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CÁRIE DENTAL DEFINIÇÃO: A cárie é uma doença infecto-contagiosa, multifatorial, decorrente da ação de ácidos orgânicos, principalmente o ácido lático, que se forma a partir de um hospedeiro suscetível consumindo com freqüência dieta rica em carboidratos (especialmente a sacarose), colonizado por uma microbiota predominante, sob ação da saliva e do tempo. - Parmey, 1819 - Miller, 1880 - 1890 - Clark, 1924 HISTÓRICO * - Bodecker & Gottlieb, 1927, 1944 - Schatz & Martin, 1955 - Case, 1960 - Keyes, 1960 / Newbrun, 1975 ETIOLOGIA 1. Teoria acidogênica ou quimioparasitária de Miller – 1880: Segundo o autor, os microorganismos presentes na cavidade bucal metabolizam os açucares através da fermentação, originando ácidos, principalmente o ácido lático, que promovem a desmineralização do esmalte, causando, assim, a cárie. Tem ação sobre a parte inorgânica do dente e ocorre em pH ácido. É a teoria mais aceita entre os pesquisadores. 2. Teoria proteolítica – Gottlieb, 1944: As bactérias presentes na cavidade bucal agem sobre determinados produtos, liberando enzimas proteolíticas (ex: colagenase), que atuam sobre a matriz orgânica dos dentes levando a um colapso tecidual (cárie). Teoria não reproduzível “In Vitro”. Segundo os pesquisadores, esta teoria tem alguma lógica, porém a porcentagem de parte orgânica no * Consultar a literatura recomendada para conhecimento dos estudos que mudaram os principais conceitos sobre cariologia ao longo dos anos. esmalte é muito pequena. Pode estar mais relacionada ao desenvolvimento da cárie e não à sua instalação. 3. Teoria da proteólise-Quelação – Schatz & Martin, 1955: As bactérias presentes na cavidade bucal agem sobre o esmalte, saliva, dentina, cemento e sobre os alimentos, promovendo a formação de quelatos que levam à quelação de íons cálcio e, assim, ocorre a desmineralização do esmalte (cárie). Os quelatos são formados pela interação de íons. Têm estrutura anelar composta por dois íons ou mais, interagindo com duas moléculas de água que podem se decompor formando a hidroxila (OH - ), com afinidade pelo cálcio do dente. Atua sobre a parte inorgânica do dente e pode ocorrer em pH alcalino. É reproduzível “In Vitro”. 4. Teoria da auto-imunidade: Relacionada a uma pré-disposição genética. Baseada na produção da imunoglobulina a (Ig A) que teria ação sobre os Streptococcus mutans. Teoria menos aceita, pois a imunoglobulina é muito instável e logo se decompõe. Além disso, existem outros grupos de bactérias responsáveis pela ocorrência da cárie dental. EPIDEMIOLOGIA Incidência em 95% da população das Américas (Aranha, 1996) Diminuição do índice CPOD no Brasil; Comparação com índices da Escandinávia; Atuação em saúde pública MICROBIOLOGIA S. mutans: Início da cárie - grande nº.na placa e alta aderência. Acidogênico e acidúrico. Lactobacilos: Menor nº. na placa e menor aderência à película. Lesões com cavitações (desenvolvimento da cárie). Mais resistente ao flúor. Actinomices: Cáries de raiz. Pouca capacidade de formar ácido. “A cárie não se desenvolve em animais totalmente isentos de bactérias” (Orland, 1954). Portadores sadios: o População infantil do Sudão o Baixos índices de cárie ( CPOD 0.17 ) o Muito infectada por S. cariogênicos o Não consumiam sacarose. o OBS: Apresentam resistência. Só irão desenvolver a doença quando outros fatores como a dieta e o fluxo salivar reduzido, se tornarem desfavoráveis. INFECTO-CONTAGIOSA “A contaminação com bactérias cariogênicas até os 2 anos de idade, provoca um aumento de cárie infinitamente superior aos 4 anos, quando comparados às crianças não contaminadas nessa idade”. TRIADE DE KEYES - DIAGRAMA DE KEYES MODIFICADO Cárie - Etiologia multifatorial Fatores primários – Hospedeiro com tecidos suscetíveis, colonizado por uma microbiota com potencial cariogênico, consumindo com frequência dieta rica em sacarose. A figura 1a mostra a tríade de Keyes e relaciona os fatores primários da cárie dental. A figura 1b apresenta o diagrama