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Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 1 DIREITO PENAL PRESCRIÇÃO - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE por Marcelo Amaral Colpaert Marcochi1 A Prescrição consiste na perda por parte do Estado de exercer o seu direito de punir (quando incide antes do trânsito em julgado) bem como o direito de executar a pena (quando incide após o trânsito da sentença). Nesse turno o instituto da prescrição se divide em prescrição da pretensão punitiva (anterior ao trânsito em julgado) e prescrição da pretensão executória (a partir do trânsito em julgado para ambas as partes). Por sua vez a prescrição da pretensão punitiva se subdivide em prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (P.P.P.P.D.), prescrição da pretensão punitiva intercorrente, subseqüente ou superveniente (P.P.P.I.S.S.) e prescrição da pretensão punitiva retroativa (P.P.P.R). A prescrição da pretensão executória (P.P.E.) não comporta, destarte, subdivisões. Antes de iniciarmos o cálculo, frise-se que a Lei 11.596/07 (29.11), alterou a redação do artigo 117, IV do Código Penal, no que toca às causas extintivas da punibilidade, a saber: I- Recebimento da denúncia ou da queixa; II- Sentença de pronúncia; III- Sentença confirmatória de pronúncia; IV- Publicação da sentença ou publicação de acórdão condenatórios recorríveis; V- Início ou continuação do cumprimento da pena ; VI- Reincidência. 1 Reservados todos os direitos autorais do conteúdo desta aula bem como dos gráficos nela constantes ao autor – www.marcochi.com.br 2 Com a alteração havida pela Lei 12.234/10, se a pena maxima é inferior a 1 ano, o prazo prescicional é de 3 Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 2 Antes da referida alteração a Lei indicava como causa interruptiva a sentença condenatória recorrível (inciso IV); vê-se que o acórdão não representava uma causa interruptiva – ainda que condenatório, nem tampouco a sentença absolutória (primeira instância), vale dizer, a lei mencionava sentença e não acórdão; da mesma sorte exigia que a sentença fosse condenatória não cabendo a interpretação analógica aos casos de sentença absolutória ou acórdão - condenatório ou não – porquanto a prescrição traz incontestáveis consequências no âmbito penal o que, per si, impede tal interpretação, notadamente quando in maulan partem. Assim sendo, se a sentença ao cabo do processo de conhecimento indicasse uma das causas previstas no artigo 386 do Código de Processo Penal – hipóteses de absolvição – ainda que sobreviesse um acórdão condenatório nem aquela, nem este, tinham o condão de interromper o prazo prescricional. No tocante ao cálculo, a partir do recebimento da denúncia ou queixa, nestas hipóteses, o curso da prescrição somente seria interrompido com o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória quando então dar-se-ia o início do cumprimento da pena de acordo com o inciso V do artigo 117 do Código Penal – como se verá adiante. No mesmo sentido, discutia-se igualmente acerca da real data interruptiva, se aquela inserida na sentença ou a data da publicação eis que a lei mencionava “sentença”, diferente da atual redação que indica a “publicação” da sentença o marco interruptivo. Com a nova lei o artigo 117, IV passa a enumerar como momento de interrupção a publicação da sentença OU do acórdão desde que sejam condenatórios e recorríveis. Mas, como é comum, fez emergir discussão acerca da aplicação das referidas causas, sobretudo pela locução “ou” empregada pelo legislador. Alguns apregoam que o curso prescricional encontra agora mais uma causa (aplicada cumulativamente) de prescrição, vale dizer, seria ele interrompido pelo recebimento da denúncia (art. 117, I), pela sentença de pronúncia (art. 117,II) e pelo acórdão confirmatório de pronúncia (art. 117, III) pela sentença condenatória recorrível (art. 117, IV, 1ª parte) e pelo acórdão igualmente condenatório (art. 117, IV, 2ª parte). Outros, entretanto, lecionam que a locução alternativa aposta na lei – “ou” – tem a intenção de indicar que o acórdão condenatório somente servirá como causa interruptiva se a sentença (anterior de primeira instância) for absolutória, vale dizer, “ou uma ou outra”, “a que condenar primeiro”; nesse sentido, se a sentença (juiz monocrático) for condenatória ainda que sobrevenha um acórdão condenatório este não servirá para limitar o curso da prescrição que somente seria interrompido pela publicação do acórdão condenatório se a sentença de primeira instância fosse absolutória. Mais uma vez, vale dizer, “uma ou outra” causa. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 3 Em resumo: o artigo 117, IV do Código Penal indica duas causas distintas, quais sejam, “sentença condenatória” e “acórdão condenatório”, mas a aplicação deve ser feita de forma alternativa em face da locução “ou”, valendo como causa interruptiva a primeira sentença condenatória existente no processo – “a que condenar primeira é a que servirá como causa interruptiva”. Diante disso far-se-á, é possível observar, dois cálculos distintos, ou seja, duas formas diferentes de calcular a prescrição considerando na primeira hipótese haver sentença condenatória recorrível (ocasião em que o acórdão não interromperá a prescrição – independente de ser condenatório ou não) e na segunda hipótese, com sentença absolutória (que não interrompe o curso) mas com acórdão condenatório, considerando as interpretações acima expostas. Destarte é preciso verificar que o cálculo da prescrição em todas as suas modalidades tem como base a tabela prevista no artigo 109 do Código Penal. Nesse sentido o prazo prescricional tem íntima relação com a quantidade de pena cominada ou aplicada para o crime praticado, ou seja, o prazo prescricional de um crime está relacionado com a sua pena. QUADRO 01 A regra prevista no artigo 109 explicitada no gráfico acima (quadro 01)2 indica “se o máximo da pena”, referindo-se à prescrição da pretensão punitiva (antes do trânsito em julgado) em que se considera a pena máxima cominada ao crime. Entretanto, na hipótese - ver- se-á adiante - de haver sentença com trânsito em julgado levar-se à em conta a pena aplicada na sentença e não a pena máxima prevista, mas a relação é a mesma, ou seja, utiliza-se a mesma tabela. 2 Com a alteração havida pela Lei 12.234/10, se a pena maxima é inferior a 1 ano, o prazo prescicional é de 3 anos, e não mais de 2 anos. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 4 De todo o exposto, cabe-nos, como dito, calcular a prescrição em duas faces: 1 - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA COM SENTENÇA CONDENATÓRIA RECORRÍVEL (não se considera o acórdão) Temos presente aqui a existência de uma sentença condenatória proferida por um juiz monocrático e portanto a existência de eventual acórdão, ainda que seja condenatório, não servirá como causa interruptiva do prazo prescricional, a saber: QUADRO 02 Gráfico: Marcelo Marcochi Para o cálculo explicativo tomaremos como base a prática de um crime defurto, artigo 155 do Código Penal, que tem pena mínima de 1 (um) ano e pena máxima de 4(quatro) anos, e portanto prescreve em 8 (oito) anos, segundo regra do artigo 109 (quadro 01). A prescrição da pretensão punitiva3 (quadro 02) tem termo inicial em uma das causas indicadas no artigo 1114 do Código Penal, por exemplo, a data em que o crime se consumou (inciso I), e o prazo deve ser calculado levando-se em conta a pena máxima cominada (prevista na lei – chamada pena em abstrato) 3 A que se dá antes do trânsito em julgado para ambas as partes. 4 São recorrentes nos concursos públicos, especialmente nos Exames de Ordem dos Advogados do Brasil, as questões sobre as teorias acerca do momento em que o crime é praticado – vide artigos 4º e 6º do Código Penal. Nesse passo o referido artigo 111 mostra-se uma exceção à regra da “teoria da atividade” (art. 4º) conquanto para fins prescricionais não se leva em conta o momento da ação ou da omissão mas sim a data referente ao resultado. O artigo 111, ademais, indica o início do prazo prescricional nos crimes tentados, permanentes, etc. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 5 Nesse diapasão, tendo em mão o quantum do prazo prescricional - 8 (oito) anos - passa-se à contagem do período que engloba o caminho entre o “termo inicial do prazo” e a primeira causa interruptiva5 da prescrição consoante prevê o artigo 117, I do Código Penal, qual seja, o recebimento da denúncia ou da queixa (do ponto “1” ao ponto “2” – quadro 02). No caso de haver sido extrapolado o prazo prescricional diz-se que ocorreu a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (P.P.P.P.D.); por outro lado, se o recebimento da denúncia ou da queixa se deu antes do prazo prescricional estipulado para a pena (8 anos) abre-se nova contagem. Conta-se agora (nos casos de haver a interrupção) novo prazo de 8 (anos) calculados da data do recebimento da denúncia ou da queixa (causa interruptiva – art. 117, I do CP) até a decisão de pronúncia (segunda causa interruptiva - art. 117, II do CP) (do ponto “2” ao ponto “3” – quadro 02); na ocasião de o prazo ter sido ultrapassado diz-se que ocorreu a P.P.P.P.D. Se a causa interruptiva (decisão de pronúncia) deu-se antes do prazo abre-se novo lapso prescricional em vista da sua interrupção. - Vê-se adiante, portanto, nova contagem de idênticos 8 anos (perceba que havendo uma causa interruptiva o prazo prescricional é ‘zerado’, devendo ser desconsiderado o prazo anterior, quando se abre novo lapso de contagem com o prazo total) contados da decisão de pronúncia (artigo 117, II do Código Penal) até a terceira causa interruptiva da prescrição como assevera o artigo 117, III (decisão confirmatória de pronúncia) (do ponto “3” ao ponto “4” – quadro 02), quando se dá a P.P.P.P.D. caso o prazo seja ultrapassado; não havendo extrapolação do prazo abre-se nova contagem. Agora seguimos da data da decisão confirmatória de pronúncia até a data da publicação da sentença (quarta causa interruptiva consoante art. 117, IV, 1ª parte do CP) (do ponto “4” ao ponto “5” – quadro 02) quando – tendo sido ultrapassado o prazo prescricional – diz-se da P.P.P.P.D. Importante frisar que as causas interruptivas “decisão de pronúncia” e “decisão confirmatória de pronúncia” (ponto “3” e “4”) só tem lugar no procedimento escalonado do júri6; nos demais casos – como no furto elas devem ser ignoradas, contando-se 5 Como visto anteriormente as causas interruptivas estão enumeradas no artigo 117 do Código Penal e como o próprio nome apregoa devem interromper a prescrição – obrigatoriamente – todas as vezes que nos deparamos com uma delas. 6 O rito do júri se destina ao processo e julgamento dos crimes dolosos contra a vida bem como os a eles conexos. ad argumentandum, são crimes dolosos contra a vida o homicídio, o infanticídio, o induzimento, instigação e o auxílio ao suicídio e o aborto sejam eles consumados ou tentados. Exceção se faz ao crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio pois a sua tentativa é inexistente, ou seja, se iniciados os Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 6 os prazos prescricionais do ponto “1” ao ponto “2” e deste ao ponto “5”, quando se dá – em havendo a transposição do prazo (de idênticos 8 anos) – a P.P.P.P.D., como nos demais casos. Síntese: 1. Crimes dolosos contra a vida: Do ponto 1 ao 2; 2 ao 3; 3 ao 4; 4 ao 5; 5 ao 7 2. Demais crimes: Do ponto 1 ao ponto 2; 2 ao 5; 5 ao 7 Até agora consideramos ter havido uma sentença condenatória razão pela qual a próxima causa interruptiva será o trânsito em julgado (ponto 7) porque o acórdão não servirá como causa interruptiva (lembre-se que a lei fala “ou” uma “ou” outra, ou seja, a que condenar primeiro interrompe). Assim, como calcular o prazo se a sentença for absolutória? Vejamos o próximo gráfico: 2 - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA COM SENTENÇA ABSOLUTÓRIA (que não pode ser considerada) E ACÓRDÃO CONDENATÓRIO. Temos presente aqui a existência de uma sentença absolutória [ponto 5] (que não interrompe a prescrição) proferida por um juiz monocrático e portanto a existência de eventual acórdão (ponto 6), desde que seja condenatório, servirá como causa interruptiva do prazo prescricional, a saber: QUADRO 03 atos de execução não sobrevém nenhum resultado diz-se que a conduta é atípica; se resultarem lesões corporais não se reconhece a “tentativa de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio” mas sim crime de lesões corporais. Em resumo, somente quando há a morte que se diz do crime previsto no artigo 122 do Código Penal. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 7 O cálculo aqui ocorre nos mesmos moldes do que antes dito, a alteração entretanto está no fato de que a sentença (ponto 5) não mais interrompe o prazo prescricional, que somente será descontinuado quando da publicação do acórdão condenatório recorrível (ponto 06). Síntese: Crimes dolosos contra a vida: Do ponto 1 ao 2; 2 ao 3; 3 ao 4; 4 ao 6; 6 ao 7 Demais crimes: Do ponto 1 ao ponto 2; 2 ao 6; 6 ao 7 Se em alguns desses momentos o prazo prescricional (8 anos no exemplo) tiver sido ultrapassado teremos a Prescrição da Pretensão Punitiva Propriamente Dita (P.P.P.P.D.); do contrário, o juiz deverá aplicar uma sentença – absolutória ou condenatória. Tratando-se de uma sentença condenatória o juiz deverá aplicar uma pena ao crime com base na sanção cominada em abstrato (por exemplo: para o furto a pena mínima é de 1 ano e máxima de 4 anos). - Vamos considerar que o juiz aplicou uma pena de 2 anos; nesse caso e em vista de haver uma sentença condenatória recorrível faz-se imperioso dela recorrer. Em princípio deve-se interpor o recurso cabível quando então o estado tem agora – como antes – que manifestar-se antes do decurso do lapso prescricional que neste caso é variável em relação ao quantum do prazo e em relação ao momento do cálculo, a saber: - Em relação ao prazo: Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 8 1ª situação - Acusado e Ministério Público (ou querelante) recorrem: caso o órgão ministerial (ou o querelante), além do acusado tenha recorrido da sentença a pena de 2 anos aplicada não é definitivae como se observou desde o início (ponto “1”) o prazo deve ser contado com base ainda na pena máxima (porque ela pode ser aumentada em grau de recurso, ou diminuída). Aqui, mantemos a regra prevista no artigo 109 que apregoa “antes de transitar em julgado.....”. Assim, pena máxima de 4 (quatro) anos prescreverá em 8 (oito) anos. 2ª situação – Ministério Público (ou querelante) não recorrem, ou seja, é interposto recurso somente por parte da defesa: caso o órgão ministerial (ou o querelante) não tenha recorrido da sentença de 1° grau a pena de 2 anos agora reflete o máximo possível, ou seja, havendo recurso exclusivo da defesa a sanção imposta na sentença combatida jamais poderá ser aumentada7; pena máxima de 2 (dois) anos prescreve em 4 (quatro) anos. - Em relação ao momento do cálculo: 1ª situação – Sentença condenatória até o trânsito em julgado: Como a sentença de primeiro grau é condenatória eventual acórdão, ainda que condenatório não servirá como causa interruptiva da prescrição ocasião em que o prazo será calculado da publicação da sentença condenatória recorrível até o trânsito em julgado, (do ponto “5” ao ponto “7) – quadro 03. 7 Quando da sentença somente a defesa interpõe recurso visando a sua reforma a pena resultante do apelo ao órgão superior não pode superar àquela indicada na sentença combatida; por exemplo: imagine que “A” é condenado a 4 anos de reclusão e recorre da sentença pleiteando a diminuição da pena ou até mesmo a absolvição. – Se somente a defesa recorreu, a nova sentença (acórdão) está limitada aos 4 anos de pena imposta na sentença de primeiro grau. Ora, qual seria o interesse de “A” em recorrer caso se submetesse ao risco de elevar a sua pena?. Frise-se que a sentença de primeiro grau transitou em julgado para a acusação em vista da ausência de recurso por sua parte. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 9 2ª situação – Sentença absolutória e acórdão condenatório: Caso o juiz de primeira instância absolva o acusado somente a ocorrência de um acórdão condenatório servirá como causa interruptiva. Nesta hipótese a sentença não pode ser considerada (como antes explicado) razão pela qual o prazo deverá ser calculado da data da publicação do acórdão até o trânsito em julgado – quadro 04, a saber: Quadro 04 Nas duas hipóteses caso o prazo tenha sido ultrapassado deve-se reconhecer a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva intercorrente, subseqüente ou superveniente (P.P.P.I./S./S). Lembremo-nos que o prazo pode variar de acordo com a existência ou não de recurso da acusação que no nosso exemplo pode ser de 8 (oito) ou de 4 (quatro) anos, no máximo; de qualquer modo deveremos aguardar o trânsito em julgado. ATENÇÃO: Se a acusação não recorrer leva-se em conta a