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Sumário PREFÁCIO INTRODUÇÃO O QUE HÁ DE COMUNICAÇÃO NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA? 1. Meios de comunicação e política: apenas meios? 2. Comunicação: relevos e ambientes 2.1. A comunicação em dois campos 2.2. A profissionalização da comunicação política NEGOCIAÇÃO POLÍTICA E COMUNICAÇÃO DE MASSA 1. Formas e agentes da luta política 2. A negociação política 2.1. As alianças sistemáticas 2.2. A barganha 3. Fatores que incidem sobre a política de negociação 3.1. A eleição interminável e a esfera de visibilidade pública 3.2. Os “fatores publicidade” 3.2.1. Palcos políticos e cotas de visibilidade 3.2.2. Risco de exposição negativa 3.2.3. Apoio popular 3.2.4. Imagem A POLÍTICA EM CENA E OS INTERESSES FORA DE CENA 1. A insuficiência da idéia de duplo domínio e a perspectiva do “terceiro convidado” 2. Três domínios, um sistema 3. De como cada domínio obtém ou tenta obter o que quer dos outros 3.1. Negócios e política 3.2. Comunicação e negócios 3.3. Comunicação e política O CONTROLE POLÍTICO DA COMUNICAÇÃO 1. Do controle da comunicação política 2. Do controle examinado de um ponto de vista normativo A PROPAGANDA POLÍTICA: ÉTICA E ESTRATÉGIA 1. A propaganda na comunicação política 2. A propaganda política e a lógica da comunicação: três cenas e algumas questões 2.1. Primeira cena: da propaganda à telepropaganda 2.2. Segunda cena: crítica da propaganda eleitoral midiática 2.3. Terceira cena: o espaço legal e a manutenção da lógica midiática 3. Ética política e propaganda midiática 3.1. Pressupostos de uma ética da dimensão pública 3.2. Problemas éticos da nova propaganda política 3.2.1. Primeira questão: esfera da situação interativa ideal (a desigualdade das pré- condições argumentativas) 3.2.2. Segunda questão: esfera das pré-condições ético-pragmáticas da interação (estratégia persuasiva vs. pretenção de verdade) A POLÍTICA DE IMAGEM 1. A disputa política e a disputa por imagem 2. Elementos para uma teoria da imagem pública política 2.1. A imagem pública: visual ou conceitual? 2.2. O fenômeno e a sua classe 2.3. Da dificuldade de identificação das imagens públicas 2.4. O fenômeno da imagem pública e a arte da política 2.5. Construindo a imagem pública política 2.6. Imagem pública e pesquisa de opinião 2.7. Imagens, perfis ideais e expectativas 3. Política de imagem THEATRUM POLITICUM 1. A política e a arte de compor representações 2. Premissas sobre a dramatização da comunicação política contemporânea 2.1. A comunicação de massa e a lógica publicitária 2.2. A lógica midiática no sistema informativo 2.3. A demanda cognitiva da política e o sistema informativo da comunicação de massa 3. A dramaturgia política 3.1. A encenação da política: as astúcias teatrais da esfera política 3.2. O jornalismo-espetáculo: quando os jornalistas produzem o drama político A TRANSFORMAÇÃO DA POLÍTICA 1. Política de aparências 1.1. Formulando o problema 1.2. A fabricação da glória de Luís XIV 1.3. Maquiavel e a prescrição do controle das aparências 2. A política-espetáculo 2.1. A política em cena 2.2. A dramaturgia política 2.3. A espetacularização da política 2.4. O simulacro político 2.5. As referências básicas 2.6. A política-espetáculo: continuidade ou descontinuidade? 2.6.1. As cerimônias do poder político 2.6.2. O manejo social das impressões 3. A transformação da política REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E PREFÁCIO JOSÉ LUIZ BRAGA stou convenci do de que este livro será obra de refe rên cia fun da men - tal para pes qui sa e estu dos sobre as rela ções en tre comuni ca ção e polí ti ca – quais quer que sejam os obje ti vos do lei tor, aca dê mi cos ou polí ti cos, teó ri cos ou prá ti cos, de ação polí ti ca ou de ação comuni ca cio nal. Junta men te com esta convic ção, decor - ren te da lei tura que fiz dos ori gi nais, sur giu tam bém a ques tão de como expres sar esse movi men to genuí no de valo ra ção. Para subli nhar o rigor da tare - fa, faço refe rência ao senti mento de enor - me satis fa ção que senti quando o prof. Wil son Gomes, por tele fo ne, con vi dou- me a escre ver a apre senta ção de seu livro – senti men to ime dia ta mente con fronta - do pela res pon sa bi li da de aca dê mi ca e pes soal dessa incum bência. Um dos ris - cos pre sen tes seria o de fazer ape nas elo - gios gené ri cos, de apre cia ção subje ti va. Ou então, ao tentar fugir dos adje ti vos de apre cia ção em dire ção ao mais subs tanti - vo, seria fácil cair no resu mo dos acha dos – usur pando do livro e do lei tor a tare fa de ofe re cê-los no melhor momen to e a de encontrá-los no pra zer da pró pria des co - ber ta. Apre sentar um livro faz, por tan to, parte dos gêne ros que, mais do que serem exer ci dos, pre ci sam ser desar ma di lha dos. É pre ci so então sus ten tar aque la con- vic ção ini cial em outras bases, que não ape nas a admi ra ção pes soal e aca dê mi ca que tenho pelo autor. Creio que isto pode ser feito pela obser va ção do que se apren - de com a lei tu ra deste livro. O autor nos fala sobre a trans for ma ção da polí ti ca por sua entra da em pro ces sos de comuni ca ção midia ti za da (ou pela entra da, nela, des ses pro ces sos). Las trea - do em exten si va refe rência a pes qui sas da área, no Bra sil e no exte rior, o autor as uti li za a ser vi ço de um eixo com pos to de pro po si ções orde na do ras e escla re ce do ras que são de sua pró pria ofer ta e contri bui - ção. Esse olhar, vigo ro so e crí ti co, ultra - pas sa o conhe ci mento esta be le ci do. Não caben do ante ci par, deixa-se ao livro e a seu lei tor os ensi na mentos e a apren di za - gem dessa con tri bui ção – ape nas enfa ti - za mos que todos os pon tos tra ta dos nos capí tulos efe ti va men te con ver gem para o que o títu lo da obra e o de seu capí tulo final enfo cam – as trans for ma ções da polí ti ca. Ao lado desta parte subs tanti va apren- de-se, ainda, com o que o prof. Wil son faz sobre seu obje to espe cí fi co; e ao fazê- lo, o que traz como apor tes para a inter - fa ce e para o campo da comu ni ca ção. Na cons trução de suas pro po si ções sobre o obje to (os pro ces sos ocor rentes na inter - fa ce entre a comuni ca ção e a polí ti ca e as trans for ma ções conse qüentes, no espa ço de uma socie da de midia tizada) o texto, bem mais do que dizer suas pers pec ti vas, desenvol ve ope ra ções por meio de seu pró prio mate rial, resul tando em um fazer com o qual o lei tor pode pro duti va men te inte ra gir. Uma ati vi da de rele vante (expres sa men- te pre ten di da e que, como lei tor, posso asse gu rar muito bem rea li za da) é a de expor o esta do da ques tão. A abran gência de pon tos em que a inter fa ce se põe como ques tão concre ta, como pro ble ma no espa ço polí ti co- social ou como desa fio para a refle xão em busca de conhe ci men- to é tal que o livro adqui re a dimensão de um quase-tra ta do. Ainda que haja (e cer - ta men te há) muito a des bra var nos ter ri - tó rios da inter fa ce, o tra ba lho topo grá fi - co rea li za do mos tra o des bra va mento feito até aqui por pes qui sa do res, mos - tran do, bem, os ter re nos conquis ta dos e os espa ços que ainda pedem o inves ti - mento de pes qui sas. A segunda ofer ta, dire ta mente rela cio - na da com esta, cor res pon de a subli nhar o pro cesso “em cons tru ção” dos estudos da inter fa ce – tra du zindo-se em hipó te ses esti mu la do ras de conti nua ção das pes qui - sas. O texto se man tém assim em aber to, impli ci tando, por seu esfor ço de abran- gência, novos espa ços nos quais a pes qui - sa se reno va rá. Uma ter cei ra ope ra ção do livro é de ordem pro ces sual. O modo de apre senta - ção das opções fei tas pelo uso dos dados e conhe ci mentos dis po ní veis, da pro po si - ção inter pre ta ti va das ques tões em pauta, e sobre tudo, o enca mi nha mento da refle - xão e do argu mento, tudo isso resul ta em indi ca ções meto do ló gi cas “ao vivo”, pro - duzi das no pró prio desenvol vi mento das idéias, obser va ções e tra ta mento do mate rial. Isto é, não se reduz a pro por “expli ca ções” carac te ri za do ras do fenô - me no em obser va ção, mas cons tante men- te pro duz ques tões e modos de abor da - gem que podem, por sua vez, ser uti li za - dos para novas pes qui sas e inter pre ta ções. Trata-se de uma con tri bui ção meto do ló - gi ca impor tante para os pes qui sa do res desse espa ço espe cí fi co, em que a polí ti ca e a comuni ca ção se rela cio nam em inci - dên cia mútua. Decor re daí ainda outra contri bui ção, bem mais ampla em abran gên cia, embo - ra menos expres sa nas inten ções do autor – entre tan to ple na mente rea li za da. Trata- se da ofer ta, tam bém de ordem meto do - ló gi ca, para o estudo de inter fa ces que a comuni ca ção