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1ª AVALIAÇÃO CIÊNCIA POLÍTICA Paulo César Machado – 201404184GV 1. Em que medida pode-se afirmar que Maquiavel e Hobbes lançam mão de análises realistas da política? Maquiavel (1469-1527) era um historiador, um dos mais originais pensadores do renascimento; uma espécie de consultor político, como diríamos em nossos dias, uma figura brilhante, talvez dotado de uma verve trágica, pois ousou descrever e discutir a política e os fenômenos sociais daquele tempo usando seus próprios termos sem eufemismos nem recurso à ética nem à jurisprudência, mais fundamentado nos fenômenos políticos; mas suas ideias geralmente são consideradas não só como marcantes para o nascimento de uma ciência política, mas também das próprias questões que deram origem à política moderna e contemporânea, e particularmente no que se refere à natureza do poder, sobre o qual ele afirma que a razão de Estado, ou os interesses da República, é que devem determinar a atuação do governante. Em sua obra “O Príncipe”, Maquiavel considera que a política era uma única coisa, cujos objetivos se resumem em conquistar e manter o poder ou a autoridade. Nela ele fornece elementos para uma nova ciência política a partir do contexto do renascimento nas cidades europeias. Segundo ele não existe um fundamento anterior ou exterior à política, tais como Deus ou Natureza, mas toda cidade está dividida em dois polos ou digamos, desejos opostos, quais sejam: os poderosos com o desejo de oprimir e comandar e o povo com o desejo de não ser oprimido. Nessa perspectiva, do realismo político, Maquiavel defende que o verdadeiro Príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o poder, portanto seu governo deve ser naturalmente autoritário. Por outro lado e em outro tempo e outro contexto, o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), escreve suas obras sob inspiração das doutrinas do empirismo britânico; sua concepção de Estado, como um grande corpo; analisa a natureza humana dentro da sua teoria hipotética sobre o prisma realista. Ele não estuda a essência dos homens, mas sim, as condições objetivas dos homens no seu estado natural. Em sua obra “Leviatã”, Hobbes descreve uma sociedade marcada pela ausência de uma liderança que se mostre capaz de reunir os indivíduos sob um comando soberano. Com base nesta teoria podemos entender o que Hobbes quer dizer quando afirma em “guerra de todos contra todos”, é que, sempre onde existirem as condições básicas caracterizadoras do estado de natureza, este então é um estado de guerra de todos os que nele se encontram” (BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. 1991. p. 36). Em conclusão, há que se admitir que a “guerra de todos contra todos” independe de condições para existir. O “Leviatã” foi sua contribuição mais conhecida para a modernidade; essa contribuição consistiu em definir o ser humano como potencial inimigo (lobo) do seu semelhante, obrigando esse homem então à realização de um contrato social para a mútua sobrevivência aparentemente pacífica. Hobbes constatou a falência do Estado monárquico absolutista e reconheceu que da anarquia da guerra civil deveria se erguer uma sociedade de normas, regida por leis comuns, e sob a liderança de uma autoridade soberana que não conheceria limites para o exercício de seu poder. A vantagem evidente da passagem do estado de natureza ao estado civil, segundo Thomas Hobbes, estava no fato de que a nova ordem pública, a ser instituída por meio de um contrato social entre todos os indivíduos e por um pacto político, entre estes indivíduos e o governante, levaria à completa superação de aspectos peculiares à vida precária no estado de natureza tais como a morte prematura e violenta. Podemos então afirmar que a nova forma de representação do poder político proposta por Hobbes sugere que o contratualismo por ele apresentado, levaria à constituição de um regime político autoritário, já que as leis emanam da vontade exclusiva do governante. Dessa forma podemos afirmar que tanto Maquiavel quanto Hobbes, lançam mão de análises realistas da política de seus respectivos tempos e contextos, na medida em que defendem governos que privilegiam a autoridade e a postura autoritária do governante, uma vez que suas ideias foram geradas a partir de conhecimentos adquiridos da observação da sociedade e dos fenômenos políticos, bem como da leitura de tudo o que havia se escrito sobre o assunto, criando uma descrição dos sistemas políticos termos próprios. 2. Seria correto afirmar que tanto Maquiavel quanto Hobbes fazem uma defesa incondicional de governos autoritários? Justifique sua resposta. Sim seria correto, conforme já dissemos na questão anterior, para Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”, que a política se fundamenta numa só coisa, cujo objetivo final se resume em conquistar e manter e preservar o poder e a manutenção da autoridade. Nessas bases e fundado neste princípio, Maquiavel descreve nesta sua obra mais destacada, “O Príncipe”, única e simplesmente os meios pelos quais alguns indivíduos tentaram conquistar o poder e mantê-lo. Observamos que muitos exemplos apresentados nesta obra trazem momentos intensos, deixando claro que a qualquer momento, se um governante não calculou bem uma determinada ação, o poder e a autoridade que cultivou tão assiduamente podem lhe fugir de um momento para o outro. Sendo assim nesse contexto social e político do “Príncipe” a segurança do poder é completamente imprevisível, exigindo uma mente mais calculista para poder superar esta volatilidade a frente de governo autoritário e sem limitação no seu poder, com vistas a sua preservação. Como Maquiavel, Hobbes cria sua teoria a partir do impacto da respectiva crise vivenciada por cada um; a luta pela supremacia na Itália de Maquiavel e as convulsões e tumultos da guerra civil na Inglaterra ao tempo de Hobbes. Assim, a experiência de anarquia é inspiração para o novo conceito de poder. Tal como Maquiavel, Hobbes é um grande cético da natureza humana. Em Hobbes, observa-se em suas próprias palavras, a base para a defesa de governos autoritários: “se todos possuem o poder igual, então ele não significa nada”, e fica evidente que ele sempre demonstrou um grande interesse pelos problemas sociais, sendo abertamente um fiel defensor do despotismo político, conforme comprovam suas várias obras, que falam do homem em seu estado natural, entre elas o "Leviatã" (publicado em 1651). O contrato é apresentado como a única saída possível, mas ele torna o poder um monopólio do soberano. O contratualismo de Hobbes descreve um caminho legal para o poder. Todos concordam contratualmente em abdicar, em favor do soberano, de seu precário direito a tudo. Somente esse poder está em condições de estabelecer a paz entre os homens. Aqui não há, para Hobbes, possibilidades de negociação: esse absolutismo é a condição de existência do direito positivo e da paz social. Isto posto, não é a verdade, mas sim o poder é o que decide o que é certo e o que é justo. O que é válido então no direito depende somente da decisão do soberano. “Auctoritas, non veritas facit legem” (Hobbes, 1991, cap. XXVI). Então, considerando que o soberano, é o instrumento que consolida o poder e o direito, podemos concluir que tal como Maquiavel, Hobbes pratica a defesa de governos autoritários, visando a sua preservação. Paulo César Machado - Governador Valadares, 29/01/2017. Resultado: Boas respostas, Paulo. Ao abordar Maquiavel, em ambas as questões, você afirma que o autor justificaria o lançar mão de quaisquer recursos necessários tendo em vista a conquista e a manutenção do poder por um governante. Na segunda resposta, é verdade, você faz uma brevíssimaponderação (uma frase), ensejando uma crítica de Maquiavel à tirania. Seria importante desenvolver essa crítica - tal qual fizemos em sala. Ao final, o que se pretende é avaliar se de fato a questão que move o pensamento político maquiaveliano é a conquista e a manutenção do poder, ou se seria a manutenção de uma cidade bem ordenada (vivere civile) fundada sobre a liberdade do povo.
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