Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO DE ODONTOLOGIA DISCIPLINA DE DENTÍSTICA Proteção do Complexo Dentino-Pulpar Quando falamos em proteção do complexo dentina/polpa, não estamos falando apenas de produtos ou materiais que devem ser colocados na cavidades preparadas após remoção das lesões da cárie e anteriormente ao material restaurador. Falamos, principalmente, de procedimentos e cuidados operatórios que devem ser observados durante os preparos ou adequações cavitárias necessários para a remoção de lesões cariosas. Devemos ter em mente que o órgão dental é composto por de três estruturas principais: esmalte; dentina e polpa. Dessas estruturas, somente o esmalte pode ser considerado uma estrutura estática, embora possua uma certa permeabilidade. Contudo, em comparação à dentina, pode ser considerado impermeável. Em antagonismo, a dentina apresenta-se como tecido permeável de característica tubular, apresentando no interior desses túbulos um fluido, terminações nervosas livres e prolongamentos citoplasmáticos dos odontoblastos (fibrilas de Thomes). Já a polpa tem como principal função a formação de dentina devido à ação dos odontoblastos localizados em sua periferia. Dessa maneira fica evidente que é impossível separarmos funcionalmente polpa de dentina já que o núcleo dos odontoblastos ficam na polpa e seus prolongamentos alojam-se no interior dos túbulos dentinários, já em dentina. Com base no exposto acima, fica lógico concluirmos que todo e qualquer estímulo aplicado à dentina reflete direta ou indiretamente na polpa. Polpa Dental Podemos dividir a polpa dental em duas partes, conforme sua constituição: a) água: 75% b) conteúdo orgânico (colágeno): 25% Podemos também citar quatro funções da polpa: a) formadora b) nutritiva c) sensorial d) protetora Dentina Estrutura de origem mesenquimal composta de 70% de conteúdo inorgânico (Ca e PO), 18% orgânico (colágeno) e 12% água. Tem como funções suportar o esmalte, já que este é extremamente friável necessitando de resiliência para que não se clive quando de choques mecânicos, proporcionar coloração ao dente e proteger a polpa de infecções bacterianas. Quando falamos em dentina devemos abrir um parêntese para lembrarmos da Teoria Hidrodinâmica de Brännström. Brännström, na década de 60, firmou sua teoria afirmando, entre outras coisas, que somente bactérias e toxinas bacterianas poderiam caminhar no contra- fluxo do fluido dentinário que é da polpa para o meio externo. Dessa maneira podemos concluir que quanto menor for a camada de dentina remanescente, ou seja, quanto maior e mais profundo o preparo, a chance de uma contaminação bacteriana se torna mais presente. Isto se dá ao fato de, conforme aumenta a profundidade, aumenta também a quantidade e o diâmetro dos túbulos dentináros à saber: a) junção amelo-dentinária: 15.000/mm2 – 0,63 m b) dentina intermediária: 35.000/mm2 – 1,4 m c) junto à polpa: 65.000/mm2 – 2,37 m Por outro lado, podemos notar que a polpa pode promover a formação de vários tipos de dentina: a) Primária: formada antes da erupção dos dentes b) Secundária: formada após a erupção dos dentes (normodentina) c) Esclerosada: formada quando de uma agressão de baixa intensidade e longa duração (cárie crônica) d) Osteóide: formada quando de uma agressão de alta intensidade (cárie aguda) e) Reparativa: formada quando retirado o agente agressor Smear Layer Entende-se como smear layer a camada de material amorfo de conteúdo orgânico e inorgânico resultante da ação de instrumentos de corte e abrasivos sobre os tecidos dentais, mais gorduras e microrganismos presentes no meio bucal. Pode ser dividido em Superficial (recobre a dentina) e Plug (encontra-se no interior dos túbulos). Sensibilidade Dentinária Novamente temos que nos reportar à Teoria Hidrodinâmica de Brännström para falarmos de sensibilidade dentinária. Nesse caso, essa teoria relaciona a dor à movimentação do fluido dentinário no interior dos túbulos para fora e para dentro, estimulando por diferença de pressão, as terminações nervosas no interior dos túbulos. Na prática, esse fenômeno ocorre