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Animais utilizados em experimentos Módulo 25 Objetivos de aprendizagem • Entender o uso atual e provável uso futuro de animais em laboratórios/pesquisa • Entender os argumentos a favor e contra o uso de animais na experimentação • Familiarizar-se com as principais questões relativas ao bem-estar dos animais em laboratórios • Entender os “3 Rs” e familiarizar-se com diversos tipos de legislação referente ao uso de animais na ciência Sumário do Conteúdo • Usos de animais de experimentação • Éticas a favor e contra • Estudo de caso: Vacina contra poliomielite • Questões de bem-estar de animais de experimentação • Primatas: Casos especiais? • Novas fronteiras: Engenharia genética • Medicina alternativa • Substituição (Replacement) • Redução • Refinamento • Controles legais Usos de animais de experimentação 1 • Pesquisa básica: Aumento do conhecimento sem aplicações práticas imediatas – Por exemplo, fisiologia – Por exemplo, pesquisa do comportamento animal Primeiro abordaremos os diferentes usos dos animais de experimentação ou de laboratório: Alguns animais de experimentação serão usados na pesquisa fundamental ou básica, ou seja, em experimentos com o único intuito de aumentar o conhecimento em uma determinada área, como fisiologia ou o próprio comportamento animal, sem qualquer idéia imediata de porque ou como este conhecimento poderá ser útil na prática. Os críticos da experimentação animal acreditam que, pelo fato de os animais sofrerem, o uso deles na pesquisa básica deveria ser mais bem justificado; deveria ao menos existir a perspectiva de que o conhecimento adquirido em última análise tenha alguma aplicação prática. O mero aumento de conhecimento em si não deveria ser o suficiente para justificar infligir deliberadamente dor, sofrimento ou lesão permanente. Usos de animais de experimentação 2 • Pesquisa biomédica: Propósitos específicos na medicina – Por exemplo, modelos animais de doenças humanas – Por exemplo, testes de drogas • A diferença entre pesquisa aplicada e básica não está clara Outros animais podem ser usados na pesquisa ou em testes da área biomédica, que têm a finalidade específica de obter avanços relativos a aspectos práticos da medicina. Por exemplo, um animal pode ser usado como modelo para uma doença humana e o sucesso de diferentes drogas é testado usando este modelo. Outro exemplo é o uso de macacos infectados com poliomielite em testes de vacinas contra esta doença. Usos de animais de experimentação 3 • Testes de segurança de produtos para uso humano, desde novos medicamentos até produtos de uso doméstico e cosméticos • Pesquisa veterinária: Investigação de doenças animais e produção de medicamentos para uso veterinário Outros usos de animais de experimentação incluem: Testes de produtos, tentando prever sua segurança para uso humano. Os produtos testados podem ser produtos químicos para uso doméstico, produtos farmacêuticos ou cosméticos. As autoridades governamentais competentes exigem “testes de segurança” antes dos produtos serem colocados no mercado. Muitos destes são, por convenção, testes em animais e podem incluir: • Testes de toxicidade aguda (efeito de grandes quantidades do produto) e testes de toxidade crônica (efeitos de quantidades menores durante longos períodos) • Testes de carcinogenicidade para ver se o produto causa câncer • Testes de toxicidade reprodutiva e ao desenvolvimento, para identificar efeitos prejudiciais sobre sistemas reprodutivos ou fetos • Testes de irritação dérmica ou dos olhos, por exemplo o teste de Draize, que envolve pingar substâncias nos olhos de coelhos (veja foto) • Testes de mutagenicidade para avaliar se produtos podem causar mutações genéticas • Animais são também usados na pesquisa veterinária, para investigar doenças dos animais e para a produção de medicamentos para uso veterinário. Estes testes admitidamente não são infalíveis para indicar como um produto pode afetar as pessoas, por isso também são realizados testes em voluntários humanos sadios e testes clínicos antes do produto chegar ao mercado. Usos de animais de experimentação 4 • Ensino e treinamento: dos animais de companhia na sala de aula, passando pelas dissecações escolares à pesquisa de estudantes universitários • Produção de materiais – Por exemplo, produção de anticorpos em coelhos – Por exemplo, modificação genética de animais para produção do fator 8 Animais são usados em diferentes níveis para a educação. Isto pode envolver o uso de animais de companhia em salas de aula ou dissecação de roedores em aulas de biologia escolares – em alguns países durante muitos anos não existia controle relativo a qualquer dissecação em escolas. No Brasil, a Lei Federal nº 6.638, de 8 de maio de 1979, que estabelece normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais, dispõe, em seu artigo 3º inciso IV, que a vivissecção não será permitida “em estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus e em quaisquer locais freqüentados por menores de idade”. Estudantes universitários podem usar animais de experimentação como ferramenta de pesquisa. Em alguns países, animais são usados no ensino veterinário ou médico, para praticar cirurgias. No Reino Unido, praticar técnicas cirúrgicas em animais foi ilegal entre 1876 e 1986. Em 1986, foi liberado para a prática de microcirurgia, apesar de que existe um modelo que utiliza placenta humana de descarte disponível por algum tempo. Apesar deste fato, o Reino Unido tem historicamente produzido bons cirurgiões e tem forte tradição de inovação neste campo. Animais podem ser usados como fábricas biológicas para a produção de itens desejados, como o uso de coelhos para a produção de anticorpos. Nota-se que alguns desses métodos são invasivos e dolorosos – o método de induzir ascite em camundongos para produzir anticorpos monoclonais, causando dor severa, foi proibido no Reino Unido em 1999. A produção humanitária de anticorpos monoclonais foi pela primeira vez descrita em 1975 e muitos métodos sem usar animais foram desenvolvidos, tais como as culturas “Roller”, sistemas de cultura usando a membrana ou a matriz celular, biorreatores de fibras ocas e a tecnologia de “anticorpos exibidos sobre superfície de fagos filamentosos” (Phage Antibody Display). Animais também têm sido modificados geneticamente para produzir, por exemplo, o fator VIII de coagulação sangüínea. Quantos e de que tipo ? • Muitas vezes não se sabe quantos animais são usados, PORÉM, obtivemos estimativas entre 14 e 21 milhões, em 1992, nos Estados Unidos • As espécies mais usadas são ratos e camundongos • Os pesquisadores usam o “Princípio de Krogh” para selecionar uma espécie, baseado em: • Conveniência - Facilidade • Disponibillidade - Custo • Adequação científica - Refinamento Em alguns países, como no Reino Unido, existe uma exigência legal de manter registros sobre uso e sacrifício de animais sob proteção da lei de animais de laboratório. Em outros países, tais exigências não existem. Estimativas do número de animais usados em experimentos no mundo inteiro variam entre 41 e 100 milhões de animais por ano. Quem mais usa animais, de acordo com os dados disponíveis, são os Estados Unidos e o Japão. Uma estimativa colocou o número de animais usados em laboratórios norte-americanos em 1992 entre 14 e 21 milhões. Provavelmente 80 a 90% deles são ratos e camundongos. Um levantamento feito pelo governo britânico calculou o número de animais usados neste país em aproximadamente 3 milhões. Para ter um estoque de pronta entrega capaz de atender a demanda das várias espécies de animais de diferente peso, idade e sexo,as unidades de produção de animais de laboratório constantemente produzem animais em excesso. Dados levantados no Reino Unido indicam que, para cada animal realmente usado em um experimento, entre 2,5 e 3 animais são produzidos em excesso e mortos. Outros animais são usados em dissecações ou eutanasiados para obter seus órgãos ou tecidos para uso em culturas e estes animais não estão incluídos nas estatísticas do uso experimental. Assim sendo, o número de animais usados em laboratórios