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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA (GMV 024) ANÁLISE DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LRC) (Fluido cerebroespinhal) Professor: Dr. Antonio Vicente Mundim Uberlândia - MG 2014 1 1. INTRODUÇÃO O líquido cefalorraquidiano (LCR) encontra-se nos espaços subaracnóideos do cérebro e medula espinhal, assim como nos ventrículos cerebrais e canal central da medula espinhal. Produzido primariamente pelo plexo corióide no sistema ventricular do cérebro (70%) e pequenas quantidades (30%) pelas células ependimais do sistema ventricular e dos espaços subaracnóideos cerebrais. Formado por ultrafiltração do plasma e por mecanismos de transporte ativo através da membrana, sendo relativamente acelular, contendo poucos linfócitos. Funções do líquido cefalorraquidiano: * proteção do cérebro contra traumas, inclusive amortização de pancadas; * ajuda na modulação das variações normais da pressão intracraniana; * possui propriedades antibacterianas e possui anticorpos ajudando na defesa contra infecções; * atua no transporte de nutrientes, metabólitos, neuro-hormônios e neurotransmissores CIRCULAÇÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO Figura 1-A. Esquema da circulação do liquido cefalorraquidiano. 2 Figura 1-B. Esquema da circulação do liquido cefalorraquidiano. Como o SNC está completamente encaixado dentro da caixa craniana, dificultando uma avaliação clínica satisfatória, e outros procedimentos de exploração como a biópsia pode ser traumática e ocasionar lesões irreversíveis, o exame radiológico fornece poucas informações, exames mais sofisticados como a tomografia computadorizada e ressonância magnética são caras e de difícil acesso. Fica como opção para o clínico veterinário como procedimento auxiliar no diagnóstico das enfermidades do SNC, a análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), por ser um procedimento menos invasivo, pouco traumático e fornece informações seguras sobre as alterações no SNC, sendo de grande valor como apoio no diagnóstico diferencial das patologias do SNC. 3 Figura 3. Localização e aspecto das meninges no paciente normal e no paciente com meningite. Leptomeninges: Pia mater e aracnoide. Paquimeninge: Dura mater. 2. COLHEITA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO Sua colheita não deve ser executada indiscriminadamente, ela requer experiência, conhecimento das estruturas anatômicas locais e/ou um treinamento em cadáveres, para evitar traumas à medula espinhal. Ela deve ser precedida de um exame clínico detalhado, acompanhado de uma minuciosa avaliação neurológica do paciente, bem como de uma anamnese bem feita. Ela é indicada quando suspeita-se de encefalites, meningites, mielites, toxoplasmose, neoplasias cerebrais, neoplasias medulares, hemorragias intracerebrais, hemorragias subaracnóideas, compressão da medula espinhal por abscessos epidurais. Além disto, como o espaço dural é fechado e estéril, total assepsia é recomendada para evitar veiculação de agentes infecciosos e contaminação do líquido durante a operação. Sua colheita é contraindicada nos casos de fraturas, luxações e subluxações da medula espinhal, herniação do cérebro devido a lesões intracranianas, anomalias congênitas como a hidrocefalia. Dura mater Aracnoide Pia mater 4 Evitar o contágio do colhedor com o liquor durante a operação, principalmente quando suspeita de doenças infecto-contagiosas. Os locais de predileção para a colheita nos animais domésticos são a cisterna magna, por abordagem suboccipital, ou na região lombar no espaço subaracnóideo. A punção