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M ARX , HOJE J . C hasin (organizador) B ert A ndréas F . E ngels V . r. L ênin G eorg L ukács A ntonio G ram sci István M észáros F lorestan F ern a ndes H enrique L im a V az Jaim e L abastida José P aulo N etto G iuseppe Staccone M anfredo A raújo d e O liveira J o sé N un '.n ·,e re s a C alvet d e M agalhães M aurício T ragtenberg R icardo A ntunes J . C . A velino P aulo Silveira M EU CAM INHO PARA M ARX * A relação c o m M arx ·é a v e rdadeira pedra de toque para todc ' intelectual que leva a sério a elucidação da s u a própria c o n c epçã o de m u ndo , o desenvolvim eto so cial, e m particular a situação atu al , o se u próprio lugar n ela e o se u próprio posicionam ento e m rela - ção a ela . A se riedade., o e sc rúpulo e a profundidade c o m que ele se dedica a e sta problem ática , n o s indica e m que m edida ele qu e r, c o n sciente . o u inconscientem ente, e squivar-se de u m claro posicio - n a m e n to c o m relação às lutas da htstória atu al. O s e sboços biográ - ficos que tratam da relação c o m M arx , da luta e spiritual c o m o m a rxism o, n o s dão , p o r v ezes, u m quadro que , e nquanto c o ntri- buição à história da luta so cial dos intelectuais n o período im pe - rialista, possui u m · c e rto interesse geral, m e sm o quando, c o m o n o m e u c a so , a biografia e m si não tenha n e nhum a preten são de inte - re ssa r a o público. Foi a o term inar o s m e u s e studos s e c u ndários que se. deu o m e u prim eiro e n c o n tro c o m M arx (com o M anife sto C om unista) . A im pressão foi e x tra o rdinária e, quando e studante u niversitário, li e n tão algum as obras de M arx e E ngels (como, por e x e m plo . O 18 B rum ário, A O rigem da F am ília) c, p.m particular , e studei a • "M ein W eg 7.U M arx" foi pU blicado n a re vista m o s c o vita In te rn a tio - n ale L ite ra tu r , n .o 2, e m 1933, tendo sido reproduzido e m G . Lukács z u m S iebzigsten G ebeertstag (Berlim , A ufban, 1955) . C om tradução para o ita - li a n o de U gn G em m elli foi publicadO e m N u o vi A rgom enti, n .o 33, 1958 _ O . . P ostscriptum " foi e s c rito para o S im pósio s ob r e o P ensam ento C on - tem porâneo, editado n o Japão s ob o título . . Isvanam i G endai Schiso" . E m 1957 fei editado e m italiano. T radução para o português, a p artu do tex to integral traduzido por U go G em m elli, in M a rxism o e P olitica C ulturale (Torino, E inaudi E ditore, 1977), de L uiza L . S. S akam oto , M arilene G . P ottes e M . D olores P rades . R evisão técnica d e T h e re z a Calv.~t de M agalhães. N otas da E dição B rasileira 85 fun?o o prim eiro v olum e de O C apital. E sse e studo m e c o n v e n c e u raplda:ne~te da e x atidão de alguns pontos c e n trais do m a rxism o . ~m pnm elro lugar~ fiquei im pressionado c o m a teo ria da m ais-va- lIa, c o m a c?ncepç_ao da história c o m o história da luta de classes e c o m .a . ar~lCulaçao da so cied.ade e m classes. N aquele m o m e nto, co m .o ~ obv~o n o c a so de u m m telectual burguês, e ssa influência se !ImI~U a ec~n~mia e s obretudo à "so ciologia". C onsiderava a fIlosofIa m aten alISta - não distinguia o m aterialism o dialético do não. dialético - c o m pletam ente s uperada, e nquanto teo ria do " C ?nheC Im ento. A ~ese n e okantiana 1 da "im anência da c o n sciência" aJystava-se p~rfeItamente- à m inha posição de classe n a "época; n a o a s ubm etIa a qualquer ~xame c rítico, m a s a c eitava-a passiva- m e n te c o m o p~mt;o. de partida de toda e qualquer c olocação do problem a gnoslO logIco. N a .verd~de, m a n tinha u m a c o n stan te s u speita frente a o e xtre- m ado IdealIsm o subjetivo (tanto o da e sc ola n e okantiana de M arburgo quanto o da teo ria de M ach) , u m a v e z que não c o n seguia co~~reender ~omo e ra q1:le o problem a da re alidade podia s e r defIm do, consI~:ra~do-a SIm plesm ente c o m o u m a c ategoria im a- n e n te da _ c o n sclencla . M as e m bora isso não m e tenha c o nduzido a con~luso:s m aterialistas, a c abou levando-m e m uito m ais a u m a aproxlm açao c o m aquelas e sc olas filosóficas que queriam re solver e ste pro~le~a de .form a irracionaiista e relativista e, até m uitas v~.zes, mI~tIca (W m delband-Rickert, Sim m el, D ilthey). A influên- CIa ?e SIm m el,2 de quem fui discípulo direto, deu-m e ainda a possIbili?ade .de. "inserir" n u m a tal c o n c epção de m u ndo tudo o que ha,?a aSSIm Ilado de. M arx n e sse período. A F ilosofia do D inhei- ro de SIm m el e o s e s c n to s sobre o protestantism o de M ax W eber foram o s m e u s m odel?s para u m a " so ciologia da literatura", n a qual o s elem er:tos ?e~"lVados de M arx e stav am m ais u m a v ez pre- se ntes, _ m .as tao dilm dos e e m palidecidos q p e ra!!1 quase irra c o nhecIveIS . Seguind? o ex~~pl.o de. ~~mmel e u , de u m lado, s eparava o quanto posslvel a so clO logla do fundam ento e c o nôm ico c o n c e - bido de m odo bastante abstrato, e, de o u tro lado via n a a nálise "s~Cioló~ica:'. apenas o e stágio inicial da ve.rdad~ira e re al pes- qw sa clentIfIca n o c a m po da e stética (História da E volução do D ram a M oderno, 1909; M etodologia da H istória Literária 1910 a m bas e m húngaro). O s m e u s e n s aios publicados e n tre Í907 ~ 1911 o scilavam e n tre e ste m étodo e u m subjetivismo m ístico . E ra n atu ral, ?om tal _desenvolvim ento da m inha c o n c epção de m u ndo, que a s m Ipressoes que tivera da leitura de M arx n a m inha juventude, fossem e m palidecendo c ada v e z m ais, e ac~bas se m por desem penhar u m papel c ada v e z m e n o r n a m inha ativi - dade científica . C onsiderava , não m e n o s do que a n teriorm ente , 86 M arx o e c o n o m ista e o " so ciólogo" m ais c o m petente; m a s a e c o - n o m ia e a " so ciologia" o c upavam n e ste período u m papel insigni- ficante n e sta atividade. A o leitor não interessam a s singularidades e a s diferentes fases deste desenvolvim ento, através do qual e ste idealism o s ubjetivo m e