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FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN 19. ANESTÉSICOS LOCAIS São drogas que promovem alívio da dor através da interrupção da condutibilidade elétrica de uma membrana excitável de forma reversível e temporária em uma determinada área do corpo. A cocaína foi o primeiro anestésico local conhecido originalmente, extraído das folhas da Erytroxylon coca, planta nativa, utilizada pelos povos andinos. Suas ações clinicamente desejadas são: bloqueio da transmissão nervosa e vasoconstrição. Tem potencial toxicidade alta (é excitante do SNC) e risco de causar abuso e dependência. Impulsionou a busca por novos anestésicos locais, sem os seus inconvenientes. Os anestésicos locais são compostos por um anel aromático em uma das extremidades, uma cadeia intermediária, que pode ser ÉSTER ou AMIDA e uma amina na outra extremidade: Anel aromático + ÉSTER ou AMIDA + Amina E classificados de acordo com sua cadeia intermediária em GRUPO ÉSTER e GRUPO AMIDA. Farmacocinética: - GRUPO ÉSTER: Rapidamente metabolizada por esterases plasmáticas. Distribuição limitada, efeitos de curta duração. Baixa incidência de toxicidade e potencial para reações alérgicas. Exemplos: Derivados do PABA, PROCAÍNA, CLOROPROCAÍNA. - GRUPO AMIDA: Metabolismo hepático (N- desalquilação e hidrólise), portanto com efeitos mais duradouros na insuficiência hepática. Elevadas taxas de distribuição, com risco de toxicidade sistêmica e baixo potencial para reações alérgicas. Exemplos: Derivados da ANILINA, LIDOCAÍNA (Xylocaína®), BUPIVACAÍNA. - Quanto maior a ligação com proteínas plasmáticas, menos atravessa a barreira placentária e maior proteção ao feto. Quanto a ligação com proteínas plasmáticas: BUPIVACAÍNA(95%) > MEPIVACAÍNA(77%) > LIDOCAÍNA(64%) > PRILOCAÍNA(55%) - Também são classificadas de acordo com o tempo de anestesia em: 1. Ação Curta (20-45min): PROCAÍNA(éster), BENZOCAÍNA(éster), CLORPROCAÍNA(éster) 2. Ação Intermediária (60-120min): LIDOCAÍNA(amida), PRILOCAÍNA(amida), MEPIVACAÍNA(amida) 3. Ação longa (até 400min): BUPIVACAÍNA(amida), TETRACAÍNA(éster), ROPIVACAÍNA(amida), ETIDOCAÍNA(amida) Os anestésicos locais são bases fracas pouco solúveis em água, porém solúveis em lipídeos. Usados na forma de cloridratos, a fim de melhorar a solubilidade e aumentar a estabilidade em meio aquoso. Ocorrem na forma neutra ou ionizada, dependendo do pKa do composto e do pH do meio. Portanto, sofrem influência do pH do local de administração em suas ações: - pKa dos A.L. → 7,5-9,5 - pH dos tecidos normais →7,4 - pH dos tecidos inflamados → < 7,4 (muito H+ livre, são mais ácidos) → Anestésico não pegou? Causa: alteração do pH do local de administração(para mais ácido) devido a inflamação/infecção. → Por quê? O anestésico penetra na fibra apenas na sua forma molecular, porém, quanto mais ácido estiver o pH do meio, maior será sua fração ionizada a qual não penetrará na fibra. FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN ANESTESIA EM TECIDO NORMAL TECIDO INFLAMADO Ocorre bem Não ocorre plenamente DISSOCIAÇÃO DA DROGA Maior parte molecular Maior parte ionizada Menor parte ionizada Menor parte molecular Mecanismo de ação: a forma molecular do A.L. penetra na fibra nervosa e sofre dissociação intra-nervo, a fração ionizada dentro da fibra bloqueia os canais de Na+ voltagem-dependentes (na porção interna da membrana), reduzindo o influxo de Na+ e a despolarização da fibra, consequentemente, diminui-se ou impede a condução do impulso nervoso. Efeitos adversos: - Reações alérgicas(éster são mais alergênicos); - Bloqueio dos canais de Na+ pode causar: - No sistema cardiovascular: hipotensão (raqui e epidural → bloqueio simpático medular, depressão miocárdica direita); - Bloqueio neuromuscular e ganglionar. Reações tóxicas no SNC: quando em nível plasmático elevado, ocorrem os “efeitos centrais” que podem ser graves, iniciando com uma ESTIMULAÇÃO (excitação, tremores, sialorréia, delírio, náusea, vômito, convulsões), evoluindo rapidamente para DEPRESSÃO (respiratória, circulatória, coma). Estas reações são raras, desde que respeitadas as doses máximas. A dose plasmática pode ser elevada quando: - Dose total é muito alta; - Absorção do local é muito rápida (relacionado com a vascularização e pH do local); - Administração acidental intravascular; - Biotransformação e excreção lentas (insuficiência Hepática/Renal); - Variabilidade individual (peso, idade) Tratamento para a intoxicação: Benzodiazepínicos (Diazepan IV) + Oxigênio Usos clínicos dos A.L.: - Pequenos procedimentos cirúrgicos (médicos e odontológicos) → todos os tipos de anestesia local; - Arritmia cardíaca → procaínamida e lidocaína; - Anticonvulsivante → lidocaína. � ASSOCIAÇÕES: 1) A.L. + Vasoconstritores Vasoconstritores: ADRENALINA, NORADRENALINA, FENILEFRINA, LEVONORDEFRINA FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN A vasoconstrição diminui a absorção da droga, com isso, reduz a toxicidade e aumenta o tempo de ação do A.L., também diminui o sangramento no procedimento e possibilita usar menor dose do anestésico. As contraindicações para esta associação são: angina instável (risco de IAM), Infarto do miocárdio recente (6 meses), cirurgia de ponte de safena recente, arritmias refratárias, hipertensão severa não controlada ou não tratada, ICC não controlada ou não tratada. Avaliar risco x benefício em diabéticos, pois a vasoconstrição pode levar a necrose e gestantes quando não é parto a termo. 2) A.L. + Hialuronidases Hiluronidase é uma enzima mucolítica que hidrolisa o ácido Hialurônico (um “cimento intercelular”), e, assim, aumenta a difusão da substância injetada: aumentando a absorção da droga, consequentemente também aumenta sua toxicidade e reduz o tempo de ação. A vantagem é que aumenta a área de absorção e por isso é utilizada em procedimentos como lipoaspirações.
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