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Dialética do Abstrato em MARX

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30/11/2016 3. A Definição do Concreto em Marx
https://www.marxists.org/portugues/ilyenkov/1960/dialetica/03.htm#tr1 1/7
MIA > Biblioteca > Ilyenkov > Novidades
<<< Índice
A Dialética do Abstrato e do Concreto em O
Capital de Karl Marx
Capítulo 1. A Concepção Dialética e Metafísica
do Concreto
Evald Vasilievich Ilienkov
3. A Definição do Concreto em Marx
Marx  define  o  concreto  como  “a  unidade da  diversidade”(1).  Essa  definição
pode  parecer  paradoxal  a  partir  da  perspectiva  da  lógica  formal  tradicional:  a
redução  da  diversidade  sensorialmente  determinada  na  unidade  aparece,  à
primeira vista, sendo a tarefa do conhecimento abstrato das coisas, ao invés do
conhecimento concreto. Do ponto de vista dessa lógica, para perceber a unidade
na  diversidade  sensorialmente  percebida  dos  fenômenos  significa  revelar  os
elementos  abstratamente  idênticos,  gerais,  que  todos  esses  fenômenos
possuem. Essa unidade abstrata, gravada na consciência por meio de um termo
geral, parece ser, à primeira vista, aquela mesma “unidade” que é a única coisa
a ser tratada na lógica.
De  fato,  se  se  interpretar  a  transição  da  contemplação  e  noção  viva  do
conceito, a partir do estágio sensorial do conhecimento para o racional, somente
como  redução  da  diversidade  sensorialmente  determinada  para  a  unidade
abstrata, a definição de Marx certamente irá parecer dificilmente justificável em
termos “lógicos”.
A grande questão é, entretanto, que as opiniões de Marx  são  baseadas  na
concepção do pensamento,  seus objetivos e  tarefas, muito diferentes daquelas
sobre as quais a velha lógica, não­dialética construiu sua teoria. Isso é refletido
não  somente  na  substância  da  solução  de  problemas  lógicos,  mas  na
terminologia também. E isso é inevitável:
“Cada  novo  aspecto  de  uma  ciência  implica  uma  revolução  de  seus
termos técnicos.”(2)
Quando Marx  define  o  concreto  como  unidade  da  diversidade,  ele  assume
uma  interpretação  dialética  de  unidade,  diversidade  e  de  sua  relação.  Na
dialética,  unidade  é  interpretada  em  primeiro  lugar  como  conexão,  como
interconexão  e  interação  de  diferentes  fenômenos  dentro  de  certo  sistema  ou
aglomeração, e não como semelhança abstrata desses fenômenos. A definição de
Marx assume exatamente esse significado dialético do termo “unidade”.
30/11/2016 3. A Definição do Concreto em Marx
https://www.marxists.org/portugues/ilyenkov/1960/dialetica/03.htm#tr1 2/7
Se  se  desvela  um  pouco  a  fórmula  aforisticamente  lacônica  de  Marx,  sua
definição  do  concreto  significa  literalmente  o  seguinte:  o  concreto,
concreticidade, é, primeiros de  tudo, sinônimo dos elos  reais entre  fenômenos,
de concatenação e  interação de todos os aspectos e momentos do objeto dado
ao  homem  em  contemplação  e  em  noção.  O  concreto  é,  desse  modo,
interpretado  como  uma  totalidade  internamente  dividida  das  várias  formas  de
existência do objeto, uma combinação única do que é característico apenas do
objeto dado. Unidade assim concebida é percebida não através da similaridade
dos fenômenos um com o outro, mas, ao contrário, através de suas diferenças e
oposições.
Essa  concepção  de  unidade  da  diversidade  (ou  concreticidade)  não  é
meramente diferente da que a velha lógica procedia, e sim seu oposto direto. A
concepção  aproxima­se  do  conceito  de  integridade  ou  “totalidade”.  Marx  usa
esse  termo  naqueles  casos  em que  ele  precisa  caracterizar  o  objeto  como um
todo integral unificado em todas suas diversas manifestações, como um “sistema
orgânico”  de  fenômenos  mutuamente  condicionados  em  contradição  a  uma
concepção  metafísica  dele  como  um  aglomerado  mecânico  de  partes
constituintes imutáveis que são vinculados um ao outro somente externamente,
mais ou menos de forma acidental.
