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1 Redes Industriais: Fieldbus e DeviceNet Ana Claudia Medeiros Lins de Albuquerque Departamento de Engenharia de Computação e Automação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Campus Universitário s/n - 59072-970 - Natal - RN - Brazil aclaudia@dca.ufrn.br Resumo Os Sistemas de Automação e Controle têm se apoiado cada vez mais em Redes de Comunicação Industriais, seja pela crescente complexibilidade dos processos industriais, seja pela distribuição geográfica que se tem acentuado nas novas instalações industriais. Neste artigo, são abordadas duas importantes redes industriais: a rede DeviceNet e a rede Fieldbus. Algumas características peculiares sobre cada uma delas são mencionadas, assim como questões de manutenção e interoperabilidade. Abstract Industrial Networks are being used, even more frequently, in Control Systems and Automation Systems due to the increasing complexity of industrial processes and, also, due to the boost of geografic distribution of new industrial establishments. In this paper, two important industrial networks are presented: the deviceNet network and the Fieldbus network. Some peculiar characteristics of each one of them are mentioned and, also, it is discussed maintenance and interoperability manners. Palavras Chaves: Redes industriais, DeviceNet, Fieldbus. 1. Introdução A automação industrial vem a vários anos tentando substituir o velho padrão de corrente 4-20mA por um sistema de comunicação serial. Com o desenvolvimento da informática nos anos 80 e a constante redução dos custos de componentes microcontrolados, a implementação de sistemas com comunicação serial em larga escala mundial aplicados as redes de comunicação dos microcomputadores tornou-se possível. Já no início dos anos 90, por sua vez, tentou-se estabelecer vários protocolos de comunicação digital no mercado de automação industrial e, de fato, vários deles estão em uso controlando processos automáticos e distribuindo informações aos equipamentos de controle. Entretanto, devido ao fracasso do processo de normalização de um único protocolo, várias associações técnicas foram estabelecidas propondo protocolos abertos onde vários fabricantes poderiam desenvolver produtos oferecendo aos usuários independência na escolha. Neste contexto, surgiram a Fieldbus Foundation e a Open DeviceNet Vendor Association. 2. Introdução à Rede DeviceNet A rede DeviceNet consiste numa rede industrial de baixo nível que proporciona comunicações utilizando o mesmo meio físico entre os equipamentos, desde os mais simples, como sensores e atuadores, até os mais complexos como controladores lógicos programáveis e microcomputadores. A rede DeviceNet possui um protocolo aberto, tendo um número expressivo de fornecedores de equipamento que adotaram o protocolo. Além disso, conta com uma organização independente, a Open DeviceNet Vendor Association - ODVA, citada anteriormente, que possui como objetivo divulgar, padronizar e difundir a rede DeviceNet visando seu crescimento industrial. A rede DeviceNet baseia-se no protocolo CAN, cuja sigla significa Controller Area Network , e foi desenvolvido pela Bosh nos anos 80 originalmente para aplicação automobilística e posteriormente adaptada ao uso industrial. O protocolo CAN define uma metodologia MAC (Controle de Acesso ao Meio) e fornece como segurança um checagem CRC (Vistoria Redundante Cíclica), que detecta estruturas alteradas e erros detectados por outros mecanismos do protocolo. A rede DeviceNet é muito versátil, sendo utilizada em milhares de produtos fornecidos por vários fabricantes, desde sensores inteligentes até interfaces homem-máquina, suportando vários tipos de mensagens 2 e fazendo com que a rede trabalhe da maneira mais inteligente possível. 