); seringueira (Da Mata); palmáceas (Bondar); entre outros. 1941 Silva e Almeida publicam “Entomologia Florestal: contribuição ao estudo das coleobrocas” Década 1940 Descoberta dos inseticidas clorados e uso no controle de pragas florestais Década. 1950- 60 São publicados diversos estudos com saúva: biologia (Autuori entre 1950 a 1955 e Mariconi entre 1960 e 1961); taxonomia e distribuição (Gonçalves entre 1951 e 1955); controle (Vanetti entre 1957 e 1961 e Santana entre 1951 e 1952), entre outros. 1960 Criação da primeira escola de florestas do país (Escola Nacional de Florestas) 1963 Vanetti publica “Pragas de essências florestais” 1964 Iníciodos incentivos fiscais ao reflorestamento no Brasil Década 1970 Expansão das escolas de florestas e dos reflorestamentos 1988 Fim dos incentivos fiscais aos reflorestamentos Década 1990 Início dos programas de MIP e de certificação florestal e reestruturação das empresas 4. ATUALIDADES EM ENTOMOLOGIA FLORESTAL A entomologia florestal está diretamente relacionada a todas as áreas da Engenharia Florestal, pois os insetos são componentes fundamentais do ecossistema e podem contribuir para o desenvolvimento das florestas e para a sua destruição. Portanto, toda vez que se deseja manejar um sistema florestal, para a 5 obtenção de algum produto deste, devem-se manejar, também, os insetos. Dai a importância da entomologia florestal para o setor florestal em todos as suas áreas de atuação, como: Ecologia Florestal - relacionado ao papel dos insetos na manutenção do equilíbrio ecológico da floresta e suas interações com outros animais. Atualmente, o conhecimento da relação entre as florestas e seus organismos associados é fundamental para o setor florestal, pois o mercado internacional de produtos florestais obriga as empresas produtoras a conhecer o ecossistema onde atuam, na busca da redução dos impactos ambientais decorrentes da atividade, inclusive com respeito aos impactos do controle químico de pragas. O uso de insetos como bioindicadores de qualidade ambiental em reflorestamentos é outra linha de pesquisa recente. Inventário Florestal - os insetos podem alterar estimativas de produção florestal. Uma preocupação atual da pesquisa entomológica florestal é quanto aos impactos que os insetos causam às árvores e seus produtos. Cada vez mais se busca determinar a quantidade de redução da produção de madeira provocada por uma população de determinado inseto-praga, para que se possa determinar o NDE dessa praga. Patologia Florestal - os insetos podem transmitir doenças às plantas. O patologista florestal deve-se preocupar com os insetos que transmitem doenças às plantas e procurar combatê-los em vez da própria doença. Os broqueadores são conhecidos agentes disseminadores de doenças, pois perfuram a planta, abrindo porta de entrada para microorganismos ou mesmo introduzindo-os propositadamente, como fazem os cultivadores de fungos (besouros ambrósia e vespa-da-madeira). Melhoramento Florestal - relacionado ao estudo de resistência de plantas contra insetos. O grande objetivo de todo melhorista florestal é desenvolver uma planta capaz de manter alta produção de madeira nos mais variados tipos de condições e ser capaz de resistir a pragas e doenças. Atualmente, a clonagem é regra na produção florestal. Esse avanço tecnológico teve grande participação dos melhoristas florestais; entretanto, existe uma grande preocupação do setor quanto à limitação de variabilidade genética dos plantios existentes, que é considerada o ponto frágil contra o aparecimento de alguma praga ou doença que venham a dizimar tais plantios. Portanto, a inclusão de resistência contra insetos nas 6 plantas melhoradas e a variação da carga genética dos clones têm sido aprimoradas nos últimos anos. Economia Florestal - os insetos podem alterar metas administrativas ou os custos de produção da floresta. Essa relação é muito clara, pois os insetos demandam grandes somas de recursos para seu controle. O aparecimento de surtos de pragas, embora previstos pelas avaliações econômicas de cada empreendimento, compromete os custos de produção florestal. Silvicultura – está relacionada às técnicas silviculturais usadas na prevenção e controle de insetos. Esse setor é o que mais tem contato com os insetos, pois é encarregado de combatê-los. Atualmente, procura-se reduzir ao máximo as intervenções químicas de controle de pragas em florestas com o uso de técnicas silviculturais, principalmente aquelas que promovem um bom desenvolvimento das plantas, pois uma vez sadias elas resistem bem ao ataque de pragas. Sementes Florestais - relacionadas a influência dos insetos na produção e disseminação de sementes. Como existem insetos que auxiliam e outros que prejudicam a produção de sementes florestais, deve-se procurar manejá-los adequadamente para que a produção não seja comprometida. Tecnologia de Madeira - relacionada às técnicas de tratamento de madeira contra insetos ou aos danos que podem causar na estrutura das construções. Cada vez mais se busca utilizar madeiras de rápido crescimento para usos mais nobres como movelaria, construções rurais, telhados, etc. Para isso, busca-se aprimorar as técnicas de preservação dessas madeiras para aumentar seu tempo de vida útil, atualmente considerada baixa. Arborização e Paisagismo - relacionados a influência dos insetos sobre plantas ornamentais. Um grande problema do setor de arborização e paisagismo são os ataques de insetos às plantas em áreas urbanas, pois não existe tecnologia apropriada de controle dessas pragas sem que o público seja afetado por elas. Certamente, o desenvolvimento dessas técnicas é um dos principais objetivos dos profissionais do setor. Manejo Florestal - relacionado a influência dos insetos na seleção de espécies, épocas de corte, formas de condução da floresta etc. Como o manejo florestal envolve todas as áreas citadas acima, a entomologia 7 florestal, então, é uma das áreas que deve ser contemplada pelo manejador de florestas. 5. CONCEITOS BÁSICOS DO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia de controle de pragas que procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas as técnicas de combate possíveis, selecionadas com base nos parâmetros econômicos, ecológicos e sociológicos, visando a manter a densidade populacional de um organismo abaixo do nível de dano econômico. A compreensão dos preceitos do MIP requer o conhecimento de alguns conceitos básicos, que são comumente usados por pesquisadores, técnicos e produtores que lidam com a entomologia. Para entendê-los devemos conhecer a relação inseto-fitófago x planta (Figura 1). Inseto Planta Perda ou Dano Dano Econômico Significativo $ Injúria Ataque Praga FIGURA 1. Esquema ilustrando a relação inseto x planta, que caracteriza o conceito de praga. Os insetos fitófagos alimentam-se das plantas para sobreviverem e, como conseqüência, as plantas deixam de produzir a mesma quantidade de produtos que outras que não foram danificadas por eles. Do ponto de vista do manejo integrado de pragas, esse inseto, ao se alimentar de uma planta cultivada provoca nela uma Injúria, que é definida como qualquer alteração deletéria decorrente da 8 sua ação. A planta injuriada perde produção, que pode ser quantificada monetariamente, recebendo o nome de Dano Econômico, que é definido como qualquer perda econômica decorrente de uma injúria. Quando esse dano se torna significativo diz-se que esse inseto se tornou uma Praga. A dúvida é saber quando o dano econômico se torna significativo, e, para isso, foi criado o conceito de Nível de Dano Econômico (NDE), que é a densidade populacional de uma praga capaz de causar um prejuízo (dano econômico) de igual valor ao seu custo de controle. Para calcular o NDE é necessário saber que a produção da cultura é reduzida à medida que a densidade populacional da praga ou a sua injúria aumenta (Figura 2). Densidade populacional/Injúria Pr od uç ão Tolerância/ Supercompensação Compensação Linearidade Insensibilização Insensibilidade FIGURA 2. Modelo do efeito da injúria provocada por insetos sobre a produção. Conforme visto, a produçãoserá máxima quando a população da praga estiver próxima de zero. Para obter isso, devemos investir recursos para reduzir a densidade populacional da praga. Quanto maior o valor investido no controle, menor é a densidade populacional da praga e, conseqüentemente, maior será a produção da cultura (Figura 3). 