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Curso HEG 2011 - Aula 3

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As Sociedades Pré-Capitalistas 
e as grandes linhas de evolução 
da humanidade. 
Bibliografia: 
O:Diamond (2001), prólogo e caps.2 e 14; 
A: Polanyi (1980), cap. 4 
C: Diamond (2001), caps. 1 e 3; Ofek (2006). 
AULA 3 
1 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
2 
1. Do macaco ao ser humano: principais 
transformações 
• As oito características que surgem na evolução 
diferenciando o ser humano de outros antropóides: 
1. Habitat: pradarias, não mais florestas. 
2. Divisão de trabalho e capacidade de trocar. 
3. Adiamento do consumo de alimentos; transporte e 
redistribuição dos mesmos. 
4. Manufatura de ferramentas. 
5. Uso de fontes externas de energia (começando pelo 
fogo). 
6. Produção e circulação de artefatos simbólicos e não 
utilitários (entre eles, o dinheiro). 
7. Mecanismos de dispersão geográfica e capacidade de 
especialização regional. 
8. Produção (e não apenas procura) de alimentos. 
 
 
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evolução da humanidade 
3 
2. A diferença de níveis de desenvolvimento - I 
• No fim da última Era do Gelo (aprox. 11.000 
A.C.) todos os povos humanos eram caçadores-
recoletores vivendo em bandos. 
• Todavia, em 1500 D.C., no começo da 
expansão européia, a população dos diferentes 
continentes diferia significativamente em 
tecnologia bem como no grau de organização 
política. 
– Inclusive a partir daí essa diferença cresceu: esta é a “pergunta 
do Yali”: porque os brancos (europeus) têm tanto “cargo”?. 
• A pergunta fundamental é entender o que 
explica essa diferença entre os ritmos de 
desenvolvimento (dos continentes). 
 
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4 
2. A diferença de níveis de desenvolvimento - II 
• Alguns motivos (não aceitos) para evitar a 
questão sobre as diferenças. 
– a) Isso não justifica o resultado automaticamente? 
 R: entender não é justificar. 
– b) Isso não implica numa visão eurocêntrica? 
 R: O estudo mostra que muito do que os europeus 
tinham e têm foi desenvolvido em outros lugares e 
depois foi importado ou copiado. 
– c) Isso não implica em dizer que a “civilização” é 
melhor, que houve um contínuo progresso na história 
da humanidade, que os “civilizados” são melhores do 
que os caçadores? 
 R: a civilização tem seus prós e contras, mas o 
importante é entender a história, não tecer juízos de 
valor. E na história os “civilizados” sempre se 
impuseram sobre os caçadores. 
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evolução da humanidade 
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2. A diferença de níveis de desenvolvimento - III 
Três processos se verificam na evolução humana nas mais 
diferentes sociedades (transculturalmente): 
1. Intensificação dos processos de subsistência. 
• Um fator óbvio para diferenciar as sociedades, sem tecer juízos 
de valor sobre qual tipo de organização é melhor ou pior, é ver 
a capacidade dessa sociedade sustentar mais ou menos 
pessoas. 
2. Integração política. 
• As pessoas tipicamente se agrupam em organizações cada vez 
maiores (da família, à aldeia,...., ao império). 
3. Estratificação social. 
• Tipicamente surgem nas sociedades diferentes grupos que 
ocupam funções diferentes, sendo que alguns mandam (têm 
poder sobre) outros. 
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evolução da humanidade 
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2. A diferença de níveis de desenvolvimento - IV 
Sabemos que existem diferentes níveis de complexidade 
nas sociedades, mas fica a dúvida se podemos de 
alguma maneira ordená-las. Algumas respostas a essa 
questão são: 
1. Progresso (vamos da barbárie á civilização) 
• Normalmente associado com capacidades diferentes de 
cada grupo (racismo?). 
2. Relativismo: cada cultura tem seu próprios critérios: 
não podem ser feitas avaliações entre culturas. 
3. Evolução unilinear: há aumento da complexidade (para 
qualquer sociedade) seguindo um padrão uniforme 
(p.ex.: caçadores-coletores → agricultores). 
• White pensa na quantidade de energia controlada como 
critério de evolução 
4. Evolução multilinear: os caminhos pelos quais as 
sociedades se tornam complexas podem ser diferentes. 
 
