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Ponto 8 Resumão (150p.) TRF5 2016

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PONTO 8
DIREITO CONSTITUCIONAL. Da defesa do Estado e das instituições democráticas. O Estado de Defesa e o Estado de Sítio. Das Forças Armadas. Da Segurança Pública. Nacionalidade. Direitos políticos e partidos políticos. Alistamento. Elegibilidade e inelegibilidade. Suspensão e perda dos direitos políticos. Sufrágio: natureza e forma. 
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS (Título V da CF/88):
Ao tratar do tema da “Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, a CF/88 estabeleceu dois grupos: a) instrumentos ou medidas excepcionais que objetivam manter ou restabelecer a ordem nos momentos de anormalidades constitucionais, instituindo o sistema constitucional das crises, composto pelo Estado de Defesa e pelo Estado de Sítio (legalidade extraordinária); e, b) defesa do País ou sociedade por intermédio das Forças Armadas e da segurança pública.
- Defesa do Estado: pode ser entendida como defesa do território nacional contra eventuais invasões estrangeiras (arts. 34, II, e 137, II - intervenção federal e estado de sítio); defesa da soberania nacional (art. 91 – Conselho de Defesa Nacional); e a defesa da Pátria (art. 142 – forças armadas).
- Defesa das instituições democráticas: em caso de ruptura do equilíbrio da ordem constitucional e dos grupos de poder, extrapolando os próprios limites constitucionais, fala-se na necessidade do surgimento do sistema constitucional das crises, definido como o conjunto ordenado de normas constitucionais que, informadas pelos princípios da necessidade e da temporariedade, têm por objeto as situações de crises e por finalidade a manutenção ou o restabelecimento da normalidade constitucional. Os aludidos princípios determinam que: a) os meios de resposta tenham sua executoriedade restrita e vinculada a cada anormalidade em particular e, ainda, ao lugar e tempo específicos; b) o poder de fiscalização política dos atos de exceção seja atribuído ao poder legislativo; c) haja possibilidade de controle judicial, que deverá ser realizado a tempore e a posteriori. A necessidade se caracteriza pela ocorrência de situações de extrema gravidade que demandem a adoção de medidas excepcionais para a manutenção da estabilidade da ordem constitucional e das instituições democráticas. A temporariedade impõe um prazo determinado para a duração do estado de legalidade extraordinária, o qual só pode perdurar legitimamente enquanto houver a situação emergencial.
ESTADO DE DEFESA (art. 136, CF):
Objetivo: preservar ou prontamente restabelecer a ordem pública ou a paz social, em locais restritos e determinados. O instituto possui caráter preventivo e regional.
Ato privativo do PR (art. 84, IX, CF).
Pressupostos:
	- De fundo: ameaça à ordem pública ou a paz social provocada por:
- Grave e iminente instabilidade institucional; ou 
- Calamidade de grandes proporções na natureza.
	- De forma:
		- Prévia oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional: manifestação obrigatória, mas não vinculante.
		- Expedição de decreto pelo PR, que deverá conter o tempo de duração da medida, as áreas abrangidas e as medidas coercitivas que vigorarão, dentre as listadas no art. 136, §1º, CF.
* Tempo máximo de duração: 30 dias, prorrogáveis uma vez, por igual período (se persistirem as razões que justificaram a decretação).
		- Submissão do ato, em 24h, ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta em 10 dias. Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa. Salienta-se que, caso o CN esteja em recesso, será convocado extraordinariamente no prazo de 5 dias.
* O CN continuará funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. Em hipótese alguma, se permite o constrangimento do Poder Legislativo, sob pena de crime de responsabilidade (art. 85, III).
Efeitos:
	- Restrições (não supressão) aos direitos de reunião (ainda que no seio de associações), sigilo de correspondências e sigilo de comunicação telegráfica e telefônica.
	- Restrição à garantia do art. 5º, LXI, CF: a prisão por crime contra o Estado poderá ser determinada pelo executor da medida pelo prazo máximo de 10 dias. O executor da medida comunicará imediatamente a ocorrência da prisão, juntamente com declaração do estado físico e mental do deito, ao juiz competente, que a relaxará, caso lhe repute ilegal. Caso autorizada a prisão pelo juiz, esta poderá extrapolar o prazo de 10 dias.
				* é vedada a incomunicabilidade do preso.
	- Na hipótese de calamidade, ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos (respondendo a União pelos danos e custos decorrentes).
ESTADO DE SÍTIO (arts. 137 a 139, CF):
Objetivo: estado de legalidade extraordinária, justificado por comoção grave de repercussão nacional, ineficácia das medidas tomadas durante o estado de defesa, declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira.
Medidas de suspensão temporária e localizada de garantias constitucionais apresentando maior gravidade do que o Estado de defesa.
Ato privativo do PR (art. 84, IX, CF).
Pressupostos:
	- De fundo:
		- Comoção grave de repercussão nacional.
		- Ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa.
		- Declaração de estado de guerra.
		- Resposta a agressão armada estrangeira.
	- De forma:
- Prévia oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional.
		- Prévia autorização do CN, por maioria absoluta de cada uma das Casas, em atendimento a solicitação fundamentada do PR.
* Se em recesso, o Presidente do SF o convocará extraordinariamente para se reunir dentro de 5 dias.
* o CN permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas. Em hipótese alguma, se permite o constrangimento do Poder Legislativo, sob pena de crime de responsabilidade (art. 85, III).
* Caso decrete sem essa autorização, o PR responderá por crime de responsabilidade.
		- Expedição de decreto pelo PR, que indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas.
* Tempo máximo de duração:
	- Comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia das medidas do estado de defesa: 30 dias, prorrogáveis, de cada vez, por até 30 dias (diferente do estado de defesa, admite sucessivas prorrogações).
	- Declaração de guerra ou agressão armada estrangeira: todo o tempo que perdurar a guerra ou agressão.
* Enquanto o estado de defesa se refere a locais restritos e determinados, o estado de sítio possui âmbito nacional. Somente após a decretação, o PR especificará as áreas abrangidas pelas medidas. 
		- Publicado o decreto, o PR designará o executor das medidas e as áreas abrangidas.
Efeitos: 
Em caso de estado de sítio decretado em razão de comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia de medida do estado de defesa, poderão ser tomadas as seguintes medidas coercitivas (por delegados do PR, em geral, militares):
	- Obrigação de permanência em localidade determinada.
	- Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns.
	- Restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo de comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensam radiodifusão e televisão, na forma da lei, não abrangendo tal restrição a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
	- Suspensão da liberdade de reunião.
	- Busca e apreensão em domicílio.
	- Intervenção nas empresas de serviços públicos.
	- Requisição de bens.
	Já em caso de estado de sítio decretado em razão de estado de guerra ou agressão armada estrangeira, qualquer garantia constitucional poderá ser suspensa, desde que: a) tenham sido observados os princípios da necessidade e da temporariedade (enquanto durar a guerra ou resposta a agressão armada estrangeira); b) tenha havido prévia autorização por parte do Congresso Nacional; c) nos termos do art. 138, caput, tenham sido indicadas, no decreto de estado de sítio, a sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarãosuspensas. Ademais, devem ser observadas as restrições dispostas no art. 4º, I, do Pacto de Direitos Civis e Políticos e no art. 27, 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), em conformidade com o que prevê o art. 5º, §2º, CF. Senão vejamos:
Art. 4º: Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
Artigo 27 - Suspensão de garantias
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.
	CONTROLE POLÍTICO PELO PODER LEGISLATIVO (CN):
	ESTADO DE DEFESA
	ESTADO DE SÍTIO
	Imediato: após a decretação do Estado de Defesa, o PR submeterá o ato com a respectiva justificativa ao CN, que somente aprovará a decretação por maioria absoluta de ambas as Casas Legislativas editando o respectivo Decreto Legislativo.
	Prévio: PR, para a decretação, depende de prévia e expressa autorização do Congresso Nacional. Se decretar tal estado sem essa autorização, incorre em crime de responsabilidade.
	Concomitante: a mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao Estado de Defesa e ao Estado de Sítio (art. 140 da CF).
	Posterior ou Sucessivo: nos termos do art. 141, parágrafo único, da CF, logo que cesse o Estado de Defesa ou o Estado de Sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo PR, em mensagem ao CN, que apreciará sua legalidade e constitucionalidade, podendo, em caso de abuso, ocorrer a prática de crime de responsabilidade.
