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Sistema Monetário Economia Monetária Profa. Cristina F. B. Reis Novembro, 2013 2. SISTEMA MONETÁRIO SUMÁRIO 2. Sistema monetário • Oferta de moeda - Conceitos fundamentais - O sistema monetário brasileiro - Discussão autonomia do BcB INTRODUÇÃO Moeda endógena vs exógena: • Endógena = deriva dos resultados da economia • Exógena = deriva das decisões da autoridade central PAPEL DO BANCO CENTRAL • banco dos bancos (emprestador de última instância, deposita encaixes) • banco do governo (empresta, compra/vende títulos da dívida, aonde os STN deposita recursos (T)) • emissor de moeda • depositário de reservas internacionais PAPEL DO BANCO CENTRAL DO BRASIL • Art. 164 da Const. Federal: “A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo Banco central” • Missão: “a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro”. • Promover a solidez do sistema de pagamentos, normal funcionamento e contínuo aperfeiçoamento. – Qualquer sistema de liquidação no Brasil está sujeito à autorização e à supervisão do BCB, – Definição de quais são os sistemas de liquidação sistemicamente importantes. • Provedor de serviços de liquidação – Sistema de Transferência de Reservas: transferência de fundos – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic: liquidação de operações com títulos públicos. CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE MOEDA • Criar e destruir envolve sempre o setor bancário e o não bancário – Criar M1 = troca entre ativo não monetário do setor não bancário por ativo monetário do setor bancário – Destruir M1 = troca entre ativo monetário do setor não bancário por ativo não monetário do setor bancário OFERTA DE MOEDA • M1 no Brasil: meios de pagamento possuídos pelos agentes econômicos não bancários – Papel moeda e moedas metálicas PP (moeda manual) – DV bancos comerciais – DV bancos múltiplos moeda – DV no BB escritural – DV nas caixas econômicas OFERTA DE MOEDA • Tipos de ativos (LOPES & ROSSETTI, p. 126): OFERTA DE MOEDA Conceitos anteriores de tipos de meios de pagamento (por liquidez?) • M1= PMPP + DV • M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + quotas de fundos de renda- fixa cp + títulos públicos de alta liquidez • M3 = M2 + depósitos de poupança • M4 = M3 + títulos emitidos por instituições financeiras Fonte: “Reformulação dos meios de pagamento – Notas metodológicas” BCB OFERTA DE MOEDA Conceitos novos (por órgão emissor) • M1= PMPP + DV • M2 = M1 + depósitos especiais remunerados +depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias • M3 = M2 + quotas de fundos de renda-fixa cp + operações compromissadas registradas no Selic • M4 = M3 +títulos públicos de alta liquidez Fonte: “Reformulação dos meios de pagamento – Notas metodológicas” BCB OFERTA DE MOEDA Instituições depositárias: • bancos múltiplos, • bancos comerciais, • caixas econômicas, • Bancos de investimento, • bancos de desenvolvimento, • agências de fomento, • sociedades de crédito, • financiamento e investimento, • sociedades de crédito imobiliário, • associações de poupança e empréstimo, • companhias hipotecárias. Obs.: Instituições financeiras não depositárias, como sociedades de arrendamento mercantil, corretoras e distribuidoras de títulos e de valores mobiliários, nessas definições de agregados monetários são consideradas empresas do setor produtivo. OFERTA DE MOEDA • RF: “considera-se fundos de renda fixa os supervisionados pelo Banco Central, que, nessa condição, estão obrigados a encaminhar demonstrativos contábeis baseados no Cosif. Atualmente, correspondem aos fundos de investimento financeiro (FIF), dos quais excluem-se os recursos de propriedade do governo central no levantamento dos agregados monetários. Os fundos de renda variável e os fundos de pensão não são considerados emissores de liquidez e multiplicadores de crédito, sendo classificados, portanto, entre os agentes não depositários”. FONTE: Notas metodológicas do Banco Central. OFERTA DE MOEDA • “Os depósitos especiais remunerados (DER) foram criados como um mecanismo de devolução dos ativos financeiros que tinham sido bloqueados no Plano Collor. Os DER‘s rendiam além