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CCJ0033-WL-A-PP-Unidade II - Renan Marques

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Dos crimes contra a dignidade sexual
1. Considerações iniciais sobre a abrangência da expressão dignidade sexual. 
- O Título VI do Código Penal, com o surgimento da Lei 12.015/2009, passou a tutelar não mais os costumes, mas a dignidade sexual, expressão umbilicalmente ligada à liberdade e ao desenvolvimento sexual da pessoa humana. Ou seja, não é mais a moral sexual que clama proteção, e sim o direito individual de qualquer pessoa, sua liberdade de escolha do parceiro e o consentimento na prática do ato sexual. A violação a isso corresponde a um ilícito ligado a sua pessoa e não mais contra os costumes. Prevalece na ofensa sofrida, sua liberdade e não a moral.
- Vale ressaltar que, no enfoque jurídico, conclui-se que, a violência dos crimes sexuais deve ser totalmente desvinculada de todo e qualquer aspecto moral, pois estes atingem a personalidade humana e não os costumes. 
 Dos crimes contra a liberdade sexual.
1. Estupro. 
1.1 Estupro Simples. 
A) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 213, caput, do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.”
- As condutas do crime em estudo são as seguintes:
1º) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça.
- Constranger está sendo utilizado no sentido de forçar, obrigar, subjugar a vítima ao ato sexual. 
- Além disso, deve haver o emprego de violência, entendida esta na utilização de força física contra a vítima no sentido de subjugá-la, emprega-se força física suficientemente capaz de impedir a mulher de reagir. Também é chamada de violência material. 
OBS: As vias de fato e as lesões corporais de natureza leve são absorvidas pelo delito de estupro simples, pois fazem parte da violência empregada pelo agente. 
- Ou deve haver o emprego de grave ameaça, esta também é chamada de violência moral, entendida como uma ameaça séria que causa na vítima um fundado temor de seu cumprimento. Vale ressaltar que a doutrina clássica ensina que a gravidade da ameaça deve ser extraída tendo em vista não a pessoa ameaçada, mas a generalidade, a normalidade dos homens, pois os valentes ou intrépidos e os pusilânimes ou poltrões são extremos, entre os quais se coloca o homem comum ou normal.   
OBS: É imprescindível para a configuração do crime a resistência séria, efetiva e sincera da mulher ou do homem, ou seja, a simples relutância não basta para configurar o crime de estupro. 
- Por fim, o crime prevê que as condutas devem ser dirigidas contra alguém, não mais se exige que o crime de estupro seja dirigido somente contra uma mulher, podendo uma mulher constranger um homem a praticar conjunção carnal com ela.
2º) Ter conjunção carnal. 
- Conjunção carnal é a cópula do pênis com a vagina, podendo ser completa ou incompleta, sendo praticada, necessariamente, por indivíduos do sexo oposto, ou seja, foi adotado o sistema restritivo quanto à expressão conjunção carnal. 
3º) Praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. 
- Outro ato libidinoso são todos os atos de natureza sexual, que não a conjunção carnal, que tenham por finalidade satisfazer a libido do agente. Ex. Sexo oral; coito anal; masturbação; o coito inter femora; os toques ou apalpadelas com significação sexual no corpo ou diretamente na região pública (genitália, seios ou membros inferiores, etc.) da vítima; o contato voluptuoso, uso de objetos ou instrumentos corporais (dedo, mão), mecânicos ou artificiais, por via vaginal, anal ou bucal, entre outros. 
- Praticar ato libidinoso ocorre quando a vítima tem uma conduta ativa e ela mesma é que é obrigada a praticar atos libidinosos diversos da conjunção carnal, podendo atuar sobre o seu próprio corpo, com atos de masturbação, por exemplo; no corpo do agente que a constrange, ao praticar, por exemplo, o sexo oral; ou, ainda, em terceira pessoa, sendo assistida pelo agente. 
- Permitir a prática de ato libidinoso ocorre quando a vítima tem uma conduta passiva e permite que com ela seja praticado o ato libidinoso diverso da conjunção carnal, seja pelo próprio agente que a constrange, seja por um terceiro, a mando daquele. 
- Desta forma, o papel da vítima pode ser ativo, passivo, ou, ainda, simultaneamente, ativo e passivo. 
OBS: Segundo entendimento de parte da doutrina (Rogério Greco e Cezar Roberto Bitencourt), a prática de atos libidinosos diversos da conjunção carnal devem possuir alguma relevância, pois, caso contrário, estaríamos punindo o agente de forma desproporcional com o seu comportamento, uma vez que a pena mínima cominada ao delito de estupro é de 6 anos de reclusão. Neste sentido, afirma Cezar Roberto Bitencourt que passar as mãos nas coxas, nas nádegas ou nos seios da vítima, ou mesmo um abraço forçado, configuram a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor do Art. 61 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/1941), quando praticados em lugar público ou acessível ao público. 
B) Bem Jurídico e Objeto Material. 
- Em virtude da nova redação constante do Título VI do Código Penal, pode-se afirmar que os bens jurídicos protegidos são tanto a liberdade quanto a dignidade sexual. A lei, portanto, tutela o direito de liberdade que qualquer pessoa tem de dispor sobre o próprio corpo, no que diz respeito aos atos sexuais, ou seja, a liberdade sexual significa que: “o titular da mesma determina seu comportamento sexual conforme motivos que lhe são próprios, no sentido de que é ele quem decide sobre a sua sexualidade, sobre como, quando e com quem mantém relações sexuais”. O estupro, atingindo a liberdade sexual, agride, simultaneamente, a dignidade do ser humano, que se vê humilhado com o ato sexual, vindo a afetar também a dignidade sexual. 
- O objeto material do crime de estupro pode ser tanto a mulher quanto o homem, ou seja, a pessoa contra a qual é dirigida a conduta praticada pelo agente. 
C) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Ou seja, o tipo subjetivo é o dolo, consistente na vontade consciente de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Vale ressaltar que a maioria da doutrina entende que nenhuma finalidade específica é necessária para que se configure a prática do crime de estupro, ou seja, não há a necessidade de que o agente atue coma finalidade especial de saciar a lascívia, de satisfazer sua libido, não importando a sua motivação para a configuração do crime em análise. 
D) Consumação e Tentativa. 