 
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evolução da humanidade 
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3. Algumas explicações para o diferencial de 
níveis de desenvolvimento - I 
• A) Diferenças genéticas (inteligência). 
 R: não se sustenta (além disso, é difícil encontrar 
um critério único para definir inteligência). 
• B) Vantagens do clima temperado ou frio em 
relação às desvantagens do clima tropical. 
 R: a civilização ocidental começou no Egito e na 
Mesopotâmia; mesmo em Europa, começou no 
Mediterrâneo, não nos lugares hoje mais 
desenvolvidos (Alemanha, Inglaterra, países 
escandinavos). Na América, as civilizações mais 
adiantadas estavam no México, na Guatemala e 
no Peru. 
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evolução da humanidade 
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3. Algumas explicações para o diferencial de 
níveis de desenvolvimento - II 
• C) Agricultura dependente de rios exige obras 
de irrigação que requerem maior grau de 
organização social (estado). 
 R: há consenso entre os especialistas que 
essas obras de irrigação são posteriores à 
organização do estado. 
• D) A vantagem européia estava em suas armas, 
ferramentas de aço, produtos manufaturados e 
doenças infecciosas. 
• R: essa é a resposta correta, mas exige uma 
pergunta anterior, qual seja, por que foram os 
europeus os que desenvolveram armas e 
germes assassinos e não outros povos? 
 
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4. Tese central do livro: a importância do 
meio-ambiente. 
“A história seguiu diferentes cursos 
para diferentes povos devido a 
diferenças entre o meio-ambiente 
desses povos, não por diferenças 
biológicas entre os povos em si.” 
(Diamond, p.21) 
 
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evolução da humanidade 
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5. Evolução humana até a última Era do Gelo - I 
• O ser humano (gênero Homo) surge em África há 
aprox. 7.000.000 de anos. 
• As cinco grandes transições na evolução: 
1.Das florestas às pradarias (há alguns milhões de 
anos; ainda Australopithecus). Postura bípede. 
2.Passagem de comer onde der (feed-as-you-go) 
para a caça e coleta (surge o gênero Homo, há 2 
milhões de anos); primeiras formas de divisão de 
trabalho; uso das primeiras ferramentas. 
3.Dispersão fora da África (primeira migração, aprox. 
um milhão de anos AC) e uso do fogo. 
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evolução da humanidade 
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5. Evolução humana até a última Era do Gelo - II 
4. Transição do paleolítico médio (50.000 a 15.000 
AC). 
• Aparentemente os humanos modernos derivam 
em grande parte de um grupo que se espalha a 
partir da África Oriental para a Eurásia 100.000 
anos atrás. 
• Homo sapiens: aumento da caixa craniana, 
linguagem. 
• Surgimento (avanços?) na expressão artística e 
nas ferramentas (permite a caça de animais 
maiores e a pesca). 
 
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5. Evolução humana até a última Era do Gelo - III 
4. Transição do paleolítico médio (50.000 a 15.000 
AC) – (cont). 
• Esse processo leva à entrada dos humanos nos outros 
continentes: 
• Austrália e Nova Guiné (entre 40.000 e 30.000 anos AC), o que 
implica na primeira utilização comprovada da navegação. 
•Américas (a partir de 12.000 AC, ou antes), ocupação 
completada em 1000 anos. 
• Um impacto imediato é a eliminação de grande parte da 
megafauna destes dois continentes. 
5. Transição para a agricultura e pastoreio 
(Revolução Neolítica) de 10.000 a 5.000 anos 
atrás. 
• Divisão de trabalho não é mais por gênero, surgem outros 
padrões (pastorese agricultores; rural e urbano, etc.). 
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evolução da humanidade 
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6. Impacto do meio-ambiente: um 
experimento natural - I 
• Temos então que no ano 11.000 o ser 
humano ocupa quase todo o planeta, e 
que as sociedades são todas de 
caçadores-recoletores num nível 
tecnológico semelhante. 
• A pergunta, então, é entender o que 
aconteceu para que as diferenças em 
1.500 DC fossem tão grandes. 
• Para ver o impacto do meio-ambiente, 
podemos seguir um experimento natural: 
a ocupação da Polinésia. 
 
