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Peca 10 PS V ADPF

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PRÁTICA SIMULADA V - CCJ0049
Semana Aula: 10
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
CONFEDERAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO BRASIL, inscrito no CNPJ sob nº..., com sede em..., representada por..., vem, por seu advogado infra-assinado (procuração em anexo), com endereço profissional na rua..., bairro..., cidade..., estado..., endereço que indica para os fins do artigo 106, do CPC/2015, com fulcro no artigo 1º e seguintes da Lei nº 9.882/99, propor
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 
COM PEDIDO CAUTELAR
com base no artigo 103, § 1º, da CRFB/88, indicando como preceitos vulnerados o artigo 1º, III, artigo 5º, 226, § 3º, todos da CRFB/88, por ato do GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, esperando que seja recebida e seguindo as formalidades de estilo, seja distribuída e ao final reconhecida a interpretação conforme a Constituição das normas questionadas, conforme será demonstrado ao longo da presente petição, nos termos e motivos que passa a expor. 
 DA LEGITIMIDADE 
A legitimidade ativa da Confederação Nacional dos Servidores para a propositura da presente encontra assento artigo 103, IX, CRFB/88 e artigo 2º, I, da Lei nº 9.882/99, salientando-se que esta confederação demonstra pertinência temática para caso, uma vez que trata de questão envolvendo os servidores que se sujeitam ao Estatuto dos Servidores, já mencionado, estando impedidos de usufruir de direitos previstos ali estabelecidos.
DA COMPETÊNCIA 
Na forma do artigo 102, I, § 1º, CRFB/88 é de competência originária do STF o processamento e julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. É certo que frente à violação de preceito fundamental a competência originária do Supremo Tribunal Federal resta evidenciada. 
DO CABIMENTO 
Conforme se depreende da análise da Lei nº 9.882/99 (em que pese haver dois tipos de arguição: autônoma e incidental) a arguição aqui proposta é de natureza autônoma, cuja matriz se encontra no caput do artigo 1° da citada lei.
A ADPF no caso em tela constitui uma ação, análoga às ações diretas já instituídas na Constituição, por via da qual se suscita a jurisdição constitucional abstrata e concentrada do Supremo Tribunal Federal. 
No presente caso estão presentes os três pressupostos de cabimento da arguição autônoma: (i) a ameaça ou violação a preceito fundamental; (ii) um ato do Poder Público capaz de provocar a lesão; (iii) a inexistência de qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.
É cabível, in casu, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, uma vez que a apontada lesão decorre de atos omissivos e comissivos dos Poderes Públicos que não reconhecem esta união, dentre os quais se destaca o posicionamento dominante do Judiciário brasileiro, e inexiste qualquer outro meio processual idôneo para sanar a lesividade.
DOS FATOS E FUNDAMENTOS
Trata-se de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental proposta pela Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, considerando os Acórdãos do TJ/RJ, negando efeitos jurídicos à união entre pessoas do mesmo sexo, no que tange a aplicação do estatuto dos Servidores Públicos Civis do estado do Rio de Janeiro, pretendendo que se declare que o regime jurídico da união estável deve se aplicar, também, às relações homoafetivas, tendo por objeto o artigo 19, incisos II e V e artigo 33, incisos i ao X e parágrafo único, do Decreto-lei nº 220, de 18 de julho de 1975, pois interpretados de maneira discriminatória em relação aos homossexuais. 
Os referidos dispositivos depõem sobre concessão de licença ao servidor que tiver pessoa com doença na família ou para acompanhar cônjuge que por vínculo empregatício seja enviado para trabalhar em outras localidades, bem como a concessão de benefícios previdenciários e assistência social ao servidor e sua família.
Art. 19 – Conceder-se-à licença: 
II – por motivo de doença em pessoa da família, com vencimento e vantagens integrais nos primeiros 12 meses (...)
V – sem vencimento, para acompanhar o cônjuge eleito para o Congresso Nacional ou mandado servir em outras localidades se militar, servidor público ou com vínculo empregatício em empresa estadual ou particular; (...)
