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CCJ0013-WL-D-AMMA-14-Modalidades das Obrigações V-02


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DIREITO CIVIL II
Profa. Dra. Edna Raquel Hogemann
AULA 14
MODALIDADES DAS 
OBRIGAÇÕES VI
AULA 14
CONTEÚDO DE NOSSA AULA
1. Obrigação natural
2. Dívida prescrita
• CASO CONCRETO 1
•
João Fernandez Saragoza, filho de espanhóis, saiu com os 
amigos para comemorar a vitória da seleção espanhola e 
resolveu que toda a despesa seria por sua conta. Lá pelas 
tantas descobriu que estava sem um tostão no bolso para 
pagar a conta do restaurante que totalizou R$560,00 
(quinhentos e sessenta reais).Os amigos de João fizeram uma 
“vaquinha” e conseguiram pagar a conta. Dois dias depois, 
Joâo pagou R$140,00 (cento e quarenta reais) a cada um dos 
4 amigos que com ele saíra. Uma semana depois, ficou 
sabendo que pagara indevidamente a Carlos Ricardo, pois este 
não teria contribuído para pagar a conta. No entanto, como já 
dera o dinheiro a Carlos, João nada mais poderia fazer.
a) Você, como advogado de João, o que o aconselharia em 
relação ao pagamento indevido?
b) E se Carlos se nega a devolver o dinheiro alegando direito de 
ficar com ele, estará correto?
• CASO CONCRETO 2
Quando morava na cidade de Ourinhos/SP João, diante de uma 
dificuldade, conseguiu um empréstimo com sua vizinha e ex-
namorada Maria, comprometendo-se a pagar a dívida em 12 
meses. João deve realmente esse dinheiro a Maria mas a 
dívida prescreveu, pois já se passaram mais de 10 anos desde 
então e ambos, inclusive, mudaram-se da cidade.
Ocorre que coincidentemente, João e Maria voltam a Ourinhos 
para passar a Páscoa de 2010. 
Mesmo sabendo da prescrição da dívida João resolveu pagar e 
doou uma jóia a Maria.
a) A que tipo de obrigação entre João e Maria o texto se refere 
após a prescrição da dívida com a doação da jóia?
b)Sabendo que a ingratidão do donatário extingue a doação, 
caso Maria venha no futuro a agredir João, tal doação se 
extinguirá? 
QUESTÃO OBJETIVA
(TRT da 2ª Região/FCC/2008 - Analista Judiciário - Área 
Judiciária) - A respeito da cessão de crédito, é INCORRETO 
afirmar:
(A) O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe 
competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter 
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.
(B) Na cessão de um crédito, salvo disposição em contrário, 
abrangem-se todos os seus acessórios.
(C) Independentemente do conhecimento da cessão pelo 
devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do 
direito cedido.
(D) Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a 
que se completar com a tradição do título de crédito cedido.
(E) Salvo estipulação em contrário, o cedente responde pela 
solvência do devedor.
Obrigação NATURAL
Inicialmente é importante recordar os seguintes conceitos:
a) obrigação civil, que encontra guarida no direito positivo, 
como o dever de prestar alimentos aos parentes (CC, art. 
1.694);
b) obrigação moral, marcada pelo não dever jurídico, como, 
por exemplo, ir à missa aos domingos ; aqui não há devedor 
ou credor, juridicamente falando.
c) obrigação natural, delineada pela 
presença de um credor e um devedor, 
faltando-lhe, todavia, a garantia jurídica 
por meio da qual o devedor pode ser 
compelido a cumprir a avença. 
• muito embora a obrigação civil produza 
todos os efeitos jurídicos, a obrigação 
natural não, pois, em certa medida, 
corresponde a uma obrigação moral. Há 
autores que a chamam de obrigação 
degenerada. 
• São exemplos de obrigação natural: 
obrigação de dar gorjeta, obrigação de 
pagar dívida prescrita (art. 205), obrigação 
de pagar dívida de jogo (art. 814), etc.