9 Redução Densidade Populacional de Pragas $ Custo Controle Valor da Produção NDE DP=0 FIGURA 3. Relação custo-benefício do controle de pragas, conceituando nível de dano econômico. O que se espera obter em qualquer investimento florestal é o máximo lucro; então, a tomada de decisão (aplicação ou não de um ou outro método de controle) envolve um custo, que deve ser minimizado, e uma receita, que deve ser maximizada. A diferença entre a receita e o custo produz um lucro, que é descrito matematicamente como: L = pQ(x) - C(x), em que: L = lucro; p = preço do produto; Q(x) = quantidade do produto que se obteve em função da aplicação do método de controle (x); x = método de controle; e C(x) = custo da aplicação do método de controle (x). O lucro será máximo quando as curvas de receita da produção e custos de controle de pragas se afastarem o máximo, ou seja, quando a derivada de L em função de (x) for igual a zero: (dL/dx) = p[dQ(x)/d(x)] - [dC(x)/d(x)] = 0. Nesse ponto, temos o NDE, ou seja, a densidade populacional da praga (eixo X) em que devemos aplicar o controle. Na Figura 4 temos a derivada do lucro (dL/dx). Verifica-se que a curva de incremento dos custos aumenta quando a intensidade de controle aumenta. Isso porque aumentam os custos para se obter: boa estimativa da densidade populacional da praga; maior eficiência de controle; melhoria da metodologia de aplicação; etc. Por outro lado, a curva de incremento das receitas decresce com o aumento da intensidade de controle, devido aos maiores custos de sua implementação. O lucro é representado pela área formada pelo triângulo “abc”, que é derivado da diferença entre as duas curvas e é maximizado quando elas se interceptam no ponto X0. 10 O preço dos produtos e dos insumos afeta o nível ótimo de intensidade de controle de pragas. Quando o preço do produto sobe, o retorno (ou benefício) do controle de pragas também deve aumentar, pois o produtor deve investir mais no controle de pragas, para reduzir mais os danos e obter maior produção e maior lucro. Assim, a intensidade de controle deve aumentar se o preço do produto aumentar, pois a curva de incremento dos custos intercepta a das receitas num nível de intensidade maior X1. Como foi visto acima, o produtor terá o maior lucro se utilizar uma intensidade de controle igual a X0 ou X1, dependendo da variação no preço do produto. A partir destes pontos, qualquer investimento para reduzir, ainda mais, a população da praga (e conseqüentemente os seus danos) produzirá uma perda econômica para o produtor, que é representada pela área formada pelo triângulo “bdX2”. O ponto X2 representa a intensidade de controle necessária para se eliminarem todos os indivíduos de uma espécie de inseto-praga de uma área (e, conseqüentemente, todos os seus danos) e, também, representa a perda econômica máxima que se pode obter no controle de pragas, devido ao aumento no custo de controle. Intensidade de Controle de Pragas $ X 2 X 0 X 1 a b c d Incremento das Receitas de P1 Incremento das Receitas de P2 Incremento dos Custos FIGURA 4. Derivada da relação custo-benefício do controle de pragas, onde P1 = produtos com baixo preço e P2 = produtos com alto preço. O nível de dano econômico é dinâmico e pode variar segundo: Preço do produto (quanto maior o preço do produto, menor o nível de dano); Custo de controle (quanto maior o custo de controle, maior o nível de dano); capacidade da praga em danificar a cultura; suscetibilidade da cultura à praga. Outro conceito muito usado no MIP é o do Nível de Ação ou de Controle (NA ou NC), que é a densidade populacional de uma praga em que devem ser 11 tomadas as medidas de controle, para que não causem danos econômicos. A diferença entre os valores do ND e do NC é igual à velocidade de ação dos métodos de controle. Isso ocorre porque se o método de controle for lento, a densidade da praga pode crescer por um certo tempo após a aplicação do controle e causar danos acima do tolerável. Na prática, o produtor terá que acompanhar a flutuação populacional da praga no tempo e somente aplicar o controle quando essa densidade atingir um valor igual ou superior ao NC, para manter a densidade populacional do inseto no Ponto de Equilíbrio (Figura 5). Tempo De ns ida de Po pu lac ion al NDE NC PE Combate FIGURA 5. Esquema representando o comportamento da densidade populacional de um organismo no tempo com relação ao nível de dano econômico. Com a implantação dos conceitos de NC e NDE, o MIP avançou em algumas culturas em relação aos métodos tradicionais, mas estava focalizado apenas na avaliação da densidade populacional das pragas, sem considerar o efeito do controle biológico natural na tomada de decisão. Isso foi mudado com a determinação do Nível de Não-Ação (NNA), que é a densidade populacional dos inimigos naturais capaz de controlar a população da praga sem a intervenção humana. Esses conceitos passaram a integrar o MIP e são utilizados rotineiramente nas atividades regulares da cultura florestal. 6. PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROGRAMAS DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 12 A implantação e o gerenciamento de programas de MIP é fundamental para a correta condução da floresta sob o ponto de vista do controle de insetos- praga. Isso pode ser implementado em cinco etapas: 1 o – Definição da unidade de manejo A unidade básica de manejo de pragas florestais é o talhão. Essa unidade consiste numa área delimitada fisicamente por estradas, aceiros ou trilhas (Figura 6). Cada unidade deve conter a cultura em condições homogêneas de tratos culturais, idade, espécie ou cultivar, tipo de solo, micro-clima, entre outros, de forma que o comportamento da praga seja semelhante em toda a área da unidade. O seu tamanho é determinado pelo sistema de manejo da cultura, mas deve ter uma área que permita a aplicação de um método de controle em tempo suficiente para não haver alteração no status populacional da praga durante as operações de monitoramento e combate. Talhão 1 Talhão 2 Talhão 3 FIGURA 6. Esquema de unidades de manejo (talhão). 2º - Eleger as pragas-chave As pragas-chave são as mais importantes da cultura que se está manejando. É necessário um conhecimento geral sobre elas com relação à sua biologia, ecologia, comportamento, principais inimigos naturais etc., para poder manejá-las adequadamente. Existem basicamente quatro tipos de pragas em agroecossistemas: as não-pragas, secundárias, as primárias e as severas, sendo as duas últimas as mais importantes, conforme mostrado a seguir. a) Organismo não-praga: são aqueles organismos cuja densidade populacional nunca atinge o nível de controle (Figura 7). Ex. a maioria dos insetos 13 presentes nos agroecossistemas que usa recursos que não comprometem a produção. Tempo De ns ida de P op ula cio na l ND NC PE FIGURA 7. Esquema representativo da flutuação populacional de um organismo não-praga. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano). b) Praga Secundária: são aquelas que raramente atingem o nível de controle (Figura 8). Tempo De ns ida de P opula cio na l ND NC PE Combate FIGURA 8. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga secundária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano). 14 c) Praga freqüente ou praga-chave ou praga primária: são aquelas que freqüentemente atingem o nível de controle (Figura 9). Tempo De ns ida de Po pu lac ion al ND NC PE Combate FIGURA 9. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga freqüente ou chave ou primária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano). d) Praga severa: são aquelas cujo ponto de equilíbrio é sempre maior que o nível de controle ou de dano econômico (Figura 10). Tempo De ns ida de Po pu lac ion al ND NC PE FIGURA 10. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga severa. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano). 