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Animais utilizados em experimentos

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Animais utilizados em experimentos 
Módulo 25 
 
Objetivos de aprendizagem 
• Entender o uso atual e provável uso futuro de animais em laboratórios/pesquisa 
• Entender os argumentos a favor e contra o uso de animais na experimentação 
• Familiarizar-se com as principais questões relativas ao bem-estar dos animais 
em laboratórios 
• Entender os “3 Rs” e familiarizar-se com diversos tipos de legislação referente 
ao uso de animais na ciência 
 
Sumário do Conteúdo 
• Usos de animais de experimentação 
• Éticas a favor e contra 
• Estudo de caso: Vacina contra poliomielite 
• Questões de bem-estar de animais de experimentação 
• Primatas: Casos especiais? 
• Novas fronteiras: Engenharia genética 
• Medicina alternativa 
• Substituição (Replacement) 
• Redução 
• Refinamento 
• Controles legais 
Usos de animais de experimentação 1 
• Pesquisa básica: Aumento do conhecimento sem aplicações práticas imediatas 
– Por exemplo, fisiologia 
– Por exemplo, pesquisa do comportamento animal 
Primeiro abordaremos os diferentes usos dos animais de experimentação ou de laboratório: 
Alguns animais de experimentação serão usados na pesquisa fundamental ou básica, ou 
seja, em experimentos com o único intuito de aumentar o conhecimento em uma 
determinada área, como fisiologia ou o próprio comportamento animal, sem qualquer idéia 
imediata de porque ou como este conhecimento poderá ser útil na prática. 
 
Os críticos da experimentação animal acreditam que, pelo fato de os animais sofrerem, o 
uso deles na pesquisa básica deveria ser mais bem justificado; deveria ao menos existir a 
perspectiva de que o conhecimento adquirido em última análise tenha alguma aplicação 
prática. O mero aumento de conhecimento em si não deveria ser o suficiente para justificar 
infligir deliberadamente dor, sofrimento ou lesão permanente. 
 
Usos de animais de experimentação 2 
• Pesquisa biomédica: Propósitos específicos na medicina 
– Por exemplo, modelos animais de doenças humanas 
– Por exemplo, testes de drogas 
 
 
 
• A diferença entre pesquisa aplicada e básica não está clara 
Outros animais podem ser usados na pesquisa ou em testes da área biomédica, que têm a 
finalidade específica de obter avanços relativos a aspectos práticos da medicina. Por 
exemplo, um animal pode ser usado como modelo para uma doença humana e o sucesso de 
diferentes drogas é testado usando este modelo. Outro exemplo é o uso de macacos 
infectados com poliomielite em testes de vacinas contra esta doença. 
 
Usos de animais de experimentação 3 
• Testes de segurança de produtos para uso humano, desde novos 
medicamentos até produtos de uso doméstico e cosméticos 
• Pesquisa veterinária: Investigação de doenças animais e produção de 
medicamentos para uso veterinário 
Outros usos de animais de experimentação incluem: 
Testes de produtos, tentando prever sua segurança para uso humano. Os produtos testados 
podem ser produtos químicos para uso doméstico, produtos farmacêuticos ou 
cosméticos. As autoridades governamentais competentes exigem “testes de segurança” 
antes dos produtos serem colocados no mercado. Muitos destes são, por convenção, 
testes em animais e podem incluir: 
 
• Testes de toxicidade aguda (efeito de grandes quantidades do produto) e 
testes de toxidade crônica (efeitos de quantidades menores durante longos 
períodos) 
• Testes de carcinogenicidade para ver se o produto causa câncer 
• Testes de toxicidade reprodutiva e ao desenvolvimento, para identificar 
efeitos prejudiciais sobre sistemas reprodutivos ou fetos 
• Testes de irritação dérmica ou dos olhos, por exemplo o teste de Draize, que 
envolve pingar substâncias nos olhos de coelhos (veja foto) 
• Testes de mutagenicidade para avaliar se produtos podem causar mutações 
genéticas 
• Animais são também usados na pesquisa veterinária, para investigar doenças 
dos animais e para a produção de medicamentos para uso veterinário. 
 
Estes testes admitidamente não são infalíveis para indicar como um produto pode afetar as 
pessoas, por isso também são realizados testes em voluntários humanos sadios e testes 
clínicos antes do produto chegar ao mercado. 
 
Usos de animais de experimentação 4 
• Ensino e treinamento: dos animais de companhia na sala de aula, passando 
pelas dissecações escolares à pesquisa de estudantes universitários 
• Produção de materiais 
– Por exemplo, produção de anticorpos em coelhos 
– Por exemplo, modificação genética de animais para produção do fator 8 
Animais são usados em diferentes níveis para a educação. Isto pode envolver o uso de 
animais de companhia em salas de aula ou dissecação de roedores em aulas de biologia 
escolares – em alguns países durante muitos anos não existia controle relativo a qualquer 
dissecação em escolas. No Brasil, a Lei Federal nº 6.638, de 8 de maio de 1979, que 
estabelece normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais, dispõe, em 
seu artigo 3º inciso IV, que a vivissecção não será permitida “em estabelecimentos de 
ensino de 1º e 2º graus e em quaisquer locais freqüentados por menores de idade”. 
Estudantes universitários podem usar animais de experimentação como ferramenta de 
pesquisa. Em alguns países, animais são usados no ensino veterinário ou médico, para 
praticar cirurgias. No Reino Unido, praticar técnicas cirúrgicas em animais foi ilegal entre 
1876 e 1986. Em 1986, foi liberado para a prática de microcirurgia, apesar de que existe um 
modelo que utiliza placenta humana de descarte disponível por algum tempo. Apesar deste 
fato, o Reino Unido tem historicamente produzido bons cirurgiões e tem forte tradição de 
inovação neste campo. 
Animais podem ser usados como fábricas biológicas para a produção de itens desejados, 
como o uso de coelhos para a produção de anticorpos. Nota-se que alguns desses métodos 
são invasivos e dolorosos – o método de induzir ascite em camundongos para produzir 
anticorpos monoclonais, causando dor severa, foi proibido no Reino Unido em 1999. A 
produção humanitária de anticorpos monoclonais foi pela primeira vez descrita em 1975 e 
muitos métodos sem usar animais foram desenvolvidos, tais como as culturas “Roller”, 
sistemas de cultura usando a membrana ou a matriz celular, biorreatores de fibras ocas e a 
tecnologia de “anticorpos exibidos sobre superfície de fagos filamentosos” (Phage 
Antibody Display). Animais também têm sido modificados geneticamente para produzir, 
por exemplo, o fator VIII de coagulação sangüínea. 
 
Quantos e de que tipo ? 
• Muitas vezes não se sabe quantos animais são usados, PORÉM, obtivemos 
estimativas entre 14 e 21 milhões, em 1992, nos Estados Unidos 
• As espécies mais usadas são ratos e camundongos 
• Os pesquisadores usam o “Princípio de Krogh” para selecionar uma espécie, 
baseado em: 
• Conveniência - Facilidade 
• Disponibillidade - Custo 
• Adequação científica - Refinamento 
Em alguns países, como no Reino Unido, existe uma exigência legal de manter registros 
sobre uso e sacrifício de animais sob proteção da lei de animais de laboratório. Em outros 
países, tais exigências não existem. Estimativas do número de animais usados em 
experimentos no mundo inteiro variam entre 41 e 100 milhões de animais por ano. Quem 
mais usa animais, de acordo com os dados disponíveis, são os Estados Unidos e o Japão. 
Uma estimativa colocou o número de animais usados em laboratórios norte-americanos em 
1992 entre 14 e 21 milhões. Provavelmente 80 a 90% deles são ratos e camundongos. Um 
levantamento feito pelo governo britânico calculou o número de animais usados neste país 
em aproximadamente 3 milhões. 
Para ter um estoque de pronta entrega capaz de atender a demanda das várias espécies de 
animais de diferente peso, idade e sexo,as unidades de produção de animais de laboratório 
constantemente produzem animais em excesso. Dados levantados no Reino Unido indicam 
que, para cada animal realmente usado em um experimento, entre 2,5 e 3 animais são 
produzidos em excesso e mortos. Outros animais são usados em dissecações ou 
eutanasiados para obter seus órgãos ou tecidos para uso em culturas e estes animais não 
estão incluídos nas estatísticas do uso experimental. 
 
