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Transformacões da politica na era da Comunicação de Massa - Wilson Gomes

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Sumário
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
O QUE HÁ DE COMUNICAÇÃO NA
COMUNICAÇÃO POLÍTICA?
1. Meios de comunicação e
política: apenas meios?
2. Comunicação: relevos e
ambientes
2.1. A comunicação em dois
campos
2.2. A profissionalização da
comunicação política
NEGOCIAÇÃO POLÍTICA E
COMUNICAÇÃO DE MASSA
1. Formas e agentes da luta política
2. A negociação política
2.1. As alianças sistemáticas
2.2. A barganha
3. Fatores que incidem sobre a
política de negociação
3.1. A eleição interminável e a
esfera de visibilidade pública
3.2. Os “fatores publicidade”
3.2.1. Palcos políticos e
cotas de visibilidade
3.2.2. Risco de
exposição negativa
3.2.3. Apoio popular
3.2.4. Imagem
A POLÍTICA EM CENA E OS
INTERESSES FORA DE CENA
1. A insuficiência da idéia de duplo
domínio e a perspectiva do
“terceiro convidado”
2. Três domínios, um sistema
3. De como cada domínio obtém ou
tenta obter o que quer dos outros
3.1. Negócios e política
3.2. Comunicação e negócios
3.3. Comunicação e política
O CONTROLE POLÍTICO DA
COMUNICAÇÃO
1. Do controle da comunicação
política
2. Do controle examinado de um
ponto de vista normativo
A PROPAGANDA POLÍTICA: ÉTICA
E ESTRATÉGIA
1. A propaganda na comunicação
política
2. A propaganda política e a lógica
da comunicação: três cenas e
algumas questões
2.1. Primeira cena: da
propaganda à telepropaganda
2.2. Segunda cena: crítica da
propaganda eleitoral midiática
2.3. Terceira cena: o espaço
legal e a manutenção da lógica
midiática
3. Ética política e propaganda
midiática
3.1. Pressupostos de uma ética
da dimensão pública
3.2. Problemas éticos da nova
propaganda política
3.2.1. Primeira questão:
esfera da situação
interativa ideal (a
desigualdade das pré-
condições
argumentativas)
3.2.2. Segunda questão:
esfera das pré-condições
ético-pragmáticas da
interação (estratégia
persuasiva vs. pretenção
de verdade)
A POLÍTICA DE IMAGEM
1. A disputa política e a disputa por
imagem
2. Elementos para uma teoria da
imagem pública política
2.1. A imagem pública: visual
ou conceitual?
2.2. O fenômeno e a sua classe
2.3. Da dificuldade de
identificação das imagens
públicas
2.4. O fenômeno da imagem
pública e a arte da política
2.5. Construindo a imagem
pública política
2.6. Imagem pública e
pesquisa de opinião
2.7. Imagens, perfis ideais e
expectativas
3. Política de imagem
THEATRUM POLITICUM
1. A política e a arte de compor
representações
2. Premissas sobre a dramatização
da comunicação política
contemporânea
2.1. A comunicação de massa
e a lógica publicitária
2.2. A lógica midiática no
sistema informativo
2.3. A demanda cognitiva da
política e o sistema
informativo da comunicação
de massa
3. A dramaturgia política
3.1. A encenação da política:
as astúcias teatrais da esfera
política
3.2. O jornalismo-espetáculo:
quando os jornalistas
produzem o drama político
A TRANSFORMAÇÃO DA POLÍTICA
1. Política de aparências
1.1. Formulando o problema
1.2. A fabricação da glória de
Luís XIV
1.3. Maquiavel e a prescrição
do controle das aparências
2. A política-espetáculo
2.1. A política em cena
2.2. A dramaturgia política
2.3. A espetacularização da
política
2.4. O simulacro político
2.5. As referências básicas
2.6. A política-espetáculo:
continuidade ou
descontinuidade?
2.6.1. As cerimônias do poder
político
2.6.2. O manejo social das
impressões
3. A transformação da política
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
E
PRE​FÁ​CIO
JOSÉ LUIZ BRAGA
stou con​ven​ci ​do de que este livro
será obra de refe ​rên ​cia fun ​da ​men ​-
tal para pes ​qui ​sa e estu ​dos sobre
as rela ​ções en ​tre comu​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca
– quais ​quer que sejam os ob​je ​​​ti ​vos do
lei ​tor, aca ​dê ​mi ​cos ou polí ​ti ​cos, teó ​ri ​cos
ou prá ​ti ​cos, de ação polí ​ti ​ca ou de ação
comu​ni ​ca ​cio ​nal.
Jun​ta ​men ​te com esta con​vic ​ção, decor ​-
ren ​te da lei ​tu​ra que fiz dos ori ​​​​gi ​nais,
sur ​giu tam ​bém a ques ​tão de como
expres ​sar esse movi ​men ​to genuí ​no de
valo ​ra ​ção. Para subli ​nhar o rigor da tare ​-
fa, faço refe ​rên​cia ao sen​ti ​men​to de enor ​-
me satis ​fa ​ção que senti quan​do o prof.
Wil ​son Gomes, por tele ​fo ​ne, con ​vi ​dou-
me a escre ​ver a apre ​sen​ta ​ção de seu livro
– sen​ti ​men ​to ime ​dia ​ta ​men​te con ​fron​ta ​-
do pela res ​pon ​sa ​bi ​li ​da ​de aca ​dê ​mi ​ca e
pes ​soal dessa incum ​bên​cia. Um dos ris ​​-
cos pre ​sen ​tes seria o de fazer ape ​nas elo ​-
gios gené ​ri ​cos, de apre ​cia ​ção sub​je ​ti ​va.
Ou então, ao ten​tar fugir dos adje ​ti ​vos de
apre ​cia ​ção em dire ​ção ao mais subs ​tan​ti ​-
vo, seria fácil cair no resu ​mo dos acha ​dos
– usur ​pan​do do livro e do lei ​tor a tare ​fa
de ofe ​re ​cê-los no ​melhor momen ​to e a de
encon​trá-los no pra ​zer da pró ​pria des ​co ​-
ber ​ta.
Apre ​sen​tar um livro faz, por ​tan ​to,
parte dos gêne ​ros que, mais do que serem
exer ​ci ​dos, pre ​ci ​sam ser desar ​ma ​di ​lha ​dos.
É pre ​ci ​so então sus ​ten ​tar aque ​la con​-
vic ​ção ini ​cial em ​outras bases, que não
ape ​nas a admi ​ra ​ção pes ​soal e aca ​dê ​mi ​ca
que tenho pelo autor. Creio que isto pode
ser feito pela obser ​va ​ção do que se apren ​-
de com a lei ​tu ​ra deste livro.
O autor nos fala sobre a trans ​for ​ma ​ção
da polí ​ti ​ca por sua entra ​da em pro ​ces ​sos
de comu​ni ​ca ​ção midia ​ti ​za ​da (ou pela
entra ​da, nela, des ​ses pro ​ces ​sos). Las ​trea ​-
do em exten ​si ​va refe ​rên​cia a pes ​qui ​sas da
área, no Bra ​sil e no exte ​rior, o autor as
uti ​li ​za a ser ​vi ​ço de um eixo com ​pos ​to de
pro ​po ​si ​ções orde ​na ​do ​ras e escla ​re ​ce ​do ​ras
que são de sua pró ​pria ofer ​ta e con​tri ​bui ​-
ção. Esse olhar, vigo ​ro ​so e crí ​ti ​co, ultra ​-
pas ​sa o conhe ​ci ​men​to esta ​be ​le ​ci ​do. Não
caben ​do ante ​ci ​par, deixa-se ao livro e a
seu lei ​tor os ensi ​na ​men​tos e a apren ​di ​za ​-
gem dessa con ​tri ​bui ​ção – ape ​nas enfa ​ti ​-
za ​mos que todos os pon ​tos tra ​ta ​dos nos
capí ​tu​los efe ​ti ​va ​men ​te con ​ver ​gem para o
que o títu ​lo da obra e o de seu capí ​tu​lo
final enfo ​cam – as trans ​for ​ma ​ções da
polí ​ti ​ca.
Ao lado desta parte subs ​tan​ti ​va apren​-
de-se, ainda, com o que o prof. Wil ​son
faz sobre seu obje ​to espe ​cí ​fi ​co; e ao fazê-
lo, o que traz como apor ​tes para a inter ​-
fa ​ce e para o campo da comu ​ni ​ca ​ção. Na
cons ​tru​ção de suas pro ​po ​si ​ções sobre o
obje ​to (os pro ​ces ​sos ocor ​ren​tes na inter ​-
fa ​ce entre a comu​ni ​ca ​ção e a polí ​ti ​ca e as
trans ​for ​ma ​ções con​se ​qüen​tes, no espa ​ço
de uma socie ​da ​de midia ​tizada) o texto,
bem mais do que dizer suas pers ​pec ​ti ​vas,
desen​vol ​ve ope ​ra ​ções por meio de seu
pró ​prio mate ​rial, resul ​tan​do em um fazer
com o qual o lei ​tor pode pro ​du​ti ​va ​men ​te
inte ​ra ​gir.
Uma ati ​vi ​da ​de rele ​van​te (expres ​sa ​men​-
te pre ​ten ​di ​da e que, como lei ​tor, posso
asse ​gu ​rar muito bem rea ​li ​za ​da) é a de
expor o esta ​do da ques ​tão. A abran ​gên​cia
de pon ​tos em que a inter ​fa ​ce se põe como
ques ​tão con​cre ​ta, como pro ​ble ​ma no
espa ​ço polí ​ti ​co- ​social ou como desa ​fio
para a refle ​xão em busca de conhe ​ci ​men​-
to é tal que o livro adqui ​re a dimen​são de
um quase-tra ​ta ​do. Ainda que haja (e cer ​-
ta ​men ​te há) muito a des ​bra ​var nos ter ​ri ​-
tó ​rios da inter ​fa ​ce, o tra ​ba ​lho topo ​grá ​fi ​-
co rea ​li ​za ​do mos ​tra o des ​bra ​va ​men​to
feito até aqui por pes ​qui ​sa ​do ​res, mos ​-
tran ​do, bem, os ter ​re ​nos con​quis ​ta ​dos e
os espa ​ços que ainda pedem o inves ​ti ​-
men​to de pes ​qui ​sas.
A segun​da ofer ​ta, dire ​ta ​men​te rela ​cio ​-
na ​da com esta, cor ​res ​pon ​de a subli ​nhar o
pro ​ces​so “em cons ​tru ​ção” dos estu​dos da
inter ​fa ​ce – tra ​du ​zin​do-se em hipó ​te ​ses
esti ​mu ​la ​do ​ras de con​ti ​nua ​ção das pes ​qui ​-
sas. O texto se man ​tém assim em aber ​to,
impli ​ci ​tan​do, por seu esfor ​ço de abran​-
gên​cia, novos espa ​ços nos quais a pes ​qui ​-
sa se reno ​va ​rá.
Uma ter ​cei ​ra ope ​ra ​ção do livro é de
ordem pro ​ces ​sual. O modo de apre ​sen​ta ​-
ção das ​opções fei ​tas pelo uso dos dados e
conhe ​ci ​men​tos dis ​po ​ní ​veis, da pro ​po ​si ​-
ção inter ​pre ​ta ​ti ​va das ques ​tões em pauta,
e sobre ​tu​do, o enca ​mi ​nha ​men​to da refle ​-
xão e do argu ​men​to, tudo isso resul ​ta em
indi ​ca ​ções meto ​do ​ló ​gi ​cas “ao vivo”, pro ​-
du​zi ​das no pró ​prio desen​vol ​vi ​men​to das
idéias, obser ​va ​ções e tra ​ta ​men​to do
mate ​rial. Isto é, não se reduz a pro ​por
“expli ​ca ​ções” carac ​te ​ri ​za ​do ​ras do fenô ​-
me ​no em obser ​va ​ção, mas cons ​tan​te ​men​-
te pro ​duz ques ​tões e modos de abor ​da ​-
gem que podem, por sua vez, ser uti ​li ​za ​-
dos para novas pes ​qui ​sas e inter ​pre ​ta ​ções.
Trata-se de uma con ​tri ​bui ​ção meto ​do ​ló ​-
gi ​ca impor ​tan​te para os pes ​qui ​sa ​do ​res
desse espa ​ço espe ​cí ​fi ​co, em que a polí ​ti ​ca
e a comu​ni ​ca ​ção se rela ​cio ​nam em inci ​-
dên ​cia mútua.
Decor ​re daí ainda outra con​tri ​bui ​ção,
bem mais ampla em abran ​gên ​cia, embo ​-
ra menos expres ​sa nas inten ​ções do autor
– entre ​tan ​to ple ​na ​men​te rea ​li ​za ​da. Trata-
se da ofer ​ta, tam ​bém de ordem meto ​do ​-
ló ​gi ​ca, para o estu​do de inter ​fa ​ces que a
comu​ni ​ca ​ção obser ​va e entre ​tém com
múl ​ti ​plas áreas ​outras do fazer huma ​no, ​-
social, ins ​ti ​tu ​cio ​nal. É sobre ​tu ​do atra ​vés
da com ​preen​são e da for ​ma ​li ​za ​ção teó ​ri ​ca
do conhe ​ci ​men​to sobre como estas inter ​-
fa ​ces se dão (em coo ​pe ​ra ​ção e con ​fli ​to)
que, acima das dife ​ren​ças entre os diver ​-
sos espa ​ços de arti ​cu​la ​ção, o campo de
estu​do se cons ​trói na sua com ​ple ​xi ​da ​de e
con ​sis ​tên​cia.
Essa cons ​tru ​ção do campo soli ​ci ​ta que
se este ​ja cons ​tan​te ​men​te aten​to para o
que é pro ​pria ​men​te “comu​ni ​ca ​cio ​nal”
nos obje ​tos espe ​cí ​fi ​cos em pes ​qui ​sa, por
con ​tras ​te ao que é pró ​prio dos obje ​ti ​vos e
pro ​ces ​sos da área de arti ​cu​la ​ção. A per ​-
gun​ta-títu​lo do Capí ​tu​lo 1 é emble ​má ​ti ​-
ca dessa preo ​cu​pa ​ção, no livro, e marca a
pre ​sen​ça desse pro ​ce ​di ​men​to de cons ​tru​-
ção do campo de estu​dos em Comu​ni ​ca ​-
ção: “O que há de Comu​ni ​ca ​ção na
Comu​ni ​ca ​ção Polí ​ti ​ca?”