toda vez que estímulos como jato de ar (extravasamento do fluido dentinário), calor (evaporação do fluido), pressão (movimentação do fluido) e produtos hipertônicos como açúcar (deslocamento do fluido) são aplicados sobre a superfície dentinária. Diagnóstico do Estado Pulpar Nesse estágio é que começamos efetivamente a proteção do complexo dentina/polpa, pois precisamos obter o máximo de informações possíveis sobre o dente a ser tratado. Devemos extrair do paciente relatos sobre a sintomatologia apresentada, o que o mesmo faz para que essa dor seja mitigada (analgésicos, bochechos com água fria, bochechos com água quente, etc)e a freqüência e intensidade com que a sintomatologia se apresenta. De qualquer forma, devemos sempre lembrar que esse órgão dental vem sofrendo agressões contínuas que podem ainda não ter ultrapassado o limiar de tolerância da polpa. Assim, precisamos atentar para a técnica operatória adequada e oportunidade de restauração para que não corramos o risco de, com a nossa intervenção, ultrapassarmos o limiar de reação do órgão pulpar já que preparos cavitários e restaurações também se constituem em agressões pulpares. Com o objetivo de verificarmos as condições reais do elemento dental, lançamos mão de alguns procedimentos: a) anamnese b) exame clínico: inspeção, exploração, palpação e percussão (horizontal e vertical) c) testes térmicos: calor: bastão de guta percha; frio: gás refrigerante ou bastão de gelo d) teste elétrico: só avalia sensibilidade e) Radiografias: periapicais Com esses procedimentos podemos detectar agressões ao órgão pulpar como lesões cariosas e traumas oclusais que devem ser tratados de forma distinta. De qualquer forma, sabemos que o grau de comprometimento pulpar dependerá de características inerentes ao paciente e à lesão, já que cada organismo pode reagir de maneira diferente frente ao mesmo tipo de agressão e que o grau de comprometimento da vitalidade pulpar é muito difícil de ser precisado. Assim, cabe a nós, cirurgiões-dentistas, começarmos a proteção do complexo dentina/polpa após um correto diagnóstico do estado pulpar, minimizando o trauma do preparo cavitário utilizando instrumentos rotatórios novos, refrigeração abundante, pouca pressão e intermitência no momento do desgaste/corte, hidratação constante da cavidade e, por fim porém de extrema importância, evitar secagem da dentina com jatos de ar. É importante lembrarmos que quanto menor a quantidade de dentina remanescente, maior pode ser o calor transmitido ao órgão pulpar além da evaporação do fluido dentinário levando à morte dos odontoblastos limitando o potencial reparador desse órgão pulpar. Por outro lado, é importante lembrarmos que os procedimentos operatórios modernos consistem em adequações cavitárias cada vez menores, sendo possível que não haja uma efetiva refrigeração na parte ativa de brocas e pontas diamantadas, o que reforça ainda mais a necessidade de uma técnica cuidadosa para evitarmos a geração excessiva de calor. Do ponto de vista de agressões por traumas oclusais, devemos lembrar que estes, normalmente, são gerados por contatos prematuros que transferem toda a carga mastigatória para um determinado ponto de uma restauração, estimulando de maneira agressiva o periodonto e a pressão intrapulpar. Esse aumento de pressão intrapulpar pode tornar o dente mais sensível à variações térmicas. Nesse estágiocabe novamente uma consideração à Teoria Hidrodinâmica de Brännström, onde esse pesquisador afirmava que se a dentina sofrer uma pressão suficiente para que haja deflexão da mesma, haverá sensibilidade dolorosa, ou seja, se a força for tal que ultrapasse o módulo de elasticidade da dentina, haverá pressão nas terminações nervosas ocasionando o fenômeno da dor. No que diz respeito aos procedimentos restauradores, podemos dividi-los de duas formas: a) oportunidade de restauração b) técnica restauradora Quando falamos de oportunidade de restauração estamos nos referindo à sintomatologia existente nesse momento. Se o dente apresenta-se com sintomatologia dolorosa intensa, é prudente que façamos a remoção do