da correção monetária uma taxa de juros real acima da taxa de juros dos depósitos de poupança. Estes depósitos representavam 1,8% do PIB em 1992, e no segundo trimestre de 1995 sua proporção em relação ao PIB era igual a 0,5%”. Fonte: Fernando de Holanda Barbosa OFERTA DE MOEDA SELIC: Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic • O Selic é o depositário central dos títulos que compõem a dívida pública federal interna (DPMFi) de emissão do Tesouro Nacional e, nessa condição, processa a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia desses títulos. É também um sistema eletrônico que processa o registro e a liquidação financeira das operações realizadas com esses títulos pelo seu valor bruto e em tempo real, garantindo segurança, agilidade e transparência aos negócios. Por seu intermédio, é efetuada a liquidação das operações de mercado aberto e de redesconto com títulos públicos, decorrentes da condução da política monetária. • Define-se Taxa Selic como a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais. Para fins de cálculo da taxa, são considerados os financiamentos diários relativos às operações registradas e liquidadas no próprio Selic e em sistemas operados por câmaras ou prestados de serviços de compensação e de liquidação (art. 1° da Circular n° 2.900, de 24 de junho de 1999, com a alteração introduzida pelo art. 1° da Circular n° 3.119, 18 de abril de 2002). Fonte: BcB OFERTA DE MOEDA Reunião Meta SELIC % a.a. Taxa SELIC nº data % % a.a. 178ª 09/10/2013 9,50 177ª 28/08/2013 9,00 1,02 8,90 174ª 17/04/2013 7,50 0,82 7,40 171ª 28/11/2012 7,25 0,91 7,14 166ª 18/04/2012 9,00 0,99 8,90 165ª 07/03/2012 9,75 1,07 9,65 163ª 30/11/2011 11,00 1,45 10,90 158ª 20/04/2011 12,00 1,49 11,92 154ª 20/10/2010 10,75 1,34 10,66 150ª 28/04/2010 9,50 1,04 9,40 146ª 21/10/2009 8,75 1,09 8,65 142ª 29/04/2009 10,25 1,12 10,16 138ª 29/10/2008 13,75 1,53 13,65 134ª 16/04/2008 11,75 1,41 11,63 130ª 17/10/2007 11,25 1,40 11,18 126ª 18/04/2007 12,50 1,59 12,43 123ª 29/11/2006 13,25 1,89 13,19 90ª 19/11/2003 17,50 1,28 17,32 81ª 19/02/2003 26,50 1,68 26,30 42ª 15/12/1999 19,00 1,74 19,00 04/03/1999 45,00 2,08 44,95 32ª 18/01/1999 25,00 3,98 37,34 31ª 16/12/1998 29,00 2,16 29,21 18ª 30/10/1997 3,05 3,18 45,67 1ª 26/06/1996 1,90 1,93 23,28 Ev o lu çã o t ax a SE LI C : FO N TE : B cB h tt p :/ /w w w .b cb .g o v. b r/ ?C O P O M JU R O S OFERTA DE MOEDA Sistemas Emissores: M1 = Consolidado monetário → passivo monetário restrito do Banco Central e bancos criadores de moeda escritural; ATIVOS = Aplicações/ PASSIVO = fontes de recursos Fonte: LOPES & ROSSETTI. OFERTA DE MOEDA Quase-moeda: depósitos à prazo mais poupança Conta Única do Tesouro Nacional: • mantida no Banco Central do Brasil, acolhe todas as disponibilidades financeiras da União, inclusive fundos, de suas autarquias e fundações. Constitui importante instrumento de controle das finanças públicas,uma vez que permite a racionalizaçãoda administração dos recursos financeiros, reduzindo a pressão sobre a caixa do Tesouro, além de agilizar os processos de transferência e descentralização financeira e os pagamentos a terceiros. • O Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967: unificação dos recursos movimentados pelo Tesouro Nacional no BcB, de forma a garantir maior economia operacional e a racionalização dos procedimentos relativos a execução da programação financeira de desembolso. Tal determinação legal só foi integralmente cumprida com a promulgação da Constituição de 1988. Fonte: Tesouro Nacional OFERTA DE MOEDA • Sistemas Emissores: M2 = Consolidado bancário menos fundos de renda fixa → passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário ampliado emitidos primariamente pelas instituições depositárias; • Operação compromissada = Compra de títulos com compromisso de revenda assumido pelo comprador, conjugado com o compromisso de recompra assumido pelo vendedor, para data futura preestabelecida. Fonte: LOPES & ROSSETTI. OFERTA DE MOEDA • Sistemas Emissores: M3 = Consolidado bancário -> passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário ampliado das instituições depositárias e fundos renda fixa; • Const. Federal, art. 