nestas regiões é procedimento relativamente seguro. Para maior segurança, recomenda-se anestesia local ou geral, dependendo da índole do animal e do local de punção. Uma preparação cirúrgica adequada do local é recomendada e o uso de agulhas especiais com estilete (mandril) e tamanhos variando com o porte do animal. Cães e Gatos Nestes animais a punção suboccipital na cisterna magna, na altura da articulação atlanto- occipital é a mais recomendada. Após anestesia geral, para reduzir os riscos de o animal movimentar-se, este é colocado em decúbito lateral em uma mesa, sua cabeça flexionada ventralmente, formando um ângulo de 90º com a coluna vertebral. A punção deverá ser realizada exatamente no ponto de interseção entre a linha imaginária delineada transversalmente ao pescoço, tangenciando as bordas anteriores das asas do atlas e a que vai da crista do occipital até o limite dorsal do axis. Utilizar uma agulha espinhal com estilete (mandril) de 3,5 a 7,5 cm de comprimento e calibre 20. O estilete (mandril) impede o entupimento da agulha ao ultrapassar a pele e fascia, bem como evita a contaminação do espaço dural. Quando a agulha penetra na cisterna magna, sente-se a mesma ceder-se, quando então é retirado o estilete para o gotejamento do líquor. Se a pressão do LCR é excessiva, o fluxo será bastante rápido. Evitar aspiração com seringa, o volume retirado no cão varia de 1 a 2 mL, no gato não deve remover mais que 0,5 a 1,0 mL nos adultos e nos filhotes 10 a 20 gotas. Uma remoção excessiva pode causar hemorragia meningeal. A punção lombar é mais difícil, estando mais sujeita a hemorragias e traumatismos e se obtém menor volume de líquido. 5 Figura 4. Agulha especial com mandril para coleta do LCR Bovinos Ambos os procedimentos têm se mostrados satisfatórios, porém a abordagem lombar seja mais prática. Colheita na cisterna magna - realizada com o animal em decúbito lateral, podendo ser colhido também com o animal em estação, embora seja mais difícil. A cabeça do animal deve ser flexionada ventralmente em direção ao esterno e mantida nesta posição. A introdução da agulha será como no cão, devendo ser utilizada agulhas munidas de estilete (mandril) de 7,5 a 10 cm de comprimento e calibre 16. Colheita lombar - faz-se a localização por palpação da suave depressão entre a última vértebra lombar e a primeira sacral. Utilizar agulha com estilete (mandril), de 12,5 cm de comprimento e calibre 14 a 16. O local para a punção deve ser preparado cirurgicamente e anestesiado. Os animais indóceis devem ser sedados. Em alguns casos, o animal urina durante a punção, facilitando a saída da agulha devido o arqueamento dorsal. Normalmente são colhidos em torno de 5 mL de liquor, no entanto volumes de até 100 mL possam ser colhidos. 6 Ovinos e Caprinos Ambas as abordagens podem ser executadas, embora a punção suboccipital seja a técnica mais eficaz. A espessura dos músculos regionais e a proeminência do osso occipital nos ovinos, podendo acarretar alguma dificuldade na coleta, causando hemorragias. A colheita na região lombar é análoga aos bovinos, entretanto para a obtenção de quantidades suficientes de líquido o animal deve ser contido em posição de cão sentado. A região deve ser preparada cirurgicamente, anestesiada, usar agulha de 9 cm de comprimento com estilete e calibre 16. Volume normalmente coletado para análise 2 mL Equinos A punção na cisterna magna constitui a melhor abordagem. O animal deve estar sob anestesia geral, em decúbito lateral. Sua cabeça em flexão ventral, formando um ângulo de 90º com o pescoço. A agulha deveser introduzida na interseção das linhas imaginárias