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A atuação das grandes tadings de soja - Emilia Silva

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VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
1 
 
A ATUAÇÃO DAS GRANDES TRADINGS DO AGRONEGÓCIO DA SOJA 
NO AVANÇO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NA BR-163 
THE ROLE OF MAJOR AGRIBUSINESS TRADING FROM SOYBEAN 
SECTOR IN THE ADVANCE OF THE AGRICULTURE FRONTIER AT BR-
163 
 
Emilia Jomalinis de Medeiros Silva – UFRJ 
ejomalinis@gmail.com 
 
RESUMO 
A partir de novos padrões tecnológicos, áreas do cerrado brasileiro se 
constituíram como significativa fronteira para a ciência e a tecnologia, favorecendo a 
expansão do capital e da fronteira agrícola da soja, sobretudo a partir da década de 
1970. Em um contexto de emergência da modernização conservadora da agricultura, 
baseada em um grande pacote técnico, em apenas 15 anos a produtividade da soja no 
Brasil quase dobrou, tornando-se, atualmente o principal produto agrícola da pauta de 
exportação do agronegócio brasileiro (SCHLESINGER & NORONHA, 2006: 21). 
Vastas extensões territoriais do cerrado passam a ser progressivamente marcadas 
por essa divisão territorial e internacional do trabalho, bem como pela existência de 
circuitos produtivos complexos, em decorrência dos sistemas técnicos sofisticados. 
Estes, junto aos círculos de cooperação, geram fluxos mais intensos, extensos e 
seletivos, permitindo ao capital que se mova a um custo mais baixo (BERNARDES, 
2006). No contexto da divisão internacional do trabalho, os atores hegemônicos, 
representados pelas corporações internacionais, passaram a desempenhar papel singular 
no setor. 
Atualmente, o setor da soja é marcado pela crescente presença de corporações 
em diversas etapas das redes produtivas alimentares, pela flexibilização, concentração e 
centralização. Segundo dados de 2005, cerca de 70% do total exportado no Brasil estava 
concentrado em sete empresas, das quais se destacam, no Brasil, o protagonismo de 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
2 
 
quatro corporações: Archer Daniels Midland Company (ADM), Bunge, Cargill e Louis 
Dreyfus (FREDERICO, 2010). Através de estímulos como crédito, criação de 
infraestrutura e venda de pacotes tecnológicos, essas empresas vêm contribuindo para a 
intensificação da produção agrícola brasileira e, consequentemente, para a expansão da 
fronteira agrícola da soja rumo aos bioma Cerrado e Amazônia. Nesse sentido, a 
proposta deste artigo é traçar reflexões iniciais acerca da inserção das grandes empresas 
controladoras do setor, no país, identificando, especialmente, seu papel na expansão da 
fronteira econômica agrícola da BR-163, trecho Cuiabá/Santarém. 
ABSTRACT 
With new technological standards, the Brazilian cerrado became a significant 
frontier for science and technology, promoting the expansion of capital and the 
agricultural frontier of soy, especially from the 1970s. In an emergency context of 
conservative modernization of agriculture, based on a large technical package, in only 
15 years, the productivity of soybean in Brazil has nearly doubled, making it currently 
the main agricultural exported product of the Brazilian agribusiness (SCHLESINGER 
& NORONHA, 2006: 21). 
Hence, the Brazilian Cerrado became increasingly marked by this territorial and 
international division of labor, as well as the existence of complex circuits of 
production, due to the sophisticated technical systems. These, together with the 
cooperation circles, generate more intense, extensive and selective flows allowing 
capital to move with a lower cost (BERNARDES, 2006). In the context of the 
international division of labor, hegemonic actors, represented by international 
corporations came to play a unique role in the sector. 
Currently, the scenario of the soybean sector is marked by the increasing presence 
of corporations in various stages of food production networks, and well as flexibility, 
concentration and centralization. According to 2005 data, about 70% of total exports in 
Brazil were concentrated in seven companies, including most importantly, in Brazil, the 
role of four corporations: Archer Daniels Midland Company (ADM), Bunge, Cargill 
and Louis Dreyfus (FREDERICO, 2010). Through incentives such as credit, creation of 
infrastructure and the sale of technological packages, these companies are contributing 
to the intensification of agricultural production in Brazil and, consequently, the 
expansion of the agricultural frontier of soybeans in the Cerrado and Amazon biome. 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
3 
 
Accordingly, the purpose of this article is to develop initial reflections upon the 
insertion of large holding companies in the sector in the country, identifying its role in 
expanding economic frontier agricultural BR-163 road from Cuiabá to Santarém. 
Palavras - chave: Agronegócio, tradings, soja, BR-163, corporações 
 Keywords: Agribusiness, tradings, soybean, BR-163, corporations 
Eixo de inserção do trabalho: 6 - Modernização da Agropecuária e Reestruturação 
Produtiva 
Introdução 
O perfil agrário exportador brasileiro, cada vez mais estratégico no contexto atual 
da economia brasileira, não se trata de uma característica recente. Pelo contrário, o 
processo de formação econômica brasileira relaciona-se, em grande medida, com seu 
setor agroalimentar exportador (FURTADO, 1963; FLEXOR, 2006). Sua inserção nas 
trocas comerciais internacionais, ou no que Wallerstein e demais chamam de Economia-
Mundo se dá, desde o início de sua colonização, a partir da exportação de produtos 
primários (BECKER & EGLER, 2003; FREDERICO, p.30)
1
. Através dos ciclos de 
exploração, este modelo vai se consolidando; ainda que em alguns momentos históricos, 
houvesse maior investida no processo de industrialização e substituição de importações. 
Como ressalta Porto-Gonçalves (2006), as monoculturas que se desenvolveram, 
sobretudo nas regiões coloniais, tornaram-se base de sustentação da agricultura 
capitalista moderna voltada para a exportação. A partir da segunda metade do século 
XX, em consonância com a dinâmica internacional do setor, parte da agricultura 
brasileira passa por um processo de modernização e consequente constituição de 
complexos agroindustriais, caracterizando-se por um estreitamento das relações entre 
agricultura e indústria (SILVA, 1996; SILVA, 1993). Este processo contou, 
principalmente, com forte participação do Estado – seu principal financiador - e do 
capital nacional, mas não deixou de ter apoio internacional (FREDERICO, 2010). 
Este processo de modernização e reestruturação do sistema técnico agrícola 
brasileiro se deu por meio da implantação do paradigma da Revolução Verde e passou a 
ser chamada por vários autores de “Modernização Conservadora”, na medida em que, a 
 