c o nduziu a u m a c rise filosófica. M as e sta c rise - s e m que de im ediato e u o so ubesse - foi determ inada objetlvamente pela m a nifestação m ais intensa das c o n tradições im perialistas e foi pre.cipitada c o m a e closão da G uerra M undial.3 D ecerto, e sta c rise se m a nifestou, de início, apenas n a m inha pas- s agem do idealism o subjetivo a o idealism o objetivo (Teoria do R om ance, e s c rita e n tre 1914-15), e, n atu ralm ente, H egel adquiriu para m im u m a im portância c ada v e z m aior, e m p~rticular a F eno- m e n ologia do E spírito. O m e u s egundo e studo m ten so de M arx c o m eça c o m a m inha c o m preensão, c ada v e z m aior, do c a ráter im perialista da G uerra, c o m o aprofundam ento dos m e u s e studos de H egel, n o decorrer dos quais m e aproxim ei tam bém de F euer- bach, e m bora, n aquele m o m e nto, m e interessasse apenas pelo a specto a ntropológico. O s e sc ritos filosóficos da juventude de M arx passaram a se r o ponto c e n tral de m e u _ in!ere~s~, e m bora ain~a e studasse c o m paixão a grande In troduçao a C ntu:a da · E conom za P olítica. D esta v ez, porém , não se tratav a m ais de u m M arx visto da lente de Sim m el, m a s através da perspectiva hegeliana. M arx deixava de s e r o " e m inente e specialista", o " e c o n o m ista e so ció- logo"; já c o m eçava a delinear-se pa~a m im .o gr~de pensador,.o grande dialeta. N o e n tan to , n aquela epoca, aID ?a r:a o co~:pree~dia o significado do m aterialism o para a c o n c retIzaçao, u niflcaçao e c olocação c o e re nte das questões dialéticas. O m áxim o qu~ cheguei a postular foi u m a prioridade - hegeliana - do ~onteu?-o s~bre a form a e procurei, sobre base e s s e n cialm ente hegelIan.a, sIDtet~~ H egel e M arx n u m a "filosofia da história" . E ~ a tentatIv~ adq~nu u m a to n alidade particular porque n o m e u paIS, a H ungna, a Ideo - logia " -s o cialista àe e s u e ràa" m ais . li L e ra . , . o de E rvin Szabó . 4 O s se u s e sc ritos sindicalistas, apesar de terem influenciado o s m e u s " e n saios de filosofia da história" c o m vários elem entos positivos (como, por e x e m plo, o fato de ter-m e posto e m c o n tato c o m a C rítica a o P rogram a de G otha) , deram u m c a ráter a c e n tu ado de subjetivismo abstrato e , portanto, idealísti- c o -ético a o s m e u s e sc ritos. Isolado, e nquanto intelectual u niversi- tário, do m o vim ento operário ilegal, não pude to m ar c o nhecim ento, durante o c o nflito, n e m dos e sc ritos dos e spartaquistas, n e m dos e n saios de L ênin sobre a guerra. Li, porém , c o m efeitos profundos e duradouros, o s e sc ritos , a n teriores a guerra, de R osa de Lu~em burgo . Li O E stado e a R evolução de L ênin s o m e n te n o peno do re v olucionário de 1918-19. A s re v oluções de 17 e 18 s u rpreenderam -m e ~o bojo dessa e!er- v e scência ideológica . E m dezem bro de 1918 , depO IS de breve hesIta - 37 ção, ingressei n o P artido C om unista H úngaro e , desde e n tão, per - m a n e ci n a s fileiras do m o vim ento operário re v olucionário . O tra- balho prático logo m e obrigou a dedicar-m e a o s e sc ritos e c o nôm i - c o s de M arx, a u m e studo m ais profundo da história, da história e c o nôm ica, da história do m o vim ento operário etc., e m penhan- do-m e, a ssim , n u m a c o n tínua re visão dos fundam entos filosóficos . T odavia, e s s a luta para dom inar a dialética m a rxista prolongou-se por m uito tem po. A s e xperiências da re v olução húngaraS m o stra- ra m -m e claram ente a fragilidade de todas a s teo rias sindicalistas (a função do partido n a R evolução), m a s persistiu e m m im , a o longo dos a n o s, u m s ubjetivismo ultra-esquerdista (por e x e m plo, m inha posição n o s debates e m 1920,6 s obre a ação parlam entar e a IIÚnha atitude e m relação a o m o vim ento de m a rço de 1921).1 T udo isso m e im pedia de c o m preender, de m odo c o rreto e v e rda - deiro, o a specto m aterialista da dialética n o s e u significado filosó - fico m ais abrangente. O m e u livro H istória e C onsciência de C lasse (1923) m o stra m uito claram ente e s s a tran sição . A pesar da ten ta- tiva, já c o n s ciente, de s uperar e " elim inar" H egel através de M arx , problem as decisivos da dialética foram re solvidos n e sta obra de m a n eira idealista (dialética da n atu reza, teo ria do reflexo etc .). A teo ria de R osa de L uxem burgo s obre a a c u m ulação do c apital, à qual ainda m e atinha, se m isturava de m odo não o rgânico c o m u m ativism o s ubjetivista de ultra-esquerda . S om ente a ín tim a adesão a o m o vim ento operano , devida a u m a prática de m uitos a n o s , e a possibilidade que tive de e studar a s obras de Lênin e pouco a pouco c o m preender s e u significado fundam ental, propiciaram o te rceiro período de m e u interesse por M a rx _ Som ente agora, depois de quase u m a década de trabalho prático e depois de m ais de u m decênio de e sforço intelectual para c o m preender M arx, é que o c a ráter to tal e u nitário da dialética m aterialista se to rn o u claro e m term o s c o n c reto s para . M as justam ente e ssa clareza tro u x e tam bém c o n sigo o re c o nhecim ento de que o v e rdadeiro e studo do m a rxism o só e stá c o m eçando agora e n ão pode m ais parar- P orque c o m o disse L ênin , c o m toda ra zão , " o fenôm eno é m ais rico do que a lei . . . e por isso a lei , qualquer que ela s eja, é e streita, incom pleta, aproxim ativa " . Isto quer dizer: quem tiver a ilusão de ter c o m preendido, de u m a v e z por todas , o s fenôm enos da n atu reza e da s o ciedade, baseado n u m c o nheci - m e n to , por m ais v a sto e profundo que s eja, do m aterialism o dialé- tico ·, terá n e c e s s a riam ente s e deslocado da dialética viva para a rigidez m e cânica, do m aterialism o abrangente para a u nilaterali - dade do idealism o . O m a te rialism o dialético , a doutrina de M a rx , deve s e r c o nquistada a c ada dia, a s sim ilada a c ada hora, a p a rtir da práxis_ P or o u tro