de Keyes modificado por Newbrun em 1975, pela inclusão do tempo de interação entre os fatores primários. Fatores secundários – São os fatores que aumentam ou diminuem a resistência dos dentes, a cariogenicidade do substrato e o potencial cariogênico da microbiota: Hospedeiro (Dente) Microbiota Substrato Tempo CÁRIE Microbiota Tempo Dente Microbiota Substrato DENTE – Fatores secundários: Idade (maturação pós-eruptiva; o dente de um indivíduo adulto é menos susceptível à cárie), Flúor (aumenta a resistência do dente à cárie), Morfologia (regiões de cicatrículas e fissuras, e defeitos estruturais de esmalte, dificultam a higienização, funcionando como um nicho de retenção de placa bacteriana), Níveis de carbonato (quando da formação dos dentes, o nível de deposição de cálcio é diferente de pessoa para pessoa). MICROBIOTA – Fatores secundários: S. mutans (principal grupo de microorganismos causadores da cárie dental), Higiene oral (remoção dos microorganismos pela higienização), flúor na placa (funciona como um catalisador para a entrada de íons cálcio e fosfato). SUBSTRATO – Fatores secundários: Tipo e concentração do carboidrato (Existem substratos com diferentes índices de cariogenicidade; os açucares refinados são mais cariogênicos que, por exemplo, a batata), Freqüência da ingestão dos alimentos (precisa tempo para a ação de neutralização da saliva), Detergência dos alimentos (os alimentos que estimulam a salivação são considerados menos cariogênicos. Alimentos pegajosos, têm efeito contrário). “A alta solubilidade no meio bucal, torna a sacarose o mais cariogênico dos açucares”. Depois: Frutose, Glicose, Maltose e Lactose. ALIMENTOS COM ALTO POTENCIAL CARIOGÊNICO Uva passa Chocolate Granola Sucrilhos Goiabada Bananada Arroz doce Doce de leite Refrigerante Catchup – açúcar oculto - cuidado ALIMENTOS COM BAIXO POTENCIAL CARIOGÊNICO Queijo Amendoim Batata frutas Sucos naturais Macarrão Carnes Ovos Leite Peixe CHOCOLATE “O cacau pode reduzir a incidência de cárie, mas combinado com o açúcar resulta em um aumento do seu número”. MAZZEO et al., 1989. SALIVA Fator secundário mais importante; Fluxo salivar (Ex: O diabético tem diminuição do fluxo salivar, fato que diminui a ação anticariogênica. A goma de mascar, por outro lado, aumenta o fluxo salivar); Capacidade tampão da saliva; PELÍCULA ADQUIRIDA Filme orgânico, formado por: o Proteínas salivares o Aminoácidos o Carboidratos Base para a adesão de microorganismos Início da placa bacteriana FORMAÇÃO DA PLACA BACTERIANA 1 a 2 horas – formação da película adquirida 4 a 8 horas – colonização, ainda com poucas bactétias 8 a 12 horas – crescimento rápido das bactérias (multiplicação) 24 horas – placa clinicamente visível – presença de cocos e bacilos MICROBIOTA – Streptococcus mutans Anaeróbio facultativo – vive na presença ou ausência do O2 Acidogênico – produz ácido lático, principalmente (Homolático) Aciduricidade - vive no meio ácido Capacidade de aderência com ou sem película adquirida Capacidade de formaçãode polímeros de reserva (PEC) – Polímero extra celular; mesmo sem a ingestão de alimentos, ele produz ácidos CÁRIE DE MAMADEIRA ETIOLOGIA o Sacarose o Enzimas bacterianas o Composição do dente o Baixo fluxo salivar (dormindo) o Tempo de interação o Menor freqüência de deglutição DINÂMICA DA CÁRIE “ Quando for mantido na cavidade bucal um pH maior que 5,5, a composição da saliva em cálcio ( Ca ) e fosfato (PO4) supera ( supersaturante ) o produto da solubilidade da hidroxiapatita ( HÁ )”. PROCESSO DES-RE Processo dinâmico que explica o metabolismo dental através das trocas iônicas: “Quando atinge-se na cavidade bucal um pH menor que 5,5 (5,3 a 5,5), a composição da saliva em cálcio ( Ca ) e fosfato ( PO4 ) torna-se inferior ( subsaturante ) em relação ao produto da solubilidade da hidroxiapatita ( HA )”. Curva de Stephan: Fase de rápida queda do pH; Fase de permanência abaixo do pH crítico; Fase de recuperação do pH. DESMINERALIZAÇÃO Sacarose pH < 5,5 Subsaturação Dente perde Ca e PO4 para o