1 Tanto Immanuel Wallerstein como Aníbal Quijano consideram que o que eles denominam de Sistema-
mundo tenha seu início após 1942 e é também a partir dessa data que os autores consideram ser o início 
da globalização e da emergência do conceito de moderno (Porto-Gonçalves, 2006, p.24). 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
4 
 
despeito da incorporação de novas técnicas, foi um processo que não alterou 
profundamente a estrutura social existente no campo brasileiro (OLIVEIRA, 1986: 8). 
Apesar de ter como focoprincipal a agricultura, este processo de modernização vai além 
e influencia todo o uso do território em questão, que passa a ser cada vez mais dotado de 
técnica e ciência, em consonância com o que Santos (1996) classifica como período 
técnico-científico (FREDERICO, 2010). 
Já na década de 1990, esta agricultura moderna-conservadora passa por novo 
processo de tecnificação e cientifização dos sistemas técnicos, onde a informação passa 
a ser o principal elemento viabilizador e organizador da agricultura; processo que se 
inicia em escala mundial já na década de 1980. Nesta nova estrutura produtiva 
agroindustrial em rede, as corporações transnacionais começam a ganhar papel de 
destaque (FREDERICO, 2010: 34; ARACI, 2005: 35). 
 
“O grande conteúdo em informação promove um controle mais restrito e 
hierárquico da produção; as grandes empresas mundiais, exportadoras de 
grãos e fornecedoras de insumos, passaram a ter um maior poder de 
regulação, ao mesmo tempo em que o Estado – principal financiador e 
articulador do modelo de modernização via CAI [Complexos 
Agroindustriais] – passou a ter um papel menos proeminente. A ausência do 
Estado se deve em grande parte à crise econômica/fiscal sofrida durante a 
década de 1980 e à introdução das políticas de ideologia neoliberal” 
(FREDERICO, 2010: 34). 
 
Objetivos 
À luz do debate sobre técnica, globalização, estratégia e território, no contexto do 
meio técnico-científico informacional, o objetivo deste artigo é traçar uma reflexão 
inicial acerca da inserção das corporações transnacionais no setor brasileiro da soja, e os 
processos de territorialização decorrentes, no âmbito do avanço da fronteira 
econômica/agrícola, em especial na BR-163 trecho Cuiabá-Santarém. A partir deste 
objetivo geral, desdobram-se objetivos específicos: 
o Fazer uma reflexão teórica inicial sobre o processo de modernização 
conservadora no Brasil, em especial no cerrado brasileiro e sobre os processos 
territoriais de acumulação do capital no cerrado brasileiro, com ênfase para os 
municípios na região de influência da BR-163, no trecho Cuiabá Santarém; 
o Analisar o processo de reorganização das relações entre os atores econômicos 
das redes produtivas da soja na região, em especial da crescente atuação de 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
5 
 
quatro tradings do setor - ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus – a partir dos anos 
1990; 
Metodologia 
Esta pesquisa apresenta como recorte temporal o início da década de 1990 até os 
dias atuais. Em termos de recorte espacial, o artigo busca privilegiar uma reflexão sobre 
a atuação das corporações da soja no centro-oeste brasileiro, em especial, no trecho 
Cuiabá-Santarém da BR-163. Para dar conta desta proposta trabalhamos com as noções 
de espaço e técnica (Santos, 1996, Bernardes, 2005), processo de acumulação do capital 
(Harvey, 2004) e redes produtivas (Mazzali, 2000). Dados secundários da Secretaria de 
Comércio Exterior e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística também foram 
utilizados. O presente texto não conta, ainda, com dados primários coletados a partir de 
trabalhos na região focal do estudo, sendo assim, uma reflexão inicial sobre a temática 
estudada. 
 
Modernização conservadora no cerrado brasileiro 
A partir de novos padrões tecnológicos da primeira Revolução Verde, áreas do 
cerrado brasileiro se constituíram como significativa fronteira para a ciência e a 
tecnologia, favorecendo a expansão do capital e da fronteira agrícola da soja, sobretudo 
a partir da década de 1970. Entendemos como Revolução Verde o modelo baseado na 
intensiva utilização de sementes melhoradas (principalmente híbridas), insumos 
industriais (como fertilizantes e agrotóxicos), alta mecanização e uso extensivo de 
tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita. É um modelo de origem norte-
americana, país que incentivou sua execução em diversos outros lugares de produção 
agrícola. No Brasil e no mundo, a modernização conservadora com suas tecnologias que 
envolviam a Revolução Verde implicaram em grandes transformações nas relações de 
poder (PORTO-GONÇALVES, 2006: 225) e nas relações de produção na agricultura, 
redefinindo toda a estrutura socioeconômica e política no campo (OLIVEIRA, 1986: 5). 
Com a migração de produtores da região Sul (onde até então se concentrava esta 
produção) à procura de terras mais baratas e escala de produção, a soja se expandiu para 
o estado de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, oeste de Minas Gerais e da Bahia 
e, posteriormente, para o sul do Maranhão, Piauí e Tocantins. Vastas extensões 
territoriais do cerrado passam a ser progressivamente marcadas por essa divisão 
territorial e internacional do trabalho, bem como pela existência de circuitos produtivos 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
6 
 
complexos, em decorrência dos sistemas técnicos sofisticados. Estes, junto aos círculos 
de cooperação, geram fluxos mais intensos, extensos e seletivos, permitindo ao capital 
que se mova a um custo mais baixo (BERNARDES, 2006). 
Tabela 1: Perfil dos estabelecimentos familiares e não familiares (Brasil e Região) 
 Fonte: Censo Agropecuário 2006 / IBGE 
 
