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1 Definição do tipo de injusto culposo A culpa ocorre quando o agente não age com o dever de cuidado e a conduta produz um resultado não desejado, apesar de objetivamente previsível. A estrutura do tipo de injusto culposo é diferente da estrutura do tipo de injusto dolo- so. No tipo de injusto doloso, a punição é de uma conduta dirigida a um fim ilícito, en- quanto no injusto culposo, a punição é da conduta que foi mal dirigida, normalmente destinada a um fim irrelevante penalmente, e quase sempre lícito. O núcleo do tipo nos crimes culposos consiste na divergência entre a ação praticada e a que devia ter sido realizada, em razão da falta do dever de cuidado. Nos crimes culposos, o fim pretendido pelo autor é geralmente irrelevante, mas os meios escolhidos ou a forma de utilização desses meios não são. A tipicidade do crime culposo decorre da realização de uma conduta descuidada, que causa uma lesão ou um perigo concreto a um bem jurídico penalmente protegido. A falta do cuidado devido, a imprudência, a negligência ou a imperícia, tem natureza objetiva. Ou seja, no plano da tipicidade, cabe analisar apenas se o agente agiu com o cuidado necessário e exigível normalmente. No momento de a gente determinar se a conduta do autor se ajusta ao tipo de injusto culposo é preciso questionar se no momento da ação ou da omissão era possível pra qualquer pessoa no lugar do autor identificar o risco proibido e ajustar a conduta ao cuidado devido. Essa indagação deve ser analisada no plano da culpabilidade. Nada impede que uma conduta seja tipicamente culposa e não seja antijurídica. O agente pode realizar um conduta culposa típica, mas estar protegido por uma exclu- dente de antijuridicidade. Por exemplo. Um carro de bombeiros está a caminho de uma chamada e acaba atropelando um pedestre, involuntariamente, ferindo ele de forma grave. A culpabilidade nos crimes culposos tem a mesma estrutura da culpabilidade dos crimes dolosos: imputabilidade, consciência potencial da ilicitude e exigibilidade de comportamento conforme o Direito. A diferença entre elas está no grau de intensi- dade, ou seja, no crime doloso, o grau de reprovabilidade é muito superior ao de um crime culposo, que é menos grave. Assim como a tipicidade do crime culposo se define pela divergência entre a ação praticada e a que devia ter sido realizada, e a antijuridicidade pela ausência do cuida- do objetivo devido, a culpabilidade tem a previsibilidade subjetiva como um de seus pressupostos. Enquanto a previsibilidade objetiva constitui a tipicidade e a antijuridi- cidade da ação, a previsibilidade subjetiva constitui um elemento da reprovabilidade da ação típica e antijurídica. Tipo de injusto culposo Direito Penal I 2 Elementos do tipo de injusto culposo O injusto culposo tem uma estrutura completamente diferente do injusto doloso, não contendo o que a gente chama de tipo subjetivo, em razão da natureza norma- tiva da culpa. O tipo de injusto culposo apresenta os seguintes elementos constitutivos: A inobservância do cuidado objetivo devido. A produção de um resultado e nexo causal. A previsibilidade objetiva do resultado. A conexão interna entre desvalor da ação e desvalor do resultado. Inobservância do cuidado objetivo devido e princípio da confiança O dever objetivo de cuidado consiste em reconhecer o perigo pro bem jurídico tutela- do e em se preocupar com as possíveis consequências que uma conduta descuidada pode produzir nele. O essencial no tipo de injusto culposo não é a simples causação do resultado, mas sim a forma como a ação se realiza. Por isso, a observância do dever objetivo de cuidado, é o elemento fundamental do tipo de injusto culposo e análise desse dever é preliminar ao exame da culpa. A avaliação da inobservância do cuidado objetivo devido se dá a partir da compara- ção da direção finalista real, ou seja, a que se deu no mundo real, e a direção finalista exigida pra evitar a lesão do bem jurídico. Depois disso, é preciso pensar se a ação do agente correspondeu a esse comportamento adequado. Se o agente não agiu ade- quadamente, a conduta é reprovável. Produção de um resultado e nexo causal É indispensável que o resultado seja consequência da inobservância do cuidado devi- do, que a ausência de cuidado seja causa do resultado, ou de acordo com a teoria da imputação objetiva, que o resultado típico seja a realização do risco proibido criado pela conduta do autor. Quando o resultado for inevitável, ainda que o agente tome as medidas necessárias pra tentar evitar o resultado, a tipicidade é excluída. Previsibilidade objetiva do resultado O resultado deve ser objetivamente previsível. A previsibilidade objetiva é um juízo objetivo sobre a possibilidade de produzir um resultado típico, elaborado com base no conhecimento da perigosidade da conduta. Assim, quando o agente tem conhecimento da perigosidade da conduta, acredita que pode dominar o curso causal pra alcançar um fim lícito, mas não adota as medidas de cuidado objetivo adequadas pra isso, ele atua de maneira culposa, apesar de conhe- cer a previsibilidade objetiva do resultado. Nesse caso, ele agiu com culpa consciente. 