provavelmente ultrapassa os 400 milhões por ano. As espécies usadas são, em ordem quantitativa decrescente: camundongos, ratos, aves, peixes, coelhos, ruminantes, répteis/anfíbios, cães, primatas e gatos. O Princípio de Krogh, seguido pelos pesquisadores, diz que, para cada problema científico de interesse, existe um animal no qual o problema pode ser estudado com mais facilidade. Lulas, por exemplo, com suas fibras nervosas calibrosas, servem muito bem para experimentos que exigem a introdução de microeletrodos em células nervosas. Muitas vezes a espécie usada é escolhida mais por motivos de disponibilidade, economia e facilidade de manutenção que por representar o melhor modelo científico. O conceito de “refinamento” da experimentação animal exige o uso de animais menos sencientes no lugar de animais mais sencientes. Assim, em determinadas circunstâncias, talvez se possa usar um molusco ao invés de um cão. Ética da Experimentação Animal 1 Argumentos a favor • “Especicismo” é moralmente justificado • Os experimentos beneficiam o homem (aumento da expectativa de vida?) • Utilitarismo: benefícios (para o homem) superam o custo (para os animais) • “Alternativas” são insuficientes: Precisamos de experimentos no animal vivo para obter progresso contínuo Alguns dos argumentos usados em favor do uso de animais em experimentos são: Apesar de que são poucos os defensores da experimentação animal que atribuem NENHUM valor moral aos animais, alguns se declaram especicistas. Alegam que o uso de humanos em experimentos seria imoral enquanto o uso de animais é moralmente justificado com base nas diferenças entre as espécies. Estas pessoas defendem a idéia de que o ser humano tem um status moral muito mais elevado que todos os outros animais, o que justificaria nosso uso dos mesmos. O conceito do especicismo foi discutido no módulo 10. Sugere-se que o uso de animais em experimentos resultou em grandes benefícios para a humanidade. Particularmente os avanços da medicina durante o século 20, principalmente no campo das doenças infecciosas, teriam, na opinião de alguns, sido resultado direto da experimentação animal. O aumento da expectativa de vida no decorrer do século 20, geralmente usando números do leste europeu e da América do Norte, é usado como prova destes avanços da medicina. Tais benefícios muitas vezes fazem parte da defesa utilitarista da experimentação animal, que alega que a prática se justifica pelos benefícios que traz ao homem em contrapeso ao sacrifício dos animais. Muitos defensores da experimentação animal alegam que não há alternativas capazes de substituir inteiramente o uso de animais. As semelhanças biológicas entre animais e humanos significam que os animais constituem o modelo mais adequado para o homem. Além disso, somente sistemas intactos de animais vivos são comparáveis à real organização complexa do homem. Culturas de células e tecidos animais podem ser úteis para revelar fatos biológicos simples e isolados, mas sempre serão apenas coadjuvantes da pesquisa usando animais vivos. Ética da Experimentação Animal 2 Argumentos contra • Papel da experimentação animal para o avanço da medicina exagerado - melhorias na saúde pública foram responsáveis • Papel da pesquisa clínica • Experimentos com animais levam a conclusões errôneas Os argumentos usados pelos opositores do uso de animais na experimentação incluem os seguintes: • Os defensores da experimentação animal exageraram sua contribuição para uma maior expectativa de vida. Estatísticas mostram reduções dramáticas das taxas de mortalidade em decorrência de muitas doenças infecciosas, que ocorreram antes da invenção das vacinas e medicamentos hoje usados na prevenção e no tratamento destas doenças. Responsáveis por isso teriam sido, em primeiro lugar, medidas de saúde pública como melhor saneamento e dieta. • Além disso, muitos avanços da medicina que contribuíram para a saúde humana não foram resultado da experimentação animal, mas de pesquisas clínicas em humanos. Exemplos muitas vezes citados incluem a descoberta da insulina e do tratamento da apendicite. Estudos populacionais relativos à dieta, estilo de vida e ocupação revelaram algumas das causas das doenças do coração, derrames e cânceres. Nota-se que a maior parte da pesquisa médica não envolve animais e que as técnicas disponíveis abrangem desde modelos computadorizados e o estudo clínico de pacientes até a epidemiologia e culturas de células, tecidos e órgãos. Tais técnicas podem ser relacionadas diretamente com o homem ao invés de tentar extrapolar resultados através das espécies. Os que apóiam estas técnicas dizem que elas consideram as diferenças cruciais entre as espécies que ocorrem em nível celular; que são estas diferenças que causam as variações entre espécies na reação a vacinas e drogas e que extrapolar resultados através das espécies é extremamente simplista; que as semelhanças entre humanos e animais são muito grosseiras e que a pesquisa mais sofisticada já ultrapassou este nível há muito tempo, exigindo dados mais sensíveis e precisos em nível celular. Além disso, as técnicas que não utilizam animais fornecem informação relacionada ao ser humano e não aos animais. Os críticos da experimentação animal consideram todos os experimentos usando animais falhos por princípio, devido às diferenças entre as espécies. Ética da Experimentação Animal 2 Argumentos contra • Melhor gastar dinheiro com outra coisa? • Um exemplo imoral de especicismo • Argumentos de “Direitos animais” Existem exemplos de avanços pioneiros da medicina que ocorreram sem o uso de animais. É bem conhecido, por exemplo, que John Charnley se recusou a fazer experimentos em animais mas o quadril artificial que ele desenvolveu acabou sendo o padrão de ouro da ortopedia. Críticos da experimentação animal muitas vezes citam exemplos onde o uso de animais nos levou para fora do caminho. A introdução da transfusão de sangue e dos transplantes de córnea ficou retardada por mais de 80 anos devido a testes em animais que levaram a conclusões equivocadas. A droga contra o câncer de mama, tamoxifeno, foi desenhada como contraceptivo oral. É um contraceptivo em ratos, mas em mulheres tem efeito oposto. Hoje é usado no tratamento de câncer de mama, apesar de alguns estudos mostrarem efeito cancerígeno em ratos. Depois de um projeto ter usado 18.000 camundongos, a teropterina chegou a ser usada no tratamento da leucemia aguda em crianças, mas as crianças morreram mais rápido do que se não tivessem recebido tratamento algum. Também se usam exemplos de medicamentos de uso corrente, os quais talvez nunca teriam chegado a ser usados em humanos se tivessem sido testados em certas espécies. Se a penicilina, por exemplo, tivesse sido testada em cobaias ou o paracetamol (acetaminofen) em gatos, eles nunca chegariam a ser usados em humanos, visto seus efeitos fatais nestes animais. Estes argumentos ainda alegam que a avaliação utilitarista exagerou as vantagens da experimentação animal. Além disso, alguns opositores da experimentação animal (ex. Peter Singer) alegam que os animaisrecebem pouco peso na balança utilitarista devido a um viés especicista contra eles em favor dos humanos. Uma avaliação imparcial dos verdadeiros interesses do animal mostra que a experimentação animal raramente, se em algum momento, é justificada. Os defensores dos direitos animais abandonam o utilitarismo por completo, alegando que resultado nenhum pode justificar o uso de animais como um recurso descartável, por mais que as circunstâncias possam parecer vantajosas. Estudo de caso: vacina contra pólio • O grande sucesso da experimentação animal? • Doença viral infantil paralisante, às vezes fatal • Desenvolvimento da vacina “usou” 1 milhão de macacos Rhesus, a maioria da Índia • Resultados da pesquisa clínica podem ter mudado o curso do desenvolvimento da vacina A vacina contra pólio é muitas vezes aclamada como o grande sucesso do uso de animais na experimentação. Pólio é uma doença infecciosa viral, causando paralisia e desgaste muscular em crianças. Antes da existência da vacina, somente nos Estados Unidos, 20.000 pessoas