obser va e entre tém com múl ti plas áreas outras do fazer huma no, - social, ins ti tu cio nal. É sobre tu do atra vés da com preensão e da for ma li za ção teó ri ca do conhe ci mento sobre como estas inter - fa ces se dão (em coo pe ra ção e con fli to) que, acima das dife renças entre os diver - sos espa ços de arti cula ção, o campo de estudo se cons trói na sua com ple xi da de e con sis tência. Essa cons tru ção do campo soli ci ta que se este ja cons tante mente atento para o que é pro pria mente “comuni ca cio nal” nos obje tos espe cí fi cos em pes qui sa, por con tras te ao que é pró prio dos obje ti vos e pro ces sos da área de arti cula ção. A per - gunta-título do Capí tulo 1 é emble má ti - ca dessa preo cupa ção, no livro, e marca a pre sença desse pro ce di mento de cons tru- ção do campo de estudos em Comuni ca - ção: “O que há de Comuni ca ção na Comuni ca ção Polí ti ca?” O campo da comuni ca ção (tanto no ambiente social como na pro dução de conhe ci mento aca dê mi co) é estru tural - mente um âmbi to de inter fa ces. Na socie da de, a pro ces sua li da de comu ni ca - cio nal se rea li za por inclusi vi da de, obser - vando e absor vendo, de modo avas sa la - dor, toda e qual quer ação ou temá ti ca - social. Carac te ri za-se tam bém por sua pene tra bi li da de – modi fi cando “na ori - gem” todos os demais pro ces sos sociais –, que na socie da de midia ti za da vêem seus obje ti vos, pro ce di mentos e cri té rios refor mula dos no pró prio sur gi mento, de modo gené ti co (e não ape nas por acrés ci - mo pos te rior), em fun ção das neces si da - des de inte ra ção, de “visi bi li da de”, de inser ção mais ampla que a do cír culo dos ini cia dos. No âmbi to da pro dução de conhe ci - mento, o inte ra cio nal mul ti fa ce ta do segue essa neces si da de (estrutural), uma vez que o obje to não apa re ce nunca “em esta do puro” (que seria o “exclusi va men - te comuni ca cio nal”), iso la do de moti vos e pro ces sos outros, que lhe dão “tona li da - des”. Não se trata de abs trair o obje to (por um gesto epis te mo ló gi co que seria arti fi - cial) de suas ins tâncias prag má ti cas de exis tên cia. Exige-se, por tanto, refe rência fre qüente a teo rias sociais, psi co ló gi cas, his tó ri cas, pra xio ló gi cas, lingüís ti cas, antro po ló gi cas – sem entre tanto nos cir - cuns cre ver mos a qual quer delas, para assim nos manter mos “perto do obje to” em sua exis tência concre ta e social, para cons truir o obje to enquanto ins tância teó ri co-meto do ló gi ca “de comuni ca ção”. Assim, uma inter fa ce com ple xa, como aque la entre a comuni ca ção e a polí ti ca, tra ta da com habi li da de e rigor, ilumi na ques tões e abor da gens para o estu do de - outras inter fa ces. Isso faz deste livro uma refe rên cia rele vante para todos os pes qui - sa do res em comu ni ca ção – mesmo quan- do estes não este jam par ti cu lar mente preo cupa dos com as peri pé cias da inter - fa ce polí ti ca que é seu obje to pró prio. O que se tem a aprender (para pes qui - sa do res preo cupa dos com outras inter fa - ces, menos “cons truí das”) não decor re rá, por tan to, de asse me lha mentos, que jus ta - men te seriam sim pli fi ca do res. Mas da trans fe rên cia de abor da gens (muta tis mutan dis essa é a ques tão rele van te: mudando o que pre ci sa ser muda do, nas per cep ções, concei tos e pers pec ti vas); da obser va ção das dife renças e das espe ci fi - ci da des que, carac te ri za do ras variá veis de cada âmbi to de inter fa ce, podem ajudar a com por em sua com ple xi da de (e em cons tante modi fi ca ção) um acer vo teó ri - co-e-obser va cio nal que nos devol va, por sua vez, o que é o “comu ni ca cio nal” arti - cula dor des sas dife renças. Por fim, como mais uma contri bui ção – e não de menor impor tância – o texto é claro, mar ca do pelo senti do mais essen- cial do valor didá ti co. Se há com ple xi da - de no obje to, não se adota, por isso, com - pli ca ções de texto. Ao contrá rio, o esfor - ço gene ro so é o de tor nar aces sí vel, até para o não-espe cia lis ta, uma com preen- são dos pro ces sos envol vi dos. Isto não sig ni fi ca que o livro seja fácil, mas que o esfor ço inte lec tual de seguir sua argu- menta ção é sem pre recom pensa do por um enca mi nha mento seguro e esti mu- lan te. SOBRE WILSON GOMES Final mente, não posso dei xar de fazer refe rência às com pe tências e carac te rís ti - cas do autor. Para escre ver esta obra, muita pes qui sa foi feita, e mui tas lei tu- ras refle ti das. Aque les que conhe cem o pro f. Wil son Gomes sabem da serie da de com que se dedi cou a este tra ba lho. Mas é pre ci so, tal vez, mais que isso. É con ve - niente que, depois de for ma do em filo so - fia (incluindo estu dos na Ale ma nha e douto ra mento na Itá lia), o pes qui sa dor volte ao Bra sil para tra ba lhar no Pro gra - ma de Pós-Gra dua ção em Comuni ca ção da UFBA no momen to de sua maior pro - duti vi da de e efer ves cência pro po si ti va. Que tenha con ta to com pes qui sa do res já che ga dos ao campo – e neste, par ti ci pe ati va mente de um ambiente de deba te. Que lance um olhar seve ro e crí ti co sobre o que aí se faz – mas não se limi te a cri - ti car. E, arre ga çan do as man gas, que tra - ba lhe ati va mente na exi gên cia e na supe - ra ção, aprendendo com isto um olhar de abrangência para nele situar seu obje to. Ainda par ti ci pa ati va mente de um dos Grupos de Tra ba lho da Com pós, mais aguer ri do no deba te inter no – o decomuni ca ção e polí ti ca –, jus ta mente para, no tra ba lho de pro pos tas, pes qui sas e obje ções, desenvol ver em acui da de sua refle xão. Ter coor de na do o Pro gra ma de Pós- Gra dua ção em Comuni ca ção e Cul tura da UFBA e ter repre senta do a área da comu - ni ca ção na Capes cer ta mente contri bui para essa for ma ção, uma vez que para além das obri ga ções deli be ra ti vas e de ges tão ine rente aos car gos, o autor desen - vol veu um conhe ci mento com preensi vo e ago nís ti co (como é neces sá rio para os sabe res sóli dos) do que a área diz e do que a área faz. O que tal vez expli que a per ti nência da ins cri ção de sua temá ti ca espe cí fi ca nos melho res obje ti vos de cons trução do campo da comuni ca ção. O rigor argumenta ti vo e a cla re za de - idéias de Wil son Gomes têm se mani fes - ta do em todas as ins tân cias nas quais, nos últi mos doze anos, desde que o conhe ci, temos nos encontra do, seja nas conver sas de ami za de, seja no diá lo go – às vezes tenso – da refle xão aca dê mi ca e das polí - ti cas da área. Nem sem pre concor da mos – e sei que o tra ba lho do desa cor do exige do inter lo cu tor uma pres te za de racio cí - nio, uma com pe tên cia ver bal e um rigor argumenta ti vo difí ceis de sus tentar. Mas sei tam bém que, con cor dan do ou dis cor dan do, pode mos sem pre ter a con- fian ça de encontrar uma forte con sis tên- cia entre suas idéias e suas ações, e cla re - za entre o que pensa e o des te mor com que expõe seu pen sa mento. INTRO DUÇÃO “A uno principe, adunque, non è necessario avere tutte le sopras- critte qualità, ma è bene necessa- rio parere di averle. Anzi, ardirò di dire questo, che avendole et osservandole sempre, sono dan- nose, e parendo di averle, sono utile: come parere pietoso, fede- le, umano, intero, relligioso, et essere; mas stare in modo edifi- cato con l’animo, che, bisognan- do non essere, tu possa e sappi mutare al contrario.” (Machia- vel li, Il Princi pe, sezione XVIII.) Há basi ca men te três está gios na lite ra - tu ra sobre comuni ca ção e polí ti ca1. Pri mei ro há a fase dos estudos dis per sos sobre aque les fenô me nos singula res da polí ti ca onde se veri fi ca uma pre sença impor tante da comu ni ca ção de massa ou sobre aspec tos da comu ni ca ção de massa com inci dência na polí ti ca. As duas pers - pec ti vas estão cons tante men te impli ca - das, mas pode mos identi fi car, gros so modo, os estudos sobre voto como uma ilus tra ção do pri mei ro aspec to e os estu- dos sobre pro pa ganda como um exem plo do segundo. Nesta fase mais remo ta, os estudos concentram-se nes ses aspec tos mais pro nuncia dos do refle xo daqui lo que então foi cha ma do de mass media – expres são taqui grá fi ca para rádio, impren sa, cine ma e, pos te rior mente, tele vi são – em com por ta mentos típi cos da vida polí ti ca, par ti cular mente a pro - pa ganda (pen se mos no impac to da pro pa - ganda béli ca nas duas guer ras mun diais), a opi nião públi ca e a deci são de voto (Ber nays 1928; Lipp man 1922; Tcha ko ti - ne 1939; Lazars feld et al. 1944; Smith, Lass well e Casey 1946; Lazars feld 1954). Nes ses anos, que vão da déca da de 20 à meta de dos anos 40, a lite ra tu ra é escas sa e, concentra-se sobre tudo, em pro ble mas iso la dos pela