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PSICODIAGNÓSTICO ✕ Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais. É um processo que visa a identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um foco na existência ou não de psicopatologia. ✕ É esta abordagem que confere a perspectiva clínica a esse tipo de avaliação de diferenças individuais. ✕ O psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica, introduzida por Lighter Witmer, em 1896, e criada sob a tradição da psicologia acadêmica e da tradição médica. Consta que nem ao fundador da psicologia clínica agradou a designação “clínica”, adotada apenas por faltade melhor alternativa (Garfield, 1965). ✕ Tudo indica que essa tradição médica, associada à psicologia clínica, teria efeitos marcantes na formação da identidade profissional do psicólogo clínico, oferecendo-lhe, por um lado, modelos de identificação e, por outro, acentuando as suas dificuldades nas relações interprofissionais. ✕ O fim de século XIX e o começo do seguinte foram marcados pelos trabalhos de Galton, que introduziu o estudo das diferenças individuais, de Cattell, a quem se devem as primeiras provas, designadas como testes mentais, e de Binet, que propôs a utilização do exame psicológico (por meio de medidas intelectuais) como coadjuvante da avaliação pedagógica. ✕ A esses três autores é atribuída a paternidade do psicodiagnóstico. ✕ No psicodiagnóstico, há a utilização de testes e de outras estratégias, para avaliar um sujeito de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de problemas. CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes ✕ psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso. ✕ Caracterizamos o psicodiagnóstico como um processo científico, porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou infirmadas através de passos predeterminados e com objetivos precisos. ✕ Tal processo é limitado no tempo, baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliação e, portanto, uma estimativa do tempo necessário. ✕ O plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los. Pressupõe-se, naturalmente, que o psicólogo saiba que instrumentos são eficazes quanto a requisitos metodológicos. ✕ Os instrumentos podem ser eficientes, se aplicados com um propósito específico, para fornecer respostas a determinadas perguntas ou testar certas hipóteses. ✕ Selecionada e administrada uma bateria de testes, obtêm-se dados que devem ser interrelacionados com as informações da história clínica, da história pessoal ou com outras, a partir do elenco das hipóteses iniciais, para permitir uma seleção e uma integração, norteada pelos objetivos do psicodiagnóstico, que determinam o nível de inferências que deve ser alcançado. ✕ Os resultados são comunicados a quem de direito, podendo oferecer subsídios para decisões ou recomendações. ✕ O processo do psicodiagnóstico pode ter um ou vários objetivos, dependendo dos motivos alegados ou reais do encaminhamento e/ou da consulta, que norteiam o elenco de hipóteses inicialmente formuladas, e delimitam o escopo da avaliação. OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA CLÍNICA Objetivos O exame compara a amostra do comportamento do examinando com os resultados de outros sujeitos da população geral ou de grupos específicos, com condições demográficas equivalentes; esses resultados são fornecidos em dados quantitativos, classificados sumariamente, como em uma avaliação de nível intelectual. Descrição Ultrapassa a classificação simples, interpretando diferenças de escores, identificando forças e fraquezas e descrevendo o desempenho do paciente, como em uma avaliação de déficits neuropsicológicos OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA CLÍNICA Classificação nosológica Hipóteses iniciais são testadas, tomando como referência critérios diagnósticos Diagnóstico diferencial São investigadas irregularidades ou inconsistências do quadro sintomático, para diferenciar alternativas diagnósticas, níveis de funcionamento ou a natureza da patologia OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA CLÍNICA Avaliação compreensiva É determinado o nível de funcionamento da personalidade, são examinadas as funções do ego, em especial a de insight, condições do sistema de defesas, para facilitar