 
	CONTROLE JUDICIAL, JURÍDICO OU JURISDICIONAL
	ESTADO DE DEFESA
	ESTADO DE SÍTIO
	Concomitante: nos termos do art. 136, §3º, haverá controle, pelo Judiciário, da prisão efetivada pelo executor da medida. Ademais, qualquer lesão ou ameaça a direito não poderá deixar de ser apreciada pelo Poder Judiciário, devendo observar obviamente os limites constitucionais (art. 136, §1º, CF). Sendo possível tal controle por meio de mandado de segurança, habeas corpus ou outra medida jurisdicional.
	Concomitante: qualquer lesão ou ameaça a direito, abuso ou excesso de poder durante a sua execução não poderão deixar de ser apreciados pelo Poder Judiciário, observados, é claro, os limites constitucionais da “legalidade extraordinária”, seja por via do mandado de segurança, do habeas corpus ou de qualquer outro remédio.
	Sucessivo ou Posterior: nos termos do artigo 141, caput, CF, cessado o Estado de Defesa ou o Estado de sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
O juízo de conveniência e oportunidade para a decretação do Estado de Defesa e do Estado de Sítio cabe ao Presidente da República, não estando sujeito à apreciação pelo Judiciário.
- Cessada a situação excepcional, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos, bem como a indicação das restrições aplicadas (art. 141, pú, CF).
- O desrespeito dos requisitos e pressupostos constitucionais pelo PR acarreta crime de responsabilidade, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal. 
DAS FORÇAS ARMADAS (arts. 142 e 143, CF):
- Constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, instituições nacionais permanentes (não podem ser dissolvidas, salvo por decisão da Assembleia Nacional Constituinte) e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do PR, que tem por atribuições nomear os comandantes de cada uma das Forças, promover seus oficiais gerais e nomeá-los para os cargos que lhe são privativos (art. 84, XIII, com a redação dada pela EC n.º 23/99). Destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem (estas duas últimas de maneira subsidiária, pois são da competência primária das forças de segurança pública, e dependem de iniciativa dos legítimos representantes de qualquer dos Poderes – Presidente do CN, PR ou Presidente do STF).
- A Emenda Constitucional nº 23/99 aboliu os ministérios militares substituindo-os pelo Ministério da Defesa e criou os cargos de Comandante do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
- SV n.º 6: “não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial”.
- Algumas Regras:
- A fixação e modificação dos efetivos das Forças Armadas dependem de lei de iniciativa do PR (art. 61, § 1º, I, CF).
- Princípio da obrigatoriedade do serviço militar (art. 143, CF): o serviço militar é obrigatório, admitida, em tempo de paz, a escusa de consciência (crença religiosa, convicção filosófica ou política), desde que cumprida prestação alternativa, sob pena de perda dos direitos políticos (art. 15, IV, CF).
- Art. 142, §1º, CF: LC estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.
- Aos militares aplicam-se as seguintes disposições, além de outras previstas por lei:
	- as patentes são conferidas pelo PR e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados.
 - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei, salvo se, exercendo cargo militar de profissional da saúde – com profissão regulamentada -, venha, também, a exercer cargo, emprego ou função pública com as mesmas características, porém, de natureza civil, hipótese em que será permitida ao militar a cumulação (EC 77/2014).
- o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública temporária, não eletiva, ainda que da AI, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo, depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei, salvo se, exercendo cargo militar de profissional da saúde – com profissão regulamentada -, venha a exercer cargo, emprego ou função pública civil também privativo de profissional da saúde com profissão regulamentada (EC 77/2014).
- ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.
- o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos.
- perda do posto e da patente: apenas se julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunalmilitar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra. O oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença judicial transitada em julgado, será submetido ao processo visando à declaração de indignidade ou incompatibilidade. 
- aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII (décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria), XII (salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei), XVII (gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal), XVIII (licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias), XIX (licença paternidade, nos termos fixados em lei) e XXV (assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas) e no art. 37, incisos XI (teto dos servidores públicos), XIII (é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público), XIV (os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores) e XV (irredutibilidade dos vencimentos); e 37 XVI, c, (possibilidade de acumulação de dois cargos de profissional da saúde com profissão regulamentada) (EC 77/2014).
- aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal.
- a lei disporá sobre o ingresso nas forças armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideras as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra. (O STF definiu que a fixação do limite de idade tem de ser por lei em sentido formal, nos exatos termos da literalidade do art. 142, § 3.º, X, da CF/88, não se admitindo a definição dos preceitos por regulamento, como são os editais de concursos). 
- por fim, o §2º do art. 142 da CF/88 estabelece a vedação da garantia constitucional do habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. No entanto, o STF vem reconhecendo a possibilidade de concessão do writ em relação a eventuais irregularidades FORMAIS no processo, tais como cerceamento de defesa ou outras ilegalidades, incidindo a restrição tão-somente quanto ao mérito do ato.
DA SEGURANÇA PÚBLICA (art. 144, CF):
Enquanto a Segurança Nacional refere-se às condições básicas de defesa do Estado, a Segurança Pública trata da manutenção da ordem pública interna, buscando desenvolver atividades de vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas. Afastadas as áreas de atribuição das polícias da União (polícia federal, polícia rodoviária federal e policia ferroviária federal), o remanescente é de atribuição da organização policial dos Estados, que se não cumprida poderá dar ensejo à intervenção federal.
O objetivo fundamental da segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio e se implementa por meio dos seguintes órgãos (art. 144, I a V, CF/88): polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares. Trata-se de rol taxativo e deverá ser observado no âmbito dos demais entes federativos, que não poderão criar novos órgãos distintos daqueles designados pela Constituição Federal. 
A atividade policial divide-se, então, em duas grandes áreas: administrativa e judiciária. A polícia administrativa (polícia preventiva ou ostensiva) atua preventivamente, evitando que o crime aconteça. Já a polícia judiciária (polícia de investigação) atua repressivamente, depois de ocorrido o ilícito penal, exercendo atividades de apuração das infrações penais cometidas, bem como a indicação da autoria. Não lhe cabe a promoção da ação penal, atribuição essa privativa do Ministério Público nas ações penais públicas, na forma da lei (art. 129, I, CF/88). 
A União tem competência para fixar normas gerais sobre polícias militares e civis (arts. 22, XXI, e 24, XVI, CF).
A atividade de segurança pública deverá ser custeada exclusivamente com recursos provenientes de impostos e não por taxas.
Tanto a União quanto os Estados possuem suas polícias, que são órgãos permanentes estruturados em carreiras (atividades típicas de Estado).
De acordo com o art. 144, § 9º, da CR/88, os servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados no referido artigo serão remunerados exclusivamente mediante regime de subsídio.
Polícias da União:
1. Polícia Federal (art. 144, §1º, CF) - A polícia federal, fundada na hierarquia e na disciplina, é integrante da estrutura básica do Ministério da Justiça e será instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União. Destina-se a apurar infrações penais contra a ordem política e social (não contra a ordem pública!) ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei (Lei 10.446/02 – em seu art. 1º, lista as infrações penais que, caso possuam repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderão ser investigadas pelo Departamento de Polícia Federal. O rol não é taxativo, pois o pú do dispositivo admite outras infrações, desde que a investigação pela PF seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça).
Também compete à PF prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras e exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. A PF ainda é responsável pela investigação dos crimes eleitorais, os quais, entretanto, são investigados supletivamente pelas policias civis dos Estados quando, no Município local do delito, não houver Delegacia da Polícia Federal. 
ATENÇÃO: conforme se pôde observar, as atribuições da Polícia Federal não coincidem necessariamente com a competência da Justiça Federal. A PF investiga muitas vezes delitos de competência estadual. 
2. Polícia Rodoviária Federal (art. 144, §2º, CF): patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
3. Polícia Ferroviária Federal (art. 144, §3º, CF): patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
Polícias dos Estados:
Os integrantes das polícias civis devem ser reconhecidos como servidores estaduais civis (arts. 39 a 41) enquanto, por outro lado, os das polícias militares e os dos corpos de bombeiros militares, como servidores militares dos Estados (art. 42). 
1. Polícias Civis (art. 144, §4º): possuem a incumbência de exercer a função de polícia judiciária e apurar as infrações penais, exceto as militares, e ressalvada a competência da União. No Distrito Federal a Polícia Civil é mantida pela União, mas, atenção, pois o Comando da Polícia Civil do DF não é do Presidente da República, mas sim do Governador do Distrito Federal. As polícias civis são dirigidas por Delegados de Polícia de carreira. 