- A consumação no crime de estupro, quando o agente atua visando à conjunção carnal, ocorre com a efetiva penetração do pênis do homem na vagina da mulher, não importando se total ou parcial, não havendo, inclusive, a necessidade de ejaculação, 
- No caso de prática de qualquer ato diverso da conjunção carnal quando a vítima pratica ou permite que seja praticada com ela qualquer ato diverso da conjunção carnal. Assim, no momento em que o agente, por exemplo, valendo-se do emprego de ameaça, faz com que a vítima toque em si mesma, com o fim de masturbar-se, ou no próprio agente ou em terceira pessoa, nesse instante estará consumado o delito. Na segunda hipótese, a consumação ocorrerá quando o agente ou terceira pessoa vier a atuar sobre o corpo da vítima, tocando-a em suas partes consideradas pudendas (seios, nádegas, pernas, vagina – desde que não haja penetração, que se configuraria na primeira parte do tipo penal -, pênis, etc.)
- A tentativa é possível, pois se trata de crime plurissubsistente. Desta forma, se iniciada a execução, o ato sexual visado não se consuma por circunstâncias alheias a sua vontade, haverá a tentativa do crime de estupro, a exemplo de o agente ser interrompido, quando, logo depois de retirar as roupas da vítima, preparava-se para a penetração. Ou, por exemplo, a partir domomento em que o agente vier a praticar o constrangimento sem que consiga, nas situações de atividade e passividade passiva da vítima, determinar a prática do ato libidinoso. 
OBS 1: O autor Rogério Greco esclarece que: “Se os atos que antecederam ao início da penetração vagínica não consumada forem considerados normais à prática do ato final, a exemplo do agente que passa as mãos nos seios da vítima ao rasgar-lhe o vestido ou, mesmo, quando esfrega-lhe o pênis na coxa buscando a penetração, tais atos deverão ser considerados antecedentes naturais ao delito de estupro, cuja finalidade era a conjunção carnal.” 
OBS 2: Esclarece Rogério Sanches Cunha que: “A prática de conjunção carnal seguida de atos libidinosos (sexo anal, por exemplo) gerava o concurso material de crimes de estupro e atentado violento ao pudor. Entendia-se que o agente, nesse caso, pratica duas condutas (impedindo reconhecer-se o concurso formal) gerando dois resultados de espécies diferentes (incompatível com a continuidade delitiva). Com o advento da Lei 12.015/2009 o crime de estupro passou a ser de conduta múltipla ou de conteúdo variado. Praticando o agente mais de um núcleo, dentro do mesmo contesto fático, não desnatura a unidade do crime (dinâmica que, no entanto, não pode passar imune na oportunidade da análise do Art. 59 do CP). A mudança é benéfica para o acusado, devendo retroagir para alcançar os fatos pretéritos (Art. 2º, parágrafo único, do CP).” Ou seja, se uma pessoa pratica conjunção carnal em uma vítima e, logo depois, pratica qualquer outro ato diverso da conjunção carnal, em um mesmo contexto fático, o agente responderá por um só crime de estupro. 
OBS 3: Ausente a unidade de contexto, pode ser aplicado o concurso de crimes, seja o concurso material ou continuidade delitiva, a depender do caso concreto. Vale ressaltar, inclusive, que inexiste qualquer óbice em se considerar a continuidade delitiva no crime de estupro, mesmo que praticada em face de vítimas diversas.
E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo.
- Quanto ao sujeito ativo no caso de prática de conjunção carnal pode ser tanto o homem quanto a mulher, mas o sujeito passivo necessariamente deve ser do sexo oposto. 
- Por sua vez, o sujeito ativo e passivo quando da prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal é comum, pondo ser homem ou mulher. 
- Ou seja, antes da Lei 12.015/2009, ensinava a doutrina que o crime de estupro era bipróprio, exigindo a condição especial de dois sujeitos, ativo(homem) e passivo(mulher). Agora, com a reforma, conclui-se que o delito é bicomum, onde qualquer pessoa pode praticar ou sofrer as consequências da infração penal.
1.2 Figuras Típicas.
A) Estupro Simples – Art. 213, caput, CP. 
B) Estupro Qualificado. 
- Ele está no Art. 213, § 1º e § 2º do Código Penal e ocorre nas seguintes situações: 
1ª) Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 
- Trata-se de crime preterdoloso. 
- Entende-se por lesão corporal de natureza grave aquelas constantes do Art. 129, § 1º e § 2º do Código Penal.
- Além disso, será qualificado o crime, se for praticado contra vítima maior de 14 anos, entendendo a doutrina que o Código abrange todos aqueles que tem idade igual ou superior a quatorze anos, ou se praticado contra vítima menor de 18 anos, ou seja, até os 17 anos de idade. 
2ª) Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
- Trata-se de crime preterdoloso. 
1.3 Questões relevantes. 
1.3.1 A revogação do art. 214, do CP e a não-ocorrência de abolitio criminis (a junção do antigo crime de atentado ao pudor ao atual crime de estupro).
- Pode haver a revogação formal de uma lei sem que ocorra a abolitio criminis em razão de ainda existir a continuidade normativo-típico. Ou seja, pode até ocorrer a revogação formal do crime, entretanto se a conduta revogada ainda continuar sendo considera criminosa por outra disposição legal, o sujeito permanecerá respondendo pelo crime. Nessa situação, NÃO haverá abolitio criminis, mas a permanência da conduta anteriormente incriminada, só que constante de outro tipo penal. 
- Foi exatamente isto que ocorreu com o antigo crime de atentado violento ao pudor. Este crime era previsto no Art. 214 do Código Penal, mas foi formalmente revogado pela Lei 12. 015/2009. Entretanto, esta mesma lei passou a prever que o crime de atentado violento ao puder agora integra o crime de estupro, estando inserido, atualmente, no Art. 213 do Código Penal. 
- Desta forma, NÃO houve a descriminalização do comportamento até então tipificado especificamente como atentado violento ao pudor. Na verdade, somente houve uma modificação do nomen juris da aludida infracao penal, passando a chamar-se de estupro a conduta de praticar ou permitir que se pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. 
- Aplica-se, na hipótese, o chamado princípio da continuidade normativo-típica, havendo, tão somente, uma migração dos elementos anteriormente constantes da revogada figura prevista no Art. 214 do Código Penal para o Art. 213 do mesmo diploma repressivo. 
1.3.2 A classificação do estupro como tipo  misto alternativo e a (im)possibilidade de concurso de crimes em casos de prática de mais de uma conduta no mesmo contexto fático.