pes qui sa, prin ci pal men te nos três está gios indi ca dos acima. Nesse momen to, e até por pelo menos mais três déca das, o ponto de vista da aná li se é dado pelas grandes cate go rias – a polí ti ca ou a socie da de – enquanto as ins ti tui ções da comu ni ca ção de massa, esses núcleos que são ao mesmo tempo dis po si ti vos téc ni cos, for ma ções sociais e recur sos expres si vos, são con si de ra das numa pers - pec ti va ins tru men tal, isto é, como meras inter me diá rias, como meios entre os dois pólos que real men te contam. São meios ou ins trumen tos de que os Esta dos, a socie da de ou os par ti cula res lan ça riam mão para pro duzir um certo efei to ou rea li zar uma deter mi na da função. A pers - pec ti va ins tru mental refle te uma concep- ção que atri bui pouca impor tância às pro prie da des ima nen tes da comu ni ca ção de massa2 (sua lógi ca, seus regis tros, sua gra má ti ca, suas pro prie da des como ins ti tui ção social), ao mesmo tempo em que tende a exa ge rar a capa ci da de dos efei tos que esses novos meios pro duzem nas pes soas, seja por que eles alcan çam ao mesmo tempo uma espan to sa quanti da de de pes soas (as mas sas), seja por que pare ce que os indi ví duos não têm defe sa em face do seu poder de influen ciar deci são, gosto e opi nião, como se acre di ta va até os anos 40, seja, enfim, alter na ti va men te, por que são capa zes de confor mar e repro - du zir, sis te ma ti ca mente, a longo ou curto prazo, dire ta mente ou atra vés de media ções, os sis te mas sociais, as repre - sen ta ções domi nantes, a cul tura do capi - ta lis mo, como repe ti ram as pers pec ti vas crí ti cas até bem pouco tempo atrás. São vis tos, então, como “meios” que se podem empre gar para o bem ou para o mal. Prin ci pal mente para o mal, como repe ti da men te afir mou um pen sa men to da sus pei ta com rela ção à comuni ca ção de massa que insis tiu em acom pa nhar a pes - qui sa em comuni ca ção duran te pra ti ca - mente todo o sécu lo XX3. Acre di to que se possa situar em algum momento nos anos 60 o sur gi mento de tenta ti vas de se pen sar não mais sim ples - mente os efei tos dos meios e recur sos da comuni ca ção nos fatos da polí ti ca, mas a rela ção entre duas gran de zas ins ti tu cio - nais: a comuni ca ção e a polí ti ca. A auto - no mia cres cen te da indús tria da comuni - ca ção e da indús tria cul tu ral que lhe esta va asso cia da, se ainda não leva va a uma crise da pers pec ti va ins trumental dos “meios” de massa, pelo menos obri - ga va a pensar a comuni ca ção como uma uni da de ins ti tucio nal. Mas ainda são os anos da incer te za sobre a nature za da comu ni ca ção impli ca da na rela ção com a polí ti ca, isto é, da dúvi da sobre se afi nal se tra ta va de comu ni ca ção de massa, de comu ni ca ção huma na em geral ou de ambas. Um manual des ses anos, de Richard F. Fagen, então pro fes sor na Uni ver si da de de Stanford, é um bom exem plo da con - cep ção que se ins ta la va. O título indi ca va a pers pec ti va da contra po si ção entre duas ins ti tui ções: Poli tics and Commu ni ca tion. Mas o termo “co muni ca ção” incluía na sua refe rên cia toda a comu ni ca ção huma - na, natural mente a par tir da sua rela ção com o uni ver so da polí ti ca. Isso inclui desde a cober tu ra de fatos de impor tância públi ca pelo jor na lis mo (o exem plo é o assas si na to do pre si dente ame ri ca no Ken- nedy ocor ri do em 1963) até o conjunto das mensa gens gera das, trans mi ti das e rece bi das por públi cos espe ciais, como uni da des mili ta res, ins ti tui ção gover na - mental e gover nos estran gei ros a par tir do ata que japo nês a Pearl Har bor, desde as inte ra ções sociais até as rela ções inter - na cio nais (intercâm bios de mer ca do rias, pes soas e docu mentos) e a conver sa ção civil. É claro que uma defi ni ção tão ampla da comuni ca ção tem a função de asse gurar a sua impor tância para a polí ti ca, numa demons tra ção que reve la quão peque na era a segurança do autor quanto às pos si - bi li da des de contra por sim ples mente, como se faz hoje, a comuni ca ção de massa e a ati vi da de polí ti ca4. “Não pode mos con ce ber o exer cí cio do poder por parte do indi ví duo A sobre o indi ví duo B sem alguma comu ni ca ção de A para B”, decla ra Fagen (1971: 17) na cer te za de que assim se jus ti fi ca apro xi mar comuni - ca ção e polí ti ca. Ade mais, essa rela ção faria parte da natu re za his tó ri ca da polí - ti ca. “Hoje em dia, como há três mil anos, o rei ainda con sul ta os seus minis - tros, os cam po ne ses ainda se reúnem no campo e se quei xam do gover no, os - homens ainda se reúnem nos cafés para dis cutir polí ti ca e os cida dãos ainda cho - ram na rua à pas sa gem do fére tro real” (p. 15). Em suma, Fagen crê jus ti fi ca da a rela ção pro pos ta entre as duas cate go rias por que a “comuni ca ção como pro ces so pene tra a polí ti ca como ati vi da de” e por - que “mesmo quando não é ime dia ta men- te óbvio, pode mos des cre ver mui tos aspec tos da vida polí ti ca como tipos de comuni ca ção” (p. 29). Entre os anos 60 e iní cio dos anos 70 o foco das con si de ra ções muda. A comuni - ca ção havia se trans for ma do muito rapi - da mente numa indús tria poten te e espa - lha da pelo mundo e a prá ti ca polí ti ca que se apoia va na comu ni ca ção de massa já se difundia pelas grandes demo cra cias do pla ne ta. A “ame ri ca ni za ção” da polí ti ca era per ce bi da, então, como um fato irre - ver sí vel. Nesse con tex to, surge a segunda fase da pes qui sa em comuni ca ção polí ti - ca. De ins trumental e enver go nha da, a comuni ca ção de massa e a indús tria cul - tural são apre senta das agora no centro da cena das ins ti tui ções sociais. Este é o momento dos pri mei ros grandes estudos mono grá fi cos teó ri cos sobre a comuni ca - ção polí ti ca (não o pro ces so da comu ni ca - ção huma na, mas a comuni ca ção de mas - sas) e sobre a sua impor tância para a vitó ria elei to ral e para o exer cí cio do gover no. Este é, sobre tudo, o momento das pri mei ras for mula ções gerais sobre a polí ti ca conquis ta da e domi na da pelos meios de comu ni ca ção. Em algum ponto não pre ci sa mente identi fi ca do da his tó ria as coi sas se inver te ram para os pes qui sa - do res, e o fize ram com gran de rapi dez. De uma lite ra tura segundo a qual há meios à dis po si ção dos agentes sociais e dos gover nos, pas sa mos ver ti gi no sa mente a uma lite ra tura onde a comuni ca ção apa re ce como campo social pre do mi nante que impõe as suas estra té gias e lin gua - gens à polí ti ca e suas opi niões, ima gens e agen das ao públi co. Essa fase dos estudos, que acre di to estar se encer rando agora, herda da fase ante - rior um posi cio na mento geral mente des - confia do com rela ção à comu ni ca ção de massa e ao seu lugar no con jun to da vida social. A pri mei ra gera ção de tex tos sis - te má ti cos sobre comuni ca ção e polí ti ca pode ser clas si fi ca da, con for me a dico to - mia cria da por Umber to Eco, como mar - ca da mente apo ca líp ti ca. Os juí zos são seve ros, nega ti vos e se concentram numa espé cie de inven tá rio de per das huma nas, sociais e polí ti cas que a novi da de com - por ta ria. As teo rias dos efei tos limi ta dos, que pre do mi nam na pes qui sa ame ri ca na entre os anos 40 e 60, podem ser cor re ta - men te vis tas, desta pers pec ti va, como ape nas um impor tante inter va lo entre a ati tude de sus pei ta das pri mi ti vas teo rias dos efei tos dire tos e as abor da gens crí ti - cas ins pi ra das no neomar xis mo ou nos Estudos Cul turais (Wolf 1985 e 1992). Com a crise do cha ma do “pensa mento crí ti co” e a entra da em cena dos mode los de abor da gem inte res sa dos na aná li se das estruturas de sen ti do e dos meca nis mos ope rantes na comu ni ca ção e cul tura de massa, que tinham sur gi do nos anos 70 e causa ram grande impac to nas pes qui sas dos anos 80, o ponto de vista nega ti vo deixa de ser o dia le to bási co da comu ni - ca ção polí ti ca. Mas ape nas no sen ti do de que agora tam bém têm lugar pers pec ti - vas mais inte res sa das em entender e des - cre ver os fenô me nos do que em julgá-los, e até pers pec ti vas cele bra ti vas do novo mundo da polí ti ca midiática. A pers pec - ti va crí ti ca, entre tanto, conti nua cons ti - tuindo a maior parte dos dis cur sos sobre a comuni ca ção polí ti ca, princi pal men te na pes qui sa teó ri ca e nos dis cur sos situa - dos nos cam pos sociais fora dos cír culos mais res tri tos dos pes qui sa do res da área. Dos anos 70 aos anos 90 a pers pec ti va domi nante nessa área de estu do ainda regis tra e acom pa nha a sur pre sa com o fato de a comuni ca ção e a cul tura de massa irem ocupan do o centro da cena - social e a