15 3º - Aplicar os componentes do MIP Os componentes do MIP são os passos que devem ser tomados sempre que surgirem problemas de ataque de insetos à cultura e compõem as ações rotineiras do programa. Eles são constituídos de três etapas: a) Avaliação do ecossistema É necessária uma avaliação local do problema, onde devem ser analisados quatro componentes do ecossistema: a planta, a praga, os inimigos naturais e o clima. Deve-se identificar e quantificar a população do inseto que está causando o problema em questão; deve-se identificar e quantificar a população dos inimigos naturais desse organismo; deve-se avaliar o estágio fisiológico da planta; devem-se avaliar as condições climáticas do local. É importante considerar a necessidade de se utilizarem métodos de levantamento populacional de insetos que possam ser diretamente correlacionados com a injúria provocada e conseqüentemente com os danos. Esse levantamento permitirá a determinação não só de nível populacional para a adoção de medidas de controle, como também indicará a tendência das populações em crescer ou decrescer possibilitando a tomada de decisão mais coerente. Não existe um método universal de levantamento, sendo que, freqüentemente, um método empregado para uma praga não se aplica a outra, e às vezes, o mesmo método não serve para a mesma praga em condições diferentes. Normalmente ela depende da espécie e da fase da praga, da idade do plantio, da área afetada, dos recursos disponíveis, etc. O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas- alvo e de seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das condições climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas nessa amostragem. b) Tomada de decisão A tomada de decisão é efetuada através da análise dos aspectos econômicos da cultura e da relação custo/benefício do controle de pragas, que é determinado pelo NDE. Com base na avaliação do ecossistema combate-se a praga se: A densidade populacional da praga for igual ou maior que o nível de controle; 16 a densidade populacional dos inimigos naturais estiver abaixo do nível de não-ação; a planta estiver no estágio suscetível à praga; as condições climáticas estiverem favoráveis à praga. c) Escolha dos métodos de controle Uma vez tomada a decisão de adotar medidas de controle, será necessário fazer a opção por um programa que poderá envolver um ou mais métodos de redução populacional de insetos. Para isso deve-se ter um bom conhecimento de todas as técnicas de controle e escolher as mais adequadas, levando-se em consideração os fatores técnicos (eficiência, modo de aplicação, etc.), econômicos (custo de combate), ecológicos (impactos ambientais) e sociológicos (toxicidade e perigo durante a aplicação). Uma análise prévia do histórico da área com relação a culturas, clima, ocorrência de pragas, resultados de combate, entre outros, possibilitará uma previsão dos problemas que deverão ser enfrentados. 4º - Planejamento das ações Em função das informações sobre a praga, inimigos naturais, cultura e o clima poderá ser feita uma programação para o emprego das medidas de controle selecionadas, visando a reduzir o problema atual e dificultar a ocorrência de novos surtos de pragas. Esse planejamento envolve a elaboração de um cronograma físico-financeiro, incluindo a relação das unidades de manejo que serão combatidas, os equipamentos de aplicação, materiais, produtos fitossanitários, mão-de-obra, transporte, alimentação, EPIs, taxas administrativas e impostos. Todas essas informações são relacionadas no tempo e no espaço, propiciando um planejamento detalhado das ações de combate que se seguirão, conforme exemplificado na Tabela 3. 17 TABELA 3. Exemplo do planejamento físico-financeiro de ações de combate. Planejamento de combate Meses J F M A M J J A S O N D Talhões a combater 1 2 5 7 8 9 Custo do combate $ $ $ $ $ $ 5º - Acompanhamento dos resultados Após o combate da área é necessário acompanhar a flutuação populacional das pragas e dos seus inimigos naturais e verificar os efeitos dos métodos de redução populacional empregados, sobre os insetos visados e sobre os insetos não-alvo, a fim de avaliar a necessidade de novas intervenções. Para isso, adotam-se, geralmente, os mesmos métodos de amostragem empregados na avaliação do ecossistema ou outro método dependendo do caso. Essas etapas, geralmente, fecham o ciclo do MIP e iniciam o processo novamente, como a nova avaliação do ecossistema, conforme Tabela 4. TABELA 4. Exemplo do planejamento das avaliações dos resultados do combate. Planejamento das avaliações dos resultados do combate Meses J F M A M J J A S O N D Talhões a combater 1 2 5 7 8 9 Talhões a avaliar 1 2 5 7 8 9 8. AMOSTRAGEM DE INSETOS EM FLORESTAS O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas- alvo e de seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das condições climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas nessa amostragem. a) Métodos de amostragem Para avaliação correta das populações de pragas e inimigos naturais é necessário que, se realizem amostragens. Para tanto, é importante o desenvolvimento de pesquisas que permitam obter metodologias de avaliação populacional, plano de amostragem e tipo de caminhamento a ser adotado na 18 amostragem. No MIP são empregados dois métodos de avaliação de populações de pragas e de seus inimigos naturais: Métodos relativos: representado pelo número de indivíduos presentes numa amostra. Esta avaliação pode ser feita através de contagem direta das pragas existentes numa amostra, como, por exemplo, conta-se o número de lagartas por árvore ou o número de formigueiros por parcelas. É o método mais utilizado em agroecossistemas por ser mais rápido, barato e eficiente que os demais. O tamanho de uma estimativa relativa é afetado por mudanças no tamanho da população e sofre influência da fase do ciclo biológico, da atividade do inseto, da eficiência da armadilha ou do método de inspeção e das espécies e sexo. Índices populacionais: é a medida dos produtos metabólicos ou efeitos dos insetos presentes numa amostra. Ex: percentagem de desfolha, peso de excrementos e outros, por unidade amostral. É, também, bastante utilizado em agroecossistemas e é semelhante ao método relativo, exceto pelo fato de não amostrar o inseto diretamente, mas seus produtos ou efeitos. b) Distribuição espacial de insetos Refere-se à forma de distribuição dos insetos no campo.A determinação prévia da distribuição dos organismos é importante no estabelecimento do plano de amostragem e essa distribuição pode ser ao acaso, quando a distribuição dos organismos ocorre de maneira inteiramente casualizada (seguem uma distribuição de Poisson); agregada, quando os organismos tendem a se reunir em grupos (seguem uma distribuição binomial negativa) e regular, quando os organismos estão uniformemente distribuídos em uma população (seguem uma distribuição binomial) (Figura 11). Regular 2 < Ao acaso 2 = Agregada 2 > FIGURA 11. Tipos de distribuição espacial dos insetos no campo. 19 c) Plano de amostragem A amostragem pode ser: Comum: baseada no número fixo de amostras por unidade de área. Ex. 1 ramo/planta, 20 plantas/talhão, etc. Mais usada em agroecossistemas do que a amostragem seqüencial. Seqüencial: envolve um número variável de amostras. As partes são examinadas ao acaso, seqüencialmente, até que a densidade acumulada atinja uma das classes de abundância previamente estipulada. Sua vantagem em relação à amostragem comum é o de menor custo e tempo para amostrar a população do inseto alvo. Não tem sido utilizada em florestas. d) Tipo de caminhamento Representa a maneira como se deve deslocar no campo para realizar a amostragem (Figura 12). A forma de caminhamento depende do tipo de amostragem, sendo espiral quando a amostragem é seqüencial e ziguezague, cruz, U ou pontos, quando a amostragem é do tipo comum. FIGURA 12. Tipos de caminhamento para realizar a amostragem. e) Componentes da amostragem Pessoal: refere-se ao conhecimento da pessoa que faz a amostragem. Devem-se utilizar pessoas com certo grau de instrução para realizar a amostragem (pelo menos 1 o grau completo). Mecânico: refere-se à precisão dos aparelhos ou equipamentos utilizados na amostragem. Estatístico: refere-se à intensidade de amostragem a ser adotada (varia de 2 a 10% da área, na maioria dos casos). Ziguezague Serpenteado Espiral 1 20 Econômico: refere-se ao custo da amostragem. Deve-se calcular este custo para saber se compensa ou não a realização da amostragem. Esse custo não pode passar de 10% do valor do custo de combate. f) Instrumentos de amostragem São equipamentos utilizados para auxiliar a amostragem de insetos. Existem diversos tipos, sendo que os mais utilizados são: rede entomológica: trata-se de um aro de metal preso a um cabo de madeira, que sustenta um saco de filó com fundo arredondado. É utilizada para selecionar alguns exemplares. É mais usada para estudos de diversidade de insetos do que para quantificar suas populações. Assim, dependendo da fauna de insetos que se pretende levantar, o uso de redes é recomendável; rede de varredura: semelhante à rede entomológica, porém mais reforçada, principalmente o pano, para suportar o atrito da rede com a vegetação; armadilhas de solo: é constituída por um recipiente de boca larga enterrado no solo de maneira que a abertura fique ao nível da superfície. São especialmente voltadas para insetos que caminham sobre o solo por incapacidade de vôo ou por preferência de habitat. Essas armadilhas podem ter sua eficiência aumentada pela presença de iscas, podendo assim capturar uma variedade de insetos como besouros, formigas etc.; malaise: é uma armadilha que “intercepta” o vôo de insetos, contendo uma barreira pouco visível para eles, feita de filó e com a qual os insetos colidem e são capturados num recipiente situado no topo da armadilha. Utilizada para amostrar himenópteros, principalmente parasitóides; frasco caça-mosca: recipiente plástico ou de vidro, contendo orifícios em forma de cone. No interior contém substâncias atrativas aos insetos. Utilizada para coleta de mosca-das-frutas, principalmente; armadilha luminosa: consiste de uma lâmpada fluorescente que emite luz negra, atrativa a insetos de habito noturno que voam. Esses são capturados num recipiente cônico situado logo abaixo da lâmpada. Utilizada para amostrar lepidópteros principalmente. 