No contexto do avanço da fronteira agrícola, a construção de novas rodovias, 
como a BR-163, favoreceu o fluxo de migrantes para a região e de grandes empresas 
(BERNARDES, 2004). Para Bernardes, diversas ações do governo 
“foram definidas e apresentadas como programas viabilizadores 
da “reforma agrária” e de promoção da política agrícola, embora 
estivessem associadas à expansão da fronteira econômica 
baseada na concessão de incentivos fiscais e financeiros a 
grandes empreendimentos capitalistas estabelecidos na região. 
Essas políticas, que incluíam projetos de colonização, 
contemplando a transferência dos trabalhadores rurais para áreas 
da Amazônia Legal, também tinham como objetivo 
desmobilizar os movimentos sociais de luta pela reforma 
agrária, com vistas à eliminação dos conflitos que vinham se 
acirrando no campo em fins da década de 60 e início dos anos 
70” (BERNARDES, 2007). 
Região/Estabele
cimentos 
Número 
(Agricultura 
Familiar) 
Número 
(Agricultu
ra não 
Familiar) 
Área 
(Agricultura 
Familiar) 
Área 
(Agricultura 
não 
Familiar) 
Financiamento 
(Agricultura 
Familiar) 
Financiamento 
(Agricultura 
não Familiar) 
Brasil 4.551.855 623.781 106.788.460 226.891.577 6.088.832 15.305.160 
Norte 429.497 46.281 22.830.404 32.705.360 349.054 361.918 
Nordeste 2.274.114 179.946 35.429.809 40.644.602 862.137 1.626.223 
Sudeste 713.300 208.797 15.969.460 38.968.313 909.895 5.324.935 
Sul 899.724 106.479 17.874.595 23.906.408 3.420.824 2.928.972 
Centro-Oeste 235.220 82.278 14.684.192 90.666.894 546.922 5.063.111 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
7 
 
Em um contexto de emergência da modernização conservadora da agricultura, 
baseada em um grande pacote técnico
2
, em apenas 15 anos a produtividade da soja no 
Brasil quase dobrou: de 1.580 kg/ha na safra 1990/1991 passa para 2.751 kg/ha em 
2004/2005 (SCHLESINGER & NORONHA, 2006: 21), tornando-se, atualmente o 
principal produto agrícola da pauta de exportação do agronegócio brasileiro
3
. 
Atualmente a soja é o principal produto agrícola da pauta de exportação do agronegócio 
brasileiro
4
 e o que ocupaa maior área cultivada do país: 27,35 milhões de hectares na 
safra 2012/2013. Em 2012, a oleaginosa alcançou recorde de produção nacional, 82,68 
milhões de toneladas
5
; de fevereiro a novembro, foram exportados 31.770.000 toneladas 
de soja
6
. O grão possui, também, importância ímpar no comércio internacional, 
tornando-se, em 2001, a commodity agrícola mais negociada em mercados de futuros 
internacionais, especialmente na Chicago Board of Trade. 
 
Gráfico 1: Balanço do 1º semestre de 2013 (Em US$ bilhões) 
Fonte: MAPA apud Valor Econômico7 
 
 
2
 Entendemos técnica como um conjunto de meios instrumentais e sociais com os quais o homem realiza 
sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço (SANTOS, 1996: 29). 
3 SAUER, Sérgio. Dinheiro Público para o agronegócio. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, ano3, 
no33, p.8-9, abr. 2010. Tendo como principal país comprador a China. 
4 SAUER, Sérgio. Dinheiro Público para o agronegócio. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, ano3, 
no33, p.8-9, abr. 2010. Tendo como principal país comprador a China. 
5 CONAB, Acompanhamento da Safra Brasileira: grãos, quarto levantamento, 2013 Disponível em: < 
http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_01_09_17_44_20_boletim_graos_janeiro_2013
.pdf>. Acesso em: 10 jan 2013. 
6
 Exportações do Complexo da Soja, Ano Comercial (Fev-Jan): Abiove. Disponível em: < 
http://www.abiove.org.br/site/index.php?page=estatistica&area=NC0yLTE=>. Acesso em: 07 jan 2013 
7 Valor Econômico: Exportação do campo cresceu 13,7% em junho e rendeu US$ 100 bi em 12 meses. 
Disponível em: < http://www.valor.com.br/agro/3191238/exportacao-do-campo-cresceu-137-em-junho-e-
rendeu-us-100-bi-em-12-meses>. Acesso em 12 jul 2013, 2013. 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
8 
 
 
Gráfico 2: Principais produtos exportados no 1º semestre de 2013 
Fonte: MAPA apud Valor Econômico 
 
Referencial Teórico 
 
Segundo David Harvey (2004), os processos na economia contemporânea devem 
ser analisados enquanto a atual etapa de uma constante acumulação do capital. Para o 
autor, a lógica do capital baseia-se na constante circulação através do espaço e do tempo 
e o Estado seria o arcabouço territorializado dentro do qual agem os processos 
moleculares de acumulação do capital. Estes, por sua vez, criam redes
8
 e estruturas de 
operação no espaço, independente das estruturas de poder do Estado (HARVEY, 2004: 
80). 
A reflexão a partir dos processos de acumulação do capital nos permite perceber 
que essas trocas de bens e serviços produziram, ao longo dos séculos, desenvolvimentos 
geográficos desiguais. Devido à competitividade do modelo, capitalistas tendem, dentre 
outros fatores, a mudar para locais de menores custos de produção ou maiores taxas de 
lucro. Por isso, esses processos de acumulação do capital estão em constante expansão e 
permanente ação de rompimento com toda tendência ao equilíbrio. A invariável busca 
de localizações de menor custo leva ao constante movimento e instabilidade na 
distribuição espacial das atividades capitalistas (HARVEY, 2004: 82-84). 
A expansão da produção da soja no Brasil e a inserção das tradings no setor 
podem ser entendidas, a partir desses conceitos, como uma mudança de localização 
dentro do processo molecular de acumulação no tempo e no espaço, em busca de 
menores custos
9
. Nesse processo de localização, constatamos uma diminuição do preço 
 
8 Santos (1996) também apresenta a ideia de que as empresas globais – atores estratégicos na etapa 
contemporânea do capital - funcionam em redes, desenvolvendo toda sorte de ramificações. Algumas 
características centrais desse arranjo mundializado é o controle da inovação, da circulação e da gestão do 
capital em sua forma de dinheiro. 
9 Valor Econômico: Tradings tentam aprofundar diversificação geográfica. Disponível em: 
http://www.valor.com.br/empresas/2883532/tradings-tentam-aprofundar-diversificacao-geografica. 
Acesso em: 11 jan 2013. 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
9 
 