preo cupa ção com os modos e a velo ci da de com que o fazem. Em alguns casos, princi pal mente nos for mula do res de teo rias gerais da polí ti ca ou da demo - cra cia na era da comuni ca ção de massa, a sur pre sa mani fes tou-se nes ses anos prin- ci pal men te como incô mo do. Em outros, ape nas como a curio si da de que move os pro ce di mentos da inves ti ga ção empí ri ca, do estudo de casos, das aná li ses de con - juntura e dos levan ta mentos. Nas déca - das de 80 e 90, quando cer ta mente se publi cou muito mais sobre comuni ca ção e polí ti ca que nos setenta anos pre ce den- tes e quando real mente se for mou uma espe cia li da de, a área acu mulou um volu- me de pes qui sa que não se conse gue mais acom pa nhar, tão gran de a diver si da de dos aspec tos consi de ra dos, o volume e a pro - ce dência geo grá fi ca dos auto res. Desse modo, a comuni ca ção polí ti ca, em par ti cular, e a inter fa ce entre a polí ti - ca e os fenô me nos, recur sos e lingua gens da co muni ca ção de massa, em geral, des - pontam nas últi mas déca das como uma área de inte res se central para os pes qui sa - do res de ciên cias polí ti cas, comu ni ca ção, filo so fia polí ti ca e de outras ciên cias - sociais. Pouco a pouco foi se for man do uma espe cia li da de inter dis ci pli nar, sobre a qual se acu mu lam pes qui sas empí ri cas e estudos teó ri cos em um volume con si - de ra vel mente ele va do e que vem cres cen - do em pro por ções extraor di ná rias nos últi mos anos. Apa re ce pri mei ro como uma espe cia li da de das ciências sociais ame ri ca nas, para, enfim, ganhar o mundo no ras tro da dis se mi na ção do pró prio fenô me no que lhe é obje to. O cres ci men- to da área é tão grande que os estudio sos, que já não conse guem acom pa nhar toda a biblio gra fia, come çam a cul ti var espe cia - li da des den tro da espe cia li da de, uns se ocu pan do do estu do das cam pa nhas polí - ti cas, outros dos meca nismos da demo - cra cia em face das mudanças na polí ti ca em fun ção da comu ni ca ção, outros ainda do jor na lis mo polí ti co e da cober tu ra da impren sa do jogo polí ti co, outros, por fim, come çam a se dedi car a uma espé cie de comu ni ca ção polí ti ca com pa ra da entre as várias regiões do mundo etc. Mas um campo de pes qui sas não se forma, pelo menos não tão rapi da men te e com tanta inten si da de, se não hou ver um fenô me no na ordem da rea li da de que o jus ti fi que. De fato, o que salta aos olhos de todos neste momen to, é a velo ci da de com que um mode lo de inter fa ce entre as esfe ras da comu ni ca ção de massa e da polí ti ca se esta be le ceu e se espa lhou pelo mundo nas últi mas três, no máxi mo qua - tro déca das. Em geral des ta cam-se os seguintes aspec tos: 1. Que a polí ti ca con tem po râ nea, do exer cí cio do gover no à dis pu ta elei to ral, se esta be le ce numa estrei ta rela ção com a comu ni ca ção de massa. Ganha ares de evi dência comum o fato de que gran de parte da ação polí ti ca se dá em rela ção com a comuni ca ção, que os agentes polí - ti cos (mesmo aque les da socie da de civil) ten dem a atuar para esfe ra de visi bi li da - de públi ca contro la da pela comu ni ca ção, que gran de parte (senão tudo) da polí ti ca se encer ra nos meios, lin gua gens, pro ces - sos e ins ti tui ções da comuni ca ção de massa, que a pre sen ça da tele vi são alte - rou a ati vi da de polí ti ca e exi giu a for ma - ção de novas com pe tências e habi li da des no campo polí ti co que lhe trans for ma - ram signi fi ca ti va men te a con fi gu ra ção inter na. 2. Que, em fun ção disso, as estra té gias elei to rais em par ti cu lar e as estra té gias polí ti cas em geral supõem uma cul tu ra polí ti ca cen tra da no con sumo de ima gens públi cas. Os pro ce di men tos de pro dução e cir cu la ção de ima gens e de dis pu ta pela impo si ção das ima gens pre do mi nantes des lo cam-se em dire ção ao centro da ati - vi da de estra té gi ca da polí ti ca. 3. Que tais estra té gias, para serem efi - cien tes, soli ci tam as com pe tências e as habi li da des téc ni cas do mar ke ting, da son da gem de opi nião, das consul to rias de ima gem, das aná li ses de opi nião públi ca e das asses so rias de comuni ca ção. Tais habi li da des e com pe tências se cons ti tuí - ram, por con se guinte, num uni ver so de ser vi ços polí ti cos essenciais para o suces - so das ins ti tui ções nas com pe ti ções elei - to rais e no exer cí cio do gover no. 4. Que a depen dência da comu ni ca ção de massa com por ta a ne ces si da de de que, em fun ção de cál cu los de efi ciência, os dis - cur sos polí ti cos pre do mi nantes sejam orga ni za dos de acor do com a gra má ti ca espe cí fi ca das lin gua gens dos meios onde devem cir cular. Lingua gens que vêm a ser jus ta mente aque las que orientam a apre cia ção e o con sumo de men sa gens por parte dos públi cos que se dese ja alcan çar. Donde a neces si da de de conver - são do dis cur so polí ti co segun do a gra - má ti ca do audio vi sual e as fór mu las de exi bi ção e de nar ra ção pró prias do uni - ver so do entre te ni men to. Decor re desse pres su pos to a evi dên cia da centra li da de de estra té gias vol ta das para a pro dução e admi nis tra ção de afe tos e de emo ções, para a conver são de even tos e idéias em nar ra ti vas e para o des ta que daqui lo que é espe ta cular, inco mum ou escan da lo so. 5. Que as estra té gias polí ti cas, apoia das em dis po si ti vos e re cur sos da comu ni ca - ção, vol tam-se dire ta men te para os públi cos que cons ti tuem a audiên cia dos meios de infor ma ção e entre te ni mento e que, por con se guinte, for mam a cliente la que demanda e con so me os seus pro du - tos. A supo si ção domi nan te é de que as audiências podem ser con ver ti das em elei to res, nos perío dos elei to rais, e em opi nião públi ca favo rá vel, no jogo polí ti - co regu lar, atra vés da comuni ca ção de mas sas. Os dis cur sos em que se regis tra e des ta - ca a novi da de não se con ten tam, em geral, com a enun cia ção das carac te rís ti - cas pre do mi nan tes da polí ti ca que se trans for ma. Com efei to, a esse pri mei ro rol de carac te rís ti cas se acres cen ta comu- mente um se gundo elen co que se des ti na a indi car as alte ra ções que inci dem sobre domí nios fun da men tais da ati vi da de polí ti ca nes ses novos tem pos. Tais alte ra - ções são nor mal men te qua li fi ca das como per das ou des fi gu ra ções de aspec tos impor tantes na confi gu ra ção da arte polí - ti ca. Em geral, quan do são qua li fi ca das isso é feito com base em razões cro no ló - gi cas ou nor ma ti vas. A qua li fi ca ção cro - no ló gi ca se dá num pre sumi do juízo de fato apoia do em conhe ci mento his tó ri co, indi can do-se como cer tas pro prie da des que outro ra efe ti va mente confi gu ra vam a polí ti ca foram alte ra das ou desa pa re ce - ram, enquanto a qua li fi ca ção nor ma ti va tra ba lha com a idéia de que cer tas pro - prie da des, cate go rial men te essen ciais ao con cei to de polí ti ca ou de demo cra cia, já não se encon tram ou foram des fi gura das. Além disso, os dis cur sos que dão conta das trans for ma ções bus cam esta be le cer cone xões entre o elenco das novi da des e a lista das alte ra ções, geral men te atra vés de rela ções dire tas de causa e efei to. Alter na ti va mente, recor re-se a um pro ce - di men to retó ri co que con sis te em jus ta - por as duas clas ses (a das novi da des e a das dis fun ções) para, então, cha mar em causa um ter cei ro ele men to, em geral mudan ças na socie da de, que as deter mi - na ria. Por fim, as alte ra ções são apre sen - ta das como perda de pro prie da des. Uma perda que dife ren tes retó ri cas situam numa esca la de graus que varia da sim - ples asser ti va da dimi nui ção da impor - tân cia de um fenô me no deter mi na do até a afir ma ção radi cal do seu desa pa re ci - men to ou fim. As pro prie da des que teriam cons ti tuí - do, efe ti va ou essencial men te, a ati vi da de polí ti ca em socie da des demo crá ti cas e que no momen to ces sa ram a sua fun ção ou viram redu zi das a sua impor tân cia, são em geral aque las indi ca das abai xo: 1. O alcan ce dos valo res ideo ló gi cos no emba te polí ti co e na carac te ri za ção das posi ções em dis pu ta. Carac te rís ti cas da gra má ti ca e da lógi ca da enun cia ção na comuni ca ção de massa, como a prio ri da de da ima gem sobre o ver bal e o pre do mí nio do texto curto, dire to e forte sobre o dis cur so argumenta ti vo clás si co, esva zia riam as con tra po si ções ideo ló gi cas. Dife renças ideo ló gi cas são dife ren ças de visão do mundo e da vida. A lingua gem veloz da comu ni ca ção indus trial, pouco afei ta ao dis cur so e à polê mi ca com ple xa e ver bal - men te sofis ti ca da, impe di ria a expo si ção ade qua da das dife renças entre as posi ções polí ti cas e, ainda mais, cons ti tui riaum empe ci lho à polê mi ca dis cur si va que se deve ria seguir à apre sen ta ção das posi - ções. Além disso, as com pe tên cias comu- ni ca cio nais tra zi das para o campo polí ti - co por téc ni cos de mar ke ting, de ima gem e de opi nião, tende riam a redu zir o com - po nente espe ci fi ca men te polí ti co da arena, con ver tendo as dife renças ideo ló - gi cas em alter na ti vas de marca, pre fe rên- cia e gosto. 