21 g) Tipos de amostragem de insetos em florestas Para se conhecer a densidade de insetos de uma área florestal podem ser utilizados alguns métodos como o método da parcela ao acaso (amostragem direta), o método do transecto em faixas, o método de sensoriamento remoto, da pesagem de excrementos, do uso de inseticidas e de armadilhas. Parcela ao acaso: é o método mais comum para se quantificar a população dos insetos. Consiste na marcação de parcelas de tamanho fixo, distribuídas ao acaso ou sistematicamente na área, e na contagem do número de insetos presentes nelas, que permitirá estimar a densidade da praga na área. No caso de amostragem de formigas cortadeiras, por exemplo, marcam-se parcelas nas áreas dos talhões, contam-se os formigueiros presentes nelas e estima-se o número de formigueiros de diferentes tamanhos por hectare. No caso de amostragem de lagartas desfolhadoras, cada parcela pode ser representada por um galho de uma árvore, possibilitando estimar o número de lagartas por metro quadrado de folhagem. Este método poderá também ser realizado para contagens de insetos em outras partes da árvore, no solo, no subbosque etc. Transecto: o método do transecto consiste na marcação de uma linha imaginária principal de comprimento predeterminado e na contagem da população de insetos em uma largura predefinida ao longo do transecto. Pode ser utilizado para amostrar formigas cortadeiras, cupins, besouros e lagartas desfolhadoras em áreas de plantio, contando-se as mudas atacadas ao longo do transecto, que geralmente corresponde à linha de plantio. Sensoriamento remoto: o método do sensoriamento remoto consiste na utilização de fotografias aéreas ou imagens de satélite para detectar a ocorrência de focos de insetos-praga. Através destas técnicas é possível observar a fenologia, regeneração, áreas danificadas, avanço de epidemias, fogo etc. No caso de epizootias é fácil investigar se os ataques estão se estendendo, onde existem áreas potencialmente em perigo e onde se deve efetuar o combate e concentrar as medidas de controle. As imagens aéreas constituem o método mais rápido e eficiente para amostragem de danos em grandes áreas de florestas, sejam elas nativas ou cultivadas. Este método normalmente quantifica os danos, mas não a população do inseto. Esta é estimada baseando-se no tipo de dano e extensão da área afetada. A análise das imagens deve ser acompanhada por uma amostragem de campo, na qual se identifica o inseto, ou grupo que está causando danos, bem como outros fatores que poderiam afetar a interpretação das imagens. Este método pode ser utilizado para amostrar formigas cortadeiras, lagartas desfolhadoras, broqueadores, cupins; entretanto, esses levantamentos não são comuns no Brasil e sim na Europa e América do Norte. Os principais sistemas de 22 imagem orbital disponível no Brasil e que poderiam ser utilizados para amostragem de insetos em reflorestamentos são: Landsat (pixel de 20x20m) e o Spot (pixel de 5x5m). Pesagem de excrementos: a pesagem de excrementos consiste na coleta dos excrementos dos insetos com um coletor de pano estendido sob a planta e depois, aplicando-se índices de digestibilidade, estima-se a população presente. Conhecendo-se a digestibilidade aparente e o peso seco dos excrementos épossível estimar o peso seco das folhas e a área foliar consumido, além do tamanho da população de insetos. Estes dados podem ser facilmente obtidos em laboratório, bastando-se criar os insetos e medir, para cada estádio: a área foliar consumida; o tamanho e o peso seco das fezes e a relação área-peso das folhas. Foi utilizado em poucos casos para amostrar lagartas desfolhadoras no Brasil. Choque de inseticidas: consiste na aplicação de um produto potente sobre uma área ou plantas que estão sendo atacadas. Os insetos mortos por sua ação são coletados em panos ou plásticos de área conhecida, que devem ser previamente estendidos sob as plantas. A seguir procede-se à contagem dos insetos que caíram nos panos, e estima-se a população total da área infestada. Este método pode ser, ainda, utilizado para testar produtos e dosagens de inseticidas: colocam- se os panos distribuídos na área; pulveriza-se a área com o produto e/ou dosagens a serem testadas; contam-se os insetos que caíram nos panos; pulveriza-se novamente a área com uma “bomba” (um produto ou mistura altamente potente); contam-se novamente os insetos e calcula-se a percentagem de eficiência dos tratamentos. Armadilhas luminosas: baseia-se na distribuição aleatória das armadilhas no campo, as quais permanecem ligadas por um período pré-fixado. No final de cada período, os insetos coletados são levados ao laboratório para contagem e identificação. Em empresas florestais, a utilização de armadilhas luminosas tem sido muito eficiente na amostragem de lepidópteros e coleópteros. Amostragens regulares durante todas as estações do ano têm permitido estabelecer curvas de flutuação populacional das espécies mais freqüentes. Este método é um dos mais eficientes para a amostragem de insetos noturnos, podendo também, em algumas situações, ser aplicado no controle de algumas pragas. Armadilha com atrativos: utilizam-se armadilhas de diferentes formas contendo atrativos como feromônios ou outras substâncias. Esse tipo de armadilha é usado na amostragem de escolitídeos (broqueadores) e para serradores. Os atrativos mais usados são o etanol e alguns feromônios como o Pheroprax e o Linoprax, para o caso de escolitídeos, e melaço de cana para o caso de serradores. No caso desses feromônios, as distâncias entre armadilhas devem ser de 100 e 30 m, 23 respectivamente, ambas instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a 3/ha. O melaço de cana é colocado em frascos caça-mosca, que são distribuídos na periferia do reflorestamento. Árvores armadilha: empregadas para detectar e amostrar a vespa-da-madeira (broqueador). Consiste em escolher 5 árvores agrupadas de diâmetro menor que 20 cm, numerá-las e matá-las para atrair as vespas. Após a vistoria deve-se inocular o nematóide (Bedinghia siricidicola) com um martelo aplicador de 30 em 30 cm no tronco da árvore derrubada. 9. MÉTODOS DE CONTROLE USADOS NO MIP 9.1. MÉTODO LEGISLATIVO É um método de controle que se baseia em leis, decretos e portarias, quer federais ou estaduais, que obrigam o cumprimento de medidas de controle como: a) Serviço quarentenário: previne a entrada de pragas exóticas e impede a disseminação das nativas. Este serviço é executado pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal, órgão do Ministério da Agricultura, cujos técnicos inspecionam portos, aeroportos e fronteiras, procurando tratar, destruir ou impedir a entrada de vegetais e animais atacados, através da quarentena. Este serviço atua, também, em casos de exportação de produtos agrícolas e florestais contendo pragas. Ex: Exigência de Laudo Fitossanitário para exportação de toras de eucalipto para a Europa. b) Medidas obrigatórias: são medidas legais que obrigam ao reflorestador o controle de determinadas pragas consideradas limitantes para os povoamentos florestais. Ex: No Rio Grande do Sul, existe a lei n o 2869 de 25/06/56, que obriga a coleta e queima de galhos de acácia negra para diminuir a infestação do serrador Oncideres impluviata (Coleoptera: Cerambycidae). c) Lei dos agrotóxicos: a lei n o 7802/89, regulamentada pelo decreto nº 4074/02, tem por finalidade controlar a fabricação, formulação, comércio e uso adequado, em termos de toxicidade, segurança, eficiência e idoneidade dos inseticidas, recolhimento de embalagens, entre outros, além de obrigar o uso do Receituário Agronômico (RA) para qualquer atividade envolvendo o uso destes produtos. O RA é um parecer técnico sobre a situação fitossanitária do reflorestamento e que tem a finalidade de instituir o uso adequado dos agrotóxicos. Tem por objetivo maximizar a eficiência no controle com o uso 24 mais racional de inseticidas. O RA é obrigatório para a aquisição e aplicação de produtos fitossanitários e é de competência exclusiva de Engenheiros Florestais e Agrônomos. 