entre as bordas anteriores das asas do atlas e a linha mediana do pescoço. A penetração da agulha no espaço subaracnóideo é detectada por uma súbita diminuição da resistência a agulha. Usar agulhas de 9 cm de comprimento, calibre 18 a 20. A colheita lombar pode ser tentada no mesmo local dos bovinos. A agulha recomendada para potros e pôneis é a de 9 cm de comprimento, calibre 18 ou 20, para cavalos adultos de 15 cm de comprimento e calibre 18. Em animais cujo porte seja muito avantajado pode ser necessário uma agulha com 20 a 23 cm de comprimento. Volume de líquido normalmente coletado para análise 3 a 5 mL Suínos A punção na cisterna magna é muito difícil devido à contenção. Apenas a abordagem lombar seja viável, com animal mantido em posição de cão sentado. Uma punção anterior à articulação lombossacral poderá facilmente lesar a medula espinhal, devido neste local ela preencher completamente o saco dural. Volume de líquido normalmente coletado para análise 2 mL 3. ANÁLISE LABORATORIAL DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO A análise laboratorial do LCR deve ser feita no máximo até 30 minutos após a colheita, devido alguns de seus constituintes sofrer rápida degeneração como a glicose e os leucócitos. Caso não seja possível, ele deve ser refrigerado após adição de um anticoagulante como o EDTA, pois 7 ocorre probabilidade do liquor com alto teor protéico coagular-se. Se solicitado os níveis de glicose deve ser usado EDTA com fluoreto de sódio. A análise consiste no exame físico, citológico e bioquímico. 3.1 - EXAME FÍSICO a) Cor - o líquido cefalorraquidiano normal é transparente e incolor, semelhante à água destilada. As alterações mais comumente observadas são: Cor vermelho-clara: indica contaminação com sangue durante a colheita (hemorragia iatrogênica). Após centrifugada ficará límpido e incolor. Cor vermelha acastanhada: indica presença de hemorragia anterior a punção, oriunda de uma paquimeningite hemorrágica crônica. Cor amarela (xantocromia): devido à presença de bilirrubina oriunda da lise de eritrócitos no espaço subaracnóideo ou hiperbilirrubinemia. As causas de xantocromia são: hemorragias subaracnóideas, bloqueio espinhal, neoplasias, inflamações agudas e icterícias severas. Em animais ictéricos a colibirrubina atravessa a barreira hematoencefálica normal, já a hemobilirrubina requer alteração dessa barreira para aparecer no liquor. b) Turvação: o liquor normal é totalmente transparente, tornando-se turvo pela presença de células. Esta turvação se torna evidente macroscopicamente quando existem mais de 500 células/mm 3 . Nas meningites agudas ele torna-se ligeiramente enevoado ou purulento. Nos casos de hemorragias iatrogênicas ele estará turvo. c) Coagulação: o liquor normal não coagula, pois não possui fibrinogênio, trombina ou outros fatores responsáveis para a ocorrência do processo. Na meningite supurada aguda, devido lesão na barreira hematoencefálica ocorre aumento das proteínas, fibrinogênio e uma severa coagulação, bem como nas hemorragias iatrogênicas. d) Densidade: parâmetro pouco usado, embora elevação da densidade indique aumento das proteínas, sólidos, íons totais, glicose e pleocitose. A densidade do líquido normal está entre 1003 a 1006. 