O campo da comu​ni ​ca ​ção (tanto no
ambien​te ​social como na pro ​du​ção de
conhe ​ci ​men​to aca ​dê ​mi ​co) é estru ​tu​ral ​-
men​te um âmbi ​to de inter ​fa ​ces. Na
socie ​da ​de, a pro ​ces ​sua ​li ​da ​de comu ​ni ​ca ​-
cio ​nal se rea ​li ​za por inclu​si ​vi ​da ​de, obser ​-
van​do e absor ​ven​do, de modo avas ​sa ​la ​-
dor, toda e qual ​quer ação ou temá ​ti ​ca ​-
social. Carac ​te ​ri ​za-se tam ​bém por sua
pene ​tra ​bi ​li ​da ​de – modi ​fi ​can​do “na ori ​-
gem” todos os ​demais pro ​ces ​sos ​sociais –,
que na socie ​da ​de midia ​ti ​za ​da vêem seus
obje ​ti ​vos, pro ​ce ​di ​men​tos e cri ​té ​rios
refor ​mu​la ​dos no pró ​prio sur ​gi ​men​to, de
modo gené ​ti ​co (e não ape ​nas por acrés ​ci ​-
mo pos ​te ​rior), em fun ​ção das neces ​si ​da ​-
des de inte ​ra ​ção, de “visi ​bi ​li ​da ​de”, de
inser ​ção mais ampla que a do cír ​cu​lo dos
ini ​cia ​dos.
No âmbi ​to da pro ​du​ção de conhe ​ci ​-
men​to, o inte ​ra ​cio ​nal mul ​ti ​fa ​ce ​ta ​do
segue essa neces ​si ​da ​de (estru​tu​ral), uma
vez que o obje ​to não apa ​re ​ce nunca “em
esta ​do puro” (que seria o “exclu​si ​va ​men ​-
te comu​ni ​ca ​cio ​nal”), iso ​la ​do de moti ​vos
e pro ​ces ​sos ​outros, que lhe dão “tona ​li ​da ​-
des”.
Não se trata de abs ​trair o obje ​to (por
um gesto epis ​te ​mo ​ló ​gi ​co que seria arti ​fi ​-
cial) de suas ins ​tân​cias prag ​má ​ti ​cas de
exis ​tên ​cia. Exige-se, por ​tan​to, refe ​rên​cia
fre ​qüen​te a teo ​rias ​sociais, psi ​co ​ló ​gi ​cas,
his ​tó ​ri ​cas, pra ​xio ​ló ​gi ​cas, lin​güís ​ti ​cas,
antro ​po ​ló ​gi ​cas – sem entre ​tan​to nos cir ​-
cuns ​cre ​ver ​mos a qual ​quer delas, para
assim nos man​ter ​mos “perto do obje ​to”
em sua exis ​tên​cia con​cre ​ta e ​social, para
cons ​truir o obje ​to enquan​to ins ​tân​cia
teó ​ri ​co-meto ​do ​ló ​gi ​ca “de comu​ni ​ca ​ção”.
Assim, uma inter ​fa ​ce com ​ple ​xa, como
aque ​la entre a comu​ni ​ca ​ção e a polí ​ti ​ca,
tra ​ta ​da com habi ​li ​da ​de e rigor, ilu​mi ​na
ques ​tões e abor ​da ​gens para o estu ​do de ​-
outras inter ​fa ​ces. Isso faz deste livro uma
refe ​rên ​cia rele ​van​te para todos os pes ​qui ​-
sa ​do ​res em comu ​ni ​ca ​ção – mesmo quan​-
do estes não este ​jam par ​ti ​cu ​lar ​men​te
preo ​cu​pa ​dos com as peri ​pé ​cias da inter ​-
fa ​ce polí ​ti ​ca que é seu obje ​to pró ​prio.
O que se tem a apren​der (para pes ​qui ​-
sa ​do ​res preo ​cu​pa ​dos com ​outras inter ​fa ​-
ces, menos “cons ​truí ​das”) não decor ​re ​rá,
por ​tan ​to, de asse ​me ​lha ​men​tos, que jus ​ta ​-
men ​te ​seriam sim ​pli ​fi ​ca ​do ​res. Mas da
trans ​fe ​rên ​cia de abor ​da ​gens (muta ​tis
mutan ​dis essa é a ques ​tão rele ​van ​te:
mudan​do o que pre ​ci ​sa ser muda ​do, nas
per ​cep ​ções, con​cei ​tos e pers ​pec ​ti ​vas); da
obser ​va ​ção das dife ​ren​ças e das espe ​ci ​fi ​-
ci ​da ​des que, carac ​te ​ri ​za ​do ​ras variá ​veis de
cada âmbi ​to de inter ​fa ​ce, podem aju​dar a
com ​por em sua com ​ple ​xi ​da ​de (e em
cons ​tan​te modi ​fi ​ca ​ção) um acer ​vo teó ​ri ​-
co-e-obser ​va ​cio ​nal que nos devol ​va, por
sua vez, o que é o “comu ​ni ​ca ​cio ​nal” arti ​-
cu​la ​dor des ​sas dife ​ren​ças.
Por fim, como mais uma con​tri ​bui ​ção
– e não de menor impor ​tân​cia – o texto é
claro, mar ​ca ​do pelo sen​ti ​do mais essen​-
cial do valor didá ​ti ​co. Se há com ​ple ​xi ​da ​-
de no obje ​to, não se adota, por isso, com ​-
pli ​ca ​ções de texto. Ao con​trá ​rio, o esfor ​-
ço gene ​ro ​so é o de tor ​nar aces ​sí ​vel, até
para o não-espe ​cia ​lis ​ta, uma com ​preen​-
são dos pro ​ces ​sos envol ​vi ​dos. Isto não
sig ​ni ​fi ​ca que o livro seja fácil, mas que o
esfor ​ço inte ​lec ​tual de ​seguir sua argu​-
men​ta ​ção é sem ​pre recom ​pen​sa ​do por
um enca ​mi ​nha ​men​to segu​ro e esti ​mu​-
lan ​te.
SOBRE WIL​SON GOMES
Final ​men​te, não posso dei ​xar de fazer
refe ​rên​cia às com ​pe ​tên​cias e carac ​te ​rís ​ti ​-
cas do autor. Para escre ​ver esta obra,
muita pes ​qui ​sa foi feita, e mui ​tas lei ​tu​-
ras refle ​ti ​das. Aque ​les que conhe ​cem o
pro ​f. Wil ​son Gomes sabem da serie ​da ​de
com que se dedi ​cou a este tra ​ba ​lho. Mas
é pre ​ci ​so, tal ​vez, mais que isso. É con ​ve ​-
nien​te que, ​depois de for ​ma ​do em filo ​so ​-
fia (incluin​do estu ​dos na Ale ​ma ​nha e
dou​to ​ra ​men​to na Itá ​lia), o pes ​qui ​sa ​dor
volte ao Bra ​sil para tra ​ba ​lhar no Pro ​gra ​-
ma de Pós-Gra ​dua ​ção em Comu​ni ​ca ​ção
da UFBA no momen ​to de sua maior pro ​-
du​ti ​vi ​da ​de e efer ​ves ​cên​cia pro ​po ​si ​ti ​va.
Que tenha con ​ta ​to com pes ​qui ​sa ​do ​res já
che ​ga ​dos ao campo – e neste, par ​ti ​ci ​pe
ati ​va ​men​te de um ambien​te de deba ​te.
Que lance um olhar seve ​ro e crí ​ti ​co sobre
o que aí se faz – mas não se limi ​te a cri ​-
ti ​car. E, arre ​ga ​çan ​do as man ​gas, que tra ​-
ba ​lhe ati ​va ​men​te na exi ​gên ​cia e na supe ​-
ra ​ção, apren​den​do com isto um olhar de
abran​gên​cia para nele ​situar seu obje ​to.
Ainda par ​ti ​ci ​pa ati ​va ​men​te de um dos
Gru​pos de Tra ​ba ​lho da Com ​pós, mais
aguer ​ri ​do no deba ​te inter ​no – o decomu​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca –, jus ​ta ​men​te
para, no tra ​ba ​lho de pro ​pos ​tas, pes ​qui ​sas
e obje ​ções, desen​vol ​ver em acui ​da ​de sua
refle ​xão.
Ter coor ​de ​na ​do o Pro ​gra ​ma de Pós-
Gra ​dua ​ção em Comu​ni ​ca ​ção e Cul ​tu​ra da
UFBA e ter repre ​sen​ta ​do a área da comu ​-
ni ​ca ​ção na Capes cer ​ta ​men​te con​tri ​bui
para essa for ​ma ​ção, uma vez que para
além das obri ​ga ​ções deli ​be ​ra ​ti ​vas e de
ges ​tão ine ​ren​te aos car ​gos, o autor desen ​-
vol ​veu um conhe ​ci ​men​to com ​preen​si ​vo e
ago ​nís ​ti ​co (como é neces ​sá ​rio para os
sabe ​res sóli ​dos) do que a área diz e do
que a área faz. O que tal ​vez expli ​que a
per ​ti ​nên​cia da ins ​cri ​ção de sua temá ​ti ​ca
espe ​cí ​fi ​ca nos melho ​res obje ​ti ​vos de
cons ​tru​ção do campo da comu​ni ​ca ​ção.
O rigor argu​men​ta ​ti ​vo e a cla ​re ​za de ​-
idéias de Wil ​son Gomes têm se mani ​fes ​-
ta ​do em todas as ins ​tân ​cias nas quais, nos
últi ​mos doze anos, desde que o conhe ​ci,
temos nos encon​tra ​do, seja nas con​ver ​sas
de ami ​za ​de, seja no diá ​lo ​go – às vezes
tenso – da refle ​xão aca ​dê ​mi ​ca e das polí ​-
ti ​cas da área. Nem sem ​pre con​cor ​da ​mos
– e sei que o tra ​ba ​lho do desa ​cor ​do exige
do inter ​lo ​cu ​tor uma pres ​te ​za de racio ​cí ​-
nio, uma com ​pe ​tên ​cia ver ​bal e um rigor
argu​men​ta ​ti ​vo difí ​ceis de sus ​ten​tar.
Mas sei tam ​bém que, con ​cor ​dan ​do ou
dis ​cor ​dan ​do, pode ​mos sem ​pre ter a con​-
fian ​ça de encon​trar uma forte con ​sis ​tên​-
cia entre suas ​idéias e suas ações, e cla ​re ​-
za entre o que pensa e o des ​te ​mor com
que expõe seu pen ​sa ​men​to.
INTRO ​DU​ÇÃO
“A uno prin​ci​pe, adun​que, non è
neces​sa​rio avere tutte le sopras​-
crit​te qua​li​tà, ma è bene neces​sa​-
rio pare​re di aver​le. Anzi, ardi​rò
di dire ques​to, che aven​do​le et
osser​van​do​le sem​pre, sono dan​-
no​se, e paren​do di aver​le, sono
utile: co​me pare​re pie​to​so, fede​-
le, umano, inte​ro, rel​li​gio​so, et
esse​re; mas stare in modo edi​fi​-
ca​to con ​l’animo, che, bisog​nan​-
do non esse​re, tu possa e sappi
muta​re al con​tra​rio.” (Machia​-
vel ​li, Il Prin​ci ​pe, sezio​ne XVIII.)
Há basi ​ca ​men ​te três está ​gios na lite ​ra ​-
tu ​ra sobre comu​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca1.
Pri ​mei ​ro há a fase dos estu​dos dis ​per ​sos
sobre aque ​les fenô ​me ​nos sin​gu​la ​res da
polí ​ti ​ca onde se veri ​fi ​ca uma pre ​sen​ça
impor ​tan​te da comu ​ni ​ca ​ção de massa ou
sobre aspec ​tos da comu ​ni ​ca ​ção de massa
com inci ​dên​cia na polí ​ti ​ca. As duas pers ​-
pec ​ti ​vas estão cons ​tan​te ​men ​te impli ​ca ​-
das, mas pode ​mos iden​ti ​fi ​car, gros ​so
modo, os estu​dos sobre voto como uma
ilus ​tra ​ção do pri ​mei ​ro aspec ​to e os estu​-
dos sobre pro ​pa ​gan​da como um exem ​plo
do segun​do. Nesta fase mais remo ​ta, os
estu​dos con​cen​tram-se nes ​ses aspec ​tos
mais pro ​nun​cia ​dos do refle ​xo daqui ​lo
que então foi cha ​ma ​do de mass media –
expres ​são taqui ​grá ​fi ​ca para rádio,
impren ​sa, cine ​ma e, pos ​te ​rior ​men​te,
tele ​vi ​são – em com ​por ​ta ​men​tos típi ​cos
da vida polí ​ti ​ca, par ​ti ​cu​lar ​men​te a pro ​-
pa ​gan​da (pen ​se ​mos no impac ​to da pro ​pa ​-
gan​da béli ​ca nas duas guer ​ras mun ​diais),
a opi ​nião públi ​ca e a deci ​são de voto
(Ber ​nays 1928; Lipp ​man 1922; Tcha ​ko ​ti ​-
ne 1939; Lazars ​feld et al. 1944; Smith,
Lass ​well e Casey 1946; Lazars ​feld 1954).