9.2. MÉTODO MECÂNICO Consiste na utilização de medidas de controle que causem a destruição direta dos insetos ou que impeçam seus danos, tais como: a) Catação manual: baseia-se na coleta e na destruição direta dos insetos que estão causando prejuízos. Pode ser utilizada em pequenas áreas e quando a mão-de-obra é barata. Ex: coleta de besouros Costalimaita ferruginea vulgata (Coleoptera: Chrysomelidae) em viveiros e jardim clonal. Catação manual de lagarta-rosca em viveiros. Catação manual de Lampetis spp. (Coleoptera: Buprestidae) em áreas de implantação de Eucalyptus spp. Escavação de formigueiros iniciais, para matar a rainha. O rendimento desta operação gira em torno de 1 ha/homem/dia; b) barreiras: consistem no uso de qualquer prática que impeça ou dificulte o acesso dos insetos à planta. Usada para proteger árvores isoladas, áreas experimentais, viveiros etc. Ex: uso de casa-de-vegetação para a produção de mudas, uso de sombrite em viveiros, uso de cones invertidos nos troncos das árvores, uso de tintas ou vernizes, uso de embalagens etc.. 9.3. MÉTODO FÍSICO Este método consiste na aplicação de métodos de origem física para o controle de insetos, tais como: a) Fogo: utilizado na limpeza de áreas exploradas ou em implantação para facilitar a localização e tratamento de sauveiros e quenquenzeiros. Também foi utilizado com sucesso para o controle de Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae), uma vez que as lagartas das mesmas se aglomeram durante o dia no tronco das árvores atacadas. O uso do fogo no controle de pragas está cada vez menos freqüente; b) Temperatura: consiste na manipulação da temperatura do ambiente, tornando- a letal aos insetos. Ex. uso do calor em fábricas de processamento de produtos florestais para eliminar insetos existentes nas madeiras, uso de câmaras refrigeradas para proteger sementes etc; 25 c) Luminosidade: utilização de uma faixa de radiação luminosa (300 a 770 nm) para atrair e capturar insetos adultos de hábito noturno. Ex.: armadilhas luminosas para capturar insetos, uso de armadilhas coloridas, etc.. 9.4. MÉTODO ETOLÓGICO OU COMPORTAMENTAL É um método que se baseia no estudo fisiológico dos insetos visando ao seu controle através do seu hábito ou comportamento. Existem dois tipos de controle etológico: a) Hormônios: são substâncias produzidas por glândulas internas e lançadas diretamente na hemolinfa dos insetos para provocar reações específicas em alguma parte de seu corpo. Têm-se os inibidores de síntese de quitina (Ex: diflubenzuron, usado em iscas formicidas e no controle de lagartas); abamectinas (iscas formicidas); precocenos e juvenóides; b) Semioquímicos: são substâncias produzidas por glândulas internas ou externas e lançadas para fora do corpo dos insetos para provocar reações específicas em outro indivíduo. São usadas na comunicação entre indivíduos. Ossemioquímicos dividem-se em: 1) Feromônios: servem para a comunicação entre indivíduos da mesma espécie. Podem ser usados no MIP para: detecção (verificação da presença de pragas em determinados locais); monitoramento (estimar a densidade da população de pragas e acompanhar sua flutuação ao longo do tempo), e controle (controlar a praga). O controle pode ser feito através da: - coleta massal: consiste em se colocar grande quantidade de armadilhas para coletar grande número de indivíduos, reduzindo a população da praga. É eficiente em baixas populações da praga; - confundimento: consiste em saturar a área com feromônio, visando a reduzir os acasalamentos, pela desorientação do receptor. Muito usado em pomares; - cultura armadilha: consiste em se aplicar o feromônio em faixas de cultura ou em pontos específicos para atrair os insetos para aquele local, onde se pode aplicar um produto químico para eliminá-los. O feromônio de agregação é o mais usado neste processo. Os feromônios têm sido usados em florestas para o monitoramento e detecção de pragas. Seu uso no controle é dificultado pelo tamanho das áreas florestais. Frontalin, Pheroprax e Linoprax são usados para monitorar escolitídeos 26 na Europa. No caso desses feromônios, as distâncias entre armadilhas devem ser de 30 a 100 m, instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a 3/ha. Ainda não são usados no Brasil. 2) Aleloquímicos: servem para a comunicação entre indivíduos de espécies diferentes. São divididos em: - cairomônios: a comunicação beneficia o receptor da mensagem, isto é, são atraentes. Ex. iscas formicidas; - alomônios: a comunicação beneficia o emissor da mensagem, isto é, são repelentes. Não tem uso prático em florestas. 9.5. MÉTODO DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS Consiste na seleção e utilização de essências florestais que, devido a suas características genéticas, são menos danificadas que outras em igualdade de condições. O uso de espécies, subespécies, variedades ou procedências de árvores que possuem mecanismos naturais de resistência aos insetos é uma alternativa muito promissora para o controle de pragas em florestas. a) Graus de resistência - imunidade: planta que não sofre danos; - resistência: planta que, devido a suas características genéticas, sofre um dano menor que outras em igualdade de condições; e - suscetibilidade: planta que sofre um dano maior que outras em igualdade de condições. b) Tipos de Resistência - antixenose ou não-preferência: as plantas são menos preferidas para a alimentação, abrigo ou oviposição pelas pragas; - antibiose: as plantas afetam a biologia da praga; - tolerância: a planta suporta o ataque da praga sem afetar sua produção, nem a biologia da praga; - pseudo-resistência: resistência não transmitida hereditariamente. 9.6. MÉTODO CULTURAL Consiste no emprego de certas práticas silviculturais, normalmente utilizadas para o cultivo das plantas, visando ao controle de pragas. 27 a) Época de plantio: objetiva dessincronizar a fase suscetível da cultura com o pico de ocorrência da praga. Ex: plantio no início da época chuvosa reduz os danos de cupins e formigas. b) Poda: embora a poda não seja uma prática muito comum em florestas, ela pode ser utilizada para controlar pragas. Ex: poda de galhos baixos de eucalipto e incorporação dos restos com grade ou rolo-faca para controlar lagartas desfolhadoras; poda e queima de galhos atacados por serradores etc. c) Preparo de solo: a aração e gradagem promovem um ressecamento da camada superficial do solo, matando algumas pragas que passam algum estádio no solo. Ex: gradagem para matar pupas de Psorocampa denticulata em eucalipto. d) Adubação: planta bem nutrida é mais resistente ao ataque de pragas. Ex. adubação fosfatada reduz o corte de mudas por formigas. e) Plantio direto: favorece os inimigos naturais das pragas; entretanto; favorece algumas pragas de solo, como formigas cortadeiras. 