meio Desmineralização Fluxo unidirecional até “certo tempo” ( pH > 5,5 ) REMINERALIZAÇÃO Tempo - Efeito tampão; diluição e neutralização do ácido pela saliva Eliminação do açucar pH > 5,5 Supersaturação Dente ganha Ca e PO4 Remineralização “A cárie será conseqüência do desequilíbrio entre os fatores do processo DES-RE” Desmineralização Remineralização SMEAR LAYER Camada de material amorfo de conteúdo orgânico e inorgânico resultante da ação de instrumentos de corte e abrasivos sobre os tecidos dentais, mais gordura e microorganismos presentes no meio bucal. ESMALTE CARIADO – Aspectos microscópicos Camadas ou zonas da cárie (SILVERSTONE, 1980): Esmalte sadio (LAD) Zona translúcida ou translucente o Parte avançada da lesão; o Primeira alteração observável na estrutura do esmalte cariado; o Translucidez bem demarcada; o Causas ? - Perda ou aumento mineral - Perda de matéria orgânica - Alteração na densidade do esmalte Zona escura o Presente em 95% das lesões; o Maior porosidade – “ Peneira molecular”; o Marrom escuro – Divergências. Corpo da lesão o Maior proporção de esmalte cariado (desmineralização marcante); o Relativa translucidez superficialmente à zona escura e profunda em relação à zona superficial; o Estrias de Retzius + visíveis. Zona ou camada superficial (30um) – muito fina, não deve ser sondada o Zona relativamente não afetada; o Camada radiopaca; o Esmalte subsuperficial menos mineralizado; DIAGNÓSTICO Anamnese o Motivo da consulta o Histórico de saúde o Hábitos alimentares – inquérito da dieta o Hábitos de higiene bucal Exame clínico o Mucosa o Presença de placa bacteriana o Profilaxia o Lesões de cárie Tipo de lesão em relação ao tempo Perda mineral – inicial, alteração ultra-estrutural Microscópica Manchas brancas Cavitação Total destruição do dente Atividade da lesão (ativas ou inativas) Localização da lesão Exame radiográfico Exames complementares ESTÁGIOS DA CÁRIE “O processo de cárie é dinâmico; a prevalência e a incidência medem os sinais da doença e não os fatores que a produz. A doença cárie se instala muito antes do aparecimento da sua manifestação visível”. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Mancha branca ou cárie inicial o Aspecto opaco o Despolida o Rugosa o Localizada em áreas de acúmulo de placa o Principalmente no terço cervical Fluorose dental o Distribuição simétrica por toda a superfície o Na indicar flúor o Excesso de mineralização Hipoplasia de esmalte o Defeito estrutural de esmalte “A mancha branca não deve ser sondada, pois a camada ou zona superficial, extremamente delgada, poderia ser rompida, impossibilitando a remineralização”. “A sondagem não deve ser realizada. Além de não aumentar a fidelidade do diagnóstico, causa iatrogenia” (Ekstrand et al, 1987). A cárie de esmalte: Aspectos macroscópicos ASPECTOS MACROSCÓPICOS: Esmalte – Superfícies lisas Interproximais Diagnóstico visual Campo seco Iluminação Textura Coloração Experiência profissional Exames complementares – cuidado Vestibular e lingual ou palatina Esmalte – Oclusal Cicatrículas e fissuras Diagnóstico visual Campo seco Iluminação Textura Coloração Placa bacteriana ( Sacarose ) Microbiota específica ESMALTE Sup. Lisas ou oclusal Mancha branca ou escura Remineralização ção Cavitação Experiência profissional Idade Decisão de intervir Exames complementares – cuidado Até bem pouco tempo, o diagnóstico da doença cárie era realizado visando a detecção de cavidades e o tratamento consistia simplesmente na restauração destas lesões, resultando, assim, em uma abordagem sintomática da doença. Mais recentemente, a anamnese e o exame clínico ganharam importância decisiva para a avaliação individual do risco de cárie, da análise e controle dos fatores etiológicos, bem como das decisões sobre as medidas preventivas a serem tomadas, o plano de tratamento e a periodicidade dos retornos para manutenção da saúde. EXAME CLÍNICO / EXAME RADIOGRÁFICO / NÍVEL HISTOLÓGICO Comparativo esquemático da imagem radiográfica com a histológica ou clínica da