Assim sendo, o número de animais usados em laboratórios provavelmente ultrapassa os 400 
milhões por ano. As espécies usadas são, em ordem quantitativa decrescente: 
camundongos, ratos, aves, peixes, coelhos, ruminantes, répteis/anfíbios, cães, primatas e 
gatos. 
O Princípio de Krogh, seguido pelos pesquisadores, diz que, para cada problema científico 
de interesse, existe um animal no qual o problema pode ser estudado com mais facilidade. 
Lulas, por exemplo, com suas fibras nervosas calibrosas, servem muito bem para 
experimentos que exigem a introdução de microeletrodos em células nervosas. 
 
Muitas vezes a espécie usada é escolhida mais por motivos de disponibilidade, economia e 
facilidade de manutenção que por representar o melhor modelo científico. 
O conceito de “refinamento” da experimentação animal exige o uso de animais menos 
sencientes no lugar de animais mais sencientes. Assim, em determinadas circunstâncias, 
talvez se possa usar um molusco ao invés de um cão. 
 
Ética da Experimentação Animal 1 Argumentos a favor 
• “Especicismo” é moralmente justificado 
• Os experimentos beneficiam o homem (aumento da expectativa de vida?) 
• Utilitarismo: benefícios (para o homem) superam o custo (para os animais) 
• “Alternativas” são insuficientes: Precisamos de experimentos no animal 
vivo para obter progresso contínuo 
Alguns dos argumentos usados em favor do uso de animais em experimentos são: 
Apesar de que são poucos os defensores da experimentação animal que atribuem 
NENHUM valor moral aos animais, alguns se declaram especicistas. Alegam que o uso de 
humanos em experimentos seria imoral enquanto o uso de animais é moralmente justificado 
com base nas diferenças entre as espécies. Estas pessoas defendem a idéia de que o ser 
humano tem um status moral muito mais elevado que todos os outros animais, o que 
justificaria nosso uso dos mesmos. O conceito do especicismo foi discutido no módulo 10. 
Sugere-se que o uso de animais em experimentos resultou em grandes benefícios para a 
humanidade. Particularmente os avanços da medicina durante o século 20, principalmente 
no campo das doenças infecciosas, teriam, na opinião de alguns, sido resultado direto da 
experimentação animal. O aumento da expectativa de vida no decorrer do século 20, 
geralmente usando números do leste europeu e da América do Norte, é usado como prova 
destes avanços da medicina. 
Tais benefícios muitas vezes fazem parte da defesa utilitarista da experimentação animal, 
que alega que a prática se justifica pelos benefícios que traz ao homem em contrapeso ao 
sacrifício dos animais. 
Muitos defensores da experimentação animal alegam que não há alternativas capazes de 
substituir inteiramente o uso de animais. As semelhanças biológicas entre animais e 
humanos significam que os animais constituem o modelo mais adequado para o homem. 
Além disso, somente sistemas intactos de animais vivos são comparáveis à real organização 
complexa do homem. Culturas de células e tecidos animais podem ser úteis para revelar 
fatos biológicos simples e isolados, mas sempre serão apenas coadjuvantes da pesquisa 
usando animais vivos. 
 
Ética da Experimentação Animal 2 Argumentos contra 
• Papel da experimentação animal para o avanço da medicina exagerado - 
melhorias na saúde pública foram responsáveis 
• Papel da pesquisa clínica 
• Experimentos com animais levam a conclusões errôneas 
Os argumentos usados pelos opositores do uso de animais na experimentação incluem os 
seguintes: 
 
• Os defensores da experimentação animal exageraram sua contribuição para uma 
maior expectativa de vida. Estatísticas mostram reduções dramáticas das taxas de 
mortalidade em decorrência de muitas doenças infecciosas, que ocorreram antes da 
invenção das vacinas e medicamentos hoje usados na prevenção e no tratamento 
destas doenças. Responsáveis por isso teriam sido, em primeiro lugar, medidas de 
saúde pública como melhor saneamento e dieta. 
• Além disso, muitos avanços da medicina que contribuíram para a saúde humana 
não foram resultado da experimentação animal, mas de pesquisas clínicas em 
humanos. Exemplos muitas vezes citados incluem a descoberta da insulina e do 
tratamento da apendicite. Estudos populacionais relativos à dieta, estilo de vida e 
ocupação revelaram algumas das causas das doenças do coração, derrames e 
cânceres. 
Nota-se que a maior parte da pesquisa médica não envolve animais e que as técnicas 
disponíveis abrangem desde modelos computadorizados e o estudo clínico de pacientes até 
a epidemiologia e culturas de células, tecidos e órgãos. Tais técnicas podem ser 
relacionadas diretamente com o homem ao invés de tentar extrapolar resultados através das 
espécies. 
Os que apóiam estas técnicas dizem que elas consideram as diferenças cruciais entre as 
espécies que ocorrem em nível celular; que são estas diferenças que causam as variações 
entre espécies na reação a vacinas e drogas e que extrapolar resultados através das espécies 
é extremamente simplista; que as semelhanças entre humanos e animais são muito 
grosseiras e que a pesquisa mais sofisticada já ultrapassou este nível há muito tempo, 
exigindo dados mais sensíveis e precisos em nível celular. Além disso, as técnicas que não 
utilizam animais fornecem informação relacionada ao ser humano e não aos animais. Os 
críticos da experimentação animal consideram todos os experimentos usando animais 
falhos por princípio, devido às diferenças entre as espécies. 
 
Ética da Experimentação Animal 2 Argumentos contra 
• Melhor gastar dinheiro com outra coisa? 
• Um exemplo imoral de especicismo 
• Argumentos de “Direitos animais” 
Existem exemplos de avanços pioneiros da medicina que ocorreram sem o uso de animais. 
É bem conhecido, por exemplo, que John Charnley se recusou a fazer experimentos em 
animais mas o quadril artificial que ele desenvolveu acabou sendo o padrão de ouro da 
ortopedia. 
Críticos da experimentação animal muitas vezes citam exemplos onde o uso de animais nos 
levou para fora do caminho. A introdução da transfusão de sangue e dos transplantes de 
córnea ficou retardada por mais de 80 anos devido a testes em animais que levaram a 
conclusões equivocadas. A droga contra o câncer de mama, tamoxifeno, foi desenhada 
como contraceptivo oral. É um contraceptivo em ratos, mas em mulheres tem efeito oposto. 
Hoje é usado no tratamento de câncer de mama, apesar de alguns estudos mostrarem efeito 
cancerígeno em ratos. Depois de um projeto ter usado 18.000 camundongos, a teropterina 
chegou a ser usada no tratamento da leucemia aguda em crianças, mas as crianças 
morreram mais rápido do que se não tivessem recebido tratamento algum. 
 
Também se usam exemplos de medicamentos de uso corrente, os quais talvez nunca teriam 
chegado a ser usados em humanos se tivessem sido testados em certas espécies. Se a 
penicilina, por exemplo, tivesse sido testada em cobaias ou o paracetamol (acetaminofen) 
em gatos, eles nunca chegariam a ser usados em humanos, visto seus efeitos fatais nestes 
animais. 
 
Estes argumentos ainda alegam que a avaliação utilitarista exagerou as vantagens da 
experimentação animal. Além disso, alguns opositores da experimentação animal (ex. Peter 
Singer) alegam que os animaisrecebem pouco peso na balança utilitarista devido a um viés 
especicista contra eles em favor dos humanos. Uma avaliação imparcial dos verdadeiros 
interesses do animal mostra que a experimentação animal raramente, se em algum 
momento, é justificada. Os defensores dos direitos animais abandonam o utilitarismo por 
completo, alegando que resultado nenhum pode justificar o uso de animais como um 
recurso descartável, por mais que as circunstâncias possam parecer vantajosas. 
 
