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Digesto de Justiniano

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> r1 CENTRAL 
V —• 
DIGES 
DE JUSTINIANO 
L i b e r P r i m u s 
Introdução ao Direito Romano 
3.a edição revista da tradução de 
H É L C I O M A C I E L FRANÇA M A D E I R A 
E d i ç ã o b i l íngüe: L a t i m - P o r t u g u ê s 
Co-edição 
II 
UNIVERSITÁRIO Fito 
Ri? EDITORA 
REVISTA D O S TRIBUNAIS 
DIGESTA 
Domini nostri sacrat iss imi principis 
Iust in iani iur i s enuc lea t i ex onini 
vetere iure collecti D iges torum seu 
P a n d e c t a r u m liber pr imus . 
DIGESTO1 
P r i m e i r o l ivro d o s " D i g e s t o s " o u 
" P a n d e c t a s " do dire i to enuc leado 2 e 
s e l ec ionado de todo o direito ant igo , 
do sacrat í s s imo pr ínc ipe J u s t i n i a n o 
nosso Senhor. 
( ,) Digestos; selecionados. • 
,J) Elucidado; estudado minuciosamente. * 
I 
De iustitia et iure 
D.l . l . Ip r . 
U L P I A N U S libro primo institutionum 
Iuri operam daturum prius nosse oportet, 
unde nomen iuris descendat. Est autem 
a iustitia appellatum: nam, ut eleganter 
Celsus definit, ius est ars boni et aequi. 
D.l.1.1.1 
Cuius mérito quis nos sacerdotes appellet: 
iustitiam namque colimus et boni et aequi 
notitiam profitemur, aequum ab iniquo 
sepa ran tes , l ici tum ab i l l ic i to 
discernentes, bonos non solum metu 
poenarum, verum etiam praemiorum 
quoque exhortatione efficere cupientes, 
veram nisi fallor philosophiam, non 
simulatam affectantes. 
D.l.1.1.2 
Huius studii duae sunt positiones," 
publicum et privatum. Publicum ius e s t ' 
I 
Da justiça e do direito 
É preciso que aquele que há de se 
dedicar ao direito primeiramente saiba 
de onde descende o nome "direito" (ius). 
Vem, pois, de "justiça" chamado. De 
fato, como Celso elegantemente define, 
direito é a arte do bom e do justo.3 
Com base neste direito Celso nos deno-
mina sacerdotes: pois cultuamos a jus-
tiça e professamos o conhecimento do 
bom e do justo, separando o justo do 
iníquo, discernindo o lícito do ilícito, 
desejando que os homens bons se façam 
não só pelo medo das penas mas tam-
bém pela motivação dos prêmios, aspi-
rando não à simulada filosofia, se não 
me engano, mas à verdadeira. 
São dois os temas deste estudo: o públi-
co e o privado. Direito público é o que se 
0> Équo, equitativo. • 
1 8 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
quod ad statum rei Romanae spcctat, 
privatum quod ad singulorum utilitatem: 
sunt enim quaedam publice utilia, 
quaedam privaiim. Publicum ius in 
sacris, in sacerdotibus. -in magistratibus 
constitil. Privatum ius tripertitum est: 
collectum etenim est ex naturalibus 
praeceptis aut gentium aut civilibus. 
D.l.1.1.3 
Ius naturale est, quod natura omnia 
animalia docuit: nam ius istud non 
humani generis proprium, sed omnium 
animalium, quae in terra, quae in mari 
nascuntur, avium quoque commune est. 
Hinc descendit maris atque feminae 
coniunctio, quam nos matrimonium 
appellamus, hinc liberorum procreatio, 
hinc educatio: videmus etenim cetera 
quoque animalia, feras etiam istius iuris 
peritia censeri. 
D.l.1.1.4 
Ius gentium est, quo gentes humanae 
utuntur. Quod a naturali recedere facile 
intellegere licet, quia illud omnibus 
animalibus, hoc solis hominibus inter se 
commune sit. 
D.l .1 .2 
P O M P O N I U S libro singulari enchiridii 
Veluti erga deum religio: ut parentibus 
et patriae pareamus: 
volta ao estado da res Romana,* privado 
o que se volta à utilidade de cada um dos 
indivíduos, enquanto tais. Pois alguns 
são úteis publicamente,3 outros particu-
larmente. O direito público se constitui 
nos-sacra,6 sacerdotes e magistrados. O 
direito privado é tripartido: foi, pois, 
selecionado ou de preceitos naturais, ou 
civis, ou das gentes. 
O direito natural é o que a natureza 
ensinou a todos os animais. Pois este 
direito não é próprio do gênero huma-
no, mas de todos' os animais que 
nascem na terra ou no mar, comum 
também das aves. Daí deriva a união 
do macho e da fêmea, a qual deno-
minamos matrimônio; daí a procriação 
dos filhos, daí a educação. Percebemos, 
pois, que também os outros animais, 
jnesmo as feras, são guiados pela 
experiência deste direito. 
O direito das gentes é aquele do qual os 
povos humanos se utilizam. O que per-
mite facilmente entender que ele se 
distancia do natural, porque este é co-
mum a todos os animais e aquele é 
comum somente aos homens entre si. 
Por exemplo, a religião diante de Deus: 
a fim de que correspondamos7 aos nos-
sos antepassados e à pátria. 
(4) Da coisa pública romana; do Estado romano. E 
, J ) De utilidade pública. * 
(6) Nas coisas sacras. 0 
<7) Obedeçamos. • 
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 1 9 
D.l.1.3 
FLORENTINUS libro primo institutionum 
Ut vim atque iniuriam propulsemus: 
nam iure hoc evenit, ut quod quisque ob 
tutelam corporis sui fecerit, iure fecisse 
existimetur, et cum inter nos cognationem 
quandam natura constituit, consequens 
est hominem homini insidiari nefas esse. 