a indicação de recursos terapêuticos e prever a possível resposta aos mesmos. Entendimento dinâmico Ultrapassa o objetivo anterior, por pressupor um nível mais elevado de inferência clínica, havendo uma integração de dados com base teórica. Permite chegar a explicações de aspectos comportamentais nem sempre acessíveis na entrevista, à antecipação de fontes de dificuldades na terapia e à definição de focos terapêuticos, etc OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA CLÍNICA Prevenção Procura identificar problemas precocemente, avaliar riscos, fazer uma estimativa de forças e fraquezas do ego, de sua capacidade para enfrentar situações novas, difíceis, estressantes. Prognóstico Determina o curso provável do caso. Perícia forense Fornece subsídios para questões relacionadas com “insanidade”, competência para o exercício das funções de cidadão, avaliação de incapacidades ou patologias que podem se associar com infrações da lei, etc ✕ Como se pode pressupor, dependendo da simplicidade ou da complexidade das questões propostas, variam os objetivos. ✕ No diagnóstico diferencial o psicólogo investiga irregularidades e inconsistências do quadro sintomático e/ou dos resultados dos testes para diferenciar categorias nosológicas, níveis de funcionamento. ✕ Naturalmente, para trabalhar com tal objetivo, o psicólogo, além de experiência e de sensibilidade clínica, deve ter conhecimento de psicopatologia e de técnicas sofisticadas de diagnóstico. ✕ O objetivo de avaliação compreensiva considera o caso numa perspectiva mais global, determinando o nível de funcionamento da personalidade, examinando funções do ego, em especial quanto a insight, para indicação terapêutica ou, ainda, para estimativa de progressos ou resultados de tratamento. ✕ O objetivo de entendimento dinâmico pode ser considerado como uma forma de avaliação compreensiva, já que enfoca a personalidade de maneira global, mas pressupõe um nível mais elevado de inferência clínica. ✕ Através do exame, procura-se entender a problemática de um sujeito, com uma dimensão mais profunda, na perspectiva histórica do desenvolvimento, investigando fatores psicodinâmicos, identificando conflitos e chegando a uma compreensão do caso com base num referencial teórico. ✕ Um exame desse tipo requer entrevistas muito bem conduzidas, cujos dados nem sempre são consubstanciados pelos passos específicos de um psicodiagnóstico, não sendo, portanto, um recurso privativo do psicólogo clínico. RESPONSABILIDADE: O DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO PODE SER REALIZADO: ✕ a) pelo psicólogo, pelo psiquiatra (e, eventualmente, pelo neurologista ou psicanalista), com vários objetivos (exceto o de classificação simples), desde que seja utilizado o modelo médico apenas, no exame de funções, identificação de patologias, sem uso de testes e técnicas privativas do psicólogo clínico; ✕ b) pelo psicólogo clínico exclusivamente,para a consecução de qualquer ou vários dos objetivos, quando é utilizado o modelo psicológico (psicodiagnóstico), incluindo técnicas e testes privativos desse profissional; ✕ c) por equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, neurologista, orientador educacional, assistente social ou outro), para a consecução dos objetivos citados e, eventualmente, de outros, desde que cada profissional utilize o seu modelo próprio, em avaliação mais complexa e inclusiva, em que é necessário integrar dados muito interdependentes (de natureza psicológica, médica, social, etc.). OPERACIONALIZAÇÃO ✕ Em termos de operacionalização, devem ser considerados os comportamentos específicos do psicólogo e os passos para a realização do diagnóstico com um modelo psicológico de natureza clínica. COMPORTAMENTOS ESPECÍFICOS ✕ Os comportamentos específicos do psicólogo podem ser assim relacionados, embora possam variar na sua especificidade e na sua seriação, conforme os objetivos do psicodiagnóstico: ✕ a) determinar motivos do encaminhamento, queixas e outros problemas iniciais; ✕ b) levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional e/ou escolar, etc. sobre o sujeito e pessoas significativas, solicitando eventualmente informações de fontes complementares; ✕ c) colher dados sobre a história clínica e história pessoal, procurando reconhecer