8 3.2 - EXAME CITOLÓGICO Este exame deve ser feito no máximo 30 minutos após a colheita, para evitar alterações celulares (leucólise). É a parte mais importante do exame do liquor. No exame citológico são determinadas a citometria e citologia, ou seja, a contagem global de células e a contagem diferencial ou específica respectivamente. a) Citometria ou contagem global de células É feita utilizando-se uma câmara de Neubauer ou a de Fuchs-Rosenthal. Normalmente o liquor é acelular, entretanto valores inferiores a 8 células/mm 3 são encontrados em fluidos cerebroespinhais normais. Uma pleocitose ocorre nas lesões inflamatórias das meninges, cérebro ou medula espinhal. Nos processos supurados agudos ocorre acentuada pleocitose, enquanto que nas infecções virais, por fungos, neoplasias, processos degenerativos e tóxicos ocorrem uma ligeira a moderada pleocitose. b) Citologia ou contagem celular específica Se há aumento na contagem celular global, devemos efetuar uma contagem específica de células. Esta contagem é efetuada em esfregaços do liquor corados pelas técnicas normalmente utilizadas na hematologia. Se a amostra é de baixa celularidade (menos de 500 células/µL), devemos fazer uma centrifugação em baixa rotação (600 rpm) e em seguida confeccionar o esfregaço do sedimento. Em amostras com alta celularidade (mais de 500 células/µL), o esfregaço pode ser confeccionado com o liquor diretamente. No liquor normal, estarão presentes apenas pequenos linfócitos e raramente macrófagos. Figura 5. Tipos celulares observados no liquor e seu significado clínico Citologia diferencial do liquor Neutrófilos Menor quantidade que no sangue. Surgem na defesa antimicrobiana e fase aguda dos processos infecciosos. Aumentam na meningite bacteriana aguda, encefalites bacterianas, abscessos e hemorragias cerebrais (em virais o aumento é transitório). Se degenerados indicam infecção supurada. Linfócitos Indicam reação imune humoral e representa um domínio relativo da defesa (cronicidade ou cura). Predominam nas infecções virais, por fungos, nos processos tóxicos, degenerativos e na listeriose. Aumentam em meningites virais e/ou crônicas. 9 Plasmócitos (Linf. reacionais) Sugerem estímulo antigênico local. Aumentam na fase crônica de processos inflamatórios, infecciosos e na meningite bacteriana crônica (associado a macrófagos). Macrófagos (monócitos) Fagocitose ativa de células como hemácias, ou de outras estruturas como a hemossiderina (siderófagos), bactérias, fungos, restos celulares, gotículas de gordura. Refletem uma reação de defesa inespecífica. Podem revelar cura de uma meningite purulenta. Aumentam nos processos irritativos leves ou hemorragias intracranianas. Cél. Gigantes Trata-se de uma forma de macrófago, e estão associadas a processo irritativo, infeccioso, tumoral. Eosinófilos Menor quantidade que no sangue. Sugerem infecção parasitária (cisticercose, toxoplasmose e equinococose), estado de hipersensibilidade. Basófilos Menor quantidade que no sangue. Processos agudos diversos, corpo estranho, reações alérgicas. Outras Células Meningeais, ependimais, plexo coróide e neoplásicas. Indicam: lesão ou descamação anormal, tumores. As células neoplásicas podem ser evidenciadas quando as meninges são afetadas por neoplasias ou devido a neoplasias no SNC comunicando com o espaço subaracnóideo. Geralmente a demonstração de células neoplásicas requer uma técnica de filtração em membrana. 3.3 - EXAME BIOQUÍMICO 3.3.1. DOSAGEM DE PROTEÍNAS O teor de proteínas no liquor dos animais é extremamente baixo, variando de 12 a 40 mg/dL, consistindo quase que exclusivamente de albumina. A dosagem das proteínas é usada para detectar aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica. Como os níveis de proteínas no liquor normal são extremamente baixo, consistindo quase que exclusivamente de albumina, métodos especiais são necessários para sua determinação, inclusive com a diferenciação entre a albumina e globulinas. Sendo as globulinas a fração de maior interesse, por elevarem-se nos estados patológicos. 