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Tipo de injusto culposo - Resumo

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Definição do tipo de injusto culposo
A culpa ocorre quando o agente não age com o dever de cuidado e a conduta produz 
um resultado não desejado, apesar de objetivamente previsível. 
A estrutura do tipo de injusto culposo é diferente da estrutura do tipo de injusto dolo-
so. No tipo de injusto doloso, a punição é de uma conduta dirigida a um fim ilícito, en-
quanto no injusto culposo, a punição é da conduta que foi mal dirigida, normalmente 
destinada a um fim irrelevante penalmente, e quase sempre lícito. O núcleo do tipo 
nos crimes culposos consiste na divergência entre a ação praticada e a que devia ter 
sido realizada, em razão da falta do dever de cuidado. 
Nos crimes culposos, o fim pretendido pelo autor é geralmente irrelevante, mas os 
meios escolhidos ou a forma de utilização desses meios não são. 
A tipicidade do crime culposo decorre da realização de uma conduta descuidada, que 
causa uma lesão ou um perigo concreto a um bem jurídico penalmente protegido. A 
falta do cuidado devido, a imprudência, a negligência ou a imperícia, tem natureza 
objetiva. Ou seja, no plano da tipicidade, cabe analisar apenas se o agente agiu com 
o cuidado necessário e exigível normalmente. No momento de a gente determinar 
se a conduta do autor se ajusta ao tipo de injusto culposo é preciso questionar se no 
momento da ação ou da omissão era possível pra qualquer pessoa no lugar do autor 
identificar o risco proibido e ajustar a conduta ao cuidado devido. Essa indagação 
deve ser analisada no plano da culpabilidade. 
Nada impede que uma conduta seja tipicamente culposa e não seja antijurídica. O 
agente pode realizar um conduta culposa típica, mas estar protegido por uma exclu-
dente de antijuridicidade. Por exemplo. Um carro de bombeiros está a caminho de 
uma chamada e acaba atropelando um pedestre, involuntariamente, ferindo ele de 
forma grave. 
A culpabilidade nos crimes culposos tem a mesma estrutura da culpabilidade dos 
crimes dolosos: imputabilidade, consciência potencial da ilicitude e exigibilidade de 
comportamento conforme o Direito. A diferença entre elas está no grau de intensi-
dade, ou seja, no crime doloso, o grau de reprovabilidade é muito superior ao de um 
crime culposo, que é menos grave. 
Assim como a tipicidade do crime culposo se define pela divergência entre a ação 
praticada e a que devia ter sido realizada, e a antijuridicidade pela ausência do cuida-
do objetivo devido, a culpabilidade tem a previsibilidade subjetiva como um de seus 
pressupostos. Enquanto a previsibilidade objetiva constitui a tipicidade e a antijuridi-
cidade da ação, a previsibilidade subjetiva constitui um elemento da reprovabilidade 
da ação típica e antijurídica. 
Tipo de injusto culposo
Direito Penal I
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Elementos do tipo de injusto culposo
O injusto culposo tem uma estrutura completamente diferente do injusto doloso, 
não contendo o que a gente chama de tipo subjetivo, em razão da natureza norma-
tiva da culpa.
O tipo de injusto culposo apresenta os seguintes elementos constitutivos:
 
