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Outra agricultura é possível: Circuitos-curtos entre o produtor e o consumidor.

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Outra agricultura é possível: Circuitos-curtos entre o produtor e o consumidor.
É preciso apoio, afinal são os agricultores que vão garantir produtos de qualidade e vão defender as nossas nascentes para termos água limpa e saudável. 
A agricultura brasileira é oriunda de um tipo de capitalismo que tem uma vinculação direta com a propriedade da terra, e se dá sob o “comando da terra”, é o que conhecemos por capitalismo agrário, característico do Brasil. Esta natureza do capitalismo agrário brasileiro empurra o campesinato para um lugar social de negação e não reconhecimento. Wanderley, em certa literatura os definiu como “assalariados do solo”, “agricultores sem terra” e atualmente são considerados “agricultor familiar”. Nesta condição, os campesinos são obrigados a lutarem para alcançar as condições mínimas para sua reprodução garantindo a posse da terra, mas sofrem muitas consequências e passam por muitas dificuldades ao enfrentar o capital comercial e agroindustrial, o que os torna cada vez mais pobres e dependentes. 
Com o respaldo da ciência e da grande mídia, esta indústria agrícola moderna tem se colocado como modelo de salvação para a área rural, o homem do campo e o Brasil e persiste como referencial para as politicas dos governos, com grande influência no meio político. Cresce com uma imagem moderna e um modelo de empresário agrícola bem sucedido, que desenvolve uma empresa integrada a mercados de insumos e produtos e com um alto grau de mercantilização, seguindo a lógica de mercado e sendo administrada de forma empresarial, especializada, baseada em escolhas estratégicas rentáveis, centradas na procura e maximização dos lucros. O empresário se comporta como “homo economicus” e usa a vantagem competitiva para expandir o seu negócio e investir em um futuro, onde apenas sobreviverão as maiores e mais bem equipadas empresas. 
Este cenário, que se mostra possível e rentável, esconde uma dura realidade das famílias de camponeses, que vivem da agricultura, herança de um saber geracional, pois moram e vivem da terra há gerações, recebendo todo um saber dos seus antepassados, o que torna possível denomina-los de agricultores do campo ou camponeses. Com o passar do tempo receberam o nome de agricultor familiar, seja por que o governo definiu, por meio de uma politica de atendimento ou porque é a família de fato a sua razão de se manter no campo, o que importa é que este pequeno agricultor, que depende do campo, é o que mais precisa de apoio dos governos locais para avançar em outra forma de fazer agricultura. 
Afinal quem é este agricultor familiar (carrega um camponês adormecido) Muitos agricultores têm buscado outras saídas por que tiveram perdas e sofreram muito tentando se adequar ao projeto de modernização (mortes por uso de agrotóxico, dividas decorrentes de empréstimos etc) evitando se colocar como mais um no imenso mercado onde só sobrevivem os mais fortes e preparados. Viu roubado a sua capacidade de produzir, baseada num saber tradicional. Agora para fazer o que sempre fez agora é preciso um técnico, ele não é seu próprio mestre e necessita permanentemente de um mestre para instruí-lo. 
Este agricultor sobrevivente não é um personagem passivo, sem resistência diante da força do grande negócio agrícola. Ele constrói sua própria historia, mesmo vivendo com dificuldades e buscando se adaptar aos novos desafios do desenvolvimento rural. Este agricultor com sua família, apesar de forte, pede socorro simplesmente por que quer oferecer o melhor que sabe e tem para ofertar as nossas famílias urbanas, que também anseiam por alimentos saudáveis e frescos para si e seus familiares.
Uma nova identidade do produtor e do consumidor, esta selado com o pacto social entre os que buscam produtos de qualidade como garantia de qualidade de vida, saúde, bem-estar e portanto consumindo produtos mais naturais e saudáveis, que geralmente são reconhecidos na forma dos produtos orgânicos e da agroecologia e os que precisam produzir e para isso buscam autonomia, independência e condições financeiras e matérias para tentarem sobreviver com sua família no campo. 
A relação direta entre produtor e consumidor encurta o caminho para obtenção de qualidade de vida em ambos os lados. O consumidor urbano que vive na correria da cidade, com pó preto e todo tipo de poluentes e ainda sofre com racionamento de agua, espera-se que o agricultor seja um produtor de água, consciente, um valente e preparado guerreiro para nos ofertar o que tem de melhor, nos defender na cidade, mantendo a salvo a riqueza hídrica para nos e as futuras gerações e ainda espera deste agricultor produtos frescos e de boa qualidade para nossa mesa. 
Temos que avançar muito ainda, mas os circuitos curtos (encontros entre consumidores e produtores) em forma de feiras é uma forma de resistência, não no sentido de reagir, mas como uma forma de produção e ação, baseado na inovação, cooperação e autonomia entre sujeitos produtores e consumidores. Estas feiras acontecem em praças e ultimamente em alguns shoppings da Grande Vitoria e também na UFES, como projeto de extensão. 
Para superar a barreira da dependência e da insegurança, que tem como consequência uma posição subalterna e secundaria deste agricultor e sua família, é preciso apoio, afinal são eles que vão garantir produtos de qualidade e vão defender as nossas nascentes para termos agua limpa e saudável. Este apoio passa por novas politicas públicas dos governos locais, ouvindo e respeitando, de um lado o produtor e do outro o consumidor.
Estes agricultores que ainda acreditam na mudança investem em um novo modo de fazer agricultura e para isso se especializam e se tornam competentes e profissionais para produzir, sem perder suas raízes. Detém um saber técnico e cumulativo das gerações anteriores do conhecimento da terra e de como fazer atividade agrícola. Conhecem de modo detalhado a terra, as plantas e os animais. São comprometidos com o respeito a preservação da natureza e com um afeto especial pela terra e amor a profissão. Espera-se muito deles, mas afinal o que esta sendo feito para apoiar e favorecer o agricultor familiar (camponês)?

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