Nes ​ses anos, que vão da déca ​da de 20 à
meta ​de dos anos 40, a lite ​ra ​tu ​ra é escas ​sa
e, con​cen​tra-se sobre ​tu​do, em pro ​ble ​mas
iso ​la ​dos pela pes ​qui ​sa, prin ​ci ​pal ​men ​te
nos três está ​gios indi ​ca ​dos acima. Nesse
momen ​to, e até por pelo menos mais três
déca ​das, o ponto de vista da aná ​li ​se é
dado pelas gran​des cate ​go ​rias – a polí ​ti ​ca
ou a socie ​da ​de – enquan​to as ins ​ti ​tui ​ções
da comu ​ni ​ca ​ção de massa, esses ​núcleos
que são ao mesmo tempo dis ​po ​si ​ti ​vos
téc ​ni ​cos, for ​ma ​ções ​sociais e recur ​sos
expres ​si ​vos, são con ​si ​de ​ra ​das numa pers ​-
pec ​ti ​va ins ​tru ​men ​tal, isto é, como meras
inter ​me ​diá ​rias, como meios entre os dois
pólos que real ​men ​te con​tam. São meios
ou ins ​tru​men ​tos de que os Esta ​dos, a
socie ​da ​de ou os par ​ti ​cu​la ​res lan ​ça ​riam
mão para pro ​du​zir um certo efei ​to ou
rea ​li ​zar uma deter ​mi ​na ​da fun​ção. A pers ​-
pec ​ti ​va ins ​tru ​men​tal refle ​te uma con​cep​-
ção que atri ​bui pouca impor ​tân​cia às
pro ​prie ​da ​des ima ​nen ​tes da comu ​ni ​ca
ção de massa2 (sua lógi ​ca, seus regis ​tros,
sua gra ​má ​ti ​ca, suas pro ​prie ​da ​des como
ins ​ti ​tui ​ção ​social), ao mesmo tempo em
que tende a exa ​ge ​rar a capa ​ci ​da ​de dos
efei ​tos que esses novos meios pro ​du​zem
nas pes ​soas, seja por ​que eles alcan ​çam ao
mesmo tempo uma espan ​to ​sa quan​ti ​da ​de
de pes ​soas (as mas ​sas), seja por ​que pare ​ce
que os indi ​ví ​duos não têm defe ​sa em face
do seu poder de influen ​ciar deci ​são,
gosto e opi ​nião, como se acre ​di ​ta ​va até os
anos 40, seja, enfim, alter ​na ​ti ​va ​men ​te,
por ​que são capa ​zes de con​for ​mar e repro ​-
du ​zir, sis ​te ​ma ​ti ​ca ​men​te, a longo ou
curto prazo, dire ​ta ​men​te ou atra ​vés de
media ​ções, os sis ​te ​mas ​sociais, as repre ​-
sen ​ta ​ções domi ​nan​tes, a cul ​tu​ra do capi ​-
ta ​lis ​mo, como repe ​ti ​ram as pers ​pec ​ti ​vas
crí ​ti ​cas até bem pouco tempo atrás. São
vis ​tos, então, como “meios” que se
podem empre ​gar para o bem ou para o
mal. Prin ​ci ​pal ​men​te para o mal, como
repe ​ti ​da ​men ​te afir ​mou um pen ​sa ​men ​to
da sus ​pei ​ta com rela ​ção à comu​ni ​ca ​ção de
massa que insis ​tiu em acom ​pa ​nhar a pes ​-
qui ​sa em comu​ni ​ca ​ção duran ​te pra ​ti ​ca ​-
men​te todo o sécu ​lo XX3.
Acre ​di ​to que se possa ​situar em algum
momen​to nos anos 60 o sur ​gi ​men​to de
ten​ta ​ti ​vas de se pen ​sar não mais sim ​ples ​-
men​te os efei ​tos dos meios e recur ​sos da
comu​ni ​ca ​ção nos fatos da polí ​ti ​ca, mas a
rela ​ção entre duas gran ​de ​zas ins ​ti ​tu ​cio ​-
nais: a comu​ni ​ca ​ção e a polí ​ti ​ca. A auto ​-
no ​mia cres ​cen ​te da indús ​tria da comu​ni ​-
ca ​ção e da indús ​tria cul ​tu ​ral que lhe
esta ​va asso ​cia ​da, se ainda não leva ​va a
uma crise da pers ​pec ​ti ​va ins ​tru​men​tal
dos “meios” de massa, pelo menos obri ​-
ga ​va a pen​sar a comu​ni ​ca ​ção como uma
uni ​da ​de ins ​ti ​tu​cio ​nal. Mas ainda são os
anos da incer ​te ​za sobre a natu​re ​za da
comu ​ni ​ca ​ção impli ​ca ​da na rela ​ção com a
polí ​ti ​ca, isto é, da dúvi ​da sobre se afi ​nal
se tra ​ta ​va de comu ​ni ​ca ​ção de massa, de
comu ​ni ​ca ​ção huma ​na em geral ou de
ambas.
Um ​manual des ​ses anos, de ​Richard F.
Fagen, então pro ​fes ​sor na Uni ​ver ​si ​da ​de
de Stan​ford, é um bom exem ​plo da con ​-
cep ​ção que se ins ​ta ​la ​va. O títu​lo indi ​ca ​va
a pers ​pec ​ti ​va da con​tra ​po ​si ​ção entre duas
ins ​ti ​tui ​ções: Poli ​tics and Com​mu ​ni ​ca ​tion.
Mas o termo “co ​mu​ni ​ca ​ção” ​incluía na
sua refe ​rên ​cia toda a comu ​ni ​ca ​ção huma ​-
na, natu​ral ​men​te a par ​tir da sua rela ​ção
com o uni ​ver ​so da polí ​ti ​ca. Isso ​inclui
desde a cober ​tu ​ra de fatos de impor ​tân​cia
públi ​ca pelo jor ​na ​lis ​mo (o exem ​plo é o
assas ​si ​na ​to do pre ​si ​den​te ame ​ri ​ca ​no Ken​-
nedy ocor ​ri ​do em 1963) até o con​jun​to
das men​sa ​gens gera ​das, trans ​mi ​ti ​das e
rece ​bi ​das por públi ​cos espe ​ciais, como
uni ​da ​des mili ​ta ​res, ins ​ti ​tui ​ção gover ​na ​-
men​tal e gover ​nos estran ​gei ​ros a par ​tir
do ata ​que japo ​nês a Pearl Har ​bor, desde
as inte ​ra ​ções ​sociais até as rela ​ções inter ​-
na ​cio ​nais (inter​câm ​bios de mer ​ca ​do ​rias,
pes ​soas e docu ​men​tos) e a con​ver ​sa ​ção
civil.
É claro que uma defi ​ni ​ção tão ampla da
comu​ni ​ca ​ção tem a fun​ção de asse ​gu​rar a
sua impor ​tân​cia para a polí ​ti ​ca, numa
demons ​tra ​ção que reve ​la quão peque ​na
era a segu​ran​ça do autor quan​to às pos ​si ​-
bi ​li ​da ​des de con​tra ​por sim ​ples ​men​te,
como se faz hoje, a comu​ni ​ca ​ção de massa
e a ati ​vi ​da ​de polí ​ti ​ca4. “Não pode ​mos
con ​ce ​ber o exer ​cí ​cio do poder por parte
do indi ​ví ​duo A sobre o indi ​ví ​duo B sem
algu​ma comu ​ni ​ca ​ção de A para B”,
decla ​ra Fagen (1971: 17) na cer ​te ​za de
que assim se jus ​ti ​fi ​ca apro ​xi ​mar comu​ni ​-
ca ​ção e polí ​ti ​ca. Ade ​mais, essa rela ​ção
faria parte da natu ​re ​za his ​tó ​ri ​ca da polí ​-
ti ​ca. “Hoje em dia, como há três mil
anos, o rei ainda con ​sul ​ta os seus minis ​-
tros, os cam ​po ​ne ​ses ainda se reú​nem no
campo e se quei ​xam do gover ​no, os ​-
homens ainda se reú​nem nos cafés para
dis ​cu​tir polí ​ti ​ca e os cida ​dãos ainda cho ​-
ram na rua à pas ​sa ​gem do fére ​tro real”
(p. 15). Em suma, Fagen crê jus ​ti ​fi ​ca ​da a
rela ​ção pro ​pos ​ta entre as duas cate ​go ​rias
por ​que a “comu​ni ​ca ​ção como pro ​ces ​so
pene ​tra a polí ​ti ​ca como ati ​vi ​da ​de” e por ​-
que “mesmo quan​do não é ime ​dia ​ta ​men​-
te óbvio, pode ​mos des ​cre ​ver mui ​tos
aspec ​tos da vida polí ​ti ​ca como tipos de
comu​ni ​ca ​ção” (p. 29).
Entre os anos 60 e iní ​cio dos anos 70 o
foco das con ​si ​de ​ra ​ções muda. A comu​ni ​-
ca ​ção havia se trans ​for ​ma ​do muito rapi ​-
da ​men​te numa indús ​tria poten ​te e espa ​-
lha ​da pelo mundo e a prá ​ti ​ca polí ​ti ​ca que
se apoia ​va na comu ​ni ​ca ​ção de massa já se
difun​dia pelas gran​des demo ​cra ​cias do
pla ​ne ​ta. A “ame ​ri ​ca ​ni ​za ​ção” da polí ​ti ​ca
era per ​ce ​bi ​da, então, como um fato irre ​-
ver ​sí ​vel. Nesse con ​tex ​to, surge a segun​da
fase da pes ​qui ​sa em comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​-
ca.
De ins ​tru​men​tal e enver ​go ​nha ​da, a
comu​ni ​ca ​ção de massa e a indús ​tria cul ​-
tu​ral são apre ​sen​ta ​das agora no cen​tro da
cena das ins ​ti ​tui ​ções ​sociais. Este é o
momen​to dos pri ​mei ​ros gran​des estu​dos
mono ​grá ​fi ​cos teó ​ri ​cos sobre a comu​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca (não o pro ​ces ​so da comu ​ni ​ca ​-
ção huma ​na, mas a comu​ni ​ca ​ção de mas ​-
sas) e sobre a sua impor ​tân​cia para a
vitó ​ria elei ​to ​ral e para o exer ​cí ​cio do
gover ​no. Este é, sobre ​tu​do, o momen​to
das pri ​mei ​ras for ​mu​la ​ções ​gerais sobre a
polí ​ti ​ca con​quis ​ta ​da e domi ​na ​da pelos
meios de comu ​ni ​ca ​ção. Em algum ponto
não pre ​ci ​sa ​men​te iden​ti ​fi ​ca ​do da his ​tó ​ria
as coi ​sas se inver ​te ​ram para os pes ​qui ​sa ​-
do ​res, e o fize ​ram com gran ​de rapi ​dez.
De uma lite ​ra ​tu​ra segun​do a qual há
meios à dis ​po ​si ​ção dos agen​tes ​sociais e
dos gover ​nos, pas ​sa ​mos ver ​ti ​gi ​no ​sa ​men​te
a uma lite ​ra ​tu​ra onde a comu​ni ​ca ​ção
apa ​re ​ce como campo ​social pre ​do ​mi ​nan​te
que impõe as suas estra ​té ​gias e lin ​gua ​-
gens à polí ​ti ​ca e suas opi ​niões, ima ​gens e
agen ​das ao públi ​co.
Essa fase dos estu​dos, que acre ​di ​to estar
se encer ​ran​do agora, herda da fase ante ​-
rior um posi ​cio ​na ​men​to geral ​men​te des ​-
con​fia ​do com rela ​ção à comu ​ni ​ca ​ção de
massa e ao seu lugar no con ​jun ​to da vida
social. A pri ​mei ​ra gera ​ção de tex ​tos sis ​-
te ​má ​ti ​cos sobre comu​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca
pode ser clas ​si ​fi ​ca ​da, con ​for ​me a dico ​to ​-
mia cria ​da por Umber ​to Eco, como mar ​-
ca ​da ​men​te apo ​ca ​líp ​ti ​ca. Os juí ​zos são
seve ​ros, nega ​ti ​vos e se con​cen​tram numa
espé ​cie de inven ​tá ​rio de per ​das huma ​nas,
sociais e polí ​ti ​cas que a novi ​da ​de com ​-
por ​ta ​ria. As teo ​rias dos efei ​tos limi ​ta ​dos,
que pre ​do ​mi ​nam na pes ​qui ​sa ame ​ri ​ca ​na
entre os anos 40 e 60, podem ser cor ​re ​ta ​-
men ​te vis ​tas, desta pers ​pec ​ti ​va, como
ape ​nas um impor ​tan​te inter ​va ​lo entre a
ati ​tu​de de sus ​pei ​ta das pri ​mi ​ti ​vas teo ​rias
dos efei ​tos dire ​tos e as abor ​da ​gens crí ​ti ​-
cas ins ​pi ​ra ​das no neomar ​xis ​mo ou nos
Estu​dos Cul ​tu​rais (Wolf 1985 e 1992).
Com a crise do cha ​ma ​do “pen​sa ​men​to
crí ​ti ​co” e a entra ​da em cena dos mode ​los
de abor ​da ​gem inte ​res ​sa ​dos na aná ​li ​se das
estru​tu​ras de sen ​ti ​do e dos meca ​nis ​mos
ope ​ran​tes na comu ​ni ​ca ​ção e cul ​tu​ra de
massa, que ​tinham sur ​gi ​do nos anos 70 e
cau​sa ​ram gran​de impac ​to nas pes ​qui ​sas
dos anos 80, o ponto de vista nega ​ti ​vo
deixa de ser o dia ​le ​to bási ​co da comu ​ni ​-
ca ​ção polí ​ti ​ca. Mas ape ​nas no sen ​ti ​do de
que agora tam ​bém têm lugar pers ​pec ​ti ​-
vas mais inte ​res ​sa ​das em enten​der e des ​-
cre ​ver os fenô ​me ​nos do que em julgá-los,
e até pers ​pec ​ti ​vas cele ​bra ​ti ​vas do novo
mundo da polí ​ti ​ca midiática. A pers ​pec ​-
ti ​va crí ​ti ​ca, entre ​tan​to, con​ti ​nua cons ​ti ​-
tuin​do a maior parte dos dis ​cur ​sos sobre
a comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca, prin​ci ​pal ​men ​te
na pes ​qui ​sa teó ​ri ​ca e nos dis ​cur ​sos situa ​-
dos nos cam ​pos ​sociais fora dos cír ​cu​los
mais res ​tri ​tos dos pes ​qui ​sa ​do ​res da área.
Dos anos 70 aos anos 90 a pers ​pec ​ti ​va
domi ​nan​te nessa área de estu ​do ainda
regis ​tra e acom ​pa ​nha a sur ​pre ​sa com o
fato de a comu​ni ​ca ​ção e a cul ​tu​ra de
massa irem ocu​pan ​do o cen​tro da cena ​-
social e a preo ​cu​pa ​ção com os modos e a
velo ​ci ​da ​de com que o fazem. Em ​alguns
casos, prin​ci ​pal ​men​te nos for ​mu​la ​do ​res
de teo ​rias ​gerais da polí ​ti ​ca ou da demo ​-
cra ​cia na era da comu​ni ​ca ​ção de massa, a
sur ​pre ​sa mani ​fes ​tou-se nes ​ses anos prin​-
ci ​pal ​men ​te como incô ​mo ​do. Em ​outros,
ape ​nas como a curio ​si ​da ​de que move os
pro ​ce ​di ​men​tos da inves ​ti ​ga ​ção empí ​ri ​ca,
do estu​do de casos, das aná ​li ​ses de con ​-
jun​tu​ra e dos levan ​ta ​men​tos. Nas déca ​-
das de 80 e 90, quan​do cer ​ta ​men​te se
publi ​cou muito mais sobre comu​ni ​ca ​ção
e polí ​ti ​ca que nos seten​ta anos pre ​ce ​den​-
tes e quan​do real ​men​te se for ​mou uma
espe ​cia ​li ​da ​de, a área acu ​mu​lou um volu​-
me de pes ​qui ​sa que não se con​se ​gue mais
acom ​pa ​nhar, tão gran ​de a diver ​si ​da ​de dos
aspec ​tos con​si ​de ​ra ​dos, o volu​me e a pro ​-
ce ​dên​cia geo ​grá ​fi ​ca dos auto ​res.
