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Princípios da Classificação dos Organismos Quantas espécies existem e existiram? Como organizá- las? Desafio • Como organizar nosso conhecimento sobre os diferentes grupos de organismos • A biodiversidade corresponde a uma quantidade tão grande de informações, que a síntese desse conhecimento e a decisão sobre a melhor maneira de organizá-lo constituem grandes desafios. Como organizar o conhecimento biológico Táxons: grupos de organismos (espécies ou grupos hierarquicamente mais abrangentes) Taxonomia: teoria e prática de descrever, nomear e classificar a diversidade biológica Sistemática: estudo da biodiversidade enfocando suas relações comparativas e evolutivas, incluindo a inferência filogenética (ou seja, as relações de parentesco evolutivo entre os táxons) História da taxonomia • A história da taxonomia é antiga: identificar e nomear a diversidade biológica são elementos fundamentais da inteligência e linguagem humanas • Atributos da taxonomia: – descrição, – atribuição de nomes para os táxons e – classificação da diversidade biológica Organizando o conhecimento biológico Sem um sistema de classificação biológica padronizado, a comunicação e utilização do conhecimento sobre a biodiversidade seria impossível de ser realizado objetivamente. Felis silvestris catus (Linnaeus, 1758) Canis lupus familiaris (Linnaeus, 1758) http://tolweb.org/tree/ phylogeny.html Tree of Life web project http://species.wikimedia. org/wiki/Página_principal WIKISPECIES Classificação biológica • Tem suas raízes em teorias de classificação dos objetos formalizadas na antiguidade • Considerar apenas dois personagens, que estão entre os mais importantes no desenvolvimento histórico da disciplina: Aristóteles e Linnaeus História da Taxonomia Aristóteles (384-322 AC, filósofo grego): método da divisão lógica Carl Linnaeus (1707- 1778, botânico, zoólogo e médico sueco): sistema de classificação “natural” Aristóteles • Considerado o inventor da lógica • A lógica era uma ferramenta para atingirmos o conhecimento sobre o mundo • Na concepção aristotélica, a lógica determina as normas para que o pensamento seja preciso e nos conduza a conclusões precisas sobre aquilo que desejamos conhecer • A teoria da classificação dos objetos constitui um elemento importante da lógica de Aristóteles. Método aristotélico de classificar os objetos • Método da divisão lógica: – Para classificar um grupo de objetos, primeiramente selecionamos uma ou um conjunto de características – Em seguida, agrupamos aqueles que possuem tal característica daqueles que não a possuem – Em seguida, subdividimos cada um dos subgrupos Exemplos Exemplos • Animais terrestres e animais aquáticos • Neste primeiro passo da divisão, o conjunto de objetos inicial constitui o gênero (genos) e cada um dos dois grupos subordinados constituem a espécie (eidos) • Subdividir “animais aquáticos” em animais “ovíparos” versus “vivíparos”. Nesse caso, o gênero é “animais aquáticos” enquanto que as espécies são “ovíparos” e “vivíparos”. Característica do método de divisão lógica • Todo o sistema de classificação resultante depende, em grande parte, do ponto de partida, ou daquelas características utilizadas nos primeiros passos da classificação • Aristóteles enfatizou que um sistema de classificação para a diversidade biológica baseado na divisão lógica jamais geraria um sistema sem contradições Problemática • Na divisão entre “animais aquáticos” e “animais terrestres” dividimos grupos de organismos claramente relacionados • Cetáceos e outros mamíferos aquáticos estariam separados dos mamíferos terrestres • Mas o que fazer com as outras similaridades entre cetáceos e os outros mamíferos? • Os pingüins poderiam ficar junto com os mamíferos aquáticos e peixes, mas o que fazer com todas as outras semelhanças entre os pingüins e outras aves terrestres? Problemática • Outro problema: as características consideradas importantes para o primeiro passo da divisão podem ser muito variáveis, dependendo do classificador • Diferentes classificadores gerariam sistemas de classificação distintos e contraditórios entre si. O sistema de classificação “natural” • Preocupação com a busca