D . l . 1 . 4 
U L P I A N U S libro primo institutionum 
Manumissiones quoque iuris gentium 
sunt. Est autem manumissio de manu 
missio, id est datio libertatis: nam 
quaindiu quis in servitute est, manui et 
potestati suppositus est, manumissus 
iiberatur potestate. Quae res a iure 
gentium originem sumpsit, utpote cum 
iure naturali omnes liberi nascerentur 
nec esset nota manumissio, cum servitus 
esset incógnita: sed posteaquam iure 
gentium servitus invasit, secutum est 
benefícium manumissionis. Et cum uno 
naturali nomine homines appellaremur, 
iure gentium tria genera esse coeperunt: 
liberi et his contrarium servi et tertium 
genus liberti, id est hi qui desierant esse 
servi. 
D.l.1.5 
H E R M O G E N I A N U S libro primo iuris 
epitomarum 
A fim de que repilamos a violência e a 
injúria: pois deste direito decorre que o 
que cada um fizer para a proteção do seu 
corpo seja estimado como tendo sido 
feito legitimamente e, como a natureza 
constituiu entre nós um certo parentes-
co,8 por conseqüência é contrário à reli-
gião que um homem aja insidiosamente 
contra outro homem. 
Também as manumissões são do direito 
das gentes. Vem, pois, a manumissão de 
"demissão9pela mão", isto é, a conces-
são da liberdade: pois enquanto o 
manumitido se liberta da potestas, o que 
estiver em servidão se submete à manus 
e à potestas-,10 Isto toma origem no di-
reito das gentes, visto que por direito 
natural todos nasceriam livres e não se 
conheceria a manumissão. bem como se 
desconheceria a servidão. Mas depois 
que a servidão se iniciou pelo direito das 
gentes , seguiu-se o bene f í c io da 
manumissão. E como por, um único 
nome natural seriamos chamados "ho-
mens", por direito das gentes começa-
mos a ser de três gêneros: os livres, os 
servos (em oposição àqueles) e, como 
terceiro gênero, os libertos, isto é, os 
que deixaram de ser servos. 
!) Uma certa igualdade de emia. * 
l" Ação de livrar, livramento. • 
(,0) À mão e ao poder. 0 
2 0 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
Ex hoc iure gentium introducta bella, 
discretae gentes, regna condita, dominia 
distincta. agris termini positi, aedificia 
collocata, commercium, emptiones 
venditiones. locationes conductiones, 
obligationes institutae: exceptis quibusdam 
quae iure civili introductae sunt. 
D. l . l .ópr . 
U L P I A N U S libro primo institutionum 
Ius civile est, quod neque in totum a 
naturali vel gentium recedit nec per 
omnia ei servit: itaque cum aliquid 
addimus vel detrahimus iuri communi, 
ius proprium. id est civile efficimus. 
D.l.1.6.1 
Hoc igitur ius nostrum constat aut ex 
scripto aut sine scripto, ut apud graecos: 
tüiv vó^itóv oí pèv EYYpacpoi, oi 5è 
ãypatpoi. 
D.1.1.7pr. 
P A P I N I A N U S libro secundo definitionum 
Ius autemcivile est, quod ex legibus, 
plebis scitis, senatus consultis, decretis 
principum, auctoritate prudentium venit. 
D.l .1.7.1 
Ius praetorium est, quod praetores 
introduxerunt adiuvandi vel supplendi 
vel corrigendi iuris civilis gratia propter 
utilitatem publicam. Quod et honorarium 
dici tur ad honorem praetorum sic 
nominatum. 
Por este direito das gentes as guerras 
foram introduzidas, destacados os po-
vos, fundados os reinos, distintos os 
domínios, postos os limites nos campos, 
construídos os edifícios, instituídos o 
comércio, as compras e vendas, as loca-
ções e as obrigações; excetuadas outras 
coisas que foram introduzidas pelo ius 
civile. 
Ius civile é o que não se afasta no todo 
do direito natural ou do direito das 
gentes, bem como não serve a este cm 
todas as coisas. Assim, quando acres-
centamos ou subtraímos algo do direito 
comum, tornamo-lo um direito próprio, 
isto é, um direito civil. 
Este nosso direito portanto se estabelece 
ou por escrito ou não, como entre os 
gregos se diz: das normas, umas são 
escritas outras não escritas. 
Ius civile é o que advém das leis, ple-
biscitos, senatus-consultos, decretos dos 
príncipes e da autoridade dos prudentes. 
O direito pretoriano" é o que os pretores 
introduziram a fim de auxiliar, suprir ou 
corrigir o ius civile, por causa de uma 
utilidade pública. O qual também se diz 
honorário, assim denominado em razão 
da honra aos pretores. 
( l " Pretório.• 
I B U O T E C A D F CIÊNCIAS JURÍDICAS 
D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 2 1 
D.l .1 .8 
M A R C I A N U S libro primo institutionum 
Nam et ipsum ius honorarium viva vox 
est iuris civilis. 
D . l . 1 .9 
G A I U S libro primo institutionum 
Omnes populi, qui legibus et moribus 
reguntur, partim suo proprio, partim 
communi omnium hominum iure utuntur. 
Nam quod quisque populus ipse sibi ius 
constituit, id ipsius proprium civitatis 
est vocaturque ius civile, quasi ius 
proprium ipsius civitatis: quod vero 
naturalis ratio inter omnes homines 
constituit . id apud omnes peraeque 
custoditur vocaturque ius gentium. quasi 
quo iure omnes gentes utuntur. 
D. l . l . lOpr . 
U L P I A N U S libro primo regularum 
Iustitia est constans et perpetua voluntas 
ius suum cuique tribuendi. 
D.l .1.10.1 
Iuris praecepta sunt haec: honeste vive-
re, alterum non laedere, suum cuique 
tribuere. 