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6. Impacto do meio-ambiente: um 
experimento natural - II 
• A Polinésia foi uma das últimas regiões a ser ocupada 
pelos seres humanos. 
• A ocupação se deu pela expansão de moradores das 
ilhas Bismarck a partir de 1200 AC, os que começaram 
a navegar e ocuparam praticamente todos os lugares 
habitáveis da Polinésia. Esse processo estava quase 
completado em 500 DC, e concluído em 1000 DC. 
• Todavia, apesar da origem semelhante, e do tempo 
relativamente curto, as sociedades que surgiram 
atingiram graus de complexidade muito diferente. 
• Pode se aceitar que a variável independente é o meio-
ambiente, muito diferente nos diversos lugares. 
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evolução da humanidade 
Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
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Oceania 
Papua – Nova Guiné 
Destacando as 
Ilhas Bismarck 
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6. Impacto do meio-ambiente: um 
experimento natural - III 
• Nos modos de subsistência, os povos da Polinésia 
variavam de caçadores-recoletores, a agricultores 
de queimadas, até agricultores intensivos. 
• Em termos de organização iam de sociedades 
igualitárias a sociedades altamente estratificadas. 
A organização ia do nível da aldeia até proto-
impérios com várias ilhas. 
• Quanto ao nível tecnológico, variava de povos que 
só faziam utensílios pessoais até construtores de 
monumentos. 
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evolução da humanidade 
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6. Impacto do meio-ambiente: um 
experimento natural - IV 
• Há seis dimensões em torno às quais podemos 
pensar as diferenças de meio-ambiente: 
– 1) Clima: varia de regiões com a maior quantidade de 
chuva no mundo até regiões secas. Também vai de 
equatorial a frio. 
– 2) Tipo geológico: inclui partes de continentes, ilhas 
vulcânicas, atóis, etc. Isso dá diferenças nos solos e no 
relevo. 
– 3) Recursos marítimos: vai da abundância à escassez. 
– 4) Superfície: vai de ilhotas até a Nova Zelândia. 
– 5) Fragmentação do terreno: vai de altamente 
montanhoso e fragmentado até unificado e contínuo. 
– 6) Isolamento: alguns povos tinham contacto 
permanente com outros, outros permaneceram 
completamente isolados a partir da ocupação. 
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evolução da humanidade 
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7. Variações das sociedades polinésias - I 
• A combinação desses fatores da um amplo leque 
de variações em Polinésia, as quais ocorreram em 
pouco mais de 2000 anos. 
– Subsistência: 
• Polinésios tinham três animais domésticos (frangos, porcos e 
cachorros), não em todas as ilhas. 
• Importância de pesca e dos recursos marítimos variava muito. 
• Algumas populações regrediram ao nível de caçadores. 
• Agricultura como base subsistência sociedades mais ricas, 
desde que com condições de solo e clima adequadas. 
– Densidade populacional variava muito, de 2 a 120 
habitantes por km2. 
– Unidade política ia do bando ao império (de algumas 
dúzias a 40.000 pessoas), e de várias unidades num ilha 
a uniões entre ilhas. 
 