de um sistema “natural”, ou seja, um sistema de classificação que refletisse a ordem verdadeira por trás da organização dos seres vivos • A definição do que constitui um sistema “natural” dependerá daquilo em que acreditamos ser a causa para a organização biológica O sistema de classificação de Lineu Lineu (1707-1778) Linnaeus: sistema de classificação “natural” Visão de mundo dele: o universo havia sido criado por Deus exatamente como é, e as espécies são fixas e imutáveis Sistema “natural”: reflete a ordem verdadeira por trás da organização dos seres vivos tal qual o Plano Divino 5 níveis hierárquicos: Reino, Classe, Ordem, Gênero e Espécie (em ordem decrescente de generalidade) Linnaeus: sistema de classificação “natural” Usava o método da divisão lógica de Aristóteles Listava e classificava com base nas 'características essenciais' dos organismos Ele assumia que esse método poderia atingir a um duplo objetivo: 1. correta identificação dos táxons; 2. correta definição de suas características essenciais Linnaeus: sistema de classificação “natural” 1. Sistema binomial: nome em latim, constituído pelo nome do gênero, com letra maiúscula seguido pelo epíteto especifico, em letras minúsculas. O nome completo de uma espécie são os dois nomes combinados. Ex. Canis lupus. 2. Padronização da prática taxonômica: Anteriormente a Lineu, não havia consenso, ou padronização sobre vários aspectos da pesquisa taxonômica. Com a obra de Lineu, muitas dessas atividades foram padronizadas. Grupos naturais de Lineu • Vários dos agrupamentos feitos por Lineu ainda são considerados grupos “naturais” • Era Lineu um seguidor estrito da divisão lógica? • No fim de sua vida, Lineu admitiu que os agrupamentos são feitos por inspeção e não pelo uso estrito da divisão lógica Exemplos de desvios da utilização do método de divisão lógica • Inclusão em um mesmo gênero, espécies de plantas que diferiam no número de estames • Inclusão de dípteros ápteros entre os Diptera (insetos de duas asas) • Aparentemente, Lineu estava ciente das deficiências do método da divisão lógica • Mas acreditava que tais dificuldades eram provisórias, e que quando todos os gêneros fossem descobertos e corretamente descritos, tais dificuldades não mais existiriam A finalidade da classificação para Lineu • Gerar um sistema geral de referência para fins utilitaristas de identificação Táxon e categoria taxonômica • Os táxons são os agrupamentos de entidades biológicas reais, formados com base em uma definição • a categoria refere-se ao status de um agrupamento em um esquema de classificação Táxon • Exemplo: reunir todas as populações conhecidas da mosca doméstica no táxon Musca domestica • Musca domestica é o nome dado ao conjunto formado por todos os indivíduos, do tempo presente e do tempo passado, considerados como pertencentes à mesma espécie por possuírem certas características usadas para definir esse conjunto Categoria taxonômica Hierarquialineana Classificação Taxonômica: Homem Domínio: Eukarya Reino: Animalia (ou Metazoa) Sub-Reino: Metazoa (ou Eumetazoa) Filo: Chordata Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Placentalia Ordem: Primates Família: Hominidae Gênero: Homo Espécie: Homo sapiens Sistema Geral de Referência para a diversidade biológica • Nosso atual sistema de classificação biológica • Tem suas origens na teoria de classificação dos objetos (Aristóteles) • Foi aprimorada ao longo dos anos por outros autores, como Lineu A classificação filogenética • Um sistema de classificação constitui um sistema geral de referência para a diversidade • Mas não necessariamente esse sistema de referência precisa refletir nosso conhecimento sobre as relações de parentesco evolutivo (relações filogenéticas) entre os diferentes organismos A classificação filogenética • Para Lineu e seus contemporâneos, um sistema de classificação natural refletia a ordem como estabelecida pelo plano do Criador • No entanto, com o desenvolvimento de idéias evolutivas, houve uma mudança radical sobre o que constitui um Grupo Natural • Com o tempo, estabeleceu-se a idéia de que um sistema de classificação natural era aquele que refletia algo sobre a história evolutiva dos organismos. Os princípios da