O  aspecto  mais  importante  da  definição  de  concreto  de  Marx  é  que  o
concreto é tratado, primeiro de tudo, como uma característica objetiva da coisa
considerada  bastante  independentemente  de  qualquer  evolução  que  possa  ter
ocorrido no assunto do conhecimento. O objeto é concreto por e “nele mesmo”,
independente  de  ser  concebido  pelo  pensamento  ou  percebido  pelos  órgãos
sensoriais.  Concreticidade  não  é  criada  no  processo  de  reflexo  do  objeto  pelo
sujeito, tanto no estágio sensorial do reflexo ou no estágio lógico­racional.
Em  outras  palavras,  “o  concreto”  é,  primeiro  de  tudo,  o  mesmo  tipo  de
categoria objetiva como qualquer outra categoria da dialética materialista, como
“o  necessário”  e  “o  acidental”,  “essência”  e  “aparência”.  Ele  expressa  a  forma
universal de desenvolvimento da natureza, sociedade e pensamento. No sistema
das opiniões de Marx, “o concreto” não é, de forma alguma, um sinônimo para o
contemplado imediatamente, sensorialmente determinado.
Na medida em que “o concreto” é oposto a “o abstrato”, o último é tratado
por Marx,  em  primeiro  lugar,  objetivamente.  Para  Marx,  ele  não  é,  de  forma
alguma, um sinônimo do “puramente ideal”, do produto da atividade mental, um
sinônimo do fenômeno subjetivamente psicológico ocorrendo somente no cérebro
do homem. Mais de uma vez Marx usa este termo para caracterizar fenômenos e
relações reais existindo fora da consciência, independentemente se são refletidos
na consciência ou não.
Por exemplo, Marx  fala em O Capital do trabalho abstrato. A abstraticidade
aparece aqui  como uma característica objetiva da  forma cujo  trabalho humano
assume na produção de mercadorias desenvolvida, na produção capitalista. Em
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https://www.marxists.org/portugues/ilyenkov/1960/dialetica/03.htm#tr1 3/7
outro  lugar  ele  enfatiza  que  a  redução  de  diferentes  tipos  de  trabalho  a  um
trabalho uniforme simples desprovido de quaisquer distinções
“é  uma  abstração  que  se  faz  diariamente  no  processo  da  produção
social; não é uma abstração maior nem menos real que a redução a ar
de todos os corpos orgânicos”(3).
A  definição  de  ouro  como  o  ser  material  da  riqueza  abstrata  também
expressa  sua  função específica no organismo da  formação  capitalista e não na
consciência do teórico ou trabalhador prático, de forma alguma.
Esse uso do termo “abstrato” não é um capricho terminológico de Marx: está
vinculado com a própria essência de suas opiniões  lógicas, com a  interpretação
dialética da relação das formas de pensamento e aquelas da realidade objetiva,
com o ponto de vista da prática (atividade sensorial envolvendo objetos) como
um critério da verdade das abstrações do pensamento.
Esse  uso  pode  ser  explicado  ainda  menos  como  “um  retrocesso  ao
hegelianismo”:  é  contra Hegel  que  a  proposição  de Marx  é  direcionada  para  o
efeito que
“a categoria econômica mais simples, o valor de troca [...] só pode pois
existir  sob  a  forma  de  relação  unilateral  e  abstrata  de  um  todo
concreto, vivo, já dado”(4).
“O  abstrato”  nesse  tipo  de  contexto, muito  frequente  em Marx,  assume  o
significado  do  “simples”,  pouco  desenvolvido,  unilateral,  fragmentado,  “puro”
(isto é, sem a complicação de qualquer deficiência deformadora). Não é preciso
dizer  que  “o  abstrato”  neste  sentido  pode  ser  uma  característica  objetiva  dos
fenômenos reais, e não somente dos fenômenos da consciência.