- Como já foi explicado, atualmente o crime de estupro do Art. 213 do CP é classificado como tipo misto alternativo ou de ação múltipla, e após a modificação da Lei 12.015/2009, que revogou o crime de atentado violento ao pudor, aquele que pratica a conjunção carnal e logo em seguida, no mesmo contexto fático, pratica outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal contra a mesma vítima, responderá por um crime único de estupro, tendo em vista que os comportamentos se encontram previstos na mesma figura típica, aplicando-se somente a pena cominada no Art. 213 do CP, por uma única vez, afastando, dessa forma, o concurso de crimes, nesta hipótese. Este entendimento é defendido por Rogério Greco, e, também, já foi utilizado em julgamentos do STJ. 
- Neste sentido, posiciona-se, também, Guilherme de Souza Nucci: “Se o agente constranger a vítima a com ele manter conjunção carnal e cópula anal comete um único delito de estupro, pois a figura típica passa a ser mista alternativa. Somente se cuidará de crime continuado se o agente cometer, novamente, em outro cenário, ainda que contra a mesma vítima, outro estupro. Naturalmente, deve o juiz ponderar, na fixação da pena, o número de atos sexuais violentos cometidos pelo agente contra a vítima. No caso supramencionado merece pena superior ao mínimo aquele que obriga pessoa ofendida a manter conjunção carnal e cópula anal.”
- Entretanto, se ausente a unidade de contexto, pode ser aplicado o concurso de crimes, seja o concurso material ou continuidade delitiva, a depender do caso concreto. Vale ressaltar, inclusive, que inexiste qualquer óbice em se considerar a continuidade delitiva no crime de estupro, mesmo que praticada em face de vítimas diversas.
1.3.3 O conflito de leis no tempo - retroatividade da Lei 12.015/09 aos casos anteriores de concurso entre atentado violento ao pudor e estupro contra a mesma vítima em um mesmo contexto.
- Antes da edição da Lei 12.015/09, que revogou o crime de atentado violento ao pudor, tipificado no antigo Art. 214 do CP, quando o agente, que tinha por finalidade levar a efeito a conjunção carnal com vítima, viesse, também, a praticar outros atos libidinosos, a exemplo do sexo anal, deveria responder por ambas as infrações penais, aplicando-se a regra do concurso de crimes.
- Entretanto, como já foi explicado no tópico acima, o crime de estupro é classificado como tipo misto alternativo ou de ação múltipla, razão pela qual, atualmente, quem pratica as condutas acima responderá por um crime único de estupro. 
- Como se pode observar, a Lei 12.015/09 foi mais benéficaao réu devendo retroagir para alcançar os fatos pretéritos, nos exatos termos do Art. 2º, parágrafo único, do CP, que prevê o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. 
1.3.4 A hediondez do delito de estupro em qualquer de suas formas (art. 1°, inciso V, da Lei 8.072/90).
- O estupro, seja na sua modalidade fundamental ou em suas formas qualificadas, consumado ou tentado, foi inserido no rol das infrações penais consideradas hediondas, nos exatos termos do Art. 1°, inciso V, da Lei 8.072/90, sendo aplicado ao crime de estupro do Art. 213, caput, § 1º e § 2º do Código Penal, o tratamento mais gravoso previsto na lei de crimes hediondos. 
1.3.5 A qualificadora relativa à idade da vítima - maior proteção ao indivíduo menor de 18 anos.
- Ainda pode-se afirmar, nos tempos atuais, que os adolescentes de 14 (quatorze) e 18(dezoito) anos de idade merecem especial proteção. A prática de um ato sexual violento, nessa idade, certamente trará distúrbios psicológicos incalculáveis, levando jovens, muitas vezes, ao cometimento, também, de atos violentos, e até mesmo similares aos que sofreram. 
- Desta forma, o juízo de censura, de reprovação, deverá ser maior sobre o agente que, conhecendo a idade da vítima, sabendo que se encontra na faixa etária prevista no § 1º do Art. 213 do Código Penal, ainda assim insista na prática de estupro, razão pela qual responderá pelo estupro na forma qualificada. 
1.3.6 As qualificadoras relativas ao resultado mais grave (lesão grave e morte) - ausência de dolo na configuração do resultado.
- Conforma já explicado, os resultados mais graves (lesão corporal grave ou morte), que qualificam o crime de estupro, segundo parte da doutrina, somente podem ser atribuídos ao agente a título de culpa, existindo ausência de dolo para a sua configuração. 
- Entretanto, caso o sujeito pratique dolosamente lesões corporais graves ou morte contra a vítima de estupro, poderá haver o concurso de crimes de estupro e lesões corporais grave (Art. 129, § 1º e § 2º, do CP) ou estupro e homicídio (Art. 121 do CP). 
1.3.7 Distinção do crime de estupro (Art. 213, CP) e o crime de violação sexual mediante fraude (Art. 214, CP). 
- Caso o agente tenha conjunção carnal ou venha a praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima, NÃO responderá pelo crime de estupro, mas sim pelo crime de violação sexual mediante fraude, nos termo do Art. 214 do Código Penal. 
- A grande diferença entre o crime de estupro e o de violação sexual mediante fraude, também chamado pela doutrina de estelionato sexual, é o de que neste crime NÃO há o emprego de violência ou grave ameaça para ter ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal, mas sim o emprego de:
1º) Fraude – é a utilização de meios que fazem com que a vítima seja induzida ou mantida em erro e tenha uma falsa percepção da realidade, vindo a ter uma manifestação de vontade viciada. Nelson Hungria explica que a fraude é a maliciosa provocação ou aproveitamento do erro ou engano de outrem, para a consecução de fim ilícito. Sempre esta fraude é utilizada com a intenção de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. 
Ex. Líderes espirituais enganam suas vítimas, abatidas emocionalmente e, mediante sugestão da conjunção carnal ou da prática de qualquer outro ato libidinoso, alegam que resolverão seus problemas. 
Ex. A troca de irmãos gêmeos idênticos, ou, ainda, o médico ginecologista, que, sem necessidade, realiza exame de toque na vítima, somente para satisfazer o seu instinto criminoso. 
OBS: Rogério Sanches Cunha adverte que: “A fraude utilizada na execução do crime NÃO pode anular a capacidade de resistência da vítima, caso em que estará configurado o delito de estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP). Assim, não pratica o estelionato sexual (Art. 215 do CP), mas estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), o agente que usa psicotrópicos para vencer a resistência da vítima e com ela manter conjunção carnal. 