classificação filogenética • A classificação que produz um Sistema Geral de Referência para a biodiversidade • Reflete nosso conhecimento sobre as relações de parentesco entre os táxons • História evolutiva dos organismos vivos Árvore filogenética- Darwin A sistemática como o estudo de padrões evolutivos • Método de reconstrução filogenética • Criado por Willi Hennig na década de 1950 • Utilizados no estudo dos padrões evolutivos Reconstrução filogenética • Se baseia em três princípios fundamentais: • 1. A sistemática busca a delimitação de grupos naturais Grupos naturais • Hennig definiu grupo natural aquele constituído, exclusivamente, por uma espécie ancestral e todos os seus descendentes • Monofilético (mono= um, único; filético= linhagem) • Grupos não monofiléticos: Hennig atribuiu os termos parafilético e polifilético Grupos monofiléticos • A concepção Darwinista de evolução divergente (ou seja, espécies ancestrais se diversificando em espécies descendentes, numa grande árvore da vida) implica na existência de grupos monofiléticos de diferentes níveis de universalidade, ou seja, grupos naturais dentro de grupos naturais mais abrangentes • A sistemática delimita os grupos monofiléticos de diferentes níveis de universalidade Monofiléticos, Parafiléticos ou Polifiléticos? Grupos Monofiléticos Monofiléticos, Parafiléticos ou Polifiléticos? Grupos Polifiléticos Monofiléticos, Parafiléticos ou Polifiléticos? Grupos Parafiléticos Segundo princípio fundamental • A definição dos grupos monofiléticos só é possível com a descoberta das semelhanças homólogas e apomórficas • As semelhanças compartilhadas entre os organismos podem ser de três tipos: homoplasias, simplesiomorfias e sinapomorfias As semelhanças compartilhadas entre os organismos • Semelhanças homoplásicas: não homólogas (ou seja, semelhanças devido a convergências ou paralelismos). • Não têm mesma origem, exemplo: asas- aves e mamíferos Homoplasias Semelhanças compartilhadas entre os organismos que não são homólogas, ou seja, semelhanças devido a convergências ou paralelismos (evoluíram independentemente e não são derivadas de um ancestral comum) Asas são não-homólogas = Homoplásicas Semelhanças Homólogas Semelhanças compartilhadas entre os organismos que são derivadas de um ancestral comum As semelhanças compartilhadas entre os organismos • Semelhanças simplesiomórficas • Herdadas de níveis anteriores ao surgimento de um grupo natural • Semelhanças herdadas de níveis tão ancestrais que não informam sobre o grau de parentesco entre os organismos As semelhanças compartilhadas entre os organismos • Semelhanças sinapomórficas • Características compartilhadas por um grupo devido à herança destas características do ancestral comum exclusivo deste grupo (novidades evolutivas compartilhadas) • Apenas as sinapomorfias indicam o verdadeiro parentesco evolutivo • A definição dos grupos monofiléticos se dá através da descoberta de suas características sinapomórficas, ou seja, suas novidades evolutivas compartilhadas. Princípio geral da sistemática • Um sistema geral de referência para a diversidade biológica (classificação) deve ser construído com base no conhecimento filogenético • Reconhecer e delimitar os grupos naturais ou monofiléticos, podemos construir classificações, utilizando o tradicional sistema de hierarquias lineanas • Agrupamentos de táxons monofiléticos de diferentes níveis hierárquicos • Um sistema de classificação constitui o principal “produto” que a sistemática e a taxonomia podem fornecer aos usuários da informação sobre a diversidade biológica Classificação filogenética • A vantagem da classificação filogenética é que, além de fornecer um sistema geral de referência para a diversidade como qualquer outro sistema de classificação, ainda permite resgatar o conhecimento sobre as relações evolutivas entre os táxons Onde estudar ... Purves et al. Vida. Capítulos 23 (tem na biblioteca) Santos & Calor. 2007. Ensino de biologia evolutiva utilizando a estrutura conceitual da Sistemática Filogenética I. Ciência & Ensino 1: 1-8. Matioli. 2001. Biologia molecular e evolução. Holos Editora, Ribeirão Preto. (tem na biblioteca)
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