do produto final, em meio às inovações tecnológicas nas mais variadas esferas que 
permitem o barateamento dos custos de produção e circulação. A diminuição do custo 
do giro do capital deve ser entendida como um dos principais objetivos do processo 
capitalista e como uma característica muito importante da globalização. A flexibilidade 
também vem sendo um dos princípios orientadores deste processo de reestruturação das 
redes produtivas do setor da soja (HARVEY, 2004; MAZZALI, 2000). 
A soja globalizada apresenta-se, assim, como um espaço para a acumulação do 
capital e o setor do agronegócio vem se mostrando extremamente lucrativo para o 
capital nacional e transnacional
10
. Esta constante expansão do sistema tem rebatimento 
no espaço e na organização do território, entendido aqui como um espaço definido e 
delimitado por e a partir de relações de poder (SOUZA, 1995). 
Para Milton Santos (1996), o espaço deve ser definido como um conjunto 
indissociável de sistemas de objetos e sistema de ações, no qual a técnica exerce um 
papel de centralidade, enquanto mediadora da relação entre o homem e a natureza. A 
atual etapa da história do meio geográfico, classificada como meio técnico-científico 
informacional, caracteriza-se dentre outras coisas, pela profunda interação da ciência e 
da técnica, onde os objetos e seus sistemas são dotados de informação (SANTOS, 1996: 
238). Assim como Harvey, Santos ressalta fatores como competitividade, unicidade 
técnica, concentração e centralização como aspectos fundamentais da atual etapa do 
meio técnico-científico informacional. A cada novo impulso de modernização das 
forças produtivas, o território apresenta maior grau de complexidade. 
Neste meio atual, ambos, objetos e ações, se veem dotados de racionalidade, 
baseado na ciência e na técnica. Num território como o brasileiro, apresentam-se tanto 
espaços trabalhados sob a ótica de uma racionalidade dura, como espaços trabalhados 
segundo uma racionalidade mole. Esse envelhecimento rápido dos sistemas técnicos 
tem raízes na competitividade e deve ser compreendido como um processo histórico. O 
cerrado da soja vem se apresentando como um espaço inteligente, dotado de 
racionalidade, marcado pela ciência, a tecnologia e informação (SANTOS, 1996: 222). 
 
10
 Em meio à crise financeira global de 2008, a queda do dólar e a crise no setor imobiliário norte-
americano levaram muitos players do mercado a aplicarem seus ativos financeiros em commodities 
agrícolas, que se tornaram uma opção atrativa para a maximização de lucros. Muitos fundos têm usado as 
bolsas de mercadorias para especular com a antecipação da compra de safras futuras em busca de melhor 
rentabilidade. 
VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA - VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA 
1a. JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (ISBN 978-85-237-0718-7) 
10 
 
As ações baseadas na ciência e na técnica são “movidas por uma racionalidade 
obediente à razão do instrumento, ação deliberada por outros”, uma razão instrumental 
que predomina sob a razão simbólica. Destacamos, assim, a existência de uma 
radicalização da racionalidade moderna ocidental, que, segundo Ribeiro, pode levar os 
meios para o alcance de objetivos, o que leva perdas em sentidos da ação. Cabe avaliarse uma possível radicalização da racionalidade moderna ocidental, traduzida na ação 
dessas empresas, tem levado à perda do sentido da ação. É necessário que busquemos os 
sentidos da ação social que constituem e organizam o território em questão (RIBEIRO, 
2000). 
É no meio técnico-científico informacional que a mais-valia global, parte 
integrante da unicidade do motor da vida econômica e social, contribui para ampliar e 
aprofundar o processo de internacionalização. Em um contexto marcado pela 
mundialização, o setor produtivo é constituído por uma rede de interdependências 
ampliadas e a liberalização dos mercados regionais avança a caminho de um mercado 
global. As maiores empresas tornam-se empresas globais e a aliança entre elas organiza 
os mercados e circuitos de produção. Destaca-se o predomínio do controle da inovação, 
da circulação e da gestão do capital em sua forma dinheiro. Destarte, o cenário da 
organização produtiva das redes da soja vai ao encontro das características aqui 
apresentadas por Santos (SANTOS, 1996: 204). 
Ainda que o meio técnico-científico informacional caracterize-se pela 
transformação de territórios nacionais num espaço nacional da economia internacional, 
“não apenas os Estados ainda são atores importantes, como têm a capacidade de 
encorajar ou inibir a integração global ou nacionalmente responsável aos desígnios das 
empresas transnacionais”, (SANTOS, 1996: 245). É notório que o Estado brasileiro tem 
papel singular na organização territorial do cerrado, contribuindo para que esta seja uma 
frente de espaço de produção da commodity. A ação governamental tem se mostrado 
indispensável à organização e reprodução das forças produtivas, no contexto das redes 
produtivas da soja. Outro importante conceito apresentado por Santos e ressaltado por 
outros autores, relevante para os termos deste trabalho, é a coexistência entre processos 
de horizontalidade, pontos que se agregam sem descontinuidade, e as verticalidades, 
pontos que asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia. A inserção 
dessas corporações nos territórios do cerrado apresenta-se tanto horizontalmente, como 
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verticalmente, gerando concentração de mercado e privilegiada posição de poder 
econômico estratégico. 
Para Raffestin (1993), o poder político é congruente a toda forma de organização. 
É possível identificar a ação das tradings, que envolve concentração e centralização de 
poder, a partir de um sistema de malhas, nós e redes que se imprimem no espaço, 
conduzidos pela interação de indivíduos e grupos, como um fator que vem gerando 
reflexos na organização do território do cerrado. Além do Estado, atores como empresas 
ou outras organizações também desempenham papel relevante na organização do 
território nacional, por meio de novos recortes e novas implantações e ligações. Ainda, 
as possíveis relações entre diversos atores e seus grupos são, em sua maioria, 
dissimétricas e multilaterais, envolvendo relações de poder e dominação entre os 
diversos grupos em questão. 
É de conhecimento que a fronteira agrícola na qual se insere as redes produtivas 
de soja vem avançando de forma continuada (Mazzali, 2000) no cerrado, em direção ao 
bioma amazônico. Faz-se necessário compreender o papel estratégico dessas empresas 
na criação dessa nova fronteira, conceito aqui compreendido enquanto um lugar onde se 
cria o novo a partir de recursos técnicos modernos, a articulação com o capital privado 
nacional e internacional, e a integração da colonização regional a um projeto mais 
amplo de modernização institucional e econômica (Osório, 1996). 
 