lado, a doutrina de M arx. e m s u a inatacável u nidade e to talidade, c o n stitui a a rm a para a c o ndução da prática , p ara o dom ínio dos fenôm enos e de s u a s leis . Se dessa to talidade 88 fúr destacado (ou apenas s ubestim ado) u m só elem ento c o n stitu - tivo terem o s de n o v o a rigidez e a u nilateralidade. B asta que se per~a a relação dos m o m e n to s u n s c o m o s o u tro s, e lá se v ai o o chão da dialética m a rxista s obre o qual apoiam os o s pés. "Pois qualquer v e rdade - diz L ênin - s e a e x ageram os, se ultrap~~ s a rn a s o s lim ites de s u a v alidade, pode to rn ar-se u m absurdo ; alIas é inevitável que , e m tais circunstâncias, ela s e to rn e u m absurdo . " P assaram -se m ais de trinta a n o s desde o dia e m que, jovem ainda, li pela prim eira v e z o M anifesto C om unista. O progressivo aprofundam ento - ainda que c o n traditório e não linear - das obras de M a rx tornou-se a h istória do m e u desenvolvim ento inte- lectual e, portanto , tm 'nou-se ta m bém a histó?'ia de toda a m in h a vida, n a m edida e m que ela possa ter algum significado para a so cie - dade . P arece-m e que n o período posterior a M arx , a to m ada de po - sicão e m relacão a o s e u pensam ento deve c o n stituir o problem a c elüral de tO dó pensador que leve a sério a si próprio, e que o m odo e o grau c o m que ele se apropria do m étodo e dos re s ultados de M arx , determ inam o s e u lugar n o desenvolvim ento da hum ani - dade . E sse desenvolvim ento e stá determ inado pela situação de classe , s e bem que e s s a determ inação não é rígida, m a s dialética . A n o s s a posicão n a lu ta de classes determ ina a m plam ente o m odo e o grau qué a s s u m im os o m a rxism o , m a s , p O l ' o u tro lado, todo pTog?'esso n e ssa adoção n c s fa z aderi?' c ada ve z m ais à vida e à práxis do V 1'O letariado e redunda beneficam ente n o ap7'O tunda - m e n to da n o s s a relação c o m a d o u trin a m aT xista (1933) . P ostscriptum 1957 A s linhas precedentes foram e s c ritas, c o m o todos podem perce - ber , n u m e stado de e x trem a ten são , que não e ra decorrência, ape- n a s, d fate d e que e u , d -epois d e tan tas a v e nturas intelectuais, finalm ente s e n tia, c o m quase cinqüenta a n o s de idade, o terren o firm e sob o s m e u s pés: o s a c o n tecim entos dos últim os quinze a n o s tam bém c o n tribuíram fortem ente para tal e stado de ânim o . Já falei dos prim eiros a n o s da re v olução, m a s não dos a n o s que se s eguiram à m o rte de L ênin . C om o c o m panheiro de luta, vivenciei a ação d e S talin para s al v a r a v e rdadeira herança de L ênin c o n - tra T rotsky, Z inó\'ie v etc ., e vi que desse m odo a s c o nquistas tran sm itidas por L énin foram preservadas e adaptadas a o próprio desenvolvim ento posterior. (Sobre o período de 24 a 30 , o s a n o s tran sco rridos e a s e xperiências c o rre spondentes não m udaram a m inh a opinião e m n ada de e s s e n cial) .8 A crescente -se a isso que o debate filosófico de 29 a 30 9 deu-m e a e sperança de que a elucida - ção das relações H eg el-M arx , F euerbach-M arx , M arx -L ênin e o afrouxam ento de u m a a s sim cham ada o rtodoxia plekh a n o vista , abririam n o v o s horiz o n tes à pesquisa filosófica . A lém disso , a dis - 89 soh:;ção da R :A .P .P. (1932) ,10 a sso ciação à qual s e m pre m e opus abnu para m Im e p~ra m uitos u m a grande perspectiva: a de um~ reto m ada, .se m obstaculos burocráticos, da literatura so cialista da m etodologIa e da c r.ítica literária m a rxista. É n e c e ssário salie~tar que n e s s a eX I:ect .atlva ~av.ia dois c o m ponentes igualm ente rele - v a n ,tes : a a u se nC Ia de lIm ites im postos por u m a burocracia e o c a rater m a rxista-Ieninista . Se .se a c re s c e n tar qu e nós m~smos, n a - queles a n o s , conhece~os a s obras fundam entais do jovem M arx s obretudo o~ M Cf',,!uscrztos E conôm ico -Filosóficos c o m o tam bém o~ C adernos FtlosoftcoS de Lénin terei apontado aqueles fatos que tro u x eram grandes e speranças n o início da década de trinta '. E ssas e speranç a s foram perdendo-se pouco a pouco n a m edida e~ que, n aquele ~omen~o tam bém , qualquer idéia (para se rm o s o tlIm stas) que ~e dIst~nC!as~e do m odelo im posto , e sbarrava n u m a su rda. ~ agressIva re slStencIa . N o princípio, e u e m uitos o u tro s a c redItavam os e star diante dos re sto s de u m passado não to tal - m e n te s uperado : adeptos da R .A .P .P., so ciólogos v ulgares etc . M ais tarde, c o m preendem os Que todas e stas tendências c o n trárias a o progresso do . pensam ento, tinham sólido apoio burocrático . E ntre - tan to , acre?Itam~s, por algum tem po, que e ste sistem a de defesa do .dogmatIs~o tivesse , n o final das c o n tas, u m c a ráter c a s u al; ~UltO~ de n~s, algu~~~ veze~, s u spirávam os pensando e m Stalin: A h, s~ le r?IJe s a v alt .1 1 ~Vldent~mente, e ssa situação não podia durar m deflm dam ente. FOI neces~ario re c o nhecer que a o rigem do confr~mto das c o rre n tes progressIstas, que e n riqueciam a c ultura m a rxIsta , c o m a opressão dogm ática de u m a burocracia tirânica sob~e todo o pe?sam ento a utônom o, deveria s e r buscada n o próprio regIm e de Stalm e, portanto , tam bém , n a s u a pessoa . N o e n tan to : quando se tratav a de to m ar posição e m relação a e ss .e s ac.?nte~lII~e~tos, toda pessoa c o n sciente tinha que partir da s]tua~ao hístorl a n n m o m e n to : a. a .scen são d e H itler e a pr .eparaçao de su :;t guerra de a niquilam ento do so cialism o. Sem pre ~OI cl~o. para m Im que .e~ deveria s ubordinar tudo , de m a n eira mc~ndIclOnal, a toda decIsao que e s s a situação im punha , inclusive a~uilo q,:e pessoalx:nente m e e ra m ais c a ro : a própria obra de ~ m h a vI<;la .. A crechtava que o principal c o m prom isso de m inha vId~ .c o n sIstIa , e m e m pregar c o rretam en te a c o n c epção m a rxista - len~lSta n a s a re a s de m e u c o nhecim ento , e m fazê-la a v a nçar n a m e ~ d a e m que a