9.7. MÉTODO BIOLÓGICO Consiste na manipulação direta ou indireta dos inimigos naturais (parasitóides, predadores, patógenos e competidores) das pragas, no sentido de manter as populações destas pragas em níveis toleráveis. O controle biológico pode ser de 2 tipos: - Natural: consiste na ação dos parasitóides, predadores, patógenos e competidores em ambientes não manipulados pelo homem. - Aplicado: consiste na introdução e manipulação dos inimigos naturais pelo homem. Em florestas implantadas, a ocorrência de inimigos naturais é restrita, em conseqüência da pequena diversidade ecológica e estabilidade biológica, típica desses locais. a) Estratégias do controle biológico em florestas - Manutenção das condições ambientais (CB por conservação): consiste em manter ou manipular adequadamente as condições do ambiente, para favorecer a reprodução, abrigo e alimentação dos inimigos naturais. Ex: uso de faixas de vegetação nativa entre os talhões reflorestados; aumentar a diversidade de espécies plantadas; manter o subbosque diversificado; restringir o fogo, a caça, agrotóxico etc. O planejamento da distribuição das reservas de vegetação natural e a manutenção do subbosque das florestas homogêneas são fatores imprescindíveis no manejo ambiental. A retirada do subbosque ou a impossibilidade de seu desenvolvimento acentuam mais ainda o problema da 28 simplificação do ambiente, o que pode promover o desaparecimento dos inimigos naturais que necessitam do subbosque como local de abrigo, alimentação ou reprodução. Tanto a distribuição racional das reservas de vegetação natural como a manutenção de subbosques é fator de vital importância no controle integrado de pragas em florestas implantadas. - Multiplicação de agentes nativos (CB por incremento): consiste na criação e liberação de inimigos naturais nativos da região, para o controle de insetos- praga. Isso é feito quando a população de inimigos naturais não é suficiente para controlar as pragas ou quando não é possível melhorar as condições ambientais. Para tal, é necessário um bom programa de seleção dos IN, estudos de biologia da praga e do seu IN, estudos da relação praga-IN, desenvolvimento de técnicas de criação massal e acompanhamento de sua ação após a liberação. Ex: uso de percevejo predador Podisus spp no controle de lagartas desfolhadoras. - Introdução de agentes exóticos (CB Clássico): consiste na introdução de inimigos naturais nativos num local onde ele não ocorre naturalmente, para o controle de insetos-pragas. Essa técnica tem sido bastante utilizada para controlar pragas introduzidas. Devem-se tomar os mesmos cuidados tomados na multiplicação de agentes nativos, além de verificar se o agente a ser introduzido não causará problemas com o tempo. Ex: introdução de Bacillus thuringiensis para controlar lagartas. Introdução do nematóide Bedinghia siricidicola para controlar a vespa-da-madeira. b) Agentes de controle biológico - Predadores: são organismos (insetos, aves, mamíferos, aranhas etc.) que necessitam alimentar-se de muitos indivíduos para sua sobrevivência e, assim, matam e comem outros insetos (1 predador consome várias presas). Os insetos predadores são considerados eficientes controladores de lepidópteros desfolhadores em floresta, principalmente os hemípteros predadores das famílias Pentatomidae e Reduviidae. É importante ressaltar que os pássaros atuam como eficientes predadores de lagartas e adultos de muitas espécies de lepidópteros desfolhadores. Na literatura encontram-se várias referências dos mesmos predando principalmente a lagarta desfolhadora Thyrinteina arnobia. Muitos ácaros são entomófagos e de grande importância na destruição de insetos. As aranhas são predadoras inespecíficas,muito embora bastante eficientes. São encontradas grandes populações em povoamentos de Eucalyptus spp. e principalmente em Pinus spp. 29 - Parasitóides: insetos que durante o seu desenvolvimento necessitam apenas de um único hospedeiro (1 parasito consome 1 hospedeiro). Os parasitóides adultos têm vida livre e sua fonte de alimento é diferente da usada na sua fase jovem. Normalmente, os adultos se alimentam de pólen, néctar e exudações diversas. As diferentes fases do inseto-praga (ovo-larva-pupa-adulto) podem ser parasitadas por diferentes espécies de parasitóides. Trichogramma soaresi (Hymenoptera: Trichogrammatidae): parasitóide oófago. Foi feita uma criação massal deste parasitóide em laboratório (UFMG) visando à liberação no campo na tentativa de controlar um foco de Blera varana (Lepidoptera: Notodontidae), em 16 ha de E. cloesiana. - Patógenos: são organismos (fungos, bactérias, vírus, nematóides etc.) que provocam doenças e a morte de insetos-praga. São classificados em: Fungos: embora no Brasil os melhores resultados de controle biológico com o uso de fungo tenham sido encontrados no controle de cigarrinhas e cochonilhas, é bastante comum encontrar lagartas e pupas de desfolhadores de eucaliptos controlados por fungos dos gêneros Beauveria, Metarhizium, Paecilomyces e outros. Bactérias: são empregadas em pulverizações dos esporos sobre a praga, sendo altamente eficientes. Em reflorestamentos, a bactéria Bacillus thuringiensis é considerada a mais importante. Seus esporos, quando ingeridos pelas lagartas provocam a ruptura da parede intestinal, levando-as à morte. Já existem no mercado muitas variedades desta bactéria, e as marcas mais comuns no Brasil são: Dipel, Agree e Thuricide. Estes produtos já são utilizados no Brasil há vários anos contra lepidópteros desfolhadores de eucalipto e mostraram alta eficiência. É importante lembrar que a ação deste produto é ineficaz para as outras fases do inseto, sendo eficiente exclusivamente na fase de lagarta. Vírus: são freqüentemente responsáveis pelo controle de muitos surtos de praga, aparecendo algum tempo depois do estabelecimento do inseto. É característico em uma lagarta contaminada por vírus paralisar sua alimentação e movimentação no final do período de 1 a 3 dias, ficando amarronzadas e apodrecendo, permanecendo nos galhos dependuradas, secas ou se liquefazendo. Em reflorestamentos no Brasil, tem-se o exemplo de Sabulodes caberata, portadora de uma virose, que foi capaz de acabar com um surto em menos de 2 meses em 300 ha de eucalipto no Vale do Rio Doce, em MG. 30 Nematóides: diversas espécies de nematóides atuam como parasitos obrigatórios de insetos, podendo atacar a cavidade geral do corpo do hospedeiro, ocorrer no intestino ou ser parasitos de órgãos reprodutores. Ex: Bedinghia siricidicola parasitando a vespa-da-madeira Sirex noctilio. - Competidores: são organismos que competem por algum fator de sobrevivência necessária aos insetos daninhos. Os insetos são os maiores competidores das pragas. Ex: competição entre Atta spp. e Acromyrmex spp. 9.8. MÉTODO QUÍMICO Consiste na utilização de compostos químicos, que aplicados direta ou indiretamente sobre os insetos, em concentrações adequadas, provocam a sua morte. Constitui o método mais utilizado no controle de pragas florestais devido a rapidez na preparação do combate, eficiência imediata, compatibilidade com as operações silviculturais e baixo custo inicial, porém, apresentam a desvantagem de não serem específicos, alto custo a longo prazo, além de serem tóxicos ao homem e a outros animais. Os inseticidas do grupo dos fosforados e dos piretróides são os mais empregados no controle de pragas florestais. Dentre eles destacam-se os formicidas deltametrina e clorpirifós; os lagarticidas deltametrina e fenitrotion e o cupinicida fention. Os inseticidas à base de sulfluramida são os mais utilizados no Brasil para o controle de formigas cortadeiras em reflorestamentos. Os inseticidas biológicos à base de Bacillus thuringiensis também têm sido bastante usados em florestas como lagarticidas. Os inseticidas do grupo das fenil pirazonas são os mais recentes lançamentos no controle de pragas florestais. O fipronil é o principio ativo de isca formicida e de cupinicida. a) Formulação dos inseticidas É a arte de transformar um produto técnico numa forma apropriada de uso chamada de produto comercial. Ele divide-se em: - Produto técnico: substância que realmente mata o inseto. Contém uma porcentagem definida de ingrediente ativo (i.a.). - Inerte: talco, caulim etc. - Adjuvante: estabilizante, agente molhante, dispersante, espalhante etc. b) Tipos de formulação de inseticidas 31 - Pó Seco (P): inseticida adsorvido em argila + pó inerte (1 a 10% de i.a.). Ex: K-Othrine 2P. - Pó Molhável (PM): inseticida + inerte + agente molhante (20 a 80% de i.a.). Ex: Dipel PM. - Pó Solúvel (PS, TS): inseticida puro em pó (50 a 90% de i.a.). - Granulados (G, GR): inseticida + solvente + inerte (1 a 10% de i.a.). Ex: Mirex-S. - Concentrados Emulsionáveis (CE): inseticida + solvente + emulsionante (5 a 100% de i.a.). Ex: Lebaycid 500 CE. - Soluções Concentradas (ED, UBV): inseticida + solvente (ED = eletrodinâmica, UBV = ultrabaixo volume). Ex: Sumithion UBV. - Suspensão Concentrada (SC): inseticida líquido puro. Ex: Carbaril SC. - Gasosos: inseticida líquido ou sólido que gaseifica em contato com o ar. Ex: Bromex. - Aerossóis: inseticida + gás propulsor + base oleosa + solvente auxiliar + ativador + perfume. - Pasta (PF): inseticida pastoso. Ex: Gastoxin. - Suspensão líquida (GrDA ou WG): inseticida disperso em partículas sólidas micronizadas em meio liquido. Ex: Tuit