A atuação das tradings no Brasil: reflexões iniciais sobre as tradings no trecho 
Cuiabá-Santarém da BR-163 
 
Segundo Flexor, a atuação de empresas transnacionais na indústria brasileira de 
alimentos não é algo recente, ainda que se tratasse de uma participação tímida, abaixo 
da média nacional de participação de empresas estrangeiras. Este panorama muda e já 
entre 1980 e 1995, a indústria de alimentos começou a atrair mais investimentos 
estrangeiros que os bancos ou a indústria farmacêutica, o que reconfigurou o perfil do 
setor (FLEXOR, 2006: 76-77). 
Neste período, as dinâmicas globais de demandas em transição e a aceitação da 
premissa neoliberal, de liberalização dos mercados regionais a caminho de um mercado 
global, levaram a uma crescente presença dessas corporações em diversas etapas das 
redes produtivas alimentares, a partir da década de 1990. Uma forte pressão se faz sentir 
em setores como sementes, fertilizantes e agroquímicos, principalmente a partir dos 
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avanços da biotecnologia. A flexibilização passou a se constituir como princípio 
orientador do processo de reestruturação e de reorganização das atividades produtivas e 
da estrutura administrativa das empresas do setor. A inserção dessas corporações se deu 
tanto horizontalmente, como verticalmente, gerando concentração de mercado e 
privilegiada posição de poder econômico estratégico (WILKINSON, 2009: 39). 
Amin (2013) ressalta que a Rodada de Doha, em 2001, da Organização Mundial 
do Comércio (OMC) decidiu que a produção agrícola constituía-se de bens como outros 
quaisquer e, nesse sentido, caberia aplicar a este setor as diversas regras de competição 
já utilizada no âmbito da organização. Segundo ele, a medida teve consequência no 
avanço do padrão da agro-indústria capitalista, originário em países do Norte Global, 
sob formas tradicionais de agricultura, como a agricultura familiar. 
Para Wesz Júnior (2011), há pelo menos três grandes movimentos ao longo dos 
últimos 15 anos no âmbito da agricultura, dos quais, destacamos aqui um forte processo 
de concentração econômico-produtiva, vinculado à desnacionalização do capital que 
atua nesse ramo. Flexor (2006) também afirma que desde meados da década de 1990, e 
principalmente a partir dos anos 2000, o processo de inserção global do sistema 
agroalimentar tem alcançado novos patamares, tanto quantitativa como 
qualitativamente. Segundo o autor, desde meados dos anos 1990 há um aumento tanto 
no valor das exportações agrícolas como na participação de grandes empresas 
transnacionais nos mercados de alimentos, assim como no setor de distribuição, onde 
até então havia o predomínio do capital nacional (FLEXOR, 2006 p.64). Presenciamos 
nesta década, enfim, a reorganização interna de empresas, bem como a especialização e 
flexibilização (ARACI, 2005, p.35). 
 
“Se os processos econômicos e políticos que sustentam a liberalização 
do comércio incentivam o crescimento dos fluxos internacionais de 
produtos agrícolas, pesquisadores têm sublinhado que os jogadores 
mais ativos nessa fase de reestruturação das regras do jogo global são 
as firmas transnacionais da indústria de alimentos e do varejo” 
(FLEXOR, p.65-66). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Região ADM Bunge Cargill Dreyfus 
América do Sul 4 6 8 7 
América Central e Caribe 7 1 5 1 
América do Norte 3 3 3 3 
África 3 7 9 15 
Ásia-Pacífico 7 10 17 10 
Europa 9 14 22 12 
TOTAL 33 41 64 48 
Tabela 2: Número de países com presença das corporações, por região do mundo. 
Fonte: ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus11 
 
No Brasil e no setor da soja, nosso objeto de análise,é possível identificar 
mudanças a partir das transformações acima constatadas. Com a adesão de um forte 
pacote técnico, a soja produzida na região estudada é bastante competitiva em termos de 
mercados mundiais. Este fator amplia a inserção desta região nos processos globais o 
que também traz novas reestruturações e dinâmicas para as redes produtivas 
(BERNARDES, 2007). 
“A major poultry complex emerged in Brazil in the 1980s (...). All 
this was to change in the deregulated climate of the 1990s, with national 
firms being displaced by transnationals, particularly in the soy complex. 
Ceval was bought by Bunge, and Perdigão, along with Sadia, retreated 
from the soy sector, the latter selling its operations to Arched Daniels 
Midland (ADM, marking this company’s entry into Brazil). Some 
regional players have survived, and a new group around the now State 
Governor of Mato Grosso, Blairo Borges Maggi, has established a firm 
position in the expansion of soy in the north of the country. The majority 
of the country´s soy crushing and trade, however, is now in the hands of 
the four leading global players – Bunge, Cargill, ADM, and Dreyfus. 
Crucial to their dominance has been the control of these groups over 
fertilizer supplies, both in Brazil and globally, a key input for grain and 
oil seed production. Decisive, too, has been their access to financing at a 
time when public credit was in retreat. (...) This transnational takeover of 
large portions of the soy complex has been complemented and accelerated 
by radical changes in the control and sale of seeds.” (WILKINSON, 2009: 
4). 
 
Segundo Wesz Júnior, o setor da soja, que apresentou nos últimos 25 anos grande 
crescimento de produção e de capacidade de esmagamento, passa a ser liderado por 
grupos empresariais pertencentes ao capital internacional, a partir de um processo de 
concentração de poder, pela aquisição de plantas industriais, outrora nacionais. O autor 
destaca o papel de quatro grupos empresariais de origem estrangeira, no processo de 
avanço da fronteira agrícola da soja. Soma-se a isso, constatação referente à queda no 
 