2. Polícias Militares e Corpo de Bombeiros (art. 144, §§5º e 6º): as polícias militarizadas dos Estados, bem como o Corpo de Bombeiros, são consideradas forças auxiliares e reservas do Exército e se subordinam, juntamente com as Polícias Civis, aos Governadores dos Estados e do DF. No caso do DF, embora a União seja responsável pela manutenção das forças de segurança, a subordinação, entretanto, ocorre com o Governador do DF. 
De acordo com o art. 144, § 8º, “Os Municípios poderão constituir guardas municipaisdestinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.” No entanto, as atividades das Guardas Municipais não compreendem o policiamento ostensivo, cuja competência é exclusiva da PM.
STF: É constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas. Argumentos: a fiscalização de trânsito, malgrado ostensiva, é mero poder de polícia, o qual não se confunde com segurança pública, apenas essa última sendo outorgada com exclusividade às entidades policiais; o CTB, em consonância com a CF, prevê a competência comum dos entes para a fiscalização de trânsito, nada impedindo que os Municípios o façam por meio de suas guardas municipais; nada impede que as guardas municipais exerçam funções adicionais às expressamente previstas no art. 144, §8º, CF. 
Participação das Forças Armadas na segurança pública:
Embora excepcional, é admitida em algumas hipóteses:
- Estado de Defesa, Estado de Sítio e Intervenção Federal.
- Realização de investigações criminais no âmbito do Inquérito Policial (art. 7º e 8º, b, do CPPM).
- Execução de operações de policiamento ostensivo em contextos em que predomine o interesse nacional (art. 5º do Decreto 3897/2001). Ex.: visitas de chefes estrangeiros.
- Realização de policiamento ostensivo por solicitação do Governador do Estado, quando os meios disponíveis na esfera estadual se mostrem insuficientes (art. 15, parágrafo 2º, LC 97/99) – há quem defenda a inconstitucionalidade da previsão, por restrição à autonomia estadual. 
Segurança viária (art. 144, §10, CF – EC 82/2014):
Esta não foi incluída como órgão de segurança pública.
– é exercida visando preservar a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas.
– compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito (“tripé da segurança viária”), além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente.
– tal segurança compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, os quais estarão estruturados em carreira, na forma da lei. com a previsão específica da carreira de “agentes de trânsito”, cujos cargos necessariamente serão providos mediante concurso público, de modo muito claro, estão vedadas as hipóteses de contratação por tempo determinado, bem como a destinação de servidores públicos, para a segurança viária, provenientes de outros cargos ou carreiras (e que exercem função diversa), o que caracterizaria o combatido “desvio de função” e, assim, afronta ao entendimento estabelecido pelo STF na S. 685, convertida na SV 43: “é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”.
Salienta-se, por fim, que as atribuições das polícias rodoviárias (federal a estaduais) são muito mais abrangentes, pois, além da segurança no trânsito, tratam da prevenção e repressão de infrações penais diversas (ex.: roubo de carga, contrabando, tráfico etc.).
Direito de greve:
- Os membros das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), bem como os militares dos Estados, do DF e dos Territórios (membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares — art. 42, § 1.º, que determina a aplicação do art. 142, § 3.º) estão proibidos de exercer o direito de greve.
- Com relação à Polícia Civil, o STF aplica, por analogia, a vedação supra, pois entende que o serviço de segurança pública, dada a sua essencialidade, deve ser prestado em sua totalidade.
Poder investigatório do Ministério Público (admitido pelo STF):
- Art. 4º, CPP: atividade investigatória não é exclusiva das polícias, podendo ser exercida por autoridades administrativas. Ora, se órgãos administrativos podem investigar infrações consideradas crimes (ex.: RFB, BACEN, COAF), com muito mais razão poderá o MP, titular privativo da AP pública, fazê-lo.
- Tal poder investigatório, no entanto, deverá ser harmonizado com o exercício das competências das polícias civis e federal.
- IP é dispensável para a deflagração da ação penal.
- Teoria dos poderes implícitos: quando se atribui a algum órgão o exercício de determinada competência, também a ele se confere os meios necessários para esse exercício. Desta forma, se ao MP é conferida a atribuição de promover, privativamente, a AP pública, também lhe será lícito colher, por iniciativa própria, as provas destinadas a instruí-la. 
- A presidência do IP, no entanto, não cabe ao MP, sendo atividade privativa da autoridade policial.
Comissões parlamentares de inquérito:
Art. 58, §3º, CF: possuem poderes investigatórios próprios das autoridades policiais. Logo, exercem os poderes instrutórios que os magistrados possuem na fase de instrução processual penal, ressalvadas as medidas abrangidas pela cláusula de reserva de jurisdição (ex.: decretação de prisões – salvo flagrante, interceptação telefônica, busca domiciliar etc.).
Exemplos de medidas que podem ser adotadas pelas CPI’s: prisão em flagrante, quebra de sigilo bancário (salvo CPI Municipal), fiscal e de dados telefônicos, condução coercitiva de testemunha, perícias, acareações etc.
Força Nacional de Segurança Pública (Lei 11.473/07):
- A União poderá firmar convênio com os Estados-Membros e o Distrito Federal para executar atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. 
- Referida cooperação federativa compreende operações conjuntas, transferências de recursos e desenvolvimento de atividades de capacitação e qualificação de profissionais, no âmbito da Força Nacional de Segurança Pública, sendo que as atividades terão caráter consensual e serão desenvolvidas sob a coordenação conjunta da União e do ente federativo que firmar o convênio. 
- A interpretação do art. 144 da CF como rol taxativo, defendida pelo STF, não contribui para esse tipo de arranjo cooperativo e deve, pelo menos no tocante a esse ponto, ser superada, pois a Força Nacional de Segurança pode representar uma importante inovação institucional de cooperação entre os entes federativos (federalismo cooperativo).
NACIONALIDADE
Nacionalidade: vínculo político-jurídico que liga o indivíduo ao Estado, fazendo-o componente do seu povo e sujeitando-o aos direitos e obrigações desta relação. A nacionalidade é considerada DF, sendo protegida, inclusive, em âmbito internacional, como na DUDH, que proclama em seu artigo XV que “todo homem tem direito a uma nacionalidade” e que “ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
Povo: conjunto de nacionais (natos ou naturalizados) do Estado, independentemente de onde se encontrem.
População: conceito demográfico, que abrange os nacionais, estrangeiros ou apátridas, que se encontram no interior do território de um Estado.
Por exclusão, pode-se conceituar o estrangeiro como aquele que não é nacional nato ou naturalizado. 
Espécies de Nacionalidades: 
- Originária, primária, de primeiro grau, nata, atribuída ou involuntária.
- Secundária, derivada, adquirida, por aquisição ou por naturalização.
1. Nacionalidade originária (art. 12, I, CF): é aquela que resulta do mero nascimento, fato natural e involuntário, podendo fixar-se a partir de dois critérios básicos, quais sejam, o critério territorial (jus soli ou “direito do solo”: será nacional aquele que nascer no território do país) e o critério sanguíneo (jus sanguinis ou “direito do sangue”: será nacional de um Estado o filho de um nacional, ainda que nascido em território diverso). No Brasil, adota-se, como regra, o critério do jus soli, havendo, no entanto, situações nas quais o critério sanguíneo é aceito (art. 12, I, CF). São brasileiros natos:
	 Os nascidos no Brasil, aindaque de pais estrangeiros (critério jus solis), desde que estes não estejam no Brasil a serviço de seu país (nesse caso, aplica-se o critério da filiação pelo país de origem).
	 Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro OU mãe brasileira (critério jus sanguinis), desde que:
		a) Qualquer deles esteja no estrangeiro a serviço do Brasil (jus sanguinis + critério funcional) a serviço da RFB, incluindo todos os entes federativos e a Administração Direta e Indireta; ou
		b) Sejam registrados em repartição brasileira competente (jus sanguinis + registro) – EC 54/2007 a repartição competente é a consular; ou
Obs.: a EC 54/2007 inseriu o art. 95 no ADCT, prevendo regra de transição para aqueles que nasceram no estrangeiro no período compreendido entre a ECR 3/1994 e EC 54/2007, considerando que, até então, era vedado o registro na repartição brasileira competente.
		c) Venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (jus sanguinis + critério residencial + opção confirmativa) “nacionalidade potestativa”. Em virtude do caráter personalíssimo desta opção, que só pode ser manifestada após a maioridade, admite-se a nacionalidade provisória até os dezoito anos. Atingida a maioridade, enquanto não realizar a opção, será considerado estrangeiro ou apátrida, ficando sujeita a uma condição suspensiva (opção confirmativa) a efetiva aquisição da nacionalidade brasileira.