“O estado de pureza (determinação abstrata) em que apareceram no mundo
antigo  os  povos  comerciantes  –  fenícios,  cartagineses  –  é  determinado  pela
própria  predominância  dos  povos  agricultores”(5);  não  era,  naturalmente,  o
resultado da predominância do “poder abstrato do pensamento” dos fenícios ou
dos estudiosos escrevendo a história da Fenícia. “O abstrato” neste sentido não
é, de  forma alguma, oproduto e  resultado do pensamento. Esse  fato é só um
pouco dependente do pensamento  como a  circunstância  que  “a  lei  abstrata de
multiplicação existe somente para plantas e animais”.
De  acordo  com  Marx,  “o  abstrato”  (assim  como  seu  equivalente,  “o
concreto”) é uma categoria da dialética como a ciência das formas universais de
desenvolvimento  da  natureza,  sociedade  e  pensamento,  e  nesta  base  também
uma categoria da lógica, pois dialética é também a Lógica do Marxismo.
Esta  interpretação  objetiva  da  categoria  do  abstrato  é  direcionada  contra
todos  os  tipos  da  lógica  e  epistemologia  neokantiana  que  opõem,  de  forma
grosseiramente metafísica, “formas puras de pensamento” a formas da realidade
objetiva.  Para  essas  escolas  da  lógica,  “o  abstrato”  é  somente  uma  forma  do
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pensamento, enquanto “o concreto”, uma forma de uma imagem sensorialmente
determinada.  Esta  interpretação,  nas  tradições  mill­humeana  e  kantiana  da
lógica (por exemplo, Tchelpanov e Vvedensky na Rússia), é estranha e hostil a
própria essência da dialética como lógica e teoria do conhecimento.
A  interpretação  epistemológica  limitada  (isto  é,  essencialmente psicológica,
em última análise) da categoria do abstrato e do concreto se torna firmemente
enraizada  na  filosofia  burguesa  moderna.  Aqui  está  um  exemplo  recente  –
definições do Dicionário Filosófico, por Max Apel e Peter Ludz:
abstrato:  divorciado  de  uma  conexão  determinada  e  considerado
somente  por  si  mesmo.  Assim,  abstrato  adquire  o  significado
conceitual, concebido, em oposição ao dado em contemplação.
abstração:  o  processo  lógico  de  ascender,  através  da  omissão  das
características, do dado em contemplação à noção geral e do conceito
dado  a  um  conceito  mais  geral.  Abstração  diminui  o  conteúdo  e
estende o volume. Oposto à determinação.
concreto: o imediatamente dado em contemplação; conceitos concretos
denotam  o  que  é  contemplado,  objetos  individuais  de  contemplação.
Oposto à abstração.(6)
Esta definição unilateral (abstração é, naturalmente, separação mental, entre
outras  coisas,  mas  de  maneira  alguma  pode  ser  reduzida  a  isto)  varia
insignificantemente  de  dicionário  a  dicionário.  Tem  sido  polida  em  dúzias  de
edições  e  tem  se  tornado  geralmente  aceita  entre  filósofos  nos  países
capitalistas. Isto certamente não é prova de sua exatidão.
Um  “conceito  concreto”  é  reduzido  por  estas  definições  para  “designar”  as
coisas  individuais  sensorialmente  contempladas,  a um mero  signo, ou  símbolo.
Em  outras  palavras,  “o  concreto”  só  está  nominalmente  presente  no
pensamento, somente na capacidade do “nome que designa”. Por outro lado, “o
concreto” é transformado em um sinônimo de “naturalidade sensorial” indefinida
e  sem  interpretação.  Nem  o  concreto,  nem  o  abstrato  podem,  de  acordo  com
essas definições, ser usados como características do conhecimento teórico em se
considerando seu conteúdo objetivo real. Eles caracterizam somente a “forma do
conhecimento”: “o concreto”, a forma do conhecimento sensorial, e “o abstrato”,
a forma do pensamento, a forma do conhecimento racional. Em outras palavras,
eles pertencem a diferentes esferas da psique, a diferentes objetos. Não existe
qualquer coisa abstrata onde existe algo concreto, e vice­versa. Isso é tudo que
existe para essas definições.