11
 ADM: http://www.adm.com/pt-BR/worldwide/brazil/Paginas/default.aspx; BUNGE: 
http://www.bunge.com.br/; CARGILL: http://www.cargill.com.br/pt/sobre-cargill-brasil/index.jsp; 
DREYFUS: http://www.ldcom.com.br/default.aspx. 
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percentual de esmagamento realizado no Brasil. Entre 1996 e 2006, o processamento do 
grão apresentou uma queda de 24% para 19% (WESZ, 2011: 34). 
Ao longo da década de 1990, firmas nacionais do setor dac soja foram 
compradas por corporações transnacionais: empresas como Bunge e ADM compraram 
importantes corporações nacionais do ramo
12
. Até o ano de 1996, a produção de 
sementes no Brasil apresentava uma base nacional, privada e pública. Pouco a pouco, 
porém, o setor privado foi tomando o controle dessa produção pelas gigantes 
corporações do setor da biotecnologia. Além do interesse das transnacionais, devemos 
levar em conta também que, devido à liberalização, as empresas nacionais, de forma a 
se manterem competitivas, viam a necessidade de se incorporarem a esse bloco 
transnacional (WILKINSON, 2009: 41-42). 
No caso da Monsanto, a empresa comprou as produtoras nacionais, FT Sementes 
e Monsoy em 1996, e, posteriormente, a Terrazawa. A Monsanto também é proprietária, 
ou parcialmente proprietária, de companhias transnacionais que operam no Brasil, tais 
como a Cargill e a Asgrow (especificamente em relação à soja). A Du Pont, por sua vez, 
ao entrar no mercado brasileiro, assumiu o controle da empresa Sementes Dois Marcos. 
Já a AgrEvo adquiriu as companhias Sementes Ribeiral e Sementes Fartura (BELL, 
1999). 
No outro lado do processo produtivo, as mesmas empresas ADM, Bunge e 
Cargill foram garantindo o monopólio do processamento da soja (farelo e óleo) na 
Europa. Elas são as responsáveis pelo abastecimento da lucrativa indústria de ração para 
animais com ingrediente barato e com alto teor de proteínas, atendendo à crescente 
demanda por leite, ração animal e carne (GREENPEACE, 2006: 8). 
O mercado global de commodities tem uma influência ímpar na produção de soja 
no Brasil. Até o início dos anos 1980, os Estados Unidos eram responsáveis pela 
exportação de mais de 90% do produto. Todavia, a produção do grão foi se expandindo 
ao longo da década na América Latina, sob forte influência de empresas multinacionais, 
como a ADM e a Cargill. O crescimento da produção de soja na América Latina reduziu 
os preços do grão no mercado internacional e muitos produtores norte-americanos 
converteram sua produção de soja para outras culturas. Finalmente, em 2003, Brasil e 
Argentina, juntos, ultrapassaram as exportações norte-americanas. 
 
12 Em 1997, a Bunge adquiriu a Ceval Alimentos, líder no processamento de soja e produção de farelo. 
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Percebe-se assim que, juntamente com os grandes produtores, as maiores traders 
da commodity no mundo são atores relevantes no processo de expansão da soja no 
Brasil: ADM, Bunge e Cargill, e algumas empresas nacionais, como o Grupo Maggi, 
dos quais o ex-governador do Mato Grosso e atual Senador Blairo Maggi faz parte. 
Através de estímulos como crédito, sementes, agrotóxicos e a construção de 
infraestrutura para exportação (como portos), essas empresas vem contribuindo para a 
intensificação da produção agrícola brasileira no modelo do agronegócio e, 
consequentemente, para a expansão da fronteira agrícola da soja para os biomas Cerrado 
e Amazônia (GREENPEACE, 2006: 13). 
Vale ressaltar que essas traders também controlam outros segmentos da cadeia 
alimentar. Ou seja, na prática, este sistema de produção caracterizado pelo controle de 
diversos segmentos da cadeia produtiva apresenta características de um sistema de 
monopólio (tal como Harvey sugere, os processos de acumulação do capital tendem ao 
monopólio na busca de maior rentabilidade). Elas dominam o setor financeiro em 
diversas etapas, tais como: compra de sementes, de produtos químicos e de 
equipamentos e também são responsáveis pelo armazenamento, distribuição e transporte 
dos produtos (Ibid.: 104). 
Para Frederico, as tradings desempenham um papel ímpar no processo de 
organização desses novos territórios na medida em que são responsáveis por garantir 
uma série de arranjos logísticos necessários para o escoamento dos grãos, assim como 
fornecer o crédito para os produtores. Segundo o autor, os primeiros sistemas técnicos 
estabelecidos são os silos que garantem o armazenamento e tratamentos dos grãos, bem 
como os escritórios que fornecem crédito e fazem as transações para exportação da 
produção e importação de insumos (FREDERICO, 2010: 52). Bunge e ADM foram as 
primeiras empresas a acessar a informatização do armazenamento, algo que tem sido 
fundamental na redução de perdas em decorrência de fungos (ARACI, 2005: 34). A 
atuação dessas empresas ocupou lacunas deixadas pela diminuição da atuação do estado 
(ARACI, 2005: 39). 
Segundo dados de 2005, o mercado da soja no Brasil é concentrado nas mãos de 
sete grandes empresas processadoras/exportadoras, indicando um grande monopólio nas 
redes de mercadoria do sistema mundializado. Cerca de 70% do total exportado no 
Brasil estava concentrado em sete empresas, das quais se destacam,no Brasil, o 
protagonismo de quatro corporações: Archer Daniels Midland Company (ADM), 
Bunge, Cargill e Louis Dreyfus (FREDERICO, 2010). 
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ADM, Bunge e Cargill, juntas, são responsáveis por cerca de 60% do 
financiamento da produção de soja no Brasil e controlam quase 80% da capacidade de 
processamento do grão em farelo e óleo na Europa. Na safra 2005/2006, elas 
financiaram produtores num valor cerca de R$30 bilhões (GREENPEACE, 2006: 5-17), 
negociaram cerca de 60% das exportações do grão, óleo e farelo de soja e esmagaram 
60% dos grãos voltados para o consumo interno (SCHLESINGER & NORONHA, 
2006: 104). 
 
 Volume (milhões de t) Valor (R$ milhões) Market-Share 
Cliente Soja Farelo Total Soja Farelo Total Part. Acum 
Bunge 3,5 5,0 8,5 2.959 3.653 6.613 22% 22% 
Cargill 4,5 1,8 6,3 3.805 1.315 5.120 17% 39% 
ADM 3,0 1,8 4,8 2.537 1.315 3.852 13% 52% 
Dreyfuss 1,3 1,8 3,0 1.099 1.242 2.341 8% 60% 
Maggi 1,1 0,8 1,9 930 585 1.515 5% 65% 
Caramuru 0,7 0,7 1,4 592 511 1.103 4% 69% 
Multigrain 0,9 0,0 0,9 761 0 761 3% 71% 
Outras 6,0 4,7 10,7 5.073 3.434 8.507 29% 100% 
Total 21,0 16,5 37,5 17.756 12.056 29.812 100% 
Tabela 3 – Concentração de Exportações (FREDERICO, 2010). 
 