Desse modo, a comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca,
em par ​ti ​cu​lar, e a inter ​fa ​ce entre a polí ​ti ​-
ca e os fenô ​me ​nos, recur ​sos e lin​gua ​gens
da co ​mu​ni ​ca ​ção de massa, em geral, des ​-
pon​tam nas últi ​mas déca ​das como uma
área de inte ​res ​se cen​tral para os pes ​qui ​sa ​-
do ​res de ciên ​cias polí ​ti ​cas, comu ​ni ​ca ​ção,
filo ​so ​fia polí ​ti ​ca e de ​outras ciên ​cias ​-
sociais. Pouco a pouco foi se for ​man ​do
uma espe ​cia ​li ​da ​de inter ​dis ​ci ​pli ​nar, sobre
a qual se acu ​mu ​lam pes ​qui ​sas empí ​ri ​cas
e estu​dos teó ​ri ​cos em um volu​me con ​si ​-
de ​ra ​vel ​men​te ele ​va ​do e que vem cres ​cen ​-
do em pro ​por ​ções extraor ​di ​ná ​rias nos
últi ​mos anos. Apa ​re ​ce pri ​mei ​ro como
uma espe ​cia ​li ​da ​de das ciên​cias ​sociais
ame ​ri ​ca ​nas, para, enfim, ​ganhar o mundo
no ras ​tro da dis ​se ​mi ​na ​ção do pró ​prio
fenô ​me ​no que lhe é obje ​to. O cres ​ci ​men​-
to da área é tão gran​de que os estu​dio ​sos,
que já não con​se ​guem acom ​pa ​nhar toda a
biblio ​gra ​fia, come ​çam a cul ​ti ​var espe ​cia ​-
li ​da ​des den ​tro da espe ​cia ​li ​da ​de, uns se
ocu ​pan ​do do estu ​do das cam ​pa ​nhas polí ​-
ti ​cas, ​outros dos meca ​nis​mos da demo ​-
cra ​cia em face das mudan​ças na polí ​ti ​ca
em fun ​ção da comu ​ni ​ca ​ção, ​outros ainda
do jor ​na ​lis ​mo polí ​ti ​co e da cober ​tu ​ra da
impren ​sa do jogo polí ​ti ​co, ​outros, por
fim, come ​çam a se dedi ​car a uma espé ​cie
de comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca com ​pa ​ra ​da entre
as ​várias ​regiões do mundo etc.
Mas um campo de pes ​qui ​sas não se
forma, pelo menos não tão rapi ​da ​men ​te e
com tanta inten ​si ​da ​de, se não hou ​ver um
fenô ​me ​no na ordem da rea ​li ​da ​de que o
jus ​ti ​fi ​que. De fato, o que salta aos olhos
de todos neste momen ​to, é a velo ​ci ​da ​de
com que um mode ​lo de inter ​fa ​ce entre as
esfe ​ras da comu ​ni ​ca ​ção de massa e da
polí ​ti ​ca se esta ​be ​le ​ceu e se espa ​lhou pelo
mundo nas últi ​mas três, no máxi ​mo qua ​-
tro déca ​das. Em geral des ​ta ​cam-se os
seguin​tes aspec ​tos:
1. Que a polí ​ti ​ca con ​tem ​po ​râ ​nea, do
exer ​cí ​cio do gover ​no à dis ​pu ​ta elei ​to ​ral,
se esta ​be ​le ​ce numa estrei ​ta rela ​ção com a
comu ​ni ​ca ​ção de massa. Ganha ares de
evi ​dên​cia comum o fato de que gran ​de
parte da ação polí ​ti ​ca se dá em rela ​ção
com a comu​ni ​ca ​ção, que os agen​tes polí ​-
ti ​cos (mesmo aque ​les da socie ​da ​de civil)
ten ​dem a atuar para esfe ​ra de visi ​bi ​li ​da ​-
de públi ​ca con​tro ​la ​da pela comu ​ni ​ca ​ção,
que gran ​de parte (senão tudo) da polí ​ti ​ca
se encer ​ra nos meios, lin ​gua ​gens, pro ​ces ​-
sos e ins ​ti ​tui ​ções da comu​ni ​ca ​ção de
massa, que a pre ​sen ​ça da tele ​vi ​são alte ​-
rou a ati ​vi ​da ​de polí ​ti ​ca e exi ​giu a for ​ma ​-
ção de novas com ​pe ​tên​cias e habi ​li ​da ​des
no campo polí ​ti ​co que lhe trans ​for ​ma ​-
ram sig​ni ​fi ​ca ​ti ​va ​men ​te a con ​fi ​gu ​ra ​ção
inter ​na.
2. Que, em fun ​ção disso, as estra ​té ​gias
elei ​to ​rais em par ​ti ​cu ​lar e as estra ​té ​gias
polí ​ti ​cas em geral ​supõem uma cul ​tu ​ra
polí ​ti ​ca cen ​tra ​da no con ​su​mo de ima ​gens
públi ​cas. Os pro ​ce ​di ​men ​tos de pro ​du​ção
e cir ​cu ​la ​ção de ima ​gens e de dis ​pu ​ta pela
impo ​si ​ção das ima ​gens pre ​do ​mi ​nan​tes
des ​lo ​cam-se em dire ​ção ao cen​tro da ati ​-
vi ​da ​de estra ​té ​gi ​ca da polí ​ti ​ca.
3. Que tais estra ​té ​gias, para serem efi ​-
cien ​tes, soli ​ci ​tam as com ​pe ​tên​cias e as
habi ​li ​da ​des téc ​ni ​cas do mar ​ke ​ting, da
son ​da ​gem de opi ​nião, das con​sul ​to ​rias de
ima ​gem, das aná ​li ​ses de opi ​nião públi ​ca
e das asses ​so ​rias de comu​ni ​ca ​ção. Tais
habi ​li ​da ​des e com ​pe ​tên​cias se cons ​ti ​tuí ​-
ram, por con ​se ​guin​te, num uni ​ver ​so de
ser ​vi ​ços polí ​ti ​cos essen​ciais para o suces ​-
so das ins ​ti ​tui ​ções nas com ​pe ​ti ​ções elei ​-
to ​rais e no exer ​cí ​cio do gover ​no.
4. Que a depen ​dên​cia da comu ​ni ​ca ​ção de
massa com ​por ​ta a ne ​ces ​si ​da ​de de que, em
fun ​ção de cál ​cu ​los de efi ​ciên​cia, os dis ​-
cur ​sos polí ​ti ​cos pre ​do ​mi ​nan​tes sejam
orga ​ni ​za ​dos de acor ​do com a gra ​má ​ti ​ca
espe ​cí ​fi ​ca das lin ​gua ​gens dos meios onde
devem cir ​cu​lar. Lin​gua ​gens que vêm a
ser jus ​ta ​men​te aque ​las que orien​tam a
apre ​cia ​ção e o con ​su​mo de men ​sa ​gens
por parte dos públi ​cos que se dese ​ja
alcan ​çar. Donde a neces ​si ​da ​de de con​ver ​-
são do dis ​cur ​so polí ​ti ​co segun ​do a gra ​-
má ​ti ​ca do audio ​vi ​sual e as fór ​mu ​las de
exi ​bi ​ção e de nar ​ra ​ção pró ​prias do uni ​-
ver ​so do entre ​te ​ni ​men ​to. Decor ​re desse
pres ​su ​pos ​to a evi ​dên ​cia da cen​tra ​li ​da ​de
de estra ​té ​gias vol ​ta ​das para a pro ​du​ção e
admi ​nis ​tra ​ção de afe ​tos e de emo ​ções,
para a con​ver ​são de even ​​tos e ​idéias em
nar ​ra ​ti ​vas e para o des ​ta ​que daqui ​lo que
é espe ​ta ​cu​lar, inco ​mum ou escan ​da ​lo ​so.
5. Que as estra ​té ​gias polí ​ti ​cas, apoia ​das
em dis ​po ​si ​ti ​vos e re ​cur ​​sos da comu ​ni ​ca ​-
ção, vol ​tam-se dire ​ta ​men ​te para os
públi ​cos que cons ​​​ti ​tuem a audiên ​cia dos
meios de infor ​ma ​ção e entre ​te ​ni ​men​to e
que, por con ​se ​guin​te, for ​mam a clien​te ​la
que deman​da e con ​so ​me os seus pro ​du ​-
tos. A supo ​si ​ção domi ​nan ​te é de que as
audiên​cias podem ser con ​ver ​ti ​das em
elei ​to ​res, nos perío ​dos elei ​to ​rais, e em
opi ​nião públi ​ca favo ​rá ​vel, no jogo polí ​ti ​-
co regu ​lar, atra ​vés da comu​ni ​ca ​ção de
mas ​sas.
Os dis ​cur ​sos em que se regis ​tra e des ​ta ​-
ca a novi ​da ​de não se con ​ten ​tam, em
geral, com a enun ​cia ​ção das carac ​te ​rís ​ti ​-
cas pre ​do ​​​​mi ​nan ​tes da polí ​ti ​ca que se
trans ​for ​ma. Com efei ​to, a esse pri ​mei ​ro
rol de carac ​te ​rís ​ti ​cas se acres ​cen ​ta comu​-
men​te um se ​gun​do elen ​co que se des ​ti ​na
a indi ​car as alte ​ra ​ções que inci ​dem sobre
domí ​nios fun ​da ​men ​tais da ati ​vi ​da ​de
polí ​ti ​ca nes ​ses novos tem ​pos. Tais alte ​ra ​-
ções são nor ​mal ​men ​te qua ​li ​fi ​ca ​das como
per ​das ou des ​fi ​gu ​ra ​ções de aspec ​tos
impor ​tan​tes na con​fi ​gu ​ra ​ção da arte polí ​-
ti ​ca. Em geral, quan ​do são qua ​li ​fi ​ca ​das
isso é feito com base em ​razões cro ​no ​ló ​-
gi ​cas ou nor ​ma ​ti ​vas. A qua ​li ​fi ​ca ​ção cro ​-
no ​ló ​gi ​ca se dá num pre ​su​mi ​do juízo de
fato apoia ​do em conhe ​ci ​men​to his ​tó ​ri ​co,
indi ​can ​do-se como cer ​tas pro ​prie ​da ​des
que outro ​ra efe ​ti ​va ​men​te con​fi ​gu ​ra ​vam a
polí ​ti ​ca foram alte ​ra ​das ou desa ​pa ​re ​ce ​-
ram, enquan​to a qua ​li ​fi ​ca ​ção nor ​ma ​ti ​va
tra ​ba ​lha com a idéia de que cer ​tas pro ​-
prie ​da ​des, cate ​go ​rial ​men ​te essen ​ciais ao
con ​cei ​to de polí ​ti ​ca ou de demo ​cra ​cia, já
não se encon ​tram ou foram des ​fi ​gu​ra ​das.
Além disso, os dis ​cur ​sos que dão conta
das trans ​for ​ma ​ções bus ​cam esta ​be ​le ​cer
cone ​xões entre o elen​co das novi ​da ​des e a
lista das alte ​ra ​ções, geral ​men ​te atra ​vés
de rela ​ções dire ​tas de causa e efei ​to.
Alter ​na ​ti ​va ​men​te, recor ​re-se a um pro ​ce ​-
di ​men ​to retó ​ri ​co que con ​sis ​te em jus ​ta ​-
por as duas clas ​ses (a das novi ​da ​des e a
das dis ​fun ​ções) para, então, cha ​mar em
causa um ter ​cei ​ro ele ​men ​to, em geral
mudan ​ças na socie ​da ​de, que as deter ​mi ​-
na ​ria. Por fim, as alte ​ra ​ções são apre ​sen ​-
ta ​das como perda de pro ​prie ​da ​des. Uma
perda que dife ​ren ​tes retó ​ri ​cas ​situam
numa esca ​la de graus que varia da sim ​-
ples asser ​ti ​va da dimi ​nui ​ção da impor ​-
tân ​cia de um fenô ​me ​no deter ​mi ​na ​do até
a afir ​ma ​ção radi ​cal do seu desa ​pa ​re ​ci ​-
men ​to ou fim.
As pro ​prie ​da ​des que ​teriam cons ​ti ​tuí ​-
do, efe ​ti ​va ou essen​cial ​men ​te, a ati ​vi ​da ​de
polí ​ti ​ca em socie ​da ​des demo ​crá ​ti ​cas e
que no momen ​to ces ​sa ​ram a sua fun ​ção
ou viram redu ​zi ​das a sua impor ​tân ​cia,
são em geral aque ​las indi ​ca ​das abai ​xo:
1. O alcan ​ce dos valo ​res ideo ​ló ​gi ​cos no emba ​te
polí ​ti ​co e na carac ​te ​ri ​za ​ção das posi ​ções em
dis ​pu ​ta. Carac ​te ​rís ​ti ​cas da gra ​má ​ti ​ca e da
lógi ​ca da enun ​cia ​ção na comu​ni ​ca ​ção de
massa, como a prio ​ri ​da ​de da ima ​gem
sobre o ver ​bal e o pre ​do ​mí ​nio do texto
curto, dire ​to e forte sobre o dis ​cur ​so
argu​men​ta ​ti ​vo clás ​si ​co, esva ​zia ​riam as
con ​tra ​po ​si ​ções ideo ​ló ​gi ​cas. Dife ​ren​ças
ideo ​ló ​gi ​cas são dife ​ren ​ças de visão do
mundo e da vida. A lin​gua ​gem veloz da
comu ​ni ​ca ​ção indus ​trial, pouco afei ​ta ao
dis ​cur ​so e à polê ​mi ​ca com ​ple ​xa e ver ​bal ​-
men ​te sofis ​ti ​ca ​da, impe ​di ​ria a expo ​si ​ção
ade ​qua ​da das dife ​ren​ças entre as posi ​ções
polí ​ti ​cas e, ainda mais, cons ​ti ​tui ​riaum
empe ​ci ​lho à polê ​mi ​ca dis ​cur ​si ​va que se
deve ​ria ​seguir à apre ​sen ​ta ​ção das posi ​-
ções. Além disso, as com ​pe ​tên ​cias comu​-
ni ​ca ​cio ​nais tra ​zi ​das para o campo polí ​ti ​-
co por téc ​ni ​cos de mar ​ke ​ting, de ima ​gem
e de opi ​nião, ten​de ​riam a redu ​zir o com ​-
po ​nen​te espe ​ci ​fi ​ca ​men ​te polí ​ti ​co da
arena, con ​ver ​ten​do as dife ​ren​ças ideo ​ló ​-
gi ​cas em alter ​na ​ti ​vas de marca, pre ​fe ​rên​-
cia e gosto.