3 Por outro lado, quando o agente não tem o conhecimento da perigosidade da condu- ta, apesar de ser possível chegar a essa conclusão se prestar o mínimo de atenção, e não toma as medidas de cuidado necessárias, o agente agiu com culpa inconsciente, ou seja, sem a previsibilidade subjetiva do resultado. A previsibilidade é um dado objetivo e por isso o fato de o agente não prever o dano ou o perigo da sua ação, quando é objetivamente previsível, não afasta a culpabilidade do agente, já que a culpa reside exatamente nessa falta de prever o que era previsível. Conexão interna entre desvalor da ação e desvalor do resultado O conteúdo do injusto no fato culposo é determinado pela coexistência do desvalor da ação e do desvalor do resultado. É indispensável a existência de uma conexão in- terna entre o desvalor da ação e o desvalor do resultado, isto é, que a falta de cuidado devido seja causa do resultado. No crime culposo, o desvalor da ação está representado pela inobservância do cuida- do objetivamente devido, e o desvalor do resultado, está representado pela lesão ou pelo perigo concreto de lesão pro bem jurídico. Nos crimes culposos, o desvalor da ação prepondera em comparação com o desvalor do resultado. Modalidades de culpa Imprudência A imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comis- sivo. É a imprevisão ativa. Assim uma conduta imprudente é aquela que se caracteri- za pela intempestividade, pela precipitação, pela insensatez ou pela imoderação do agente. É o caso do motorista, por exemplo, que dirige bêbado. Na imprudência ocorre uma visível falta de atenção. O agir descuidado não respeita o dever objetivo de cuidado que as circunstâncias exigem. Se o agente for mais atento, pode prever o resultado e assim não realizar a ação lesiva. Uma característica especial da imprudência é a concomitância da culpa e da ação, ou seja, elas são simultâneas. Negligência A negligência ocorre quando a pessoa age de forma displicente, quando não há pre- caução ou quando o agente se comporta de forma indiferente, podendo adotar as cautelas necessárias e não faz isso. É a imprevisão passiva, o desleixo, a falta de ação. É não fazer o que deveria ser feito antes da ação descuidada. 4 A negligência não é um fato psicológico, é um juízo de apreciação – fica comprovado que o agente tinha condições de prever as consequências da sua ação. O autor de um crime cometido por negligência não pensa na possibilidade do resultado, e a culpa inconsciente é mais adequada nesses casos. Diferente da imprudência, a negligência não ocorre junto com a ação, ela é anterior à ação, pois significa que o agente não tomou uma medida anterior ao ato descuidado. Imperícia A imperícia é a falta de capacidade, de aptidão, ou o despreparo oua insuficiência de conhecimentos técnicos pra exercício de uma arte, profissão ou ofício. A inabilidade pro desempenho de determinada atividade fora do campo profissional ou técnico tem sido considerada pela jurisprudência aqui no Brasil como imprudência ou negli- gência de acordo com o caso e não como imperícia. A imperícia não se confunde com erro profissional, que é um acidente desculpável, justificável e em regra imprevisível, e que não depende do uso correto de conheci- mentos. É um tipo de acidente que não decorre da má aplicação de regras e princí- pios recomendados, mas da imperfeição ou da precariedade dos conhecimentos, e, por isso, está no campo do imprevisível. É claro que isso não significa que existe um direito ao erro. Espécies de culpa Culpa consciente ou com representação A culpa consciente, culpa com representação ou com previsão, se dá quando o agente conhece a perigosidade da sua conduta, prevê a produção do resultado típico como possível, mas não age de forma diligente, porque acredita que o evento não vai acon- tecer. Ou seja, na culpa consciente o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzir o resultado, como acontece no dolo eventual. De acordo com a doutrina e com a jurisprudência, na culpa consciente, a conduta é mais censurável do que na culpa inconsciente, já que a culpa inconsciente é resultado de mera