Em agosto de 2012, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do 
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, demonstraram que, das 
10 principais exportadoras do país em julho, cinco eram empresas diretamente ligadas 
ao agronegócio. Bunge, a líder entre as exportadoras do agronegócio, apresentava 
vendas ao exterior de US$ 654,4 milhões no mês, só perdeu lugar para a Vale (US$ 2,4 
bilhões) e Petrobrás (US$ 1,8 bilhão). Em sequencia à Bunge, estavam a ADM do 
Brasil (US$ 533 milhões) e Cargill Agrícola (US$ 466,4 milhões). Por fim, em sétimo 
lugar ficou a Louis Dreyfus Commodities (que exportou US$ 357,4 milhões)
13
. 
Bernardes ressalta que junto à terceirização dos serviços agrícolas, tais grupos 
transnacionais controlam também a concessão de crédito para produtores e compra e 
 
13 Valor Econômico: Cinco das dez maiores exportadoras do país são de agronegócio. Disponível em < 
http://www.valor.com.br/empresas/2793864/cinco-das-dez-maiores-exportadoras-do-pais-sao-de-
agronegocios>. Acesso em 12 jul 2013, 2012 
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armazenamento da produção, o que leva à concentração de capital, poder e hegemonia 
(BERNARDES, 2006: 28). No campo do financiamento, grandes agroindústrias e 
tradings mundiais foram progressivamente ocupando o espaço estatal, a partir da década 
de 1990, a partir do financiamento de produções agrícolas mais lucrativas e com 
grandes nichos de mercado, como o caso da soja (FREDERICO, 2010: 35). Percebe-se, 
assim, que essas empresas vêm contribuindo para a intensificação da produção agrícola 
brasileira e, consequentemente, para a expansão da fronteira agrícola da soja no bioma 
cerrado e em direção à Amazônia. 
A BR-163 no eixo de ação das corporações 
 
Segundo Bernardes, o eixo da BR-163 compreende uma das regiões mais 
importantes da região amazônica. A instalação da rodovia, um polêmico projeto que 
corta a Amazônia ao meio, levou e ainda tem levado a uma nova estruturação do 
espaço, escoando a soja produzida na região para outras partes do mundo. Para a autora, 
falar de fronteira no contexto da agricultura moderna na BR-163 é falar de uma 
economia globalizada e de uma nova racionalidade econômica (BERNARDES, 2006: 
14-16). 
A criação de projetos de colonização privada na região do entorno da BR-163, a 
partir dos anos 1980, intensificou a migração de agricultores do sul do país, aumentando 
consideravelmente o volume de produção e dos negócios da região. Na ocasião, os 
agricultores já dispunham da existência da variedade de soja “cristalina” e dos 
programas de pesquisa e desenvolvimento voltados para a região do cerrado. O novo 
padrão de produção calcado na técnica gerou fortes mudanças na magnitude da 
produção e nos níveis de produtividade (BERNARDES, 2007). Bernardes ressalta que o 
corredor de exportação Cuiabá-Santarém foi tarefa de abertura da fronteira nos anos 
1970, porém, a atual expansão da fronteira agrícola moderna tem levado a um rápido 
asfaltamento nas principais estradas vicinais (BERNARDES, 2006: 18). As tradings 
Cargill, Bunge e ADM e foram parceiras no financiamento do projeto para 
pavimentação do restante da estrada que leva ao porto em Santarém (GREENPEACE, 
2006). 
Dos 37 municípios sob influência da BR-163, destacam-se três áreas distintas, 
uma área já consolidada de soja que vai desde o município de Nova Mutum até Sorriso 
e uma fronteira ainda em expansão, a partir do município de Sinop, envolvendo demais 
municípios como Vera, Cláudia, Santa Carmem e Feliz Natal. Em direção ao Norte, 
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onde temos uma região Pré-Amazônia há ainda uma área reserva da expansão da 
fronteira agrícola moderna (BERNARDES, 2006: 18-19). 
A chegada dessas verticalidades trouxe consigo uma nova racionalidade técnica 
para o uso de gestão desse território (FREDERICO, 2010: 53). Segundo Bernardes, a 
nova fase de expansão territorial do capital no contexto da agricultura moderna no 
estado do Mato Grosso difere-se da constituição da fronteira do capital na década de 
1970 e 1980. A atual fronteira se dá a partir de relações de mercado para além dos 
limites do território já incorporado e consolidado. Mesmo aqueles produtores mais 
capitalizados que possuem condições de adquirir os novos pacotes técnicos e as 
“inovações tecnológicas”, se tornam cada vez mais condicionados à ação e decisão das 
grandes corporações, que ainda contam com a cooperação do Estado (BERNARDES, 
2006: 34-36). 
As grandes empresas e produtores, em cooperação com o Estado, são assim atores 
chave no processo de difusão de uma nova temporalidade no cerrado brasileiro e, nesse 
sentido, tendem igualmente a ser as principais beneficiadas pelas possibilidades que 
emergem dessa nova racionalidade técnica oferecida pelos novos objetos. A circulação e 
os circuitos produtivos passam a ter uma importância estratégica e estruturante da 
produção agrícola. É pelo domínio dos fluxos materiais (grãos, insumos e pessoas) e 
imateriais (informação, capital e ordens) que esses atores regulam de forma seletiva e 
privilegiada os circuitos espaciais produtivos (FREDERICO, 2010: 19). 
Um exemplo emblemático referente ao papel das corporações na garantia de 
arranjos logísticos para a setor da soja é a construção pela exportadora Cargill, em 2000, 
de um terminar de grãos do porto de Santarém, onde se instalara em 1999. Fundada em 
1865, nos Estados Unidos, a Cargill iniciou suas atividades no Brasil em 1965 como 
uma das mais importantes indústrias de alimentos do país. Atualmente, possui unidades 
industriais, armazéns, escritórios e terminais portuários, marcando presença em 181 
municípios brasileiros (CARGILL, 2012; OLIVEIRA, 2005). 
A construção do terminal e a perspectiva de pavimentação da BR-163 no trecho 
paraense levou um número relativo de produtores a se instalarem na cidade e em 
municípios vizinhos. Porém, sua construção foi alvo de crítica de movimentos sociais
14
 
e ambientalistas. Segundo o Greenpeace (2012), tratou-sede um processo “repleto de 
 