10 O método mais simples para determinação qualitativa de globulinas no liquor é o teste de Pandy. Entretantoa prova de Nonne-Apelt é outro teste de triagem para avaliar as globulinas no liquor. A eletroforese é também importante na diferenciação. Aumento das globulinas é indicativo de inflamação. Causas de aumento das proteínas no liquor: inflamações supuradas (meningites e encefalites), abscessos cerebrais e medulares, toxoplasmose, encefalomalácias, hemorragias, neoplasias e lesões vasculares. Nos casos de pneumonias, convulsões, uremia e hemorragias podem ocorrer aumento das globulinas no liquor. A determinação seriada do teor protéico no liquor pode ser de grande valor na avaliação do avanço do processo inflamatório, uma vez que quando o processo começa a ceder ocorre uma queda proporcional nos níveis protéicos. Queda nos teores de proteínas no liquor pode ocorrer no hiperparatireoidismo. A relação albumina/globulinas no liquor é de 8:1. Variações nesta relação estão relacionadas com alterações inflamatórias, neoplasias e hemorragias no SNC. 3.3.2. GLICOSE A concentração de glicose no liquor (glicorraquia) depende: da glicemia, da permeabilidade seletiva da barreira hematoencefálica e da presença ou ausência de microorganismos glicolíticos, devendo, no entanto a dosagem ser efetuada simultaneamente no liquor e no sangue. Os níveis normais de glicose no liquor correspondem 60 a 80% da glicose sérica. Em animais sadios os níveis oscilam entre 40 a 80 mg/dL. Os métodos de avaliação da glicose no liquor são os mesmos utilizados na avaliação da glicose sérica. Causas de hipoglicorraquia: Hipoglicorraquia associada à hipoglicemia ou como resultado de uma meningite piogênica aguda (atividade glicolítica dos microorganismos infecciosos). 11 Hipoglicorraquia com ausência de hipoglicemia é indicativo de uma desordem meningeal generalizada, com impedimento do transporte através da barreira hematoencefálica, aumento do metabolismo do parenquima cerebral. Causas de hiperglicorraquia: a hiperglicorraquia é observada em qualquer enfermidade acompanhada de hiperglicemia como: diabetes mellitus (talvez a causa mais comum) encefalites compressão cerebral por tumores e abscessos, aumento da pressão intracraniana. 3.3.3. UREIA E CREATININA A concentração normal de ureia no liquor é significativamente menor do que a sérica, alterações da sua concentração no liquor ocorrem em paralelo com as alterações séricas. Entretanto nos casos de uremia as concentrações de ureia no liquor aumentarão na mesma proporção do aumento sérico. A concentração normal de creatinina no liquor corresponde a 2/3 da concentração sérica. Elevação da creatinina no liquor ocorre concomitante com a elevação da creatinina sérica. Os métodos de avaliação são os mesmos da avaliação sérica. 3.3.4. CLORETOS Geralmente os níveis de cloretos no liquor dos animais oscilam entre 650 a 850 mg/dL. Os métodos para sua determinação no liquor são análogos aos empregados na avaliação sérica. Os níveis de cloretos estão diminuídos (hipocloretorraquia) nos casos de meningites e vômitos prolongados. A dieta pode afetar a cloretorraquia. As variações dos níveis de cloretos no liquor têm pouco valor diagnóstico. 3.3.5. POTÁSSIO Sua concentração no liquor é menor do que a sérica. Sugestões indicam que as alterações do potássio no líquido cefalorraquidiano podem ocorrer quando ele escapa do sangue ou plasma para o liquor. 12 3.3.6. CÁLCIO E MAGNÉSIO A concentração do cálcio no liquor é menor do que a sérica, já o magnésio apresenta uma maior concentração liquórica do que a sérica. Embora suas variações no liquóricas não tenham significado clínico. 