Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aspectos sócio-econômicos da Revolução Industrial. Bibliografia: O: Polanyi (1980), caps. 3 e 6. A: Hobsbawm (1978), cap. 4; Polanyi (1980), caps. 7 e 8. C: De Vries (1994). AULA 8 1 Aspectos socio-econômicos da RI 1. As importância das mudanças sociais na RI “Saber se a RI deu à maioria dos britânicos mais ou menos alimentação, vestuário e habitação, em termos absolutos ou relativos, interessa, naturalmente, a todo historiador. Entretanto, ele terá deixado de apreender o que a Revolução Industrial teve de essencial se esquecer que ela não representou um simples processo de adição e subtração e sim uma mudança social fundamental” (Hobsbawm, 1978, p.75, grifos do original). “No coração da RI do S. XVIII ocorreu um progresso miraculoso nos instrumentos de produção, o qual se fez acompanhar de uma catastrófica desarticulação da vida das pessoas comuns” (Polanyi, 1980, p.51). 2 Aspectos socio-econômicos da RI 2. As mudanças para os trabalhadores • 1) Mão de obra industrial passa a ser formada por “proletários”, i.e., pessoas que não possuem nenhuma fonte de renda complementar ou alternativa. • 2) Trabalho fabril impõe rotina diferente daquela dos ritmos pré-industriais (seja da agricultura, seja do trabalho domiciliar). • 3) Atividade industrial passa a se desenvolver crescentemente na cidade (e, conforme Hobsbawm, “...a cidade destruía a sociedade”, p.81). • 4) As atitudes da era pré-industrial mostravam-se inadequadas; deve ser abandonada a idéia de que o homem tem direito a ser mantido por sua comunidade. – (aliás, este último conceito perde sentido). 3 Aspectos socio-econômicos da RI 3. As mudanças para os não-trabalhadores • Aristocracia favorecida pela valorização dos produtos agrícolas, expansão cidades, valorização terras, etc. • Esse sucesso também se espalha para os setores que dependem dessa aristocracia (funcionários, profissionais, igreja, etc). • Fortunas passam a ser obtidas mais na indústria do que no comércio. • Surge o conceito de uma “classe média”, a partir de grupos de pequenos comerciantes, industriais, profissionais, etc. 4 Aspectos socio-econômicos da RI 4. O surgimento de uma sociedade de mercado - I • “Como pode essa mesma revolução *a RI+ ser definida? Qual foi sua característica básica? Será que foi o aparecimento de cidades fabris, a emergência de favelas, as longas horas de trabalho das crianças, os baixos salários de certas categorias de trabalhadores, o aumento da taxa populacional ou a concentração das indústrias? Imaginamos que todos esses elementos foram incidentais em relação a uma mudança básica, o estabelecimento da economia de mercado, e que a natureza dessa instituição não pode ser inteiramente apreendida até que se compreenda o impacto da máquina numa sociedade comercial. Não pretendemos afirmar que foi a máquina que causou o que aconteceu, mas insistimos que quando máquinas complicadas e estabelecimentos fabris começaram a ser usados para a produção numa sociedade comercial, começou a tomar corpo a idéia de um mercado auto- regulável” (Polanyi, p.57, grifos meus). 5 Aspectos socio-econômicos da RI 4. O surgimento de uma sociedade de mercado - II • Até a RI, os mercados são acessórios da sociedade. • A idéia de economia de mercado (um sistema controlado e dirigido apenas por mercados) implica na existência de mercados auto-reguláveis. • Auto-regulação implica que toda a produção é voltada para o mercado, e que todos os rendimentos derivam de tais vendas. • “Uma economia de mercado só pode existir numa sociedade de mercado (....) Uma economia de mercado deve compreender todos os componentes da indústria, incluindo trabalho, terra e dinheiro (....) Acontece, porém, que o trabalho e a terra nada mais são do que os próprios seres humanos nos quais consistem todas as sociedades, e o ambiente natural no qual elas existem. Incluí-los no mecanismo de mercado significa subordinar a substância da própria sociedade às leis do mercado” (Polanyi, p.84) 6 Aspectos socio-econômicos da RI 4. O surgimento de uma sociedade de mercado - III • Por trás dessa visão de Polanyi, está a idéia de que trabalho, terra e dinheiro não são propriamente mercadorias, porém são mercadorias fictícias (não são coisas produzidas para a venda). • Para esse autor, isso tem conseqüências perniciosas (“Permitir que o mecanismo de mercado seja o único dirigente do destino dos seres humanos e do seu ambiente ... resultaria no desmoronamento da sociedade”, p.85). • A conseqüência disso seria a própria desorganização da sociedade, para o que acabam surgindo formas de reduzir, contrabalançar ou brecar esses movimentos. 7 Aspectos socio-econômicos da RI 4. O surgimento de uma sociedade de mercado - IV • Isso leva Polanyi a propor a idéia de “duplo movimento”. • “A história social do século XIX foi assim o resultado de um duplo movimento: a ampliação da organização do mercado em relação às mercadorias genuínas foi acompanhado pela sua restrição em relação às mercadorias fictícias (....) uma rede de medidas e políticas se integravam em poderosas instituições destinadas a cercear a ação do mercado relativa ao trabalho, à terra e ao dinheiro” (p.88). 8 Aspectos socio-econômicos da RI 5. As defesas da sociedade contra o mercado - I • Surgimento das primeiras tendências rumo à economia de mercado (p.ex., enclosures do S. XVI) brecados pela monarquia, interessada (ou preocupada) em manter os padrões tradicionais. • P.ex., o Decreto de Domicílio de 1662 impede a constituição de um mercado de trabalho ao restringir a mobilidade dos trabalhadores. • Também o Estatuto dos Artífices de 1563 e a Lei dos Pobres de 1601 foram contra esse espírito. 9 Aspectos socio-econômicos da RI 5. As defesas da sociedade contra o mercado - II • Já na época da RI, essas medidas foram representadas perfeitamente pela Speenhamland Act de 1795. • Esta lei, na medida em que garantia uma complementação salarial, também impedia a criação de um mercado de trabalho. • Todavia, ela teve como efeitos problemáticos: a) Desvincular a remuneração do trabalhador do seu esforço; b) Desvincular o salário pago pelo capitalista do sustento do trabalhador. • As conseqüências disso foram consideradas prejudiciais para os próprios trabalhadores, e abandonadas na Reforma da Lei dos Pobres de 1834. 10 Aspectos socio-econômicos da RI
Compartilhar