por ano ficavam paralíticas ou morriam devido à infecção pelo vírus da pólio. No início dos anos 60, com a vacina disponível gratuitamente, os números caíram para alguns casos anuais. De acordo com estimativas conservadoras, aproximadamente 1 milhão de macacos (a maioria deles macacos Rhesus) foi sacrificado no desenvolvimento desta vacina. A cultura do vírus para a produção da vacina foi feita em rins de macacos e os testes de segurança e eficácia foram feitos em macacos. A maior parte dos macacos foi importada da Índia e, no ápice deste negócio, a população de macacos na Índia ficou reduzida a menos de 4% do seu volume anterior. Alguns alegam que o uso dos macacos Rhesus no início do século 20 teria retardado a compreensão da doença e o desenvolvimento de uma vacina. Pesquisadores usando macacos descobriram que podiam infectá-los através do nariz e alegaram que esse seria o provável caminho da infecção humana. Evidências geradas em estudos clínicos nos quais foram constatadas grandes quantidades do vírus no intestino foram ignoradas, talvez porque tais estudos eram considerados inferiores ao trabalho feito com animais no laboratório. No entanto, acabou se descobrindo que macacos Rhesus eram particularmente vulneráveis à infecção nasal. O desenvolvimento das vacinas somente progrediu quando eventualmente foram feitas culturas do vírus em tecido humano. Poderia o uso de macacos ter retardado o desenvolvimento de vacinas por décadas? É interessante notar que foram experimentos feitos com chimpanzés que deram apoio aos estudos originais em humanos e que chamaram a atenção para o trato digestivo. Este estudo de caso nos mostra o que às vezes temos de pesar na balança utilitarista – uma terrível doença infantil contra a vida de centenas de milhares de primatas selvagens; levanta questões como o uso de primatas não humanos na pesquisa e o impacto ecológico causado pelo uso de animais selvagens; demonstra mais uma vez a possibilidade dos modelos animais nos levarem a um caminho errado e nos ensina a ter cuidado em interpretar casos da história para justificar argumentos a favor e contra a experimentação animal. Questões de bem-estar 1: Fontes de animais • Animais especificamente criados para a experimentação • Animais capturados na natureza • Uso de animais de abrigos ou de centros de controle de zoonoses Alguns países limitam o fornecimento de certas espécies de animais de laboratório a produtores licenciados. A vantagem disto para o bem-estar dos animais pode ser que são criados em circunstâncias parecidas com aquelas nas quais viverão mais tarde, portanto estando acostumados a elas. Por outro lado, isto pode significar uma desvantagem se estas circunstâncias de vida não forem adequadas para o bem-estar. Algumas espécies de animais de laboratório podem ser capturadas na natureza. A captura e a contenção provavelmente são extremamente estressantes para espécies não domesticadas. Pode ser muito mais difícil criar condições no laboratório adequadas ao bem-estar de espécies não domesticadas, por estarem mais sujeitas a estresse em ambientes artificiais. Além disso, muitas vezes as suas necessidades exatas não são conhecidas. Para cada animal trazido com sucesso para o laboratório, vários outros podem ser perdidos devido a lesões ou estresse durante o transporte ou fêmeas podem ter sido mortas deliberadamente para pegar suas ninhadas. Captura de espécies ameaçadas ou de grandes números de animais de outras espécies pode ter impacto ecológico negativo. O uso de animais de companhia abandonados para experimentação é controverso. De um lado, se grandes números de animais não desejados estiverem destinados à eutanásia, talvez faria algum sentido usar estes animais “excessivos”, ao invés de criar animais de laboratório com a finalidade de serem sacrificados. Por outro lado, animais de estimação podem se adaptar mal à vida no laboratório, além de vir de ambientes tão diversos e desconhecidos que não servem como modelos uniformes para estudos científicos (devido à idade, estado de saúde e carga genética desconhecida, por exemplo). Pode-se se argumentar que, usando estes animais, quebramos nosso “pacto” ético com estes companheiros e desencorajamos as pessoas a levar animais aos abrigos. Animais de laboratório vindo de fontes controladas também podem reduzir o risco da introdução de doenças em uma colônia. Isto beneficia a saúde geral dos animais, tanto quanto os dados da pesquisa, e pode proteger de infecções o pessoal envolvido– vírus como Ebola, Marburg e Herpes B simiano já provaram ser fatais para as pessoas trabalhando em laboratórios. Questões de bem-estar 2: Alojamento dos animais • Os animais passam mais tempo nos alojamentos que em experimentos • Necessidades físicas são satisfeitas – comida, água e prevenção contra doenças Apesar dos debates acerca do uso de animais e dos procedimentos aos quais são submetidos nos centros de pesquisa e em testes, é provavelmente verdade que os animais de laboratório passam mais tempo nos seus alojamentos que sendo submetidos a procedimentos experimentais. Desta forma, a qualidade do alojamento é portanto muito importante. As instalações podem ser avaliadas utilizando-se os mesmos padrões usados para animais em outros contextos, por exemplo em uma fazenda. Podemos, por exemplo, usar as Cinco Liberdades (discutidas no módulo 2). O alojamento no laboratório deve estar de acordo com as necessidades físicas do animal: comida, água e espaço suficientes, higiene, temperatura adequada e cuidados veterinários. A maioria dos alojamentos existentes em laboratórios pode ser comparada aos sistemas de produção animal intensiva em fazendas, reconhecidos como drasticamente restritivos às necessidades do animal, geralmente não respeitando as Cinco Liberdades. A gaiola padrão usada para ratos, por exemplo, não permite ao animal ser erguer sobre as patas traseiras, posição regularmente assumida na natureza. Qualquer pessoa interessada no bem-estar animal há de reconhecer que não é suficiente simplesmente manter os animais vivos. Ao tratar das necessidades de animais devemos levar em conta que variam de espécie para espécie. Por exemplo, um recinto pode parecer silencioso para o cientista mas estar desconfortavelmente barulhento para o ouvido ultra-sônico dos roedores. Isto também afeta os resultados de testes. Os resultados de experimentos podem sofrer variações devido à posição de uma gaiola na prateleira. Por exemplo, a gaiola estava mais em cima, perto de uma luz ou mais embaixo na semi-escuridão?Isto também interfere nos dados dos testes. Foi demonstrado que mesmo o barulho de um osciloscópio em um recinto afetou os resultados de testes. Questões de bem-estar 2: Alojamento dos animais (cont.) • Ambiente estéril? • “Enriquecimento ambiental”: – Provisão de ambiente estimulante que melhore o bem-estar animal Necessidades psicológicas de expressar comportamento natural, como brincar e poder manter contatos sociais, podem também ser de extrema importância para o animal. Se não forem satisfeitas essas necessidades, pode-se ter um enfraquecimento da saúde física devido a estresse crônico. Além disso, os animais podem desenvolver comportamentos repetitivos sem sentido, chamados de estereótipos. Por exemplo, um beagle pode não parar de correr em círculos dentro de sua gaiola. Estas anormalidades, além de prejudicar o bem-estar, podem tornar o animal um indivíduo não adequado para a investigação científica. Neste sentido, quanto melhor o bem-estar animal, melhor a ciência. Coelhos alojados individualmente em gaiolas podem sofrer estereotipia e danos a nervos e ossos, devido a exercício físico insuficiente. “Ambiente estéril” (ou entediante) é o termo usado para descrever alojamentos que não atendem às necessidades psicológicas de um animal. “Enriquecimento ambiental” geralmente refere-se às tentativas de se melhorar as circunstâncias dos animais mantidos em cativeiro, freqüentemente disponibilizando um ambiente mais estimulador que permita a expressão em maior grau do seu comportamento natural. No caso dos coelhos de laboratório, isto pode envolver convivência com outros