descob:rta de n o v o s dados a s sim o e xigisse. N a medId~ e m q,:e . a questao c e n tral, do período histórico e m que e~t~ ~ m h a a,tl~Idade se dese~v~lveu, c o n sistia n a 'luta peJa sobre - v . IvencIa do ~ICO e stado SO CIalIsta e , porta n to , do ' próprio so cia - lIsm o , e u _obVlam~nte su~or~inava c ada to m ada de, posição , m e s m o e m relaçao ~ ~ m h a propna obra , às n e c e ssidad e s do m o m e n to . Isso n w :c a sIg m ficou tod a via u m a c apitulação dia n te d e todas a s tendê n cIa s id eológic a s qu e se fo rm a ra m , se prop agara m e e nfim 90 se dissolvtram a o longo dessa luta . A o m e s m o tem po e stav a c e rto não apena s da im possibilidade física de u m a oposição n aquele m o m e n to , m a s tam bém que e ssa oposição poderia, facilm ente, se to rn ar n u m apoio intelectual e m o ral a o inim igo m o rtal , a o d es · truidor de toda a civilização . P or isso fui obrigado a c o nduzir u m a e spécie d e gu e rr a d e guerrilha p elas m inhas idéias científicas , o u s eja , através d e cita- ções de S talin etc . to rn ar possível a publicação de m e u s trabalhos e de e xpre s<;a r n eles, c o m a c a u tela n e c e s sária , a m inha opinião dissidente , tan to quanto o s lim ites do m o vim ento histórico a o s poucos o p e rm itisse . C onseqüentem ente , às v e z e s , e ra im perativo c alar-se. P or e x e m plo , sabe -s e que durante a guerra foi decidid o declarar ;H egel ideólogo da re ação feudal c o n tra a R evolução F rancesa ; n atu ralm ente não pude publicar m e u livro sobre o jo- v e m H egel. P e n s a v a que c e rtam en te a guerra poderia s e r v e n cida m e s m o não se re c o rre ndo a s e m elhantes tolices (Dum m heit) se m bases científic a s , m a s u m a v e z que a propaganda a n ti -hitleriana e stav a o c upando-se justam ente disso , e ra m ais im portante n o m o - m e n to v e n c e r a guerra do que questionar s obre a justa c o n c epção de H egel. Sab e-se que e sta tes e e rrônea foi m a n tida por m uito tem po, m e s m o depois da guerra, m a s é igualm ente sabido qu e depois pud e publicar o m e u livro sobre H egel s e m m udar u m a só linha. T ratavam -s e porém de problem as so ciais m uito m ais graves do que e ste , que n aquele m o m e n to e videnciavam c ada v e z m ais o a specto n egativo dos m étodos stalinistas . R efiro-m e n atu ralm ente a o s grandes proc esso s , c uja legalidade, desde o início , via c o m c eticism o, à s e m elhança, por e x e m plo , dos processos c o n tra o s girondinos , o s dantonianos etc ., n a grande R e v olução F rancesa; o u se ' a , re c o nhecia s u a n e c e ssidade histórica s e m preo c up a r ·m e dem ais c o m a questão de s u a legalidade . (Hoje penso qu e ru schev tinha ra zão a o s alientar e n e rgicam ente a s uperficialidade polític a desses proc e sso s) . M inha posição m udou radicalm ente quando se difundiu a palavra d e o rdem de e x tirpar pela raiz o tro tskism o etc . C om preendi desde o princípio que a c o n s eqüência disso não s e ria m ais do que a c o nd e n ação e m m a s s a de pessoas n a s u a m aioria to talm ente In o c e n tes . E s e hoje m e perguntassem por que não m e posicionei publicam ente c o n tra , não c olocaria e m primeiro_pl~no, n e m m e sm o desta v ez , a im possibilidade física (vivia n a U niã o Soviética c o m o e xilado político) , 12 m a s a im possibilidade m o ral: a U nião Soviética e n c o n trav a -se n a im inê n cia da luta decisiva c o n tra o fascisl-lo . U m c o m u nista c o n victo podia ap e n a s dizer : " right o r w ro ng, m y party " .13 E u e m uitos c o m panheiros p e n sá v a m o s qu e, diante de qualquer coisa qu e fo sse feitR n e ss a situ~ção pe.l~ par - tido dirigido por Stalin , e ra n e c e ssário p e r m a n e c e r mcondH~lOnal-91 m .'n te solidário n e s s a luta, c olocando e sta s olidariedade a cim a d c ' tudo . O final vitorioso da guerra m udou radicalm ente toda a situa- çã o. D epois de u m e xílio de vinte e seis a n o s, pude reto rn ar à pãtria. Parecia-m e que e stávam os e n trando n u m n o v o período, n o qual havia-se to rn ado possível, c o m o durante a guerra, u m a alian- ç a de todas a s forças dem ocráticas, so cialistas e burguesas c o n tra a re ação. O m e u discurso n o s E ncontros Internacionais de G e- n ebra e m 1946 14 e xpressou claram ente e ste e stado de ânim o. E sta- ria c e rtam en te c ego, se não tivesse visto, a partir do discurso de C hurchill e m F ulton, c o m o e ra m fortes a s tendências c o n trárias n o m u ndo c apitalista, e quanto e sforço c e rto s grupos influentes do O cidente faziam para liquidar a a n tiga aliança e se aproxim a- re m política e ideologicam ente dos e x -inim igos. Já e m G enebra , Jean-R . de Salis e D enis de R ougem ont apresentaram idéias que tendiam a e x cluir a R ússia da c ultura e u ropéia . E staria igual- m e n te c ego se ignorasse que a re ação a isso , n o c a m po so cialista, fez aflorar m uitos traços daquela ideologia que e u , e m uitos o u tro s , e sperávam os que s e e xtinguisse c o m a paz e o reforço do so cialis- m o , que o c o rre u c o m o s u rgim ento das dem ocracias populares da E urcpa C entral. E xatam ente porque e u insistia n e ste e sforço, im - posto pela n o v a situação internacional (como s u sten tei e ainda s u sten to) , quis aderir a o C ongresso de W roclaw (1948) 15 e a o M ovim ento pela paz, do qual s o u seguidor c o n victo até hoje . É sin!