2. Idéias, con ​cei ​tos e pro ​gra ​mas polí ​ti ​cos. Na
mesma linha de racio ​cí ​nio, como a
comu ​ni ​ca ​ção se diri ​ge ime ​dia ​ta ​men​te a
um públi ​co de massa inte ​res ​sa ​do em
entre ​te ​ni ​men ​to, curio ​si ​da ​des, espe ​tá ​cu​-
los e com ​pe ​ti ​ções, a tare ​fa de dis ​cu ​tir
con ​cei ​tos, for ​mu​lar e apre ​sen​tar ​idéias,
expor e dis ​pu​tar pro ​gra ​mas se tor ​na ​ria
infe ​cun​da e ingra ​ta. Um gran​de públi ​co
dota ​do de pouco capi ​tal cul ​tu​ral, muita
impa ​ciên​cia, peque ​no inte ​res ​se estri ​ta ​-
men ​te polí ​ti ​co, con​si ​de ​rá ​vel ofer ​ta de
pro ​du ​tos de infor ​ma ​ção e entre ​te ​ni ​men​-
to, muito difi ​cil ​men​te se deixa entre ​ter
pelos dis ​cur ​sos coe ​ren​tes, lon ​gos e sutis e
pela con ​tra ​po ​si ​ção de ​idéias e con​cei ​tos.
Além disso, o pró ​prio sis ​te ​ma polí ​ti ​co se
recon ​fi ​gu​ra de tal modo que à dis ​pu ​ta
polí ​ti ​ca inte ​res ​sa a per ​cep​ção das pre ​di ​-
le ​ções do públi ​co e a con ​quis ​ta da sua
pre ​fe ​rên ​cia, não inte ​res ​san​do a opi ​nião
públi ​ca senão naqui ​lo que nela é sufi ​-
cien ​te para pro ​du ​zir o voto.
3. O públi ​co. Teria havi ​do uma trans ​fi ​gu​-
ra ​ção dos valo ​res públi ​cos demo ​crá ​ti ​cos,
por força dos meca ​nis ​mos da comu​ni ​ca ​-
ção de massa. Antes de tudo, “os públi ​-
cos” – enten ​di ​dos como reu ​niões de indi ​-
ví ​duos pri ​va ​dos para a dis ​cus ​são das coi ​-
sas de inte ​res ​se polí ​ti ​co e para a, con ​se ​-
qüen​te, for ​ma ​ção dis ​cur ​si ​va da opi ​nião –
ter-se-iam tor ​na ​do dis ​pen​sá ​veis, pois a
comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca de massa nem o
reco ​nhe ​ce ​ria nem o pres ​su ​po ​ria, res ​trin​-
gin ​do-se o seu inte ​res ​se às audiên​cias ou
aos públi ​cos-espec ​ta ​do ​res. Por con ​se ​-
qüên​cia, o deba ​te rea ​li ​za ​do pelos públi ​-
cos de cida ​dãos per ​de ​ria a sua impor ​tân​-
cia em face do deba ​te feito para a apre ​-
cia ​ção públi ​ca, rea ​li ​za ​do no inte ​rior dos
meios de comu ​ni ​ca ​ção e pro ​ta ​go ​ni ​za ​do
por “for ​ma ​do ​res de opi ​nião”. Enfim, a
opi ​nião públi ​ca, enten​di ​da como a posi ​-
ção sobre as ques ​tões de inte ​res ​se comum
resul ​tan​te da dis ​cus ​são de públi ​cos de
cida ​dãos ver-se-ia subs ​ti ​tuí ​da por uma
opi ​nião pro ​du ​zi ​da pro ​fis ​sio ​nal ​men ​te
atra ​vés de flu​xos de comu​ni ​ca ​ção des ​ti ​-
na ​dos à audiên ​cia, por ​tan​to, for ​ma ​da
longe dos públi ​cos.
4. Auten ​ti ​ci ​da ​de. Sus ​pei ​ta-se de uma
perda de auten​ti ​ci ​da ​de geral da polí ​ti ​ca.
Essa com ​preen ​são decor ​re da per ​cep​ção
de que o campo polí ​ti ​co é cada vez mais
pro ​fis ​sio ​nal, téc ​ni ​co, cien ​tí ​fi ​co e de que
a comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca de massa supõe
pla ​ne ​ja ​men​to, pre ​vi ​são e con​tro ​le. Per ​ce ​-
be-se que aqui ​lo que o agen​te polí ​ti ​co
diz e faz e que o modo como ele se apre ​-
sen​ta acom ​pa ​nham um ​script pro ​fis ​sio ​-
nal ​men ​te esta ​be ​le ​ci ​do e orien​ta ​do por
cál ​cu ​los de efi ​ciên​cia. Per ​ce ​be-se, ade ​-
mais, que há cada vez menos espa ​ço para
o ama ​do ​ris ​mo, para a pre ​ca ​rie ​da ​de da
orga ​ni ​za ​ção, para a impro ​vi ​sa ​ção e para a
espon ​ta ​nei ​da ​de. Busca-se con ​tro ​lar o
acaso e esta ​be ​le ​cer pre ​vi ​sões e pro ​vi ​dên ​-
cias. A son ​da ​gem, a pes ​qui ​sa, a aná ​li ​se
pro ​du ​zem o tempo todo sabe ​res que per ​-
mi ​tem a ante ​vi ​são e a inter ​ven ​ção do
arti ​fí ​cio tendo em vista o suces ​so polí ​ti ​-
co. Até mesmo as agen ​das, isto é, o sis ​te ​-
ma das prio ​ri ​da ​des ​sociais que o públi ​co
acre ​di ​ta serem as suas, podem ser con ​-
du ​zi ​das e con ​tro ​la ​das. O mesmo pode ser
dito da opi ​nião públi ​ca, que antes seria
pro ​du ​zi ​da pelo uni ​ver ​so polí ​ti ​co e pelo
mundo da comu ​ni ​ca ​ção. Em suma, onde
há arti ​fi ​cia ​li ​da ​de, inter ​ven ​ção téc ​ni ​ca, a
auten ​ti ​ci ​da ​de per ​de ​ria força e sen ​ti ​do.
5. Par ​ti ​dos e repre ​sen ​ta ​ção. Por se diri ​gir
prio ​ri ​ta ​ria ​men ​te à massa, a polí ​ti ​ca que
se apóia na comu​ni ​ca ​ção ​social tor ​nar-se-
ia, de algum modo, ple ​bis ​ci ​tá ​ria, isto é,
depen​de ​ria da apro ​va ​ção ou da repro ​va ​-
ção dire ​ta dos públi ​cos. Com isso, per ​de ​-
riam impor ​tân ​cia e efe ​ti ​vi ​da ​de as ins ​ti ​-
tui ​ções e estru​tu ​ras que se apre ​sen ​tam,
his ​to ​ri ​ca ​men​te, como a repre ​sen ​ta ​ção do
inte ​res ​se e da von ​ta ​de dos cida ​dãos no
inte ​rior do mundo polí ​ti ​co, os par ​ti ​dos.
Esta ​riam vin ​cu​la ​das a esse fato as cons ​-
tan​te ​men ​te decla ​ra ​das cri ​ses ​atuais dos
par ​ti ​dos polí ​ti ​cos e da clas ​se polí ​ti ​ca tra ​-
di ​cio ​nal. Como os par ​ti ​dos cum ​prem
basi ​ca ​men ​te a fun​ção de gover ​nar, con​-
tro ​lar a quem gover ​na ou cons ​ti ​tuir uma
alter ​na ​ti ​va de gover ​no, a dimi ​nui ​ção da
sua impor ​tân ​cia inci ​di ​ria gra ​ve ​men ​te
sobre a con ​du ​ção do Esta ​do, com con​se ​-
qüên ​cias que ainda não podem ser total ​-
men ​te pre ​vis ​tas, mas que, no míni ​mo,
deve ​riam recon ​fi ​gu ​rar a polí ​ti ​ca con ​tem ​-
po ​râ ​nea como um todo.
6. Inser ​ção dos cida ​dãos no jogo polí ​ti ​co.
Como a arena polí ​ti ​ca se apóia nos pro ​-
ces ​sos, men​sa ​gens e lin ​gua ​gens da comu​-
ni ​ca ​ção de massa, os cida ​dãos ​seriam aí
impli ​ca ​dos nos mes ​mos ter ​mos que os
públi ​cos são supos ​tos na indús ​tria da
comu ​ni ​ca ​ção, isto é, como espec ​ta ​do ​res.
De um lado, isso quer dizer que a ati ​vi ​-
da ​de supos ​ta seria ape ​nas a da esco ​lha em
face de uma ofer ​ta de pro ​du ​tos polí ​ti ​cos
apre ​sen ​ta ​dos no bal ​cão dos meios de
comu​ni ​ca ​ção. Uma ati ​vi ​da ​de que repre ​-
sen​ta ​ria ao mesmo tempo uma pas ​si ​vi ​da ​-
de, por ​que a audiên ​cia não seria con​vo ​ca ​-
da para a fase da pro ​du ​ção e da emis ​são
do pro ​du ​to polí ​ti ​co. O públi ​co de massa
não seria pre ​vis ​to como agen​te, mas
como um con ​jun ​to deter ​mi ​ná ​vel de inte ​-
res ​ses e neces ​si ​da ​des que os pro ​du ​tos
polí ​ti ​cos se des ​ti ​nam a satis ​fa ​zer. Além
disso, do públi ​co ima ​gi ​na ​do pelo cir ​cui ​-
to atual da comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca não se
espe ​ra ​ria ou supo ​ria que neces ​si ​te colo ​-
car-se no inte ​rior de for ​mas asso ​cia ​ti ​vas e
dis ​cur ​si ​vas para rea ​li ​zar o seu papel de
con​su ​mi ​dor dos pro ​du ​tos polí ​ti ​cos, como
pre ​su ​mi ​vel ​men ​te se usava fazer em
mode ​los ante ​rio ​res de vida públi ​ca. A
inser ​ção da cida ​da ​nia no jogo polí ​ti ​co,
por ​tan ​to, não ape ​nas seria pos ​te ​rior e, de
certo modo, pas ​si ​va, como tam ​bém seria,
por assim dizer, pri ​va ​da.
Ao lei ​tor já pron ​to para se enga ​jar nes ​-
ses jul ​ga ​men ​tos e nes ​sas iden ​ti ​fi ​ca ​ções
sugi ​ro pru ​dên ​cia. Tra ​tan ​do-se de uma
espe ​cia ​li ​da ​de ainda em for ​ma ​ção e com
gran ​de cir ​cu ​la ​ção de hipó ​te ​ses e teses,
mas tam ​bém de pal ​pi ​tes e impres ​sões,
con​vém exa ​mi ​nar tudo mais de uma vez.
A área de comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca, prin​ci ​-
pal ​men ​te em sua teo ​ria, só há pouco
come ​çou a sair da fase do espan​to dian ​te
da novi ​da ​de repre ​sen ​ta ​da pela trans ​for ​-
ma ​ção midiática da polí ​ti ​ca, fase esta
que, como todo mundo sabe,nos leva
even ​tual ​men ​te a exa ​ge ​rar na per ​cep ​ção
do alcan​ce e na ava ​lia ​ção do sen​ti ​do das
coi ​sas novas. O momen ​to suces ​si ​vo, que
tal ​vez só agora se tenha esta ​be ​le ​ci ​do, é
aque ​le em que atra ​vés de pro ​ces ​sos de
crí ​ti ​ca inter ​na, come ​çam as sus ​pei ​tas e os
ree ​xa ​mes das ​velhas hipó ​te ​ses e teses
sere ​na ​men ​te pos ​tas e das evi ​dên ​cias
ainda pouco tes ​ta ​das.
Por outro lado, pare ​ce-me bas ​tan ​te ren ​-
tá ​vel, do ponto de vista didá ​ti ​co, tra ​ba ​-
lhar na área de estu ​dos da comu​ni ​ca ​ção
polí ​ti ​ca com a dico ​to ​mia entre hiper
midiáticos e hipo ​midiáticos. Os hiper ​-
midiáticos são aque ​les auto ​res, ​livros e
teses que iden​ti ​fi ​cam na comu ​ni ​ca ​ção de
massa, em seus meios, recur ​sos, ins ​ti ​tui ​-
ções e lin​gua ​gem o aspec ​to fun​da ​men ​tal
de qual ​quer fenô ​me ​no con​tem ​po ​râ ​neo
estu​da ​do, trate-se da cul ​tu ​ra, da socia ​bi ​-
li ​da ​de ou da polí ​ti ​ca. Os hipo ​midiáticos
são aque ​les que con ​ti ​nuam estu​dan​do
cul ​tu​ra, socia ​bi ​li ​da ​de ou polí ​ti ​ca como
se a comu​ni ​ca ​ção e a cul ​tu​ra de massa
fos ​sem ape ​nas mais uma das con ​tin ​gên ​-
cias e cir ​cuns ​tân​cias do mundo con​tem ​-
po ​râ ​neo, sem inci ​dên ​cia dire ​ta sobre a
natu ​re ​za dos fenô ​me ​nos e como ape ​nas
mais uma das variá ​veis ins ​tru​men ​tais a
expli ​car as coi ​sas. Pode-se esta ​be ​le ​cer de
modo cor ​re ​to que em deter ​mi ​na ​das cir ​-
cuns ​tân ​cias há muita pre ​sen ​ça, ou pou​-
quís ​si ​ma pre ​sen​ça, da comu ​ni ​ca ​ção nos
fenô ​me ​nos sem que se seja hipo ​mi ​diá ​ti ​co
ou hiper ​mi ​diá ​ti ​co – nem a pro ​cu ​ra de
uma ter ​cei ​ra posi ​ção será sem ​pre uma
neces ​si ​da ​de cien ​tí ​fi ​ca. Afi ​nal, há de se
admi ​tir fenô ​me ​nos onde a hipó ​te ​se da
pre ​sen ​ça da comu ​ni ​ca ​ção midiática
expli ​ca real ​men ​te muito pouco e ​outros
fenô ​me ​nos onde tal hipó ​te ​se expli ​ca
quase tudo. É a fami ​lia ​ri ​da ​de com o
fenô ​me ​no, a aten ​ção que ele nos soli ​ci ​ta,
que deve nos auto ​ri ​zar a iden ​ti ​fi ​car exa ​-
ta ​men ​te qual a dosa ​gem do “fator comu ​-
ni ​ca ​ção de massa” que expli ​ca sua natu​-
re ​za e suas carac ​te ​rís ​ti ​cas. É na ava ​lia ​ção
do grau e da inten ​si ​da ​de do fator que faz
sen ​ti ​do empre ​gar a dico ​to ​mia, enquan ​to
uns con​ce ​dem impor ​tân ​cia ​demais à
comu ​ni ​ca ​ção ​outros con ​ce ​dem de menos.