164, parágrafo 3: As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no Banco Central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei. Fonte: LOPES & ROSSETTI. OFERTA DE MOEDA • Sistemas Emissores: M4 = Consolidado bancário mais governos -> passivo monetário ampliado do Banco Central, instituições depositárias, fundos de renda fixa e tesouros nacional, estaduais e municipais. Fonte: LOPES & ROSSETTI. OFERTA DE MOEDA • Balancete estilizado do Banco Central Ativo Passivo Reservas internacionais Títulos públicos Redescontos e empréstimos Outras aplicações Base monetária (PMPP + ET) Empréstimos e externos Outras fontes Total do ativo Total do passivo Fonte: CARVALHO et al. OFERTA DE MOEDA • Balancete estilizado bancos comerciais Ativo Passivo Empréstimos Reservas bancárias Títulos públicos e privados Imobilizado Outras aplicações Monetário Depósitos à vista Não-monetário Dep. À prazo Empréstimos domésticos e externos Redescontos e empréstimos Patrimônio líquido Outras fontes Total do ativo Total do passivo Fonte: CARVALHO et al. OFERTA DE MOEDA Redesconto: • “Operação de compra, com compromisso de revenda de títulos públicos federais registrados no Selic. A operação de redesconto é concedida a exclusivo critério do Banco Central do Brasil, por solicitação das instituições financeiras”. Fonte: BcB. • Geralmente usado quando a relação Et/DV está baixa. • É diferente de uma concessão de crédito porque é colateralizada por um ativo financeiro. • O BcB empresta ao banco tomador um valor inferior ao do ativo dado em garantia. As diferenças de valores exprime a taxa de redesconto. OFERTA DE MOEDA •PLANILHAS M1, M4, balancetes BcB Fonte: Indicadores econômicos consolidados, CAP. II http://www.bcb.gov.br/?INDECO OFERTA DE MOEDA • Papel moeda emitido (PME) • PME – caixa do Bacen (CBC) = Papel moeda em circulação (PMC) • PMC – encaixe técnico dos bancos (Et) = Papel moeda em poder do público (PMPP) Logo PME = CBC + Et + PMPP • Definição privilegia visão da moeda como intermediária de trocas (e não como reserva de valor): exclui quase-moeda Fonte: CARVALHO et al. OFERTA DE MOEDA Base monetária M0: • A ideia moderna seria corresponder ao passivo monetários das autoridades monetárias • Ou seja, total de moeda colocada em circulação pelo Banco Central ou a quantidade de moeda sob responsabilidade do Bacen Em contraste, M1 = moeda manual + escritural (depende do público) OFERTA DE MOEDA Base monetária M0: • B = PMPP + reservas totais dos bancos comerciais (encaixes dos bancos comerciais, ET) = PMC • Finalidade do encaixe: mostrar ao público que os bancos são capazes de saldar compromissos com os clientes • Tipos de Encaixes: ET = Et + Ec + Ev – Encaixe técnico dos bancos (Et): reservas para cobrir diferenças entre saques e depósitos – Compulsórios (Ec): estabelecido pelas autoridades monetárias, um percentual dos depósitos à vista a ser recolhido pelo BACEN na forma de moeda – Voluntários (Ev): encaixes junto ao BACEN decididos pelos bancos Fonte: CARVALHO et al. OFERTA DE MOEDA • Como B = PMPP + ET = PMPP + Et + Ev + Ec • Como PMPP = PMC – Et • Logo: B = (PMC – Et) + (Et + Ev + Ec)= B = PMC + Ev + Ec Fonte: CARVALHO et al. OFERTA DE MOEDA Lógica do sistema monetário: • BACEN estabelece quantidade ofertada de base monetária • Público e bancos estabelecem quantidade demandada, para meios de pagamento e manter reservas, respectivamente. • Quantidade total de meios de pagamentos é um múltiplo da base porque os bancos comerciais também criam meios de pagamento => moeda escritural > reservas OFERTA DE MOEDA Lógica do sistema monetário (Fonte: CARVALHO et al): Encaixe bancos PMPP PMPP DV BASE M1 $ $ OFERTA DE MOEDA Multiplicador monetário: • Multiplicador monetário = M/B = m • M = PMPP + DV = c.M + d.M , c + d =1 • B = PMPP + ET = cM + e(dM) m = 1/ [1 – d(1-e)] • m representa quanto os bancos comerciais provocam de variação nos meios de pagamento quando o Bacen emite uma unidade monetária. – d e m tem relação positiva, – c e m tem relação negativa – e e m tem relação negativa OFERTA DE MOEDA • Então se m=1,4 significa que se o BcB provoca aumento de 100 milhões na base, os meios de pagamento aumentam 