2. Idéias, con cei tos e pro gra mas polí ti cos. Na mesma linha de racio cí nio, como a comu ni ca ção se diri ge ime dia ta mente a um públi co de massa inte res sa do em entre te ni men to, curio si da des, espe tá cu- los e com pe ti ções, a tare fa de dis cu tir con cei tos, for mular e apre sentar idéias, expor e dis putar pro gra mas se tor na ria infe cunda e ingra ta. Um grande públi co dota do de pouco capi tal cul tural, muita impa ciência, peque no inte res se estri ta - men te polí ti co, consi de rá vel ofer ta de pro du tos de infor ma ção e entre te ni men- to, muito difi cil mente se deixa entre ter pelos dis cur sos coe rentes, lon gos e sutis e pela con tra po si ção de idéias e concei tos. Além disso, o pró prio sis te ma polí ti co se recon fi gura de tal modo que à dis pu ta polí ti ca inte res sa a per cepção das pre di - le ções do públi co e a con quis ta da sua pre fe rên cia, não inte res sando a opi nião públi ca senão naqui lo que nela é sufi - cien te para pro du zir o voto. 3. O públi co. Teria havi do uma trans fi gu- ra ção dos valo res públi cos demo crá ti cos, por força dos meca nis mos da comuni ca - ção de massa. Antes de tudo, “os públi - cos” – enten di dos como reu niões de indi - ví duos pri va dos para a dis cus são das coi - sas de inte res se polí ti co e para a, con se - qüente, for ma ção dis cur si va da opi nião – ter-se-iam tor na do dis pensá veis, pois a comuni ca ção polí ti ca de massa nem o reco nhe ce ria nem o pres su po ria, res trin- gin do-se o seu inte res se às audiências ou aos públi cos-espec ta do res. Por con se - qüência, o deba te rea li za do pelos públi - cos de cida dãos per de ria a sua impor tân- cia em face do deba te feito para a apre - cia ção públi ca, rea li za do no inte rior dos meios de comu ni ca ção e pro ta go ni za do por “for ma do res de opi nião”. Enfim, a opi nião públi ca, entendi da como a posi - ção sobre as ques tões de inte res se comum resul tante da dis cus são de públi cos de cida dãos ver-se-ia subs ti tuí da por uma opi nião pro du zi da pro fis sio nal men te atra vés de fluxos de comuni ca ção des ti - na dos à audiên cia, por tanto, for ma da longe dos públi cos. 4. Auten ti ci da de. Sus pei ta-se de uma perda de autenti ci da de geral da polí ti ca. Essa com preen são decor re da per cepção de que o campo polí ti co é cada vez mais pro fis sio nal, téc ni co, cien tí fi co e de que a comu ni ca ção polí ti ca de massa supõe pla ne ja mento, pre vi são e contro le. Per ce - be-se que aqui lo que o agente polí ti co diz e faz e que o modo como ele se apre - senta acom pa nham um script pro fis sio - nal men te esta be le ci do e orienta do por cál cu los de efi ciência. Per ce be-se, ade - mais, que há cada vez menos espa ço para o ama do ris mo, para a pre ca rie da de da orga ni za ção, para a impro vi sa ção e para a espon ta nei da de. Busca-se con tro lar o acaso e esta be le cer pre vi sões e pro vi dên - cias. A son da gem, a pes qui sa, a aná li se pro du zem o tempo todo sabe res que per - mi tem a ante vi são e a inter ven ção do arti fí cio tendo em vista o suces so polí ti - co. Até mesmo as agen das, isto é, o sis te - ma das prio ri da des sociais que o públi co acre di ta serem as suas, podem ser con - du zi das e con tro la das. O mesmo pode ser dito da opi nião públi ca, que antes seria pro du zi da pelo uni ver so polí ti co e pelo mundo da comu ni ca ção. Em suma, onde há arti fi cia li da de, inter ven ção téc ni ca, a auten ti ci da de per de ria força e sen ti do. 5. Par ti dos e repre sen ta ção. Por se diri gir prio ri ta ria men te à massa, a polí ti ca que se apóia na comuni ca ção social tor nar-se- ia, de algum modo, ple bis ci tá ria, isto é, depende ria da apro va ção ou da repro va - ção dire ta dos públi cos. Com isso, per de - riam impor tân cia e efe ti vi da de as ins ti - tui ções e estrutu ras que se apre sen tam, his to ri ca mente, como a repre sen ta ção do inte res se e da von ta de dos cida dãos no inte rior do mundo polí ti co, os par ti dos. Esta riam vin cula das a esse fato as cons - tante men te decla ra das cri ses atuais dos par ti dos polí ti cos e da clas se polí ti ca tra - di cio nal. Como os par ti dos cum prem basi ca men te a função de gover nar, con- tro lar a quem gover na ou cons ti tuir uma alter na ti va de gover no, a dimi nui ção da sua impor tân cia inci di ria gra ve men te sobre a con du ção do Esta do, com conse - qüên cias que ainda não podem ser total - men te pre vis tas, mas que, no míni mo, deve riam recon fi gu rar a polí ti ca con tem - po râ nea como um todo. 6. Inser ção dos cida dãos no jogo polí ti co. Como a arena polí ti ca se apóia nos pro - ces sos, mensa gens e lin gua gens da comu- ni ca ção de massa, os cida dãos seriam aí impli ca dos nos mes mos ter mos que os públi cos são supos tos na indús tria da comu ni ca ção, isto é, como espec ta do res. De um lado, isso quer dizer que a ati vi - da de supos ta seria ape nas a da esco lha em face de uma ofer ta de pro du tos polí ti cos apre sen ta dos no bal cão dos meios de comuni ca ção. Uma ati vi da de que repre - senta ria ao mesmo tempo uma pas si vi da - de, por que a audiên cia não seria convo ca - da para a fase da pro du ção e da emis são do pro du to polí ti co. O públi co de massa não seria pre vis to como agente, mas como um con jun to deter mi ná vel de inte - res ses e neces si da des que os pro du tos polí ti cos se des ti nam a satis fa zer. Além disso, do públi co ima gi na do pelo cir cui - to atual da comu ni ca ção polí ti ca não se espe ra ria ou supo ria que neces si te colo - car-se no inte rior de for mas asso cia ti vas e dis cur si vas para rea li zar o seu papel de consu mi dor dos pro du tos polí ti cos, como pre su mi vel men te se usava fazer em mode los ante rio res de vida públi ca. A inser ção da cida da nia no jogo polí ti co, por tan to, não ape nas seria pos te rior e, de certo modo, pas si va, como tam bém seria, por assim dizer, pri va da. Ao lei tor já pron to para se enga jar nes - ses jul ga men tos e nes sas iden ti fi ca ções sugi ro pru dên cia. Tra tan do-se de uma espe cia li da de ainda em for ma ção e com gran de cir cu la ção de hipó te ses e teses, mas tam bém de pal pi tes e impres sões, convém exa mi nar tudo mais de uma vez. A área de comu ni ca ção e polí ti ca, princi - pal men te em sua teo ria, só há pouco come çou a sair da fase do espanto dian te da novi da de repre sen ta da pela trans for - ma ção midiática da polí ti ca, fase esta que, como todo mundo sabe,nos leva even tual men te a exa ge rar na per cep ção do alcance e na ava lia ção do senti do das coi sas novas. O momen to suces si vo, que tal vez só agora se tenha esta be le ci do, é aque le em que atra vés de pro ces sos de crí ti ca inter na, come çam as sus pei tas e os ree xa mes das velhas hipó te ses e teses sere na men te pos tas e das evi dên cias ainda pouco tes ta das. Por outro lado, pare ce-me bas tan te ren - tá vel, do ponto de vista didá ti co, tra ba - lhar na área de estu dos da comuni ca ção polí ti ca com a dico to mia entre hiper midiáticos e hipo midiáticos. Os hiper - midiáticos são aque les auto res, livros e teses que identi fi cam na comu ni ca ção de massa, em seus meios, recur sos, ins ti tui - ções e lingua gem o aspec to funda men tal de qual quer fenô me no contem po râ neo estuda do, trate-se da cul tu ra, da socia bi - li da de ou da polí ti ca. Os hipo midiáticos são aque les que con ti nuam estudando cul tura, socia bi li da de ou polí ti ca como se a comuni ca ção e a cul tura de massa fos sem ape nas mais uma das con tin gên - cias e cir cuns tâncias do mundo contem - po râ neo, sem inci dên cia dire ta sobre a natu re za dos fenô me nos e como ape nas mais uma das variá veis ins trumen tais a expli car as coi sas. Pode-se esta be le cer de modo cor re to que em deter mi na das cir - cuns tân cias há muita pre sen ça, ou pou- quís si ma pre sença, da comu ni ca ção nos fenô me nos sem que se seja hipo mi diá ti co ou hiper mi diá ti co – nem a pro cu ra de uma ter cei ra posi ção será sem pre uma neces si da de cien tí fi ca. Afi nal, há de se admi tir fenô me nos onde a hipó te se da pre sen ça da