Antes que ​alguém me acuse de pla ​giar
uma dico ​to ​mia famo ​sa, aque ​la entre apo ​-
ca ​líp ​ti ​cos e inte ​gra ​dos, devo dizer em
minha defe ​sa que enquan​to na dico ​to ​mia
de Eco o prin ​cí ​pio de corte é dado pela
dife ​ren​ça de ava ​lia ​ção em ter ​mos axio ​ló ​-
gi ​cos, os hiper e hipo ​midiáticos se dis ​-
tin ​guem pela dife ​ren ​ça de inten ​si ​da ​de,
de grau. É-se apo ​ca ​líp ​ti ​co ou inte ​gra ​do
pelo modo como se julga o mundo con ​-
tem ​po ​râ ​neo e as suas mudan ​ças; o apo ​ca ​-
líp ​ti ​co o rejei ​ta, o inte ​gra ​do sente-se
con ​for ​tá ​vel. Dife ​ren ​te ​men ​te, os hiper ​mi ​-
diá ​ti ​cos são os que vêem comu ​ni ​ca ​ção ​-
demais nas coi ​sas, enquan​to os hipo ​mi ​-
diá ​ti ​cos a subes ​ti ​mam na expli ​ca ​ção dos
fenô ​me ​nos. Além disso, os dois mode ​los
que pro ​po ​nho são cons ​tru​tos teó ​ri ​cos
nega ​ti ​vos, com fina ​li ​da ​de didá ​ti ​ca, ela ​-
bo ​ra ​dos de tal forma que ​nenhum autor
pode con ​for ​ta ​vel ​men ​te iden ​ti ​fi ​car-se
com eles.
Isso para dizer que gran ​de parte das
teo ​ri ​za ​ções, aca ​dê ​mi ​cas ou não, sobre a
inter ​fa ​ce entre comu​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca é
ainda, no meu modo de ver, hiper ​-
midiática. Tende a exa ​ge ​rar a impor ​tân​-
cia da comu ​ni ​ca ​ção na trans ​for ​ma ​ção da
polí ​ti ​ca e da demo ​cra ​cia. Tende tam ​bém
a ser hiper ​bó ​li ​ca e pes ​si ​mis ​ta. Hiper ​bó ​li ​-
ca, por ​que vê mu ​dan ​ças ​demais, onde há
uma trans ​for ​ma ​ção que pre ​ci ​sa ser exa ​-
mi ​na ​da em seu alcan​ce. Pes ​si ​mis ​ta por ​-
que tende a não gos ​tar da trans ​for ​ma ​ção
que vê e a con​si ​de ​rá-la pior do que real ​-
men ​te o é.
Este livro tem como pre ​ten ​são ofe ​re ​cer
uma intro ​du​ção à espe ​cia ​li ​da ​de da comu ​-
ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca para estu ​dan ​tes das áreas
de comu​ni ​ca ​ção, ciên ​cia polí ​ti ​ca e socio ​-
lo ​gia. Ele con ​sis ​te na apre ​sen ​ta ​ção e na
dis ​cus ​são de um núme ​ro razoa ​vel ​men ​te
gran ​de dos temas e dos con ​cei ​tos fun​da ​-
men ​tais dessa espe ​cia ​li ​da ​de. Com oti ​-
mis ​mo, ima ​gi ​no que pode ​rá cons ​ti ​tuir
uma apre ​sen​ta ​ção con ​sis ​ten ​te do estado
da ques ​tão na espe ​cia ​li ​da ​de. Uma apre ​-
sen ​ta ​ção, razoa ​vel ​men ​te bem fun ​da ​da e
bem atua ​li ​za ​da, dota ​da de algu ​ma uti ​li ​-
da ​de até mesmo para os pes ​qui ​sa ​do ​res
mais expe ​rien ​tes, inte ​res ​sa ​dos numa ver ​-
são de ques ​tões can ​den ​tes de comu​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca.
Há neste livro mar ​cas de mais de uma
déca ​da de tra ​ba ​lho na área de comu​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca. Reto ​ma ​alguns arti ​gos e ​-
outros tan ​tos capí ​tu ​los de ​livros que
foram publi ​ca ​dos ao longo des ​ses anos,
em geral pro ​fun ​da ​men​te ree ​la ​bo ​ra ​dos
para esta publi ​ca ​ção, e os com ​bi ​na com ​-
outros tex ​tos pre ​pa ​ra ​dos exclu​si ​va ​men ​te
para este livro. Oito tex ​tos pre ​ce ​den ​tes,
den ​tre aque ​les que publi ​quei no perío ​do,
cons ​ti ​tuem a base de uma boa parte dos
seus capí ​tu ​los. ​Outros tan ​tos foram
bene ​fi ​cia ​dos pelo tra ​ba ​lho pre ​ce ​den ​te,
mas são ela ​bo ​ra ​ções iné ​di ​tas para com ​por
este volu ​me. Trata-se de mate ​rial pro ​du ​-
zi ​do no con ​tex ​to dos deba ​tes que for ​ma ​-
ram o campo de estu ​dos da comu​ni ​ca ​ção
polí ​ti ​ca no Bra ​sil e, não por acaso, que
acom ​pa ​nham pra ​ti ​ca ​men ​te todo o perío ​-
do de con ​so ​li ​da ​ção das prá ​ti ​cas de comu​-
ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca ​depois da res ​tau ​ra ​ção
demo ​crá ​ti ​ca no país. Tra ​ba ​lhar com os
mate ​riais mais ​velhos não foi, entre ​tan ​to,
uma mera con ​ve ​niên ​cia, mesmo por ​que ​-
alguns ​outros arti ​gos publi ​ca ​dos sobre o
mesmo assun ​to no perío ​do foram des ​car ​-
ta ​dos por mim por ​várias ​razões, mas
prin ​ci ​pal ​men ​te por não encon ​trar neles
coe ​rên ​cia com o pro ​je ​to de exa ​mi ​nar ​-
alguns dos con ​cei ​tos fun​da ​men ​tais de
comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca – que orien ​ta este
livro e tem orien ​ta ​do o meu per ​cur ​so
inte ​lec ​tual nos últi ​mos anos.
Os capí ​tu ​los O que há de comu ​ni ​ca ​ção na
comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca?, Nego ​cia ​ção polí ​ti ​ca
e comu ​ni ​ca ​ção de massa e A trans ​for ​ma ​ção da
polí ​ti ​ca foram cons ​truí ​dos intei ​ra ​men​te
para este livro. Embo ​ra iné ​di ​ta, uma
ver ​são do segun ​do texto foi dis ​cu​ti ​da na
XII Reu ​nião Anual da Com ​pós, em Reci ​-
fe, em junho de 2003, no grupo de tra ​ba ​-
lho de comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca.
A polí ​ti ​ca em cena e os inte ​res ​ses fora de
cena con​sis ​te na ree ​la ​bo ​ra ​ção do capí ​tu​lo
“O sis ​te ​ma da polí ​ti ​ca midiática”, publi ​-
ca ​do em 2002 na cole ​tâ ​nea Mídia, cul ​tu ​ra
e comu ​ni ​ca ​ção, orga ​ni ​za ​da por Anna Maria
Balogh, Anto ​nio Adami, Juan Dro ​guett e
Hay ​dée Car ​do ​so (São Paulo: Arte e Ciên​-
cia). A refor ​mu​la ​ção visou aten ​der a crí ​-
ti ​cas e suges ​tões rece ​bi ​das em duas oca ​-
siões impor ​tan​tes: a reu​nião do grupo de
tra ​ba ​lho em comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca na
XI Com ​pós, em 2002, no Rio de Janei ​ro,
e uma reu​nião de tra ​ba ​lho com os docen​-
tes do curso de mes ​tra ​do em comu ​ni ​ca ​-
ção da Uni ​ver ​si ​da ​de Tuiu​ti do Para ​ná.
O con ​tro ​le polí ​ti ​co da comu ​ni ​ca ​çãoapóia-se
no texto mais anti ​go den​tre aque ​les que
foram empre ​ga ​dos aqui. A sua base é
dada por “Pres ​su ​pos ​tos ético-polí ​ti ​cos da
ques ​tão da demo ​cra ​ti ​za ​ção da comu ​ni ​ca ​-
ção”, publi ​ca ​do em 1993 na cole ​tâ ​nea
Comu ​ni ​ca ​ção e cul ​tu ​ra con ​tem​po ​râ ​neas,
orga ​ni ​za ​da por Car ​los Alber ​to Mes ​se ​der
Perei ​ra e A. Faus ​to Neto (Rio de Janei ​ro:
Notr ​ya). Parte dele havia sido ree ​la ​bo ​ra ​-
da e publi ​ca ​da em 2001 com o títu​lo
“Die Dis ​kur ​se ​thik und die durch die
Mas ​sen ​me ​dien ver ​mit ​tel ​te und bear ​bei ​-
te ​te Kom ​mu ​ni ​ka ​tion”, na cole ​tâ ​nea Dis
kur ​se ​thik: Grun ​dle ​gung und Anwen ​dun ​-
gen, orga ​ni ​za ​da por M. ​Niquet, F. J. Her ​-
re ​ro e ​Michael Hanke (Würz ​burg:
Königs ​hau ​sen e Neu ​mann). O texto de
1993 foi com ​ple ​ta ​men ​te rees ​tru​tu ​ra ​do,
com gran ​de núme ​ro de des ​car ​tes e de
inclu ​sões e uma revi ​são com ​ple ​ta das
refe ​rên ​cias.
A pro ​pa ​gan ​da polí ​ti ​ca: ética e estra ​té ​gia é
resul ​ta ​do dos espó ​lios de dois tex ​tos pre ​-
ce ​den​tes. A base foi dada por “Pro ​pa ​gan ​-
da polí ​ti ​ca, ética e demo ​cra ​cia”, publi ​ca ​-
do em 1994 na cole ​tâ ​nea Mídia, elei ​ções e
demo ​cra ​cia, orga ​ni ​za ​da por Heloi ​za Matos
(São Paulo: Scrit ​ta). Outro texto for ​ne ​ceu
um con ​jun ​to de suges ​tões e ​alguns tre ​-
chos: “Estra ​té ​gia retó ​ri ​ca e ética da argu​-
men ​ta ​ção”, publi ​ca ​do neste mesmo ano
na cole ​tâ ​nea Bra ​sil: comu ​ni ​ca ​ção, cul ​tu ​ra e
polí ​ti ​ca, orga ​ni ​za ​da por A. Faus ​to Neto,
José Luiz Braga e Sér ​gio Porto (Rio de
Janei ​ro: Dia ​do ​rim). Como dez anos nos
dis ​tan​ciam da escri ​tu ​ra des ​ses tex ​tos,
eles pre ​ci ​sa ​ram ser bas ​tan​te alte ​ra ​dos
para esta publi ​ca ​ção, em fun ​ção não ape ​-
nas das mudan ​ças no mundo, mas tam ​-
bém das trans ​for ​ma ​ções dos pon ​tos de
vista do autor.
A polí ​ti ​ca de ima ​gem foi publi ​ca ​do ori ​gi ​-
nal ​men ​te na revis ​ta Fron ​tei ​ras, da Uni ​-
si ​nos, em seu nº. 1 (1999: pp.133-160,
v.1). O texto ​sofreu um núme ​ro peque ​no
de alte ​ra ​ções para este pro ​je ​to.
Thea ​trum Poli ​ti ​cum é a ree ​la ​bo ​ra ​ção de
dois tex ​tos pre ​ce ​den ​tes. A base foi dada
pelo capí ​tu​lo “Thea ​trum poli ​ti ​cum: a ence ​-
na ​ção polí ​ti ​ca na socie ​da ​de dos mass
media. Pri ​mei ​ra parte: as astú​cias da
polí ​ti ​ca”, publi ​ca ​do em 1995 na cole ​tâ ​-
nea A ence ​na ​ção dos sen ​ti ​dos: mídia, cul ​tu ​ra
e polí ​ti ​ca, orga ​ni ​za ​da por José Luiz Braga,
Sér ​gio Porto e A. Faus ​to Neto (Rio de
Janei ​ro: Dia ​do ​rim). Além disso, foram
assi ​mi ​la ​das algu ​mas ​seções de “Duas pre ​-
mis ​sas para a com ​preen ​são da polí ​ti ​ca-
espe ​tá ​cu ​lo”, publi ​ca ​do em 1996 na cole ​-
tâ ​nea O indi ​ví ​duo e as ​mídias, orga ​ni ​za
da por A. Faus ​to Neto e Mil ​ton Pinto
(Rio de Janei ​ro: Dia ​do ​rim). Os tex ​tos
foram tra ​ba ​lha ​dos, com mui ​tos des ​car ​tes
e ​várias inclu​sões, além da neces ​sá ​ria
atua ​li ​za ​ção das refe ​rên ​cias. Por fim, a
seção sobre jor ​na ​lis ​mo-espe ​tá ​cu ​lo repre ​-
sen ​ta um acrés ​ci ​mo iné ​di ​to para o pro ​je ​-
to deste livro.
Tra ​ba ​lhei aqui, por ​tan ​to, com coi ​sas ​-
velhas e novas (penso nas vete ​ra et nova
do baú de quin ​qui ​lha ​rias de que falam os
evan​ge ​lhos). Não dese ​jei des ​car ​tar as
mar ​cas do per ​cur ​so mas tam ​pou​co admi ​-
ti neste pro ​je ​to sim ​ples ​men ​te fazer uma
cole ​tâ ​nea de tex ​tos já publi ​ca ​dos. Espe ​ro
que tenha resul ​ta ​do um orga ​nis ​mo. Um
orga ​nis ​mo com as lacu​nas, as elip​ses, e as
rei ​te ​ra ​ções ine ​vi ​tá ​veis, pelas quais me
peni ​ten ​cio ante os even ​tuais lei ​to ​res,
mas, espe ​ro, tam ​bém com um nível
apro ​pria ​do de coe ​rên ​cia no argu​men ​to,
de con ​gruên ​cia na estru ​tu​ra ​ção dos temas
e de con ​sis ​tên ​cia no tra ​ta ​men ​to das
maté ​rias. De toda forma, com rela ​ção aos
tex ​tos pre ​ce ​den ​tes, con​si ​de ​ro que as ​-
linhas de pen ​sa ​men ​to são agora mais pre ​-
ci ​sas, a maté ​ria está mais atua ​li ​za ​da,
mais ama ​du​re ​ci ​da e mais ao par com o
esta ​do da inves ​ti ​ga ​ção inter ​na ​cio ​nal,
ainda que per ​sis ​tam as limi ​ta ​ções que
não se devem nem ao texto nem à época,
mas ao autor. No mais, cabe ape ​nas dizer
aos lei ​to ​res dos tex ​tos pre ​ce ​den ​tes e aos
even ​tuais futu ​ros lei ​to ​res, para ​fra ​sean ​do
Eco, que a par ​tir de agora acei ​ta ​rei dis ​-
cus ​sões sobre limi ​tes e pos ​si ​bi ​li ​da ​des da
comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca ou da minha com ​-
preen ​são dela ape ​nas a par ​tir des ​tas pági ​-
nas e não mais daque ​las do pas ​sa ​do.