-om ático que o tem a que tratei e m W roclaw tenha sido a u ni- dade e a distinção dialética do adversário de o n tem e de hoje, isto é, a re ação im perialista. O a n o de 1948 a s sinalou , talvez, a m ais im portante m udança histórica desde 1917 : a vitória da re v olução proletária n a C hina . Justam ente e m c o n s eqüência dela se e videnciaram a s c o n tradições decisivas n a teo ria e n a prática de Stalin .lá que e sta vitória significava , objetivamente. que o período do so cialism o n u m só país - tal c o m o fora defendido , c o m ra zão, por Stalin c o n tra T rotsky - pertencia definitivam ente a o passado; o s u rgim ento das dem ocracias populares n a E uropa C entral já representava u m a passagem a u m a n o v a re alidade . M as , n o plano s ubjetivo , ficou e vidente que Stalin e se u s seguidores não queriam n e m podiam e x trair a s c o n seqüências teóricas e, portanto , prática13 da situação internacional , que se e n c o n trav a radicalm ente m odificada. O pró - prio Stalin, cn m o hom em m uito s agaz que e ra , levou e m c o n ta, é claro , n a s u a atu ação alguns sintom as e m o m e n to s da n o v a situação . N o e n tan to , n u n c a o fez c o m v e rdadeira c o e rê n cia, p ois a idéia de qu e e sta n o v a situação pudesse significa r u m a ruptura c o m o s m étodos do período do so cialis m o e m u m só pais - m é - to dos objetivam ente d e rivados d o c o n stan te estado de p e rigo d e. u m a R ússia industrialm e n te a tr a s ad a , m a s qu e ele próprio tinh a 92 levado m uito além do quadro desta e xigência - e stav a to talm ente fora de s e u horizonte. AI .:o nteceu, e n tão, que a n o v a situação m u ndial, que e xigia c ategoricam ente u m a n o v a e stratégia e u m a n o v a tática, foi e nfrentada através de u m a ação e m que, fatal - m e n te, se s o m a v a m e se ag-udizavam a v elha e stratégia e a v elha tática : a ruptura da U niál) Soviética c o m a Iugoslávia . Seguiu-se n e c e s s a riam ente a e sta aç .lO , o reto rn o a o s m étodos da época dos grandes processos . O que m e ajudou, p "s s o alm ente, a perceber a c o n tradição e n tre o n o v o fundam ento e a v elha ideologia foi a discussão que s e desenvolveu n a H ungri.-l e m to rn o do m e u livro L ite ra tu ra e D em ocrucia.'6 A pós a m inlla v olta e m 1945 , e m bora n u n c a tenha sido dirigente do partido n ') s e n tido o rganizativo, e sforcei-m e c o n - tinuam ente e m e x trair c o n :;eqüências da n o v a situação , e m buscar a passagem a o so cialism o de u m n o v o m odo, gradual e n a base da c o n vicção. O s a rtigos e discursos c o n tidos n o livro a que a c abo de referir ' e ra m dedicados a e ste fim e, e m bora o s c c n sidere , hoje, e m divers~ a spectos, deficil .'n tes , pouco claros e c o n seqüentes, v ejo que se m o viam n a direção c o rreta . A discussão . m .o strou a to tal im possibilidade de u m diálogo fecundo c o m o s ldeologos do dog- m atism o . E ssa discussão e m e u afastam ento tático, o c o rrido n a época dO' processo R ajk,17 proporcionaram -m e a pr.i~eira grande vaI?t~ gem de pcder abandonar m inha c o m plexa atIV Idade de func~onano e dedicar -m e e x clusivam ente aO' trabalho intelectual. E sta C lrcuns- • tâ n cia e a e xperiência da discussão sobre o s grandes a c o n tecim en- to s da época lev'aram -m e a o re e x a m e prO 'fundo dos problem as do m a rxism o-Ieninism o e m relacão a o s m étodos de Stalin e de s e u s seguidores. A c o n vicção, c ada' v e z m aior, de que Stalin não ~avia c o m preendido aquilo que havia de decisiv~mente n o v o n a ~ltua ção, to rn av a-se c ada v e z m ais a m pla e m aIS geral, e m funçao de u .m a c o n sciência m ais profunda do passado . D a m e s m a form a, fic o u e vidente para m im que, e m bora a luta c o n tra o fascism o te nha-se to rn ado o problem a c e n tral, já n a s egunda m~tade ~a década de vinte, se u significado não foi percebido por Stalm , ~enao c e rc a de u m a década depois . N um a época e m que a form açao de u m a frente u nitária dos trabalhadores, a s sim c o m o de todos o s e lem entos dem ocráticos, havia-se to rn ado u m a questão vital para J. civilização hum ana, a tese de Stalin da social~democ:acia c o m o 'irm ã gêm ea" do fascism o, to rn o u e sta frente Impos~l:reL Ele se \ .trendeu a u m a e stratégia e a u m a tática que s e JustIfIcavam n a ;, .:m pestade re v olucionária de 1917 e logo e m s eguida , m a s que, .: ')m se u abrandam ento e c o m o desdobram ento da gr~nde of~n ;;iv a do c apitalism o m o n opolista m ais re a cionár.io , havl~m,. obJe- t iva m e nte, e n v elhecido c o m o u m todo. C cm ecel a c o n sldel a r , o 93 que acontece~, depois de 1948, c o m o a repetição histórica do e rro fundam ental da década de vinte . . N este a rtigo, o nde o tem a próprio e v e rdadeiro é c o n stituído pelo desenvolvim ento interno das m inhas id 'éias, é~ im possível até m e sm o apenas indicar o sistem a de pensam ento que deu o rigem a e stas c o n c epções e rrôneas; n ote-se s o m e n te que a trágica dissen- ção n o pe.nsam ento de Stalin e ra c ada v e z m ais e vidente para m im . L ênin, pal tindo da doutrina dos clássicos, e videnciou n o início do período im perialista, a im portância do fator subjetivo . Stalin c o n s- truiu c o m isso ·u m sistem a de dogm as subjetivistas . A trágica dis- se nção c o n siste n o fato de que se u grande talento, s u a s ricas e xperiêneias e a s u a n otável sagacidade, c o nduziram -no, não ra ra s v e z e s, a ro m per o círculo m ágico do subjetivismo, o u m elhor, a perceber claram ente o e rro aí c o ntido . Portanto, parece-m e trágico que ele inicie s u a últim a obra c o m u m a c rítica c o rreta a o subjeti- vism o e c o nôm ico, m a s se m m a nifestar a m e n o r s u speita de ter sido ele próprio s e u pai e spiritual e c o n stan te im pulsionador. Por o u tro lado, podem c o e xistir pacificam ente, n u m tal sistem a de pensa- m e n to , c o n c epções decisivam ente c o ntraditórias. Por e x e m plo, a teo ria das c o n stan tes c o ntradições de classe, que n e c e ssa riam ente se aguçam , c o e xiste c o m a presença tangível do c o m u nism o, se - gunda . e s uperior etapa do so cialism o. D a fusão destas afirm ações, re ciprocam ente e x cludentes , su r- giu s u a apreensão de u m a so ciedade c o m u nista n a qual o prin- cípio libertador de " c ada u m s egundo s u a c apacidade, a c ada u m segulldo a s s u a s n e c e ssidades" , se re aliza e m u m E stado policial , regulado de. form a a u to crática etc . etc . Stalin, a quem se deve re c o