2º) Outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima – é a chamada interpretação analógica, ou seja, trata-se da utilização de qualquer outro meio, de conotação fraudulenta, utilizado com o intuito de que o agente consiga praticar as condutas previstas no tipo penal. O verbo impedir é utilizado com a ideia de que foi impossibilitada a livre manifestação de vontade da vítima, que se encontrava completamente viciada em virtude da fraude ou outro meio utilizado pelo agente, a fim de praticar a conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Por sua vez, o verbo dificultar dá a ideia de que a vontade da vítima, embora viciada, não estava completamente anulada pela fraude ou outro meio utilizado pelo agente, neste caso, embora ludibriada, a vítima poderia, nas circunstancias em que encontrava, ter descoberto o plano criminoso, mas, ainda assim, foi envolvida pelo agente. 
Ex. Agente que se faz passar por um famoso artista, para conseguir ter conjunção carnal com uma fã deste. 
2. Assédio Sexual. 
2.1 Assédio Sexual Simples.
A) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 216-A, caput, do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.”
- De acordo com o Art. 216-A do Código Penal, pode-se identificar a seguinte conduta:
1ª) Constranger alguém.
- O núcleo constranger, neste crime, é utilizado com um sentido diverso do empregado no crime de estupro, pois não há a utilização de violência ou grave ameaça. No crime de assédio sexual, o constrangimento deve ser utilizado no sentido de empregar ameaça expressa ou implícita de prejuízo na relação de trabalho da vítima, caso o sujeito ativo do crime não venha a obter vantagem ou favorecimento sexual almejado, vindo a perseguir com propostas, insistir, importunar a vítima, para que com ela obtenha o referido sucesso sexual pretendido. 
- Logicamente, referida ameaça deve sempre estar ligada ao exercício de emprego, cargo ou função, seja rebaixando a vítima de posto, colocando-a em local pior de trabalho, enfim, deverá estar vinculada a essa relação hierárquica ou de ascendência, como determina o Código Penal. 
- O constrangimento poderá ser dirigido contra qualquer pessoa, uma vez que a lei penal se vale do termo alguém para identificar o sujeito passivo. Da mesma forma, qualquer pessoa, independentemente do sexo, poderá ser sujeito ativo. Assim, poderá existir o assédio sexual tanto nas relações heterossexuais, quanto nas homossexuais.
2º) Com a finalidade de obter vantagem ou favorecimento sexual.
- A finalidade do constrangimento é a obtenção de vantagem ou favorecimento sexual, ou seja, pretendeu o legislador referir-se ao ato de o agente aproveitar-se de sua condição de superioridade funcional para conseguir um benefício de ordem sexual. 
3º) Devendo o agente prevalecer-se de sua condição de superior hierárquico ou de ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
- Para conseguir obter vantagem ou favorecimento sexual, deve o agente valer-se de sua condição de superior hierárquico ou de ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
- A expressão superior hierárquico indica a existência de uma relação de direito público, vale dizer, de Direito Administrativo, não se incluindo nas relações privadas. Para que a máquina administrativa possa funcionar com eficiência, é preciso que exista uma escala hierárquica entre aqueles que detém o poder de mando e seus subordinados. 
Ex. Pode existir o crime de assédio sexual entre um coronel e alguém de uma patente menor, de um juiz com seus inferiores, do chefe da seção, com seus subordinados, sendo todos eles, por exigência legal, servidorespúblicos. 
- Menciona a lei penal, também, o termo ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pois bem, conforme ensina o autor Guilherme de Souza Nucci, “emprego é a relação trabalhista estabelecida entre aquele que emprega, pagando remuneração pelo serviço prestado, e o empregado aquele que presta serviços de natureza não eventual, mediante salário e sob ordem do primeiro. Refere-se, no caso, às relações empregatícias na esfera civil. Cargo, para fins deste artigo, é o público, que significa o posto criado por lei na estrutura hierárquica da administração pública, com denominação e padrão de vencimentos próprios (...). Função, para os fins deste crime, é a pública, significando o conjunto de atribuições inerentes ao serviço público, não correspondentes a um cargo ou emprego (...).” 
B) Bem Jurídico e Objeto Material. 
- O bem jurídico protegido pelo tipo que prevê o delito de assédio sexual é a liberdade sexual e, em sentido amplo, a dignidade sexual. 
- Por sua vez, o objeto material do crime em estudo é a pessoa contra a qual é dirigida a conduta praticada pelo agente, podendo ser do sexo masculino ou feminino. 
C) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
D) Consumação e tentativa. 
- O delito de assédio sexual, por se tratar de crime formal, se consuma no momento em que ocorrem os atos que importem em constrangimento para a vítima, NÃO havendo necessidade que este venha, efetivamente, a praticar os atos que impliquem vantagem ou favorecimento sexual exigidos pelo agente. Caso estes atos vierem a ocorrer, serão considerados mero exaurimento do crime. 
- Como se trata de crime formal, a maioria da doutrina entende que não é possível haver a tentativa. 
E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. 
- O crime de assédio sexual exige que o sujeito ativo se encontre na condição de superior hierárquico da vítima ou com ela mantenha ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função, podendo, no entanto ser pessoal de qualquer dos sexos.
- O sujeito passivo será aquele que estiver ocupando o outro polo dessa relação hierárquica ou aquele sobre o qual tenha ascendência o sujeito ativo, não importando o sexo. 
2.2 Figuras Típicas. 
A) Assédio Sexual Simples – Art. 216-A, caput, CP. 
B) Assédio Sexual Majorado (com causa de aumento de pena).
- Ele está no Art. 216-A, § 2º, do Código Penal, que prevê o seguinte: “A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.”  
- A inclusão desta causa de aumento de pena pela Lei 12.015/2009 se deu por dois motivos: 
1º) O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) permite o trabalho de adolescentes, consoante Art. 60 e seguintes deste estatuto, o que poderia colocá-lo na situação de subordinação hierárquica ou ascendência profissional.
2º) Mesmo diante de relação irregular de trabalho infantil, é preciso assegurar proteção às crianças envolvidas e punir com mais razão os autores dessa relação irregular cumulada com assédio sexual, o que no Brasil se verifica em muitas situações, como a do trabalho doméstico. 
- A idade da vítima é um dado de natureza objetiva, que deverá ser comprovado nos autos por meio do necessário documento de identificação, ex. certidão de nascimento, documento de identidade, etc..