14 Porto da Cargill em Santarém é repudiado por movimentos sociais. Disponível em 
http://amazonia.org.br/2012/07/porto-da-cargill-em-santar%C3%A9m-%C3%A9-repudiado-por-
movimentos-sociais/. Acesso em 12 jul 2013. 
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irregularidades e falta de transparência”. O empreendimento começou a operar 
regularmente desde 2003, mesmo sem o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental. A 
conquista da licença ambiental definitiva do porto foi apenas em 2012, todavia, o porto 
continuava sub júdice na justiça federal e houve denuncia de que os relatórios de 
impacto ambiental do empreendimento eram fraudulentos. A presença do terminar da 
Cargill nos ajuda a compreender a posição de destaque que passou a ter o município de 
Santarém, que se tornou o melhor localizado da região para a atividade exportadora, 
levando à redução nos custos com transporte (SCHLESINGER, NORONHA, 2006). 
Outra corporação presente na região da BR-163 é a Bunge. Principal exportadora 
do país no ramo do agronegócio, a trading fundada em 1918 teve seu primeiro moinho 
brasileiro no início do século XX (FLEXOR, 2006). Atualmente, a empresa possui mais 
de 150 unidades nacionais, dentre fabricas, moinhos e usinas, centros de distribuição, 
silos e instalações portuárias. Com investimento de R$ 150 milhões, a trading inaugurou 
em 2009 uma fábrica no município de Nova Mutum, destinada ao processamento de 
soja, voltado tanto para o mercado externo como interno, que dispõe de um silo para 
armazenagem de 100 mil toneladas de grãos. A capacidade anual estimada da planta de 
processamento é de 1,3 milhão de toneladas de soja, a segunda maior planta da 
companhia
15
. 
Em 1942, o grupo Louis-Dreyfus adquiriu a empresa brasileira Coinbra e a partir 
da década de 1970 deu início ao processamento de soja. Atualmente, está presente em 
quase todas as regiões produtores de soja no Brasil - em mais de 12 estados. Possui 
mais de 60 unidades industriais logísticas e uma unidade de grãos e oleaginosas em 
Nova Mutum (OLIVEIRA, 2005). Por fim, uma das maiores exportadoras de soja do 
Brasil, Paraguai e Bolívia, a Archer Daniels Midland (ADM), iniciou suas operações no 
Brasil em 1997. Atualmente, possui unidades nos municípios de influência da BR-163, 
tais como Silos no município de Nova Mutum e Sorriso. 
 
 
 
 
 
15 Bunge investe R$150 milhões em moderna fábrica de soja. Disponível em< 
http://www.bunge.com.br/Imprensa/Noticia.aspx?id=169>. Acesso em 12 jul 2013. 
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Considerações finais: O papel das tradings para o avanço da fronteira agrícola 
(...) os interesses econômicos das minorias dominantes também trabalharam 
para escamotear o fenômeno da fome do panorama espiritual moderno. É que ao 
imperialismo econômico e ao comércio internacional a serviço do mesmo interessava 
que a produção, a distribuição e o consumo dos produtos alimentares continuassem a 
se processar indefinidamente como fenômenos exclusivamente econômicos (...) e não 
como fatos intimamente ligados aos interesses da saúde pública. 
Josué de Castro, em 1946, no prefácio do autor na primeira edição do livro 
Geografia da Fome 
 
A área de influência da BR-163 a partir de sua forte relação com as redes 
internacionais do sistema agroalimentar pode ser compreendida enquanto um lugar que 
exerce “uma função que lhes é atribuída por uma nova ordem fundada na lógica da 
acumulação de capital” (BERNARDES, 2007). A divisão do espaço, enquanto 
fundamento do desenvolvimento capitalista leva à expansão da divisão espacial do 
trabalho e da produção e, consequentemente, de um novo modelo de acumulação e 
territorialização do capital. 
A mobilidade e a territorialização do capital se dão a partir da abertura de novos 
territórios à produção. Essa expansão tem aporte na estratégia de atores e tende a ter 
como característica a geração ou o acirramento de conflitos, sejam em relação às novas 
formas de trabalho, ou em termos de tentativas de expropriação de grupos tradicionais 
locais. O projeto de desenvolvimento adotado para o cerrado brasileiro vai ao encontro 
das características acima. Articulado inicialmente pelo Estado e atualmente contando 
com um forte papel de corporações transnacionais, o projeto levou e tem levado à 
expansão do capital e à expansão da fronteira agrícola, baseado em uma intensa 
apropriação dos recursos naturais. A consolidação de um projeto técnico-científico 
informacional no âmbito da agricultura tem contado com a participação destacada das 
empresas mundiais de grãos, responsáveis pelo financiamento, armazenamento, e 
transporte da produção e novas alianças entre o Estado e as tradings. 
O setor do agronegócio da soja tem se mostrado como uma grande oportunidade 
para essas corporações e é importante avaliar seus processos territoriais à luz de 
dinâmicas percebidas em escala mundial. Em meio à recente crise financeira global de 
2008, a queda do dólar e a crise no setor imobiliário norte-americano levaram muitos 
players do mercado a aplicarem seus ativos financeiros em commodities agrícolas, que 
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se tornaram uma opção atrativa para a maximização de lucros. Muitos fundos têm usado 
as bolsas de mercadorias para especular com a antecipação da compra de safras futuras 
em busca de melhor rentabilidade. 
Ao mesmo tempo em que a crise se desenrolava, grandes corporações que 
trabalham em nichos da produção agrícola apresentaram lucros exorbitantes. A 
organização GRAIN, divulgou na ocasião um estudo que apresentava os lucros 
auferidos por grandes empresas de grãos. Segundo a organização, todas as grandes 
empresas que trabalham com grãos e fertilizantes têm aumentado seus lucros. 
Empresa Lucros em 2007 
(milhões de US$ 
Aumento, em comparação 
com 2006 (%) 
Cargill (EUA) 2.340 36% 
ADM (EUA) 2.200 67% 
ConAgra (EUA) 764 30% 
Bunge (EUA) 738 49% 
Noble Group (Singapura) 258 92% 
Marubeni (Japão) 90 43% 
Tabela 4: Aumento dos ganhos das maiores corporações corporações mundiais de grãos (GRAIN, 2008) 
 
Para Bernardes (2006), mais do que um resultado da modernização, a divisão 
territorial do trabalho é projetada pela modernização, pois é parte necessária deste 
projeto. No Brasil, essas empresas têm contribuído, a partir da implantação e controle 
dos novos sistemas técnicos, para criação de uma nova temporalidade, que lhes 
possibilita uma ação hegemônica sobre os demais agentes. Faz-se relevante entender o 
jogo das grandes tradings do setor para uma compreensão aprofundada dos processos 
correntes de organização do território e das futuras tendências da fronteira da agricultura 
moderna e conservadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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