nhecer o grande m érito de ter defendido, c o n tra T rotsky, o princípio leninista do so cialism o n u m só país, e a ssim ter salvo o so cialism o n u m período de c rises inter- n a s , teve quase a m e s m a incom preensão, n o período que se iniciou e m 1!:J48, que T rotsky teve e m s e u tem po e m relação às n e c e ssidades de desenvolvim ento da U nião Soviética. Que e ste retrocesso e e sta incom preensão por parte de Stalin tenham facilitado a c o ndução da G uerra F ria c o n tra o s adversários do im perialism o é c oisa que hoj e não poucos re c o nhecem . R epito, aqui se tratav a de descrever so m e nte o desenvolvim en- to das m inhas idéias, e s obretudo destas idéias e m relação a o s problem as do m a rxism o . O que até agora foi dito sobre Stalin se rviu so m e nte para c riar o pano de fundo e a atm o sfera para u m a c olocação c o rreta dos problem as . Se pensarm os n o e n tu sias - m o de u m a parte c o n siderável dos intelectuais; n o s prim eiros a n o s da re v olução so cialista, é n e c e ssário re c o nhecer que e n tre s u a s c a u s a s fundam entais e stav a a obra duplam ente genial de re n o v a - ção do m a rxism o por parte d e Lê nin . D e u m lado, ele e xpurgou 94 o s preconceitos relativos a o s clássicos do m a rxism o que se desen- v olveram vigorosam ente durante d~cadas. E~te tra~alho .de deI?ura- ção m o stro u a riqueza das c o n c epçoes que n a o haV Iam SIdo eV Iden- ciadas até o m o m e n to n a obra de M arx e de E ngels. D e o u tro lado , e nfatizou, a o m e sm o tem po, c o m inexorável se n so ~e rea~idade que, para e nfrentar o s n o v o s problem as postos pel~ ":lda, n a o po- díam os n o s apoiar n a s "infalíveis" citações dos clasSlCos . N o m o - m e n to e m que a N E P foi introduzida, ele re spondeu, c o m u m a ironia m o rdaz a u m c e rto tipo de c rítico m a rxista: "N unca pas- so u pela c abeça de M arx e sc re v e r u m a só palavra . s ob:e ? a ssu r:to; m o rre u s e m deixar n e nhum a citação e x ata o u indlcaçao lrrefutavel a e sse propósito . P ortanto, é n e c e ssário s airm os dessa so zinhos . " C om o já disse aqui, n o s prim eiros a n o s qu~. s e .:>eguir~~ à m o rte de L ênin, e u n u tria e speranças n u m a edlflcaçao . lem m sta do m a rxism o. T am bém já descrevi exaustivament~ a m~nha , c o n - tínua e c re sc e nte desilusão. C oncluindo e stas c o n slderaçoes, e n e - c e ssário sintetizar rapidam ente o que há de essenci~l n e sta situa- ção do ponto de vista da teo~ia <:.ie~tífica. N a m edIda . e m que se reforçou e se e n rijeceu a dom m açao m telectual de Stalm , n o c ulto à personalidade, a pesquisa m a rxista degenerou largaIll:er:t~ n u m a e xposição, n u m a a m pliação e difusão de " v e rdades .defIm~lVas". ~ re sposta da vida e da ciência e stava, s egundo a o rIentaçao dom I- n a n te, a s s e n tada n a s obras dos clássicos , principalm ente n a s ~e Stalin. Inicialm ente M arx e E ngels foram relegados c ada v e z m aIS fortem ente a u m segundo plano e m relação a L ênin , e depois L ênin e m relação a Stalin. L em bro-m e bem , por e x e m plo , ~o c~so de u m filósofo que foi c riticado porque tratav a ,a~ determlI~a~oes d~ dialética de a c o rdo c o m o s C adernos Filosofzcos de L enm . FOI lem brado a ele que Stalin havia a rrolado, n o qUtl~to _ capítul~ d ,a H istória do P artido u m núm ero m e n o r de diferenclaçoes da dlale- tica e portanto ha:via fixado definitivam ente s e u núm ero e s u a n atu reza . T ratava-se e n tão de e n c o n trar para c ada problem a a citação m ais apropri~da de' talm . · · que é u m a íd~laT7 pergun- to u u m a v ez u m c o m panheiro alem ão. "É u m a ligaç a o e n tre duas citações " . Seria v e rdadeiram ente injusto afirm ar , e:ntretan~o,. que a porta para ·u m desenvolvim ento posterior d,o man~l~~o:lemmsm.o tivesse sido to talm ente fechada. Stalin possU la o prIV IlegIO de e n rI- quecer u tê.5vü.~::: ::!:!!: ,,~rr!~np.s etern as c o m no~~s v;.:dades .eternas e de c olocar fora de circulação u m a v e rdaae aLe ên~ao c o nSIderada irrefutável. N ão é n e c e ssário dem onstrar Que n e ste sistem a a vida cien - tífica sofria gravem ente . B asta indicar, apenas, que a s ciênci~s m ais im portantes do ponto de vista teo rétic? par .a o desenvolvI- m e n to do m a rxism o a e c o n o m ia política e a fIlosofIa , foram quase c o m pletam ente par~lisada!!. O desenvolvim ento da~ ciência~ n atu - rais foi m e n o s prejudicado ; apesar de terem o c o rndo c o nflItos o u 95 a ,té c rises, o se u a v a nço prático e ra questão vital que não e ra 1-I0s- slvel de m od .o al~um ?~or-Ihe obstáculos, ao c o ntrário, n o c a m po da m e ra apl~ca~a? pratIca, e ra até m e sm o fortem ente prom ovido P ara e ssa s dlsclplm as, a s perigosas c o n seqüências da e stéril " cita- tologia" n a s questões m etodológicas o u n o s c o n c eitos básicos se m a nifestavam m ais m a rginalm ente. E u ~ão e ra , d~ m odo algum , o único que c o nduzia u m a guerra de guernlha c o ntm ua c o ntra e ste e spírito de e n rijecimento . M as a partir da m o rte de Stalin e, e specialm ente, depois do X X C on - gresso, e ste co~plexo de problem as e n tro u n u m e stágio qualitativa- m e nte n o v o; fm alm ente todos e stes problem as foram discutidos abertam ente e o s cientistas c o m eçaram a e xpressar-se publica- m e nte de m odo m ais o u m e n o s claro . T am bém c o m relação a isso, n e ste esboço de a utobiografia intelectual, é im possível sequer a c e - n a r às discussões e às tendências que lá se m a nifestaram ' devo por isso, lim itar-m e a re su m ir m inha própria opinião . A~redit~ que I;0j~ o m~i?r ~erigo para o m a rxism o e steja representado pela tendencla revlSlO m sta . E xatam ente porque durante décadas tudo que St~lin a~irmava e ra identificado c o m o m a rxism o, proclam an- do-se, m cluslve, o c o ro a m e nto definitivo deste, o s ideólogos bur - gueses se apressaram e m utilizar a incorreção, agora e vidente, de algum as teses de Stalin e de a spectos e sse n ciais de s