Obs.: STF (RE 415.957) – se, antes de atingir a maioridade, o filho de brasileiro nascido no estrangeiro vier a residir no Brasil, já será considerado brasileiro nato (pois ainda não pode optar pela nacionalidade brasileira), sendo possível o requerimento de registro de nascimento, nos moldes do art. 32, §2º, da LRP.
# Imaginemos a seguinte situação: um brasileiro e uma brasileira vão a serviço da RFB para a Itália e lá adotam uma criança. Qual será a nacionalidade dela?
- 1ª C: brasileira nata, em razão do art. 227, §6º, CF, que proíbe qualquer discriminação entre filhos biológicos e adotados.
- 2ª C (Marcelo Novelino): italiana. Há um conflito entre princípios constitucionais (entre o art. 227, §6º da CF e o art. 12, § 3º da CF), devendo o primeiro ser afastado em razão da segurança nacional e da soberania, que prevalecem em razão do direito individual (direito fundamental à nacionalidade).
- 3ª C (Pedro Taques): será caso de nacionalidade originária brasileira, mas a criança não poderia exercer os cargos privativos de brasileiro nato (art. 12, §3º, CF).
O critério a ser adotado é fruto de opção política de cada Estado, com fundamento na sua soberania. A doutrina aponta a existência de Estados de imigração (importam nacionais de outros Estados, adotando, como regra, o jus soli) e de Estados de emigração (exportam nacionais para outros Estados, adotando o jus sanguinis).
2. Nacionalidade secundária (art. 12, II, CF): decorre de ato voluntário do individuo, por meio do processo de naturalização. Possui as seguintes espécies:
	a) Tácita: adotada em países nos quais o número de nacionais é menor que o desejado e preleciona que os estrangeiros residentes no País que não declararem, dentro de determinado período, o ânimo de permanecer com a nacionalidade de origem, automaticamente adquirirão a nacionalidade do país em que residem. Não é adotada pela CF/88.
	b) Expressa:
		- Extraordinária (art. 12, II, b, CF): cria para o indivíduo o direito público subjetivo à naturalização, pois o ato, neste caso, é vinculado. Requisitos: residência no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos (até ECR 3/94, eram 30 anos) + sem condenação criminal + requerimento. 
		- Ordinária (art. 12, II, a, CF): não cria direito público subjetivo à naturalização, tratando-se de ato discricionário (expedição de certificado de naturalização é ato discricionário). Prevê a observância das seguintes normas:
			 Aquisição “na forma da lei” - art. 112, Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80) – aplicável a todos os estrangeiros, salvo os originários de países de língua portuguesa.
				Obs. 1: muito embora o art. 112 liste, como uma das condições para a naturalização, que o estrangeiro tenha “boa saúde”, entende-se que, em vista do princípio da dignidade da pessoa humana, tal requisito não fora recepcionado pela CF/88.
				Obs. 2: expedido o certificado de naturalização, o documento deve ser apresentado à Justiça Federal (art. 109, X, CF) do Estado da Federação de residência do estrangeiro. Em audiência, da qual participa o MPF, o juiz pergunta ao estrangeiro se este abre mão de sua nacionalidade originária, afere os demais requisitos e a concordância do MPF. Após, o juiz federal (e não, o Ministro da Justiça) entrega ao estrangeiro o certificado de naturalização, que deve ser levado ao Cartório de Títulos e Documentos, após o que se expedem os documentos de brasileiro naturalizado.
			 Originários de países de língua portuguesa (“países lusofônicos”), que não sejam de Portugal: são exigidas, tão somente, residência por um ano ininterrupto + idoneidade moral.
 Legais (art. 115, Estatuto do Estrangeiro): nesses casos, para fins de naturalização, serão exigidos do estrangeiro, tão somente, documento de identidade, atestado de residência contínua o Brasil e atestado policial de antecedentes. São hipóteses de naturalização legal:
				* Naturalização (por radicação) precoce: admissão no Brasil até os 5 anos de idade + radicado definitivamente no território nacional + requerimento de naturalização até 2 anos após atingir a maioridade.
				* Colação de grau em curso de nível superior: residência no Brasil antes de atingir a maioridade + curso superior em estabelecimento nacional de ensino + requerimento de naturalização até 1 ano após a formatura.
- Portugueses “quase nacionais” (art. 12, §1º, CF): o português, sem deixar de ser português (não precisa se naturalizar), pode exercer os direitos inerentes aos brasileiros naturalizados, desde que tenha residência permanente no Brasil e haja reciprocidade em favor de brasileiros (reciprocidade, para algumas situações, encontra-se prevista no “Estatuto da Igualdade”, assinado em 22/04/2000).
Obs. 1: pelo Estatuto da Igualdade, o português pode, inclusive, exercer aqui direitos políticos, desde que tenha três anos de residência permanente no Brasil e realize requerimento à autoridade competente, hipótese em que não poderá exercer esses mesmos direitos em Portugal.
Obs. 2: embora não seja necessária a naturalização do português, ele pode, se quiser, optar por requerê-la, hipótese em que bastará um ano de residência ininterrupta no Brasil e idoneidade moral.
Para fins de aplicação do critério jus soli, necessário se faz identificar o que se entende por território da República Federativa do Brasil.
Espécies de território: aplica-se o jus soli em ambas as espécies de territórios, incluindo, portanto, o território ficto ou por extensão.
1. Território real, propriamente dito ou “em sentido restrito”: solo, subsolo, espaço aéreo nacional, mar territorial e plataforma continental.
Obs.: “mar territorial” (ou “águas nacionais”) – 12 milhas náuticas (art. 1º, Lei 8.617/93). Após o mar territorial, dá-se início à “zona contígua” e, a partir dela, a “zona econômica exclusiva” (188 milhas).
2. Território ficto, por extensão ou por ficção (art. 5º, §§1º e 2º, CP): 
- Embarcação ou aeronave pública nacional (onde quer que esteja).
- Embarcação ou aeronave a serviço do governo brasileiro (onde quer que esteja).
- Embarcação ou aeronave brasileira, mercante ou de propriedade privada, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente.
- Embarcação privada estrangeira em porto ou mar territorial do Brasil.
- Aeronave privada estrangeira em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente. 
Obs.: representação diplomática (embaixada e consulado) não é território por extensão.
Perda da nacionalidade (art. 12, §4º, CF): as hipóteses listadas na CF encerram rol taxativo, não se admitindo ampliação ou redução por diploma infraconstitucional,nem tampouco renúncia à nacionalidade brasileira. São elas:
1. Cancelamento de naturalização, por SENTENÇA JUDICIAL, em virtude de ATIVIDADE NOCIVA AO INTERESSE NACIONAL.
- Por ter natureza sancionatória, esta hipótese é conhecida como perda-punição. A ação de cancelamento de naturalização, de competência da JF (art. 109, X, CF), pode ser deflagrada por representação do Ministro da Justiça, por solicitação de qualquer pessoa ou por provocação do MPF. A sentença produzirá efeitos ex nunc (não retroativos). Cancelada a naturalização, a nacionalidade brasileira não poderá ser readquirida, salvo por ação rescisória.
- Não há um conceito legal de “atividade nociva ao interesse nacional”, sendo sua análise casuística, no âmbito do processo judicial.
- STF: em vista do disposto no art. 12, §4º, I, os §§2º e 3º do art. 112 da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) não foram recepcionados pela CF/88, não se podendo conceber que Ministro da Justiça reveja ato de naturalização, pois, em qualquer caso, mesmo em caso de naturalização embasada em premissas falsas, o desfazimento do ato depende de sentença judicial. 
2. Obtenção de NOVA NACIONALIDADE (naturalização voluntária), salvo:
	- Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira (polipatria ou dupla nacionalidade). Aqui, há um conflito positivo de nacionalidade.
	- Imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Mais uma vez, fala-se em conflito positivo de nacionalidade.
- A decretação da perda da nacionalidade, na naturalização voluntária, depende de prévia instauração de processo administrativo, a fim de verificar a existência das causas determinantes, assegurada a ampla defesa. O indivíduo somente deixa de ser considerado brasileiro a partir da data da publicação no DOU do decreto expedido pelo PR
- Imaginemos que um brasileiro nato perde a nacionalidade brasileira por naturalização voluntária. Caso venha a readquirir a nacionalidade brasileira, será considerado brasileiro nato ou naturalizado?
	- 1ª C (Alexandre de Morais): brasileiro naturalizado.
	- 2ª C (José Afonso da Silva – majoritária): volta a ser brasileiro nato.