3. Introdução à Rede Fieldbus A rede Fieldbus consiste em uma evolução para a comunicação digital em instrumentação e controle de processos. Ela difere dos outros protocolos de comunicação uma vez que foi desenvolvida para suportar aplicações em controle de processos, e não apenas transferir dados em modo digital. A rede Fieldbus apresenta um sistema de comunicação serial do tipo two-way totalmente digital que interconecta equipamentos de campo (field) como sensores, atuadores e controladores. A rede Fieldbus consiste em uma Local Area Network - LAN, para instrumentos utilizados tanto em automação de processos quanto em automação de manufaturas com capacidade de distribuição de controle através da rede. A rede Fieldbus faz uso de blocos funcionais padrão na implementação da estratégia de controle. Esses blocos funcionais são funções de automatização padronizadas. Várias funções de sistemas de controle, tais como entrada analógica, saída analógica e controle proporcional/integral/derivativo - PID, podem ser simuladas pelo dispositivo de campo através do uso dos blocos funcionais . A implementação de blocos funcionais consistentes é de fundamental importância pois permite a distribuição de funções em dispositivos de campo de diferentes fabricantes de uma forma integrada. Essa distruibuição de controle entre os dispositivos de campo, por sua vez, podem reduzir a quantidade de entrada e saída, assim como a necessidade de controle de equipamentos. A Figura 1 ilustra essa redução de Hardware obtida com o uso de rede Fieldbus. Figura 1: Redução de Hardware Além do que já foi dito, tem-se que a rede Fieldbus permite que vários dispositivos sejam conectados em um único par de fio. Sendo assim, necessita-se de uma menor quantidade de fios e de menos barreiras de segurança intrínsecas, proporcionando uma grande economia na fase de instalação, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2: Economia na Instalação 4. Características da Rede DeviceNet A rede DeviceNet pode ser utilizada por vários tipos de equipamento e foi idealizada para operar com três taxas de transmissão. São elas: 125KBauds, 250KBauds e 300 KBauds. A seleção da taxa de transmissão a ser utilizada pode ser feita via software, chave, ou automaticamente, dependendo do projeto de cada equipamento. As topologias em linha e árvore podem ser aplicadas, sendo que o comprimento máximo permitido varia de acordo com o tipo de cabo e com a taxa de transmissão da rede, restringindo-se também o tamanho das derivações, conforme exposto na Tabela 1. Taxa Comp. Máx. 125 KBaud 250KBaud 500KBaud Cabo Grosso 500m 250m 100m Cabo Fino 100m 100m 100m Derivação Máxima 6m 6m 6m Total Acumulado nas Derivações 156m 78m 39m Tabela 1: Comprimento Máximo dos Cabos em Relação as Taxas de Transmissão Utilizadas A rede DeviceNet permite o endereçamento de até 64 nós (MACID – Media Acess Control Identifiers) onde cada endereço pode suportar um infinito número 3 de I/Os, como por exemplo, um atuador pneumático de 32 válvulas ou um módulo com 16 entradas discretas. Cada equipamento possui um microcontrolador que gerencia o armazenamento em memória não volátil do seu endereço, que pode ser definido pelo software ou chaves tipo dipswitch. No que diz respeito ao meio físico, a rede DeviceNet utiliza um cabo padrão de dois pares trançados, sendo um dos pares responsável pela distribuição da alimentação 24Vcc nos diversos nós, e o outro utilizado para o sinal de comunicação. Se mais de um participante tentar acessar a rede simultaneamente, um mecanismo de arbítrio resolve o conflito sem perdas de dados, diferenciando-seda Ethernet, que utiliza a detecção de colisão com sua perda de dados, e a banda de freqüência. A Figura 3 ilustra a frame de dados utilizada pela rede DeviceNet. Figura 3: Frame de Dados Utilizada pela Rede DeviceNet A ODVA também atua junto aos fabricantes fornecendo cursos de treinamento, software de desenvolvimento de produtos, testes de conformidade e atividades de marketing, coordenando a publicação do catálogo de produtos e do website www.odva.org. 5. Características da rede Fieldbus A tecnologia da Foundation Fieldbus é composta por três componentes. São eles a camada física, a pilha de comunicação e a aplicação de usuário. O modelo de comunicação em