140 milhões • PLANILHAS B1, base ampliada, fatores base, multiplicador Fonte: Indicadores econômicos consolidados, CAP. II http://www.bcb.gov.br/?INDECO DISCUSSÃO • Debate: independência do Banco Central DISCUSSÃO Valor Econômico 08/11: • “Quando Tony Blair assumiu como primeiro-ministro do Reino Unido, em 1997 , (...) uma de suas primeiras medidas foi propor a independência formal do banco central da Inglaterra, o Bank of England. Esse atalho ajudou um governo que se supunha de esquerda a ganhar credibilidade perante os mercados”. • “Há duas semanas, com o anúncio de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), iria tirar da gaveta um projeto que concede autonomia formal ao Banco Central, o governo da presidente Dilma Rousseff parecia andar pelo mesmo caminho, (...). No fim, a proposta não foi levada adiante”. DISCUSSÃO Valor Econômico 08/11: • “[e]m 1962, o pai do pensamento econômico neoliberal, Milton Friedman, escreveu um famoso ensaio com o título "Deve haver um banco central independente?” (...) Em geral, economistas que defendem a proposta gostam de usar a palavra "autonomia", que envolve uma certa liberdade vigiada e exigência de prestação de contas, em vez de "independência". • “Nos Estados Unidos, por exemplo, vigora o modelo mais amplo, em que o Fed tem a chamada autonomia de objetivos. O Congresso Nacional fixa os objetivos, dos quais os mais importantes são inflação baixa e estável e pleno emprego, e cabe ao Fed decidir qual deles deve ser priorizado em cada momento. Na União Europeia, é adotado o sistema de autonomia de metas. O próprio Banco Central Europeu (BCE) define qual é a inflação que persegue (no caso, inflação mais próxima possível de 2%) e usa os instrumentos para atingi-la.E há a autonomia de instrumentos - a que se discute para o Brasil. O governo define a meta de inflação e o Banco Central tem autonomia para usar o instrumento - no caso, a taxa de juros - para cumprir o objetivo”. DISCUSSÃO Valor Econômico 08/11: • “[e]m 1 962, o pai do pensamento econômico neoliberal, Milton O principal argumento para se ter um banco central autônomo é protegê-lo dos interesses eleitorais ou partidários dos governantes de plantão. A teoria por trás disso é que, embora no longo prazo mais inflação não leve a mais crescimento nem a menos desemprego, em tese é possível ter alguns ganhos no curto prazo”. • “Outra razão para dar autonomia aos bancos centrais é protegê-los de pressões do governo para, via aumento de inflação, financiar despesas. Foi o que aconteceu no Brasil durante muitos anos, sobretudo entre as décadas de 1970 e 1980, quando a emissão de moeda foi a forma usada para financiar gastos públicos que estavam fora de controle”. DISCUSSÃO Valor Econômico 08/11: • “Críticos da autonomia operacional do Banco Central sustentam, porém, que não há provas científicas incontestáveis de suas vantagens”. (econometria tipo Acemoglu, exemplo Zimbabwe) • “Os argumentos contrários à autonomia formal do Banco Central têm a ver com a preservação dos mecanismos de representação popular em um regime democrático. No fundo, dar independência a um banco central significaria entregar boa dose de poder a tecnocratas, em detrimento de representantes eleitos. "A autonomia formal, de certo modo, poderia representar um elemento a mais de distanciamento entre o eleitor e o regime democrático", afirma o economista Marcio Pochmann (...). Ele pondera que, hoje, o Banco Central já goza de uma autonomia operacional de fato e que, portanto, a discussão é sobre a formalização em lei dessa autonomia, por meio da definição de mandato. “ • Crise colocou dúvidas sobre validade da teoria friedmaniana DISCUSSÃO Valor Econômico 08/11: • "O Banco Central é um órgão de Estado que não deve ser capturado nem pelo governo nem pelos interesses privados", afirma Belluzzo, em artigo publicado nesta semana no Valor. Ele pondera que a moeda tem dupla natureza - de um lado, é um bem público, uma instituição social, e de outro é um instrumento de enriquecimento privado. Por isso, o modelo de autonomia do Banco Central tem que conter salvaguardas adequadas. Belluzzo defende, por exemplo, que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sejam