desatenção. Culpa inconsciente ou sem representação A culpa inconsciente está presente na ação sem previsão do resultado possível. Existe a possibilidade de previsibilidade, mas a previsão não acontece por descuido, desa- tenção ou mero desinteresse do autor da conduta. Ou seja, o agente atua sem se dar conta de que a sua conduta é perigosa, e de que ele não está tomando os cuidados necessários pra evitar a produção do resultado típico. A culpa inconsciente se caracteriza pela ausência absoluta de nexo psicológico entre o autor e o resultado da ação, que continua sendo punível desde que seja comprova- do que o agente era capaz de conhecer os riscos do seu comportamento. Nos casos nos quais o resultado é totalmente imprevisível, a gente está diante de um caso de caso fortuito ou força maior. 5 Nos casos de culpa inconsciente o próprio autor pode se colocar em risco. Como a gente já disse aqui antes, ele pode representar uma maior perigosidade social, por- que seu ato é imprevisível. Ele ignora o princípio da confiança que a gente mencionou antes também. Culpa imprópria ou culpa por assimilação A culpa imprópria é resultado de um erro vencível sobre a legitimidade da ação que foi realizada. Isso quer dizer que o agente prevê e quer atingir um resultado, mas a ilicitude desse resultado está contaminada por um erro, ou seja, a motivação nesse caso está baseada em erro. Nos casos de culpa imprópria, o agente, durante a elaboração do processo psicológi- co, valora mal uma situação - se vendo por exemplo diante de uma das excludentes de ilicitude do art. 23 do CP - ou os meios que vai utilizar e acaba caindo em erro cul- posamente, por falta de cuidado nessa avaliação. Depois, já no momento da ação em si, ele age dolosamente, finalisticamente, com o intuito de produzir o resultado que ele pretendia, mas tudo isso baseado em um erro evitável. Exemplo: O agente nota que seu desafeto, conhecido traficante da região, está cami- nhando em sua direção com uma das mãos escondida no bolso do caso. Confiante de que o traficante puxaria uma arma para matá-lo, atira primeiro, pensando estar em legítima defesa. Na realidade o traficante só estava tirando sua carteira do bolso O erro vencível pode ser chamado também de erro culposo. O erro culposo não pode ser confundido com crime culposo, mas isso a gente vai ver mais pra frente quando falar de erro. A vencibilidade do erro não afeta a estrutura típica do injusto, que continua sendo doloso ou culposo. Ela afeta a reprovabilidade da conduta. Assim, quando o erro é inevitável fica excluída a culpabilidade penal, e não a tipicidade nem a antijuridicida- de, como a gente vai ver mais pra frente. O artigo 20, §1º, do CP prevê que será isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima, e que não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. 6 Em primeiro lugar, é importante a gente entender que tanto no dolo eventual quanto na culpa consciente existe a previsão do resultado proibido. A diferença é que: No dolo eventual o agente assume o risco de produzir esse resultado. E na culpa consciente o agente tem certeza de que o resultado não vai acontecer. No dolo eventual, o valor negativo do resultado é menor que o valor positivo que o agente atribui à ação. Ou seja, ao prever o resultado negativo, podendo desistir da ação ou praticar a ação, o agente opta por praticar a ação, menosprezando o re- sultado. Na culpa consciente, o valor negativo do resultado é mais forte que o valor positivo da ação. Se o agente estivesse convencido de que o resultado poderia ser produzido, ele sem dúvida desistiria da ação. Mas como ele não está convencido dis- so, acaba calculando mal e agindo. No crime preterdoloso, o resultado vai além da intenção do agente, ou seja, a ação começa dolosamente e termina culposamente, porque o resultado produzido estava fora da abrangência do dolo, da vontade do agente. A gente diz que nesses casos há dolo no antecedente e culpa no consequente. Bittencourt: critica a equiparação da expressão crime preterdoloso com a expressão crime qualificado pelo resultado. Segundo ele, no crime qualificado pelo resultado, ao contrário do crime preterdoloso, o resultado posterior, mais grave, derivado invo- luntariamente da conduta criminosa, lesa um bem jurídico que não contém o bem jurídico que foi lesado inicialmente. Assim, a lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, CP) seria um crime preterdolo- so, enquanto o aborto seguido de morte da gestante (arts. 125 e 126 cc 127, CP) seria um crime qualificado pelo resultado. Diferença entre dolo eventual e culpa consciente
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