3.3.7. COLESTEROL Sua concentração no liquor é pequena, apenas traços. Valores aumentados ocorrem em associação com abscedação cerebral, tumores cerebrais, meningites e hemorragias envolvendo o SNC. 3.3.8. ENZIMAS A atividade de várias enzimas no LCR tem sido acompanhada com a finalidade de avaliar se o SNC ou suas barreiras foram lesadas. Atenção especial tem sido direcionada a aspartatoaminotransferase (AST), lactato desidrogenase (LDH) incluindo suas isoenzimas padrões, creatina fosfoquinase (CPK), embora não sejam específicas para fechar um diagnóstico. Elevações da LDH2 e LDH3 são conhecidas como de algum valor na determinação da presença de lesões destrutivas no cérebro, meningites bacterianas, carcinoma metastático, hemorragia subaracnóidea e infarto cerebral. A atividade tanto da AST como da LDH no LCR no líquido cefalorraquidiano aumentam após infarto cerebral, com os valores máximos ocorrendo do 3º ao 5º dia e permanecendo durante dias a meses. Valores da AST no liquor maiores do que os do plasma são indicativos de cinomose, meningites purulentas, contusão e infarto cerebral e sugere um prognóstico desfavorável. Elevadas concentrações da CPK no liquor indicam doenças que afetam a mielina, cinomose, toxoplasmose, panleucopenia infecciosa felina (PLFe) e polencefalomalácia. Figura 6. Valores normais das enzimas no líquido cefalorraquidiano de interesse clínico Enzima Cães Equinos Bovinos Felinos AST U/L 4,32 - 22,08 30,8 6,31 -------- 0,0 - 34,0 ALT U/L 0,96 - 15,36 ---------- --------- ---------- FAL U/L ----------- 0 - 8 -------- ---------- CK 1 U/L 23,5 ± 0,19 0,0 8,0 ---------- 2,0 - 236,0 LDH U/L ---------- 12,0 - 34,0 2,0 - 25,0 0,0 - 24,0 13 3.4. EXAME MICROBIOLÓGICO DO LIQUOR Constitui-se primariamente de análise direta do esfregaço do sedimento do liquido submetidos a colorações especiais como Gram (bactérias piogênicas), Ziehl-Nielsen (bacilos ácido resistente), Tinta da China (Cryptococcus). O liquor ainda pode ser utilizado para cultura e antibiograma, desde que colhido e acondicionado adequadamente. Pode ainda realizar testes liquóricos para vírus (cinomose, PIF, herpes vírus), ricketsias (erliquiose), protozoários (toxoplasmose, babesiose) e fungos (blastomicose, criptococose, aspergilose, coccidioidomicose). Figura 7. Interpretação das alterações liquóricas não acompanhadas de pelocitose Alterações Enfermidades proteína Protusão de disco intervetebral, Embolismo fibrocartilaginoso, Espondilomielopatia cervical, neoplsias, Mielopatia degenerativa do Pastor alemão, Cinomose, Mielopatia necrosante do Afghan, Leucoencefalomielopatia e degeneração neuroaxonal dos Rottweilers. % de neutrófilos Protusão de disco intervertebral, Inflamação ou necrose por neoplasias, Encefalomielites com inflamação difusa. Presença de eosinófilos Migração parasitária, doença por protozoários como Neospora sp. e Toxoplasma sp. da glicose Meningites bacterianas, Encefalomileite da cinomose, Neoplasias meningeais. da glicose Diabetes mellitus. Fonte: Sarmento et al. (2000) 14 Figura 8 . Interpretação das alterações liquóricas acompanhadas de pleocitose Alterações Enfermidades proteína Meningites, encefalites. % de neutrófilos Vasculites necrosantes, Meningites esteróide-responsiva em cães, Meningite bacteriana, Peritonite infecciosa felina (PIF), Necrose do SNC por neoplasias ou encefalites virais na fase aguda, Espondilomielopatia cervical aguda 24 h após mielografia. % de linfócitos Infecções virais com exceção da PIF, Meningoencefalomielite granulomatosa, Linfossarcomas, Terapias antibióticas e corticoterapia. Presença de eosinófilos Inflamaçãoaguda por parasitos, Hipersensibilidade Neoplasias. Células mistas Infecção crônica, Meningoencefalomielite granulomatosa, Meningiomas, Protusão de disco intervertebral, Meilomalácia, Infarto cerebral, infecções fúngicas, Toxoplasmose e babesiose. Fonte: Sarmento et al. (2000) 4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA COLES, E.H. Patologia clínica veterinária. 