A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o 
devedor só vai pagar se quiser, bem diferente da 
obrigação civil. 
Sabemos que se uma dívida não for paga no vencimento o 
direito do credor assume uma pretensão, e a dívida se 
transforma em responsabilidade patrimonial. 
Mas tratando-se de obrigação natural, o credor não terá a 
pretensão para executar o devedor e tomar seus bens 
(art.189). 
Assim, a dívida natural existe, mas não pode ser 
judicialmente cobrada, não podendo o credor recorrer à 
Justiça.
• Conceito: obrigação natural é aquela a 
cuja execução não pode o devedor ser 
constrangido, mas cujo cumprimento 
voluntário é pagamento verdadeiro.
• Mesmo tratando-se de uma obrigação moral, o 
pagamento de obrigação natural é pagamento 
verdadeiro e o credor pode retê-lo. 
• Então se João paga dívida prescrita e depois se 
arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o 
credor tem direito à retenção do pagamento (art. 882). 
• Como diz a doutrina, “a obrigação natural não se afirma 
senão quando morre”, ou seja, é com o pagamento e 
sua extinção que a obrigação natural vai existir para o 
direito, ensejando ao credor a soluti retentio.
Mas não se confunda obrigação 
natural com obrigação inexistente
• Se João Roberto paga dívida inexistente o credor não 
pode ficar com o dinheiro, e João terá direito à repetitio 
indebiti ( repetição do indébito; em direito “repetir” 
significa “devolver”, e “indébito” é o que não é devido). 
Então quem efetua pagamento indevido pode exigir a 
devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que 
outrem não enriqueça sem motivo. O credor de 
obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem 
recebe dívida inexistente não (ex: pago a meu credor 
João da Silva, mas por engano faço o depósito na conta 
de outro João da Silva, que terá que devolver o dinheiro, 
art. 876). Na obrigação natural não cabe a repetitio 
indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio.
Correntes Doutrinárias
• Miguel Maria de Serpa Lopes mergulhou 
fundo no tema, trazendo importante 
contribuição para a seara civilista, 
analisando as principais correntes 
doutrinárias pertinentes às obrigações 
naturais. A seguir, apresentamos um 
breve resumo das principais correntes 
doutrinárias analisadas pelo renomado 
civilista.
A Doutrina Clássica de Aubry
• Aubry , civilista francês, classificou as obrigações em duas 
categorias, quais sejam: a) as primeiras, são as obrigações 
não sancionadas pelo legislador, figurando entre elas as 
dívidas de jogo; b) as segundas, originárias 
necessariamente das obrigações civis, perdiam esta 
característica em razão de uma utilidade social, 
encontrando-se entre elas os débitos prescritos.
• Classificou as obrigações em duas categorias, quais sejam: 
a) as primeiras, são as obrigações não sancionadas pelo 
legislador, figurando entre elas as dívidas de jogo; b) as 
segundas, originárias necessariamente das obrigações 
civis, perdiam esta característica em razão de uma utilidade 
social, encontrando-se entre elas os débitos prescritos.
A Teoria de Savatier
• Savatier traz uma doutrina contrária a tudo que já se 
havia afirmado, aduzindo que a obrigação natural era 
um dever moral degenerado, observando que os 
deveres morais são obrigatórios por si mesmos, em 
virtude da força legal da eqüidade.
A Doutrina de Ripert
• Ripert, por seu turno, parte do pressuposto que 
é sempre na idéia do cumprimento de um dever 
que uma pessoa realiza um ato jurídico, razão 
por que a obrigação natural se confunde com o 
dever moral, matéria que paira no terreno da 
consciência.
A Concepção de J. Bonnecase
• Bonnecase atribuiu à obrigação natural um caráter 
eminentemente técnico, informando que ela é distinta, 
essencialmente, de um lado do dever moral e, de outro, 
da obrigação civil.