Orien ​tei-me na escri ​ta pela ten ​ta ​ti ​va
de pro ​du ​zir cada capí ​tu ​lo como um argu​-
men ​to com ​ple ​to. Há, natu​ral ​men​te,
remis ​sões recí ​pro ​cas entre os capí ​tu ​los,
que não são meros arti ​fí ​cios, mas resul ​-
tam do reco ​nhe ​ci ​men ​to de que há argu​-
men ​tos tra ​ta ​dos de forma mais ade ​qua ​da
ou exten​sa em ​outras par ​tes. De todo
modo, cada um dos capí ​tu​los pro ​põe e
tenta res ​pon​der à sua pró ​pria ques ​tão.
Assim, embo ​ra eu sugi ​ra que o lei ​tor leia
os capí ​tu ​los na ordem em que eles estão
apre ​sen ​ta ​dos, essa suges ​tão pode ser alte ​-
ra ​da sem gran ​de pre ​juí ​zo.
O lei ​tor nota ​rá que neste texto lido
com ​alguns adver ​sá ​rios invi ​sí ​veis. São os
meus fan ​tas ​mas e, como nin ​guém tem
culpa de que eu os tenha, acho ​melhor
apre ​sen ​tá-los desde já. O pri ​mei ​ro é
repre ​sen​ta ​do pelas hipó ​te ​ses que eu
chamo de hiper ​midiáticas. Uma espe ​cia ​-
li ​da ​de só pode ser con​si ​de ​ra ​da ama ​du​re ​-
ci ​da quan ​do não pre ​ci ​sa mais enfa ​ti ​zar o
fenô ​me ​no de que trata para que os ​outros
pos ​sam outor ​gar-lhe legi ​ti ​mi ​da ​de. Con​-
si ​de ​ro que a comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca pode
tran​qüi ​la ​men ​te dei ​xar para trás os seus
momen​tos hiper ​bó ​li ​cos e rea ​va ​liar os
fenô ​me ​nos que lhes são obje ​to numa
pers ​pec ​ti ​va menos ati ​ra ​da e, pro ​va ​vel ​-
men ​te, mais pró ​xi ​ma das mes ​mas coi ​sas.
Meu segun ​do fan ​tas ​ma é a ten​dên ​cia à
sim ​pli ​fi ​ca ​ção exces ​si ​va dos temas e cate ​-
go ​rias envol ​vi ​dos na idéia de comu ​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca. Os fenô ​me ​nos da rea ​li ​da ​de
não têm mar ​cas nem donos, por ​tan ​to os
pes ​qui ​sa ​do ​res não podem rei ​vin ​di ​car-lhe
posse nem inter ​di ​tar usos. E a comu ​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca está, lite ​ral ​men​te, na boca
do povo. Quan ​to maior é a comu​ni ​da ​de
de usuá ​rios de um obje ​to, de uma espe ​-
cia ​li ​da ​de, de um dis ​cur ​so, mais facil ​-
men​te vão se for ​man ​do os luga ​res- ​-
comuns, as “evi ​dên ​cias”, as “obvie ​da ​
des”, que, no fundo, fin ​dam por cons ​ti ​-
tuir sim ​pli ​fi ​ca ​ções vol ​ta ​das para faci ​li ​-
tar a comu ​ni ​ca ​ção. Com isso, mui ​tos dos
rele ​vos mais inte ​res ​san ​tes dos fenô ​me ​nos
vão sendo des ​pre ​za ​dos, esque ​ci ​dos nos
can ​tos, dados como pres ​su​pos ​tos, aplai ​-
na ​dos pelos con ​sen​sos ​fáceis. Nesse caso,
con ​si ​de ​ro útil, a quem se intro ​duz na
espe ​cia ​li ​da ​de de comu ​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca,
exa ​mi ​nar algu ​mas des ​sas obvie ​da ​des,
redis ​cu ​tir ​alguns pres ​su ​pos ​tos, recu​pe ​rar
algu​mas das ​noções dema ​sia ​do evi ​den​tes
para, a par ​tir daí, recons ​truir cate ​go ​rias e
con ​cei ​tos que se não forem mais sóli ​dos
pelo menos serão mais cons ​cien ​tes.
Enquan​to o últi ​mo capí ​tu ​lo repre ​sen​ta
uma res ​pos ​ta ao pri ​mei ​ro fan ​tas ​ma, o
pri ​mei ​ro capí ​tu ​lo lida dire ​ta ​men​te com
o pro ​ble ​ma da sim ​pli ​fi ​ca ​ção da dimen​são
pro ​pria ​men​te comu ​ni ​ca ​cio ​nalda dis ​cus ​-
são con​tem ​po ​râ ​nea sobre a comu ​ni ​ca ​ção
polí ​ti ​ca. São dois capí ​tu​los pro ​du ​zi ​dos
exclu​si ​va ​men​te para este livro e for ​ne ​-
cem basi ​ca ​men ​te a mol ​du ​ra dos con ​cei ​-
tos fun ​da ​men​tais da área que os ​demais
capí ​tu ​los repre ​sen ​tam. No capí ​tu​lo 1
pro ​cu ​ro argu​men ​tar a favor de uma
diver ​si ​da ​de de mode ​los da rela ​ção entre
comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca, afir ​man​do que o
padrão clás ​si ​co de dis ​cur ​so sobre meios
de comu​ni ​ca ​ção não cor ​res ​pon ​de à fase
mais con ​tem ​po ​râ ​nea da ins ​ti ​tu ​cio ​na ​li ​za ​-
ção empre ​sa ​rial da indús ​tria da comu ​ni ​-
ca ​ção e da for ​ma ​ção dos cam ​pos ​sociais
dos agen ​tes da comu ​ni ​ca ​ção e da cul ​tu ​ra
de massa. Por fim, tento demons ​trar que
o uni ​ver ​so da comu​ni ​ca ​ção que tem a ver
com a comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca envol ​ve clas ​-
ses e cam ​pos de agen ​tes muito dife ​ren ​-
cia ​dos em ter ​mos de habi ​li ​da ​des e pro ​pó ​-
si ​tos, em cons ​tan ​te mar ​ca ​ção des ​sas dife ​-
ren ​ças e em per ​ma ​nen ​te ten ​são.
No capí ​tu ​lo 2 exa ​mi ​no um fenô ​me ​no
que, apa ​ren ​te ​men ​te, esta ​ria dis ​tan ​te das
novas for ​mas de polí ​ti ​ca: a nego ​cia ​ção
que con​duz o jogo polí ​ti ​co. Cuido então
de carac ​te ​ri ​zar o jogo polí ​ti ​co, em elei ​-
ções e no pro ​ces ​so polí ​ti ​co regu ​lar, que se
esta ​be ​le ​ce pela rela ​ção entre gover ​no e
con ​gres ​so e no inte ​rior dos par ​ti ​dos. O
pro ​pó ​si ​to é mos ​trar – con ​tra os que afir ​-
mam a con ​ver ​são abso ​lu ​ta de todos os
recur ​sos da polí ​ti ​ca aos pro ​ce ​di ​men ​tos
espe ​ta ​cu ​la ​res asso ​cia ​dos aos meios de
comu ​ni ​ca ​ção – que as dimen ​sões da polí
ti ​ca de par ​ti ​dos que são extra-midiáticas
se man ​têm efi ​cien​te ​men ​te em ope ​ra ​ção
na polí ​ti ​ca con​tem ​po ​râ ​nea, prin​ci ​pal ​-
men ​te na forma da polí ​ti ​ca de nego ​cia ​-
ções. Pre ​ten ​do, além disso, demons ​trar –
con ​tra os que vêem os recur ​sos e lin ​gua ​-
gens da comu ​ni ​ca ​ção de massa ape ​nas
como mais um con ​jun ​to de ins ​tru ​men ​-
tos de que lança mão a prá ​ti ​ca polí ​ti ​ca na
sua ati ​vi ​da ​de bási ​ca, apoia ​da em alian​ças,
arti ​cu​la ​ções e dis ​pu ​tas de poder no inte ​-
rior dos par ​ti ​dos e gru ​pos de inte ​res ​se –
que a polí ​ti ​ca de nego ​cia ​ções é cons ​tan​-
te ​men​te visi ​ta ​da por injun ​ções pro ​ve ​-
nien ​tes das inter ​fa ​ces entre polí ​ti ​ca e
comu ​ni ​ca ​ção de massa.
No capí ​tu​lo 3 busco intro ​du ​zir uma
chave de lei ​tu ​ra para a comu​ni ​ca ​ção polí ​-
ti ​ca que per ​mi ​ta ​incluir, além da comu​-
ni ​ca ​ção e da polí ​ti ​ca, um ter ​cei ​ro ele ​-
men ​to que em geral tem sido des ​car ​ta ​do
nas aná ​li ​ses da área: o mundo dos negó ​-
cios. A ambi ​ção do pro ​pó ​si ​to, entre ​tan​to,
é mais do que ​incluir, mos ​trar como esse
uni ​ver ​so faz parte de um sis ​te ​ma essen​-
cial que se for ​mou na base da polí ​ti ​ca
midiática e que, na ver ​da ​de, é a sua con​-
di ​ção de pos ​si ​bi ​li ​da ​de. Supon ​do que a
maior parte dos estu ​dos tem pro ​cu ​ra ​do
iso ​lar o fenô ​me ​no da nova polí ​ti ​ca – a
“polí ​ti ​ca midiática” – estu ​dan ​do-o em
sua mecâ ​ni ​ca par ​ti ​cu ​lar e em suas con ​se ​-
qüên​cias para a arte polí ​ti ​ca e para a
demo ​cra ​cia, este capí ​tu ​lo sus ​ten ​ta a
hipó ​te ​se de que a inves ​ti ​ga ​ção acer ​ca da
polí ​ti ​ca midiática não deve pres ​cin ​dir da
supo ​si ​ção e aná ​li ​se de um sis ​te ​ma mais
geral que opera à sua base. Tenta, a par ​tir
daí, for ​mu ​lar um esbo ​ço dos ele ​men​tos
pre ​pon ​de ​ran​tes do sis ​te ​ma e dos encai ​xes
e desen ​cai ​xes de inte ​res ​ses dos seus sub ​-
sis ​te ​mas e carac ​te ​ri ​zar o modo de fun​cio ​-
na ​men ​to da tota ​li ​da ​de.
Os capí ​tu ​los 4 e 5 são de natu ​re ​za dife ​-
ren ​cia ​da dos ​demais, por ​que neles deixo
pela pri ​mei ​ra vez a carac ​te ​ri ​za ​ção da
polí ​ti ​ca midiática para enfren​tar, além
disso, ques ​tões nor ​ma ​ti ​vas. Os dois hori ​-
zon​tes de pro ​ble ​mas são repre ​sen ​ta ​dos
pela pro ​pa ​gan ​da polí ​ti ​ca e pelo con​tro ​le
polí ​ti ​co da comu ​ni ​ca ​ção. Trata-se de
ques ​tões que inci ​dem dire ​ta ​men ​te sobre
a qua ​li ​da ​de moral e demo ​crá ​ti ​ca das are ​-
nas dis ​cur ​si ​vas e sim ​bó ​li ​cas da polí ​ti ​ca
cons ​ti ​tuí ​das pela esfe ​ra de visi ​bi ​li ​da ​de
públi ​ca repre ​sen ​ta ​da pela comu​ni ​ca ​ção
de massa. Nes ​ses casos, con ​si ​de ​rei que
uma mera aná ​li ​se dos fenô ​me ​nos não
seria capaz de ofe ​re ​cer ao lei ​tor a parte
mais inte ​res ​san ​te da dis ​cus ​são. Os fenô ​-
me ​nos da pro ​pa ​gan ​da polí ​ti ​ca – par ​ti ​cu​-
lar ​men ​te da comu ​ni ​ca ​ção sis ​te ​ma ​ti ​ca ​-
men​te dis ​tor ​ci ​da que ela impli ​ca – e do
con ​tro ​le polí ​ti ​co dos meios de comu​ni ​ca ​-
ção são conhe ​ci ​dos o sufi ​cien​te. O que
con ​si ​de ​ro mais preg ​nan ​te para a com ​-
preen​são da polí ​ti ​ca e da demo ​cra ​cia con ​-
tem ​po ​râ ​neas, entre ​tan ​to, diz res ​pei ​to não
à exis ​tên ​cia dos pró ​prios fenô ​me ​nos, mas
à sua legi ​ti ​mi ​da ​de, ao seu direi ​to de ser,
em ter ​mos que, por ​tan ​to, são nor ​ma ​ti ​-
vos.
No capí ​tu ​lo 6, exa ​mi ​no o fenô ​me ​no da
polí ​ti ​ca de ima ​gem, isto é, o fenô ​me ​no
da trans ​for ​ma ​ção da arena polí ​ti ​ca num
espa ​ço de com ​pe ​ti ​ção pela pro ​du ​ção de
ima ​gens dos ato ​res polí ​ti ​cos, pelo con ​-
tro ​le do modo de sua cir ​cu ​la ​ção na esfe ​ra
de visi ​bi ​li ​da ​de públi ​ca, pelo seu geren​-
cia ​men ​to nos media e pela sua con ​ver ​são
em ima ​gem públi ​ca. Pri ​mei ​ro, apre ​sen ​-
tan ​do ele ​men ​tos para a for ​mu ​la ​ção de
uma teo ​ria da ima ​gem públi ​ca. ​Depois,
dis ​cu​tin ​do os meios, os modos, as clas ​ses
de agen ​tes e os pro ​pó ​si ​tos da luta polí ​ti ​-
ca como dis ​pu ​ta pela ima ​gem.