D. l .1 .10.2 
Iuris prudentia est divinarum atque 
humanarum rerum notitia, iusti atque 
iniusti scientia. 
D.l .1 .11 
P A U L U S libro quarto decimo ad Sabinum 
Pois também o próprio direito honorário 
é a viva voz do direito civil. 
Todos os povos que são regidos por leis 
ou por costumes se utilizam em parte do 
seu próprio direito, em parte do direito 
comum a todos os homens. Pois o direi-
to que cada povo por si mesmo a si 
constituiu este é próprio desta mesma 
civitas e se chama ius civile, como que 
um direito próprio desta mesma civitas. 
Mas aquele que a razão natural consti-
tuiu entre todos os homens, o qual entre 
todos igualmente é protegido, chama-se 
direito das gentes, como que o direito do 
qual todos os povos se utilizam. 
Justiça é a vontade constante e perpétua 
de dar a cada um o seu direito. 
Os preceitos de direito são estes: viver 
honestamente, não lesar outrem, dar a 
cada um o seu. 
Jurisprudência é o conhecimento das 
coisas divinas e humanas, a ciência do 
justo e do injusto. 
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Ius pluribus modis dicitur: uno modo, O direito pode ser dito de muitos mo-
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 2 2 
cum id quod semper aequum ac bonum 
est ius dicitur, ut est ius naturale. Altero 
modo, quod omnibus aut pluribus in 
quaque civitate utile est, ut est ius civile. 
Nec minus ius recte appellatur in civitate 
nostra ius honorarium. Praetor quoque 
ius reddere dicitur etiam cum inique 
decemit. relatione scilicet facta non ad 
id quod ita praetor fecit, sed ad illud 
quod praetorem facere convenit. Alia 
significatione ius dicitur locus in quo ius 
redditur, appellatione collata ab eo quod 
fit in eo ubi fit. Quem locum determinare 
hoc modo possumus: ubicumque praetor 
salva maiestate imperii sui salvoque more 
maiorum ius dicere constituit, is locus 
recte ius appellatur. 
D.l.1.12 
M A R C I A N U S libro primo institutionum 
Nonnumquam ius etiam pro necessitu-
dine dic imus veluti '"est mihi ius 
cognationis vel adfinitatis". 
dos: de um modo, como quando se 
chama direito aquilo que é sempre justo 
e bom, como é o direito natural. De um 
segundo modo, o que é útil a todos ou 
a muitos em alguma certa civitas, como 
é o ius civile. Não menos correto se 
chama direito em nossa civitas o direito 
honorário. Também o pretor se diz dis-
tribuir o direito mesmo quando decide 
com iniqüidade, evidente que estabele-
cida a relação não com aquilo que o 
pretor assim fez, mas com aquilo que 
convém que o pretor faça. Por uma outra 
significação se diz direito o lugar em 
que o direito é distribuído, denominação 
conferida por aquilo que se faz em lugar 
de onde se faz. Podemos determinar este 
lugar pelo seguinte modo: seja qual for 
o lugar em que o pretor definiu para 
dizer o direito este lugar corretamente 
se denomina direito, salvo a majestade 
de seu imperium e salvo o mos maiorum. 
Algumas vezes dizemos também di-
reito no lugar de relação, como por 
exemplo "tenho direito de cognação 
ou de afinidade". 
I I I I 
De origine iuris et omnium 
magistratuum et successione 
prudentium 
Da origem do direito e de 
todos os magistrados e da 
sucessão dos prudentes 
D.l.2.1 
G A I U S libro primo ad legem duodecim 
ta bui a rum 
F a c t u r u s l e g u m v e t u s t a r u m 
interpretationem necessário prius ab 
urbis initiis repetendum existimavi, non 
quia velim verbosos commentarios 
facere, sed quod in omnibus rebus 
animadverto id perfectum esse, quod ex 
omnibus suis partibus constarei: et certe 
cuiusque rei potissima pars principium 
est. Deinde si in foro causas dicentibus 
nefas ut ita dixerim videtur esse nulla 
praefatione facta iudici rem exponere: 
quan to mag i s in te rpre ta t ionem 
promittentibus inconveniens erit omissis 
initiis atque origine non repetita atque 
illotis ut ita dixerim manibus protinus 
materiam interpretat ionis tractare? 
Namque nisi fallor istae praefationes et 
libentius nos ad lectionem propositae 
materiae producunt et cum ibi venerimus, 
evidentiorem praestant intellectum. 
Estimei por necessário que haverei de 
fazer uma interpretação das antigas leis 
remontando primeiramente às origens 
da cidade, não porque eu queira fazer 
comentários verbosos, mas porque em 
todas as coisas admito que seja perfeito 
aquilo que conste de todas as suas par-
tes. E certamente a parte mais impor-
tante de cada uma das coisas é o seu 
princípio. Além disso, pareceria um 
sacrilégio (como eu assim diria) aos 
que dizem as causas no fórum alguém 
expor uma causa ao juiz sem que se 
fizesse prefácio algum. Quanto mais 
inconveniente seria aos que prometem 
uma interpretação tratar logo da maté-
ria da interpretação omitidos os mo-
mentos iniciais, não procurada a ori-
gem e, como diria, sem lavar as mãos? 
Pois, a não ser que eu me engane, estes 
prefácios nos conduzem com mais 
prazer à lição da matéria proposta e, 
quando ali chegamos, garantem um 
entendimento mais claro. 
24 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
D.1.2.2pr. 
P O M P O N I U S libro singulari enchiridii 
Necessarium itaque nobis videtur ipsius 
i u r i s o r i g i n e m a t q u e p r o c e s s u m 
demonstrare. 
D.1.2.2.1 
Et quidem initio civitatis nostrae populus 
sine lege certa, sine iure certo primum 
agere instituit omniaque manu aregibus 
gubemabantur. 