u a m etodo- logia, c o m o objetivo de re visar tam bém o s produtos dos clássicos do m a rxism o, postos n o m e sm o nível de Stalin . É o c a so de apontar-.se para u m perigo m uito sério, n a m edida e m que e sta perspectiva de pensam ento c a rrega c o n sigo m ais de u m c o m u nis - ta " r~lUitas veze~, ?esarm ado intelectualm ente pela educação e sque- m atIca . e do.gm atIca. Entr~tanto, e nquanto o s dogm áticos vincula - re m a Identidade substancIal de Stalin c o m o s clássicos do m a rxis - m o , e starão tão desarm ados intelectualm ente frente àquelas c o r - re ntes (com sinal c o ntrário), quanto o s re visionistas de boa fé . P ara a m a n utenção e o progresso do m a rxism o-Ieninism o é n e c e ssário que se e n c o ntre u m "tertium datur" c o m o solução para e~te beco se m saída; é n e c e ssário, portanto, e xtirpar o dcgm atlsm o para c o m bater o re vlslom sm o. Lênin foi o prim eiro a indicar claram ente o "ponto a rquim é- dico " de apoio para e sta n e c e ssária tom ada de posição . SO lnente se e stiverm os c o n scientes de que o m a rxism o n o s legou u m m étod o s~guro, u m núm ero e xtraordinário de v e rdades sólidas, u m a quan- udade de pontos de partida, tan to m ais seguros quanto liJQis fo - re m desenvolvidos, de que não podem os fazer n e nhum progresso re al n o c a m inho da ciência se m u m a a ssim ilação e aplicação apro - f~?d~da de .sses I?rincípios; de que, n o e ntanto, a elaboração de ClenClas u m v e rsalS sobre a base do m a rxism o é algo a se r d e se n - v olvido e não algum a c oisa já alcançada; se tudo isso for clara - m e nte c o m preendido ter-se-á u m a retom ada da pesquisa m a rxis - t ta. Engels, a ntes de s u a m o rte , indicou e sta tarefa para o s futuros m a rxistas; Lênin fez vários apelos n e sta direção . A credito que chegou o m o m e nto de c u m prir c o m e sta solicitação. Quando dize- m o s: não ' tem os ainda u m a lógica, u m a e stética, u m a ética, u m a psicologia m a rxistas, não dizem os c o m iSs?-~ada que deva desen- c o rajar. Pelo c o ntrário, falam os c o m a paIxao plena de e sperança dos grandes e e ntusiásticos deveres científicos que poderão preen- ,:her fecundam ente a vida de gerações inteiras. N aturalm ente, é im possível n e stas rápidas linhas falar c o n - c r etam ente, m e sm o apenas da possibilidade destes e m preendim en- to!:=- . N ão m e re sta m uito e spaço , n e m m e sm o para tratar de m e u próprio trabalho . Posso apenas dizer g.ue . o m e u con~ato .c o m ~s clá!;sicos do m a rxism o m e deu, pela pnm eIra v ez n a V Ida, a POSSI- bilidade de c o m preender e a v aliar o s objetivos para o s quais m e u s esfon;o s se m pre e stiveram dirigidos: de apanhar c o m e x atidão, de descrrv er fielm ente e de e xprim ir v e rdadeiram ente, c o m o re al- m e nte são, o s traços histórico-sistem áticos dos fenôm enos da vida do e spírito. A luta c o n tra o dogm atism o foi, ainda deste ponto de vista, u m a a utodefesa . Estes fenôm enos foram , c e rtam ente, defor- m ados, n a m edida e m que iniciei m inha . atividade sob a influência da ideologia burguesa. E ntretanto, o dogm atism o n o se u e vidente subjetivismo e ra c o n tra todo aprofundam ento do objeto, c o n tra toda generalização que partisse desse objeto. A quele que tolera se m elhante paradoxo n a s u a vida intelectual poderá so m e nte ofe- re c e r belos dogm as e fatos totalm ente desvinculados da re alidade. A m inha guerra de guerrilha c o n tra o dogm atism o não apenas preservou a m inha relação c o m a vida e c o m se u s objetos, c o m o tam bém ;:" prom oveu . Se hoje posso trabalhar n u m a e stética e posso so nhar c o m a realizi:l.~geQ de u m a ética, O ' devo a e sta luta. Justam ente por isso escrev o tam bém e stas linhas n u m e stado de ânim o cheio de tensão; sei bem que a luta por e sse n o v o c a - m inho e stá bem distante de se r c o n cluída; aliás vim os, e ainda hoje v e m o s , diversas re c aídas n o dogm atism o, co m . o c o rre spon- ciente eforco do re visionism o . Pessoalm ente - e aqU I falo so m e nte e m m e u nôm e n o m e u trabalho - e stou c o n v e n cido de que-- O esforço sério n~ direção de u m a ciência m a rxista u niversal pode dar à m inha vida u m c o nteúdo indestrutível. (A história julgará qual c v alor objetivo da m inha c o ntribuição para e sta obra. N~o tenho a utoridade para m e pronunciar sobre isto.) Ain~a ·hoJe . . e xistem diversos obstáculos n e ste c a m inho. D esde se u su rglID ento, o m o vim ento operário re v olucionário teve. que sup~rar o s I?ais diversos descam inhos ideológicos; até agora co n segU Iu supera-l~s e e stou c o n v e n cido de que o m e sm o o c o rre rá n o ~uturo. ~~rml tam -m e , por isso , c o n cluir c o m u m a frase u m po,!co m ?dlflcada de Z(lla: "L a v e rité e st lentem ent e n m a rche et a la fm de les fins rien n e l'arrêtera . "18 97 NO TAS 1. N aquele período, o n e okantism o se c o n stituía n a tendência filosófica dom inante n o m u ndo de língua alem ã; duas e sc olas príncipais c o m punham e sta t.endência : a e scola de M arburgo , da qual faziam parte C ohen e N atorp , e a e s c ola de H eidelberg , c ujos principais e xponentes e ra m W indelband e R ickert . 2 . L ukács foi aluno de Sim m el e m B erlim , durante o s a n o s de 1909 ·10 , a ssim c o m o teve a ulas e m H eidelberg , n o a n o de 1913 c o m W índelband e R ickert, o nde travou c o nhecim ento c o m E m il L ask e M ax W eber . 3. L ukács refere-se aqui a o e stado de desespero produzido pela Prim eira: ' G uerra M undial, à qual repudiou de m a n eira v e e m e nte e global; a perspec · tiva de u m a vitória da A lem anha tinha o efeito de u m pesadelo . V ivia e m perm anente tensão diante da situação m u ndial. Só o a n o de 1917 traria a solução de problem as que até e ntão c o n siderava insolúveis, c o n - form e ele m e sm o e xplicita n o Prefácio de 1962 à Teoria do R om ance . , 4 . O c o ntato de L ukács c o m E rw in Szábo data de 1902 . N aquele a n o L ukács s e inscreve n a o rganização E studantes Socialistas R evolucionários de B udapest , o rganizada por Szábio , influente a n a rc o -.sindicalista húngaro. 