agente agressor dando condições para que o órgão pulpar se restabeleça e, somente com a regressão da sintomatologia, procederemos com a restauração propriamente dita. Já quando falamos de técnicas restauradoras não podemos esquecer que estamos na Era da Adesividade e que para fazermos procedimentos restauradores adesivos necessitamos de substâncias ácidas que removam ou tratem a camada de smear layer , abrindo e alargando a entrada dos túbulos dentinários logo, se não tomarmos os devidos cuidados, esses serão vias de acesso direto em direção à polpa de bactérias e toxinas bacterianas. Assim, falhas nos procedimentos adesivos podem ocasionar hiatos (gaps) tanto nas margens cavo-superficiais (falta de vedamento marginal) como no interior dos túbulos (falta de vedamento tubular) levando à futuras infiltrações de microrganismos e, por conseguinte, irritações pulpares. Dessa maneira, para um processo restaurador adequado, devemos avaliar o estado de vitalidade pulpar, idade do paciente, profundidade cavitária, evitar contaminação e desidratação da cavidade priorizando a qualidade da interface da restauração. Isolamento Absoluto do Campo Operatório Manobra de importância crucial para obtenção da excelência em restaurações já que estaremos trabalhando diretamente na dentina (estrutura altamente permeável), em meio bucal altamente rico em bactérias. Não obstante, todos os materiais protetores e restauradores utilizados têm natureza hidrofóbica. Por outro lado, devemos atentar também ao fato desse procedimento diminuir a contaminação do paciente para o profissional em torno de 80%. Estratégias e Materiais de Proteção Quando falamos em materiais ou produtos para a proteção do complexo dentina/polpa, devemos ter em mente todos os requisitos que esses produtos devem possuir: a) ser bactericida b) isolante térmico e elétrico c) biocompatível d) adesivo e) promover vedamento (marginal e tubular) f) resistência mecânica g) compatibilidade com o material restaurador h) CETL semelhante ao da dentina i) Insolubilidade Ao analisarmos os requisitos supra citados, podemos concluir que não existe, até o momento, um material para a proteção dentino-pulpar que preencha todos esses requisitos. O que devemos fazer é uma correta e minuciosa análise caso-a-caso para que possamos aproveitar as melhores qualidades de cada um deles conforme a situação apresentada. Claro está que para isso alguns fatores podem nos orientar no momento da seleção de tais materiais, a saber: a) profundidade cavitária: Rasa= >2,5 mm; Média= 1,6 a 2,5 mm; Profunda= 0,7 a 1,6 mm; Muita Profunda= 0,5 a 0,7 mm. b) Sintomatologia c) Característica da dentina: normodentina ou esclerosada. No segundo caso, essa apresenta-se “vedada” naturalmente pela deposição de minerais na luz dos túbulos dentinários tornando-se impermeável. d) Idade do paciente: volume pulpar e calibre dos túbulos e) Material restaurador: resina, amálgama, porcelanas, etc. Uma outra maneira de lidar com os materiais de proteção seria dividi-los segundo conceitos químicos (materiais com pH alcalino) e conceitos mecânicos (obliterações dos túbulos para que não haja trânsito de bactérias). Em última análise devemos conhecer um pouco das propriedades de cada material disponível para que, de posse das observações feitas de cada cavidade a ser restaurada, unamos esses dois conhecimento a fim de que possamos decidir o que e como utilizar. Atualmente podemos lançar mão dos seguintes protetores pulpares: a) Verniz Cavitário: solução de resinas em solvente orgânico. O solvente evapora-se deixando uma fina película de resina. Tem ação bacteriostática, compatibilidade biológica, vedamento temporário, isolamento elétrico e alta solubilidade. Não deve ser utilizado anteriormente à colocação de materiais liberadores de íons favoráveis (ex.: cimento de ionômero de vidro). b) Cimento de Hidróxido de Cálcio (Ca(OH)2): produto com pH alcalino (12,5) portanto altamente bactericida, estimula ação reparadora e alta solubilidade. Utilizado nas regiões de maior profundidade onde se observa a polpa por transparência. Seu pH alcalino fornece