D.1.2.2.2 
Postea aucta ad aliquem modum civitate 
ipsum Romulum traditur populum in 
triginta partes divisisse, quas partes cúrias 
appellavit propterea quod tunc reipublicae 
curam per sententias partium earum 
expediebat. Et ita leges quasdam et ipse 
curiatas ad populum tulit: tulerunt et 
sequentes reges. Quae omnes conscriptae 
exstant in libro Sexti Papirii, qui fuit illis 
temporibus, quibus Superbus Demarati 
Corinthii filius, ex principalibus viris. Is 
liber, ut diximus, appellatur ius civile 
Papirianum. non quia Papirius de suo 
quicquam ibi adiecit, sed quod leges sine 
ordine latas in unum composuit. 
D.1.2.2.3 
Exactis deinde regibus lege tribunicia 
omnes leges hae exoleverunt iterumque 
coepit populus Romanus incerto magis 
iure et consuctudine aliqua uti quam per 
latam legem, idque prope viginti annis 
passus est. 
E assim nos parece necessário demons-
trar a origem e o desenvolvimento do 
próprio direito. 
Na verdade, no início de nossa civitas, 
o povo primeiramente começou a viver 
sem lei certa, sem direito certo, e todas 
as coisas eram governadas pela mão dos 
reis. 
Depois de um certo modo crescida a 
civitas, conta-se que o próprio Rómulo 
dividiu a civitas em trinta partes, as 
quais denominou cúrias, pelo fato de 
que naquele tempo ele administrava a 
respublica por meio do sufrágio de suas 
partes. E assim certas leis curiatas ele 
próprio também deu ao povo: deram-
nas também os reis seguintes. Todas elas 
permanecem escritas no livro de Sexto 
Papírio, um dos principais varões, o 
qual viveu nos tempos de Soberbo, o 
filho de Demarato de Coríntio. Este 
livro, como dissemos, chama-se ius civile 
Papirianum, não porque Papírio tenha 
acrescentado ali algo de seu. mas por-
que colecionou em um livro as leis 
proferidas sem ordem. 
E depois, expulsos os reis. por uma lei 
tribunicia todas estas leis caíram em de-
suso e novamente o povo romano come-
çou a utilizar mais um direito incerto e um 
costume indeterminado do que um direito 
por meio de lei escrita; e isto tolerou por 
aproximadamente 20 anos. 
DIGESTO DE JUSTINIANO - LÍBER PMMUS 25 
D. 1.2.2.4 
Postea ne diutius hoc fieret. placuit 
publica auctoritate decem constitui viros, 
per quos peterentur leges a graecis 
civitatibus et civitas fundaretur legibus: 
quas in tabulas eboreas perscriptas pro 
rostris composuerunt, ut possint leges 
apertius percipi: datumque est eis ius eo 
anno in civitate summum, uti leges et 
co r r ige ren t , si opus esse t , et 
interpretarentur neque provocatio ab eis 
sicut a reliquis magistratibus fieret. Qui 
ipsi animadverterunt aliquid deesse istis 
primis legibus ideoque sequenti anno 
alias duas ad easdem tabulas adiecerunt: 
et ita ex accedenti appellatae sunt leges 
d u o d e c i m t a b u l a r u m . Q u a r u m 
ferendarum auctorem fuisse decemviris 
H e r m o d o r u m q u e n d a m E p h e s i u m 
exulantem in Italia quidam rettulerunt. 
D. 1.2.2.5 
His legibus latis coepit (ut naturaliter 
e v e n i r e so le t , u t i n t e r p r e t a t i o 
desideraret prudcntium auctoritatem) 
necessarium esse disputationem fori. 
Haec disputatio et hoc ius, quod sine 
s c r i p t o ven i t c o m p o s i t u m a 
prudentibus, própria parte aliqua non 
appellatur, ut ceterae partes iuris suis 
nominibus designantur, datis propriis 
n o m i n i b u s ce t e r i s pa r t ibus , sed 
communi nomine appellatur ius civile. 
D. 1.2.2.6 
Deinde ex his legibus eodem tempore 
Em seguida para que isto não durasse 
por muito mais tempo, foi de consenso 
serem constituídos pela pública autori-
dade dez varões, por meio dos quais 
fossem procuradas as leis das cidades 
gregas e a civitas tivesse o seu funda-
mento nas leis: as quais compuseram 
registradas em tábuas de marfim defron-
te dos rostros, de modo que as leis 
pudessem ser assimiladas mais aberta-
mente; e foi dado naquele ano a eles o 
direito mais elevado na civitas. para que 
também melhorassem as leis, se fosse 
necessário, e as interpretassem e que 
não se fizesse provocação penal contra 
eles, assim como contra os magistrados 
restantes. Os próprios (dez varões) reco-
nheceram que faltava algo a estas pri-
meiras leis e por isso no ano seguinte 
acrescentaram outras duas tábuas: e 
assim, desde o acréscimo, foram chama-
das Leis das Doze Tábuas. Algumas 
pessoas contaram ter sido o autor destas 
leis propostas um certo Hermodoro de 
Éfeso, que vivia exilado na Itália. 
Uma vez proferidas estas leis, começou 
a disputa do foro ser necessária (como 
naturalmente costuma ocorrer, de modo 
que a interpretação exigisse a autorida-
de dos prudentes). Esta disputa e este 
direito que veio composto não por escri-
to pelos prudentes não é designado como 
alguma parte especial como as outras 
partes do direito são designadas por 
nomes próprios, dadas às outras partes 
seus devidos nomes, mas é chamado 
pelo nome comum de ius civile. 
Depois, aproximadamente no mesmo 
2 6 DIGESTO DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRJMUS 
fere actiones compositae sunt, quibus 
inter se homines disceptarent: quas 
ac t iones ne popu lus prout vel let 
institueret certas solemnesque esse 
voluerunt: et appellatur haec pars iuris 
legis actiones, id est legilimae actiones. 