Estudo de caso: vacina contra pólio 
• O grande sucesso da experimentação animal? 
• Doença viral infantil paralisante, às vezes fatal 
• Desenvolvimento da vacina “usou” 1 milhão de macacos Rhesus, a maioria da 
Índia 
• Resultados da pesquisa clínica podem ter mudado o curso do desenvolvimento 
da vacina 
A vacina contra pólio é muitas vezes aclamada como o grande sucesso do uso de animais 
na experimentação. Pólio é uma doença infecciosa viral, causando paralisia e desgaste 
muscular em crianças. Antes da existência da vacina, somente nos Estados Unidos, 20.000 
pessoas por ano ficavam paralíticas ou morriam devido à infecção pelo vírus da pólio. No 
início dos anos 60, com a vacina disponível gratuitamente, os números caíram para alguns 
casos anuais. De acordo com estimativas conservadoras, aproximadamente 1 milhão de 
macacos (a maioria deles macacos Rhesus) foi sacrificado no desenvolvimento desta 
vacina. A cultura do vírus para a produção da vacina foi feita em rins de macacos e os 
testes de segurança e eficácia foram feitos em macacos. A maior parte dos macacos foi 
importada da Índia e, no ápice deste negócio, a população de macacos na Índia ficou 
reduzida a menos de 4% do seu volume anterior. 
 
Alguns alegam que o uso dos macacos Rhesus no início do século 20 teria retardado a 
compreensão da doença e o desenvolvimento de uma vacina. Pesquisadores usando 
macacos descobriram que podiam infectá-los através do nariz e alegaram que esse seria o 
provável caminho da infecção humana. Evidências geradas em estudos clínicos nos quais 
foram constatadas grandes quantidades do vírus no intestino foram ignoradas, talvez porque 
tais estudos eram considerados inferiores ao trabalho feito com animais no laboratório. No 
entanto, acabou se descobrindo que macacos Rhesus eram particularmente vulneráveis à 
infecção nasal. O desenvolvimento das vacinas somente progrediu quando eventualmente 
foram feitas culturas do vírus em tecido humano. Poderia o uso de macacos ter retardado o 
desenvolvimento de vacinas por décadas? É interessante notar que foram experimentos 
feitos com chimpanzés que deram apoio aos estudos originais em humanos e que chamaram 
a atenção para o trato digestivo. 
 
Este estudo de caso nos mostra o que às vezes temos de pesar na balança utilitarista – uma 
terrível doença infantil contra a vida de centenas de milhares de primatas selvagens; levanta 
questões como o uso de primatas não humanos na pesquisa e o impacto ecológico causado 
pelo uso de animais selvagens; demonstra mais uma vez a possibilidade dos modelos 
animais nos levarem a um caminho errado e nos ensina a ter cuidado em interpretar casos 
da história para justificar argumentos a favor e contra a experimentação animal. 
 
Questões de bem-estar 1: 
Fontes de animais 
• Animais especificamente criados para a experimentação 
• Animais capturados na natureza 
• Uso de animais de abrigos ou de centros de controle 
 de zoonoses 
Alguns países limitam o fornecimento de certas espécies de animais de laboratório a 
produtores licenciados. A vantagem disto para o bem-estar dos animais pode ser que são 
criados em circunstâncias parecidas com aquelas nas quais viverão mais tarde, portanto 
estando acostumados a elas. Por outro lado, isto pode significar uma desvantagem se estas 
circunstâncias de vida não forem adequadas para o bem-estar. 
Algumas espécies de animais de laboratório podem ser capturadas na natureza. A captura e 
a contenção provavelmente são extremamente estressantes para espécies não domesticadas. 
Pode ser muito mais difícil criar condições no laboratório adequadas ao bem-estar de 
espécies não domesticadas, por estarem mais sujeitas a estresse em ambientes artificiais. 
Além disso, muitas vezes as suas necessidades exatas não são conhecidas. Para cada animal 
trazido com sucesso para o laboratório, vários outros podem ser perdidos devido a lesões ou 
estresse durante o transporte ou fêmeas podem ter sido mortas deliberadamente para pegar 
suas ninhadas. Captura de espécies ameaçadas ou de grandes números de animais de outras 
espécies pode ter impacto ecológico negativo. 
O uso de animais de companhia abandonados para experimentação é controverso. De um 
lado, se grandes números de animais não desejados estiverem destinados à eutanásia, talvez 
faria algum sentido usar estes animais “excessivos”, ao invés de criar animais de 
laboratório com a finalidade de serem sacrificados. 
Por outro lado, animais de estimação podem se adaptar mal à vida no laboratório, além de 
vir de ambientes tão diversos e desconhecidos que não servem como modelos uniformes 
para estudos científicos (devido à idade, estado de saúde e carga genética desconhecida, 
por exemplo). Pode-se se argumentar que, usando estes animais, quebramos nosso “pacto” 
ético com estes companheiros e desencorajamos as pessoas a levar animais aos abrigos. 
Animais de laboratório vindo de fontes controladas também podem reduzir o risco da 
introdução de doenças em uma colônia. Isto beneficia a saúde geral dos animais, tanto 
quanto os dados da pesquisa, e pode proteger de infecções o pessoal envolvido– vírus como 
Ebola, Marburg e Herpes B simiano já provaram ser fatais para as pessoas trabalhando em 
laboratórios. 
 
Questões de bem-estar 2: 
Alojamento dos animais 
• Os animais passam mais tempo nos alojamentos que em experimentos 
• Necessidades físicas são satisfeitas – comida, água e 
prevenção contra doenças 
Apesar dos debates acerca do uso de animais e dos procedimentos aos quais são submetidos 
nos centros de pesquisa e em testes, é provavelmente verdade que os animais de laboratório 
passam mais tempo nos seus alojamentos que sendo submetidos a procedimentos 
experimentais. Desta forma, a qualidade do alojamento é portanto muito importante. 
As instalações podem ser avaliadas utilizando-se os mesmos padrões usados para animais 
em outros contextos, por exemplo em uma fazenda. Podemos, por exemplo, usar as Cinco 
Liberdades (discutidas no módulo 2). 
O alojamento no laboratório deve estar de acordo com as necessidades físicas do animal: 
comida, água e espaço suficientes, higiene, temperatura adequada e cuidados veterinários. 
A maioria dos alojamentos existentes em laboratórios pode ser comparada aos sistemas de 
produção animal intensiva em fazendas, reconhecidos como drasticamente restritivos às 
necessidades do animal, geralmente não respeitando as Cinco Liberdades. A gaiola padrão 
usada para ratos, por exemplo, não permite ao animal ser erguer sobre as patas traseiras, 
posição regularmente assumida na natureza. Qualquer pessoa interessada no bem-estar 
animal há de reconhecer que não é suficiente simplesmente manter os animais vivos. 
Ao tratar das necessidades de animais devemos levar em conta que variam de espécie para 
espécie. Por exemplo, um recinto pode parecer silencioso para o cientista mas estar 
desconfortavelmente barulhento para o ouvido ultra-sônico dos roedores. Isto também afeta 
os resultados de testes. Os resultados de experimentos podem sofrer variações devido à 
posição de uma gaiola na prateleira. Por exemplo, a gaiola estava mais em cima, perto de 
uma luz ou mais embaixo na semi-escuridão?Isto também interfere nos dados dos testes. 
Foi demonstrado que mesmo o barulho de um osciloscópio em um recinto afetou os 
resultados de testes. 
Questões de bem-estar 2: 
Alojamento dos animais (cont.) 
 
• Ambiente estéril? 
• “Enriquecimento ambiental”: 
– Provisão de ambiente estimulante que melhore o bem-estar animal 
Necessidades psicológicas de expressar comportamento natural, como brincar e poder 
manter contatos sociais, podem também ser de extrema importância para o animal. Se não 
forem satisfeitas essas necessidades, pode-se ter um enfraquecimento da saúde física devido 
a estresse crônico. Além disso, os animais podem desenvolver comportamentos repetitivos 
sem sentido, chamados de estereótipos. Por exemplo, um beagle pode não parar de correr 
em círculos dentro de sua gaiola. Estas anormalidades, além de prejudicar o bem-estar, 
podem tornar o animal um indivíduo não adequado para a investigação científica. Neste 
sentido, quanto melhor o bem-estar animal, melhor a ciência. Coelhos alojados 
individualmente em gaiolas podem sofrer estereotipia e danos a nervos e ossos, devido a 
exercício físico insuficiente. “Ambiente estéril” (ou entediante) é o termo usado para 
descrever alojamentos que não atendem às necessidades psicológicas de um animal. 
“Enriquecimento ambiental” geralmente refere-se às tentativas de se melhorar as 
circunstâncias dos animais mantidos em cativeiro, freqüentemente disponibilizando um 
ambiente mais estimulador que permita a expressão em maior grau do seu comportamento 
natural. No caso dos coelhos de laboratório, isto pode envolver convivência com outros 
coelhos na gaiola, assim como feno e caixas de papelão para brincar. É preciso ter cuidado 
com o enriquecimento para garantir que resulte em melhora e não deterioração do bem-
estar. Por exemplo, dar companheiros de gaiola a ratos machos pode resultar em abuso 
excessivo dos animais subordinados. 
 