5 . A R epública Soviética da H ungria, proclam ada e m m a rço de 1919 e liderada por B éla K un, durou apenas alguns m e se s , até agosto do m e sm o a n o . L ukács participou ativam ente deste processo, tornando ·se vice·com is· sário do povo pare, a área de educação , e depois da dem issão e m junho do so cial-dem ocrata Zsigrnolld KU.!lfi, o c upa o se u lugar à frente do m inistério . 6 . L ukács refere-se aqui por c e rto , e m e special, a o a rtigo "Z ur Frage des Parlam entarism us" ("Sobre a Questão do Parlam entarism o ") , de 1920 , publicado pe .la I?rim eira v ez n a re vista K om m unism us , e m V iena, de c ujo C onselho E ditonal e ra m e m bro . N este texto L ukács defendia a ruptura total c o m todas a s instituições burguesa s , inviabilizando, a ssim . qualquer ação política legal- . Lênin c riticou violentam ente . e ste ar-tigo . 7 . T rata ·s e da insurreição d a direção e squerdisla , e m m a rço de 1921 , do Partido C om unista A lem ão que redundou n u m a sa ngrenta e violenta der · ro ta do m ?vinlento operário. 8 . A c ritica lukacsiana a o stalinism o e xpôs se u a utor a toda so rte de im putações, tanto dos 3.Ilti·stalinistas fervorosos , quanto dos defensores a r · dorosos de Stalin . Isto porque L ukács buscou se m pre c e n trar su a a nálise do staliní.sm o n u m âm bito teórico -m etodológico preeiso, chegando a preservar , e m alguns ra ro s m o m e ntos . a spectos da figura de Stalin, principalm ente n o que diz re speito à su a defesa do " so cialism o n u m só país " , o que , se m dúvida, é genuinam ente discutível. adem ais el.e ilustrar , c o m u m grande e x e m plo, c o m o pôde s e r c o m plexa , para gerações , toda e ssa questão. O a u to r desenvolve m ais a m plam ente s u a c rítica do stalinism o, por e x e m plo , n a "C arta s obre o . ,talinism o" (1963) : " n o c a so de Stalin não se trata de e rro s particulares e o c a sionais (cn:-l\O alguns ten taram apresentá -los) e sim de u m falso sistem a de idéias gL.Ldualm ente m o ntado, u m sistem a c ujos efeitos n o civos se fazem se ntir tan to m ais dolorosam ente quanto m e n o s a s c o ndições so ciais são se m elhantes às c o ndições e m que apareceu o sistem a stalínista e das quais o m e sm o foi reflexo deform ado e deform ante " , in Tem as de C iencias H um anas , n .o 1 (São Paulo, G rijalbo, 1977) , p . 13 . 9. N o a n o de 1928 .iníciam ·s e dentro do Partido C om unista H úngaro (KPU), o s debates para a re alização do II C ongresso do partido . N aquele m o m e nto o K PU se e n c o ntrava dividido e m duas grande s frações, a oficial liderada por B éla K un e a de L andler , à qual L ukács e stava intim am ente t ligado . C om a m o rte de L andler , n e ste m e sm o a n o, L ukács a ssu m e a direção da fração e a re sponsabilidade de elaborar .u m a p olítica alternativa à de B éla K un . A S teses apresentaC las por L ukács ficaram cG nhecidas c o m o "Teses de B lum " , pseudônim o utilizado pelo a u to r n o interio r do K PU , o nde defendia a D itadura D em ocrática dos Trabalhadores . E sta s teses c o ntrariavam pro · fundam ente a direção da IC n aquele período , que repudiava toda e qualquer aliança c o m a so cial ·à .e m o c ra cia . . A s c ríticas a B lum foram violentas : n o e ntanto, a c e rteza de su a justeza. fez o a utor afirm ar a n o s m ais tarde : "Pode · se c o n siderar que m e u s a n o s de aprendizagem do m a rxism o term inaram n o m o m e nto e m Q.ue c o m e c ei a s uperar definitivam ente - a partir de u m a questão c o n c reta e im portante , n a qual c o nfluíam o s m ais diversos proble · m a s e determ inações - aquele c o m plexo dualism o c o ntraditório que c a ra c · terizava m e u pensam ento desde o s últim os a n o s da guerra." A grande in · flexão do se u pensam ento produziu-se e m 1929 c o m a elaboração das teses . (Prólogo de 1967 à edição de H istória e C onsciência de Classe .) E ste salto qualitativo perm itiu · lhe , ainda , aprofundar se u e studo das obras do jovem M arx, quando e m 1930 foi n o m e ado c olaborador científico do Instituto M arx·Engels de M oscou . N esta.s c o ndições , L ukács e n tra e m c o ntato c o m o s M anuscritos E con6m ico ·Filosóficos de 1844 . A s palavras de M arx sobre a objetividade c o m o propriedade m aterial prim ária de todas a.s c oisas e relaçôes geraram e m L ukács u m a "im pressão transform adora" . 10 . R . A . P . P . - Associação dos Esc1"itores R ussos , o riginária do P rolet · kult d03 a n o s 20 e dissolvida e m 32 pelo C om itê C entral do Partido C om u · nista B olchevique. 11. E m francês n o próprio texto : "A h , se o rei o so ubesse]" 12 . L ukács e m 1933 v olta a M oscou n a c o ndição de e xilado politico e lá perm anece até agosto de l:l45, quando reto rn a a H ungria . 13 . E m inglês n o texto : "C erto o u e rrado , m e u partido " . 14 . E ncontros Internacionais , G enebra, 1946 - C ongresso d e filósofos ClljO te m a foi o E spírito E uropeu . L ukács polem iza duram ente c o m K arl Jaspen e trata da c rise do liberalism o e da filosofia burguesa, publicando , c o m o e n saio , a su a cO !lferência . . A V isão A ristocrática e D em ocrática " . 15 . C ongresso de W roclaw , Polônia, agosto de 1948 ; L ukács foi u m dos fundadores do C ongresso M updial da Paz . 16 . O a u to r refere·se às su c e ssivas c ríticas que partiram dos óreãos governam entais húngaros c o n tra o se u texto Literatura e D em ocracia (Iroda · lom és dem okrácia , B udapest, Szikra , 1947) . 17. PoZ" o ca siãu da G u e rra Fria e do . fortalecim e nto do s aparelho s e s tatais dos países 30cialistas. R ajk e x ·se c retário ·geral do K PU . sob a a c u sa· ção de " titoísm o " , foi c o ndenado à m o rte e m 1949 . 18 . E m francês n o texto : "A v e rdade c a m inha lentam pnte , e n o fim dos fins n ada poderá detê-la . ,. 99
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