Et ita eodem paene tempore tria haec 
iura nata sunt: lege duodecim tabularum 
ex his fluere coepit ius civile, ex isdem 
legis actiones compositae sunt. Omnium 
tamen harum et interpretandi scientia et 
actiones apud collegium pontificum 
erant, ex quibus constituebatur, quis 
quoquo anno praeesset privatis. Et fere 
populus annis p r o p e centum hac 
consuetudine usus est. 
D. 1.2.2.7 
Postea cum Appius Claudius proposuis-
set et ad formam redegisset has actiones, 
Gnaeus Flavius scriba eius libertini filius 
subreptum librum populo tradidit, et 
adeo gratum fuit id munus populo, ut 
tribunus plebis fieret et senator et aedilis 
curulis. Hic liber, qui actiones continet, 
appellatur ius civile Flavianum, sicut 
ille ius civile Papirianum: nam nec 
Gnaeus Flavius de suo quicquam adiecit 
libro. Augescente civitate quia deerant 
quaedam genera agendi , non post 
multum temporis spatium Sextus Aelius 
alias actiones composuit et librum populo 
dedit, qui appellatur ius Aelianum. 
D.l.2.2.8 
Deinde cum esset in civitate lex 
tempo, foram criadas ações destas leis, 
por meio das quais os homens litigas-
sem entre si. Para que o povo não 
instituísse estas ações conforme quises-
se, determinou-se12 que elas fossem fi-
xas e solenes. E esta parte do direito se 
chama "ações da lei", isto é, ações 
legítimas. E assim quase ao mesmo 
tempo nasceram estes três direitos: o 
direito da Lei das Doze Tábuas, das 
quais o ius civile começou a fluir e, 
destas mesmas, foram compostas as 
ações da lei. De todas estas, porém, 
tanto a ciência da interpretação como as 
ações pertenciam ao colégio dos pontí-
fices, por meio dos quais se constituía 
aquele que a cada ano dirigiria os 
quefazeres privados. E o povo aproxi-
madamente por cem anos usou deste 
costume. 
Depois, quando Ápio Cláudio propôs c 
reduziu estas ações a uma forma defini-
da, Gneu Flávio, escriba dele, filho de 
um liberto, trouxe o livro subtraído fur-
tivamente até o povo, e de tal modo isto 
foi um grato serviço ao povo, que se fez 
tribuno da plebe, senador e edil curul. 
Este livro que contém as ações se chama 
ius civile Flavianum, do mesmo modo 
como aquele se chama ius civile Papi-
rianum. Pois também Gneu Flávio não 
acrescentou ao livro algo de sua autoria. 
Crescendo a civitas, porque faltavam 
certos gêneros de ação, não depois de 
muito espaço de tempo, Sexto Élio com-
pôs outras ações e deu um livro ao povo 
que se chama ius Aelianum. 
Depois, como existissem na civitas a 
, , J ) Quiseram. • 
D I G E S T O DE J U S T I N I A NO - UBEK KRJMUS L , 
duodecim tabularum et ius civile, essent 
et legis actiones, evenit, ut plebs in 
discordiam cum patribus perveniret et 
secederet sibique iura constitueret, quae 
iura plebi seita vocantur. Mox cum 
revocata est plebs, quia multae discordiae 
nascebantur de his plebis scitis, pro 
legibus placuit et ea observari lege 
Hortênsia: et ita factum est, ut inter 
plebis seita et legem species constituendi 
interessei, potestas autem eadem esset. 
D. 1.2.2.9 
Deinde quia difficile plebs convenire 
coepit, populus certe multo difficilius in 
tanta turba hominum, necessitas ipsa 
curam rei publicae ad senatum deduxit: 
ita coepit senatus se interponere et 
quidquid constituisset observabatur, 
idque ius appellabatur senatus consultum. 
D. 1.2.2.10 
Eodem tempore et magistratus iura 
reddebant et ut seirent eives, quod ius de 
quaque re quisque dicturus esset seque 
praemunirent, edicta proponebant. Quae 
ed ic ta p rae to rum ius honora r ium 
constituerunt: honorarium dicitur. quod 
ab honore praetoris venerat. 
D.1.2.2.11 
Novissime sicut ad pauciores iuris 
Lei das Doze Tábuas, o direito civil e as 
ações da lei, ocorreu que a plebe chegou 
a uma discórdia com os patrícios, reti-
rou-se e constituiu a si direitos, os quais 
se chamam direitos deliberados pela 
plebe.13 Em seguida, como a plebe foi 
chamada de volta porque muitas discór-
dias nasciam a respeito destes plebisci-
tos, estabeleceu-se pela lex Hortênsia 
que também eles fossem observados 
como leis. E assim foi feito, de modo 
que entre os plebiscitos e a lei é relevan-
te somente o modo de constituir; »o 
vigor, porém, é o mesmo. 
Depois, porque tomou-se difícil que a 
plebe se reunisse (e o povo certamente 
com dificuldade muito maior em razão 
da grande multidão de homens), a pró-
pria necessidade deduziu ao senado a 
administração da res publica. E assim 
começou o senado a intervir e tudo o 
que estabelecia era observado, e este 
direito se chamava senatus-consulto. 
No mesmo tempo também os magistra-
dos atribuíam os direitos e, para que os 
cidadãos soubessem qual o direito que 
cada cidadão estaria para receber como 
ordem, relativo a cada um dos assuntos, 
e para que eles se precavessem, propu-
nham os editos. Estes editos dos pretores 
constituíram o direito honorário: diz-se 
honorário porque vinha da honra, do 
pretor. 
Por fim, como os meios de constituição 
Plebiscitos. * 
2 8 D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - L a u PRIMUS 
constituendi vias transisse ipsis rebus 
dictantibus videbatur per partes, evenit, 
ut necesse esset rei publicae p e r u n u m 
consuli (nam senatus non perinde omnes 
províncias probe gerere poterat): igitur 
constituto príncipe datum est ei ius, ut 
quod constituisset, ratum esset. 