Literatura adicional: 
PHILLIPS, T., 2001: “Animal Welfare in Laboratory Animals for Research and Scientific 
Procedures”. Presented at the 3rd International Animal Feeds & Veterinary Drugs 
Congress, Philippines 
 
Questões do bem-estar 3: 
Procedimentos 
• Dor é, historicamente, pouco reconhecida e tratada em animais de 
experimentação 
• Diferentes espécies têm diferentes comportamentos – animais não são 
miniaturas humanas 
• Analgesia e anestesia podem reduzir a dor 
• Escores de dor podem ajudar a avaliar a dor 
 
• Nem todos os procedimentos são dolorosos 
– Por exemplo, procedimentos menores ou sob anestesia 
• Entretanto, alguns procedimentos dolorosos podem ser vistos como “menores” 
por serem simples ou corriqueiros 
Historicamente, a dor em animais de experimentação recebe pouca atenção. Isto 
provavelmente porque os comportamentos associados à dor em algumas espécies são 
diferentes dos comportamentos relacionados à dor no homem. Um gato com dor, por 
exemplo, ao invés de chorar ou gritar, simplesmente fica quieto e retraído. O 
comportamento relativo à dor também pode variar de indivíduo para indivíduo dentro de 
uma espécie, dependendo de fatores como idade e experiências anteriores do indivíduo. No 
entanto, é cada vez mais reconhecido que, além da obrigação dos cientistas de reduzir a dor 
em seus objetos de experimentação, a dor pode produzir alterações fisiológicas 
indesejáveis, afetar a taxa de recuperação pós-cirúrgica e alterar os próprios resultados do 
experimento. 
Tentativas de se quantificar a dor experimentada por um animal podem ser realizadas 
através de um “escore de dor”. Este sistema avalia com diferentes pontuações a aparência 
geral do animal, seu consumo de água e comida, seu comportamento quando não 
perturbado e quando provocado (ex.: toque no local de uma lesão), assim como o resultado 
do exame clínico (ex.: natureza da lesão). A utilização de um sistema de pontos motiva 
exames regulares minuciosos dos animais e auxilia na avaliação do efeito de analgésicos. 
As técnicas modernas de anestesia e analgesia disponíveis para a maioria de espécies de 
animais usados em experimentos podem reduzir o sofrimento destes animais 
dramaticamente. Especialmente o uso da analgesia preventiva (administrada antes da dor 
começar) e combinação de diferentes tipos de analgésicos (por exemplo, anestesia local 
com um opióide) podem aumentar sua eficácia drasticamente. 
 
Nem todas as práticas são dolorosas – algumas podem ser consideradas intervenções 
“menores”, como colher uma amostra de sangue, onde a dor envolvida é temporária e leve. 
No entanto, algumas intervenções são consideradas “menores” apenas pelo fato de serem 
corriqueiras ou de fácil execução. A colheita de amostra de sangue através de punção do 
plexo orbital ou o corte de cauda podem ser extremamente estressantes e dolorosas, o 
mesmo ocorrendo com alguns métodos de rotina de identificação, como perfuração de 
orelhas ou amputação de dedos. 
Talvez seja possível para um animal estar anestesiado durante um procedimento inteiro. 
Estudos desenvolvidos pelos opositores da experimentação animal também indicaram que, 
quanto menor a espécie de animal, menos consideração recebe em termos de 
enriquecimento ambiental e, menos ainda, no reconhecimento e tratamento da dor. 
Leitura adicional: 
ROLLIN, B., 1998: “The Unheeded Cry: Animal Consciousness, Animal Pain and 
Science”. Iowa State University Press 
WOLFENSOHN, S. & LLOYD, M., 1998: “Handbook of Laboratory Animal Management 
and Welfare”. Blackwell Science. 
 
Questões do bem-estar 4: 
Eutanásia 
• Eutanásia devido a limiar humanitário, fim do experimento ou como parte do 
experimento 
• Ideal: 
– Indolor 
– Indução rápida de inconsciência e morte 
– Confiável e irreversível 
– Estresse psicológico mínimo 
– Seguro para o operador 
– Morte tem de ser verificadda 
• Métodos: injeção, inalação, físico 
Pode ser necessário praticar eutanásia em um animal porque um “limiar humanitário” foi 
atingido. Isto significa que se ultrapassou um grau previamente determinado de dor neste 
indivíduo e que é preciso por fim ao seu sofrimento. É importante garantir esta prática. 
Freqüentemente um pesquisador pode antecipar o sofrimento ou saber identificar um 
sofrimento não previsto, mas ele pode se ausentar do laboratório e deixar os animais 
durante dias ou até semanas sob os cuidados de pessoas não experientes. Isto pode resultar 
em sofrimento desnecessário. Por outro lado, animais podem simplesmente ter chegado ao 
fim de um experimento e se tornarem desnecessários. Muitos consideram não humanitário 
submeter um animal a vários experimentos dolorosos. A morte pode ser parte integrante do 
experimento: em muitos testes toxicológicos, por exemplo, é necessário matar o animal 
para recuperar tecidos para exames histológicos. A forma ideal de eutanásia é produzir 
inconsciência e depois morte rápida sem dor. O método tem de ser confiável, irreversível e 
expor o animal a um mínimo de estresse. Precisa ser seguro para o operador e compatível 
com a finalidade do experimento. É essencial que a morte do animal seja verificada antes 
que ele seja descartado ou submetido à necropsia. 
Um método freqüentemente usado é injeção intravenosa de barbitúricos. Anestésicos 
inalatórios, como o halotano, podem ser administrados para induzir inconsciência antes de 
usar um outro método ou como método de eutanásia em si. Foi provado que o dióxido 
carbônico é muito aversivo para várias espécies; assim, matar animais com este gás pode 
causar estresse. Métodos físicos de matar, como deslocamento do pescoço, podem ser 
rápidos mas, como muitas vezes são desagradáveis para quem os executa, a pessoa precisa 
ter cuidado especial para não hesitar e fazer o animal sofrer. Precisar matar grandesnúmeros de animais com regularidade pode estressar os técnicos e resultar em saída do 
emprego ou perda de sensibilidade. Adicionalmente, sistemas de eutanásia humanitária 
podem se tornar sobrecarregados e os animais podem sofrer por um volume de gás 
inadequado e falhas na conferência da morte. Portanto, a superprodução deve ser evitada. 
Isto pode ser feito através de um planejamento melhor dos experimentos e o 
compartilhamento de fornecedores – o ciclo de reprodução muito rápido de roedores torna 
isso viável. 
Casos especiais? O uso de primatas 
• Os primatas não antropóides mais usados na pesquisa são os micos e similares 
• Eles desfrutam de vida social rica e habilidades mentais complexas – maior 
potencial de sofrimento em laboratório? 
• Grandes macacos (antropóides – orangotango, gorila, chimpanzé) têm 
habilidades mentais ainda mais complexas 
• Uso de macacos grandes proibido no Reino Unido 
Primatas têm vida social rica e habilidades mentais complexas. Isto pode significar que ao 
se manter e usar micos e similares, por exemplo, em laboratórios há mais risco de 
causarmos sofrimento social e mental que para outras espécies de laboratório. Para se evitar 
isso, é preciso ter ainda mais cuidado na escolha da origem e no transporte desses animais, 
além de um sistema de criação e ambiente adequados. Além disso, apesar do tempo de vida 
variar de acordo com a espécie, primatas podem chegar a viver em um laboratório por mais 
de uma década, fato que por si mesmo pode agravar qualquer problema de bem-estar. 
Muitos acreditam que os macacos grandes (chimpanzés, gorilas e orangotangos) são um 
problema maior. Os chimpanzés diferenciaram-se do homem apenas em sua história 
evolucionária recente e compartilham 99% dos seus genes com o homem. Isto os torna 
fisicamente muito parecidos conosco, o que talvez faça deles um “bom” modelo animal 
para estudar o homem. Mas, se são tão parecidos conosco, porque os usar em experimentos 
e não os nossos semelhantes? Há forte evidência de que eles têm autoconsciência, uma 
noção de tempo desenvolvida e uma capacidade de empatia com sua própria espécie. 
Muitas pessoas consideram estas habilidades e o fato de se tratar de uma espécie ameaçada 
motivo suficiente para proibir o uso destes animais em laboratórios no mundo inteiro. Na 
Grã-Bretanha o uso de macacos grandes foi proibido em 1997. Desencadeado por cientistas 
do mundo inteiro, o “Projeto Macacos Grandes” (The Great Ape Project) defende a 
extensão do conceito de igualdade dos homens a estes macacos. As provisões da sua 
“Declaração sobre Macacos Grandes” garantiria a eles o direito à vida, proteção da sua 
liberdade individual e proibição de maus-tratos, o que seria o fim do seu uso em 
experimentos. A necessidade de maior cuidado na criação de primatas torna-se cada vez 
mais aparente. À luz deste fato, a criação de outras espécies de laboratório deveria ser 
reavaliada. 
 