3 ed., São Paulo: Manole Ltda., 1984. 566 p. DOXEY, D.L. Patologia clínica e métodos de diagnóstico. 2 ed., Rio de Janeiro: Interamericana, 1985. 306 p. FELDMAN, B.F. Cerebrospinal fluid. In: KANEKO, J.J. (Ed.) Clinical biochemistry of domestic animals. 4 ed. San Diego: Academic Press Inc, 1989. p. 835-865. 15 KANEKO, J. J.; HARVEY, J. W.; BRUSS, M. L. Clinical biochemistry of domestic animals, 6th ed. San Diego: Academic Press, 2008. 916 p. MEYER, D.J., COLES, E.H., RICH, L.J. Medicina de laboratório veterinária: interpretação e diagnóstico. São Paulo: Roca, 1995. 308 p. SARMENTO, L. V. C.; TUDURY, E. A.; ALBUQUERQUE, E. R.; et al.. Coleta, análise e interpretação do líquido céfalo-raquidiano de cães e gatos - revisão. Clínica Veterinária, n. 25, p. 19- 26, 2000. WRIGHT, J.A. Evaluation of cerebrospinal fluid in the dog. Veterinary record. v. 103, n. 3, p. 48- 51, 1978. WRIGHT, J.A. Cerebrospinal fluid sampling in the dog. In Practice, v. 6, n. 1, p. 23-27, 1984. 16 ANEXOS TESTE DE PANDY Usado para determinação de globulinas no liquor. Reativo de Pandy: 10 g de fenol puro 150 mL de H2O DD Técnica: Colocar 1 mL do reativo de Pandy em um tubo de ensaio, Instilar uma gota do liquor no tubo.-, Verificar a ocorrência de turvação ou opalescência. Interpretação: Negativo solução ficará límpida, Traços ocorrer leve turvação, Positivo + ocorrer moderada turvação, Positivo ++ ocorrer intensa turvação, Positivo +++ ocorrer intensa turvação com formação de flocos brancos. O grau de turvação é proporcional à concentração de globulinas. FERREIRA NETO, J. M.; VIANA, E. S.; MAGALHÃES, L. M. Patologia Clínica Veterinária, Belo Horizonte: Editora Rabelo, 1982. 293 p. 0 Tabela 1. VALORES ANALÍTICOS DO FLUÍDO CÉREBRO ESPINHAL NOS ANIMAIS Elementos Unidade Equinos Bovinos Caninos Felinos Ovinos Caprinos Cálcio mg/dL 2,5 - 6,0 5,1 - 6,3 5,13 - 7,40 5,1 - 6,3 5,1 - 5,5 4,6 Fósforo mg/dL 0,5 - 1,5 0,9 - 2,5 2,82 - 3,47 ------- 1,2 - 2,0 ------- Glicose mg/dL 30 - 70 37 - 51 48 - 57 18,2 - 130,9 52 - 85 70 Proteínas totais mg/dL 40 - 170 23,4 - 66,3 18 - 44 0 - 30 29 - 42 12 Albumina mg/dL 15 - 39 10 - 20 7,5 - 27,6 19 - 25 --------- ------- Globulina mg/dL 3,4 - 18,4 --------- 14,0 – 21,1 --------- -------- ------- Magnésio mg/dL 1,1 – 3,0 1,8 - 2,1 2,58 - 3,81 3,24 ± 0,05 2,2 – 2,8 2,3 Cloretos mmol/L 95 - 123 111 - 123 109 - 126 111 - 123 128 - 148 116 - 130 Potássio mmol/L 2,5 - 3,5 2,7 - 3,2 2,9 - 3,2 2,69 ± 0,09 3,0 - 3, 3 3,0 Sódio mmol/L 140 - 150 132 - 142 151,6 - 155 158 145 - 157 131 Uréia mg/dL 0,0 - 20 8 - 11 10 - 11 21,5 - 23,6 -------- ------- Densidade unid. 1004 - 1008 1005 - 1008 1003 - 1012 ------- ------- ------- Íons hidrogênio pH 7,13 - 7,36 7,22 - 7,26 7,13 - 7,36 7,22 - 7,26 7,3 - 7,4 ------- Pressão MmH2O 272 - 490 ------ 24 - 172 ------- -------- -------- Células totais WBC cels/µL 0 - 6 0 - 10 0 - 25 0 - 1 0 - 5 0 - 4 Células totais RBC cels/µL 195 ± 512 5 - 1930 < 1500 < 30 -------- ------- Peq.mononucleares % ------- ------- 15 - 95 ------- ------- ------ Grand. mononucleares % ------- ------- 5 - 40 ------- ------- -------- Degeneradas % ------- ------ 0 - 40 ------- -------- -------- Fonte: Kaneko et al. (2008)
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