Ocorre que os citados dispositivos estão sendo interpretados de maneira discriminatória uma vez que decisões do Poder Judiciário negam às uniões homoafetivas o mesmo regime jurídico das uniões estáveis heteroafetivas. 
Permita-nos trazer à baila julgados que demonstra de forma efetiva o que ora se argumenta:
“..................................................................................................................................................................................................................................” 
Pontua-se que diante da inexistência de regulamentação legal, o exercício de direitos fundamentais, por parte dos homossexuais, está sendo impedido, inclusive, quanto a extensão dos direitos conferidos aos familiares de servidores públicos que mantêm uniões estáveis heterossexuais aos que mantêm uniões homoafetivas. 
Neste sentido, é nítida a violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, da proibição de discriminação odiosa, da igualdade, da liberdade de proteção à segurança jurídica. 
Portanto, considerando os fatos narrados o que se pretende com a presente ação é evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, pelo que não restou alternativa a não ser o manejo da presente ação constitucional.
No mérito resta evidenciado o descumprimento aos preceitos fundamentos, servindo de base a seguinte fundamentação:
DOS PRECEITOS FUNDAMENTAIS VIOLADOS
 A OFENSA À PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO E O PRINCÍPIO DA IGUALDADE (ARTS. 3º, IV, E 5º, CAPUT, DA CRFB/88).
Não restam dúvidas de que o argumento do “pecado”, é incompatível com os princípios da liberdade religiosa e da laicidade do Estado (art. 5º, VI e 19, I, CF). Melhor sorte não assiste razão ao argumento de que a legalização de união entre pessoas do mesmo sexo representaria um estímulo a práticas sexuais desviantes, ou que poria em risco o casamento e a família tradicionais.
Ademais, deve se extrair diretamente da Constituição da República de 88 os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da igualdade (art. 5º, caput), da vedação de discriminações odiosas (art. 3º, inciso IV), da liberdade (art. 5º, caput) e da proteção à segurança jurídica. Assim, é certo que inexistindo legislação infraconstitucional regulamentadora, devem ser aplicadas analogicamente ao caso as normas que tratam da união estável entre homem e mulher.
De início podemos observar que o princípio da igualdade impõe que todas as pessoas devem ser tratadas pelo Estado com o mesmo respeito e consideração, o que significa reconhecer que todas as pessoas possuem o mesmo direito de formular e de perseguir autonomamente os seus planos de vida, e de buscar a própria realização existencial, desde que isso não implique na violação de direitos de terceiros, no entanto, é exatamente isso que ocorre com a legislação infraconstitucional brasileira, que não reconhece as uniões entre pessoas do mesmo sexo, tratando de forma desigualitária os homossexuais e os heterossexuais.
Assim, do tratamento desigualitário se extrai uma postura em franca desarmonia com o projeto do constituinte de 88, que pretendeu fundar uma “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”, como consta no Preâmbulo da Carta.
Não há também que se olvidar, que a norma constitucional proíbe discriminações relacionadas à orientação sexual. Esta vedação decorre não apenas do princípio da isonomia, como também do art. 3º, inciso IV, da Carta, que estabeleceu, como objetivo fundamental da República, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Roger Raupp Rios chegou ao mesmo resultado a partir de argumentaçãodistinta. Para ele, a discriminação contra o homossexual representaria desigualação fundada em sexo, constitucionalmente vedada. Nas suas palavras,
“...a discriminação por orientação sexual é uma hipótese de diferenciação fundada no sexo para quem alguém dirige seu envolvimento sexual, na medida em que a caracterização de uma ou outra orientação sexual resulta da combinação dos sexos das pessoas envolvidas na relação. Assim, Pedro sofrerá ou não discriminação por orientação sexual em virtude do sexo da pessoa para quem dirigir seu desejo ou conduta sexual. Se orientar-se para Paulo, experimentará a discriminação; todavia se dirigir-se para Maria, não suportará tal diferenciação. Os tratamentos diferentes, neste contexto, tem a sua razão de ser no sexo de Paulo (igual ao de Pedro) ou de Maria (oposto ao de Pedro). Este exemplo ilustra com clareza como a discriminação por orientação sexual retrata uma hipótese de discriminação por motivo de sexo.” (Roger Raupp Rios. O Princípio da Igualdade e a Discriminação por Orientação Sexual. São Paulo: RT, 2002, p. 133.)