coelhos na gaiola, assim como feno e caixas de papelão para brincar. É preciso ter cuidado com o enriquecimento para garantir que resulte em melhora e não deterioração do bem- estar. Por exemplo, dar companheiros de gaiola a ratos machos pode resultar em abuso excessivo dos animais subordinados. Literatura adicional: PHILLIPS, T., 2001: “Animal Welfare in Laboratory Animals for Research and Scientific Procedures”. Presented at the 3rd International Animal Feeds & Veterinary Drugs Congress, Philippines Questões do bem-estar 3: Procedimentos • Dor é, historicamente, pouco reconhecida e tratada em animais de experimentação • Diferentes espécies têm diferentes comportamentos – animais não são miniaturas humanas • Analgesia e anestesia podem reduzir a dor • Escores de dor podem ajudar a avaliar a dor • Nem todos os procedimentos são dolorosos – Por exemplo, procedimentos menores ou sob anestesia • Entretanto, alguns procedimentos dolorosos podem ser vistos como “menores” por serem simples ou corriqueiros Historicamente, a dor em animais de experimentação recebe pouca atenção. Isto provavelmente porque os comportamentos associados à dor em algumas espécies são diferentes dos comportamentos relacionados à dor no homem. Um gato com dor, por exemplo, ao invés de chorar ou gritar, simplesmente fica quieto e retraído. O comportamento relativo à dor também pode variar de indivíduo para indivíduo dentro de uma espécie, dependendo de fatores como idade e experiências anteriores do indivíduo. No entanto, é cada vez mais reconhecido que, além da obrigação dos cientistas de reduzir a dor em seus objetos de experimentação, a dor pode produzir alterações fisiológicas indesejáveis, afetar a taxa de recuperação pós-cirúrgica e alterar os próprios resultados do experimento. Tentativas de se quantificar a dor experimentada por um animal podem ser realizadas através de um “escore de dor”. Este sistema avalia com diferentes pontuações a aparência geral do animal, seu consumo de água e comida, seu comportamento quando não perturbado e quando provocado (ex.: toque no local de uma lesão), assim como o resultado do exame clínico (ex.: natureza da lesão). A utilização de um sistema de pontos motiva exames regulares minuciosos dos animais e auxilia na avaliação do efeito de analgésicos. As técnicas modernas de anestesia e analgesia disponíveis para a maioria de espécies de animais usados em experimentos podem reduzir o sofrimento destes animais dramaticamente. Especialmente o uso da analgesia preventiva (administrada antes da dor começar) e combinação de diferentes tipos de analgésicos (por exemplo, anestesia local com um opióide) podem aumentar sua eficácia drasticamente. Nem todas as práticas são dolorosas – algumas podem ser consideradas intervenções “menores”, como colher uma amostra de sangue, onde a dor envolvida é temporária e leve. No entanto, algumas intervenções são consideradas “menores” apenas pelo fato de serem corriqueiras ou de fácil execução. A colheita de amostra de sangue através de punção do plexo orbital ou o corte de cauda podem ser extremamente estressantes e dolorosas, o mesmo ocorrendo com alguns métodos de rotina de identificação, como perfuração de orelhas ou amputação de dedos. Talvez seja possível para um animal estar anestesiado durante um procedimento inteiro. Estudos desenvolvidos pelos opositores da experimentação animal também indicaram que, quanto menor a espécie de animal, menos consideração recebe em termos de enriquecimento ambiental e, menos ainda, no reconhecimento e tratamento da dor. Leitura adicional: ROLLIN, B., 1998: “The Unheeded Cry: Animal Consciousness, Animal Pain and Science”. Iowa State University Press WOLFENSOHN, S. & LLOYD, M., 1998: “Handbook of Laboratory Animal Management and Welfare”. Blackwell Science. Questões do bem-estar 4: Eutanásia • Eutanásia devido a limiar humanitário, fim do experimento ou como parte do experimento • Ideal: – Indolor – Indução rápida de inconsciência e morte – Confiável e irreversível – Estresse psicológico mínimo – Seguro para o operador – Morte tem de ser verificadda • Métodos: injeção, inalação, físico Pode ser necessário praticar eutanásia em um animal porque um “limiar humanitário” foi atingido. Isto significa que se ultrapassou um grau previamente determinado de dor neste indivíduo e que é preciso por fim ao seu sofrimento. É importante garantir esta prática. Freqüentemente um pesquisador pode antecipar o sofrimento ou saber identificar um sofrimento não previsto, mas ele pode se ausentar do laboratório e deixar os animais durante dias ou até semanas sob os cuidados de pessoas não experientes. Isto pode resultar em sofrimento desnecessário. Por outro lado, animais podem simplesmente ter chegado ao fim de um experimento e se tornarem desnecessários. Muitos consideram não humanitário submeter um animal a vários experimentos dolorosos. A morte pode ser parte integrante do experimento: em muitos testes toxicológicos, por exemplo, é necessário matar o animal para recuperar tecidos para exames histológicos. A forma ideal de eutanásia é produzir inconsciência e depois morte rápida sem dor. O método tem de ser confiável, irreversível e expor o animal a um mínimo de estresse. Precisa ser seguro para o operador e compatível com a finalidade do experimento. É essencial que a morte do animal seja verificada antes que ele seja descartado ou submetido à necropsia. Um método freqüentemente usado é injeção intravenosa de barbitúricos. Anestésicos inalatórios, como o halotano, podem ser administrados para induzir inconsciência antes de usar um outro método ou como método de eutanásia em si. Foi provado que o dióxido carbônico é muito aversivo para várias espécies; assim, matar animais com este gás pode causar estresse. Métodos físicos de matar, como deslocamento do pescoço, podem ser rápidos mas, como muitas vezes são desagradáveis para quem os executa, a pessoa precisa ter cuidado especial para não hesitar e fazer o animal sofrer. Precisar matar grandesnúmeros de animais com regularidade pode estressar os técnicos e resultar em saída do emprego ou perda de sensibilidade. Adicionalmente, sistemas de eutanásia humanitária podem se tornar sobrecarregados e os animais podem sofrer por um volume de gás inadequado e falhas na conferência da morte. Portanto, a superprodução deve ser evitada. Isto pode ser feito através de um planejamento melhor dos experimentos e o compartilhamento de fornecedores – o ciclo de reprodução muito rápido de roedores torna isso viável. Casos especiais? O uso de primatas • Os primatas não antropóides mais usados na pesquisa são os micos e similares • Eles desfrutam de vida social rica e habilidades mentais complexas – maior potencial de sofrimento em laboratório? • Grandes macacos (antropóides – orangotango, gorila, chimpanzé) têm habilidades mentais ainda mais complexas • Uso de macacos grandes proibido no Reino Unido Primatas têm vida social rica e habilidades mentais complexas. Isto pode significar que ao se manter e usar micos e similares, por exemplo, em laboratórios há mais risco de causarmos sofrimento social e mental que para outras espécies de laboratório. Para se evitar isso, é preciso ter ainda mais cuidado na escolha da origem e no transporte desses animais, além de um sistema de criação e ambiente adequados. Além disso, apesar do tempo de vida variar de acordo com a espécie, primatas podem chegar a viver em um laboratório por mais de uma década, fato que por si mesmo pode agravar qualquer problema de bem-estar. Muitos acreditam que os macacos grandes (chimpanzés, gorilas e orangotangos) são um problema maior. Os chimpanzés diferenciaram-se do homem apenas em sua história evolucionária recente e compartilham 99% dos seus genes com o homem. Isto os torna fisicamente muito parecidos conosco, o que talvez faça deles um “bom” modelo animal para estudar o homem. Mas, se são tão parecidos conosco, porque os usar em experimentos e não os nossos semelhantes? Há forte evidência de que eles têm autoconsciência, uma noção de tempo desenvolvida e uma capacidade de empatia com sua própria espécie. Muitas pessoas