D. 1.2.2.12 
Ita in civitate nostra aut iure, id est lege, 
constituitur, aut est proprium ius civile, 
quod sine scripto in sola prudentium 
interpretatione consistit, aut sunt legis 
actiones, quae formam agendi continent, 
aut plebi scitum, quod sine auctoritate 
pa t rum est c o n s t i t u t u m , aut est 
m a g i s t r a t u u m e d i c t u m , unde ius 
honora r ium nasc i tu r , aut s ena tus 
c o n s u l t u m , quod so lum sena tu 
constituente inducitur sine lege, aut est 
principalis constitutio, id est ut quod 
ipse princeps constituit pro lege servetur. 
D.1.2.2.13 
Post originem iuris et processum cognitum 
consequens est, ut de magistratuum 
nominibus et origine cognoscamus, quia, 
ut exposuimus, per eos qui iuri dicundo 
praesunt effectus rei accipitur: quantum 
est enim ius in civitate esse, nisi sint, qui 
iura regere possint? Post hoc deinde 
auctorum successione dicemus, quod 
constare non potest ius, nisi sit aliquis 
iuris peritus, per quem possit cottidie in 
melius produci. 
( U ) Execução; efeito. • 
(,3> Da coisa. • 
do direito tivesse passado a poucos, 
conforme o que os próprios fatos dita-
ram, ocorreu, por partes, que se fizesse 
necessário à res publica que ela fosse 
vigiada por um só (pois o senado não de 
modo absolutamente igual pudera admi-
nistrar dignamente todas as províncias). 
Por conseguinte, constituído um prínci-
pe, foi dado a ele o direito, a fim de que 
o que ele elaborasse fosse confirmado. 
Assim em nossa civitas se institui algo: 
ou por direito, isto é, pela lei, ou há o 
próprio ius civile, o qual, não escrito, 
consiste na interpretação única dos pru-
dentes, ou há as "ações da lei" que 
definem a forma de se agir, ou o plebis-
cito, que foi constituído sem a autorida-
de dos patrícios, ou há o edito dos 
magistrados, de onde nasce o direito 
honorário, ou o senatus-consulto, o qual, 
somente pelo fato de se constituir pelo 
senado, é introduzido sem lei, ou há a 
constituição do príncipe, isto é, que 
aquilo que o príncipe determinou seja 
observado como lei. 
Depois de conhecida a origem do direito 
e seu desenvolvimento, é conseqüente 
que conheçamos a origem e os nomes 
dos magistrados, porque, como expuse-
mos, a eficácia14 de uma disposição15 se 
compreende por meio daqueles que pre-
sidem à jurisdição. Quanto vale, pois, 
haver direito em nossa cidade se não 
houver aqueles que possam reger os 
direitos? Depois disso, em seguida, fa-
laremos da sucessão dos autores, porque 
D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 29 
D.1.2.2.14 
Quod ad magistratus attinet, initio 
civitatis huius constat reges omnem 
potestatem habuisse. 
D. 1.2.2.15 
Isdem temporibus et tribunum celerum 
fuisse constat: is autem erat qui equitibus 
praeerat et veluti secundum locum a 
regibus optinebat: quo in numero fuit 
Iunius Brutus, qui auctor fuit regis 
eiciendi. 
D.1.2.2.16 
Exactis deinde regibus cônsules constituti 
sunt duo: penes quos summum ius uti 
esset, lege rogatum est: dicti sunt ab eo. 
quod plurimum rei publicaeconsulerent. 
Qui tamen ne per omnia regiam 
potestatem sibi vindicarem, lege lata 
factum est, ut ab eis provocatio esset 
neve possent in caput civis Romani 
animadvertere iniussu populi: solum 
relictum est illis. ut coercere possent et 
in vincula publica duci iuberent. 
D.l.2.2.17 
Post deinde cum census iam maiori 
tempore agendus esset et cônsules non 
sufficerent huic quoque officio, censores 
constituti sunt. 
o direito não se sustenta se não houver 
algum jurisperito por meio do qual o 
direito possa quotidianamente ser con-
duzido para melhor. 
Quanto ao que diz respeito aos magis-
trados, consta que no início desta civitas 
os reis tinham todo o poder. 
Naqueles tempos também consta que 
houvesse um tribuno dos céleres: ora, 
este era aquele que presidia os cavalei-
ros e obtinha por assim dizer o segundo 
lugar depois dos reis; no número deles 
foi Júnio Bruto autor da expulsão do rei. 
E depois, expulsos os reis. constituíram-
se dois cônsules, nas mãos de quem se 
determinou por uma lei que o sumo 
direito se encontrasse. Foram assim 
designados pelo fato de se ocuparem 
principalmente da res publica. Para que 
estes não exigissem para si o poder 
régio de tudo, determinou-se por uma 
lei que existisse a possibilidade de 
provocatio deles e que eles não pudes-
sem reprimir contra a cabeça de um 
cidadão romano sem ordem do povo. 
Somente lhes foi deixado que pudessem 
constrangê-lo à força e ordenassem que 
fosse conduzido às cadeias públicas. 
Depois então, como o censo já há muito 
tempo se devesse fazer e os cônsules 
não fossem capazes de empreender tam-
bém este ofício, foram constituídos os 
censores. 
30 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍDER PRIMUS 
D.l.2.2.18 
Popu lo deinde auc to cum crebra 
orerentur bella et quaedam acriora a 
finitimis inferrentur, interdum re exigente 
placuit maioris potestatis magistratum 
constitui: itaque dictatores proditi sunt, 
a quibus nec provocandi ius fuit et 
quibus etiam capitisanimadversio data 
est . Hunc mag i s t r a tum, q u o n i a m 
summam potestatem habebat, non erat 
fas ultra sextum mensem retineri. 