pena aplicada na sentença, chamada de pena em concreto (artigo 110 c.c. 109 do Código Penal). Por outro lado se a acusação recorre da sentença continuaremos levando em conta a pena máxima prevista para o crime, chamada de pena em abstrato (artigo 109 do Código Penal). Enquanto se aguarda eventual prescrição intercorrente é possível calcular a prescrição retroativa. De acordo com os §§ 1º e 2º do artigo 110 do Código Penal, a prescrição após o trânsito em julgado para a acusação pode ter prazo inicial data anterior ao recebimento, ou seja, é possível calcular “para trás” a prescrição, partindo da publicação da sentença ou do acórdão combinatórios. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 10 Perceba que tal modalidade de prescrição (retroativa, ou seja, para trás) só pode ser calculada na hipótese de a sentença ou acórdão aplicar uma pena menor do que a máxima prevista para o crime e o órgão acusador não recorrer pois do contrário, se a acusação recorre ou se a pena aplicada corresponde ao máximo previsto desde o início o prazo não será alterado e portanto não haverá prescrição “na volta” pois não ocorreu “na ida” (propriamente dita). Explica-se: agora, na volta, faremos o caminho contrário ao da prescrição propriamente dita devendo inclusive parar em cada uma das causas interruptivas. Ora, se o juiz aplica a pena de 4 (quatro) anos ou se condena a 2 (dois) e o órgão acusador recorre continuaremos contando a prescrição com base em 8 (oito) anos; se na “ida” o esse prazo não foi ultrapassado na “volta” também não haverá a prescrição, até porque, como dito, teremos as mesmas causas interruptivas, nas mesmas datas. Por outro lado, se o juiz aplica uma pena de 2(dois) anos e o órgão acusador não recorre a pena não poderá ser aumentada e conseqüentemente o prazo a ser considerado será outro posto que a pena de 2(dois) anos prescreve em 4 (quatro) anos e não mais em 8(oito). Agora, enquanto aguardamos eventual prescrição intercorrente (o Estado tem 4 anos para condenar em definitivo), vamos contar para trás para verificar se o prazo entre as causas interruptivas que antes era de 8 (oito) anos e agora é de 4 (quatro) anos foi interrompido. Como se vê no quadro adiante, o gráfico se parece com o anterior da prescrição punitiva propriamente dita eis que as causas de interrupção são as mesmas, diferenciando-se apenas no sentido das “flechas” que agora estão para trás, vale dizer, o prazo será contado retroativamente, podendo ser calculado também de duas formas (visto a possibilidade de haver sentença ou acórdão condenatórios: 1. Com sentença condenatória recorrível ocasião em que eventual acórdão, ainda que seja condenatório não servirá como causa interruptiva. Quadro 05 Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 11 2. Com sentença absolutória recorrível ocasião em que eventual acórdão condenatório servirá como causa interruptiva. Quadro 06 Havendo a interposição de recurso de ambas as partes (acusação e defesa) ou quando somente o ministério público ou o querelante dela recorrer (acusação) a pena máxima continua sendo a pena em abstrato prevista para o crime (que no exemplo é de 4 anos). Contudo, repita- se, havendo recurso somente da defesa a pena de 2 anos aplicada na sentença transitou em julgado para a acusação ocasião em que a pena máxima a ser considerada agora é de 2 anos. Assim deve-se aguardar seja ultrapassado o prazo prescricional de 8 anos (pena de 4 anos prescreve em 8 anos – 1ª situação) ou de 4 anos (a pena de 2 anos prescreve em 4 anos - 2ª situação) para se reconhecer a causa extintiva da punibilidade. Contudo e somente no caso da 2ª situação (recurso somente da defesa) e tendo em vista principalmente que o prazo foi alterado (na “propriamente dita” o prazo era de 8 anos e agora com sentença transitada para a acusação o prazo prescricional é de 4 anos), enquanto se aguarda eventual prescrição intercorrente (P.P.P.I/S/S – quadro 03), tem- se a possibilidade de retroagir na contagem prescricional levando-se em conta agora o prazo prescricional de 4 anos. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 12 - Faz-se então o caminho inverso, ou seja, “é a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ao contrário”, chamada de prescrição da pretensão punitiva retroativa (P.P.P.R.) – Quadro 05 e 06. Retroagindo (enquanto se aguarda o prazo da prescrição intercorrente) calcula-se a prescrição do ponto “6” ao ponto “4” (com sentença condenatória) ou do ponto “5” ao ponto “4” (com sentença absolutória e acórdão condenatório) quando se dá a P.P.P.R. caso o prazo prescricionalde 4 anos tenha sido ultrapassado. Não havendo a transposição do prazo há a sua interrupção (ponto “4”) dar-se-á nova contagem com novos 4 anos (novo prazo total) do ponto “4” ao ponto “3”; havendo prescrição diz-se que ocorreu igualmente a P.P.P.R. Do contrário, faz-se necessário nova contagem de 4 anos do ponto “3” ao ponto “2”. Como ocorreu na “ida” (propriamente dita), os pontos “3”e “4” só tem lugar nos crimes dolosos contra a vida ocasião em que nos demais casos deve-se seguir do ponto “5” direto para o ponto “2” quando se dá a P.P.P.R. Por derradeiro, não havendo a ultrapassagem do prazo verifica-se o lapso entre o ponto “2” e o ponto “1”8 quando se reconhece, como nos demais casos anteriores “da sentença recorrível para trás” a prescrição da pretensão punitiva retroativa (P.P.P.R.). Não havendo a precsrição retroativa então deve-se aguardar o transcurso do prazo referente à prescrição intercorrente (entre a sentença recorrível e o trânsito), ou seja, deve-se aguardar a resposta do Estado frente ao recurso interposto. Em qualquer dos casos e em havendo a prescrição reconhece-se extinta a pretensão punitiva do Estado em vista de as causas incidirem antes do trânsito em julgado da sentença - Pois bem, vamos considerar que não ocorreu a prescrição da pretensão punitiva (antes do trânsito) pois o Estado exerceu o seu direito de punir no prazo estabelecido na lei, ou seja, alcançou o trânsito em julgado (puniu) dentro do prazo. Nasce agora o doreito de executar a sentança (pretensão executória). De ver-se que somente após o trânsito em julgado de uma sentença condenatória que podemos calcular a prescrição executória porquanto antes deste marco a presunção de inocência 8 A Lei 12.234/10 alterou a redacão do Art. 110 do CP que permitia o cálculo da prescrição retroativa contada até a data da consumação. Agora, só é possível retroagir até o recebimento da denúncia ou da queixa. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 13 impede a execução provisória da pena. Cuida-se da chamada Prescrição de Pretensão Executória (P.P.E), assim representada: Quadro 07 Gráfico: Marcelo Marcochi Como ocorreu antes do trânsito faz-se imperioso determinar o termo inicial do prazo prescricional após a sentença definitiva: - o artigo 110 do Código Penal leciona que depois do trânsito o prazo prescricional é calculado levando-se em conta a pena aplicada em definitivo na sentença em vista da tabela presente no artigo 109 (quadro 02). Imaginemos que os tribunais superiores mantiveram a pena aplicada em 1° grau, qual seja, 2 anos. A pena de 2 anos (quadro 02) prescreve em 4 anos; temos assim que o prazo da prescrição da pretensão executória (P.P.E.) é de 4 anos. - Conta-se assim do ponto “7” (o artigo 112 do CP indica os termos iniciais depois do trânsito) ao ponto “8”, qual seja, o início do cumprimento da pena que é causa interruptiva (art. 117, V, 1ª parte). Tendo o prazo sido extrapolado diz-se que ocorreu a P.P.E. Não havendo o prazo e tendo em vista a causa interruptiva início do cumprimento da pena” é de se reconhecer que o agente encontra-se agora preso. Nessa ocasião o Estado está executando a pena (exercendo o direito de executar) sendo certo que não é contado o prazo prescricional da pretensão executória (Não há com dizer em “perda” do direito de executar a pena se ela está sendo executada). - Caso a pena seja executada na sua totalidade (2 anos) diz-se da extinção da punibilidade pelo cumprimento da pena. Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 14 Contudo, imagine-se que após o cumprimento de 1 ano e 6 meses de pena o agente empregue fuga. Havendo a fuga nasce novamente para o Estado o direito de executar os 6 meses restantes de pena mas em contrapartida tem que fazê-lo antes de ocorrer a prescrição da pretensão executória que deve ser calculada da data da fuga até a próxima causa interruptiva, qual seja, a continuação do cumprimento da pena (ponto “9” – art. 117, V, 2ª parte). Referido prazo deve ser calculado com base no restante da pena a ser cumprida (art. 113 do CP), ou seja, se restam 6 meses o prazo prescricional é de 2 ano (pena não superior a 1 ano prescreve em 2 anos). Na ocasião de o agente ser recapturado dar-se-á a continuação do cumprimento da pena de 6 meses. Caso o prazo de 2 anos seja ultrapassado diz-se da extinção da pretensão executória. No mais, por derradeiro, se ocorrer a prática de novo crime após o trânsito em julgado da sentença (reincidência), reconhece-se a causa interruptiva (ponto “10”) que tem o condão, como nas demais causas, de “zerar”o prazo prescricional. Nesta hipótese a data da prática do novo crime servirá como causa interruptiva da prescrição executória e a data da consumação servirá como inicio de um novo cálculo, agora relativo ao novo crime, desde o início. A reincidência é a última causa de interrupção segundo o artigo 117, VI do CP e só é aplicada na prescrição executória de acordo com a Súmula 220 do STJ. Por derradeiro, vale ressalvar as demais regras sobre prescrição: ! Pena de multa: Consoante assevera o artigo 114 do Código Penal a pena de multa prescreve em 2 anos quando aplicada isoladamente; de outra feita quando aplicada cumulativa ou alternativamente com uma pena privativa de liberdade prescreve no prazo estabelecido para a pena corporal. ! Pena restritiva de direito: O artigo 109, parágrafo único leciona que a pena restritiva de direito prescreve no prazo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Vê-se que não poderia ser diferente eis que a pena corporal não pode ser aplicada cumulativamente com uma pena restritiva porquanto aquela é substituída por esta (ou uma ou outra) como prevê o artigo 44 do Código Penal. ! Contagem do prazo pela metade: Os prazos prescricionais devem ser contados pela metade quando o agente é menor de 21 anos na data do fato ou maiôs de 70 na data da sentença (artigo 115 do CP). Marcelo(Amaral(Colpaert(Marcochi( Direito'Penal'–'Extinção'da'Punibilidade' 15 ! Prescrição e concurso de crimes: Na ocasião de o juiz aplicar a pena com assento nos artigos 69, 70 ou 71 do Código Penal o prazo prescricional deve ser calculado levando-se em conta a pena para cada um dos crimes (como se fossem de fato crimes isolados), não odendo ser considerada a pena “total” ou seja, resultante da aplicação do concurso (artigo 119 do CP). Igualmente, segundo a regra contida na Súmula 497 do STF, aplica-se igual entendimento aos casos de crime continuado. ! Penas mais graves: As penas mais graves prescrevem com as mais leves (118 CP). ! Estatuto da Criança e do Adolescente: A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas (Súmula 338 STJ). ! Decisão de pronúncia: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime. Quando da incidência de qualquer das causas previstas no artigo 117 do Código Penal o prazo prescricional deverá ser interrompido, não sendo considerado o prazo anterior, ou seja, abre-se nova contagem do prazo. ! Causas suspensivas ou impeditivas: Diverso das causas interruptivas (artigo 117 CP), havendo uma das causas suspensivas previstas no artigo 116 do Código Penal o prazo prescricional não é contado, ou seja, fica suspenso, paralisado. São causas suspensivas: 1) enquanto não for resolvida em outro processo questão prejudicial de que dependao reconhecimento da existência do crime (artigo 116, I CP); 2) enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro (artigo 116, II CP); 3) depois de passada em julgado a sentença condenatória enquanto estiver cumprindo pena (artigo 116, parágrafo único CP). No caso do inciso I vê-se a necessidade de a questão prejudicial guardar relação com a existência do crime e não meras circunstâncias. Há outras causas impeditivas da prescrição: a) durante o período de cumprimento da suspensão condicional do processo (artigo 89, §6° da lei 9.099/95); b) enquanto o processo está suspenso em decorrência da citação do edital do réu (artigo 366 do CPP); c) enquanto se cumpre a carta rogatória (artigo 368 do CPP); d) quando o processo contra parlamentar for suspenso em vista de sua imunidade (artigo 53, §5° da CF).
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