consideram estas habilidades e o fato de se tratar de uma espécie ameaçada motivo suficiente para proibir o uso destes animais em laboratórios no mundo inteiro. Na Grã-Bretanha o uso de macacos grandes foi proibido em 1997. Desencadeado por cientistas do mundo inteiro, o “Projeto Macacos Grandes” (The Great Ape Project) defende a extensão do conceito de igualdade dos homens a estes macacos. As provisões da sua “Declaração sobre Macacos Grandes” garantiria a eles o direito à vida, proteção da sua liberdade individual e proibição de maus-tratos, o que seria o fim do seu uso em experimentos. A necessidade de maior cuidado na criação de primatas torna-se cada vez mais aparente. À luz deste fato, a criação de outras espécies de laboratório deveria ser reavaliada. Leitura adicional: SMITH & BOYD (Ed.), 2002: “The Use of Non-human Primates in Research and Testing”. The Boyd Group, Published by the British Psychological Society. CAVALIERI, P. & SINGER, P. (Ed.), 1994: “The Great Ape Project: Equality Beyond Humanity”. St. Martins Press Novas fronteiras: engenharia genética • A engenharia genética é a área de maior crescimento na pesquisa científica • Envolve a manipulação de genes intra ou inter-espécies para produzir “animais transgênicos” • Número crescente de possíveis aplicações comerciais em animais A engenharia genética é a área de maior crescimento na pesquisa científica. Envolve a manipulação de genes intra ou inter-espécies através de diferentes técnicas para produzir animais “transgênicos”. Apontam-se números crescentes de possíveis aplicações comerciais para estes animais transgênicos, a maioria delas, no entanto, especulativas. No Reino Unido, em 2000 por exemplo, de aproximadamente meio milhão de práticas de modificação genética, a maioria (mais de 80%) destinou-se simplesmente a animais criados ou usados para criar mais animais geneticamente modificados (GM). Alguns membros da comunidade científica apresentam estes animais ao público como se os mesmos sofressem menos que outros animais. No entanto, o processo da engenharia genética pode envolver: matar fêmeas para colher ovos; intervenção cirúrgica para implantação de ovos modificados; gestação mais longa; maior peso dos neonatos (até filhotes incapazes de se manter em pé); mais mortes no parto; tempo de vida mais curto (o gene estranho pode causar mutações resultando em morte prematura) e problemas de saúde graves. Animais podem sofrer porque foram deliberadamente criados para apresentar uma doença como a fibrose cística, doença de Altzheimer, mal de Huntingdon, etc. – os críticos apontam diferenças cruciais entre estes “modelos” de doença e a doença espontânea no homem. Animais também podem sofrer impactos inesperados da modificação. Há uma alta taxa de fracasso nas técnicas de modificação genética. Animais que não incorporam o gene desejado são sacrificados em grande número (somente 1 a 10% da prole incorpora o gene desejado, o que significa uma perda de 90%). As quantidades que são sacrificadas tornam práticas realmente humanitárias impossíveis; os empregados deixam a indústria ou se tornam menos sensíveis em relação ao que fazem. O presidente do Instituto de Técnicos em Biotério do Reino Unido disse que, diante do aumento de animais geneticamente modificados, poderá haver necessidade de acompanhamento psicológico para os técnicos emocionalmente perturbados pelo papel que desempenham nesta matança. Há a preocupação de que a modificação genética esteja indo longe demais e que existem questões éticas mais amplas e se nos cabe construir ou destruir animais conforme o nosso desejo, representando um passo muito além da criação seletiva de animais. Há também a preocupação com o impacto não intencional que organismos geneticamente modificados podem exercer sobre o meio ambiente. Aplicações da engenharia genética em animais • “Biorreatores”: produção de proteínas terapêuticas no leite • Pecuária/agricultura • Animais transgênicos como modelos para doença humana • Xenotransplante: produção de órgãos compatíveis para transplantes em humanos Alguns exemplos de como os animais se tornaram envolvidos na aplicação da tecnologia de DNA recombinante: 1. A produção de proteínas de uso terapêutico no leite de ovelhas, cabras e vacas - como por exemplo de uma proteína chamada AAT usada no tratamento do enfisema e da fibrose cística no leite de cabra - é feita através da introdução de genes de origem humana nestes animais. A técnica usada para produzir um animal que sirva para isso envolve intervenções cirúrgicas em vários animais doadores e recipientes, apesar de que os carneiros transgênicos, uma vez produzidos, parecem saudáveis. 2. Pecuária/agricultura: animais foram geneticamente modificados para os fazer crescer mais rápido, produzir carne mais magra e em maior quantidade, mais ovos, mais leite ou mais lã de melhor qualidade. A intenção, às vezes, é aumentar a resistência contra doenças, conforme freqüentemente enfatizado pelos grupos defensores de plantas geneticamente modificadas. Enquanto muitas destas tentativas fracassaram, antecipa-se a primeira produção de animal geneticamente modificado em escala comercial na Ásia, de peixe GM. O impacto ecológico a longo prazo, no caso de algum desses peixes escapar, preocupa os ambientalistas. 3. Produção de camundongos transgênicos como modelos para doenças humanas e para testar possíveis terapias: o caso mais famoso é o “oncomouse” (oncocamundongo), que foi geneticamente construído para apresentar uma predisposição ao câncer.Este animal foi o primeiro animal transgênico a ser patenteado. Os críticos ainda consideram estes modelos falhos devido às diferenças entre as espécies. Na verdade, a adição de mais variáveis, ainda não identificadas, pode criar ainda mais confusão. Além disso, a experimentação animal não é o único caminho para o progresso. Existem outras metodologias como culturas de células ou tecidos. Por exemplo, estudos feitos em culturas de tecidos humanos identificaram o mecanismo responsável pela expressão excessiva de um determinado gene que torna os diabéticos suscetíveis à aterosclerose. Os pesquisadores não conseguiram identificar este mecanismo em camundongos diabéticos geneticamente modificados. Aplicações da engenharia genética em animais (cont.) • Xenotransplante: qualquer procedimento que envolva o uso de células vivas, tecidos e órgãos de uma fonte animal não humana, transplantados ou implantados em humanos ou usados para perfusão clínica ex-vivo – Problemas significativos de bem-estar animal – Preocupações significativas com a saúde humana – Vírus animais podem passar para humanos 4 - Xenotransplante é qualquer procedimento envolvendo o transplante ou implante de células vivas, de tecidos e órgãos de uma fonte animal não humana para humanos. Isto envolve a modificação genética de porcos para produzir órgãos que não serão rejeitados pelos receptores humanos. Esses não são órgãos humanos, mas órgãos animais contendo um gene humano para “enganar” o sistema imune do homem. Estes animais estão sendo desenvolvidos em países onde a demanda crescente de órgãos para transplante supera a oferta. A necessidade de um ambiente especial e livre de doenças para estes porcos pode interferir na qualidade de vida deste animal, inquisitivo por natureza. Para se obter leitões gnotobióticos para produzir órgãos para transplante, o parto é feito por cesariana, os animais são colocados em isoladores e depois criados em ambientes estéreis; as leitegadas também são submetidas a intervenções repetidas; amostras de sangue e tecido são colhidas. Essa tecnologia já foi testada em primatas como recipientes – em experimentos feitos na Grã-Bretanha, por exemplo, foram usados babuínos capturados na natureza. Esta talvez seja a área mais controversa da modificação genética por envolver sérias questões de saúde. Todos os produtos orgânicos gerados pelas células serão não humanos e migrarão pelo corpo do paciente. O órgão do animal continua desenhado para o corpo do animal e está programado para o tempo de vida deste animal. O coração e o pulmão de um porco foram desenhados para um animal horizontal de