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Resenha: "O avanço do regresso: pode-se falar de bem-estar ou mal-estar social?"

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PATRÍCIA DE ALMEIDA DE PAULA
 
 
RESENHA:
 “O avanço do regresso: pode-se falar de bem-estar ou mal-estar social?”
-Londrina-
2013
PATRÍCIA DE ALMEIDA DE PAULA
Resenha apresentada à disciplina Pesquisa e Ensino I - 1SOC732, do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, como parte das atividades propostas no primeiro semestre de 2013.
Docente: Thiago Leibante.
 
 
- Londrina-
2013
1 Acadêmica do curso de Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina.
A OBRA
Os condenados da cidade. O retorno do recalcado: Violência urbana, “raça” e dualização em três sociedades avançadas. WACQUANT, L. Rio de janeiro: Revan, 2001. R$ 45,00.
“O avanço do regresso: pode-se falar de bem-estar ou mal-estar social?”
Patrícia de Almeida de Paula [1]
 Quando se fala em sociedades avançadas, ou em países de Primeiro Mundo é inevitável que o pensamento de muitas pessoas associe a ideia de moradia, emprego, conforto, bem-estar social, isto é, satisfação dos cidadãos. Essa ideia costuma ser reproduzida pelas pessoas, sobretudo por aquelas que se encontram em situação precária, e veem nos países de Primeiro Mundo o verdadeiro “paraíso”, o problema é que os aspectos fenomênicos nem sempre correspondem a essência dos fatos, e a grande indagação é: o “paraíso” está ao alcance de quem?
Sociólogo francês, nascido em 1960, na cidade de Montpelier, um estudioso das questões urbanas, Loic Wacquant, já publicou centenas de artigos em revistas, inclusive suas obras apresentam grande viés para as questões como pobreza e desigualdade racial.
 É partindo desse viés que em sua obra, ele demonstra a intenção em revelar os problemas sociais presentes nas sociedades avançadas e indo além evidenciar o real caráter das violências que afligem os indivíduos que são excluídos e marginalizados socialmente.
No capítulo em questão Wacquant analisa que os países de Primeiro Mundo no período de pós-guerra apresentaram um grande crescimento, tanto que as ricas sociedades do Ocidente capitalista passaram a se ver como pacíficas, coesas e igualitárias. Países como EUA, França e Grã-Bretanha adotaram uma visão de si próprios como crescentemente democráticos, voltados para a diminuição das desigualdades de status, especialmente as derivadas de posições e identidades “atribuídas”.
A compreensão mantida por essas sociedades de Primeiro Mundo era de que nesse período condições como classe, etnicidade ou “raça” se tornariam cada vez menos relevantes no acesso as posições sociais valorizadas e as oportunidades de vida.
Diante destes aspectos a grande promessa girava em torno da erradicação da pobreza e desigualdade, devido à ampla provisão de bens públicos como educação, saúde, segurança pelo Estado de bem-estar (no caso dos países europeus), ou ainda via os efeitos do crescimento sustentado pelo livre mercado (EUA). Atingidas por uma consolidação industrial, expansão dos setores de serviços, previa-se que nestas sociedades avançadas às desigualdades e atrasos eram fadados a desaparecer com a plena modernização da nação, e que a porosidade da rígida estrutura de classe abria caminho para sociedades unificadas e homogêneas, sociedades livres de problemas concernentes às questões raciais e étnicas.
Diante dessa promessa o autor analisa três sociedades de Primeiro Mundo (França, Inglaterra e EUA) por volta dos anos 90, onde está havendo explosões de insatisfação pública em meio a crescentes tensões étnicas e raciais, protestos e confrontos sempre envolvendo polícia e jovens de áreas pobres e segregadas dos três países.
Tentando realizar um quadro de estudo do problema Wacquant inter-relaciona não a violência e sim as violências: a violência vinda de baixo que conjuga os distúrbios raciais e as revoltas da fome; como também a violência vinda de cima que culmina em desproletarização, segregação e estigmatização. No primeiro caso se revela a combinação de duas lógicas- protestos contra a injustiça racial (tanto de negros, quanto de imigrantes) junto a levantes contra a privação econômica e desigualdades sociais (levantes mistos de composição multiétnica). São reivindicações por empregos, escolas decentes, moradias, tratamento justo pela polícia, revoltas não só contra a discriminação racial, mas também contra a pobreza, a recessão, o corte de gastos sociais que atingem a maioria dos cidadãos.
O segundo caso diz respeito à violência que o Estado pratica desproletarizando, segregando e estigmatizando a maioria dos cidadãos. O que revela que não há nada de irracional ou incivilizado com a inquietação pública destes pobres urbanos da América do Norte ou da Europa mas que na verdade tal inquietação é uma resposta contra a violência estrutural que recai sobre os mesmos pelas transformações econômicas e sociopolíticas que vem ocorrendo e resultando numa polarização de classes que junto a segregação racial ou étnica produz a dualização da metrópole marginalizadora e provedora da redundância social e econômica dos pobres. 
 A maioria é atingida pelo desemprego que a longo prazo acaba por contribuir à informalidade, os imigrantes que buscam melhores condições só encontram exílio em bairros decadentes e de recursos escassos que intensificam a segregação espacial, esses locais passam a ser vistos como acúmulo de pobres e marginais degradados moralmente, indivíduos dos quais é preciso manter distanciamento.
 Segundo o autor todos esses fatores juntos geram uma atmosfera de desânimo, desespero, medo, revolta, insegurança. O policiamento se torna um dilema: passa a ser visto como indesejável e perseguidor. Não se vê um mecanismo político apto a responder as demandas coletivas ou então apenas medidas paliativas que não resolvem o problema são adotadas, em países como os EUA as medidas são meramente repressivas, o abismo entre ricos e pobres aumenta cada vez mais, as elites se cercam de todos os problemas e dos necessitados, e com uma distância cada vez maior entre as instituições e a sociedade o que resta é a tomada das ruas, os protestos e confrontos.
Assim o autor direciona ao fato do desafio que é colocado à cidadania. Os protestos revelam as desigualdades e a falta de proteção social para com as camadas mais pobres da sociedade, a cidadania não foi nem está assegurada pelo contrário as camadas pobres travam uma luta para tentar conquistá-la continuamente, questiona-se se há políticas eficazes para impedir a fragmentação dessa cidadania, a ideia de uma sociedade harmoniosa e democrática se desvalece, não se vislumbra bem-estar social, mas sim uma situação de profundo mal-estar da maioria e isso longe de acontecer apenas nos países de terceiro mundo como nos mostra Wacquant é situação presente também nas sociedades avançadas.
A obra um retrato fiel de uma situação nos revela aspectos de uma realidade enfrentada na maioria dos países, não sendo simplesmente uma agregação de ideias acerca das questões “raça”, desigualdade, violência urbana e sociedades avançadas, e sim uma obra estruturada por pressupostos plausíveis, argumentos consistentes, embasados na realidade. Utilizando uma extensa bibliografia Wacquant consegue lidar com o tema de forma clara. Sem dúvida sua obra merece ser lida por aqueles que se preocupam em entender e refletir acerca dos problemas sociais.
 O livro é instrumento para elevarmos nossa mente à reflexão. É uma fonte de informações a ser usada no meio acadêmico e social, fornecendo elementos para o entendimento das questões que permeiam muitos países, inclusive o nosso e que revela os desafios a serem enfrentados pela cidadania .
Referência bibliográfica
WACQUANT, Loic. O retorno do recalcado: Violência urbana, “raça” e dualização em três sociedades avançadas. In:_____ Os condenados da Cidade. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p. 21-41.

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