A Doutrina de Pacchioni
Para Pacchioni em vão se procura um fundamento para a 
obrigação natural fora do direito positivado, chegando à 
conclusão de que se trata de um débito sem 
responsabilidade.
Por que a obrigação natural interessa ao Direito se 
corresponde a uma obrigação moral? Porque a 
obrigação natural, mesmo sendo moral, possui um efeito 
jurídico: solutiretentio ou retenção do pagamento.
Mesmo tratando-se de uma obrigação não civil, o 
pagamento de obrigação natural é pagamento 
verdadeiro e o credor pode retê-lo.
Dívida prescrita
• No tocante à dívida prescrita, estabelece o 
art. 882 do Código Civil de 2002:
Art. 882. “Não se pode repetir o que se 
pagou para solver dívida prescrita, ou 
cumprir obrigação judicialmente 
inexigível”.
• A dívida prescrita caracteriza-se 
realmente pela sua inexigibilidade. 
Argüida a prescrição liberatória, impõe-se-
lhe a repulsa pelo juiz (art. 194). 
• Paga, porém, pelo devedor, a obrigação 
adquire eficácia jurídica; o pagamento 
torna-se irrepetível, ao influxo e sob o 
império da soluti retentio.
As dívidas prescritas são, tradicionalmente, consideradas 
obrigações naturais.
Em sua origem, são obrigações civis que, por força do 
fenômeno legal da prescrição, transformaram-se em 
naturais; por isso se denominam obrigações civis 
degeneradas. 
De fato, a lei dá ao devedor natural a plena liberdade de 
cumprir ou não a obrigação natural. Portanto, a 
obrigação natural contém em si uma relação creditória, 
pois pode ser cumprida voluntariamente.
É certo que o instituto da prescrição foi criado como uma 
medida de ordem pública para proporcionar segurança 
nas relações jurídicas, que restariam comprometidas 
diante da instabilidade social oriunda do fato de 
possibilitar o exercício da ação por prazo indeterminado. 
Contudo, é necessário que se realize um juízo de 
eqüidade entre a prescrição da dívida e o seu futuro 
adimplemento, não mais sendo uma obrigação civil, mas 
sim natural.
• A dívida, lato sensu, é uma relação 
bipolar, onde figuram credor e devedor. 
Em conseqüência disso, mesmo que o 
devedor esteja acobertado pelo instituto 
prescrição, o credor ficará eternamente 
com o déficit oriundo dessa relação.
• Em suma, o adimplemento voluntário de dívida prescrita 
é uma obrigação natural que influencia positivamente no 
oferecimento do crédito à população, enaltece os 
valores honrosos do devedor, bem como contribui 
diretamente para o fortalecimento das relações sociais. 
“Trata-se, portanto de um dever de consciência, em que 
cada um deve honrar a palavra empenhada, cumprindo 
a prestação a que se obrigou” (GAGLIANO; PAMPLONA 
FILHO)
O direito positivo, por 
exemplo, não 
obriga ao 
pagamento de 
duplicata prescrita, 
ao passo que para 
o direito natural 
esse pagamento 
seria devido e 
correto.
• As dívidas prescrevem quando vencem o prazo legal 
para serem cobrados, sem que o credor tome as 
providências para cobrança.
• Exemplo: O IPTU de um imóvel tem 5 anos de prazo 
para ser cobrado após a constituição definitiva do 
crédito tributário. Caso a Prefeitura não ajuize uma ação 
de execução fiscal contra o devedor neste prazo de 5 
anos, não poderá mais fazê-lo e a dívida deverá ser 
excluída.
• Mas se o proprietário pagar espontaneamente este 
IPTU, não poderá reclamar a devolução deste 
pagamento depois.
Por hoje é só!
Não esqueça de ler o material didático para a próxima aula 
e de fazer os exercícios que estão na webaula.