denominadores comuns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e dinâmico; ✕ d) realizar o exame do estado mental do paciente (exame subjetivo), eventualmente complementado por outras fontes (exame objetivo); ✕ e) levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame; ✕ f) estabelecer um plano de avaliação; ✕ g) estabelecer um contrato de trabalho com o sujeito ou responsável; ✕ h) administrar testes e outros instrumentos psicológicos; ✕ i) levantar dados quantitativos e qualitativos; ✕ j) selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme o nível de inferência previsto, com os dados da história e características das circunstâncias atuais de vida do examinando; ✕ l) comunicar resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes), propondo soluções, se for o caso, em benefício do examinando; ✕ m) encerrar o processo. OS PASSOS DO DIAGNÓSTICO, UTILIZANDO UM MODELO PSICOLÓGICO DE NATUREZA CLÍNICA, SÃO OS SEGUINTES: ✕ a) levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e definição das hipóteses iniciais e dos objetivos do exame; ✕ b) planejamento, seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico; ✕ c) levantamento quantitativo e qualitativo dos dados; ✕ d) integração de dados e informações e formulação de inferências pela integração dos dados, tendo como pontos de referência as hipóteses iniciais e os objetivos do exame; ✕ e) comunicação de resultados, orientação sobre o caso e encerramento do processo. A AVALIAÇÃO DA PSICOPATOLOGIA - TRANSTORNOS MENTAIS E CLASSIFICAÇÕES NOSOLÓGICAS ✕ Na tradução brasileira do DSM IV, consta que transtorno mental pode ser conceituado: ✕ “como uma síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente importante, que ocorre no indivíduo”, registrando-se, a seguir, “que está associado com sofrimento (...) ou incapacitação (...) ou com um risco significativamente aumentado de sofrimento atual, morte, dor, deficiência ou perda importante da liberdade” e, ademais, “não deve ser meramente uma resposta previsível e culturalmente sancionada a um determinado evento, por exemplo a morte de um ente querido”. Além disso, independentemente da causa original, “deve ser considerada no momento como uma manifestação de uma disfunção comportamental, psicológica ou biológica no indivíduo”. ✕ Comportamentos socialmente desviantes não são considerados transtornos mentais, a não ser que se caracterizem como sintoma de uma disfunção, no sentido já descrito. ✕ A partir dessa conceituação, vê-se que é clara a exigência de uma associação com sofrimento ou incapacitação ou, ainda, com risco de comprometimento ou perda de um aspecto vitalmente significante. ✕ Em segundo lugar, fica evidente que os sintomas devam ser comportamentais ou psicológicos, embora possa haver uma disfunção biológica. ✕ Em terceiro lugar, esse conceito descaracteriza os serviços e os membros da comunidade de saúde mental como agentes de controle social, no momento em que considera que um conflito entre indivíduo e sociedade pode ser identificado como um desvio, condenável pelos padrões sociais, mas que, por si, não é tido como transtorno mental, a menos que, ao mesmo tempo, constitua o sintoma de uma disfunção. ✕ Para quem trabalha com psicodiagnóstico, é essencial a familiaridade com os sistemas de classificação nosológica, já que a nomenclatura oficial dos transtornos é extremamente útil na comunicação entre profissionais, além do fato de que outros documentos, como atestados, além de laudos, podem exigir o código do transtorno de um paciente. ✕ Confira cuidadosamente todos os critérios a partir de suas hipóteses diagnósticas, pondere bem sobre todas as características do caso, examine o que diferencia o caso de outros transtornos e tenha em mente critérios usados para a exclusão de outros diagnósticos. MOTIVOS CONSCIENTES E INCONSCIENTES ✕ A marcação da consulta formaliza um processo de trabalho psicológico já iniciado, precedido de intensa angústia e ambivalência. ✕ Corresponde à admissão da existência de algum grau de perturbação e de dificuldades que justificam a necessidade de ajuda. ✕ A emergência de fortes defesas nesse período pode, por vezes, mascarar as motivações inconscientes da busca pelo processo psicodiagnóstico. ✕ Também, nos casos em que o paciente é encaminhado