O problema da relação do abstrato com o concreto aparece em uma luz bem
diferente do ponto de vista de Marx, o ponto de vista da dialética como lógica e
teoria do conhecimento.
É  apenas  à  primeira  vista  que  essa  questão  pode  parecer  meramente
“epistemológica”, uma questão da  relação da abstração mental para a  imagem
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sensorialmente percebida. Na verdade, seu conteúdo real é muito mais amplo e
profundo  do  que  isso,  e  é  inevitavelmente  suplantado  por  um  problema  bem
diferente ao longo da análise – o problema da relação do objeto consigo mesmo,
isto é, a relação entre elementos diferentes da realidade objetiva dentro de certo
todo concreto. É por  isso que o problema é resolvido, primeiro de tudo, dentro
da  estrutura  da  dialética  objetiva  –  o  ensino  das  formas  universais  e  leis  do
desenvolvimento da natureza,  sociedade e próprio pensamento e não no plano
epistemológico limitado, como neokantianos e positivistas fazem.
Na medida  em  que  Marx  trata  o  aspecto  epistemológico  do  problema,  ele
interpreta o abstrato como qualquer reflexo assimétrico, incompleto e unilateral
do objeto na consciência, como oposto ao conhecimento concreto que está bem
desenvolvido, completo, conhecimento global. Não importa, de maneira alguma,
em qual  forma psicológica subjetiva este conhecimento é “experimentado” pelo
sujeito – em imagens sensorialmente percebidas ou em forma verbal abstrata. A
lógica (dialética) de Marx e Lenin estabelece suas distinções em consideração ao
sentido e significado objetivo do conhecimento, e não em consideração da forma
subjetiva  da  experiência.  Conhecimento  pobre,  escasso,  assimétrico  pode  ser
assimilado  na  forma  de  uma  imagem  sensorial.  Neste  caso,  a  lógica  terá  que
definir  isso  como  conhecimento  “abstrato”,  apesar  de  ter  sido  incorporado  em
uma imagem sensorialmente determinada. Ao contrário, a forma verbal abstrata,
a linguagem das fórmulas, pode expressar um conhecimento profundo e global,
bem desenvolvido, rico, isto é, conhecimento concreto.
“Concreticidade” não é nem um sinônimo para e nem um privilégio da forma
imagem­sensorial  do  reflexo  da  realidade  na  consciência,  somente  como
“abstraticidade” não é característica específica do conhecimento teórico racional.
Certamente  falamos,  na  maioria  das  vezes,  da  concreticidade  da  imagem
sensorial e do pensamento abstrato.
Uma  imagem  sensorial,  uma  imagem de  contemplação,  pode  ser  também,
com  a  mesma  frequência,  bastante  abstrata.  Suficiente  relembrar  a  figura
geométrica  ou  o  trabalho  da  pintura  abstrata.  E  vice­versa,  pensando  em
conceitos pode e até mesmo deve ser  concreto no sentido pleno e  rigoroso da
palavra. Sabemos que “não existe verdade abstrata”, que “a verdade é sempre
concreta”.  E  isso  não  significa,  de  forma  alguma,  que  somente  a  imagem
sensorialmente  percebida,  a  contemplação  de  uma  coisa  individual  pode  ser
verdadeira.
O concreto no pensamento também aparece, de acordo com a definição de
Marx, na  forma de combinação (síntese) de numerosas definições. Um sistema
logicamente  coerente  de  definições  é  precisamente  aquela  forma  “natural”  na
qual  a  verdade  concreta  é  realizada  no  pensamento.  Cada  uma das  definições
formando  parte  do  sistema  reflete  naturalmente  somente  uma  parte,  um
fragmento, um elemento, um aspecto da realidade concreta – e é por isso que é
abstrato  se  tomado  por  ele  mesmo,  separadamente  de  outras  definições.  Em
outras  palavras,  o  concreto  é  realizado  no  pensamento  através  do  abstrato,
através de seu próprio oposto, e é  impossível sem ele. Mas isso é, em geral, a
30/11/2016 3. A Definição do Concreto em Marx
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regra ao invés da exceção na dialética. Necessidade está somente no mesmo tipo
de relação com chance, essência com aparência, e assim por diante.