condições para que a polpa forme dentina já que no organismo só é possível a produção de osso e dentina em meio de alta alcalinidade. Pode apresentar-se em forma de pó ou cimento. c) Sistemas Adesivos: têm em suas composições monômeros resinosos hidrofilílicos, solventes orgânicos (acetona ou etanol) e água. São materiais utilizados previamente às restaurações de resina composta, como agente de ligação. Contudo, quando se refere à proteção dentino-pulpar, o enfoque que se dá à esses materiais é seu caráter de agente vedante. A aplicação de sistemas adesivos sobre a dentina faz o vedamento dos túbulos dentinários por meio da formação de uma “camada híbrida”, que nada mais é do que uma região composta de colágeno, polímeros e resíduos de mineral. d) Cimentos de Ionômero de Vidro: possuem como propriedades principais a adesividade relativa, liberação de flúor, CETL semelhante ao da dentina e resiliência. Utilizamos esse material quando temos a necessidade principal de repor a estrutura dentinária perdida, já que o cimento de ionômero de vidro é o material que possui as características mais semelhantes às da dentina. Como apresenta o CETL mais próximo ao da dentina, esse se comporta contraindo e expandindo praticamente igual à mesma, dificultando a formação de fendas interfaciais que poderiam facilitar o trânsito bacteriano nas paredes laterais entre o dente e o cimento de ionômero de vidro. e) Cimento de Óxido de Zinco e Eugenol: sua biocompatibilidade pode ser atribuída à prevenção de infiltração causada pela excelente habilidade de selamento marginal. Possui também qualidades terapêuticas que, pelo efeito do eugenol, fornece um efeito bactericida e analgésico. Contudo, não possui propriedade adesiva e não pode ser utilizado sob restaurações de resinas compostas pois o eugenol interfere na adição dos metacrilatos quando da polimerização desses. Incompatibilidades entre Materiais OZE X Resinas Compostas Verniz X Resinas Compostas Verniz X Cimento de Ionômero de Vidro Proteção do Complexo Dentino Pulpar Segundo a Profundidade Cavitária Cavidade rasa Cavidade média Cavidade profunda Cavidade muito profunda Proteção Pulpar Indireta Quando observamos que uma cavidade é tão profunda a ponto de notarmos por transparência o tecido pulpar (remanescente dentinário inferior a 0,7mm), porém sem RESINAS COMPSTAS AMÁLGAMA RASA Adesivo Adesivo MÉDIA Adesivo Adesivo PROFUNDA Adesivo Ou CIV + Adesivo CIV+ Adesivo MUITO PROFUNDA Ca (OH)2 + Adesivo Ou Ca(OH)2 + CIV + Adesivo Ca(OH)2 + CIV + Adesivo presença de sangramento, devemos atuar de maneira mais conservadora tentando isolar essa região do meio externo com materiais que possam estimular a formação de uma camada de dentina reparativa nesse local. É importante salientarmos que nessa condição já estamos diante de uma exposição pulpar microscópica. Os materiais de eleição nessa situação são o Ca(OH)2 e o CIV. Tratamento Expectante Normalmente executado em pacientes jovens onde existe uma grande permeabilidade dentinária com presença de cárie aguda e risco de exposição pulpar. Tem como objetivos bloquear a penetração de agentes bacterianos, inativar bactérias pela ação bactericida dos materiais e estimular a hipermineralização da dentina subjacente. Tem também o objetivo de fazer com que haja tempo para que o dente, sem a presença do agente agressor inicial, se restabeleça por si só. Os materiais utilizados são quase sempre o Ca(OH)2 e o CIV. Proteção Pulpar Direta Quando observamos que uma cavidade é tão profunda a ponto de notarmos uma exposição macroscópica do tecido pulpar (presença de sangramento). Nessa situação devemos avaliar com muito critério fatores como grau de comprometimento pulpar, extensão da lesão, tempo e tipo de exposição, idade do paciente e assepsia do meio. A exemplo do tratamento expectante, essa manobra também visa o restabelecimento pulpar e a produção de uma barreira mineralizada (ponte de dentina). Os materiais de eleição nessa situação são o Ca(OH)2 e o CIV. Proservação a) Anamnese b) Exame Radiográfico c) Documentação d) Testes periódicos para avaliação
Compartilhar