Reaquisição da nacionalidade brasileira perdida:
 Em caso de cancelamento da naturalização por sentença judicial transitada em julgado, por ato nocivo ao interesse nacional: somente será possível a reaquisição por ação rescisória. NÃO é admitido novo processo de naturalização.
 Em caso de naturalização voluntária, o art. 36, Lei 818/49 prevê a possibilidade de reaquisição por decreto presidencial, desde que o indivíduo esteja domiciliado no Brasil.
Diferenças entre brasileiros natos e naturalizados:
Art. 12, §2º, CF: somente a própria CF pode prever diferenças, não se admitindo que tal se dê por meio de lei. A CF/88 prevê 5 exceções à regra de igualdade entre brasileiros natos e naturalizados, quais sejam:
- Extradição (art. 5º, LI, CF).
- Cargos privativos de brasileiro nato (art. 12, §3º, CF): definidos em razão da segurança nacional e da defesa da soberania, considerando a linha sucessória do PR.
PR e Vice.
Presidente da CD.
Presidente do SF.
Ministro do STF.
Carreira diplomática.
Oficial das Forças Armadas.
Ministro de Estado da Defesa.
- Conselho da República (art. 89, CF): participação, além de outros membros, de seis cidadãos brasileiros natos.
- Perda da condição de nacional (art. 12, §4º, I, CF): somente o brasileiro naturalizado pode perder a condição de nacional por prática de atividade nociva ao interesse nacional, só podendo readquiri-la via ação rescisória.
- Empresa jornalística e de radiofusão (art. 222, caput e §2º, CF): a propriedade de empresa jornalística e de radiofusão, bem como a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada em qualquer meio de comunicação social, são privativas dos brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos.
Extradição, expulsão, deportação e entrega:
1. Extradição: ato pelo qual um Estado entrega a outro – o solicitante - um indivíduo que, no território deste último, está sendo processado ou já foi condenado criminalmente. Podem ser extraditados estrangeiros ou brasileiros naturalizados (natos jamais), estes últimos em duas hipóteses (art. 5º, LI, CF):
	a) Crime comum antes da naturalização.
	b) Comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes em qualquer momento, “na forma da lei”. 
		*STF: em um primeiro momento, entendeu a hipótese como norma de eficácia limitada, dependendo, portanto, de regulamentação. Nada obstante, posteriormente, passou a afirmar que se trata de exceção ao princípio da contenciosidade limitada, sendo possível a análise do mérito do processo judicial que motivou o pedido extradicional, a fim de constatar se, de fato, há provas do envolvimento do extraditando com o tráfico.
		*Súmula 421, STF: ao contrário da expulsão (Súmula 1, STF), “não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro”. 
- A extradição pode ser de duas espécies:
	- Ativa: requerida pela RFB a um Estado estrangeiro.
	- Passiva: requerida por um Estado estrangeiro à RFB. 
- Art. 5º, LII, CF: é vedada a extradição do estrangeiro por crime político ou de opinião. Apesar de o Estatuto do Estrangeiro admitir a extradição na hipótese de conexão entre crime comum e político, quando aquele constituir o fato principal, o STF tem adotado o entendimento de que, no caso de entrelaçamento (contaminação) de crimes de natureza política e comum, a extradição deve ser indeferida.
- No polêmico julgamento envolvendo o ativista italiano Cesare Battisti, o STF, por maioria, adotou o entendimento de que a decisão de deferimento da extradição não vincula o PR.
- Sistema da contenciosidade limitada: o modelo extradicional da contenciosidade limitada, adotado pelo Brasil (Lei 6.815/1980, art. 85, §1°), não permite a renovação, no âmbito da ação de extradição passiva, do litígio penal que originou o pedido, nem o reexame do quadro probatório ou a discussão sobre o mérito da acusação ou da condenação emanadas de órgão competente do Estado estrangeiro. A defesa, no processo de extradição, versará, unicamente, sobre a identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos ou ilegalidade da extradição.
Obs.: conforme visto acima, em algumas oportunidades, o STF entendeu ser excepcionado este princípio, no caso de extradição de brasileiro naturalizado por comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes.
- Princípio da Especialidade: o extraditando só pode ser processado e julgado, no país estrangeiro, pelo crime objeto do pedido de extradição (Lei 6.815/1980, art. 91, I). Não obstante, se for solicitada a permissão para julgamento por crime praticado antes da extradição e diverso daquele que motivou o pedido, o Estado brasileiro pode autorizar de forma expressa (pedido de extensão).
- Princípio da Dupla Punibilidade: o pedido de extradição feito por Estado estrangeiro só poderá ser aceito se a conduta praticada for tipificada como crime, tanto no Brasil como no país requerente. Verificada a ocorrência da prescrição em face da legislação de qualquer dos dois Estados (requerente e requerido), também deverá ocorrer o indeferimento do pedido. Considerando que ninguém pode ser exposto, em matéria de liberdade individual, à situação de duplo risco (“double jeopardy”), a extradição não será concedida, se, pelo mesmo fato em que se fundar o pedido extradicional, o súdito reclamado estiver sendo submetido a procedimento penal no Brasil, ou já houver sido condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras.
2. Expulsão: ato discricionário, privativo do PR (decreto), por meio do qual se determina a retirada do território nacional do estrangeiro (brasileiro nato e naturalizado não podem ser expulsos pena de banimento é vedada pela CF) que, de qualquer forma, atentar contra a segurançanacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. Também se aplica a expulsão às hipóteses de entrada ou permanência irregular em território nacional, caso não aconselhável a deportação. A decretação e a revogação do ato de expulsão são de competência privativa do PR, mediante decreto. O regresso do estrangeiro que foi expulso é um crime autônomo. Se ele volta ao território nacional pode ser preso (salvo se a expulsão for cancelada).
3. Deportação: ato de saída compulsória do estrangeiro (brasileiro nato e naturalizado não podem ser deportados), nos casos de entrada ou estada irregular (violação de regra administrativa) e envio para o país da nacionalidade ou procedência do estrangeiro, ou outro que consinta em recebê-lo. Ato de iniciativa do Departamento de PF, sendo considerada mera medida administrativa, sem cunho punitivo. Ao contrário do estrangeiro expulso, o deportado por retornar ao Brasil, desde que solucionadas as pendências administrativas.
4. Entrega: ato por meio do qual um indivíduo (brasileiro – nato ou naturalizado – ou estrangeiro) é entregue para se submeter à jurisdição do TPI (Estatuto de Roma, Decreto 4.388/02), constitucionalizado nos termos do §4º do art. 5º da CF (EC 45/04). Conforme bem salientado por Francisco Rezek, aplica-se à hipótese o princípio da subsidiariedade ou complementariedade, isto é, somente se admitirá a jurisdição do TPI, nas hipóteses de insuficiência ou falha da jurisdição nacional.
Obs.: a admissão da entrega de brasileiro nato se justifica, pois, ao contrário da extradição, em que o envio se dá para outro Estado dotado de soberania (relação entre iguais), na entrega, o envio é direcionado a organismo internacional (não há relação entre iguais), cuja jurisdição foi previamente reconhecida pelo Brasil, mediante ratificação do Tratado de Roma, não ofendendo, portanto, a sua soberania a entrega de nacional nato.
DIREITOS POLÍTICOS: direitos fundamentais, que disciplinam o exercício da soberania popular no âmbito do regime democrático. São, portanto, os direitos por meio dos quais se viabiliza aos cidadãos a efetiva participação na vida política do Estado, direta ou indiretamente.
- A nacionalidade é pressuposto da cidadania, mas não é o bastante: cidadão é o nacional em pleno gozo de seus direitos políticos. Neste sentido, todo cidadão será nacional, mas nem todo nacional poderá ser considerado cidadão.
-Conceitos básicos:
	- Soberania popular: aspecto fundamental do regime democrático, que determina que a autoridade do povo há de prevalecer sempre, pois o regime é do povo, pelo povo, e para o povo.
	- Nacionalidade: vínculo jurídico-político, que liga certo indivíduo a determinado Estado, passando a integrar seu povo, assumindo os direitos e obrigações decorrentes de tal condição.
	- Cidadania: atributo político que confere ao indivíduo o direito de participar da vida política do Estado. Cidadão, portanto, é o nacional em gozo de seus direitos políticos.
	- Naturalidade simples: mero vínculo territorial entre o indivíduo e o local de seu nascimento.
	- Sufrágio: direito de votar e ser votado. Pode ser universal (atribuído a todos os nacionais, sem restrições derivadas da condição gênero, fortuna – censitário - ou grau de escolaridade - capacitário) ou restrito (censitário, capacitário ou por razões de sexo).
