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Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Weber e a Interpretação do Brasil Prof. Giorgio Romano 6a aula_2 http://tidia.ufabc.edu.br:8080/ Membership: Prof. Giorgio Romano Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Metodo weberiano: explicar a singularidade da formação social brasileira = explicar o atraso No Brasil não houve revolução burguesia (plutocracia?) Núcleo capitalista motor da história (centro de decisão), mas não revoluciona a sociedade (ex. persistência da velha oligarquia) Capitalismo moderno adaptou-se a estruturas sócio-economicas de origem colonial/ pré- capitalista/ dependente=> capitalismo selvagem (tendência à exclusão). Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Modernização do arcaico + arcaização do moderno: transformação superficial da realidade socio-econômica degradação material/moral do trabalho despotismo nas relações humanas privilegiamento classes possuidores modernização controlada de fora (crescimento dependente) Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Interpretação tradicional singularidade: Estado ibérico como “despotismo oriental” do Weber Estado ao abafar o mundo dos interesses privados e inibir a livre iniciativa, teria comprometido a história das instituições com concepções organicistas da vida social e levado à afirmação da racionalidade burocrática em detrimento da racional-legal => Estado parasitário/ neopatrimonial Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Patrimonialismo –forma de dominação tradicional o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder soberano, e os servidores possuem status de nobreza. A res publica não é diferenciada das res principis. Por causa disso, o nepotismo e a corrupção são inerentes a esse sistema de dominação. o trato da coisa pública pela autoridade como se privado fosse o exercício do poder originário do cargo público para buscar fins estritamente particulares Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Raiz do patrimoniliamo no Brasil ? A sua natureza pretensamente quase oriental? Outra interpretação: na origem recursos públicos escassos => funcionário público tornar-se um executivo que apenas gere os meios da administração, manteve-se preservada a situação em que ele detinha sua propriedade. Isto significa, evidentemente, que ele os podia controlar autonomamente, pois ele os possuía. Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Interpretação Revolução 1930: teria retomado o velho fio ibérico de precedência do Estado sobre a sociedade civil, a era Vargas entendida como contínua ao ciclo dominado pelo eixo Pombal—D. Pedro II, uma projeção do Império, uma vez que expressaria as mesmas "vigas mestras da estrutura" ao traduzirem a realidade patrimonialista na ordem estatal centralizada (Faoro) => Revolução 9 de julho: a Prússia Paulista x Estado parasitário Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ou: Revolução de 1930 como resposta à crise de legitimidade da Primeira República, ampliando o alcance da universalização do Estado, impondo-lhe maior autonomia quanto à esfera dos interesses — no caso, os dominantes em São Paulo —, a fim de permitir a incorporação ao sistema da ordem dos personagens emergentes da vida urbana, como militares, empresários, operários e intelectuais. => Revolução 9 de julho como reacionário Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Paradigma paulista, longe de representar uma linha de oposição entre moderno/atraso, representação/cooptação, ordem racional-legal/ patrimonialismo, na verdade, aponta para uma composição ambígua dessas polaridades, imprimindo à matriz do interesse a marca de um particularismo privatista antípoda à formação da cultura cívica=> estratos sociais privilegiados: apropriação externa de parte substancial do excedente econômico transferir p/ classes baixas custo do privilegiamento Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * No plano estrutural: interesses intocáveis iniquidades exorbitantes Complexo padrão de mercantilização do trabalho: assalariados integrados assalariados semi-integrados excluídos >> dificuldade de organização de classe. Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Interpretação/ilusão weberiana: A transição da ordem senhorial-escravocrata para a ordem social competitiva => revoluções passivas => processo progressivo da realização do moderno=> o sistema de orientação racional da ação tende a se generalizar, tornando-se, por fim, hegemônico Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ambigüidade constitutiva à formação brasileira: Do lado econômico: o "cálculo exato" do homo œconomicus da cultura capitalista do café e dos tipos sociais emergentes com a expansão dos negócios e da industrialização De lado político: a preservação do estilo senhorial, a extração do consentimento e o exercício da coerção por métodos e formas patrimoniais Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Singularidade do Brasil: coexistência moderno com a ordem patrimonial => criando para a burguesia a possibilidade de extrair vantagem tanto do moderno como do atraso: a burguesia se compromete, por igual, com tudo que lhe fosse vantajoso: e, para ela, era vantajoso tirar proveito dos tempos desiguais e da heterogeneidade da sociedade brasileira, Capitalismo como estilo de vida (ethos)? Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Werneck: problema não parte do Estado, mas das relações sociais de padrão patrimonial vigência do princípio de dominação pessoal, base pouco propícia para a orientação racional da ação da sociedade civil => a vida privada prolongando-se para dentro da vida pública, "mantendo, também nesta, a dominação pessoal" => Não analisar o Estado como instância autônoma da sociedade: caracterizar a natureza efetiva de Estado Instrumento. Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Leitura (neo)liberal do problema do patrimonialismo: Ação paristária do Estado e sua elite (estamento) sobre a sociedade Falsa oposição entre mercado “ideal” e o Estado “corrupto” Se torna de forma implícita um equivalente funcional para à crítica à intervenção estatal Outra visão: Estado pode agir das mais diversas maneiras, dependendo da correlação de forças políticas que esteja no controle do Estado Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Werneck: Projeto de modernização: 1) erradicar as formas de patrimonialismo societal preservadas no processo de modernização da sociedade brasileira, e 2) por um fim na tradicional capacidade da esfera privada de invadir a esfera pública, convertendo-a em um instrumento seu. Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Como avaliar o populismo do Getúlio Vargas? como um fiat do novo, cumprindo o seu papel em um processo de conservação com mudança controlada, pondo o interesse — e não apenas dos trabalhadores — sob a tutela da racionalização burocrática do Estado ou Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * 2) um recurso do atraso (e contra ele se deveria insurgir o interesse do trabalhador) manipulação das massas trabalhadoras, mediatizada pela ação carismática de um líder, as quais seriam incorporadas ao sistema da ordem pelo duplo caminho de acesso aos direitos sociais e pelo uso de cursos simbólicos de integração, com o que se procurava levá-las à abdicação da autonomia enquanto classe e à perda de distinção dos seus interesses em favor dos interesses da coalizão de elites à testa do Estado Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Nacional-desenvolvimentismo: atraso/modernoindustrialização politicamente induzida, mas sem liberar a manifestação da estrutura de classes e sem deslocar as elites tradicionais do interior do Estado => compatibilizando os ideais de modernização econômica das novas elites com a preservação do domínio das oligarquias tradicionais Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Até hoje (?): moderno interesse das elites econômicas de São Paulo, agora como antes, na Primeira República, somente se faz hegemônico no campo da política ao se coligar com as oligarquias (utilizam do Estado e dos seus recursos a fim de reciclar e atualizar o seu domínio e identidade de classe) => reprodução exclusão/ fragmentação social Weber e o Brasil Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Referências: Florestan Fernandes. Capitalismo Dependente e classes sociais na AL A revolução burguesa no Brasil Raimundo Faoro Os donos do poder Luiz Werneck Vianna A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil Weber e a interpretação do Brasil Weber e o Brasil * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
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