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Dos crimes contra a dignidade sexual 2. Disposições Gerais. 2.1. Ação penal. - Conforme previsão expressa do Art. 225 do Código Penal: “Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.” - Desta forma, percebe-se que NÃO existe mais a ação penal privada nos crimes contra a dignidade sexual. Atualmente, a regra, é que a ação penal será condicionada à representação da vítima nos casos de crimes contra a liberdade sexual prevista no Capítulo I do Título VI (Dos Crimes contra a Dignidade Sexual). - Por sua vez, quando a vítima for menor de 18 anos ou pessoa vulnerável, a ação penal será pública incondicionada, razão pela qual em TODOS os crimes sexuais praticados contra vulnerável (Capítulo II do Título VI do Código Penal) a ação penal será pública incondicionada. OBS: Parte da doutrina, a qual nos filiamos, entende que a Súmula 608 do STF ainda é aplicável, na atualidade, ao crime de estupro. Eis o teor da Súmula 608 do STF: “No crime de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada.” Posto isto, podemos fazer os seguintes comentários: - Caso o crime de estupro seja praticado mediante violência real (com o emprego de violência física que impossibilite a resistência da vítima), a ação penal no crime de estupro, segundo entendimento do STF, será pública incondicionada. Este entendimento inclusive, é seguido pelo STJ, a exemplo do HC 153.526/PE, 5ª Turma, Rel. Min Felix Fischer, DJE 02/08/2010. Por outro lado, no crime de estupro praticado mediante grave ameaça, a ação penal será pública condicionada à representação do ofendido, como passou a prever a Lei 12.015/2009. - Caso não fosse esta a interpretação dada a Súmula 608 do STF, poder-se-ia chegar à conclusão, equivocada, de que o estupro qualificado pelas lesões corporais graves ou pela morte, previsto no Art. 213, § 1o e § 2º, do Código Penal, seria de ação penal condicionada a representação. - Portanto, seguimos o entendimento da doutrina que não vislumbra qualquer incompatibilidade entre as novas disposições legais da Lei 12.015/2009 e a Súmula 608 do STF, até porque, caso o STF entendesse pela inaplicabilidade desta Súmula, deveria ter procedido ao seu cancelamento, o que não ocorreu até o presente momento. 2.2 Aumento de pena. - Nos termos do Art. 226 do Código Penal, a pena é aumentada: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas. - Esta causa de aumento de pena se dá pelo maior temor causado à vítima pelos agentes, além da maior periculosidade por eles revelada. A presença de duas ou mais pessoas é motivo de maior facilidade no cometimento do delito, diminuindo, ou mesmo, anulando a possibilidade de resistência da vítima. Desta forma, existe maior censurabilidade no comportamento daqueles que praticam o delito em concurso de pessoas. II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela. - Esta causa de aumento de pena se dá em razão do parentesco entre a vítima e o agente, bem como outras relações pessoais existentes entre eles. Justifica-se o aumento de pena em razão da maior reprovação moral da conduta, em que o agente abusa das relações familiares, de intimidade ou de confiança que mantém com a vítima. - A existência desta causa de aumento de pena afasta a possibilidade de aplicação das agravantes genéricas previstas no Art. 61, II, e, f e g, do Código Penal, sob pena de ocorrer o bis in idem. - Por sua vez, o Art. 234-A do Código Penal prevê que, nos crimes previstos no Título VI(Dos Crimes contra a Dignidade Sexual) do Código Penal, a pena é aumentada: III - de metade, se do crime resultar gravidez. - Como é sabido, uma mulher que é vítima de estupro, poderá engravidar, e consequentemente, rejeitar o feto, fruto da concepção violenta. Como o Art. 128, I, do Código Penal permite o aborto nesses casos, é muito comum que a mulher opte pela interrupção da gravidez. - Como se percebe, a conduta do estuprador acaba não somente causando um mal à mulher, que foi vítima de seu comportamento sexual violento, como também do feto, que revê a vida ceifada. Desta forma, o juízo de censura que recai sobre o autor do crime é maior, aumentando-se a sua pena pela metade. IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. - Se o agente transmite à vítima doença venérea (Ex: sífilis, herpes genital, gonorreia, Hepatite B) de que sabe (dolo direto) ou deveria saber (dolo eventual) que está contaminado, haverá o aumento de pena acima mencionado. - Para efeito de aplicação desta causa de aumento de pena deve haver a efetiva transmissão da doença sexual, devendo esta ser comprovada através de exame pericial. 2.3 Segredo de Justiça. - Conforme previsão expressa do Art. 234-B do Código Penal, os processos em que se apuram crimes definidos no Título VI (Dos Crimes contra a Dignidade Sexual) do Código Penal, correrão em segredo de justiça. - Desta forma, por imposição legal, todos os atos processuais que envolvam crimes contra a Dignidade Sexual serão sigilos, não sendo de acesso ao público em geral.
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