mesma lesão de cárie. Adaptado de Preben Horsted- Bindslev & Ivar A Mjör, Dentística Operatoria Moderna 3ª. Ed.1999 Radiograficamente, o tamanho da lesão cariosa não é, em geral, o mesmo quando vista clinicamente. Normalmente na radiografia o tamanho da lesão parece ser menor do que na realidade. Quando uma lesão inicialmente detectada em uma radiografia interproximal é observada com uma lupa em negatoscópio, mostra-se como uma pequena região triangular radiolúcida no terço externo do esmalte. Neste estágio histologicamente, segundo Mjör, a lesão já penetrou na dentina subjacente, isto deve-se entre outros fatores à superposição da espessura do esmalte, através do qual a radiação deve penetrar, especialmente em molares, muitas vezes estas lesões apenas são observáveis radiograficamente quando atingem dentina. Cuidados: Quando uma lesão de cárie for detectada radiograficamente atingindo apenas o esmalte, 70% a 80% das lesões ainda não apresentam cavitação, sendo possível o tratamento conservador. ATIVIDADE DE CÁRIE – MALTZ, 1997 ATIVA o Aspecto opaco, despolida e rugosa INATIVA o Mancha branca lisa o Brilhante (pode aparecer pigmentada) o Tecido dentinário escurecido e endurecido CLASSIFICAÇÃO DAS CÁRIES ATIVAS CÁRIES AGUDAS o Lesão úmida o Cor branca o Amolecida o Com sintomatologia dolorosa CÁRIES CRÔNICAS o Lesão seca o Amarelada ou marrom o Endurecida o Sem sintomatologia dolorosa REGIÕES DE RELATIVA IMUNIDADE Região subgengival Região acima da área de contato proximal Ponta de cúspide Terço médio e oclusal da face vestibular e lingual de todos os dentes REGIÕES DE MAIOR SUSCEPTIBILIDADE Fóssulas, sulcos e fissuras Superfícies lisas proximais Região de colo vestibular e lingualde todos os dentes Defeitos estruturais ASPECTOS MACROSCÓPICOS: Esmalte – Superfícies lisas o Interproximais Diagnóstico visual Campo seco Iluminação Textura Coloração Experiência profissional Exames complementares Radiografias periapicais Principalmente as radiografias interproximais (Bite-wing) Transiluminação o Vestibular e lingual ou palatina Exame visual Não adianta usar a radiografia Esmalte – Oclusal o Cicatrículas e fissuras Diagnóstico visual Campo seco Iluminação Textura Coloração Experiência profissional Idade Decisão de intervir Exames complementares Radiografia periapical e interproximal Transiluminação Detector eletrônico Laser (Diagno Dent) Radiovisiografia Obs: Alterações submicroscópicas até estágios com sinais e sintomas, dificultam o diagnóstico preciso da cárie. LESÃO INICIAL DE CÁRIE RADICULAR Áreas de coloração amarelada Pouco amolecida Bem delimitada Incidência em pessoas acima de 30 anos 75% das pessoas com 65 anos Manutenção X Restauração REMOÇÃO DA CÁRIE CURETAS Remoção da camada mais superficial da dentina cariada e amolecida Tamanho compatível com a lesão (maior possível) Movimento da periferia para o centro BROCAS Remoção da dentina cariada mais endurecida Tamanho compatível com a lesão (maior possível) Esférica de aço em baixa rotação Reutilizar as curetas nos intervalos do uso das brocas para verificação da consistência da dentina remanescente (diagnóstico se ainda há cárie) EVIDENCIADORES Corantes que permitem diferenciar as camadas de dentina desmineralizada superficial e interna. Método objetivo que oriente o preparo cavitário Evita a remoção de tecido sadio Não utilizar em cavidades profundas em função do maior calibre dos túbulos; pode haver a pigmentação de dentina sadia CARISOLV o Produto à base de hipoclorito de sódio 0,5% e aminoácidos (Ácido glutâmico, Leucina e Lisina de ph alcalino (pH11). Promove a pigmentação das fibras mais superficiais da dentina cariada, preservando as fibras passíveis de mineralização. Auxilia na remoção manual do tecido cariado. LASER OBJETIVOS DO DIAGNÓSTICO Determinar a presença e extensão da cárie Estabelecer um plano de tratamento preventivo e/ou restaurador, além do prognóstico Acompanhamento ou proservação para verificar a eficácia do tratamento.
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