camadas OSI é utilizado em todos esses três componentes. Conforme ilustra a Figura 4, a camada física corresponde a primeira camada OSI, a camada de enlace de dados corresponde a segunda camada OSI, a camada de especificação de mensagens Fieldbus corresponde a sétima camada OSI e a pilha de comunicação corresponde as camadas 2 e 7 do modelo OSI. O Fieldbus não utiliza as camadas OSI 3,4,5 e 6. A subcamada de acesso ao Fieldbus, por sua vez, mapeia a especificação de mensagens Fieldbus para a camada de enlace. A aplicação de usuário não encontra-se especificada no modelo OSI, porém, foi especificada pela Fieldbus Foundation. Cada camada do sistema de comunicação é responsável por parte das mensagens que são transmitidas através do Fieldbus. Figura 4: O modelo OSI e a disposição em camadas da rede Fieldbus A camada física, por sua vez, é definida pelos padrões IEC e ISA. Ela recebe mensagens da pilha de comunicação e as converte em sinais físicos no meio de transmissão Fieldbus e vice-versa. Essas tarefas de conversão incluem o adicionamento e remoção de preâmbulos, delimitadores de início e delimitadores de fim. Os sinais Fieldbus são codificados através do uso do código Manchester. O sinal é chamado de serial síncrono uma vez que a informação do clock encontra- se embutida na cadeia de dados serial. Sendo assim, os dados são combinados com o sinal de clock para criação do sinal Fieldbus, conforme ilustra a Figura 5. O receptor do sinal Fieldbus interpreta uma transição positiva como “0” lógico e uma transição negativa como “1” lógico. Figura 5: O código Manchester 4 A Figura 6, por sua vez, ilustra a pilha de comunicação dos sistemas Fieldbus. Figura 6: A Pilha de Comunicação dos Sistemas Fieldbus A camada de enlace, (segunda camada), controla a transmissão das mensagens pela rede Fieldbus. Alé m disso, ela também gerencia o acesso ao Fieldbus através de um gerenciador deterministico de barramento centralizado conhecido por Link Active Scheduler, ou apenas LAS. Dois tipos de dispositivos são definidos na especificação da camada de enlace. São eles: dispositivo básico e link mestre. Os dispositivos link mestre são capazes de tornarem- se um LAS. Em contrapartida, os dispositivos básicos não possuem capacidade de tornarem-se um LAS. Os serviços de comunicação de especificação de mensagens Fieldbus disponibilizam uma padronização para as aplicações de usuários com a utilização de blocos funcionais para comunicação através da rede Fieldbus. Serviços específicos de comunicação são definidos para cada tipo de objeto. Vale ressaltar que todos os serviços de especificação de mensagens Fieldbus podem utilizar apenas o tipo Cliente/Servidor VCR, exceto quando especificado. O Fieldbus Foundation definiu uma aplicação de usuário padrão baseada na utilização de blocos que, por sua vez, consistem em representações de diferentes tipos de funções de aplicação. Existem três tipos de blocos utilizados em uma aplicação de usuário. São eles: blocos fontes, blocos funcionais e blocos transdutores. O bloco fonte descreve as características dos dispositivos Fieldbus, tais como nome do dispositivo, fabricante e número de série. Existe apenas um bloco fonte para cada dispositivo. O bloco funcional, por sua vez, provê o comportamento do sistema de controle. Os parâmetros de entrada e saída dos blocos funcionais podem ser linkados através do Fieldbus. A execução de cada bloco funcional é precisamente agendada. Em uma única aplicação de usuário podem existir diveros blocos funcionais. Os blocos transdutores desacoplam os blocos funcionais das funções de entrada e saída locais necessárias para a leitura de sensores e de hardware de comando de saída. Eles contêm informações como data de calibração ou tipo de sensor. Existe, nomalmente, um bloco transdutor para cada bloco funcional de entrada e saída. 