NA. c) Classificação dos inseticidas - quanto a finalidade: aficidas (pulgões); formicidas (formigas); cupinicidas, etc; - quanto a forma de ação: contato (cutícula); ingestão (oral); fumigação (respiração); - quanto a forma de translocação no hospedeiro: sistêmicos (circula na seiva da planta); profundidade (ação translaminar); - quanto a toxicidade: altamente tóxico (tarja vermelha); medianamente tóxico (tarja amarela); pouco tóxico (tarja azul) e praticamente atóxico (tarja verde). - quanto a origem: - inorgânicos: enxofre, arsênio, mercúrio etc; - de origem vegetal: nicotina, piretro, rotenona, óleo de soja etc. - sintéticos: clorados, clorofosforados, fosforados, carbamatos, piretróides, reguladores de crescimento, microbianos e fumigantes inorgânicos. d) Características dos grupos dos inseticidas - Clorados: todos proibidos para o uso em florestas; compõem-se de átomos de Cl, C, H e eventualmente O; alta persistência no ambiente; 32 pouco voláteis; baixa solubilidade; lipossolúveis; bioacumulativos (aumentam a concentração nos tecidos com o aumento de peso); biomagnificativos (aumentam a concentração ao longo da cadeia trófica); são carcinogênicos (provocam câncer); alto espectro de ação (não são específicos); e outros. Ex. DDT, BHC, Aldrin, endossulfan, dodecacloro. - Fosforados: compõem-se de derivados do ácido fosfórico; alta toxicidade aguda a mamíferos; não são bioacumulativos; alta volatilidade; são inibidores da acetilcolinesterase. Ex. clorpirifós, fention, fenitrotion, sumition. - Carbamatos: compõem-se de derivados do ácido carbâmico; alta volatilidade; não são bioacumulativos; baixa persistência no ambiente; inibidores da acetilcolinesterase. Ex. carbufuran, carbossulfan, carbaril. - Piretróides: compõem-se de derivados dos ácidos crisantêmico e pirétrico; fotoestáveis; baixa toxicidade a mamíferos; repelentes às pragas; induzem resistência rapidamente; baixa estabilidade no solo;alta toxicidade a peixes; alta potência; pouco voláteis; interferem no fluxo de íons através das células nervosas. Ex. deltametrina, permetrina, cipermetrina. - Inibidores de síntese de quitina: inibem a formação da cutícula do inseto; baixa estabilidade à luz ultravioleta; seletivos. Ex. diflubenzuron, ciromazina, buprofezina. - Juvenóides e Precocenos: afetam o crescimento dos insetos; seletivos; baixa toxicidade a mamíferos; baixa estabilidade à luz e temperatura. Ex. metopreno, hidropreno, quinopreno. - Microbianos: compõem-se de bactérias, vírus, fungos, ou seus produtos; alta especificidade; não contaminam o ambiente; baixa estabilidade no ambiente; baixa toxicidade a mamíferos. Ex. Bacillus thuringiensis, Baculovirus sp., Metarhizium sp, Beauveria sp, Nomurae sp. e) Mecanismo de ação dos inseticidas A maioria dos inseticidas possui mecanismo de ação relacionado à transmissão de impulsos nervosos. No axônio, o impulso é transmitido por meio de cargas elétricas via variação do potencial elétrico resultante da movimentação de íons K + e Na + através da membrana dos axônios. Em repouso a membrana do axônio é permeável aos íons K + e impermeável aos íons Na + . Assim, existe uma maior concentração de K + no interior do axônio e de Na + no exterior, gerando uma diferença de potencial elétrico (DDP) de -60 mV (potencial de repouso) entre o interior e o exterior do axônio. Devido a um estímulo (ex. um toque no tegumento) a membrana do axônio torna-se permeável aos íons Na + (abertura do canal de Na + ). Com a entrada dos íons Na + , ocorre uma saída de íons K + por repelência de cargas, ficando o interior do axônio com maior concentração de Na + e o exterior com maior 33 concentração de K + . Isso gera uma diferença de potencial elétrico de +40 mV (potencial de ação) entre o interior e o exterior do axônio. A abertura dos canais de Na + dura cerca de 0,002 a 0,003 segundo e a membrana torna-se, novamente, impermeável aos íons Na + (fechamento do canal de Na + ). Este processo é passivo, ou seja, sem o gasto de energia (ATP). Para restabelecer o repouso, a membrana do axônio torna-se permeável aos íons K + (abertura do canal de K + ) e força a entrada de K + para o interior do axônio através do consumo de ATP que é chamado de BOMBA NA + -K + . Este processo é ativo, ou seja, ocorre gasto de energia (ATP). No interior do axônio a enzima ATP-ase quebra a ligação ATP-K + , liberando K + e ATP. Quando o impulso elétrico chega na porção final do axônio, a membrana próxima à sinápse torna-se permeável a íons Ca ++ (abertura do canal de Ca ++ ), que ficam no exterior das fendas sinápticas. Estes íons ativam as vesículas secretoras de substâncias neurotransmissoras (acetilcolina, principalmente), liberando esta substância na fenda sináptica. A substância neurotransmissora acopla-se ao receptor sináptico da membrana pós-sináptica do outro axônio, transmitindo o impulso elétrico. A membrana se torna impermeável ao Ca ++ (fechamento do canal de Ca ++ ), que volta para o exterior do axônio. Após a transmissão do impulso elétrico, ocorre a liberação da enzima neurotransmissora (acetilcolinesterase), que degrada a acetilcolina, ligada ao receptor pós-sináptico, em colina e ácido acético, cessando a transmissão do impulso e tornando a membrana pós-sináptica livre para receber um novo estímulo. Desta forma, o impulso segue até um músculo específico que irá reagir (contrair, por exemplo) e isso é chamado de ação excitatória. Para que este músculo volte à posição normal (relaxar) o cérebro deve enviar uma nova mensagem, chamada de ação inibitória. Esta nova mensagem é transmitida pelos axônios e pelas sinápses inibitórias, num processo semelhante ao que ocorre nas sinápses excitatórias, porém, o neurotransmissor é o ácido -aminobutírico (GABA) e o íon envolvido é o Cl - . O mecanismo de ação dos principais grupos de inseticidas é: - Organofosforados e Carbamatos: ligam-se a acetilcolinesterase inativando-a e impedindo que ocorra a quebra da acetilcolina. Com isso os receptores pós-sinápticos ficam sobrecarregados e não receberão novos estímulos. Isso faz com que não chegue estímulos aos músculos, o que paralisará a respiração muscular, causando a morte do inseto. - Clorados do Grupo do DDT e Piretróides: atrasam o fechamento dos canais de Na + , hiperexcitando o axônio e levando à exaustão muscular. - Clorados do Grupo do BHC, Neonicotinóides e Ciclodienos: acoplam- se ao receptor do GABA, impedindo a abertura dos canais de Cl - , provocando hiperexcitação, convulsões, paralisia e morte do inseto. 34 - Lactonas ou Avermectinas: simulam a ação do GABA, favorecendo a entrada de Cl - com mais intensidade, provocando paralisia. - Precocenos: transformam os insetos em adultóides (insetos adultos pequenos e estéreis) - Juvenóides: induzem a permanência do inseto na fase jovem, não se transformando em adulto. - Inibidores de síntese de quitina: impedem a deposição de quitina na cutícula, que se torna mole e se rompe durante a muda, matando o inseto. - Inseticidas bacterianos: os esporos ingeridos pelos insetos produzem cristais tóxicos que dão origem a toxinas letais no intestino do inseto. - Inseticidas virais: os corpos poliédricos de inclusão ingeridos pelos insetos liberam vírions no intestino do inseto provocando infecção generalizada. - Inseticidas fúngicos: as hifas penetram pela cutícula e produzem micotoxinas letais ao inseto. f) Avaliação toxicológica dos Inseticidas A toxicidade de inseticidas é expressa em Dose Letal 50 (DL50). Toxicidade aguda: quantidade do inseticida que aplicada uma única vez em cada indivíduo de uma população resulta em 50% de mortalidade. O inseticida pode ser aplicado topicamente e via ingestão. Toxicidade crônica: é a quantidade do inseticida que provoca a morte de 50% dos indivíduos de uma população-teste, quando aplicada várias vezes em cada um dos indivíduos dessa população. A dose é determinada após várias aplicações de subdosagens e os efeitos esperados ocorrem em longo prazo. Tolerância: concentração máxima dos resíduos de um agrotóxico que é permitida em um alimento por ocasião da colheita ou consumo. Carência: é o intervalo de tempo necessário desde a aplicação do produto até a colheita. g) Seletividade de inseticidas De modo geral, os inseticidas disponíveis no mercado têm largo espectro de ação e, desse modo, são ecologicamente perigosos. Uma das maiores necessidades do manejo integrado de pragas é o desenvolvimento de inseticidas seletivos ou mesmo específicos a cada grupo de insetos-praga, para poderem atuar em sinergismo com outros métodos de controle, principalmente o biológico. 