Leitura adicional: 
SMITH & BOYD (Ed.), 2002: “The Use of Non-human Primates in Research and 
Testing”. The Boyd Group, Published by the British Psychological Society. 
CAVALIERI, P. & SINGER, P. (Ed.), 1994: “The Great Ape Project: Equality Beyond 
Humanity”. St. Martins Press 
 
Novas fronteiras: engenharia genética 
• A engenharia genética é a área de maior crescimento na pesquisa científica 
• Envolve a manipulação de genes intra ou inter-espécies para produzir “animais 
transgênicos” 
• Número crescente de possíveis aplicações comerciais em animais 
A engenharia genética é a área de maior crescimento na pesquisa científica. Envolve a 
manipulação de genes intra ou inter-espécies através de diferentes técnicas para produzir 
animais “transgênicos”. Apontam-se números crescentes de possíveis aplicações comerciais 
para estes animais transgênicos, a maioria delas, no entanto, especulativas. No Reino 
Unido, em 2000 por exemplo, de aproximadamente meio milhão de práticas de modificação 
genética, a maioria (mais de 80%) destinou-se simplesmente a animais criados ou usados 
para criar mais animais geneticamente modificados (GM). 
Alguns membros da comunidade científica apresentam estes animais ao público como se os 
mesmos sofressem menos que outros animais. No entanto, o processo da engenharia 
genética pode envolver: matar fêmeas para colher ovos; intervenção cirúrgica para 
implantação de ovos modificados; gestação mais longa; maior peso dos neonatos (até 
filhotes incapazes de se manter em pé); mais mortes no parto; tempo de vida mais curto (o 
gene estranho pode causar mutações resultando em morte prematura) e problemas de saúde 
graves. 
Animais podem sofrer porque foram deliberadamente criados para apresentar uma doença 
como a fibrose cística, doença de Altzheimer, mal de Huntingdon, etc. – os críticos 
apontam diferenças cruciais entre estes “modelos” de doença e a doença espontânea no 
homem. 
Animais também podem sofrer impactos inesperados da modificação. Há uma alta taxa de 
fracasso nas técnicas de modificação genética. Animais que não incorporam o gene 
desejado são sacrificados em grande número (somente 1 a 10% da prole incorpora o gene 
desejado, o que significa uma perda de 90%). As quantidades que são sacrificadas tornam 
práticas realmente humanitárias impossíveis; os empregados deixam a indústria ou se 
tornam menos sensíveis em relação ao que fazem. O presidente do Instituto de Técnicos em 
Biotério do Reino Unido disse que, diante do aumento de animais geneticamente 
modificados, poderá haver necessidade de acompanhamento psicológico para os técnicos 
emocionalmente perturbados pelo papel que desempenham nesta matança. Há a 
preocupação de que a modificação genética esteja indo longe demais e que existem 
questões éticas mais amplas e se nos cabe construir ou destruir animais conforme o nosso 
desejo, representando um passo muito além da criação seletiva de animais. Há também a 
preocupação com o impacto não intencional que organismos geneticamente modificados 
podem exercer sobre o meio ambiente. 
 
Aplicações da engenharia genética em animais 
• “Biorreatores”: produção de proteínas terapêuticas no leite 
• Pecuária/agricultura 
• Animais transgênicos como modelos para doença humana 
• Xenotransplante: produção de órgãos compatíveis para transplantes em 
humanos 
Alguns exemplos de como os animais se tornaram envolvidos na aplicação da tecnologia de 
DNA recombinante: 
1. A produção de proteínas de uso terapêutico no leite de ovelhas, cabras e vacas - como 
por exemplo de uma proteína chamada AAT usada no tratamento do enfisema e da fibrose 
cística no leite de cabra - é feita através da introdução de genes de origem humana nestes 
animais. A técnica usada para produzir um animal que sirva para isso envolve intervenções 
cirúrgicas em vários animais doadores e recipientes, apesar de que os carneiros 
transgênicos, uma vez produzidos, parecem saudáveis. 
2. Pecuária/agricultura: animais foram geneticamente modificados para os fazer crescer 
mais rápido, produzir carne mais magra e em maior quantidade, mais ovos, mais leite ou 
mais lã de melhor qualidade. A intenção, às vezes, é aumentar a resistência contra doenças, 
conforme freqüentemente enfatizado pelos grupos defensores de plantas geneticamente 
modificadas. Enquanto muitas destas tentativas fracassaram, antecipa-se a primeira 
produção de animal geneticamente modificado em escala comercial na Ásia, de peixe GM. 
O impacto ecológico a longo prazo, no caso de algum desses peixes escapar, preocupa os 
ambientalistas. 
3. Produção de camundongos transgênicos como modelos para doenças humanas e para 
testar possíveis terapias: o caso mais famoso é o “oncomouse” (oncocamundongo), que foi 
geneticamente construído para apresentar uma predisposição ao câncer.Este animal foi o 
primeiro animal transgênico a ser patenteado. 
Os críticos ainda consideram estes modelos falhos devido às diferenças entre as espécies. 
Na verdade, a adição de mais variáveis, ainda não identificadas, pode criar ainda mais 
confusão. 
Além disso, a experimentação animal não é o único caminho para o progresso. Existem 
outras metodologias como culturas de células ou tecidos. Por exemplo, estudos feitos em 
culturas de tecidos humanos identificaram o mecanismo responsável pela expressão 
excessiva de um determinado gene que torna os diabéticos suscetíveis à aterosclerose. Os 
pesquisadores não conseguiram identificar este mecanismo em camundongos diabéticos 
geneticamente modificados. 
 
Aplicações da engenharia genética em animais (cont.) 
• Xenotransplante: qualquer procedimento que envolva o uso de células vivas, 
tecidos e órgãos de uma fonte animal não humana, transplantados ou 
implantados em humanos ou usados para perfusão clínica ex-vivo 
– Problemas significativos de bem-estar animal 
– Preocupações significativas com a saúde humana 
– Vírus animais podem passar para humanos 
4 - Xenotransplante é qualquer procedimento envolvendo o transplante ou implante de 
células vivas, de tecidos e órgãos de uma fonte animal não humana para humanos. Isto 
envolve a modificação genética de porcos para produzir órgãos que não serão rejeitados 
pelos receptores humanos. Esses não são órgãos humanos, mas órgãos animais contendo 
um gene humano para “enganar” o sistema imune do homem. Estes animais estão sendo 
desenvolvidos em países onde a demanda crescente de órgãos para transplante supera a 
oferta. A necessidade de um ambiente especial e livre de doenças para estes porcos pode 
interferir na qualidade de vida deste animal, inquisitivo por natureza. Para se obter leitões 
gnotobióticos para produzir órgãos para transplante, o parto é feito por cesariana, os 
animais são colocados em isoladores e depois criados em ambientes estéreis; as leitegadas 
também são submetidas a intervenções repetidas; amostras de sangue e tecido são colhidas. 
Essa tecnologia já foi testada em primatas como recipientes – em experimentos feitos na 
Grã-Bretanha, por exemplo, foram usados babuínos capturados na natureza. 
Esta talvez seja a área mais controversa da modificação genética por envolver sérias 
questões de saúde. Todos os produtos orgânicos gerados pelas células serão não humanos e 
migrarão pelo corpo do paciente. O órgão do animal continua desenhado para o corpo do 
animal e está programado para o tempo de vida deste animal. O coração e o pulmão de um 
porco foram desenhados para um animal horizontal de tamanho diferente; o coração de um 
porco teria de ser modificado para bombear o volume certo de sangue na pressão certa para 
ser usado no homem. Permanecem diferenças fisiológicas e metabólicas fundamentais entre 
os órgãos das diferentes espécies e os órgãos de alguns animais, em especial os rins e o 
fígado, podem ser incompatíveis com o homem. Também há a preocupações de que vírus 
animais não identificados, por exemplo retrovírus suínos, possam ser passados para o 
paciente. Um vírus desta maneira forçado através da barreira entre as espécies pode sofrer 
mutação e causar uma nova doença no homem. Acredita-se que o HIV/AIDS seja um 
exemplo de uma doença criada por mutação cruzada entre espécies e nvCJD/BSE (causado 
por um prion, uma partícula protéica infecciosa) seja um exemplo de infecção cruzada entre 
espécies. 
 