- Além disso, para incidir a causa de aumento de pena ora em estudo, deverá ficar demonstrado nos autos que o agente conhecia a idade da vítima, pois, caso contrário, poderá ser alegada a tese de erro de tipo. 
- Por fim, como o Código Penal especifica apenas o aumento máximo de pena em até um terço, não especificando o aumento mínimo, a doutrina entende, por uma interpretação sistemática, que o aumento mínimo deverá ser de um sexto (1/6), pois haveria uma conciliação com os demais artigos constantes do Código Penal. 
2.3 Questões relevantes. 
2.3.1 Assédio sexual nas relações empregatícias domésticas.
- No que diz respeito às empregadas domésticas, por existir entre elas e seu patrão relação de emprego, poderá se configurar o crime de assédio sexual em estudo, pois haverá ascendência inerente ao exercício do emprego, existindo relação trabalhista. 
2.3.2 Concurso de pessoas no assédio sexual – Art. 30 do Código Penal. 
- É possível haver o concurso de pessoas no crime de assédio sexual, pois a condição de superior hierárquico ou de ascendência inerente ao exercício do emprego, cargo ou função, apesar de ser uma condição pessoal, como é elementar ao tipo penal do crime de assédio sexual, poderá se comunicar ao coautor ou partícipe que tenha a ciência destas condições e queira a obtenção de vantagem ou favorecimento sexual, nos exatos termos do Art. 30 do Código Penal. 
2.3.3 Relação entre professor (a) e aluno(a).
- Não haverá o crime de assédio sexual em estudo, caso o professor assedie o aluno fazendo-lhe propostas sexuais, sob o argumento de que poderá, por exemplo, prejudica-lo nas notas, pois não existe relação de hierarquia ou ascendência hierárquica entre professor e aluno, bem como não existe relação empregatícia. 
Dos crimes sexuais contra vulnerável
1. Estupro de Vulnerável. 
1.1 Estupro de vulnerável Simples. 
A) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 217-A do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.”
- Inicialmente cumpre esclarecer que não existe mais discussão sobre a chamada presunção de violência prevista no Art. 224 do Código Penal, ou seja, se esta presunção de violência seria absoluta ou relativa. Atualmente, as antigas situações de presunção de violência passaram a ser um tipo penal autônomo, não tendo relevância jurídico-penal o consentimento da vítima ou a sua experiência em relação ao sexo oposto para a configuração do crime de estupro de vulnerável do Art. 217-A do Código Penal, como bem esclarece o STJ no HC 104.724, 5ª Turma, DJE, 2/08/2010.
- Ou seja, por razões de política criminal, a lei penal determinou, de forma objetiva e absoluta, que uma criança ou mesmo um adolescente menor de 14 anos, por mais que tenha uma vida desregrada sexualmente, não eram suficientemente desenvolvidos para decidir sobre seus atos sexuais.  Suas personalidades ainda estão em formação, seus conceitos e opiniões simplesmente ainda não estão consolidados.
- Os elementos do tipo penal ora em estudo são os seguintes:
a) Ter conjunção carnal ou praticar qualquer outro ato libidinoso. 
- O núcleo do tipo penal ter, ao contrário do verbo constranger, não exige que a conduta seja praticada mediante violência ou grave ameaça. Basta que o agente tenha, efetivamente, conjunção carnal, que poderá até mesmo ser consentida pela vítima, ou que com ela se pratique outro ato libidinoso. 
- Entretanto, nada impede que haja o emprego de violência ou grave ameaça para ter a conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso diverso desta, hipótese em que poderá haver o concurso material ou formal de crimes, a depender da situação, a exemplo do crime de lesão corporal (leve, grave ou gravíssima) ou a ameaça. Vindo então o agente a responder pelo estupro de vulnerável e, também, pelos outros crimes. 
b) Com pessoa menor de 14(quatorze) anos. 
- O critério objetivo para a análise deste tipo penal é a idade da vítima. Se o agente tinha conhecimento de que a vítima era menor de 14 anos, mesmo que já prostituída, o tipo penal poderá se amoldar ao tipo penal em estudo, que prevê o delito de estupro de vulnerável. Por outro lado, caso não tenha o conhecimento da idade da vítima, poderá ser alegada a tese de erro de tipo, podendo levar a atipicidade da conduta. 
Ex. Conhecer mulher com compleição física que aparenta ser maior de 14 anos. 
- Vale ressaltar que o estupro de vulnerável simples também está previsto no Art. 217-A, § 1º, do Código Penal, que possui a seguinte redação: “Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritasno caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.” 
- Desta forma, também se considera vulnerável:
a)Aquele que possua alguma enfermidade ou doença mental e não tenha o necessário discernimento para a prática do ato sexual. 
- Hoje o Art. 217-A, § 1º, do CP, menciona a enfermidade ou deficiência mental, padronizando os conceitos adotados pelo Código Civil relativos aos absolutamente incapazes, que não aqueles que não tem o necessário discernimento para a prática dos atos civis.
- Enfermidade é sinônimo de doença, moléstia, infecção ou outra causa que comprometa o normal funcionamento do órgão, levando a qualquer estado mórbido, podendo causar alterações da saúde física ou mental. 
- A enfermidade mental deve ser compreender toda doença ou moléstia que comprometa o funcionamento adequado do aparelho mental. Nessa conceituação, devem ser considerados os casos de neuroses, psicopatias e demências mentais. 
- Deficiência, porém, significa a insuficiência, imperfeição, carência, fraqueza, debilidade. E a deficiência metal entende-se o atraso no desenvolvimento psíquico. 
- Vale ressaltar que, além do critério biológico (enfermidade ou deficiência mental), para que a vítima seja considerada pessoa vulnerável, não poderá ter o necessário discernimento para a prática do ato (critério psicológico), tal como ocorre em relação aos inimputáveis, previstos no Art. 26, caput, do Código Penal. 
- Ou seja, não se pode proibir alguém acometido de enfermidade ou deficiência mental de ter uma vida sexual normal, tão pouco punir aquele que com ele teve algum tipo de ato sexual consentido. 
b) Aquele que por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
- Trata-se de qualquer outra situação em que a vítima não pode oferecer resistência à prática do ato sexual, como causas mórbidas (enfermidades, grande debilidade orgânica, paralisia), especiais condições físicas (como quando o sujeito passivo é um indefeso aleijado, ou se encontra acidentalmente tolhido de movimentos), os casos de embriaguez letárgica, o sono profundo, a hipnose, a idade avançada, a impossibilidade, temporária ou definitiva, de a vítima resistir, a exemplo dos tetraplégicos, ou de deficiência do potencial motor (uso de aparelhos ortopédicos, ex. gesso nos membros superiores).