	- Voto: ato através do qual se exercita o sufrágio ativo (direito de votar).
	- Escrutínio: modo pela qual se exercita o voto, podendo ser público ou secreto.
- A democracia pode ser de três espécies:
	- Democracia direta: o povo exerce o poder por si, sem a intermediação de representantes.
	- Democracia representativa: o povo elege seus representantes, outorgando-lhes poderes para que, em nome do povo, e para o povo, governem o país.
	- Democracia participativa ou semidireta (CF/88: art. 1º, pú e 14, CF): mescla mecanismos de democrática direta e representativa, determinando a eleição de representantes, mas resguardando, por outro lado, a participação popular direta sobre os atos estatais (plebiscito, referendo, iniciativa popular e ação popular).
- Os direitos políticos, conforme doutrina de José Afonso da Silva, dividem-se em: positivos e negativos. Senão vejamos:
1. Direitos políticos positivos: conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais. A participação popular, em uma democracia semidireta ou participativa, pode se dar de maneira:
	- Direta: plebiscito, referendo e iniciativa popular (todos regulados pela Lei 9.709/98).
		- Plebiscito: consulta prévia formulada ao cidadão para que manifeste sua concordância/discordância em relação a um tema contido em ato administrativo ou legislativo.
		- Referendo: consulta realizada posteriormente à edição do ato legislativo ou administrativo, com o intuito de ratificá-lo ou rejeitá-lo.
Obs.: a autorização de referendo e a convocação de plebiscito são da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF, art. 49, XV).
		- Iniciativa popular: consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles (CF, art. 61, §2°, e Lei 9.709/1998, art. 13).
	- Indireta: sufrágio ativo (direito de votar) e passivo (direito de ser votado), ação popular e organização e participação em partidos políticos.
		- Sufrágio: direito de votar e ser votado. No Brasil, apesar das condições impostas pela CF (idade mínima de 16 anos, cidadão brasileiro etc.), o sistema adotado é o do sufrágio universal:
			 Alistabilidade: o alistamento perante a Justiça Eleitoral é requisito para o exercício, no Brasil, da capacidade eleitoral ativa, ou seja, do direito de votar.
Obs. 1: o voto, no Brasil, é livre (característica assegurada pelo escrutínio secreto), direto (salvo art. 81, §1º, CF), igual para todos, periódico (alternância de poder própria do regime republicano), personalíssimo (não pode ser exercido nem mesmo por procuração), obrigatório para aqueles entre 18 e 70 anos de idade e facultativo para aqueles entre 16 e 18 anos, maiores de 70 anos e analfabetos (estes últimos, embora não possuam capacidade eleitoral passiva, podem, caso queiram e se alistem, votar).
Obs. 2: art. 14, §2º, CF – são inalistáveis os estrangeiros (salvo os portugueses equiparados, nos termos do Estatuto da Igualdade) e os conscritos (durante o período do serviço militar obrigatório).
			 Elegibilidade: é a capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado). As condições de elegibilidade encontram-se previstas no art. 14, §3º, CF, sendo reguladas por lei ordinária. São elas: nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idade mínima de: 
- 35 anos: PR, Vice e Senador (plena cidadania).
- 30 anos: Governador e Vice.
- 21 anos: Deputado (federal, estadual ou distrital), Prefeito, Vice e juiz de paz.
- 18 anos: Vereador.
Obs. 1: art. 11, §2º, Lei 9.504/97 – diferente de todas as demais condições de elegibilidade, que são apuradas no momento do registro da candidatura, a idade mínima é exigida no momento da posse do candidato.
Obs. 2: domicílio eleitoral não se confunde com domicílio civil. Nos termos do Código Eleitoral, será considerado domicílio eleitoral o local de residência ou moradia do requerente e, havendo mais de um, qualquer deles (art. 42, pú, Lei 4.737/65). O art. 9º, Lei 9.504/97 estabelece que “para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito e estar com a filiação deferida pelo partido no mínimo seis meses antes da data da eleição” (parte final com redação dada pela Lei 13.165/15).
Obs. 3: o cidadão, para concorrer, deve estarfiliado ao respectivo partido por pelo menos seis meses antes da data das eleições (art. 9º, Lei 9.504/97). Antes da Lei 13.165/15, exigia-se o prazo mínimo de 1 ano. O diploma alterou a redação do art. 9º, Lei 9.504/97 e revogou o art. 18, Lei 9.096/95. Considerando ser a filiação partidária indispensável à elegibilidade, não pode ser sujeita a requisitos arbitrários impeditivos do direito de livre acesso aos partidos políticos.
2. Direitos políticos negativos: normas que privam o cidadão, definitiva ou temporariamente, dos direitos políticos positivos, especialmente do direito de votar e de ser votado. Basicamente, referem-se às inelegibilidades e às hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos.
2.1. Inelegibilidades: consistem na falta de capacidade eleitoral passiva, podendo ser absolutas ou relativas. Nos termos da jurisprudência consolidada do TSE, “as restrições que geram as inelegibilidades são de legalidade estrita”, razão pela qual, em regra, não podem ser interpretadas extensivamente.
	- Inelegibilidades absolutas: impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva genericamente, ou seja, para qualquer cargo eletivo. Encontra previsão no art. 14, §4º, da CF, que determina que são inelegíveis absolutamente os inalistáveis (os estrangeiros, com exceção dos portugueses equiparados, e os conscritos) e os analfabetos, que, embora possam votar facultativamente, em nenhuma hipótese poderão ser votados. 
	- Inelegibilidades relativas: impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva de forma específica, ou seja, somente para determinados cargos ou somente em relação a determinado período.
Podem estar previstas na Constituição ou em Lei Complementar. 
		- Inelegibilidades relativas constitucionais:
			a) Da função exercida (art. 14, §§5º e 6º, CF): para os Chefes do Poder Executivo (PR, Governadores e Prefeitos), aplicam-se duas restrições específicas, a saber:
				 Para o mesmo cargo, só se admite uma única reeleição em período subsequente. Salienta-se que é vedado que o reeleito se candidate como vice numa terceira eleição. Já com relação aos vices propriamente, a mera substituição não é suficiente para configurar a inelegibilidade, mas caso tenha sucedido o titular em algum período e, na eleição seguinte, houver sido eleito para o mesmo cargo, não poderá se candidatar nas próximas eleições (a sucessão é considerada um primeiro mandato).
Obs.: TSE e STF – consideraram a figura do “prefeito itinerante” (ou “prefeito profissional”), caracterizada pela alteração do domicílio eleitoral com a finalidade de burlar a regra que tolera apenas uma reeleição, incompatível com o princípio republicano, o qual, ao exigir a temporariedade e a alternância do exercício do poder, obsta a terceira eleição, não apenas no mesmo Município, mas também com relação a outras municipalidades da federação.
				 Para concorrerem a outros cargos, a CF exige prévia renúncia aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito.
			b) De parentesco ou reflexas (art. 14, §7º, CF): são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o 2º grau ou por adoção, dos chefes do Poder Executivo ou de quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Obs. 1: vimos que as inelegibilidades, de um modo geral, devem ser interpretadas de maneira estrita. Entretanto, para aquelas relativas à relação de parentesco, utiliza-se diretriz hermenêutica diversa, devendo ser interpretadas, segundo o STF, “de maneira a dar eficácia e efetividade aos postulados republicanos e democráticos da Constituição, evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de familiares no poder”. Com isso, firmaram-se as seguintes orientações:
				- STF: a inelegibilidade reflexa por adoção se aplica aos filhos de criação, quando comprovada a relação socioafetiva.
				- TSE: “cônjuge” é considerado de forma ampla, incluindo até uniões homoafetivas.
				- TSE: se em algum momento do mandato, ocorreu a relação de casamento, união estável ou parentesco, esta pessoa já está inelegível, ainda que esta relação seja desfeita. Nesse sentido, também a SV nº 18 do STF: “A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal”.
Obs. 2: STF – “O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma de inelegibilidade reflexa prevista no art. 14, §7º, da Constituição. Portanto, não atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges”.
			c) Do militar (art. 14, §8º, CF): o militar alistável é elegível, atendidas às seguintes condições: a) se contar com menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; b) se contar com mais de 10 anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato de diplomação, à inatividade.
Obs. 1: a inelegibilidade prevista no art. 14, § 8º, da CR/88 abrange, não apenas os militares das forças armadas, mas também os bombeiros militares e os policiais militares.