Nesta linha de pensamento, cabe ressaltar que o Brasil é signatário do Pacto dos Direitos Civis e Políticos da ONU, que foi promulgado pelo Presidente da República através do Decreto nº 592, de 07 de julho de 1992. Este tratado internacional consagra o direito à igualdade nos seu arts. 2º, § 1º, e 26, ao proibir as discriminações “por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação”.
Desta forma, mesmo que se entenda que os tratados sobre direitos humanos aprovados anteriormente à Emenda Constitucional nº 45 não têm o status de norma constitucional, não há dúvida de que, no mínimo, deve o intérprete nacional buscar a harmonia entre a legislação interna sobre a matéria e a normativa internacional, visando a adequar o nosso ordenamento aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Outro ponto nodal é o de que o não-reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo tem consequências em dois planos distintos, mas que se interpenetram, quais sejam: por um lado, priva os parceiros homossexuais de uma série de direitos importantes, que são atribuídos aos companheiros na união estável: direito a alimentos, direitos sucessórios, direitos previdenciários, direitos no campo contratual, direitos na esfera tributária, etc; por outro, é, em si mesma, um estigma, que explicita a desvalorização pelo Estado do modo de ser do homossexual, rebaixando-o à condição de cidadão de 2ª classe.
Sob ambos os prismas, há uma ofensa ao princípio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, previsto constitucionalmente no artigo 1º, III. Trata-se de violação do direito ao reconhecimento, que é uma dimensão essencial do princípio da dignidade da pessoa humana.
OFENSA AO DIREITO À LIBERDADE
Este é um dos mais importantes fundamentos do Estado Democrático de Direito: o reconhecimento e proteção da liberdade Individual.
Todo ser humano deve ter respeitado a sua liberdade individual, não sendo obrigado a fazer ou deixar de fazer coisa alguma, senão em virtude de lei. A liberdade de credo, de opção sexual, de ir e vir, etc., é essencial em um Estado Democrático de Direito. Assim, no caso em comente, no momento de se exclui direitos dos indivíduos, considerando sua opção sexual, é certo que se está a violar o direito de liberdade.
O jusfilósofo e constitucionalista argentino Carlos Santiago Nino referiu-se, neste sentido, ao princípio da autonomia da pessoa, segundo o qual:
 “sendo valiosa a livre eleição individual de planos de vida e a adoção de ideais de excelência humana, o Estado (e os demais indivíduos) não devem interferir nesta eleição ou adoção, limitando-se a desenhar instituições que facilitem à persecução individual destes planos de vida e à satisfação dos ideais de virtude que cada um sustente e impedindo a interferência mútua no curso de tal persecução” (Ética y Derechos Humanos. 2ª ed, Buenos Aires: Editorial Astrea, 1989, p. 204-205).
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA
A segurança jurídica é um valor fundamental no Estado de Direito, na medida em que é a sua garantia que possibilita que as pessoas e empresas planejem as próprias atividades e tenham estabilidade e tranquilidade na fruição dos seus direitos.
No sistema constitucional brasileiro, a segurança é referida no caput dos arts. 5º e 6º da Constituição, e a ideia de segurança jurídica permeia e fundamenta uma série de direitos fundamentais e institutos constitucionais relevantes, daí por que se pode falar na existência de um princípio constitucional de proteção à segurança jurídica.
Assim, independentemente do seu não reconhecimento oficial, a união entre pessoas do mesmo sexo ocorre no plano dos fatos. Diante desta realidade, surgem questões importantes a serem decididas, e a inexistência de uma prévia definição sobre o regime jurídico destas entidades gera imprevisibilidade, acarretando problemas não só para os seus partícipes, como também para terceiros.