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evolução da humanidade 
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7. Variações das sociedades polinésias - II 
– Organização social vai do igualitarismo à existência de 
rígidos sistemas de castas/classes. 
– Tecnologia varia, em grande parte dependendo dos 
recursos minerais disponíveis.Metais só existiam (mas 
não foram utilizados) em Nova Zelândia. 
– Artesãos especializados surgiram nas sociedades mais 
ricas. 
– Arquitetura desenvolvida em algumas ilhas: estátuas da 
Ilha de Páscoa, templos de Havaí, etc. 
• Deve se enfatizar a significativa variedade atingida 
em poucos anos graças ao meio ambiente muito 
diferente . 
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evolução da humanidade 
8. Encontro de civilizações 
• As civilizações americana e européia (ou 
de Eurásia) desenvolveram-se 
completamente isoladas por 13.000 anos. 
• Todavia, quando se encontraram, uma 
conseguiu dominar completamente a outra 
(Pizarro capturando Atahualpa é o 
símbolo disso) . 
• As questões são: 
– Quais foram as causas dessas diferenças? 
– Como foram alcançadas? 
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evolução da humanidade 
9. Principais diferenças entre as civilizações (I) 
• Tecnologia militar: espanhóis contavam com armas e 
armaduras de aço, algumas armas de fogo primitivas e 
cavalos, todos desconhecidos na América. 
• Outras diferenças tecnológicas: entre as mais 
importantes estão a tecnologia de navegação e a escrita 
(permite difundir e armazenar a informação de maneira 
mais rápida e segura). 
• Micróbios e doenças: calcula-se que doenças 
contagiosas de origem europeu mataram 95% da 
população das Américas, muitas vezes atingindo 
pessoas que nunca viram um europeu. (Além disso, os 
incas vinham de uma guerra civil causada pelo trono 
vago devido à morte do imperador e do seu sucessor 
pela chegada das novas doenças). 
21 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
9. Principais diferenças entre as civilizações (II) 
• Também havia diferenças no grau de 
organização política. 
• Essas diferenças explicam o sucesso dos 
europeus nos encontros com as diversas 
culturas nos séculos posteriores. 
• Talvez a maior barreira á expansão dos 
europeus fossem as doenças de lugares 
tropicais para as quais a população local tinha 
criado resistências, mas os europeus não. 
• De qualquer maneira, essa vitória decorre de 
alguns padrões gerais de evolução histórica. 
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evolução da humanidade 
10. Fatores por detrás dos grandes padrões históricos. 
Variedade 
de 
espécies 
Facilidade 
de 
espalhar 
espécies 
Orientação 
leste-oeste 
Abun-
dância 
de 
espécies 
domesti-
cadas 
Alimen-
tos exce-
dentes, 
armaze-
namento 
Sociedades 
grandes, 
densas, 
sedentárias e 
estratificadas 
Tecno-
logia 
Cavalos 
Armas 
de 
aço 
Barcos 
Escrita e 
org. 
política 
Epidemias 
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evolução da humanidade 
11. Evolução das formas de organização (I) 
Membros Bando Tribo Reino 
(Chiefdom) 
Estado 
Número de 
pessoas 
dúzias centenas milhares Mais de 
50.000 
Padrão de 
estabeleci-
mento 
nômade Sedentário: 
uma aldeia 
Sedentário: 
várias 
aldeias 
 
Sedentário: 
várias 
cidades e 
aldeias 
Base de 
relaciona-
mento 
Família Clãs de 
origem 
familiar 
Classe e 
residência 
Classe e 
residência 
 
Etnias e 
linguagens 
1 1 1 1 ou vários 
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evolução da humanidade 
11. Evolução das formas de organização (II) 
Governo Bando Tribo Reino Estado 
Liderança e 
tomada de 
decisões 
Igualitária Igualitária 
ou chefão 
 
Centralizada e 
hereditária 
Centralizada 
Burocracia Não Não 
 
No máximo 2 
níveis 
Vários níveis 
Monopólio de 
força e 
informação 
Não Não 
 
Sim Sim 
Resolução de 
conflitos 
Informal Informal 
 
Centralizada Leis, 
judiciário 
Hierarquia de 
assentamentosNão Não 
 
Não → Aldeia 
principal 
Capital 
25 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
11. Evolução das formas de organização (III) 
Religião Bando Tribo Reino Estado 
Justifica 
cleptocracia? 
Não Não 
 
Sim Sim→Não 
Economia Bando Tribo Reino Estado 
Produção de 
alimentos 
Não Não→sim Sim→ 
intensiva 
intensiva 
 