tamanho diferente; o coração de um porco teria de ser modificado para bombear o volume certo de sangue na pressão certa para ser usado no homem. Permanecem diferenças fisiológicas e metabólicas fundamentais entre os órgãos das diferentes espécies e os órgãos de alguns animais, em especial os rins e o fígado, podem ser incompatíveis com o homem. Também há a preocupações de que vírus animais não identificados, por exemplo retrovírus suínos, possam ser passados para o paciente. Um vírus desta maneira forçado através da barreira entre as espécies pode sofrer mutação e causar uma nova doença no homem. Acredita-se que o HIV/AIDS seja um exemplo de uma doença criada por mutação cruzada entre espécies e nvCJD/BSE (causado por um prion, uma partícula protéica infecciosa) seja um exemplo de infecção cruzada entre espécies. Leitura adicional: BRUCE, D. & BRUCE, A. (Eds.) 1998: “Engineering Genesis: The Ethics of Genetic Engineering in Non-human Species”. Earthscan Publications Ltd. Pesquisa sem animais Às vezes, qualquer pesquisa sem animais é chamada de alternativa para a experimentação animal. Este termo, no entanto, está mal aplicado porque algumas técnicas, como estudos básicos em pacientes, são anteriores aos experimentos feitos em animais como fonte de entendimento sobre a doença humana. O termo “alternativa” é empregado mais corretamente para técnicas nas quais um experimento clássico em animais é considerado a norma, por exemplo testes padrões exigidos por lei para avaliar a segurança de um produto antes que seja colocado no mercado. Em muitos estabelecimentos de ensino, o uso de animais foi substituído por simulações e modelos feitos em computador. Por exemplo, simulações da fisiologia normal de órgãos como coração, pulmões e rins. As células nervosas e sua reação à lesão e doença podem ser simuladas matematicamente. Existem programas de “seres humanos virtuais”, para estudar a anatomia do corpo inteiro e dos tecidos e outros programas que substituem a dissecação de animais. Desde a escola primária até a escola médica e além, os recursos de ensino são cada vez mais sofisticados e incluem modelos, vídeos, projeções e CD-ROM. O modelo “Rato de Koken”, usado no treinamento veterinário, tem a aparência e dá a sensação física de um rato de verdade. Existem também simuladores de intervenções cirúrgicas para treinar o controle de hemorragias. O desenvolvimento de tecnologias significa um aumento no número de métodos dos quais o cientista que não queira usar animais pode dispor. Muitas dessas técnicas garantem dados diretamente aplicáveis ao homem. Métodos de pesquisa sem animais incluem culturas de células, de tecidos e órgãos; estudos epidemiológicos; pesquisa biotecnológica; pesquisa clínica; estudos em voluntários humanos e modelos de computador e matemáticos. Pesquisa sem animais 2 • Culturas de células, tecidos e órgãos • Estudos epidemiológicos • Pesquisa biotecnológica Culturas de células, de tecidos e órgãos: hoje as técnicas de reprodução in vitro de células humanas, tecidos e órgãos avançaram enormemente. O material humano vem de doações de órgãos ou é obtido durante intervenções cirúrgicas e foram criados bancos de tecidos humanos. Métodos de cultura in vitro são usados para estudar doenças, inclusive o câncer, vírus, as atividades enzimáticas e hormonais, a fisiologia de tecidos como músculos e nervos e em testes de toxicidade. As novas técnicas de engenharia de tecidos podem se mostrar mais seguras e eficazes do que os xenotransplantes. Células-tronco humanas colhidas de embriões imaturos, do sangue, da gordura ou da medula podem ser cultivadas para se transformar em qualquer tecido. Adicionalmente, os próprios tecidos de um paciente podem ser cultivados em uma “plataforma” e depois transplantadas de volta para o paciente, evitando os problemas de rejeição associados aos transplantes. Epidemiologia e estilo de vida: epidemiologia é o estudo das doenças e de sua propagação. A descoberta dos meios de transmissão e da prevenção da AIDS, por exemplo, deve-se integralmente aos estudos epidemiológicos. A epidemiologia revelou ligações entre determinadas substâncias químicas, fumar, radiação, dietas ricas de açúcar e gordura e a probabilidade de vários tipos de câncer. Dietas ricas de gordura e sal, estresse e falta de exercício são todos fatores causadores de doença coronária. Biotecnologia: os avanços da biotecnologia (surgindo do projeto genoma humano) oferecem técnicas alternativas ao uso de animais para testar a segurança de produtos químicos. Quando células humanas são expostas a substâncias tóxicas in vitro os genes podem ser danificados. “Chips” de DNA carregando seqüências curtas de DNA podem ser usados para identificar genes danificados, indicando o grau de toxicidade de uma substância. Esta tecnologia, chamada de toxicogenômica, pode não só salvar as vidas de animais mas também é um método melhor devido ao uso de material humano, assim evitando o problema da diferença entre as espécies. De modo parecido,os chips de DNA são aplicados na descoberta de drogas cujo alvo são genes específicos associados a uma doença. Pesquisa sem animais 3 • Pesquisa clínica • Estudos em voluntários humanos • Modelos de computador e matemáticos Pesquisa clínica: pesquisa clínica é o estudo de doença no paciente para identificar suas características, sintomas e possíveis causas. Também podem ser desenvolvidos novos tratamentos. Estudos clínicos da leucemia levaram à compreensão do mecanismo da atividade anti-tumoral. Estes estudos muitas vezes resultam na descoberta de novos usos para drogas. Isto não surpreende, pois a verdadeira compreensão da ação de uma droga adquire-se com o uso. A aspirina, por exemplo, hoje tem muitos outros usos além de analgésico, para o qual foi desenvolvida. Estudos com voluntários humanos: estudar pessoas é obviamente essencial para o progresso da medicina e para entender as doenças humanas. Voluntários humanos podem ser usados no estudo de drogas; eles desempenham um papel significativo na pesquisa psiquiátrica e psicológica; também são usados em testes de irritabilidade dérmica causada por ingredientes de cosméticos e exposição a substâncias tóxicas presentes na atmosfera. Recentes avanços no desenvolvimento de técnicas de imagem do cérebro em funcionamento, como Positron Emission Tomography (PET), functional Magnetic Resonance Imagery (fMRI), Eletroencefalografia (EEG) e Magnetoencefalografia (MEG) permitem estudar o cérebro humano com pouco ou nenhum desconforto para o voluntário. Diferentes seções do cérebro podem ser localizadas e sua função identificada. Estas novas tecnologias permitem estudos em humanos tempos atrás considerados por demais invasivos. Modelos virtuais e matemáticos: os pesquisadores dispõem hoje de uma série de programas sofisticados (matemáticos, bancos de dados e modelos) permitindo o estudo das ações de drogas e previsão de seus potenciais efeitos. Alguns programas usados para testar produtos são modelos que simulam o sistema humano até ao nível molecular, no qual um produto potencial pode ser checado. Outros são bancos de dados de substâncias químicas conhecidas e seus efeitos, onde novas substâncias podem ser inseridas para as comparar com dados conhecidos. Alternativas 1: os 3 Rs • Experimentos como “mal necessário” • “Os princípios da técnica experimental humanitária”, Russel e Burch, 1959 • Substituição (Replacement), Redução e Refinamento Um posicionamento ético comumente citado em relação à experimentação animal é que o uso de animais é um mal necessário – apesar disto criar a impressão errada de que a maioria de estudos feitos em animais se destina à pesquisa aplicada e não à básica. Não é de surpreender, portanto, que muitos estejam ativamente buscando alternativas, para que menos mal seja necessário. William Russel e Rex Burch foram encarregados por uma organização britânica, a Federação das Universidades para o Bem-Estar Animal (Universities Federation for Animal Welfare - UFAW), de escrever um livro sobre experimentação animal aceitável. O resultado foi o livro “Os Princípios da Técnica de Experimentação Humanitária” (The