Portanto, o não-reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar pela ordem infraconstitucional brasileira priva os parceiros destas entidades de uma série de direitos patrimoniais e extrapatrimoniais, e revela também a falta de reconhecimento estatal do igual valor e respeito devidos à identidade da pessoa homossexual.
Este não-reconhecimento importa em lesão a preceitos fundamentais da Constituição, notadamente aos princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da vedação à discriminação odiosa (art. 3º, inciso IV), e da igualdade (art. 5º, caput) da liberdade (art. 5º, caput), e da proteção à segurança jurídica.
Por fim, a redação do art. 226, § 3º, da Constituição, não pode ser considerando óbice intransponível para o reconhecimento destas entidades familiares, já que ela não contém qualquer vedação a esse tipo de relacionamento, não restando dúvidas de que a interpretação deste artigo deve ser realizada à luz dos princípios fundamentais da República, o que exclui qualquer exegese que aprofunde o preconceito e a exclusão social do homossexual, portanto, é cabível uma interpretação analógica do art. 226, § 3º, pautada pelos princípios constitucionais acima referidos, para tutelar como entidade familiar a união entre pessoas do mesmo sexo.
Diante do exposto, considerando a falta de norma regulamentadora, a união homoafetiva deve ser regida pelas regras que disciplinam a união estável entre homem e mulher, aplicando-as por analogia.
DA CONCESSÃO DA MEDIDA CAUTELAR
Torna-se imprescindível, in casu, a concessão de medida cautelar com fulcro no 5º da Lei Federal nº 9.882/99, considerando que a presença do fumus boni iuris foi demonstrada ao longo da exposição, com violação aos preceitos fundamentais. Já o periculum in mora reside na frustação de direitos fundamentais a parceiros em relações jurídicas homoafetivas, que estão sujeitas, inclusive, ao trânsito em julgado dos pronunciamentos judiciais respectivos. 
Portanto, faz-se necessária a concessão da medida cautelar para que se declare a validade das decisões administrativas que equipararem as uniões homoafetivas às uniões estáveis e que suspenda o andamento dos processos e os efeitos das decisões judiciais que hajam se pronunciado em sentido contrário.
DO PEDIDO
Pelo exposto, requer a V.Exª.:
1. a CONCESSÃO DA MEDIDA CAUTELAR/LIMINAR para que se declare a validade das decisões administrativas que equipararem as uniões homoafetivas às uniões estáveis e que suspenda o andamento dos processos e os efeito das decisões judiciais que hajam se pronunciado em sentido contrário;
2. a notificação das autoridades e órgãos, responsáveis pela violação ao preceito fundamental da Constituição Federal, para querendo, manifestem-se, caso, assim se entender;
3. a notificação, caso VossaExcelência entenda pertinente, do Exmo. Sr. Advogado-Geral da União para se manifestar sobre o mérito da presente ação, nos termos do artigo 5º, § 2º, da Lei nº 9.882/99;
4. a oitiva do Exmo. Sr. Procurador Geral da República e do Ministério Público, nos termos do artigo 5º, § 2º, e do artigo 7º, p. ú. da Lei nº 9.882/99;
5. seja julgado procedente o pedido para que essa Egrégia Corte, declare que o regime jurídico da união estável deve se aplicar, também, às relações homoafetivas, seja como decorrência dos preceitos fundamentais aqui explicitados, seja pela aplicação analógica do artigo 1.723 do Código Civil, interpretado conforme a Constituição. Por consequência requer seja por este E. Tribunal interpretado conforme a Constituição a legislação estadual – artigo 19, II, V e artigo 33 do Decreto 220/75, assegurando os benefícios ali previstos aos parceiros de uniões homoafetivas estáveis; bem como seja declarado que as decisões judiciais que negam a equiparação jurídica referida violam preceitos fundamentais.
DAS PROVAS
Requer a produção de todas as provas admitidas em direito na forma do artigo 3º, parágrafo único, da Lei nº 9.882/99, em especial a prova documental (em anexo cópia das decisões judiciais).
 
DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ ... (valor por extenso) artigo 291 do CPC/2015
Nestes termos, pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB/UF n.º...

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