- Vale ressaltar que NÃO importa que o próprio agente tenha colocado a vítima em situação que a impossibilite de resistir ou que já a tenha encontrado neste estado. Em ambas as hipóteses deverá ser responsabilizado pelo estupro de vulnerável. 
OBS: Se a embriaguez for parcial e se a vítima poderia, de alguma forma, resistir, restará afastado o delito em estudo. 
B) Bem Jurídico e Objeto Material. 
- O bem jurídico protegido é tanto a liberdade quanto a dignidade sexual. Pode-se mencionar, ainda, que o desenvolvimento sexual também constitui bem juridicamente protegido, já que o crime em estudo poderá trazer sérias consequências para a formação sexual. A liberdade sexual refere-se ao direito de o sujeito dispor de seu próprio corpo no que diz respeito à prática de atos sexuais. 
- O objeto material do delito é a criança, ou seja, aquele que ainda não completou 12 (doze) anos, nos termos preconizados pelo Art. 2º, do ECA, bem como o adolescente menor de 14 (catorze) anos, bem como a vítima acometida de enfermidade ou deficiência mental, que não tenha o discernimento necessário para a prática do ato sexual, ou que, por outra causa, não possa oferecer resistência. 
C) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser cometido DOLOSAMENTE, devendo abranger as características exigidas pelo tipo penal do Art. 217-A do Código Penal, vale dizer, o sujeito deverá ter o conhecimento de que a vítima é menor de 14 anos, ou que seja acometida de enfermidade ou doença mental, fazendo com que não tenha o discernimento necessário para a prática do ato, ou que, por outra causa, não possa oferecer resistência. 
- Se, no caso, o agente desconhecia qualquer das características constantes da infração penal em estudo, podendo ser alegado o erro de tipo, afastando-se o dolo e, consequentemente, a tipicidade do fato. 
- Não é admissível a modalidade culposa por ausência expressa de disposição legal neste sentido. 
D) Consumação e Tentativa. 
- A consumação do crime em estudo, no que diz respeito à primeira parte constante do caput do Art. 217-A do CP, se consuma com a prática efetiva da conjunção carnal, não importando se a penetração foi total ou parcial, não havendo, inclusive, a necessidade de ejaculação. Por sua vez, no que diz respeito à segunda parte do referido artigo, o crime se consuma quando o agente pratica qualquer outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. 
- Vale frisar que, em qualquer caso, a vítima deve se amoldar às características previstas tanto pelo caput, como pelo § 1º, do Art. 217-A, do Código Penal, NÃO importando se tenha ou não consentido para o ato sexual. 
- A tentativa é possível tendo em vista que trata-se de crime plurissubsistente. 
E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. 
- O sujeito ativo pode ser tanto homem, quanto mulher no delito de estupro de vulnerável, com a ressalva de que, quando se tratar da prática de conjunção carnal, a relação, necessariamente, deverá ser heterossexual. Nas demais hipóteses, ou seja, quando o comportamento for dirigido à prática de atos libidinosos, qualquer pessoa poderá figurar nessa condição. 
- O sujeito passivo, por sua vez, será pessoa menor de 14 (quatorze) anos, ou acometida de enfermidade ou doença mental, que não tenha o discernimento necessário para a prática do ato, ou que, por outra causa, não possa oferecer resistência. 
1.2 Figuras Típicas. 
A) Estupro de vulnerável Simples – Art. 217-A, caput e § 1º, do CP.
B) Estupro de vulnerável Qualificado – Art. 217-A, § 3º e § 4º, do CP.
- Ele está no Art. 217-A, § 3º e § 4º, do CP e ocorre nas seguintes situações:
1º) Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave. (Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.) 
2º) Se da conduta resulta morte. (Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos)
- A lesão corporal grave, ou mesmo a morte da vítima, devem ter sido produzidas em decorrência da conduta do agente, vale dizer, do comportamento que era dirigido finalisticamente no sentido de praticar o estupro. 
- Entretanto, vale ressaltar que estes resultados que qualificam o crime em estudo somente podem ser imputados ao agente a título de culpa, tratando-se de crimes preterdolosos. 
1.3 Questões relevantes.
1.3.1 O estupro de vulnerável como tipo misto alternativo e a prática de várias condutas em um mesmo contexto fático.
- Aplicam-se as mesmas considerações feitas ao crime de estupro do Art. 213 do Código Penal. 
1.3.2 A hediondez do estupro de vulnerável.
- Nos termos do Art. 1º, VI, da Lei n. 8.072/1990, é considerado crime hediondo o crime de estupro de vulnerável, em todas as suas formas, ou seja, é crime hediondo o estupro de vulnerável simples, quando se pratica conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos (Art. 217-A, caput, do CP) bem como na forma equiparada, quando o sujeito pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, (Art. 217-A, § 1º, do CP) e a sua forma qualificada, quando resulta lesão corporal de natureza grave (Art. 217-A, § 3º, do CP) ou quando resulta morte (Art. 217-A, § 4º, do CP).
1.3.3 Reflexos da revogação do art. 224, do CP sobre a Lei 8.072/90.
- Vale lembrar que a Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009, criou a nova figura penal, denominada estupro de vulnerável. Seu surgimento decorre da expressa revogação do Art. 224 do Código Penal, que estabelecia as situações de presunção de violência nos crimes sexuais. Atualmente, nãose fala mais em “presunção de violência”. Na verdade, as antigas hipóteses de violência ficta de outros crimes passaram a constituir elementos de um tipo penal autônomo, no caso, o estupro de vulnerável. 
- Pois bem, a lei de Crimes Hediondos, em seu Art. 9º, prevê que “as penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.
- Parte da doutrina entende que, a partir da nova Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, o Art. 9º da Lei de crimes hediondos NÃO teria mais aplicação, tendo sido revogado. 
- Como é sabido, o Art. 224 do Código Penal foi revogado e suas antigas hipóteses configuram atualmente circunstância elementar do crime de estupro de vulnerável. Não podem, portanto, configurar o crime e ao mesmo tempo constituir causa de aumento de pena para os crimes hediondos ou assemelhados, pois haveria clara e afrontosa lesão ao princípio do non bis in idem (proibição de dupla punição pelo mesmo fato).