Por  outro  lado,  cada  uma  das  numerosas  definições  formando  parte  do
sistema conceitual de uma ciência concreta, perde sua abstratividade nele, sendo
preenchido com o sentido e significado de todas as outras definiçõesconectadas
com ele. Definições abstratas separadas se complementam mutuamente, assim a
abstraticidade  de  cada  um  deles,  tomados  separadamente,  é  superada.  Em
resumo,  aqui  reside  a  dialética  da  relação  do  abstrato  e  do  concreto  no
pensamento  que  reflete  o  concreto  na  realidade.  A  dialética  do  abstrato  e  do
concreto ao  longo do processamento teórico do material da contemplação viva,
processando os resultados da contemplação e noções em termos de conceitos é
o assunto de estudo do presente trabalho.
Naturalmente,  não  pretendemos  oferecer  uma  solução  exaustiva  para  o
problema  do  abstrato  e  do  concreto  em  todos  os  estágios  do  processo  de
conhecimento em geral, em todas as formas de reflexo. A formação da imagem
sensorialmente percebida da coisa envolve sua própria dialética do abstrato e do
concreto,  e  uma  bastante  complicada,  e  isso  é  ainda  mais  verdade  para  a
formação  da  noção  conectada  com  a  linguagem,  com  palavras.  Memória,  que
também  desempenha  um  papel  enorme  no  conhecimento,  contém  em  sua
estrutura  uma  relação  não  menos  complexa  do  abstrato  ao  concreto.  Estas
categorias  também  têm  uma  influência  na  criatividade  artística.  Somos
compelidos  a  deixar  de  lado  todos  esses  aspectos,  como  tema de  um especial
estudo.
O caminho do conhecimento que leva da contemplação viva ao pensamento
abstrato  e  dele  para  a  prática,  é  um  caminho  bastante  complicado.  Uma
transformação complexa e dialeticamente contraditória do concreto no abstrato e
vice­versa ocorre em cada elo desse caminho. Até mesmo a sensação nos dá um
retrato mais áspero da realidade do que realmente é, até mesmo na percepção
direta existe um elemento de transição do concreto na realidade ao abstrato na
consciência. A transição da contemplação viva ao pensamento abstrato não é, de
forma alguma, a mesma coisa que o movimento “do concreto ao abstrato”. Ela
não  é,  de  forma  alguma,  reduzível  a  este  momento,  embora  o  último  esteja
sempre presente nela. É a mesma coisa somente para aqueles que interpretam o
concreto como sinônimo de uma imagem sensorial imediata, e o abstrato, como
um sinônimo do mental, do ideal, do conceitual.
Início da página
Notas de rodapé:
(1)  Marx,  Karl.  Contribuição  à  Crítica  da  Economia  Política.  3.ed.  São  Paulo:  Martins  Fontes,
2003, p. 248. (retornar ao texto)
(2)  Marx,  Karl.  O  Capital:  Crítica  da  Economia  Política.  Livro  I:  O  Processo  de  Produção  do
Capital. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 102. (retornar ao texto)
30/11/2016 3. A Definição do Concreto em Marx
https://www.marxists.org/portugues/ilyenkov/1960/dialetica/03.htm#tr1 7/7
Inclusão 04/04/2014
(3)  Marx,  Karl.  Contribuição  à  Crítica  da  Economia  Política.  3.ed.  São  Paulo:  Martins  Fontes,
2003, p. 15. (retornar ao texto)
(4)  Marx,  Karl.  Contribuição  à  Crítica  da  Economia  Política.  3.ed.  São  Paulo:  Martins  Fontes,
2003, p. 248. (retornar ao texto)
(5)  Marx,  Karl.  Contribuição  à  Crítica  da  Economia  Política.  3.ed.  São  Paulo:  Martins  Fontes,
2003, p. 257. (retornar ao texto)
(6) APEL, Max; LUDZ, Peter. Philosophisches Wörterbuch [Dicionário Filosófico]. Berlin: Gruyter,
1958, S. 4­5, 162. (retornar ao texto)

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