Obs. 2: o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos (art. 142, § 3º, V, da CF). O TSE, contudo, ressalva que eles podem concorrer às eleições sem respeitarem o tempo mínimo de 6 meses de filiação obrigatória.
			d) Magistrados (art. 95, pú, III, CF) e membros do MP (art. 128, §5º, II, e, CF): vedação ao exercício de atividade político-partidária. Com relação aos magistrados, a vedação existe desde a promulgação da CF/88, o mesmo não se podendo dizer no que tange aos membros do MP, os quais, até o advento da EC 45/04, poderiam exercer atividade político-partidária, bastando, para tanto, a obtenção de licença. Com a EC 45, o tratamento foi equiparado ao dos magistrados, exigindo-se o afastamento definitivo do cargo (por exoneração ou aposentadoria) também para o membro do MP que pretendesse se candidatar. Com este novo regime, travou-se intenso debate acerca do tratamento a ser dispensado aos membros do MP que ingressaram na carreira antes do advento da EC 45. A jurisprudência consolidou-se no seguinte sentido:
				- TSE: o membro do MP que ingressou antes da CF/88 e optou pelo regime anterior, pode se filiar a partido político.
				- No tocante ao membro do MP que ingressou após a CR/88, mas antes da EC 45, o STF garantiu o registro de candidatura apenas daquele que já ocupava cargo eletivo antes da EC 45 e pleiteava a reeleição.
	
		- Inelegibilidades relativas legais: o art. 14, §9º, CF autoriza o legislador infraconstitucional a estabelecer, mediante lei complementar, outras hipóteses de inelegibilidade, a fim de proteger: a) a probidade administrativa; b) a moralidade para o exercício do mandato (considerada a vida pregressa do candidato); e c) a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na Administração Direta e Indireta. 
- A LC nº 64/90, conhecida como “lei das inelegibilidades”, estabeleceu diversas hipóteses de inelegibilidade legal, tais como: perda anterior de mandato eletivo (art. 1º, “b” e “c”); condenação por abuso de poder econômico ou político (art. 1º, I, “d”); condenação criminal em determinados tipos penais (art. 1º, I, “e”); declaração de indignidade do oficialato (art. 1º, I, “f”); rejeição de contas dos agentes e gestores públicos (art. 1º. I, “g”); declaração de beneficiamento pela prática de atos de abuso de poder econômico ou político (art. 1º, I, “h”); dirigentes de entidades liquidadas ou em liquidação (art. 1, I, “i”).
- Em 2010, foi promulgada e sancionada a LC nº 135, chamada de “lei da ficha limpa” que inseriu novas hipóteses de inelegibilidade na LC nº 64/90, impedindo a candidaturaprincipalmente de cidadãos condenados criminalmente ou por atos de improbidade administrativa por decisões de tribunais colegiados, ainda não transitadas em julgado. Dentre suas principais inovações, podem ser mencionadas: 
a) Fixação de todos os prazos de inelegibilidade pelo período de oito anos.
b) Possibilidade de que um candidato se torne inelegível em virtude de decisão proferida por órgão colegiado, ainda que esta não tenha transitado em julgado (LC 64/1990, art. 1.°, I, alíneas d, e, h, j, l, n e p). A alegação de que uma inelegibilidade resultante de decisão sem trânsito em julgado violaria a presunção de inocência (CF, art. 5.°, LVII) foi afastada pelo STF com base em dois argumentos distintos: para alguns, as razões fornecidas pelo princípio da moralidade administrativa são mais fortes, na espécie, que as produzidas pelo princípio da presunção de inocência; para outros, a presunção de inocência é uma regra cuja incidência deve ficar restrita ao âmbito processual penal.
c) Ampliação do rol de crimes que tornam aqueles que forem condenados inelegíveis desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 anos após o cumprimento da pena. 
d) Inelegibilidade dos Membros do Executivo e do Legislativo que renunciarem aos seus mandatos após o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição (Federal ou estadual) ou da Lei Orgânica (Distrital ou Municipal) (LC 64/1990, art. 1°, I, k). Neste caso, é necessário que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto na Lei Complementar (LC 64/1990, art. 1°, §5º). O STF afastou a tese de que violaria o princípio da irretroatividade (CF, art. 5.°, XXXVI) a aplicação dos casos de inelegibilidade introduzidos pela Lei aos que renunciaram ou foram condenados antes de sua entrada em vigor.
O Tribunal Superior Eleitoral, ao apreciar recursos interpostos por candidatos cujo registro foram indeferidos com base na LC 135/2010, entendeu pela constitucionalidade do referido dispositivo legal. Nesse sentido, também, manifestou-se o STF (ADI 4578/AC).
2.2. Perda ou suspensão dos direitos políticos (art. 15, CF): 
	É vedada, em qualquer caso, a cassação dos direitos políticos, assim compreendida a sua retira arbitrária. A restrição dos direitos políticos será sempre provisória, mesmo em caso de perda. Na realidade, o que diferencia as hipóteses de perda e suspensão é o seguinte:
	- Perda: a reaquisição dos direitos políticos, nesse caso, depende de atividade específica do interessado. Ex.: rescisão da sentença de cancelamento da naturalização, cumprimento da obrigação a todos imposta ou prestação alterativa ou reaquisição da nacionalidade brasileira. 
	- Suspensão: a reaquisição ocorre automaticamente, após o transcurso de determinado período ou após o implemento de certas condições. 
	São as hipóteses de perda dos direitos políticos:
		a) Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, I).
		b) Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII, CF (art. 15, IV).
Obs.: enquanto não houve edição de lei regulamentando a prestação alternativa, não há possibilidade de perder os direitos políticos;
		c) Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra (art. 12, §4º, II).
	São as hipóteses de suspensão dos direitos políticos:
		a) Incapacidade civil absoluta (art. 15, II).
		b) Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos (art. 15, III), independentemente do tipo de infração penal, dolosa ou culposa e, inclusive, durante o livramento condicional ou sursis. 
Obs.: no que concerne aos parlamentares federais, em conformidade com o posicionamento do STF, manifestado na AP 470 (“Mensalão”), pode-se extrair as seguintes conclusões: a) a decretação da perda do mandato de membros do Congresso Nacional pelo STF, nas hipóteses do art. 92, I, CP, em condenação criminal, tem cunho declaratório e irreversível, dispensando a deliberação pela Casa Legislativa; b) decisão do STF impede a própria reanálise pelo Poder Legislativo: a perda do mandato do parlamentar é uma consequência da coisa julgada, não cabendo ao Poder Legislativo outra conduta senão a declaração da extinção do mandato.
		c) Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4º (art. 15, V).
Com relação à perda de cargo eletivo, um dos temas suscitados nas discussões sobre uma possível reforma política é o recall. Trata-se de um mecanismo de democracia direta que possibilita a revogação de um mandato eletivo por meio de uma consulta popular, viabilizando, assim, um controle mais efetivo do eleitorado em relação aos seus representantes. Este mecanismo encontra-se consagrado em algumas Constituições como, por exemplo, a venezuelana. Distingue-se do impeachment (art. 52, pú, CF) em dois pontos principais: a) o recall é decidido diretamente pelos eleitores, e não, por intermédio de seus representantes; b) o impeachment, desde suas origens, é um mecanismo de fiscalização posto à disposição do Legislativo para controlar os membros do Executivo e do Judiciário, enquanto que o recall pode ser utilizado também como instrumento de controle de membros do Poder Legislativo.
PARTIDOS POLÍTICOS (art. 17, CF):
- São associações constituídas para a participação na vida política de um país, com objetivos de propagação de ideias e de conquista total ou parcial do poder político. 
- Nos termos do CC, são pessoas jurídicas de direito privado, sendo regidas por seus estatutos e pela Lei 9.096/95.
- Submetem-se a duas formas de registro (art. 17, §2º, CF), a saber: a) registro civil (junto ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas do DF), por meio do qual adquirem personalidade jurídica; b) registro eleitoral (junto ao TSE), por meio do qual se viabiliza a participação do processo eleitoral, o recebimento de recursos do fundo partidário e o acesso à rádio e à TV para difusão de suas ideias e programas (art. 7º, §2º, Lei 9.096/95).
- No Brasil, todos os candidatos devem estar devidamente registrados em partidos políticos, não sendo admitida a chamada “candidatura avulsa”. De acordo com o art. 9º da Lei nº 9.504/97, com redação dada pela Lei nº 13.165/2015, para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito, e estar com a filiação deferida pelo partido no mínimo seis meses antes da data da eleição. 