A inobservância do cuidado objetivo devido.
A produção de um resultado e nexo causal.
A previsibilidade objetiva do resultado.
A conexão interna entre desvalor da ação e desvalor do resultado.
Inobservância do cuidado objetivo devido e princípio da confiança
O dever objetivo de cuidado consiste em reconhecer o perigo pro bem jurídico tutela-
do e em se preocupar com as possíveis consequências que uma conduta descuidada 
pode produzir nele. O essencial no tipo de injusto culposo não é a simples causação 
do resultado, mas sim a forma como a ação se realiza. Por isso, a observância do 
dever objetivo de cuidado, é o elemento fundamental do tipo de injusto culposo e 
análise desse dever é preliminar ao exame da culpa. 
A avaliação da inobservância do cuidado objetivo devido se dá a partir da compara-
ção da direção finalista real, ou seja, a que se deu no mundo real, e a direção finalista 
exigida pra evitar a lesão do bem jurídico. Depois disso, é preciso pensar se a ação do 
agente correspondeu a esse comportamento adequado. Se o agente não agiu ade-
quadamente, a conduta é reprovável. 
Produção de um resultado e nexo causal
É indispensável que o resultado seja consequência da inobservância do cuidado devi-
do, que a ausência de cuidado seja causa do resultado, ou de acordo com a teoria da 
imputação objetiva, que o resultado típico seja a realização do risco proibido criado 
pela conduta do autor. Quando o resultado for inevitável, ainda que o agente tome as 
medidas necessárias pra tentar evitar o resultado, a tipicidade é excluída. 
Previsibilidade objetiva do resultado
O resultado deve ser objetivamente previsível. A previsibilidade objetiva é um juízo 
objetivo sobre a possibilidade de produzir um resultado típico, elaborado com base 
no conhecimento da perigosidade da conduta. 
Assim, quando o agente tem conhecimento da perigosidade da conduta, acredita que 
pode dominar o curso causal pra alcançar um fim lícito, mas não adota as medidas de 
cuidado objetivo adequadas pra isso, ele atua de maneira culposa, apesar de conhe-
cer a previsibilidade objetiva do resultado. Nesse caso, ele agiu com culpa consciente. 
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Por outro lado, quando o agente não tem o conhecimento da perigosidade da condu-
ta, apesar de ser possível chegar a essa conclusão se prestar o mínimo de atenção, e 
não toma as medidas de cuidado necessárias, o agente agiu com culpa inconsciente, 
ou seja, sem a previsibilidade subjetiva do resultado.
A previsibilidade é um dado objetivo e por isso o fato de o agente não prever o dano 
ou o perigo da sua ação, quando é objetivamente previsível, não afasta a culpabilidade 
do agente, já que a culpa reside exatamente nessa falta de prever o que era previsível. 
Conexão interna entre desvalor da ação e desvalor do resultado
O conteúdo do injusto no fato culposo é determinado pela coexistência do desvalor 
da ação e do desvalor do resultado. É indispensável a existência de uma conexão in-
terna entre o desvalor da ação e o desvalor do resultado, isto é, que a falta de cuidado 
devido seja causa do resultado. 
No crime culposo, o desvalor da ação está representado pela inobservância do cuida-
do objetivamente devido, e o desvalor do resultado, está representado pela lesão ou 
pelo perigo concreto de lesão pro bem jurídico. 
Nos crimes culposos, o desvalor da ação prepondera em comparação com o desvalor 
do resultado. 
Modalidades de culpa
Imprudência
A imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comis-
sivo. É a imprevisão ativa. Assim uma conduta imprudente é aquela que se caracteri-
za pela intempestividade, pela precipitação, pela insensatez ou pela imoderação do 
agente. É o caso do motorista, por exemplo, que dirige bêbado. 
Na imprudência ocorre uma visível falta de atenção. O agir descuidado não respeita o 
dever objetivo de cuidado que as circunstâncias exigem. Se o agente for mais atento, 
pode prever o resultado e assim não realizar a ação lesiva. 
Uma característica especial da imprudência é a concomitância da culpa e da ação, ou 
seja, elas são simultâneas. 
Negligência
A negligência ocorre quando a pessoa age de forma displicente, quando não há pre-
caução ou quando o agente se comporta de forma indiferente, podendo adotar as 
cautelas necessárias e não faz isso. É a imprevisão passiva, o desleixo, a falta de ação. 
É não fazer o que deveria ser feito antes da ação descuidada. 
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A negligência não é um fato psicológico, é um juízo de apreciação – fica comprovado 
que o agente tinha condições de prever as consequências da sua ação. O autor de um 
crime cometido por negligência não pensa na possibilidade do resultado, e a culpa 
inconsciente é mais adequada nesses casos. 
Diferente da imprudência, a negligência não ocorre junto com a ação, ela é anterior à 
ação, pois significa que o agente não tomou uma medida anterior ao ato descuidado. 
Imperícia
A imperícia é a falta de capacidade, de aptidão, ou o despreparo oua insuficiência de 
conhecimentos técnicos pra exercício de uma arte, profissão ou ofício. A inabilidade 
pro desempenho de determinada atividade fora do campo profissional ou técnico 
tem sido considerada pela jurisprudência aqui no Brasil como imprudência ou negli-
gência de acordo com o caso e não como imperícia.
A imperícia não se confunde com erro profissional, que é um acidente desculpável, 
justificável e em regra imprevisível, e que não depende do uso correto de conheci-
mentos. É um tipo de acidente que não decorre da má aplicação de regras e princí-
pios recomendados, mas da imperfeição ou da precariedade dos conhecimentos, e, 
por isso, está no campo do imprevisível. É claro que isso não significa que existe um 
direito ao erro.
Espécies de culpa
Culpa consciente ou com representação
A culpa consciente, culpa com representação ou com previsão, se dá quando o agente 
conhece a perigosidade da sua conduta, prevê a produção do resultado típico como 
possível, mas não age de forma diligente, porque acredita que o evento não vai acon-
tecer. Ou seja, na culpa consciente o agente não quer o resultado nem assume o risco 
de produzir o resultado, como acontece no dolo eventual.
 