- Desta forma, o aumento de pena previsto no Art. 9º da Lei de Crimes Hediondos NÃO pode incidir sobre o crime de estupro do Art. 213 do Código Penal, justamente porque se a vítima for menor de 14 anos, de pronto, já estará caracterizado o crime de estupro de vulnerável do novo Art. 217-A.
- Conclui-se, então, que o Art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos NÃO teria mais aplicação, já que o artigo que dava fundamento ao mesmo, qual seja, o Art. 224 do Código Penal, foi revogado, razão pela qual também teria sido revogado o Art. 9º da Lei de crimes hediondos, não havendo mais a possibilidade de haver o aumento de pena até a metade dos crimes hediondos previstos neste artigo. 
1.3.4 Ação Penal no crime de estupro de vulnerável. 
- O Art. 225, parágrafo único, do Código Penal prevê que, nos crimes definidos no Capítulo I(Dos Crimes contra a Liberdade Sexual) e II (Dos Crimes Sexuais contra Vulnerável), do Título VI(Dos crimes contra a Dignidade Sexual) do Código Penal se a vítima for menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável, a ação penal será pública incondicionada. 
- Por conta disto, em todas as formas de estupro de vulnerável a ação penal será pública incondicionada. 
1.3.5 Distinção entre o crime de estupro de vulnerável e demais crimes sexuais contra vulnerável. 
1ª) Corrupção de Menores – Art. 218 do Código Penal. 
- O crime de corrupção de menores está no Art. 218, caput, do CP e ocorre na seguinte situação: “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.” 
- De acordo com a redação legal podemos apontar os seguintes elementos que integram a figura típica mencionada:
a) Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos.
- O núcleo induzir é utilizado no sentido não somente de incutir a ideia na vítima, como também de convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal. A vítima é convencida pelo proxoneta a satisfazer a lascívia de outrem. 
- O termo alguém refere-se a pessoa determinada, podendo ser do sexo masculino ou feminino. Além disso, esta pessoa deve ser menor de 14 (catorze) anos, ou seja, dado este de ordem objetiva, que deve ser provado por meio de documento próprio. Ou seja, percebe-se que se trata de crime próprio quanto ao sujeito passivo. 
b) Com a finalidade de satisfazer a lascívia de outrem. 
- Por satisfazer a lascívia somente pode ser entendido como aquele comportamento que NÃO imponha à vítima, menor de 14 (catorze) anos, a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, uma vez que, nesses casos, teria o agente que responder pelo delito de estupro de vulnerável, em virtude da regra constante do Art. 29 do Código Penal, que seria aplicada ao Art. 217-A do mesmo diploma repressivo. 
Ex. O agente poderia induzir a vítima, por exemplo, a fazer um ensaio fotográfico, completamente nua, ou mesmo tomar banho na presença de alguém, ou simplesmente ficar deitada, sem roupas, fazer danças eróticas, seminua, com roupas minúsculas, fazer streaptease etc., pois essas cenas satisfazem a lascívia de alguém, que atua como voyer.
- O voyeurismo é uma prática que consiste num indivíduo conseguir obter prazer sexual observando outras pessoas, que podem ou não ter conhecimento de sua presença. 
- Por sua vez, o sujeito ativo no crime de corrupção de menores pode ser qualquer pessoa, enquanto que o sujeito passivo é próprio, tendo em vista que somente pode ser alguém menor de 14 (catorze) anos, podendo ser do sexo masculino ou feminino. 
- Quanto ao momento consumativo, a doutrina majoritária entende que se trata de crime material, já que o crime se consuma com a necessária realização, por parte da vítima, de pelo menos algum ato tendente à satisfação da lascívia de outrem.
- Por fim, a doutrina majoritária entende que o crime de corrupção de menores NÃO é considerado um crime habitual. Portanto, basta que a conduta do agente seja dirigida, por um única vez, a fazer com que a vítima atue no sentido de satisfazer a lascívia de outrem para que o delito reste consumado. A habitualidade, neste crime, poderá importar, se for o caso, no reconhecimento do concurso de crimes, aplicando-se as regras constantes dos Art. 69 ou 71 do Código Penal, dependendo do caso concreto. 
2ª) Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente. 
- O crime de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente está no Art. 218-A do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”
- Os elementos que compõem a figura típica do referido artigo são: 
a) Praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso na presença de alguém menor de 14 (catorze anos).
- Neste hipótese o agente não interfere na vontade do menor, que observa a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime. O agente aproveita-se da espontânea presença o menor de 14 anos para realizar o ato sexual com outra pessoa, visando, desse modo, satisfazer a lascívia própria ou alheia.
b) Ou induzí-lo a presenciar a prática desses atos. 
- Pela núcleo induzir, entende-se que o agente faz nascer na criança ou adolescente menor de 14 anos a ideia de presenciar a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso do sujeito ativo do crime com outra pessoa. Ou seja, neste caso o agente convence o menor a presenciar os atos sexuais. 
c) Com a finalidade de satisfazer a lascívia própria ou de outrem. 
- Sempre o sujeito ativo do crime tem a finalidade de satisfazer lascívia própria ou de outrem (um terceiro). O termo lascívia é sinônimo de sexualidade, luxúria ou libidinagem, ou seja, o sujeito ativo do crime tem o prazer sexual ao saber que o menor está assistindo a prática de seu ato sexual com outra pessoa. 
- Nas condutas deste tipo penal, percebe-se que o menor NÃO pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com o sujeito ativo do crime, e sim se limita a presenciar a prática destes atos, pois, caso contrário, restaria configurado o crime de estupro de vulnerável, do Art. 217-A do Código Penal.
3º) Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável. 
- O crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável está no Art. 218-B do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2o  Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. § 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.”
- Os elementos da figura típica são os seguintes:
a) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual.
- Submeter é subjugar, sujeitar a vítima, induzir é incutir a ideia, convencer a vítima, atrair é estimular a prática (Ex: falar de perspectivas de riqueza à vítima, aumento do padrão de vida, possibilidade de viagens internacionais) da prostituição (comércio do corpo, atividade na qual os atos sexuais são negociados em troca de pagamento) ou outra forma de exploração sexual (Ex: turismo sexual, pornografia) 
b)Alguém menor de 18(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;
- A vítima necessariamente deve ser menor de 18 anos e a idade mínima, apesar de não haver menção expressa, a doutrina entende que é de 14 anos, pois casos contrária o fato poderá subsumir-se ao crime de estupro de vulnerável, do Art. 217-A do Código Penal. 