- “Cláusula de barreira”, “cláusula de exclusão” ou “cláusula de desempenho”: norma que impede ou restringe o funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado percentual de votos. Nos termos propostos pelo Congresso, os partidos que obtivessem menos de 5% dos votos nacionais não teriam direito à representação partidária, não poderiam indicar titulares para as comissões (inclusive, CPI’s), não teriam direito à liderança ou cargos na Mesa Diretora, perderiam recursos do fundo partidário e ficariam com tempo restrito de propaganda eleitoral em rede nacional de rádio e TV. A cláusula sequer chegou a ser aplicada, pois foi considerada inconstitucional pela unanimidade dos ministros do STF. 
- Princípios constitucionais de organização partidária:
1. Ampla liberdade partidária (art. 17, caput, CF): é livre a criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos. A liberdade, no entanto, não é absoluta, pois devem ser resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana, e observados os seguintes preceitos: caráter nacional, proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou subordinação a estes, prestação de contas à Justiça Eleitoral e funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
Obs.: 1: a fiscalização financeira dos partidos é atribuição da Justiça Eleitoral.
Obs. 2: a EC 52/2006 alterou o §1º o art. 17 da CF e pôs fim à “verticalização das coligações”, não mais havendo obrigatoriedade devinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. Em sede de ADI, o STF fixou que tal não se aplicaria às eleições de 2006. 
2. Autonomia partidária (art. 17, §1º, CF): é assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
Obs. 1: admitem-se expulsões dos partidos, mas são inconstitucionais sanções de suspensão ou perda do mandado.
Obs. 2: o TSE (Res. 22.610/07) estabeleceu que o mandato eletivo pertence ao partido, e não, ao candidato eleito. Nesse sentido, a desfiliação partidária sem justa causa implica a perda do mandato. Em 2015, ao julgar a ADI 5081, entendeu o STF que tal somente se aplica às eleições proporcionais, considerando inconstitucional a menção, pela Resolução, aos eleitos pelo sistema majoritário. 
3. Vedação a partidos como organização paramilitar (art. 14, §4º, CF): é vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar, bem como utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros.
- Modelos de organização partidária:
	 Unipartidarismo: sistema de partido único, próprio de regimes autoritários.
 Bipartidarismo: sistema de dois grandes partidos, que se alternam no poder. Ex.: ARENA x MDB.
	 Pluripartidarismo: diversos partidos, representativos de todas as correntes de opinião da sociedade. É o sistema adotado no Brasil (art. 1º, V, CF).
	
- Sistemas eleitorais: são técnicas e procedimentos utilizados na realização das eleições. Os dois sistemas básicos existentes são o majoritário e o proporcional, os quais podem ser combinados de forma variada (mistos). Senão vejamos:
	 Sistema majoritário: serão eleitos, em determinado território, os candidatos que obtiverem o maior número de votos (princípio majoritário), podendo ser exigida a maioria absoluta (mais de 50% dos votos, realizando-se um 2º turno, caso nenhum alcance tal patamar) ou relativa/simples (bastando que o candidato obtenha o maior número de votos).
	 Sistema proporcional: tem como principal finalidade permitir que todos os partidos sejam representados no Parlamento na proporção mais próxima possível do número de votos obtidos.
Sistema de lista fechada, preordenada ou bloqueada: a ordem dos candidatos é estabelecida, antes das eleições, pelos partidos, não podendo ser alterada pelos eleitores. As cadeiras conquistadas por cada partido serão ocupadas pelos primeiros da lista partidária. 
Sistema de lista flexível: apesar de ser preestabelecida uma lista ordenada pelos partidos, permite a intervenção dos eleitores na sua ordem. Este sistema oferece ao eleitor a possibilidade de alterar, com um segundo voto em determinado candidato, a posição em que se encontram na lista.
Sistema de lista livre ou aberta (CF/88): os eleitores podem votar em tantos nomes quantas forem as cadeiras a serem preenchidas, escolhidos entre candidatos constantes de uma lista não ordenada, apresentada pelos partidos políticos. Em um primeiro momento, o número de votos dado aos candidatos e à legenda é computado para o cálculo do número de cadeiras de cada partido ou coligação, e, em seguida, o número de votos nominais recebidos pelos candidatos é considerado para definir a ordem dos eleitos por cada agremiação. Neste sistema, portanto, a ordem final dos candidatos é determinada pelo voto individual dos eleitores, e não, pelos partidos. É o sistema atualmente adotado no Brasil.
	 Sistema misto: pode ser de duas espécies, a saber: a) de combinação ou superposição: uma parte das cadeiras no Parlamento é preenchida pelo sistema proporcional e a outra, pelo sistema majoritário. As duas formas de eleição são completamente independentes entre si, havendo uma mera superposição dos dois sistemas; b) de correção: as cadeiras proporcionais são distribuídas com o objetivo de corrigir as distorções geradas pela parte majoritária. A partir de um cálculo geral feito para o conjunto das cadeiras, é estabelecida a proporcionalidade do todo. Este sistema é adotado na Alemanha e na Itália.
- Fidelidade partidária: 
O STF, reconhecendo a correção da tese defendida pelo TSE na Consulta n. 1.398/DF, reconheceu o caráter partidário dos cargos eletivos. Segundo o entendimento adotado pela Suprema Corte, o caráter partidário das vagas é extraído da norma constitucional que prevê o sistema proporcional (CF, art. 45), no qual a vinculação entre candidato e partido político se prolonga após a eleição, sendo que o ato de infidelidade, seja ao partido político, seja ao próprio cidadão-eleitor, mais do que um desvio ético-político, representa, quando não precedido de uma justa razão, uma inadmissível ofensa ao princípio democrático e ao exercício legítimo do poder. Além de causar surpresa no corpo eleitoral e nas agremiações partidárias de origem, privando-as da representatividade conquistada nas urnas, migrações inesperadas acabam por acarretar um arbitrário desequilíbrio de forças no Parlamento, fraudando a vontade popular e coibindo, em razão da súbita redução numérica, o pleno exercício da oposição política.
Para que o parlamentar possa voluntariamente mudar de partido sem perder o cargo, a mudança deve ser motivada (como, por exemplo, em razão de mudança significativa da orientação programática do partido ou comprovada perseguição política).
Saliente-se que o Plenário do STF, em 27/05/2015, decidiu que não se aplica aos cargos do sistema majoritário de eleição a regra de perda do mandato em favor do partido, por infidelidade partidária, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor. 
Nas eleições pelo sistema proporcional (vereadores e deputados), há razões lógicas para que se entenda que o voto pertence ao partido, e não, ao candidato, notadamente, pela admissão do voto de legenda e pelo fato de os votos atribuídos ao partido ou a candidato de determinado partido ou coligação aproveitarem aos demais candidatos deste mesmo partido ou coligação.
Diferentemente, nas eleições pelo sistema majoritário (chefes do PE e senadores), o eleitor identifica claramente em qual candidato vota, de modo que não se pode entender que, neste caso, o mandato pertence ao partido. 
Se a soberania popular integra o núcleo essencial do princípio democrático, não se afigura legítimo estender a regra da fidelidade partidária ao sistema majoritário, por implicar desvirtuamento da vontade popular vocalizada nas eleições. Tal medida, sob a justificativa de contribuir para o fortalecimento dos partidos brasileiros, além de não ser necessariamente idônea a esse fim, viola a soberania popular, ao retirar os mandatos de candidatos escolhidos legitimamente por votação majoritária dos eleitores.
SUFRÁGIO: NATUREZA E FORMA
Natureza: sufrágio, instituição essencial, da democracia representativa, é o direito público subjetivo, de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder estatal. É exercido pelo voto, com ele não se confundindo. O escrutínio, por seu turno, corresponde ao modo de exercício do voto.
Formas:
1. Quanto à extensão: pode ser universal ou restrito (censitário, capacitário ou por razões de sexo).
2. Quanto à igualdade: pode ser igual (one man, one vote) ou desigual, este último subdividindo-se em:
	- Múltiplo: o eleitor tem direito de votar em mais de uma circunscrição eleitoral.
	- Plural: o eleitor pode votar mais de uma vez na mesma circunscrição eleitoral.
	- Familiar: o chefe de família dispõe de tantos votos quantos forem os membros de sua família.
No Brasil, o sufrágio é universal, igual, sendo exercido por voto direto e secreto. 
DIREITO ADMINISTRATIVO. Licitações. Fundamento constitucional. Conceito e modalidades. O regime de licitações e alterações. Dispensa e inexigibilidade. Revogação e anulação, hipóteses e efeitos. Pregão e consulta. O Registro de preços. Contratos administrativos Conceito e características. Invalidação.

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