No capí ​tu ​lo 7, trato das carac ​te ​rís ​ti ​cas
dra ​ma ​túr ​gi ​cas da polí ​ti ​ca con ​tem ​po ​râ ​nea
nor ​mal ​men ​te desig ​na ​das na idéia de
“polí ​ti ​ca-espe ​tá ​cu ​lo”. O meu pro ​pó ​si ​to
aí é dis ​cu ​tir por que e como a polí ​ti ​ca
con​tem ​po ​râ ​nea ​ganhou as fei ​ções tea ​trais
que a todos pare ​cem pre ​do ​mi ​nan​tes. Sus ​-
ten ​to a hipó ​te ​se de que a cen​tra ​li ​da ​de da
esfe ​ra de visi ​bi ​li ​da ​de públi ​ca comu ​ni ​ca ​-
cio ​nal, domi ​na ​da por recur ​sos expres ​si ​-
vos e pro ​pó ​si ​tos comer ​ciais espe ​cí ​fi ​cos,
in​dus ​​trial e gra ​ma ​ti ​cal ​men ​te autô ​no ​ma
em face do mundo polí ​ti ​co, expli ​quem a
neces ​si ​da ​de que a polí ​ti ​ca pas ​sou a ter de
codi ​fi ​car-se por meios e modos espe ​ta ​cu ​-
la ​res. Pro ​cu ​ro então demons ​trar a ten ​são
entre os agen ​tes do campo polí ​ti ​co e
aque ​les do campo do jor ​na ​lis ​mo para
con ​tro ​lar a comu​ni ​ca ​ção polí ​ti ​ca na esfe ​-
ra de visi ​bi ​li ​da ​de públi ​ca e, sobre ​tu ​do,
para con ​ver ​tê-la numa lógi ​ca do espe ​tá ​-
cu ​lo.
Por fim, no capí ​tu ​lo 8 reto ​mo os aspec ​-
tos fun​da ​men​tais da con ​du​ção da opi ​nião
públi ​ca polí ​ti ​ca e da polí ​ti ​ca-espe ​tá ​cu ​lo
para dis ​cu ​tir se as mudan ​ças iden ​ti ​fi ​ca ​-
das na polí ​ti ​ca con ​tem ​po ​râ ​nea repre ​sen ​-
tam uma alte ​ra ​ção total ou uma trans ​for ​-
ma ​ção par ​cial dos seus ele ​men ​tos. Exa ​-
mi ​no a for ​ma ​ção dos dis ​cur ​sos sobre
polí ​ti ​ca de ima ​gem e opi ​nião e sobre a
ence ​na ​ção do poder bus ​can ​do situá-los
numa pers ​pec ​ti ​va his ​tó ​ri ​ca e cul ​tu ​ral,
con ​si ​de ​ro um pouco da biblio ​gra ​fia de
refe ​rên ​cia fun ​da ​men ​tal das dis ​cus ​sões
sobre opi ​nião polí ​ti ​ca e do poder em cena
e, enfim, apre ​sen ​to as ​minhas hipó ​te ​sessobre o alcan​ce e os sen​ti ​dos da trans ​for ​-
ma ​ção da polí ​ti ​ca em vir ​tu​de da sua rela ​-
ção com a comu ​ni ​ca ​ção de massa.
A pro ​du​ção deste livro é fruto de mui ​-
tos anos de ati ​vi ​da ​de de inten​sa coo ​pe ​ra ​-
ção inte ​lec ​tual com gran ​de parte dos pes ​-
qui ​sa ​do ​res que cons ​ti ​tuí ​ram a espe ​cia ​li ​-
da ​de de comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca no Bra ​sil,
prin ​ci ​pal ​men ​te nos ambien​tes asso ​cia ​dos
aos pro ​gra ​mas de pós-gra ​dua ​ção em
comu ​ni ​ca ​ção e ao grupo de tra ​ba ​lho de
Comu ​ni ​ca ​ção e Polí ​ti ​ca da Com ​pós, de
que tenho a honra de ter sido o pri ​mei ​ro
coor ​de ​na ​dor. Mui ​tos dos inter ​lo ​cu ​to ​res
estão nes ​ses ambien ​tes desde a pri ​mei ​ra
hora, ​outros foram se che ​gan ​do com os
anos. A todos devo muito e espe ​ro ape ​nas
que este livro este ​ja à altu​ra daqui ​lo que
com eles apren ​di. Este tra ​ba ​lho é resul ​ta ​-
do de mais de uma déca ​da de dis ​cus ​sões e
deba ​tes com Maria Hele ​na Weber, Afon ​-
so de Albu ​quer ​que, Mauro Porto, Heloi ​-
za Matos, Maria Ceres Cas ​tro, Elias
Macha ​do e Muri ​lo César Soa ​res da pri ​-
mei ​ra gera ​ção. Mas tam ​bém da inter ​lo ​-
cu ​ção com Vera Chaia, Fer ​nan ​do Aze ​ve ​-
do, Rou​si ​ley Maia, Jorge Almei ​da, Emi ​-
lia ​no José, Fer ​nan ​do Latt ​man-Welt ​man,
Ales ​san ​dra Aldé, Luis Feli ​pe ​Miguel,
Már ​cia Vidal, Reja ​ne Car ​va ​lho, José Luiz
Braga e Anto ​nio Faus ​to Neto. Mauro
Porto, Maria Hele ​na Weber, Afon ​so de
Albu ​quer ​que e Rou ​si ​ley Maia, além
disso, acei ​ta ​ram a dura tare ​fa de ler e
dis ​cu ​tir os ori ​gi ​nais, que têm cer ​ta ​men ​te
menos defei ​tos em vir ​tu ​de da crí ​ti ​ca
con ​sis ​ten ​te ou das indi ​ca ​ções gene ​ro ​sas
de rumo que rece ​bi de pre ​sen ​te des ​ses
com ​pa ​nhei ​ros nos cami ​nhos do pen ​sa ​-
men ​to.
Gos ​ta ​ria igual ​men​te de reco ​nhe ​cer as
mar ​cas que neste livro dei ​xa ​ram suces ​si ​-
vas gera ​ções de estu​dan ​tes da linha de
pes ​qui ​sa em comu ​ni ​ca ​ção e polí ​ti ​ca do
Pro ​gra ​ma de Pós-Gra ​dua ​ção em Comu ​-
ni ​ca ​ção e Cul ​tu ​ra Con ​tem ​po ​râ ​neas da
Uni ​ver ​si ​da ​de Fede ​ral da Bahia, den​tre
eles Vlá ​dia Jucá, Lia Sei ​xas, Jose ​nil ​do
Guer ​ra, Tat ​tia ​na Tei ​xei ​ra, Gil ​ber ​to
Wild ​ber ​ger Almei ​da, Car ​los Eduar ​do
Fran​cis ​ca ​to, Ota ​cí ​lio Ama ​ral e Jamil
Mar ​ques, além de Jorge Almei ​da e Emi ​-
lia ​no José, já cita ​dos. Jamil Mar ​ques,
além disso, foi o pri ​mei ​ro revi ​sor deste
tra ​ba ​lho e um crí ​ti ​co de pri ​mei ​ra linha
que me aju​dou em mui ​tos casos a encon ​-
trar a boa expres ​são e a com ​ple ​tar as ​-
minhas ​idéias.
Por fim, este tra ​ba ​lho não teria sido
pos ​sí ​vel sem as suces ​si ​vas bol ​sas de pro ​-
du ​ti ​vi ​da ​de em pes ​qui ​sa que me foram
con ​ce ​di ​das pelo CNPq e que per ​mi ​ti ​ram
a con​ti ​nui ​da ​de dos meus estu ​dos espe ​-
cial ​men ​te na últi ​ma déca ​da. Por outro
lado, sem as faci ​li ​da ​des do por ​tal de
perió ​di ​cos da Capes não me teria sido
pos ​sí ​vel nem a atua ​li ​za ​ção biblio ​grá ​fi ​ca
nem o reco ​nhe ​ci ​men ​to do esta ​do da
ques ​tão na lite ​ra ​tu ​ra inter ​na ​cio ​nal. Estas
duas ins ​ti ​tui ​ções repre ​sen ​tam o que há
de mais pre ​cio ​so em âmbi ​to nacio ​nal
para a pes ​qui ​sa públi ​ca e nunca é ​demais,
par ​ti ​cu ​lar ​men ​te em tem ​pos de cor ​tes e
penú ​rias, res ​sal ​tar a sua impor ​tân ​cia para
a ciên ​cia bra ​si ​lei ​ra.
1. Pano​ra​mas e balan​ços sobre a lite​ra​tu​ra em
comu​ni​ca​ção vêm se tor​nan​do abun​dan​tes. Não
é este o pro​pó​si​to cen​tral desta intro​du​ção, mas
o lei​tor inte​res​sa​do na ques​tão pode con​sul​tar
com pro​vei​to Swan​son e Nimmo 1990, ou Chaf​-
fee e Hoch​hei​mer 1982, para a lite​ra​tu​ra de lín​-
gua ingle​sa, e Matos 1994, Fran​ça 2000, além
de Aze​ve​do e Rubim 1998, para a pes​qui​sa em
comu​ni​ca​ção polí​ti​ca bra​si​lei​ra.
2. Pelo menos até que o estru​tu​ra​lis​mo con​fe​ris​-
se auto​no​mia ao estu​do das gra​má​ti​cas e das
lógi​cas dos pro​ce​di​men​tos expres​si​vos ou das
“lin​gua​gens” da comu​ni​ca​ção de massa. ​Depois
foi a vez da antro​po​lo​gia apli​ca​da à comu​ni​ca​ção
ou da socio​lo​gia das for​mas sim​bó​li​cas per​mi​ti​-
rem a com​preen​são do fun​cio​na​men​to das ins​ti​-
tui​ções envol​vi​das na comu​ni​ca​ção e na cul​tu​ra
de massa. Só então, apa​re​ce na teo​ria a pos​si​bi​-
li​da​de de se exa​mi​nar a comu​ni​ca​ção como lin​-
gua​gem, como forma cul​tu​ral e como campo ​-
social.
3. Não se deve res​trin​gir a ati​tu​de de sus​pei​ção
com rela​ção à comu​ni​ca​ção de massa ape​nas
com aque​las teo​rias dos efei​tos ime​dia​tos e subli​-
mi​na​res que cons​ti​tuí​ram a pri​mei​ra ten​dên​cia
impor​tan​te na pes​qui​sa ame​ri​ca​na em comu​ni​ca​-
ção e que foi hege​mô​ni​ca até meta​de dos anos
40. Esta pers​pec​ti​va acom​pa​nhou a pers​pec​ti​va
da “teo​ria crí​ti​ca” euro​péia, de ​matriz frank​fur​tia​-
na, que teve gran​de influên​cia até pelo menos os
anos 70. Além disso, tam​bém foi a ati​tu​de ado​-
ta​da pela linha​gem fran​ce​sa da crí​ti​ca da cul​tu​ra,
cujas ori​gens pare​cem refe​rir-se a Guy ​Debord e
que são de voga ainda hoje, por exem​plo, em
cer​tas inten​ções de pen​sa​men​to de Jean Bau​dril​-
lard.
4. Dois argu​men​tos pare​cem jus​ti​fi​car por​que a
opção de Fagen não é pela con​tra​po​si​ção entre
comu​ni​ca​ção de massa e polí​ti​ca. Ambos os
argu​men​tos estão asso​cia​dos a capa​ci​da​des e
carac​te​rís​ti​cas demons​tra​das, então, pela infor​-
ma​ção polí​ti​ca nos meios de comu​ni​ca​ção. Nos
anos 60, “esta capa​ci​da​de não exis​te em mui​tas
par​tes do mundo. Não nos deve​mos esque​cer
de que em deze​nas de ​nações a tele​vi​são está
come​çan​do a apa​re​cer, o rádio ainda enga​ti​nha e
quan​do os jor​nais fun​cio​nam, eles se diri​gem
ape​nas à peque​na par​ce​la alfa​be​ti​za​da da popu​-
la​ção”. Além disso, o con​su​mi​dor de tele​vi​são
con​so​me mais espe​tá​cu​lo que infor​ma​ção, ocu​-
pan​do o entre​te​ni​men​to a maior parte da pro​gra​-
ma​ção tele​vi​si​va. Assim, só espo​ra​di​ca​men​te
fica​mos “em con​ta​to com o mundo poli​ti​ca​men​te
impor​tan​te” Fagen (1971: 15).
1
O QUE HÁ DE COMU​NI ​CA​-
ÇÃO NA
COMU​NI ​CA​ÇÃO POLÍ ​TI ​CA?
Inquie ​tos, resig​na ​dos ou encan ​ta ​dos, os
nos ​sos con​tem ​po ​râ ​neos com ​par ​ti ​lham
uma con​vic ​ção bási ​ca a res ​pei ​to da polí ​-
ti ​ca tal como se pra ​ti ​ca em nos ​sos dias:
há uma zona cres ​cen​te e com ​pli ​ca ​da de
inter ​fa ​ce entre os uni ​ver ​sos da polí ​ti ​ca e
da comu​ni ​ca ​ção de massa. Para carac ​te ​ri ​-
zá-la, fre ​qüen​te ​men ​te empre ​ga ​mos
expres ​sões sin​gu​la ​res como “polí ​ti ​ca
midiática”5, “video ​po ​lí ​ti ​ca”, “comu ​ni ​ca ​-
ção polí ​ti ​ca”, ou, já impri ​min ​do na ter ​-
mi ​no ​lo ​gia um a prio ​ri inter ​pre ​ta ​ti ​vo,
“polí ​ti ​ca-espe ​tá ​cu​lo”, “espe ​ta ​cu​la ​ri ​za ​ção
do poder”, “polí ​ti ​ca show” e ​outras asse ​-
me ​lha ​das. Na mesma toada, a área de
estu​dos que veio se for ​man​do nas últi ​mas
déca ​das tendo como obje ​to esta inter ​fa ​ce,
expres ​sa-se igual ​men ​te em ter ​mi ​no ​lo ​gia
sin​gu​lar. Assim, por exem ​plo, fala-se
comu​men​te da espe ​cia ​li ​da ​de “comu ​ni ​ca ​-
ção e polí ​ti ​ca”, da área de estu​do de
“polí ​ti ​ca e media”, da linha de pes ​qui ​sa
em “mídia e elei ​ções”.
Essa inven​ção de pala ​vras-cha ​ves, que
só ulti ​ma ​men​te vem se fir ​man​do, ​depois
de algu ​mas déca ​das de osci ​la ​ção, pode
gerar a falsa idéia de que por trás de cada
expres ​são se escon​da um fenô ​me ​no único,
sim ​ples e facil ​men ​te iden​ti ​fi ​cá ​vel. Dito
de outro modo, isso pode pro ​du ​zir o des ​-
co ​nhe ​ci ​men ​to de que:
a) as expres ​sões se refe ​rem a um núme ​-
ro con​si

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