D.l .2.2.19 
Et his dictatoribus magistri equitum 
iniungebantur sic, quo modo regibus 
tribuni celerum: quod officium fere tale 
erat. quale hodie praefectorum praetorio, 
magistratus tamen habebantur legitimi. 
D.l.2.2.20 
Isdem temporibus cum plebs a patribus 
secessisset anno fere septimo decimo 
post reges exactos, tribunos sibi in monte 
sacro creavi t , qui e ssen t plebei i 
magistratus. Dicti tribuni, quod olim in 
tres partes populus divisus erat et ex 
singulis singuli creabantur: vel quia 
tribuum suffragio creabantur. 
D.l.2.2.21 
Itemque ut essent qui aedibus praeessent, 
in quibus omnia seita sua plebs deferebat, 
Mais tarde, com o aumento da popula-
ção, como se originassem guerras fre-
qüentes e algumas mais graves fossem 
suportadas pelos povos confinantes, 
durante este período, exigindo a realida-
de, determinou-se por bem que se cons-
tituísse uma magistratura de maior po-
der. Assim, surgiram os ditadores, con-
tra os quais não existiu o direito de 
mover a provocatio e aos quais se con-
cedeu até mesmo o poder da pena capi-
tal. Pois que possuía o sumo poder, não 
era permitido que este magistrado se 
mantivesse além do sexto mês. 
Também a estes ditadores se vincula-
vam os mestres dos cavaleiros, do mes-
mo modo como aos reis os tribunos dos 
céleres. Tal ofício era aproximadamente 
qual é hoje o dos prefeitos do pretório; 
todavia, eram tidos como magistrados 
legítimos. 
Naqueles tempos em que a plebe pro-
moveu a secessão dos patrícios, aproxi-
madamente no décimo sétimo ano de-
pois da expulsão dos reis, elegeu ela 
para si os tribunos no Monte Sacro para 
que fossem magistrados plebeus. Eram 
chamados tribunos porque outrora o 
povo era dividido em três partes e eram 
eleitos individualmente, um de cada uma 
delas; ou porque eram eleitos pelo su-
frágio das tribos. 
E igualmente, para que houvesse quem 
guardasse pelos edifícios nos quais a 
DIUfcà IU Ub JU5 1IIN1AINU - UBtK rKiMW 
duos ex plebe constituerunt, qui etiam 
aediles appellati sunt. 
D. 1.2.2.22 
Deinde cum aerarium populi auctius 
esse coepisse t , ut essent qui illi 
praeessent, constituti sunt quaestores, 
qui pecuniae praeessent, dicti ab eo 
quod inquirendae et conservandae 
pecuniae causa creati erant. 
D. 1.2.2.23 
Et quia, ut diximus, de capite civis 
Romani iniussu populi non erat lege 
permissum consul ibus ius dicere , 
propterea quaestores constituebantur a 
populo, qui capitalibus rebus praeessent: 
hi appellabantur quaestores parricidii, 
quorum etiam meminit lex duodecim 
tabularum. 
D. 1.2.2.24 
Et cum placuisset leges quoque ferri, 
latum est ad populum, uti omnes 
magistratu se abdicarem, quo decemviri 
constituti anno uno cum magistratum 
prorogarent sibi et cum iniuriose 
t ractarent neque vellent de inceps 
sufficere magistratibus, ut ipsi et factio 
sua perpetuo rem publicam occupatam 
retineret: nimia atque aspera dominatione 
eo rem perduxerant, ut exercitus a re 
publ ica secedere t . In i t ium f u i s s e 
secessionis dicitur Verginius quidam. 
qui cum an imadver t i s se t App ium 
Claudium contra ius, quod ipse ex vetere 
iure in duodecim tabulas transtulerat, 
j i 
plebe deferia todas as suas deliberações, 
constituíram dois homens da plebe, que 
também foram chamados edis. 
Depois, quando o erário do povo come-
çou a crescer, para que houvesse quem 
por este guardasse, foram constituídos 
os questores para que protegessem a 
pecúnia, assim chamados pelo fato de 
serem eleitos por causa da pecúnia que 
devem perquirir e conservar. 
E porque, como dissemos, não era por 
lei permitido aos cônsules dar sentença 
capital de um cidadão romano sem or-
dem de povo, por causa disso se cons-
tituíam os questores pelo povo, para que 
presidissem às questões capitais: estes 
eram chamados quaestores parricidii, 
dos quais também se recorda a Lei das 
Doze Tábuas. 
E como também foi de consenso que 
fossem estabelecidas também as leis, foi 
proposto ao povo que todos se abdicas-
sem da magistratura; por isso os 
decênviros, constituídos por um só ano, 
como prorrogassem para si a magistra-
tura e como se comportassem injuriosa-
mente e não quisessem em seguida se 
submeter aos demais16 magistrados, de 
modo que a sua facção (e eles próprios) 
mantivesse perpetuamente dominada a 
res publica, conduziram por uma exces-
siva e áspera dominação até o ponto em 
que o exército se rebelasse contra a res 
publica. O início da secessão se atribui 
,16' Demais: acréscimo elucidativo. 