Principles of Humane Experimental Technique), que se tornou conhecido no mundo inteiro. O livro apresentou o conceito dos “3 Rs” como base para que pesquisadores pudessem avaliar seu trabalho com animais. O conceito dos 3 Rs foi incorporado à legislação de alguns países e de organizações supranacionais, como a União Européia. Três Rs para as três palavras-chave originais Replacement (Substituição), Reduction (Redução) e Refinement (Refinamento). Alternativas 2: Substituição (Replacement) • A substituição de animais sencientes por alternativas não vivas ou não sencientes • Uso de organismos não sencientes • Técnicas in vitro • Substitutivos não biológicos • Estudos em seres humanos A substituição deve ser o ideal em mente para o cientista: a substituição de animais sencientes por alternativas não-vivas ou não-sencientes. A procura de alternativas deve sempre prevalecer sobre a conveniência, o que pode significar um contrato com outro laboratório que disponha de recursos adequados para o fornecimento de um componente da pesquisa. A maioria dos estudos clássicos de fisiologia, anatomia e farmacologia (por exemplo, estudos em nervos de sapos) podem agora ser executados sem o animal, usando simulações computadorizadas ou outros modelos. Existe uma variedade de possíveis alternativas para a substituição, algumas delas já abordadas antes: • • Uso de organismos não-sencientes: as hidras, por exemplo, desenvolvem-se de forma anormal na presença de substâncias químicas que causam anormalidades em fetos de vertebrados (teratógenos), conseqüentemente podem ser usadas para rastrear teratógenos.• Técnicas in vitro: estas técnicas (in vitro significa literalmente “no vidro”) envolvem o estudo de células e tecidos fora do corpo do animal. Estes tecidos podem ser derivados do homem, em certos casos aumentando a aplicabilidade do estudo. Culturas de células cardíacas, por exemplo, podem ser usadas para testar os efeitos de drogas sobre o tecido cardíaco sem que a droga precise ser administrada a um animal vivo.• Substitutivos não biológicos, como modelos de computador ou recursos audiovisuais, podem também substituir os animais em algumas circunstâncias. Simulações em vídeo ou no computador de dissecações ou experimentos farmacêuticos podem ajudar a substituir o uso de animais como recursos de ensino em Universidades. O “Resusci-Dog”, por exemplo, é um modelo computadorizado de cão usado para treinar médicos veterinários em técnicas de ressuscitação. Apesar de haver exemplos de abuso na história, pode-se cogitar o uso de humanos ao invés de animais. Isto pode envolver o uso de tecidos derivados do ser humano, como a placenta, ou experimentos não invasivos feitos em colegas estudantes na educação universitária. (Veja as projeções anteriores sobre pesquisa sem uso de animais).Na Grã-Bretanha, a “Focus on Alternatives”, uma liga de organizações promovendo técnicas sem uso de animais, produziu um pôster mostrando uma “estratégia de tomada de decisão”, que motiva pesquisadores a considerar métodos sem uso de animais no planejamento de um experimento. Os pôsteres podem ser encomendados do “Fundo Lord Dowding para a Pesquisa Humanitária”, no endereço www.ldf.org.uk. Alternativas 3: Redução • Redução do número de animais utilizados a um mínimo absoluto • Agrupamento de recursos • Estatísticas adequadas • Evitação de repetições • Perguntas a se fazer antes de começar um projeto usando animais A redução do número de animais usados a um mínimo possível é o segundo R. Isto depende de boa organização tanto quanto dos avanços da tecnologia. É preciso que os pesquisadores se comuniquem para poder criar agrupamentos de recursos e evitar repetições desnecessárias. Boas práticas como revisões bibliográficas e publicação rápida de resultados podem também ajudar a evitar repetições, assim como o bom uso da estatística no delineamento experimental. Também é importante evitar usar um número pequeno demais de animais para evitar que o experimento precise ser repetido mais tarde devido a resultados não conclusivos. Competição entre instituições e sigilo comercial podem impedir a implementação deste R. Os pesquisadores devem consultar a literatura científica para verificar se a pesquisa proposta já foi feita em algum lugar – apesar de que talvez isto não venha de encontro aos interesses pessoais do pesquisador. Reprodução excessiva e conseqüente descarte de grandes quantidades de animais excedentes devem também ser reduzidos para promover uma ampla filosofia de redução.A redução do número de animais usados aumenta a atenção individual dos tratadores (ex.: para identificar doença ou estresse) e o espaço disponível para enriquecimento ambiental. Desta forma, por razões de ordem científica e de bem-estar, deve-se tentar reduzir o número de animais usados e de animais excedentes mortos. Elevar o nível de respeito à vida dentro do laboratório reduzirá a perda de sensibilidade da equipe e motivará mais pessoas cuidadosas a trabalhar nesta área. Smith and Boyd (1991) propuseram perguntas que o pesquisador se deve fazer antes de embarcar em um projeto: • Os métodos propostos são relevantes para a pergunta científica em questão? • O uso de animais é essencial? • A espécie e o número de animais usados são adequados? • É necessário utilizar práticas com a severidade proposta? • A quantidade de informação obtida através dos animais está maximizada? • As instalações onde a pesquisa será feita apresentam qualidade adequada para o trabalho ser bem sucedido? SMITH, J. A. AND BOYD, K. M. (Eds.), 1991: “Lives in the Balance: the Ethics of Using Animals in Biomedical Research”. Oxford University Press. Alternativas 4: Refinamento • Redução do sofrimento de animais de experimentação • Sofrimento inclui dor mas também outras experiências adversas • Importância das condições de alojamento • Altos padrões de bem-estar = altos padrões de ciência • Uso de analgesia e anestesia • Limiares humanitários O refinamento talvez seja a área onde o médico veterinário pode exercer maior influência. Consiste na redução do sofrimento em todas as circunstâncias que um animal enfrenta enquanto em um estabelecimento científico. Portanto, refinamento não se refere somente às praticas às quais o animal é submetido, mas também às condições nas quais é mantido. Sofrimento não se refere apenas à dor durante os procedimentos aos quais o animal pode ser submetido, mas também a outros estados mentais adversos como ansiedade e tédio severos que um animal pode experimentar no seu alojamento. Uso adequado de anestesia e analgesia para reduzir a dor durante e após os procedimentos é também parte essencial do refinamento. Existem muitas publicações que dão orientação a respeito de fatores como iluminação, temperatura e umidade adequadas, assim como a respeito do espaço necessário para as diferentes espécies. A redução de estresse no alojamento e durante o manejo pode ajudar a melhorar a qualidade da pesquisa por reduzir efeitos sobre a fisiologia do animal que podem interferir no resultado do experimento. Simples mudança de lugar da gaiola de ratos de laboratório, por exemplo, é suficiente para alterar muitos dos seus parâmetros sanguíneos (Gartner et al, 1980). Animais saudáveis e felizes constituem melhores indivíduos experimentais. Especificar de antemão limiares humanitários para experimentos com animais é também um aspecto importante do refinamento. Um exemplo é o estabelecimento de um limiar até o qual se deixaria um tumor crescer em um roedor antes de se praticar a eutanásia no animal. Limiares humanitários na toxicologia também têm a vantagem de permitir ao pesquisador observar patologias mais sutis que ao se deixar um animal aproximar-se mais da morte. Outro exemplo de refinamento é uma alteração de conduta de teste de Draize, no qual uma substância é colocada nos olhos de coelhos para testes de irritabilidade. Ao invés de administrar grandes quantidades da substância a grandes números de coelhos, o procedimento aprimorado testa um animal de cada vez. Se o primeiro animal mostrar irritação, não se testa em outros animais e o teste com este animal é imediatamente