Divisão de 
trabalho 
Não Não Não→sim 
 
Sim 
Trocas Recípro-
cidade 
Recípro-
cidade 
Redistributiva 
(tributos) 
Redistributiva 
(impostos) 
Controle da 
terra 
Bando Clã Chefe Diversos 
26 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
11. Evolução das formas de organização (IV) 
Sociedade Bando Tribo Reino Estado 
Estratificação não não Sim, por 
família 
Sim, não por 
família 
Escravidão não não Sim Sim 
Bens de luxo 
para a elite 
não não Pequena 
escala→ sim 
sim 
Arquitetura 
pública 
não não não →sim sim 
Escrita não não não Freqüente-
mente 
27 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - I 
• “A descoberta mais importante das recentes pesquisas 
históricas e antropológicas é que a economia do homem, 
como regra, está submersa (embedded) em suas relações 
sociais” (Polanyi, p.61). 
• Nessas sociedades, o interesse econômico individual não é a 
grande motivação das ações, mas a manutenção dos laços 
sociais, além de que a longo prazo “...todas as obrigações 
sociais são recíprocas e seu cumprimento serve melhor aos 
interesses individuais de dar-e-receber” (p.62), 
• Isso não depende do caráter pessoal, mas da estrutura da 
sociedade. “As paixões humanas, boas ou más, são apenas 
dirigidas para finalidades não econômicas” (p.62). 
• Estudando as sociedades da Melanésia, os etnógrafos 
coincidem que não há nenhuma motivação de lucro, nem que 
se trabalhe pensando em uma remuneração. Também 
destacam "...a ausência de qualquer instituição separada e 
distinta baseada em motivações econômicas“ (p.63). 
28 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - II 
• A produção e a distribuição são resolvidas 
através dos princípios da: 
– 1) Reciprocidade: atua especialmente em 
relação à família, etc. As pessoas sustentam 
seus parentes, etc., e se orgulham de serem 
bons trabalhadores e de serem socialmente 
reconhecidos por isso → ajuda a salvaguardar 
a subsistência familiar. 
– 2) Redistribuição: parte da produção é 
entregue ao chefe, que a armazena. Em 
festas, etc, são trocados e “reciprocados” por 
presentes de outras vilas. 
29 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - III 
• Para poder levar adiante esses padrões institucionais 
sem registros escritos complicados, as sociedades 
seguem os padrões de: 
– 1) Simetria: cada unidade relevante tem um "par" num 
outro subsistema com o qual efetuam os atos de 
reciprocidade. 
– 2) Centralidade: é outra maneira de distribuir as 
coisas, dando-as ao chefe para que as reparta. 
• Em conseqüência “Numa tal comunidade é vedada a 
idéia de lucro; as disputas e os regateios são 
desacreditados: o dar graciosamente é considerado 
como virtude; não aparece a suposta propensão à 
barganha, permuta e troca. Na verdade, o sistema 
econômico é mera função da organização social” 
(Polanyi, p.64). 
30 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - IV 
• Um terceiro princípio muito importante é o de 
domesticidade, i.e., a produção para uso próprio. Isto 
torna-se freqüente só num nível avançado da 
agricultura. 
– Essa produção doméstica “...nada tinha em 
comum com a motivação do ganho, nem com a 
instituição do mercados. O seu padrão é o grupo 
fechado” (p.67). 
• Esse princípio segue outro padrão de distribuição, a 
autarquia. 
– A idéia é produzir e armazenar para os membros 
do grupo, que pode ser pequeno ou grande, 
democrático ou desigual, etc. 
31 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - V 
• Nesta situação, podem surgir excedentes que 
são trocados por dinheiro. 
• Aristóteles percebeu que as motivações da 
economia doméstica e a voltada ao mercado 
eram diferentes, e nesta última o lucro e o 
dinheiro faziam uma grande diferença. 
Todavia, este não necessariamente é obtido 
pelo fim de lucro em si, pode ser reinvestido 
no oikos. 
• Aristóteles achava que “...enquanto os 
mercados e o dinheiro forem meros 
acessórios de uma situação doméstica auto-
suficiente, o princípio da produção para uso 
próprio poderia funcionar” (p.68). 
32 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - VI 
• Para Polanyi, concluindo, pode-se afirmar que 
 “...todos os sistemas econômicos conhecidos 
por nós, até o fim do feudalismo na Europa 
Ocidental, foram organizados segundo os 
princípios de reciprocidade, ou redistribuição, 
ou domesticidade, ou alguma combinação dos 
três. Esses princípios eram institucionalizados 
com a ajuda de uma organização social, a qual, 
inter alia, fez uso dos padrões de simetria, 
centralidade e autarquia” (p.69). 
 
33 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade 
12. Observações sobre as diferentes maneiras de 
enfrentar o problema econômico - VII 
 
• A mudança não viria com os gregos e romanos, mas só no 
século XVI, com o desenvolvimento do sistema mercantil. 
– Todavia, esses mercados eram altamente regulados. 
– Por isso, não havia nenhuma evidência nesse momento que 
levasse a prever a sociedade de mercado que se desenvolveria a 
partir do S. XIX. 
• Essa mudança ocorre a partir da presença de um quarto 
princípio, o princípio de permuta ou troca (que inclui a 
barganha). 
• Para que esse princípio possa se efetivar, tem que surgir 
outro padrão de distribuição, o padrão de mercado. 
• O princípio de permuta pode existir em algumas sociedades 
ocupando um papel subordinado. É, porém, o único que cria 
uma instituição específica, o mercado. 
34 Aula 3 - As grandes linhas de 
evolução da humanidade

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