por outrem ao psicólogo, o motivo aparente pode ser a própria solicitação do exame ou fato de ter sido mobilizado por colegas, amigos, parentes. ✕ Nessas circunstâncias, o paciente pode ter uma percepção vaga de sua problemática, mas preferir chegar ao psicólogo pelo reforço de um encaminhamento médico, por exemplo. ✕ Pode haver algum nível de consciência do problema e lhe ser muito dolorosa a situação de enfrentamento de sua dificuldade. ✕ Assim, por suas resistências, o paciente pode negar a realidade e depositar num terceiro a responsabilidade pela procura. Portanto, há uma tendência para que o motivo explicitado ao psicólogo seja o menos ansiogênico e o mais tolerável para o paciente ou, ainda, para o responsável que o leva. ✕ Em geral, não é o mais verdadeiro. Conseqüentemente, há tendência para explicitação dos motivos, conforme a gradação e apropriação, pela consciência do paciente. As motivações inconscientes estão no nível mais profundo e obscuro da psique. ✕ Constituem-se nos aspectos mais verdadeiramente responsáveis pelas aflições do paciente. Cabe ao psicólogo observar, perceber, escutar com tranqüilidade, aproximar-se sem ser coercitivo, inquiridor, todo-poderoso. ✕ Somente assim se criam o silêncio necessário e o espaço para que o paciente revele sua intimidade, ou senão, denuncie os aspectos incoerentes e confusos de seus conflitos. Para tanto, é sobremodo importante observar como o paciente trata a si próprio e as suas dores. Isso passa pelo vestir-se, pelo comunicar-se verbalmente e não verbalmente, pela linguagem corporal, pelo conteúdo dessas comunicações. ✕ Todo movimento corpóreo deve ser considerado como indicativo da realidade interior e expressão do psiquismo . Assim, o psicólogo pode decodificar as variadas mensagens que recebe, discriminando o quanto há de reconhecimento do sofrimento, das motivações implicadas, delineando o seu projeto de avaliação. ✕ Quando os pais levam a criança ou o adolescente ao psicólogo, podeocorrer que o sujeito constitua “o terceiro excluído ou incluí- do”. Se ignora o motivo, é excluído. Mas é preciso investigar se está realmente incluído, porque pode ocorrer o fato de os pais verbalizarem o motivo, porém não o mais verdadeiro ou o mais autêntico, dentro de sua percepção. Isso se dá em função de fantasias sobre o que pode acontecer em face da explicitação do que é mais doloroso e profundo e, portanto, do mais oculto. ✕ Se a realidade está sendo distorcida, podem advir algumas dificuldades para o psicodiagnóstico, caso o psicólogo não perceba e ou não altere essa situação. ✕ Em primeiro lugar, o processo pode ser iniciado com o conflito deslocado, comprometendo a investigação. ✕ Em segundo lugar, o paciente percebe a discrepância e projeta no material de teste suas dificuldades, enquanto o psicólogo “finge estar investigando uma coisa, mas sorrateiramente explora outra socialmente rejeitada”. ✕ Em terceiro lugar, outras dificuldades podem ocorrer, no momento da devolução: a) no caso do parecer técnico estar contaminado e distorcido; b) porque o psicólogo entra em aliança com os aspectos patológicos; c) por adotar uma atitude ambígua, não sendo devidamente explícito; ou, ainda, d) deixando claros somente os pontos tolerados pelo paciente e por seu grupo familiar. ✕ Em quarto lugar, o comprometimento que pode sofrer a indicação para a terapia, visto que o paciente temerá repetir o mesmo vínculo dúbio e falso. ✕ Compete ao psicólogo abordar cada dado sob vários aspectos, até que seu sentido adquira maior consistência e especificidade. Quando o paciente chega por encaminhamento, deve-se esclarecer quem o encaminhou, em que circunstância ocorreu o encaminhamento e quais as questões propostas para a investigação. ✕ Conclui-se que é fundamental que o psicólogo esclareça, o mais amplamente possível e de forma objetiva, as motivações conscientes indicadas e as inconscientes envolvidas no pedido de ajuda. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ✕ A discriminação entre os motivos explícitos e implícitos para a busca de ajuda colabora para que o psicólogo identifique quem é o seu verdadeiro paciente: a pessoa que é trazida ou assume a procura, o grupo familiar ou ambos. ✕ Em face do encaminhamento e do primeiro contato do psicólogo com o paciente e ou com seu grupo familiar, a tarefa fundamental que se lhe apresenta é definir quem é o paciente, em realidade, levantando todas as indagações possíveis em torno dele e da totalidade da situação envolvida na busca de ajuda, passando pelo grau de consciência das dificuldades. DINÂMICA DA INTERAÇÃO CLÍNICA ✕ A interação clínica psicólogo-paciente verifica-se ao longo de todo o processo psicodiagnóstico. ✕ Essas duas pessoas entram em relação e passam a interagir em dois planos, ou seja, o de atitudes e o de motivações. Ambas têm suas funções e papéis e estão na relação diagnóstica No plano inconsciente, têm-se os fenômenos de transferência e de contratransferência. O primeiro é experienciado pelo paciente ao se relacionar, no aqui e agora da situação diagnóstica, com o psicólogo, não como tal, mas como figura de pai, irmão, mãe. ✕ A contratransferência verifica-se no psicólogo na medida em que assume papéis na sua tarefa, conforme os impulsos de seus padrões infantis de figuras de autoridade ou outros padrões primitivos de relacionamento. ✕ O fenômeno transferencial não tem um caráter só positivo ou negativo, mas consiste na “recriação dos diversos estágios do desenvolvimento emocional do paciente ou reflexo de suas complexas atitudes para com figuras-chave de sua vida”. ✕ Na situação de psicodiagnóstico, observam-se ocorrências de transferência na necessidade do paciente de estar agradando, de se sentir aceito pelo psicólogo, como, por exemplo, nos pedidos de horário e acerto financeiro especiais. ✕ Podem verificar-se situações transferenciais, envolvendo sentimentos competitivos, como no caso do paciente que compete no horário de chegada, ou daquele que desafia e agride o psicólogo, atacando o consultório ou ele próprio (linguagem, vestimentas, conhecimentos, etc.). ✕ É importante que a transferência não seja confundida com o vínculo estabelecido com o psicólogo, na medida em que este se centra na realidade da avaliação, através da interação entre os aspectos de ego mais sadios do psicólogo e do paciente, e é baseado na relação de confiança básica entre a mãe e a criança. ✕ A resistência do paciente à tarefa também se constitui em uma forma de transferência. O paciente compete, ou tenta obter provas da aceitação do psicólogo, buscando manipular a situação de testagem, ou espera ser aliviado de seus sintomas, magicamente, por meio do poder que atribui ao psicólogo ✕ O silêncio prolongado e sistemático ou o paciente que fala sem parar também são manifestações de resistência à avaliação. Igualmente, o paciente pode usar mecanismos de intelectualização muito fortes, buscando o apoio e a concordância do psicólogo. Outras formas de resistência são a insistência do paciente em só falar sobre seus sintomas, ou, ao contrário, falar sobre banalidades, evitando os motivos mais profundos, assim como as demonstrações excessivas de afeto para com o psicólogo. ✕ A conduta de atuação também encerra resistência e se manifesta nas faltas, nos atrasos, em freqüentes pedidos de troca de horário, em ir ao banheiro várias vezes durante a sessão, por exemplo. É necessário que se saliente que essas condutas devem merecer adequada e sensível avaliação do psicólogo, buscando seu significado dentro da relação vincular com aquele paciente, diante da sua história e do aqui e agora do processo diagnóstico. ✕ Em termos de fenômeno contratransferencial, o psicólogo pode ficar dependente do afeto do paciente, deixando-se envolver por elogios, presentes, propostas de ajuda; pode facilitar ou não horários; pode exibir conhecimento e pavonear-se; ou pode proteger o paciente contra os seus sentimentos agressivos. ✕ O psicólogo pode se ver tentado a prolongar o vínculo além do que é necessário, ou a competir com o paciente, ou ainda, a conduzir a tarefa como se o fizesse consigo próprio. ✕ É fundamental que o psicólogo esteja sempre alerta à contratransferência, no sentido de percebê-la e entendê-la como um fenômeno normal, buscando dar-se conta de seus sentimentos, não permitindo que eles atuem no processo psicodiagnóstico. ✕ Por outro lado, os sentimentos contratransferenciais podem ser considerados adequados na medida em que possibilitam que o psicólogo perceba o inconsciente do paciente. Outro aspecto importante a ser considerado no