Leitura adicional: 
BRUCE, D. & BRUCE, A. (Eds.) 1998: “Engineering Genesis: The Ethics of Genetic 
Engineering in Non-human Species”. Earthscan Publications Ltd. 
 
Pesquisa sem animais 
Às vezes, qualquer pesquisa sem animais é chamada de alternativa para a experimentação 
animal. Este termo, no entanto, está mal aplicado porque algumas técnicas, como estudos 
básicos em pacientes, são anteriores aos experimentos feitos em animais como fonte de 
entendimento sobre a doença humana. 
O termo “alternativa” é empregado mais corretamente para técnicas nas quais um 
experimento clássico em animais é considerado a norma, por exemplo testes padrões 
exigidos por lei para avaliar a segurança de um produto antes que seja colocado no 
mercado. Em muitos estabelecimentos de ensino, o uso de animais foi substituído por 
simulações e modelos feitos em computador. Por exemplo, simulações da fisiologia normal 
de órgãos como coração, pulmões e rins. As células nervosas e sua reação à lesão e doença 
podem ser simuladas matematicamente. Existem programas de “seres humanos virtuais”, 
para estudar a anatomia do corpo inteiro e dos tecidos e outros programas que substituem a 
dissecação de animais. Desde a escola primária até a escola médica e além, os recursos de 
ensino são cada vez mais sofisticados e incluem modelos, vídeos, projeções e CD-ROM. O 
modelo “Rato de Koken”, usado no treinamento veterinário, tem a aparência e dá a 
sensação física de um rato de verdade. Existem também simuladores de intervenções 
cirúrgicas para treinar o controle de hemorragias. 
O desenvolvimento de tecnologias significa um aumento no número de métodos dos quais 
o cientista que não queira usar animais pode dispor. Muitas dessas técnicas garantem dados 
diretamente aplicáveis ao homem. 
Métodos de pesquisa sem animais incluem culturas de células, de tecidos e órgãos; estudos 
epidemiológicos; pesquisa biotecnológica; pesquisa clínica; estudos em voluntários 
humanos e modelos de computador e matemáticos. 
 
Pesquisa sem animais 2 
• Culturas de células, tecidos e órgãos 
• Estudos epidemiológicos 
• Pesquisa biotecnológica 
Culturas de células, de tecidos e órgãos: hoje as técnicas de reprodução in vitro de 
células humanas, tecidos e órgãos avançaram enormemente. O material humano vem 
de doações de órgãos ou é obtido durante intervenções cirúrgicas e foram criados 
bancos de tecidos humanos. Métodos de cultura in vitro são usados para estudar 
doenças, inclusive o câncer, vírus, as atividades enzimáticas e hormonais, a fisiologia 
de tecidos como músculos e nervos e em testes de toxicidade. As novas técnicas de 
engenharia de tecidos podem se mostrar mais seguras e eficazes do que os 
xenotransplantes. Células-tronco humanas colhidas de embriões imaturos, do sangue, 
da gordura ou da medula podem ser cultivadas para se transformar em qualquer 
tecido. Adicionalmente, os próprios tecidos de um paciente podem ser cultivados em 
uma “plataforma” e depois transplantadas de volta para o paciente, evitando os 
problemas de rejeição associados aos transplantes. 
Epidemiologia e estilo de vida: epidemiologia é o estudo das doenças e de sua 
propagação. A descoberta dos meios de transmissão e da prevenção da AIDS, por 
exemplo, deve-se integralmente aos estudos epidemiológicos. A epidemiologia 
revelou ligações entre determinadas substâncias químicas, fumar, radiação, dietas 
ricas de açúcar e gordura e a probabilidade de vários tipos de câncer. Dietas ricas de 
gordura e sal, estresse e falta de exercício são todos fatores causadores de doença 
coronária. 
Biotecnologia: os avanços da biotecnologia (surgindo do projeto genoma humano) 
oferecem técnicas alternativas ao uso de animais para testar a segurança de produtos 
químicos. Quando células humanas são expostas a substâncias tóxicas in vitro os 
genes podem ser danificados. “Chips” de DNA carregando seqüências curtas de DNA 
podem ser usados para identificar genes danificados, indicando o grau de toxicidade 
de uma substância. Esta tecnologia, chamada de toxicogenômica, pode não só salvar 
as vidas de animais mas também é um método melhor devido ao uso de material 
humano, assim evitando o problema da diferença entre as espécies. De modo 
parecido,os chips de DNA são aplicados na descoberta de drogas cujo alvo são genes 
específicos associados a uma doença. 
 
Pesquisa sem animais 3 
• Pesquisa clínica 
• Estudos em voluntários humanos 
• Modelos de computador e matemáticos 
Pesquisa clínica: pesquisa clínica é o estudo de doença no paciente para identificar suas 
características, sintomas e possíveis causas. Também podem ser desenvolvidos novos 
tratamentos. Estudos clínicos da leucemia levaram à compreensão do mecanismo da 
atividade anti-tumoral. Estes estudos muitas vezes resultam na descoberta de novos 
usos para drogas. Isto não surpreende, pois a verdadeira compreensão da ação de uma 
droga adquire-se com o uso. A aspirina, por exemplo, hoje tem muitos outros usos 
além de analgésico, para o qual foi desenvolvida. 
Estudos com voluntários humanos: estudar pessoas é obviamente essencial para o 
progresso da medicina e para entender as doenças humanas. Voluntários humanos 
podem ser usados no estudo de drogas; eles desempenham um papel significativo na 
pesquisa psiquiátrica e psicológica; também são usados em testes de irritabilidade 
dérmica causada por ingredientes de cosméticos e exposição a substâncias tóxicas 
presentes na atmosfera. Recentes avanços no desenvolvimento de técnicas de imagem 
do cérebro em funcionamento, como Positron Emission Tomography (PET), 
functional Magnetic Resonance Imagery (fMRI), Eletroencefalografia (EEG) e 
Magnetoencefalografia (MEG) permitem estudar o cérebro humano com pouco ou 
nenhum desconforto para o voluntário. Diferentes seções do cérebro podem ser 
localizadas e sua função identificada. Estas novas tecnologias permitem estudos em 
humanos tempos atrás considerados por demais invasivos. 
Modelos virtuais e matemáticos: os pesquisadores dispõem hoje de uma série de 
programas sofisticados (matemáticos, bancos de dados e modelos) permitindo o 
estudo das ações de drogas e previsão de seus potenciais efeitos. 
Alguns programas usados para testar produtos são modelos que simulam o sistema 
humano até ao nível molecular, no qual um produto potencial pode ser checado. 
Outros são bancos de dados de substâncias químicas conhecidas e seus efeitos, onde 
novas substâncias podem ser inseridas para as comparar com dados conhecidos. 
 
Alternativas 1: os 3 Rs 
• Experimentos como “mal necessário” 
• “Os princípios da técnica experimental humanitária”, Russel e Burch, 1959 
• Substituição (Replacement), Redução e Refinamento 
Um posicionamento ético comumente citado em relação à experimentação animal é que o 
uso de animais é um mal necessário – apesar disto criar a impressão errada de que a maioria 
de estudos feitos em animais se destina à pesquisa aplicada e não à básica. Não é de 
surpreender, portanto, que muitos estejam ativamente buscando alternativas, para que 
menos mal seja necessário. 
William Russel e Rex Burch foram encarregados por uma organização britânica, a 
Federação das Universidades para o Bem-Estar Animal (Universities Federation for 
Animal Welfare - UFAW), de escrever um livro sobre experimentação animal aceitável. O 
resultado foi o livro “Os Princípios da Técnica de Experimentação Humanitária” (The 
Principles of Humane Experimental Technique), que se tornou conhecido no mundo inteiro. 
O livro apresentou o conceito dos “3 Rs” como base para que pesquisadores pudessem 
avaliar seu trabalho com animais. O conceito dos 3 Rs foi incorporado à legislação de 
alguns países e de organizações supranacionais, como a União Européia. Três Rs para as 
três palavras-chave originais Replacement (Substituição), Reduction (Redução) e 
Refinement (Refinamento). 
 