- A vítima também será aquela que por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou seja, é somente aquela vítima que se deixa explorar sexualmente SEM que alguém, para tanto, com ela mantenha conjunção carnal ou outro ato libidinoso, pois, caso contrário, haverá o crime de estupro de vulnerável, previsto no Art. 217-A do Código Penal.
c)Ou facilitar, impedir ou dificultar que a vítima abandone a prostituição ou outra forma de exploração sexual. 
- Facilitar é proporcionar meios eficazes à prostituição, sem induzir ou atrair a vítima, arrumando-lhe clientes, colocando-a em lugares estratégicos. Neste caso a vítima já está entregue ao comércio carnal ou outra forma de exploração sexual, e o agente facilita que a vítima nele se mantenha com o seu auxílio. Nas condutas de induzir ou atrair, já comentadas, diferentemente, a vítima NÃO se encontra prostituída ou entregue a exploração sexual.
- Impedir é opor-se, e ocorre nas situações que a vítima deseja abandonar a prostituição ou outra forma de exploração sexual que ela mesma iniciou, mas o agente intervém no sentido de impedir que a vítima abandone tais condutas. Ex. ter que saldar dívidas extorsivas relativas ao período em que esteve hospeda às expensas do agente.
- Dificultar é atrapalhar, criar embaraços, com a finalidade de fazer com que a vítima se sinta desestimulada a abandonar a prostituição ou outra forma de exploração sexual que ela mesma tinha iniciado. 
2. Disposições Gerais.
2.1. Ação penal.
- Conforme previsão expressa do Art. 225 do Código Penal:  “Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.  Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.”
- Desta forma, percebe-se que NÃO existe mais a ação penal privada nos crimes contra a dignidade sexual. Atualmente, a regra, é que a ação penal será condicionada à representação da vítima nos casos de crimes contra a liberdade sexual prevista no Capítulo I do Título VI (Dos Crimes contra a Dignidade Sexual).
- Por sua vez, quando a vítima for menor de 18 anos ou pessoa vulnerável, a ação penal será pública incondicionada, razão pela qual em TODOS os crimes sexuais praticados contra vulnerável (Capítulo II do Título VI do Código Penal) a ação penal será pública incondicionada. 
OBS: Parte da doutrina, a qual nos filiamos, entende que a Súmula 608 do STF ainda é aplicável, na atualidade, ao crime de estupro. Eis o teor da Súmula 608 do STF: “No crime de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.” Posto isto, podemos fazer os seguintes comentários: 
- Caso o crime de estupro seja praticado mediante violência real (com o emprego de violência física que impossibilite a resistência da vítima), a ação penal no crime de estupro, segundo entendimento do STF, será pública incondicionada. Este entendimento inclusive, é seguido pelo STJ, a exemplo do HC 153.526/PE, 5ª Turma, Rel. Min Felix Fischer, DJE 02/08/2010. Por outro lado, no crime de estupro praticado mediante grave ameaça, a ação penal será pública condicionada à representação do ofendido, como passou a prever a Lei 12.015/2009.
- Caso não fosse esta a interpretação dada a Súmula 608 do STF, poder-se-ia chegar à conclusão, equivocada, de que o estupro qualificado pelas lesões corporais graves ou pela morte, previsto no Art. 213, § 1o  e § 2º, do Código Penal, seria de ação penal condicionada a representação. 
- Portanto, seguimos o entendimento da doutrina que não vislumbra qualquer incompatibilidade entre as novas disposições legais da Lei 12.015/2009 e a Súmula 608 do STF, até porque, caso o STF entendesse pela inaplicabilidade desta Súmula, deveria ter procedido ao seu cancelamento, o que não ocorreu até o presente momento. 
2.2 Aumento de pena.
- Nos termos do Art. 226 do Código Penal, a pena é aumentada: 
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.
- Esta causa de aumento de pena se dá pelo maior temor causado à vítima pelos agentes, além da maior periculosidade por eles revelada. A presença de duas ou mais pessoas é motivo de maior facilidade no cometimento do delito, diminuindo, ou mesmo, anulando a possibilidade de resistência da vítima. Desta forma, existe maior censurabilidade no comportamento daqueles que praticam o delito em concurso de pessoas. 
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.
- Esta causa de aumento de pena se dá em razão do parentesco entre a vítima e o agente, bem como outras relações pessoais existentes entre eles. Justifica-se o aumento de pena em razão da maior reprovação moral da conduta, em que o agente abusa das relações familiares, de intimidade ou de confiança que mantém com a vítima. 
- A existência desta causa de aumento de pena afasta a possibilidade de aplicação das agravantes genéricas previstas no Art. 61, II, e, f e g, do Código Penal, sob pena de ocorrer o bis in idem. 
- Por sua vez, o Art. 234-A do Código Penal prevê que,  nos crimes previstos no Título VI(Dos Crimes contra a Dignidade Sexual) do Código Penal, a pena é aumentada:  
III - de metade, se do crime resultar gravidez.
- Como é sabido, uma mulher que é vítima de estupro, poderá engravidar, e consequentemente, rejeitar o feto, fruto da concepção violenta. Como o Art. 128, I, do Código Penal permite o aborto nesses casos, é muito comum que a mulher opte pela interrupção da gravidez. 
- Como se percebe, a conduta do estuprador acaba não somente causando um mal à mulher, que foi vítima de seu comportamento sexual violento, como também do feto, que revê a vida ceifada. Desta forma, o juízo de censura que recai sobre o autor do crime é maior, aumentando-se a sua pena pela metade. 
IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. 
- Se o agente transmite à vítima doença venérea (Ex: sífilis, herpes genital, gonorreia, Hepatite B) de que sabe (dolo direto) ou deveria saber (dolo eventual) que está contaminado, haverá o aumento de pena acima mencionado. 
- Para efeito de aplicação desta causa de aumento de pena deve havera efetiva transmissão da doença sexual, devendo esta ser comprovada através de exame pericial. 
2.3 Segredo de Justiça.
- Conforme previsão expressa do Art. 234-B do Código Penal,  os processos em que se apuram crimes definidos no Título VI (Dos Crimes contra a Dignidade Sexual) do Código Penal, correrão em segredo de justiça.
- Desta forma, por imposição legal, todos os atos processuais que envolvam crimes contra a Dignidade Sexual serão sigilos, não sendo de acesso ao público em geral.

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