psicodiagnóstico é a percepção que o paciente tem dos objetivos da avaliação e de como ela vai transcorrendo. ✕ O psicólogo deve estar atento às manifestações ocultas e aparentes de como o paciente está se sentindo e está se percebendo ao longo da tarefa. Assim, também é imprescindível investigar a motivação do paciente em termos de conhecimentos e de atitudes. ✕ Com relação ao psicólogo, os mesmos autores fazem comentários sobre a atitude de estímulo, apoio, encorajamento, bem como sobre a atitude distante na produção do paciente à testagem. ✕ A propósito, citam um estudo americano, que objetivou avaliar a influência do rapport positivo e negativo na produtividade de respostas ao Rorschach, bem como avaliar características de personalidade do psicólogo intervenientes nessa testagem. ✕ Os resultados apontaram para o fato de que a personalidade dos psicólogos exerce maior influência do que o clima emocional da situação de teste. Os índices mais produtivos no Rorschach foram associados à forma positiva com que foi administrado o teste (psicólogo afável e compreensivo), e os índices mais comprometidos e menos sadios foram associados à administração negativa (psicólogodistante e autoritário). ✕ À forma de administração chamada neutra (psicólogo “cortês, mas metódico”) corresponderam índices intermediários entre elevada e baixa produtividade. ✕ O psicólogo se sente ansioso ante os inúmeros dados que emergem durante o exame psicológico. Em função dessa ansiedade, podem ocorrer erros na formulação diagnóstica, visto que, de forma onipotente, pode considerar as “impressões iniciais” com amplitude inadequada. Portanto, é fundamental para o psicólogo o conhecimento de si próprio, devendo estar alerta para o movimento dos processos inconscientes, não deixando de lado, em nenhum momento, a sua dimensão única como pessoa. Definição de problemas e necessidades do psicólogo. ✕ Na tarefa de psicodiagnóstico, o psicólogo sofre pressões do paciente, do grupo familiar, do ambiente, de quem encaminhou o paciente e dele próprio. O paciente quer ser ajudado e quer respostas. ✕ O meio ambiente, ou seja, o local de trabalho do psicólogo, os colegas, as chefias, muitas vezes, bem como uma equipe multiprofissional ou não, conforme o caso, também exercem suas pressões sobre a condução do caso, planificação e manejos finais. Num trabalho em equipe formalizado, ou mesmo entre a própria classe dos psicólogos, os aspectos competitivos e invejosos são intensamente mobilizados. ✕ A situação de psicodiagnóstico torna-se importante em termos de afirmação e valorização da tarefa do psicólogo. A percepção do ambiente sobre o seu trabalho é uma das pressões exercidas sobre ele. ✕ Por outro lado, a sua própria percepção de como exerce e maneja sua tarefa também é um fator de pressão sobre a sua auto-imagem. A pessoa que efetuou o encaminhamento aguarda respostas específicas, as quais a auxiliarão no seu atendimento e/ou reforçarão ou não a confiança no papel do psicólogo. ✕ O psicólogo necessita obter dados que possam ser por ele empregados, no sentido de respostas, bem como precisa que esses fatos sejam úteis para a atribuição de escores na testagem. ✕ O psicólogo espera que o paciente colabore, seja franco, forneça todos os dados necessários e seja “comportado”, mantendo-se no seu papel. Essa exigência é fantasiosa e decorre da onipotência e arrogância do psicólogo, assim como do desejo de satisfazer as suas necessidades internas e externas. ✕ Ele pode ter dificuldades em reconhecer percepções, quer por falta de clareza, quer pelos dados serem muito precários. Pode recorrer à capacidade de representação, como uma forma complementar, até que imagens mais claras tenham se estabelecido. Em inúmeras situações, o psicólogo é driblado por sua própria expectativa. ✕ Não raro se depara com estudantes e profissionais da psicologia frustrados, porque o seu paciente não forneceu os dados que eles precisavam nem correspondeu ao que eles esperavam do paciente. ✕ Caso o paciente se mostre resistente, através de condutas negativistas, evasivas, ou, ao contrário, provocadoras, com excessiva loquacidade, o psicólogo pode experienciar sentimentos de raiva e intolerância, os quais, se não detectados e conscientizados, podem interferir gravemente ou até invalidar o