interrompido. Referências e leitura adicional: Guidelines on the Care of Laboratory Animals and Their Use for Scientific Purposes. Volumes 1 to 4. Laboratory Animal Science Association, London and Universities Federation for Animal Welfare, UK Controle legal da experimentação 1: inspeção centralizada • Por exemplo, o Decreto de Procedimentos Científicos (Scientific Procedures Act) para animais do Reino Unido, administrados pelo governo • Cobre todos os vertebrados e o polvo • Licenças para pesquisadores, projetos e instituições • Inspetores avaliam as solicitações de licença, inspecionam as instituições para aplicar o decreto e prestam assessoria técnica • Comissões de ética locais organizadas recentemente No Reino Unido existe um sistema de inspeção centralizado para os animais de laboratório, que recebem proteção baseado em licenças pessoais, para projetos e institucionais, que são supervisionadas por inspetores oficiais do governo. Esta legislação cobre todos os vertebrados assim como Octopus vulgaris. Os inspetores podem visitar as instituições sem aviso ou com data marcada. Existem sanções criminais disponíveis para punir os infratores, embora raramente ou nunca sejam aplicadas. O governo recentemente convocou as instituições para implantar comissões de ética internas, com participantes externos à instituição, assim como especialistas. Infelizmente, a legislação no seu estado atual não impõe as Cinco Liberdades, notadamente a Liberdade para expressar comportamento normal. No Reino Unido foi proposta a criação de um Centro Nacional de Alternativas ao Uso de Animais em Experimentação. Para mais informação acesse www.ldf.org.uk. No Brasil, já existem em instituições de ensino superior e de pesquisa, comitês de ética no uso de animais, embora a maioria ainda esteja em fase inicial de organização e de trabalho. Controle legal da experimentação 2: auto-regulamentação fiscalizada • A Austrália, por exemplo, não tem legislação federal contra crueldade com animais, somente leis estaduais • “Código de práticas para cuidados e uso de animais para finalidades científicas” • O código incorpora os 3Rs • Comitês locais, composto de cientistas e membros da comunidade leiga, fiscalizam o Código A Austrália e Nova Zelândia não têm controle governamental centralizado e, sim, auto regulamentação fiscalizada através de comitês locais. Estes devem contar com peritos da própria instituição assim como membros externos interessados em promover o bem-estar animal. Na Austrália, estes comitês atuam mais sob legislação estadual que federal. Esta legislação incorpora alguma referência ao código nacional de conduta na criação e no uso de animais na experimentação. Este código, por sua vez, incorpora os 3 Rs. As preocupações principais acerca da experimentação animal - como evitar repetição, estabelecer a clara necessidade de qualquer pesquisa ou uma ampla promoção dos 3 Rs - somente podem ser endereçadas de modo centralizado e com uma cultura transparente. Assim como no Reino Unido e nos Estados Unidos, o sistema na sua forma atual não impõe as Cinco Liberdades, especialmente no que se refere à Liberdade para expressar comportamento normal. Controle legal da experimentação 3: auto-regulamentação • Por exemplo, EUA • O Decreto Federal de Bem-Estar Animal exclui aves, ratos, camundongos e animais de fazenda • Comitês Institucionais de Cuidados e Uso de Animais (IACUC) atuam localmente • Grandes financiadoras da experimentação animal têm regulamentos próprios • Certificação voluntária a instituições privadas Nos EUA, o Decreto Federal para o Bem-estar Animal (Federal Animal Welfare Act), fiscalizado pelo Departamento de Agricultura, não se refere a aves, ratos, camundongos e animais de fazenda usados na experimentação. Estes animais dependem de outras fontes de proteção. O decreto estabelece comitês locais chamados Comitês Institucionais de Cuidados e Uso de Animais (Institutional Animal Care and Use Committees - IACUCs),para implementar os regulamentos federais. Estes atuam dentro de cada instituição para garantir que as diretrizes de cuidados com os animais sejam respeitadas. Os IACUCs têm o poder de suspender projetos de pesquisa. No entanto, um estudo cego das decisões tomadas pelos IACUCs observou baixa coerência entre os comitês: os mesmos não puderam chegar a um consenso a respeito do que seria um bom protocolo para modelos animais. Também foi observado que a familiaridade com projetos apresentados por colegas exercia uma certa influência. (PLOUS & HERZOG, July 27, 2001: Animal Research, Reliability of Protocol Reviews for Animal Research, Science). Financiadoras de grande porte da experimentação animal, como o Instituto Nacional de Saúde (National Institute of Health - NIH), têm regulamentos próprios, que precisam ser seguidos para que o fomento seja mantido. O NIH é responsável pela maior parte de apoio financeiro concedida a instituições públicas americanas. Alguns laboratórios buscam certificação de acordo com padrões mais estritos de organizações privadas como a “Association for Assessment and Accreditation of Lab Animal Care International”. (AAALAC Int.). Os críticos observam que os padrões das associações comerciais geralmente atendem aos interesses dos comerciantes. Controle legal da experimentação 4: realidade brasileira No Brasil já existem, em instituições de ensino superior e de pesquisa, comitês de ética no uso de animais, embora a maioria ainda esteja em fase inicial de organização e trabalho. A tendência é a instalação de novos comitês já que, para a publicação de trabalhos científicos, a apreciação ética do uso de animais é exigência comum. É importante que tais comitês tenham poder de veto às práticas experimentais de manutenção, delineamento experimental e procedimentos nos animais consideradas inadequados. Alguns tópicos disponíveis atualmente (2003) são: • Leis Referentes à Experimentação Animal no Brasil - Situação Atual • Conselho Federal de Medicina Veterinária - Resolução Nº 592 • Lei Federal n.º 6.638 , de 08 de Maio de 1979. • Princípios éticos na experimentação animal O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) reconhece a importância de se centralizar ações. Para tanto, criou em setembro de 2001 a Comissão de Ética e Bem-Estar Animal (CEBEA), cujas ações principais incluem um trabalho conjunto com os Comitês de Ética locais. Quanto à regulamentação de tais práticas, a Lei Federal nº 9.605/98, denominada Lei de Crimes Ambientais, estabelece como crime contra a fauna, em seu artigo 32 § 1º, “realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos”. A pena prevista é de detenção, de três meses a um ano, e multa, podendo ser aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. Resumo • Animais são usados no laboratório para uma variedade de finalidades, do desenvolvimento de drogas até o ensino • Existem discussões sobre a ética destes usos • Questões de bem-estar de animais de laboratório abrangem fonte, alojamento, procedimentos e eutanásia • Uso de primatas no laboratório pode colocar alguns problemas éticos e de bem- estar específicos • A engenharia genética cria mais um conjunto de problemas éticos e de bem- estar • Implementação dos 3 Rs é amplamente aceita como caminho pragmático de endereçar questões éticas e de bem-estar dos animais de laboratório • Existem diferentes formas legais buscando a proteção dos animais de laboratório vigentes no mundo inteiro Bibliografia • Animal Experiments: the Debate. NAVS educational CD Rom • INGLIS, B., 1983: Diseases of Civilisation.Granada Publishing, • GREEK, C. R. & GREEK, J. S., 2002: “Sacred Cows and Golden Geese: The Human Cost of Experiments on Animals”. Continuum International • MELVILLE, A. & JOHNSON, C., 1982: “Cured to Death: The Effects of Prescription Drugs”. Harper & Collins • MCKEOWN, T., 1979: “The Role of Medicine”. Blackwell • NAVS & L. D. F., 2002: “Monkeys and Men: An assessment of the use of primates and non-animal techniques in neuroscience research”. National Anti-Vivisection Society and Lord Dowding Fund for Humane Research/www.navs.org.uk
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