De acordo com a doutrina e com a jurisprudência, na culpa consciente, a conduta é 
mais censurável do que na culpa inconsciente, já que a culpa inconsciente é resultado 
de mera desatenção.
Culpa inconsciente ou sem representação
A culpa inconsciente está presente na ação sem previsão do resultado possível. Existe 
a possibilidade de previsibilidade, mas a previsão não acontece por descuido, desa-
tenção ou mero desinteresse do autor da conduta. Ou seja, o agente atua sem se dar 
conta de que a sua conduta é perigosa, e de que ele não está tomando os cuidados 
necessários pra evitar a produção do resultado típico. 
A culpa inconsciente se caracteriza pela ausência absoluta de nexo psicológico entre 
o autor e o resultado da ação, que continua sendo punível desde que seja comprova-
do que o agente era capaz de conhecer os riscos do seu comportamento. Nos casos 
nos quais o resultado é totalmente imprevisível, a gente está diante de um caso de 
caso fortuito ou força maior.
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Nos casos de culpa inconsciente o próprio autor pode se colocar em risco. Como a 
gente já disse aqui antes, ele pode representar uma maior perigosidade social, por-
que seu ato é imprevisível. Ele ignora o princípio da confiança que a gente mencionou 
antes também.
Culpa imprópria ou culpa por assimilação
A culpa imprópria é resultado de um erro vencível sobre a legitimidade da ação que 
foi realizada. Isso quer dizer que o agente prevê e quer atingir um resultado, mas a 
ilicitude desse resultado está contaminada por um erro, ou seja, a motivação nesse 
caso está baseada em erro. 
Nos casos de culpa imprópria, o agente, durante a elaboração do processo psicológi-
co, valora mal uma situação - se vendo por exemplo diante de uma das excludentes 
de ilicitude do art. 23 do CP - ou os meios que vai utilizar e acaba caindo em erro cul-
posamente, por falta de cuidado nessa avaliação. Depois, já no momento da ação em 
si, ele age dolosamente, finalisticamente, com o intuito de produzir o resultado que 
ele pretendia, mas tudo isso baseado em um erro evitável.
Exemplo: O agente nota que seu desafeto, conhecido traficante da região, está cami-
nhando em sua direção com uma das mãos escondida no bolso do caso. Confiante 
de que o traficante puxaria uma arma para matá-lo, atira primeiro, pensando estar 
em legítima defesa. Na realidade o traficante só estava tirando sua carteira do bolso 
O erro vencível pode ser chamado também de erro culposo. O erro culposo não pode 
ser confundido com crime culposo, mas isso a gente vai ver mais pra frente quando 
falar de erro. 
A vencibilidade do erro não afeta a estrutura típica do injusto, que continua sendo 
doloso ou culposo. Ela afeta a reprovabilidade da conduta. Assim, quando o erro é 
inevitável fica excluída a culpabilidade penal, e não a tipicidade nem a antijuridicida-
de, como a gente vai ver mais pra frente.
O artigo 20, §1º, do CP prevê que será isento de pena quem, por erro plenamente 
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a 
ação legítima, e que não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é 
punível como crime culposo.
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Em primeiro lugar, é importante a gente entender que tanto no dolo eventual quanto 
na culpa consciente existe a previsão do resultado proibido. A diferença é que: 
No dolo eventual o agente assume o risco de produzir esse resultado. 
E na culpa consciente o agente tem certeza de que o resultado não vai acontecer.
No dolo eventual, o valor negativo do resultado é menor que o valor positivo que 
o agente atribui à ação. Ou seja, ao prever o resultado negativo, podendo desistir 
da ação ou praticar a ação, o agente opta por praticar a ação, menosprezando o re-
sultado. Na culpa consciente, o valor negativo do resultado é mais forte que o valor 
positivo da ação. Se o agente estivesse convencido de que o resultado poderia ser 
produzido, ele sem dúvida desistiria da ação. Mas como ele não está convencido dis-
so, acaba calculando mal e agindo. 
No crime preterdoloso, o resultado vai além da intenção do agente, ou seja, a ação 
começa dolosamente e termina culposamente, porque o resultado produzido estava 
fora da abrangência do dolo, da vontade do agente. A gente diz que nesses casos há 
dolo no antecedente e culpa no consequente.
Bittencourt: critica a equiparação da expressão crime preterdoloso com a expressão 
crime qualificado pelo resultado. Segundo ele, no crime qualificado pelo resultado, 
ao contrário do crime preterdoloso, o resultado posterior, mais grave, derivado invo-
luntariamente da conduta criminosa, lesa um bem jurídico que não contém o bem 
jurídico que foi lesado inicialmente.
 
Assim, a lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, CP) seria um crime preterdolo-
so, enquanto o aborto seguido de morte da gestante (arts. 125 e 126 cc 127, CP) seria 
um crime qualificado pelo resultado. 
Diferença entre dolo eventual e culpa consciente

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