35 Tais substâncias devem ter um espectro de ação suficiente para atuarem somente nos insetos-alvo, preservando os demais insetos. Como poucos inseticidas disponíveis no mercado apresentam tal vantagem, podem-se reduzir os impactos negativos dos outros inseticidas não seletivos, utilizando-os de forma criteriosa, das seguintes maneiras: - emprego deles quando necessário: somente quando a população do inseto estiver acima do nível de dano econômico; - estabelecimento de condições adequadas de aplicação: dosagens adequadas e melhores formulações, época, métodos e locais de aplicação. Exemplos: uso de iscas tóxicas (iscas granuladas) que atraem somente o inseto-alvo, uso de plantas armadilhas ou cultura armadilha que são iscadas com feromônio ou com atraentes alimentares ou são precoces, onde se aplica o inseticida somente nelas, evitando atingir toda a área; uso de inseticidassistêmicos que afeta somente os insetos que se alimentam da planta; aplicação em horários específicos onde somente a praga está em atividade etc.; - desenvolvimento de novos inseticidas e de métodos de aplicação mais específicos e de menor impacto ambiental. Exemplos: uso de inseticidas biológicos como o Dipel e o Agree à base da bactéria Bacillus thuringiensis, que são seletivos para lagartas desfolhadoras de essências florestais e não têm efeito tóxico para hemípteros predadores como o Podisus spp., que é usado no CB dessas lagartas. Além disso, são bastante seguros para outros animais e para o homem; uso de inseticidas fisiológicos como o Dimilin (difluobenzuron) que é um inibidor da síntese de quitina e tem efeito tóxico somente para insetos imaturos, sendo seletivo para grande parte dos IN dos insetos. h) Tecnologia de aplicação Refere-se aos conhecimentos necessários para aplicar um inseticida no alvo desejado (praga), na concentração adequada para matá-lo, sem contaminar outras áreas. Os inseticidas podem ser aplicados: - via sólida - pós: aplicado através de polvilhadeiras. Ex. controle de formigas cortadeiras; - grânulos: aplicado pelas granulados. Ex. controle de cupins; - via gasosa: expurgo ou fumigação. Ex. controle de formigas cortadeiras; - via líquida - pulverização: pulverizadores (energia hidráulica). Ex: controle de pragas de viveiros; 36 - atomização: atomizadores (energia pneumática). Ex: controle de lagartas; - nebulização: termonebulizadores (neblina). Ex: controle de formigas; - pulverização eletrodinâmica: electrodyn (carga elétrica). Procedimentos para calibração do equipamento Após o diagnóstico do problema é necessário periciar os equipamentos de aplicação dos agrotóxicos, para prescrever o produto em função desse equipamento. Para calibrar o equipamento deve-se utilizar a formula: Q=(600.q)/V.f em que: Q= volume de aplicação em l/ha; q= vazão do bico em l/minuto; V= velocidade de deslocamento em km/h; f= faixa de aplicação em metros. 1 o ) Determinação da faixa de aplicação (f) - medir a largura da faixa tratada por bico a cada passada do equipamento. 2 o ) Determinação da velocidade de deslocamento (V) - marcar o tempo que o equipamento leva para deslocar uma distância conhecida na velocidade de trabalho. 3 o ) -Determinação da vazão do bico (q) - calcular a vazão teórica com base no volume de aplicação (Q) recomendado pelo fabricante e nos dados de f e V calculados anteriormente, calcular “q” pela fórmula: q = (V.f.Q)/600. - consultar as tabelas dos fabricantes de bicos e escolher aquele que tem a vazão teórica igual à calculada. - acoplar tais bicos ao equipamento e calcular a vazão real; - medir o volume aplicado por minuto, com o equipamento parado, acelerado na velocidade de trabalho. A diferença entre a vazão real e a teórica não deve ultrapassar 10%, caso ocorra, trocar os bicos por novos. 4 o ) Determinação do volume realmente aplicado - com base nos dados de f, V e “q real”, anteriormente calculados, calcular Q pela formula: Q=(600.q)/V.f 5 o ) Determinação da quantidade de inseticida a ser adicionada ao equipamento - após todos esses passos é possível calcular a quantidade de produto a ser adicionada ao equipamento, usando as informações que constam na bula dos produtos. 37 i) Cuidados na aplicação de defensivos - ler atentamente as instruções no rótulo do produto; - usar todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) recomendados; - procurar informações técnicas; - não abrir embalagens em ambientes fechados; - usar água limpa para o preparo da calda; - guardar os defensivos em local adequado; - nunca fazer aplicações nos dias de ventos fortes; - afastar crianças e gestantes do local; - verificar a saúde do trabalhador; - lavar o material utilizado em local apropriado; - nunca reutilizar o vasilhame para outros fins; - tomar banho após a pulverização; - não fazer uso de bebida alcoólica e de alimentos durante a aplicação; e - respeitar o período de carência etc.; - em caso de intoxicação procurar um médico munido da embalagem do produto, para que o especialista saiba que antídoto usar. 38 10. MANEJO INTEGRADO DE INSETOS-PRAGA FLORESTAIS 10.1. PRAGAS DE VIVEIROS FLORESTAIS A fase de viveiro é a mais suscetível do desenvolvimento de uma floresta implantada e, quando mal planejada, poderá comprometer todas as operações seguintes, inviabilizando o projeto de reflorestamento. A tecnologia de produção de mudas florestais teve grande avanço nos últimos anos, deixando a produção de mudas por sementes em sacos plásticos depositados sobre o solo, para a produção por estaquia em tubetes colocados em viveiros suspensos, chegando até as casas de vegetação com a micro-propagação. Durante esse percurso a produção de mudas florestais teve que enfrentar diversos fatores que contribuíam para o insucesso do empreendimento, como as pragas e doenças. As principais pragas que podem danificar as mudas florestais são as lagartas-rosca, lagarta- elasmo, grilos, paquinhas, cupins, formigas cortadeiras, besouros desfolhadores e moscas minadoras. Geralmente, o que determina a ocorrência dessas pragas é o tipo de sistema de produção de mudas (viveiros suspensos ou não) e o tipo de manejo das mudas. Viveiros suspensos têm menor probabilidade de ocorrência de pragas, pois a maioria delas está associada ao solo, como cupins, paquinhas, formigas e grilos. O manejo das mudas está relacionado aos cuidados dispensados na sua produção. Mudas mal nutridas ou viveiros mal cuidados favorecem a ocorrência de pragas de viveiros. Embora a suspensão dos viveiros e a produção de mudas em casa de vegetação tenham reduzido em grande parte a ocorrência de pragas, existem, ainda, diversas essências florestais nativas e exóticas, que são produzidas pelo sistema antigo e que, por isso, sofrem o ataque de um grande número de pragas. a) Principais espécies As principais espécies de pragas que atacam viveiros florestais estão distribuídas em diferentes ordens e famílias, conforme descrito na Tabela 5. TABELA 5. Principais espécies de pragas em viveiros florestais. 39 Nome Comum Nome Científico Família Lagarta-rosca Agrotis ipsilon Noctuidae Lagarta-rosca Agrotis repleta Noctuidae Lagarta-rosca Agrotis subterranea Noctuidae Lagarta-rosca Spodoptera frugiperda Noctuidae Lagarta-rosca Spodoptera latifascia Noctuidae Lagarta-rosca Nomophila noctuella Pyralidae Grilo Gryllus assimilis Gryllidae Paquinha Noecurtilla hexadactila Gryllotalpidae Paquinha Scapteriscus didactyllus Gryllotalpidae Paquinha Tridactylus politus Tridactylidae Formigas cortadeiras Acromyrmex spp. Formicidae Formigas cortadeiras Atta spp. Formicidae Cupim Armitermes spp. Termitidae Cupim Cornitermes spp. Termitidae Cupim Heterotermes spp. Rhinotermitidae Cupim Procornitermes spp. Termitidae Cupim Syntermes spp. Termitidae Mosca minadora Bradisia spp. Liriomyzidae Mosca minadora Liriomyza spp. Liriomyzidae Broca-do-cedro Hypsipylla grandella Pyralidae Lagarta elasmo Elasmopalpus lignosellus Pyralidae Besouro-amarelo Costalimaita ferruginea Chrysomelidae b) Reconhecimento das principais espécies Lagartas-rosca Espécies: Agrotis spp. e Spodoptera spp (Lepidoptera: Noctuidae) Ocorrência: todo Brasil. Adulto: Agrotis spp. - mariposas com 35 mm, com asas anteriores marrons com algumas manchas pretas triangulares no ápice, asas posteriores transparentes. Spodoptera spp - mariposas com 35 mm, com asas anteriores pardo escuras, asas posteriores branco acinzentadas. Lagarta: Agrotis
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