Alternativas 2: Substituição (Replacement) 
• A substituição de animais sencientes por alternativas não vivas ou não 
sencientes 
• Uso de organismos não sencientes 
• Técnicas in vitro 
• Substitutivos não biológicos 
• Estudos em seres humanos 
A substituição deve ser o ideal em mente para o cientista: a substituição de animais 
sencientes por alternativas não-vivas ou não-sencientes. A procura de alternativas deve 
sempre prevalecer sobre a conveniência, o que pode significar um contrato com outro 
laboratório que disponha de recursos adequados para o fornecimento de um componente da 
pesquisa. A maioria dos estudos clássicos de fisiologia, anatomia e farmacologia (por 
exemplo, estudos em nervos de sapos) podem agora ser executados sem o animal, usando 
simulações computadorizadas ou outros modelos. 
Existe uma variedade de possíveis alternativas para a substituição, algumas delas já 
abordadas antes: 
• • Uso de organismos não-sencientes: as hidras, por exemplo, desenvolvem-se de 
forma anormal na presença de substâncias químicas que causam anormalidades em 
fetos de vertebrados (teratógenos), conseqüentemente podem ser usadas para 
rastrear teratógenos.• Técnicas in vitro: estas técnicas (in vitro significa literalmente 
“no vidro”) envolvem o estudo de células e tecidos fora do corpo do animal. Estes 
tecidos podem ser derivados do homem, em certos casos aumentando a 
aplicabilidade do estudo. Culturas de células cardíacas, por exemplo, podem ser 
usadas para testar os efeitos de drogas sobre o tecido cardíaco sem que a droga 
precise ser administrada a um animal vivo.• Substitutivos não biológicos, como 
modelos de computador ou recursos audiovisuais, podem também substituir os 
animais em algumas circunstâncias. Simulações em vídeo ou no computador de 
dissecações ou experimentos farmacêuticos podem ajudar a substituir o uso de 
animais como recursos de ensino em Universidades. O “Resusci-Dog”, por 
exemplo, é um modelo computadorizado de cão usado para treinar médicos 
veterinários em técnicas de ressuscitação. Apesar de haver exemplos de abuso na 
história, pode-se cogitar o uso de humanos ao invés de animais. Isto pode envolver 
o uso de tecidos derivados do ser humano, como a placenta, ou experimentos não 
invasivos feitos em colegas estudantes na educação universitária. (Veja as projeções 
anteriores sobre pesquisa sem uso de animais).Na Grã-Bretanha, a “Focus on 
Alternatives”, uma liga de organizações promovendo técnicas sem uso de animais, 
produziu um pôster mostrando uma “estratégia de tomada de decisão”, que motiva 
pesquisadores a considerar métodos sem uso de animais no planejamento de um 
experimento. Os pôsteres podem ser encomendados do “Fundo Lord Dowding para 
a Pesquisa Humanitária”, no endereço www.ldf.org.uk. 
 
Alternativas 3: Redução 
• Redução do número de animais utilizados a um mínimo absoluto 
• Agrupamento de recursos 
• Estatísticas adequadas 
• Evitação de repetições 
• Perguntas a se fazer antes de começar um projeto usando animais 
A redução do número de animais usados a um mínimo possível é o segundo R. Isto 
depende de boa organização tanto quanto dos avanços da tecnologia. É preciso que os 
pesquisadores se comuniquem para poder criar agrupamentos de recursos e evitar 
repetições desnecessárias. Boas práticas como revisões bibliográficas e publicação rápida 
de resultados podem também ajudar a evitar repetições, assim como o bom uso da 
estatística no delineamento experimental. Também é importante evitar usar um número 
pequeno demais de animais para evitar que o experimento precise ser repetido mais tarde 
devido a resultados não conclusivos. Competição entre instituições e sigilo comercial 
podem impedir a implementação deste R. Os pesquisadores devem consultar a literatura 
científica para verificar se a pesquisa proposta já foi feita em algum lugar – apesar de que 
talvez isto não venha de encontro aos interesses pessoais do pesquisador. Reprodução 
excessiva e conseqüente descarte de grandes quantidades de animais excedentes devem 
também ser reduzidos para promover uma ampla filosofia de redução.A redução do 
número de animais usados aumenta a atenção individual dos tratadores (ex.: para identificar 
doença ou estresse) e o espaço disponível para enriquecimento ambiental. Desta forma, por 
razões de ordem científica e de bem-estar, deve-se tentar reduzir o número de animais 
usados e de animais excedentes mortos. Elevar o nível de respeito à vida dentro do 
laboratório reduzirá a perda de sensibilidade da equipe e motivará mais pessoas cuidadosas 
a trabalhar nesta área. Smith and Boyd (1991) propuseram perguntas que o pesquisador se 
deve fazer antes de embarcar em um projeto: 
• Os métodos propostos são relevantes para a pergunta científica em questão? 
• O uso de animais é essencial? 
• A espécie e o número de animais usados são adequados? 
• É necessário utilizar práticas com a severidade proposta? 
• A quantidade de informação obtida através dos animais está maximizada? 
• As instalações onde a pesquisa será feita apresentam qualidade adequada para o trabalho 
ser bem sucedido? 
 
SMITH, J. A. AND BOYD, K. M. (Eds.), 1991: “Lives in the Balance: the Ethics of Using 
Animals in Biomedical Research”. Oxford University Press. 
 
Alternativas 4: Refinamento 
• Redução do sofrimento de animais de experimentação 
• Sofrimento inclui dor mas também outras experiências adversas 
• Importância das condições de alojamento 
• Altos padrões de bem-estar = altos padrões de ciência 
• Uso de analgesia e anestesia 
• Limiares humanitários 
O refinamento talvez seja a área onde o médico veterinário pode exercer maior influência. 
Consiste na redução do sofrimento em todas as circunstâncias que um animal enfrenta 
enquanto em um estabelecimento científico. Portanto, refinamento não se refere somente às 
praticas às quais o animal é submetido, mas também às condições nas quais é mantido. 
Sofrimento não se refere apenas à dor durante os procedimentos aos quais o animal pode 
ser submetido, mas também a outros estados mentais adversos como ansiedade e tédio 
severos que um animal pode experimentar no seu alojamento. Uso adequado de anestesia e 
analgesia para reduzir a dor durante e após os procedimentos é também parte essencial do 
refinamento. Existem muitas publicações que dão orientação a respeito de fatores como 
iluminação, temperatura e umidade adequadas, assim como a respeito do espaço necessário 
para as diferentes espécies. 
A redução de estresse no alojamento e durante o manejo pode ajudar a melhorar a 
qualidade da pesquisa por reduzir efeitos sobre a fisiologia do animal que podem interferir 
no resultado do experimento. Simples mudança de lugar da gaiola de ratos de laboratório, 
por exemplo, é suficiente para alterar muitos dos seus parâmetros sanguíneos (Gartner et al, 
1980). Animais saudáveis e felizes constituem melhores indivíduos experimentais. 
Especificar de antemão limiares humanitários para experimentos com animais é também 
um aspecto importante do refinamento. Um exemplo é o estabelecimento de um limiar até o 
qual se deixaria um tumor crescer em um roedor antes de se praticar a eutanásia no animal. 
Limiares humanitários na toxicologia também têm a vantagem de permitir ao pesquisador 
observar patologias mais sutis que ao se deixar um animal aproximar-se mais da morte. 
Outro exemplo de refinamento é uma alteração de conduta de teste de Draize, no qual uma 
substância é colocada nos olhos de coelhos para testes de irritabilidade. Ao invés de 
administrar grandes quantidades da substância a grandes números de coelhos, o 
procedimento aprimorado testa um animal de cada vez. Se o primeiro animal mostrar 
irritação, não se testa em outros animais e o teste com este animal é imediatamente 
interrompido. 
Referências e leitura adicional: 
Guidelines on the Care of Laboratory Animals and Their Use for Scientific Purposes. 
Volumes 1 to 4. Laboratory Animal Science Association, London and Universities 
Federation for Animal Welfare, UK 
 