obrigados a divulgar seus votos com justificativas; que sejam eleitos membros independentes para os comitês; e que sejam obrigados a prestar contas ao Congresso Nacional em audiências públicas realmente rigorosas, como ocorre no modelo americano. • maturidade política DISCUSSÃO Valor Econômico 12/11, Delfim Netto: • “Na frustrada tentativa de dar independência jurídica ao Banco Central do Brasil na manobra da taxa básica de juros (Selic) para manter a "expectativa" inflacionária, e a taxa de inflação ela mesma, em torno da meta de 4,5%, argumentou-se que a medida seria semelhante à de Tony Blair. Ele tomou posse sob forte desconfiança dos mercados (acostumados ao "liberalismo" do período Thatcher) e a dissipou instantaneamente concedendo "independência" ao Banco da Inglaterra”. • “Salvo melhor juízo de historiador mais informado, o que Blair fez, na sua primeira medida do novo governo, foi retirar o controle da taxa de juros básica do "chancellor" of the Exchequer (...), para um novo (...) Comitê de Política Monetária’. • “É óbvio que os mercados precisariam ter muita fé, ou muita ingenuidade, para acreditar que um comitê criado pelo governo, cujos membros são nomeados por ele, que trabalha para atingir um objetivo fixado por ele, é independente dele!” DISCUSSÃO Valor Econômico 12/11, Delfim Netto: • “O mundo assistiu há menos de dois meses uma guerrilha para a nomeação do novo presidente do Fed (o banco central dos EUA), que deixou Obama numa situação muito delicada. Alguém pode acreditar que ele (ou melhor, ela) será independente, ou mais sutilmente, "indiferente" ao lado ganhador? Mais severa, por exemplo, com a taxa de desemprego do que com a taxa de inflação? Absolutamente, não”. • “Mas não será para atender a interesses ou por maldade, mas sim porque não existe uma "ciência monetária" no sentido de "ciência dura", em que o universo é relativamente estável e as mesmas ações tendem, em geral, a produzir as mesmas "respostas". Seu universo não é ergódigo: o futuro é essencialmente incerto, tende a não repetir o passado e, mais ainda, recusa submissão a leis probabilísticas. Trata-se no fundo de um processo de alta complexidade, em que as "emergências" (as rupturas, as crises) são certas, mas imprevisíveis”. DISCUSSÃO Valor Econômico 12/11, Delfim Netto: • “Entende-se facilmente por que, para os clássicos (Adam Smith, Karl Marx , Marshall, Maynard Keynes, Veblem e outros menores), a economia, se for alguma coisa, há de ser uma "disciplina moral", não para apenas fazer o bem, mas para evitar o mal que seus erros podem produzir. É mais do que claro que as políticas monetárias postas em prática desde a crise do Lehman Brothers apenas evitaram o pior e que o ajuste fiscal que as acompanhou destruiu as finanças dos países cuja administração foi corrompida pela aceitação irresponsável de incentivos aos derivativos financeiros”. • As recentes indefinições dos bancos centrais são apenas uma manifestação das "incertezas" que assombram os formuladores da política econômica em todo o mundo. É cada vez mais claro que os efeitos do "quantitative easing" perderam eficiência na margem, mas que retirá-los (o "tapering") não é uma tarefa trivial. O Federal Reserve está enrascado no problema de como realizá- lo sem produzir um terremoto nos mercados financeiros mundiais. Por outro lado, a política de anunciar o comportamento do banco central ("forward guidance") não limitada a condicionalidades físicas, mas apenas ao calendário da sua execução, pode apresentar problemas”. DISCUSSÃO Valor Econômico 12/11, Delfim Netto: • Em poucas palavras, não precisamos de novidades na política monetária. O necessário é auxiliá-la com uma política fiscal adequada, que se comprometa de forma crível a reconduzir a "expectativa" da inflação para a meta de 4,5%, num horizonte aceitável. Como ninguém sabe muito bem como fazê-lo, é preciso de disposição firme do governo, muito cuidado e alguma paciência. DISCUSSÃO Um pouco mais de informações: • Anos 80 e 90 diversos países tentam deixar BACEN + autônomo: Nova Zelândia, Chile, México, Argentina, Espanha, França, Reino Unido, Canadá, Suécia, Austrália, Finlândia, Israel. • Acordo