6. Manutenção A manutenção de uma rede DeviceNet pode ser muito simples ou extremamente complexa e confusa, dependendo de como a rede foi montada. Uma rede com pré-projeto, analisando topologia, comprimento dos cabos, cálculo de queda de tensão, cálculo de correntes admissíveis, e análise da banda utilizada determinam a estabilidade e funcionalidade da rede. Caso esses fatores não sejam considerados, podem ocorrer algumas instabilidades na rede. Redes bem projetadas dificilmente apresentam problemas de instabilidade. Entretanto, caso isto ocorra, existem softwares e equipamentos de análise para as redes DeviceNet que fornecem importantes dicas para solução de problemas tais como número de erros por segundo da rede como um todo e de cada endereço, número de erros acumu lados, porcentagem de utilização da banda de comunicação disponível, tensão entre negativo e dreno e tensões entre as linhas de comunicação e a alimentação. Vale ressaltar que o número de erros acumulados por endereço fornece uma importante pista de onde possa estar o problema, entretanto, precisa-se prestar muita atenção pois redes com problemas de aterramento podem causar falhas de comunicação com algum equipamento que esteja funcionando corretamente. A manutenção de uma rede Fieldbus também é bastante simples. Caso seja detectado algum comportamento ou condição anormal, ações corretivas podem ser iniciadas rapidamente, com total segurança. Além disso, devido ao fato de serem menos complexos que os sistemas do tipo bus convencionais, os sistemas Fieldbus apresentam menores custos de manutenção. Com o uso de sistemas Fieldbus, a visualização de todos os dispositivos presentes no sistema, assim como as interações existentes entre eles fica mais perceptível, o que facilita a detecção da fonte de um proble ma qualquer tornando, assim, a sua manutenção mais rápida e fácil. 5 7. Interoperabilidade Uma grande vantagem da rede DeviceNet é a habilidade de se ligar/desligar os equipamentos com a rede energizada sem a necessidade de desligar sua alimentação. Entretanto, medidas extras com relação a topologia e a estrutura de conexão devem ser adotadas para que, ao se subtituir um equipamento qualquer, não ocorra o desligamento dos equipamentos subseqüentes. Para efetuar trocas com maior segurança, deve-se utilizar as caixas de derivação, onde liga-se e desliga-se os equipamentos através de conectores plug-in que minimizam a probabilidade de curto entre os fios, que podem interromper o funcionamento da rede até danificar permanentemente vários equipamentos. O Fieldbus Foundation consiste em um protocolo aberto. Sendo assim, existem diversos fabricantes com certificação da Fieldbus Foundation que fornecem dispositivos de suporte que podem trabalhar juntamente com outros dispositivos de outros fabricantes sem nenhuma perda de funcionalidade. Esta habilidade de operação sobre múltiplos dispositivos, independentemente do fabricante, em um mesmosistema, e sem perda de qualquer tipo de funcionalidade, é de importância fundamental em qualquer sistema. 8. Conclusões O uso de redes industriais como a DeviceNet e a Fieldbus proporcionam inúmeras vantagens para a automação industrial, uma vez que possibilitam uma grande redução de gastos com instalação de equipamentos, tais como cabos, bandejas, caixas de junção, entre outros. Além disso, com o uso dessas redes, é possível diminuir o tempo necessário para montagem de equipamentos, assim como permitir a intercambialidade de instrumentos de diversos fabricantes. A rede proporciona, também, a comunicação entre os participantes através da implementação de níveis de auto diagnóstico, nem sempre disponível nas instalações convencionais. Por fim, a existência de entidades como a Open DeviceNet Vendor Association (ODVA) e a Fieldbus Foundation são de fundamental importância, uma vez que elas são responsáveis pela manutenção do padrão das redes DeviceNet e Fieldbus. Referências [1] Fieldbus Tutorial: A Foundation Fieldbus Technology Overview; [2] Constantino Seixas Filho, Tutorial – DeviceNet; [3] Cursos de Redes Industriais – DeviceNet – www.sense.com.br; [4] Fieldbus Tutorial : http://dali.ece.curtin.edu.au/~clive/Fieldbus
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