comu ni ca ção midiática expli ca real men te muito pouco e outros fenô me nos onde tal hipó te se expli ca quase tudo. É a fami lia ri da de com o fenô me no, a aten ção que ele nos soli ci ta, que deve nos auto ri zar a iden ti fi car exa - ta men te qual a dosa gem do “fator comu - ni ca ção de massa” que expli ca sua natu- re za e suas carac te rís ti cas. É na ava lia ção do grau e da inten si da de do fator que faz sen ti do empre gar a dico to mia, enquan to uns conce dem impor tân cia demais à comu ni ca ção outros con ce dem de menos. Antes que alguém me acuse de pla giar uma dico to mia famo sa, aque la entre apo - ca líp ti cos e inte gra dos, devo dizer em minha defe sa que enquanto na dico to mia de Eco o prin cí pio de corte é dado pela dife rença de ava lia ção em ter mos axio ló - gi cos, os hiper e hipo midiáticos se dis - tin guem pela dife ren ça de inten si da de, de grau. É-se apo ca líp ti co ou inte gra do pelo modo como se julga o mundo con - tem po râ neo e as suas mudan ças; o apo ca - líp ti co o rejei ta, o inte gra do sente-se con for tá vel. Dife ren te men te, os hiper mi - diá ti cos são os que vêem comu ni ca ção - demais nas coi sas, enquanto os hipo mi - diá ti cos a subes ti mam na expli ca ção dos fenô me nos. Além disso, os dois mode los que pro po nho são cons trutos teó ri cos nega ti vos, com fina li da de didá ti ca, ela - bo ra dos de tal forma que nenhum autor pode con for ta vel men te iden ti fi car-se com eles. Isso para dizer que gran de parte das teo ri za ções, aca dê mi cas ou não, sobre a inter fa ce entre comuni ca ção e polí ti ca é ainda, no meu modo de ver, hiper - midiática. Tende a exa ge rar a impor tân- cia da comu ni ca ção na trans for ma ção da polí ti ca e da demo cra cia. Tende tam bém a ser hiper bó li ca e pes si mis ta. Hiper bó li - ca, por que vê mu dan ças demais, onde há uma trans for ma ção que pre ci sa ser exa - mi na da em seu alcance. Pes si mis ta por - que tende a não gos tar da trans for ma ção que vê e a consi de rá-la pior do que real - men te o é. Este livro tem como pre ten são ofe re cer uma intro dução à espe cia li da de da comu - ni ca ção polí ti ca para estu dan tes das áreas de comuni ca ção, ciên cia polí ti ca e socio - lo gia. Ele con sis te na apre sen ta ção e na dis cus são de um núme ro razoa vel men te gran de dos temas e dos con cei tos funda - men tais dessa espe cia li da de. Com oti - mis mo, ima gi no que pode rá cons ti tuir uma apre senta ção con sis ten te do estado da ques tão na espe cia li da de. Uma apre - sen ta ção, razoa vel men te bem fun da da e bem atua li za da, dota da de algu ma uti li - da de até mesmo para os pes qui sa do res mais expe rien tes, inte res sa dos numa ver - são de ques tões can den tes de comuni ca - ção polí ti ca. Há neste livro mar cas de mais de uma déca da de tra ba lho na área de comuni ca - ção polí ti ca. Reto ma alguns arti gos e - outros tan tos capí tu los de livros que foram publi ca dos ao longo des ses anos, em geral pro fun da mente ree la bo ra dos para esta publi ca ção, e os com bi na com - outros tex tos pre pa ra dos exclusi va men te para este livro. Oito tex tos pre ce den tes, den tre aque les que publi quei no perío do, cons ti tuem a base de uma boa parte dos seus capí tu los. Outros tan tos foram bene fi cia dos pelo tra ba lho pre ce den te, mas são ela bo ra ções iné di tas para com por este volu me. Trata-se de mate rial pro du - zi do no con tex to dos deba tes que for ma - ram o campo de estu dos da comuni ca ção polí ti ca no Bra sil e, não por acaso, que acom pa nham pra ti ca men te todo o perío - do de con so li da ção das prá ti cas de comu- ni ca ção polí ti ca depois da res tau ra ção demo crá ti ca no país. Tra ba lhar com os mate riais mais velhos não foi, entre tan to, uma mera con ve niên cia, mesmo por que - alguns outros arti gos publi ca dos sobre o mesmo assun to no perío do foram des car - ta dos por mim por várias razões, mas prin ci pal men te por não encon trar neles coe rên cia com o pro je to de exa mi nar - alguns dos con cei tos funda men tais de comu ni ca ção polí ti ca – que orien ta este livro e tem orien ta do o meu per cur so inte lec tual nos últi mos anos. Os capí tu los O que há de comu ni ca ção na comu ni ca ção polí ti ca?, Nego cia ção polí ti ca e comu ni ca ção de massa e A trans for ma ção da polí ti ca foram cons truí dos intei ra mente para este livro. Embo ra iné di ta, uma ver são do segun do texto foi dis cuti da na XII Reu nião Anual da Com pós, em Reci - fe, em junho de 2003, no grupo de tra ba - lho de comu ni ca ção e polí ti ca. A polí ti ca em cena e os inte res ses fora de cena consis te na ree la bo ra ção do capí tulo “O sis te ma da polí ti ca midiática”, publi - ca do em 2002 na cole tâ nea Mídia, cul tu ra e comu ni ca ção, orga ni za da por Anna Maria Balogh, Anto nio Adami, Juan Dro guett e Hay dée Car do so (São Paulo: Arte e Ciên- cia). A refor mula ção visou aten der a crí - ti cas e suges tões rece bi das em duas oca - siões impor tantes: a reunião do grupo de tra ba lho em comu ni ca ção e polí ti ca na XI Com pós, em 2002, no Rio de Janei ro, e uma reunião de tra ba lho com os docen- tes do curso de mes tra do em comu ni ca - ção da Uni ver si da de Tuiuti do Para ná. O con tro le polí ti co da comu ni ca çãoapóia-se no texto mais anti go dentre aque les que foram empre ga dos aqui. A sua base é dada por “Pres su pos tos ético-polí ti cos da ques tão da demo cra ti za ção da comu ni ca - ção”, publi ca do em 1993 na cole tâ nea Comu ni ca ção e cul tu ra con tempo râ neas, orga ni za da por Car los Alber to Mes se der Perei ra e A. Faus to Neto (Rio de Janei ro: Notr ya). Parte dele havia sido ree la bo ra - da e publi ca da em 2001 com o título “Die Dis kur se thik und die durch die Mas sen me dien ver mit tel te und bear bei - te te Kom mu ni ka tion”, na cole tâ nea Dis kur se thik: Grun dle gung und Anwen dun - gen, orga ni za da por M. Niquet, F. J. Her - re ro e Michael Hanke (Würz burg: Königs hau sen e Neu mann). O texto de 1993 foi com ple ta men te rees trutu ra do, com gran de núme ro de des car tes e de inclu sões e uma revi são com ple ta das refe rên cias. A pro pa gan da polí ti ca: ética e estra té gia é resul ta do dos espó lios de dois tex tos pre - ce dentes. A base foi dada por “Pro pa gan - da polí ti ca, ética e demo cra cia”, publi ca - do em 1994 na cole tâ nea Mídia, elei ções e demo cra cia, orga ni za da por Heloi za Matos (São Paulo: Scrit ta). Outro texto for ne ceu um con jun to de suges tões e alguns tre - chos: “Estra té gia retó ri ca e ética da argu- men ta ção”, publi ca do neste mesmo ano na cole tâ nea Bra sil: comu ni ca ção, cul tu ra e polí ti ca, orga ni za da por A. Faus to Neto, José Luiz Braga e Sér gio Porto (Rio de Janei ro: Dia do rim). Como dez anos nos dis tanciam da escri tu ra des ses tex tos, eles pre ci sa ram ser bas tante alte ra dos para esta publi ca ção, em fun ção não ape - nas das mudan ças no mundo, mas tam - bém das trans for ma ções dos pon tos de vista do autor. A polí ti ca de ima gem foi publi ca do ori gi - nal men te na revis ta Fron tei ras, da Uni - si nos, em seu nº. 1 (1999: pp.133-160, v.1). O texto sofreu um núme ro peque no de alte ra ções para este pro je to. Thea trum Poli ti cum é a ree la bo ra ção de dois tex tos pre ce den tes. A base foi dada pelo capí tulo “Thea trum poli ti cum: a ence - na ção polí ti ca na socie da de dos mass media. Pri mei ra parte: as astúcias da polí ti ca”, publi ca do em 1995 na cole tâ - nea A ence na ção dos sen ti dos: mídia, cul tu ra e polí ti ca, orga ni za da por José Luiz Braga, Sér gio Porto e A. Faus to Neto (Rio de Janei ro: Dia do rim). Além disso, foram assi mi la das algu mas seções de “Duas pre - mis sas para a com preen são da polí ti ca- espe tá cu lo”, publi ca do em 1996 na cole - tâ nea O indi ví duo e as mídias, orga ni za da por A. Faus to Neto e Mil ton Pinto (Rio de Janei ro: Dia do rim). Os tex tos foram tra ba lha dos, com mui tos des car tes e várias inclusões, além da neces sá ria atua li za ção das refe rên cias. Por fim, a seção sobre jor na lis mo-espe tá cu lo repre - sen ta um acrés ci mo iné di to para o pro je - to deste livro. Tra ba lhei aqui, por tan to, com coi sas - velhas e novas (penso nas vete ra et nova do baú de quin qui lha rias de que falam os evange lhos). Não dese jei des car tar as mar cas do per cur so mas tam pouco admi - ti neste pro je to sim ples men te fazer uma cole tâ nea de tex tos já publi ca dos. Espe ro que tenha resul ta do um orga nis mo. Um orga nis mo com as lacunas, as elipses, e as rei te ra ções ine vi tá veis, pelas quais me peni ten cio ante os even tuais lei to res, mas, espe ro, tam bém com um nível apro pria do de