processo avaliativo. Afinal, consiste em sabedoria para ✕ o psicólogo compreender e aceitar que a psique se revela, ao mesmo tempo que se esconde e, ao esconder-se, dá-se a revelação . ENTREVISTA LÚDICA ✕ Aberastury evidenciou o valor do diagnostico ✕ da entrevista lúdica. Não há necessidade de uma caixa para cada criança. Ao final o terapeuta deverá guardar junto com a criança todo o material utilizado, que ficará fechada. (acesso só a criança e o terapeuta) ✕ Essa caixa se transforma no símbolo ao sigilo entre terapeuta e paciente. ✕ Nessa entrevista não se deve interpretar. Falta ainda informações sobre a criança, se será tratada ou não. ✕ Essa hora diagnóstica tem um hora para começar, uma dinâmica e uma hora para terminar. A ENTREVISTA ✕ 1. Oferecer a criança a oportunidade de brincar livremente. ✕ 2. Estabelecer o vínculo transferencial ✕ 3. Nos brinquedos oferecidos a criança deposita parte dos sentimentos dos vínculos com objetos de seu mundo interno. ✕ 4. Muito fenômenos poderão ser observados no brincar da criança. ✕ A criança projetará suas questões tanto nos acontecimentos do jogo quanto na maneira como usa os materiais e brinquedos. ✕ As crianças agem, falam e brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização, e é pela ação (ativa ou passiva) que elas exprimem suas possibilidades descobrindo-se a si mesma e revelando-se aos outros ✕ Brincar, não brincar, falar ou não falar, romper o enquadramento – o psicólogo faça um assinalamento para ajudá-las a lidar com a angústia. ✕ A atuação do psicólogo é passivo, como um observador e ativo na medida em que fica atento na compreensão e formulando hipóteses sobre a problemática do entrevistado ✕ Dependendo de cada situação o psicólogo pode participar de alguma brincadeira ou poderá desempenhar determinado papel. Caso seja o desejo da criança. ✕ A SALA ✕ 1. Fácil de limpar; ✕ 2. Ampla; ✕ 3. banheiro; ✕ 4. acesso a água; O MATERIAL ✕ 1. Sem ordem aparente; ✕ 2. Em caixas ou armários; ✕ 3. Sempre com portar ou tampas abertas; ✕ 4. Deve ser conveniente para atender crianças de diferentes idade, sexo e interesses; ✕ OS BRINQUEDOS ✕ Papel, lápis preto e colorido, canetinha, borracha, apontador, régua, cola, fita adesiva, corda, tesoura, massa de modelar, argila, tinta, pinceis, bonecos, marionetes, família de bonecos, casa de bonecos, família de animais selvagens e domésticos, blocos de construções, carros, caminhões, aviões, bola, armas de brinquedos, soldados, super-heróis, cowboys e índios, equipamento de cozinha ✕ Equipamentos de enfermagem e de ferramentas, quebra-cabeças, telefone, panos, jogos de competição e quadro branco. INTERPRETAÇÃO ✕ Tarefa difícil. Requer leitura, supervisão e terapia. ✕ Uma boa interpretação permite: ✕ A) identificação do conflito; ✕ B) conhecer seus mecanismo de defesa e ansiedades; ✕ C) avalia o tipo de rapport que a criança pode estabelecer. ✕ D) verifica-se as fantasias de doença e cura. PSICODINÂMICA ✕ A escolha de brinquedos está relacionada com o momento evolutivo emocional e intelectual. ✕ Os brinquedos e jogos são analisados do ponto de vista evolutivo. Registra-se cada manifestação da conduta lúdica, classificado- as conforme as idades dentro de alguns dos referenciais da psicologia do desenvolvimento. ✕ Deve-se comparar com as fase evolutivas da psicanálise. O que proporcionará uma visão abrangente do desenvolvimento da criança. ✕ Devemos reparar essa modalidade: ✕ Plasticidade, ✕ Rigidez, ✕ Estereotipia, ✕ Perseveração. PLASTICIDADE ✕ Expressa suas fantasias através de brincadeiras organizadas com sequência lógica, usando brinquedos ou objetos que podem modificar suas funções de acordo com a necessidade de expressão. Mostrando a variedade de recursos egóicos e uma significativa riqueza interna, sem recorrer a mecanismos de controle excessivos. RIGIDEZ ✕ Quando a criança fixa certos comportamentos ou ações de forma rígida para expressar a mesma fantasia mostra grande dificuldade para aproveitar e modificar os atributos dos brinquedos e um ego pobre em recursos frente a ansiedade, resultando em escolha de brinquedos e jogos monótonos e pouco criativos. ESTERIOTIPIA E RIGIDEZ ✕ São as mais patológicas do funcionamento egóico, típica de crianças psicótica,
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