Controle legal da experimentação 1: inspeção centralizada 
• Por exemplo, o Decreto de Procedimentos Científicos (Scientific Procedures 
Act) para animais do Reino Unido, administrados pelo governo 
• Cobre todos os vertebrados e o polvo 
• Licenças para pesquisadores, projetos e instituições 
• Inspetores avaliam as solicitações de licença, inspecionam as instituições para 
aplicar o decreto e prestam assessoria técnica 
• Comissões de ética locais organizadas 
 recentemente 
No Reino Unido existe um sistema de inspeção centralizado para os animais de laboratório, 
que recebem proteção baseado em licenças pessoais, para projetos e institucionais, que são 
supervisionadas por inspetores oficiais do governo. Esta legislação cobre todos os 
vertebrados assim como Octopus vulgaris. Os inspetores podem visitar as instituições sem 
aviso ou com data marcada. Existem sanções criminais disponíveis para punir os infratores, 
embora raramente ou nunca sejam aplicadas. 
O governo recentemente convocou as instituições para implantar comissões de ética 
internas, com participantes externos à instituição, assim como especialistas. 
Infelizmente, a legislação no seu estado atual não impõe as Cinco Liberdades, notadamente 
a Liberdade para expressar comportamento normal. 
No Reino Unido foi proposta a criação de um Centro Nacional de Alternativas ao Uso de 
Animais em Experimentação. Para mais informação acesse www.ldf.org.uk. 
No Brasil, já existem em instituições de ensino superior e de pesquisa, comitês de ética no 
uso de animais, embora a maioria ainda esteja em fase inicial de organização e de trabalho. 
 
Controle legal da experimentação 2: auto-regulamentação fiscalizada 
• A Austrália, por exemplo, não tem legislação federal contra crueldade com 
animais, somente leis estaduais 
• “Código de práticas para cuidados e uso de animais para finalidades científicas” 
• O código incorpora os 3Rs 
• Comitês locais, composto de cientistas e membros da comunidade leiga, 
fiscalizam o Código 
A Austrália e Nova Zelândia não têm controle governamental centralizado e, sim, auto 
regulamentação fiscalizada através de comitês locais. Estes devem contar com peritos da 
própria instituição assim como membros externos interessados em promover o bem-estar 
animal. Na Austrália, estes comitês atuam mais sob legislação estadual que federal. Esta 
legislação incorpora alguma referência ao código nacional de conduta na criação e no uso 
de animais na experimentação. Este código, por sua vez, incorpora os 3 Rs. 
As preocupações principais acerca da experimentação animal - como evitar repetição, 
estabelecer a clara necessidade de qualquer pesquisa ou uma ampla promoção dos 3 Rs - 
somente podem ser endereçadas de modo centralizado e com uma cultura transparente. 
Assim como no Reino Unido e nos Estados Unidos, o sistema na sua forma atual não impõe 
as Cinco Liberdades, especialmente no que se refere à Liberdade para expressar 
comportamento normal. 
 
Controle legal da experimentação 3: auto-regulamentação 
• Por exemplo, EUA 
• O Decreto Federal de Bem-Estar Animal exclui aves, ratos, camundongos e 
animais de fazenda 
• Comitês Institucionais de Cuidados e Uso de Animais (IACUC) atuam 
localmente 
• Grandes financiadoras da experimentação animal têm regulamentos próprios 
• Certificação voluntária a instituições privadas 
Nos EUA, o Decreto Federal para o Bem-estar Animal (Federal Animal Welfare Act), 
fiscalizado pelo Departamento de Agricultura, não se refere a aves, ratos, camundongos e 
animais de fazenda usados na experimentação. Estes animais dependem de outras fontes de 
proteção. O decreto estabelece comitês locais chamados Comitês Institucionais de 
Cuidados e Uso de Animais (Institutional Animal Care and Use Committees - IACUCs),para implementar os regulamentos federais. Estes atuam dentro de cada instituição para 
garantir que as diretrizes de cuidados com os animais sejam respeitadas. Os IACUCs têm o 
poder de suspender projetos de pesquisa. 
No entanto, um estudo cego das decisões tomadas pelos IACUCs observou baixa coerência 
entre os comitês: os mesmos não puderam chegar a um consenso a respeito do que seria um 
bom protocolo para modelos animais. Também foi observado que a familiaridade com 
projetos apresentados por colegas exercia uma certa influência. (PLOUS & HERZOG, July 
27, 2001: Animal Research, Reliability of Protocol Reviews for Animal Research, 
Science). 
Financiadoras de grande porte da experimentação animal, como o Instituto Nacional de 
Saúde (National Institute of Health - NIH), têm regulamentos próprios, que precisam ser 
seguidos para que o fomento seja mantido. O NIH é responsável pela maior parte de apoio 
financeiro concedida a instituições públicas americanas. 
Alguns laboratórios buscam certificação de acordo com padrões mais estritos de 
organizações privadas como a “Association for Assessment and Accreditation of Lab 
Animal Care International”. (AAALAC Int.). 
Os críticos observam que os padrões das associações comerciais geralmente atendem aos 
interesses dos comerciantes. 
 
Controle legal da experimentação 4: realidade brasileira 
No Brasil já existem, em instituições de ensino superior e de pesquisa, comitês de ética no 
uso de animais, embora a maioria ainda esteja em fase inicial de organização e trabalho. A 
tendência é a instalação de novos comitês já que, para a publicação de trabalhos científicos, 
a apreciação ética do uso de animais é exigência comum. É importante que tais comitês 
tenham poder de veto às práticas experimentais de manutenção, delineamento experimental 
e procedimentos nos animais consideradas inadequados. 
Alguns tópicos disponíveis atualmente (2003) são: 
• Leis Referentes à Experimentação Animal no Brasil - Situação Atual 
• Conselho Federal de Medicina Veterinária - Resolução Nº 592 
• Lei Federal n.º 6.638 , de 08 de Maio de 1979. 
• Princípios éticos na experimentação animal 
O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) reconhece a importância de se 
centralizar ações. Para tanto, criou em setembro de 2001 a Comissão de Ética e Bem-Estar 
Animal (CEBEA), cujas ações principais incluem um trabalho conjunto com os Comitês de 
Ética locais. 
Quanto à regulamentação de tais práticas, a Lei Federal nº 9.605/98, denominada Lei de 
Crimes Ambientais, estabelece como crime contra a fauna, em seu artigo 32 § 1º, “realizar 
experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, 
quando existirem recursos alternativos”. A pena prevista é de detenção, de três meses a um 
ano, e multa, podendo ser aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. 
 
Resumo 
• Animais são usados no laboratório para uma variedade de finalidades, do 
desenvolvimento de drogas até o ensino 
• Existem discussões sobre a ética destes usos 
• Questões de bem-estar de animais de laboratório abrangem fonte, alojamento, 
procedimentos e eutanásia 
• Uso de primatas no laboratório pode colocar alguns problemas éticos e de bem-
estar específicos 
• A engenharia genética cria mais um conjunto de problemas éticos e de bem-
estar 
• Implementação dos 3 Rs é amplamente aceita como caminho pragmático de 
endereçar questões éticas e de bem-estar dos animais de laboratório 
• Existem diferentes formas legais buscando a proteção dos animais de 
laboratório vigentes no mundo inteiro 
 
Bibliografia 
 
• Animal Experiments: the Debate. NAVS educational CD Rom 
• INGLIS, B., 1983: Diseases of Civilisation.Granada Publishing, 
• GREEK, C. R. & GREEK, J. S., 2002: “Sacred Cows and Golden Geese: The 
Human Cost of Experiments on Animals”. Continuum International 
• MELVILLE, A. & JOHNSON, C., 1982: “Cured to Death: The Effects of 
Prescription Drugs”. Harper & Collins 
• MCKEOWN, T., 1979: “The Role of Medicine”. Blackwell 
• NAVS & L. D. F., 2002: “Monkeys and Men: An assessment of the use of primates 
and non-animal techniques in neuroscience research”. National Anti-Vivisection 
Society and Lord Dowding Fund for Humane Research/www.navs.org.uk

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