coe rên cia no argumen to, de con gruên cia na estru tura ção dos temas e de con sis tên cia no tra ta men to das maté rias. De toda forma, com rela ção aos tex tos pre ce den tes, consi de ro que as - linhas de pen sa men to são agora mais pre - ci sas, a maté ria está mais atua li za da, mais ama dure ci da e mais ao par com o esta do da inves ti ga ção inter na cio nal, ainda que per sis tam as limi ta ções que não se devem nem ao texto nem à época, mas ao autor. No mais, cabe ape nas dizer aos lei to res dos tex tos pre ce den tes e aos even tuais futu ros lei to res, para fra sean do Eco, que a par tir de agora acei ta rei dis - cus sões sobre limi tes e pos si bi li da des da comu ni ca ção polí ti ca ou da minha com - preen são dela ape nas a par tir des tas pági - nas e não mais daque las do pas sa do. Orien tei-me na escri ta pela ten ta ti va de pro du zir cada capí tu lo como um argu- men to com ple to. Há, natural mente, remis sões recí pro cas entre os capí tu los, que não são meros arti fí cios, mas resul - tam do reco nhe ci men to de que há argu- men tos tra ta dos de forma mais ade qua da ou extensa em outras par tes. De todo modo, cada um dos capí tulos pro põe e tenta res ponder à sua pró pria ques tão. Assim, embo ra eu sugi ra que o lei tor leia os capí tu los na ordem em que eles estão apre sen ta dos, essa suges tão pode ser alte - ra da sem gran de pre juí zo. O lei tor nota rá que neste texto lido com alguns adver sá rios invi sí veis. São os meus fan tas mas e, como nin guém tem culpa de que eu os tenha, acho melhor apre sen tá-los desde já. O pri mei ro é repre senta do pelas hipó te ses que eu chamo de hiper midiáticas. Uma espe cia - li da de só pode ser consi de ra da ama dure - ci da quan do não pre ci sa mais enfa ti zar o fenô me no de que trata para que os outros pos sam outor gar-lhe legi ti mi da de. Con- si de ro que a comu ni ca ção polí ti ca pode tranqüi la men te dei xar para trás os seus momentos hiper bó li cos e rea va liar os fenô me nos que lhes são obje to numa pers pec ti va menos ati ra da e, pro va vel - men te, mais pró xi ma das mes mas coi sas. Meu segun do fan tas ma é a tendên cia à sim pli fi ca ção exces si va dos temas e cate - go rias envol vi dos na idéia de comu ni ca - ção polí ti ca. Os fenô me nos da rea li da de não têm mar cas nem donos, por tan to os pes qui sa do res não podem rei vin di car-lhe posse nem inter di tar usos. E a comu ni ca - ção polí ti ca está, lite ral mente, na boca do povo. Quan to maior é a comuni da de de usuá rios de um obje to, de uma espe - cia li da de, de um dis cur so, mais facil - mente vão se for man do os luga res- - comuns, as “evi dên cias”, as “obvie da des”, que, no fundo, fin dam por cons ti - tuir sim pli fi ca ções vol ta das para faci li - tar a comu ni ca ção. Com isso, mui tos dos rele vos mais inte res san tes dos fenô me nos vão sendo des pre za dos, esque ci dos nos can tos, dados como pres supos tos, aplai - na dos pelos con sensos fáceis. Nesse caso, con si de ro útil, a quem se intro duz na espe cia li da de de comu ni ca ção polí ti ca, exa mi nar algu mas des sas obvie da des, redis cu tir alguns pres su pos tos, recupe rar algumas das noções dema sia do evi dentes para, a par tir daí, recons truir cate go rias e con cei tos que se não forem mais sóli dos pelo menos serão mais cons cien tes. Enquanto o últi mo capí tu lo repre senta uma res pos ta ao pri mei ro fan tas ma, o pri mei ro capí tu lo lida dire ta mente com o pro ble ma da sim pli fi ca ção da dimensão pro pria mente comu ni ca cio nalda dis cus - são contem po râ nea sobre a comu ni ca ção polí ti ca. São dois capí tulos pro du zi dos exclusi va mente para este livro e for ne - cem basi ca men te a mol du ra dos con cei - tos fun da mentais da área que os demais capí tu los repre sen tam. No capí tulo 1 pro cu ro argumen tar a favor de uma diver si da de de mode los da rela ção entre comu ni ca ção e polí ti ca, afir mando que o padrão clás si co de dis cur so sobre meios de comuni ca ção não cor res pon de à fase mais con tem po râ nea da ins ti tu cio na li za - ção empre sa rial da indús tria da comu ni - ca ção e da for ma ção dos cam pos sociais dos agen tes da comu ni ca ção e da cul tu ra de massa. Por fim, tento demons trar que o uni ver so da comuni ca ção que tem a ver com a comuni ca ção polí ti ca envol ve clas - ses e cam pos de agen tes muito dife ren - cia dos em ter mos de habi li da des e pro pó - si tos, em cons tan te mar ca ção des sas dife - ren ças e em per ma nen te ten são. No capí tu lo 2 exa mi no um fenô me no que, apa ren te men te, esta ria dis tan te das novas for mas de polí ti ca: a nego cia ção que conduz o jogo polí ti co. Cuido então de carac te ri zar o jogo polí ti co, em elei - ções e no pro ces so polí ti co regu lar, que se esta be le ce pela rela ção entre gover no e con gres so e no inte rior dos par ti dos. O pro pó si to é mos trar – con tra os que afir - mam a con ver são abso lu ta de todos os recur sos da polí ti ca aos pro ce di men tos espe ta cu la res asso cia dos aos meios de comu ni ca ção – que as dimen sões da polí ti ca de par ti dos que são extra-midiáticas se man têm efi ciente men te em ope ra ção na polí ti ca contem po râ nea, princi pal - men te na forma da polí ti ca de nego cia - ções. Pre ten do, além disso, demons trar – con tra os que vêem os recur sos e lin gua - gens da comu ni ca ção de massa ape nas como mais um con jun to de ins tru men - tos de que lança mão a prá ti ca polí ti ca na sua ati vi da de bási ca, apoia da em alianças, arti cula ções e dis pu tas de poder no inte - rior dos par ti dos e gru pos de inte res se – que a polí ti ca de nego cia ções é cons tan- te mente visi ta da por injun ções pro ve - nien tes das inter fa ces entre polí ti ca e comu ni ca ção de massa. No capí tulo 3 busco intro du zir uma chave de lei tu ra para a comuni ca ção polí - ti ca que per mi ta incluir, além da comu- ni ca ção e da polí ti ca, um ter cei ro ele - men to que em geral tem sido des car ta do nas aná li ses da área: o mundo dos negó - cios. A ambi ção do pro pó si to, entre tanto, é mais do que incluir, mos trar como esse uni ver so faz parte de um sis te ma essen- cial que se for mou na base da polí ti ca midiática e que, na ver da de, é a sua con- di ção de pos si bi li da de. Supon do que a maior parte dos estu dos tem pro cu ra do iso lar o fenô me no da nova polí ti ca – a “polí ti ca midiática” – estu dan do-o em sua mecâ ni ca par ti cu lar e em suas con se - qüências para a arte polí ti ca e para a demo cra cia, este capí tu lo sus ten ta a hipó te se de que a inves ti ga ção acer ca da polí ti ca midiática não deve pres cin dir da supo si ção e aná li se de um sis te ma mais geral que opera à sua base. Tenta, a par tir daí, for mu lar um esbo ço dos ele mentos pre pon de rantes do sis te ma e dos encai xes e desen cai xes de inte res ses dos seus sub - sis te mas e carac te ri zar o modo de funcio - na men to da tota li da de. Os capí tu los 4 e 5 são de natu re za dife - ren cia da dos demais, por que neles deixo pela pri mei ra vez a carac te ri za ção da polí ti ca midiática para enfrentar, além disso, ques tões nor ma ti vas. Os dois hori - zontes de pro ble mas são repre sen ta dos pela pro pa gan da polí ti ca e pelo contro le polí ti co da comu ni ca ção. Trata-se de ques tões que inci dem dire ta men te sobre a qua li da de moral e demo crá ti ca das are - nas dis cur si vas e sim bó li cas da polí ti ca cons ti tuí das pela esfe ra de visi bi li da de públi ca repre sen ta da pela comuni ca ção de massa. Nes ses casos, con si de rei que uma mera aná li se dos fenô me nos não seria capaz de ofe re cer ao lei tor a parte mais inte res san te da dis cus são. Os fenô - me nos da pro pa gan da polí ti ca – par ti cu- lar men te da comu ni ca ção sis te ma ti ca - mente dis tor ci da que ela impli ca – e do con tro le polí ti co dos meios de comuni ca - ção são conhe ci dos o sufi ciente. O que con si de ro mais preg nan te para a com - preensão da polí ti ca e da demo cra cia con - tem po râ neas, entre tan to, diz res pei to não à exis tên cia dos pró prios fenô me nos, mas à sua legi ti mi da de, ao seu direi to de ser, em ter mos que, por tan to, são nor ma ti - vos. No capí tu lo 6, exa mi no o fenô me no da polí ti ca de ima gem, isto é, o fenô me no da trans for ma ção da arena polí ti ca num espa ço de com pe ti ção pela pro du ção de ima gens dos ato res polí ti cos, pelo con - tro le do modo de sua cir cu la ção na esfe ra de visi bi li da de públi ca, pelo seu geren- cia men to nos media e pela sua con ver são em ima gem públi ca. Pri mei ro, apre sen - tan do ele men tos para a for mu la ção de uma teo ria da ima gem públi ca. Depois, dis cutin do os