de Maastricht, 1991: objetivo primário do BACEN é estabilidade de preços, conforme estabelecido pelo Conselho Europeu. • Independência = capacidade do BC de não ceder às forças políticas para monetizar grandes déficits orçamentários; independência em relação ao Poder Legislativo e Executivo • 2 tipos (FISCHER, 1995): independência de instrumento e de meta DISCUSSÃO Argumento a favor: • Teórico: responsáveis pela política monetária sujeitos ao viés inflacionário intrínseco a sua condução • Empírico: correlação negativa entre IBC e inflação DISCUSSÃO Fonte: MENDONÇA, 2000. DISCUSSÃO • Estruturas do modelo de IBC – Objetivo BACEN é minimizar perda social causada pela inflação (L(p)) – Credibilidade é um bônus que ajuda a combater inflação – Pode incluir a premissa de que haja regras para PM – Expectativas racionais, informação simétrica, público tem aversão à inflação (w) – Inflação esperada = atual, não há restrição externa influenciando L(p)DISCUSSÃO • Para esse resultado se garantir, é necessário uma prerrogativa que acaba sendo recomendação normativa: – Nomeação de um presidente do BC com preferências pessoais por um alto valor de w – Contrato entre governo e BC que induza o comportamento anti- inflacionário DISCUSSÃO • Modelos de primeira geração (Rogoff, 1985) – Premissas: Existe um central banker cuja aversão à inflação é maior do que a do público – Discute o papel do BC – Resultado: quanto maior a aversão do central banket, maior o bem-estar obtido – Críticas: • Redução do viés inflacionário é obtido às custas de menor estabilização do produto • Governo e BC não necessariamente têm mesma função objetivo e informações • Modelo estático, setor privado tem papel marginal • Por que delegar PM é mais convincente do que faze-la diretamente? DISCUSSÃO • Modelos de segunda geração (Walsh, 1995) – Não discute o papel do BC, busca de estabilidade é dada – Objetivo é independência de instrumentos – Premissa: o governo (agente-principal) estabelece um contrato com BC que impõe custos quando se afasta do nível ótimo – Governo estabelece a meta, BC deve busca-la • Críticas: • Quem estabelece o contrato ótimo? • Autonomia pode ser pouco democrática DISCUSSÃO • Modelos de terceira geração (Svensson, 1997) – Síntese dos outros 2 modelos: agente e o principal (a sociedade) estabelecem regime de metas inflacionárias – Premissa: BC tem controle perfeito sobre inflação – Resultado: não há desvio entre inflação ótima e atual • Críticas keynesianas – Moeda não é neutra: afeta longo prazo – Não há equilíbrio estável (PDE) – PM deve reduzir incerteza – Viés inflacionário é hipótese subjetiva – Estabilidade é o objetivo principal do BC? E os outros? – Além disso, instrumentos do BC não tem alcance para combater toda a inflação. DISCUSSÃO • Críticas FRIEDMAN: • PM ineficaz no lp, mas BC é importante como emprestador de última instância. • BC não tem meios para garantir zeragem do desvio de inflação. • Importante é agir conforme regras, sem política discricionária. • BC independente concentra muito poder político e técnico DISCUSSÃO apud MENDONÇA, 2000. Referências (2) LOPES, J. C.; ROSSETTI, J. P. Economia Monetária. SP: Atlas, 9ª Ed., 2005. Cap. 3. CARVALHO, F. C. (ed.) Economia monetária e Financeira: teoria e política. Ed. Campus, 2001. Caps. 1 e 2. BCB. “Reformulação dos meios de pagamento – Notas metodológicas”. BCB, 2001, disponível em: http://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/NM- MeiosPagAmplp.pdf RIBEIRO, Alex. “A bandeira da independência”. Valor Econômico, 08 de novembro de 2013. NETTO, Delfim. “A autonomia do Banco Central basta”. Valor Econômico, 12 de novembro de 2013. ARESTIS, P.; SAWYER, M. (ed.) Handbook of Alternative Monetary Economics. Edgar Elgar, Vol. 1 e 2, 2008. FRIEDMAN, B. M.; HAHN, F. H. (ed.) Handbook of Monetary Economics. Elsevier, Vol. 1 e 2, 1990. MENDONÇA. H. F. "A teoria da independência do Banco Central: uma interpretação crítica". Estudos Econômicos, v. 30, n. 1, janeiro-março 2000. PRÓXIMA AULA • Trazer matérias da mídia sobre as principais críticas ao sistema financeiro brasileiro
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