meios, os modos, as clas ses de agen tes e os pro pó si tos da luta polí ti - ca como dis pu ta pela ima gem. No capí tu lo 7, trato das carac te rís ti cas dra ma túr gi cas da polí ti ca con tem po râ nea nor mal men te desig na das na idéia de “polí ti ca-espe tá cu lo”. O meu pro pó si to aí é dis cu tir por que e como a polí ti ca contem po râ nea ganhou as fei ções tea trais que a todos pare cem pre do mi nantes. Sus - ten to a hipó te se de que a centra li da de da esfe ra de visi bi li da de públi ca comu ni ca - cio nal, domi na da por recur sos expres si - vos e pro pó si tos comer ciais espe cí fi cos, indus trial e gra ma ti cal men te autô no ma em face do mundo polí ti co, expli quem a neces si da de que a polí ti ca pas sou a ter de codi fi car-se por meios e modos espe ta cu - la res. Pro cu ro então demons trar a ten são entre os agen tes do campo polí ti co e aque les do campo do jor na lis mo para con tro lar a comuni ca ção polí ti ca na esfe - ra de visi bi li da de públi ca e, sobre tu do, para con ver tê-la numa lógi ca do espe tá - cu lo. Por fim, no capí tu lo 8 reto mo os aspec - tos funda mentais da con dução da opi nião públi ca polí ti ca e da polí ti ca-espe tá cu lo para dis cu tir se as mudan ças iden ti fi ca - das na polí ti ca con tem po râ nea repre sen - tam uma alte ra ção total ou uma trans for - ma ção par cial dos seus ele men tos. Exa - mi no a for ma ção dos dis cur sos sobre polí ti ca de ima gem e opi nião e sobre a ence na ção do poder bus can do situá-los numa pers pec ti va his tó ri ca e cul tu ral, con si de ro um pouco da biblio gra fia de refe rên cia fun da men tal das dis cus sões sobre opi nião polí ti ca e do poder em cena e, enfim, apre sen to as minhas hipó te sessobre o alcance e os senti dos da trans for - ma ção da polí ti ca em vir tude da sua rela - ção com a comu ni ca ção de massa. A pro dução deste livro é fruto de mui - tos anos de ati vi da de de intensa coo pe ra - ção inte lec tual com gran de parte dos pes - qui sa do res que cons ti tuí ram a espe cia li - da de de comu ni ca ção e polí ti ca no Bra sil, prin ci pal men te nos ambientes asso cia dos aos pro gra mas de pós-gra dua ção em comu ni ca ção e ao grupo de tra ba lho de Comu ni ca ção e Polí ti ca da Com pós, de que tenho a honra de ter sido o pri mei ro coor de na dor. Mui tos dos inter lo cu to res estão nes ses ambien tes desde a pri mei ra hora, outros foram se che gan do com os anos. A todos devo muito e espe ro ape nas que este livro este ja à altura daqui lo que com eles apren di. Este tra ba lho é resul ta - do de mais de uma déca da de dis cus sões e deba tes com Maria Hele na Weber, Afon - so de Albu quer que, Mauro Porto, Heloi - za Matos, Maria Ceres Cas tro, Elias Macha do e Muri lo César Soa res da pri - mei ra gera ção. Mas tam bém da inter lo - cu ção com Vera Chaia, Fer nan do Aze ve - do, Rousi ley Maia, Jorge Almei da, Emi - lia no José, Fer nan do Latt man-Welt man, Ales san dra Aldé, Luis Feli pe Miguel, Már cia Vidal, Reja ne Car va lho, José Luiz Braga e Anto nio Faus to Neto. Mauro Porto, Maria Hele na Weber, Afon so de Albu quer que e Rou si ley Maia, além disso, acei ta ram a dura tare fa de ler e dis cu tir os ori gi nais, que têm cer ta men te menos defei tos em vir tu de da crí ti ca con sis ten te ou das indi ca ções gene ro sas de rumo que rece bi de pre sen te des ses com pa nhei ros nos cami nhos do pen sa - men to. Gos ta ria igual mente de reco nhe cer as mar cas que neste livro dei xa ram suces si - vas gera ções de estudan tes da linha de pes qui sa em comu ni ca ção e polí ti ca do Pro gra ma de Pós-Gra dua ção em Comu - ni ca ção e Cul tu ra Con tem po râ neas da Uni ver si da de Fede ral da Bahia, dentre eles Vlá dia Jucá, Lia Sei xas, Jose nil do Guer ra, Tat tia na Tei xei ra, Gil ber to Wild ber ger Almei da, Car los Eduar do Francis ca to, Ota cí lio Ama ral e Jamil Mar ques, além de Jorge Almei da e Emi - lia no José, já cita dos. Jamil Mar ques, além disso, foi o pri mei ro revi sor deste tra ba lho e um crí ti co de pri mei ra linha que me ajudou em mui tos casos a encon - trar a boa expres são e a com ple tar as - minhas idéias. Por fim, este tra ba lho não teria sido pos sí vel sem as suces si vas bol sas de pro - du ti vi da de em pes qui sa que me foram con ce di das pelo CNPq e que per mi ti ram a conti nui da de dos meus estu dos espe - cial men te na últi ma déca da. Por outro lado, sem as faci li da des do por tal de perió di cos da Capes não me teria sido pos sí vel nem a atua li za ção biblio grá fi ca nem o reco nhe ci men to do esta do da ques tão na lite ra tu ra inter na cio nal. Estas duas ins ti tui ções repre sen tam o que há de mais pre cio so em âmbi to nacio nal para a pes qui sa públi ca e nunca é demais, par ti cu lar men te em tem pos de cor tes e penú rias, res sal tar a sua impor tân cia para a ciên cia bra si lei ra. 1. Panoramas e balanços sobre a literatura em comunicação vêm se tornando abundantes. Não é este o propósito central desta introdução, mas o leitor interessado na questão pode consultar com proveito Swanson e Nimmo 1990, ou Chaf- fee e Hochheimer 1982, para a literatura de lín- gua inglesa, e Matos 1994, França 2000, além de Azevedo e Rubim 1998, para a pesquisa em comunicação política brasileira. 2. Pelo menos até que o estruturalismo conferis- se autonomia ao estudo das gramáticas e das lógicas dos procedimentos expressivos ou das “linguagens” da comunicação de massa. Depois foi a vez da antropologia aplicada à comunicação ou da sociologia das formas simbólicas permiti- rem a compreensão do funcionamento das insti- tuições envolvidas na comunicação e na cultura de massa. Só então, aparece na teoria a possibi- lidade de se examinar a comunicação como lin- guagem, como forma cultural e como campo - social. 3. Não se deve restringir a atitude de suspeição com relação à comunicação de massa apenas com aquelas teorias dos efeitos imediatos e subli- minares que constituíram a primeira tendência importante na pesquisa americana em comunica- ção e que foi hegemônica até metade dos anos 40. Esta perspectiva acompanhou a perspectiva da “teoria crítica” européia, de matriz frankfurtia- na, que teve grande influência até pelo menos os anos 70. Além disso, também foi a atitude ado- tada pela linhagem francesa da crítica da cultura, cujas origens parecem referir-se a Guy Debord e que são de voga ainda hoje, por exemplo, em certas intenções de pensamento de Jean Baudril- lard. 4. Dois argumentos parecem justificar porque a opção de Fagen não é pela contraposição entre comunicação de massa e política. Ambos os argumentos estão associados a capacidades e características demonstradas, então, pela infor- mação política nos meios de comunicação. Nos anos 60, “esta capacidade não existe em muitas partes do mundo. Não nos devemos esquecer de que em dezenas de nações a televisão está começando a aparecer, o rádio ainda engatinha e quando os jornais funcionam, eles se dirigem apenas à pequena parcela alfabetizada da popu- lação”. Além disso, o consumidor de televisão consome mais espetáculo que informação, ocu- pando o entretenimento a maior parte da progra- mação televisiva. Assim, só esporadicamente ficamos “em contato com o mundo politicamente importante” Fagen (1971: 15). 1 O QUE HÁ DE COMUNI CA- ÇÃO NA COMUNI CAÇÃO POLÍ TI CA? Inquie tos, resigna dos ou encan ta dos, os nos sos contem po râ neos com par ti lham uma convic ção bási ca a res pei to da polí - ti ca tal como se pra ti ca em nos sos dias: há uma zona cres cente e com pli ca da de inter fa ce entre os uni ver sos da polí ti ca e da comuni ca ção de massa. Para carac te ri - zá-la, fre qüente men te empre ga mos expres sões singula res como “polí ti ca midiática”5, “video po lí ti ca”, “comu ni ca - ção polí ti ca”, ou, já impri min do na ter - mi no lo gia um a prio ri inter pre ta ti vo, “polí ti ca-espe tá culo”, “espe ta cula ri za ção do poder”, “polí ti ca show” e outras asse - me lha das. Na mesma toada, a área de estudos que veio se for mando nas últi mas déca das tendo como obje to esta inter fa ce, expres sa-se igual men te em ter mi no lo gia singular. Assim, por exem plo, fala-se comumente da espe cia li da de “comu ni ca - ção e polí ti ca”, da área de estudo de “polí ti ca e media”, da linha de pes qui sa em “mídia e elei ções”. Essa invenção de pala vras-cha ves, que só ulti ma mente vem se fir mando, depois de algu mas déca das de osci la ção, pode gerar a falsa idéia de que por trás de cada expres são se esconda um fenô me no único, sim ples e facil men te identi fi cá vel. Dito de outro modo, isso pode pro du zir o des - co nhe ci men to de que: a) as expres sões se refe rem a um núme - ro consi
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