3 2 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
vindicias filiae suae a se abdixisse et 
secundum eum, qui in servitutem ab eo 
suppositus petierat, dixisse captumque 
amore virginis omne fas ac nefas 
miscuisse: indignatus, quod vetustissima 
iuris observantia in persona filiae suae 
defecisset (utpote cum Brutus, qui primus 
Romae cônsul fuit, vindicias secundum 
libertatem dixisset in persona Vindicis 
Vi te l l iorum serv i , qui p rod i t ion i s 
coniurationem indicio suo detexerat) et 
castitatem filiae vitae quoque eius 
praeferendam putaret, arrepto cultro de 
taberna lanionis filiam interfecit in hoc 
scilicet, ut morte virginis contumeliam 
stupri arceret, ac protinus recens a caede 
madenteque adhuc filiae cruore ad 
commilitones confugit. Qui universi de 
Algido, ubi tunc belli gerendi causa 
legiones erant, relictis ducibus pristinis 
s igna in Aven t inum t rans tu lerunt , 
omnisque plebs urbana mox eodem se 
contulit, populique consensu partim in 
cárcere necati. Ita rursus res publica 
suum statum recepit. 
a um certo Vergínio. Como reprovasse 
que Ápio Cláudio (contra o direito que 
ele próprio transmitira do antigo direito 
para a Lei das Doze Tábuas) houvesse 
renunciado ao pedido de posse provisó-
ria17 da filha dele (Vergínio), segundo 
aquele que a pedira em servidão, um 
preposto do próprio Ápio Cláudio, ele 
(Ápio Cláudio) havia dito que, captura-
do pelo amor da virgem, confundira o 
permitido com o proibido, este Vergínio, 
indignado porque faltasse a observância 
do antiquíssimo direito com a própria 
filha (visto que Bruto, que foi o primei-
ro cônsul de Roma, afirmasse a garantia 
a favor da liberdade na pessoa do servo 
Víndex dos Vitélios,18 que pela sua re-
velação tecia por completo a aliança dos 
povos de uma traição) e também ele 
reputasse a castidade da filha ser prefe-
rível à vida dela, arrebatada uma faca da 
barraca do açougueiro, matou a filha, 
para que naturalmente com isto afastas-
se o ultraje do estupro com a morte da 
virgem; e logo que se afasta do corte 
letal e ainda molhado pelo sangue da 
filha vai refugiar-se junto aos seus com-
panheiros de armas. Todos eles, abando-
nados os seus antigos chefes, transferi-
ram as suas tropas do monte Álgido,19 
onde ao tempo estavam as legiões por 
causa de uma guerra a ser iniciada, ao 
Aventino, e toda a plebe urbana rapida-
mente para o mesmo se ajuntou e pelo 
consenso do povo os decênviros em 
parte foram mortos. Assim a res publica 
retomou novamente o seu estado. 
D.l .2.2.25 
Deinde cum post aliquot annos duodecim Em seguida, depois de alguns anos a 
(l7) Vindiciae, arum - pedido de posse provisória de um bem objeto de controvérsia processual. 
<tt> Vitélios, habitantes de Vitelia, cidade dos équos. 
Monte perto de Túsculo, cujo nome significa monte frio. 
D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
tabulae latae sunt et plebs contenderet 
cum patribus et vellet ex suo quoque 
corpore cônsu les creare et patres 
recusarent: factum est, ut tribuni militum 
crearentur partim ex plebe, partim ex 
patribus consulari potestate. Hique 
constituti sunt vario numero: interdum 
enim viginti fuerunt,interdum plures, 
nonnumquam pauciores. 
D. 1.2.2.26 
Deinde cum placuisset creari etiam ex 
ilebe cônsules, coeperunt ex utroque 
:orpore constitui. Tunc, ut aliquo pluris 
)atres haberent, placuit duos ex numero 
>atrum constitui: 
). 1.2.2.27 
a facti sunt aediles curules. Cumque 
onsules avocarentur bellis finitimis 
eque esset qui in civitate ius reddere 
3sset. factum est. ut praetor quoque 
earetur, qui urbanus appellatus est, 
iod in urbe ius redderet. 
1.2.2.28 
•st aliquot deinde annos non sufficiente 
praetore, quod multa turba etiam 
regrinorum in civitatem veniret, 
;atus est et alius praetor, qui peregrinus 
oellatus est ab eo, quod plerumque 
er peregrinos ius dicebat. 
33 
contar da legislação das doze tábuas, 
como a plebe não só contendesse com os 
patrícios mas também quisesse eleger 
cônsules provenientes também do seu 
próprio corpo e os patrícios recusassem, 
determinou-se então que os tribunos mi-
litares fossem eleitos em parte pela plebe, 
em parte pelos patrícios de poder consu-
lar. E estes foram constituídos em núme-
ro variado: por vezes vinte, por vezes 
mais, algumas vezes em menor número. 
Depois como também era de consenso 
que também os cônsules fossem eleitos 
pelo corpo da plebe, começaram a ser 
constituídos por ambos os corpos. Na-
quele momento, para que os patrícios 
tivessem algo a mais. determinou-se que 
fossem constituídos dois do número dos 
patrícios: 
E assim foram feitos os edis curuis. E 
como os cônsules fossem chamados às 
guerras de fronteira e não houvesse 
quem pudesse distribuir o direito na 
civitas, fez-se com que também um 
pretor fosse eleito, o qual foi chamado 
pretor urbano, porque na cidade distri-
buiria o direito. 
Depois de alguns anos, não sendo 
suficiente este pretor porque também 
já muitas turbas de peregrinos t inham 
vindo para a civitas, foi eleito também 
um outro pretor, que foi chamado 
pretor peregrino pelo fato de que 
comumente declarava o direito entre 
os peregrinos. 
34 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
D. 1.2.2.29 
Deinde cum esset necessarius magistratus 
qui hastae praeessent, decemviri in litibus 
iudicandis sunt constituti. 
D.l.2.2.30 
Constituti sunt eodem tempore et 
quattuorviri qui curam viarum agerent, 
et triumviri monetales aeris argenti auri 
flatores, et triumviri capitales qui carceris 
custodiam haberent, ut cum animadverti 
oporteret interventu eorum fieret. 
D. 1.2.2.31 
Et quia magis t ra t ibus vesper t in i s 
t empor ibus in p u b l i c u m es se 
inconveniens erat, quinqueviri constituti 
sunt eis tiberim et ultis tiberim, qui 
possint pro magistratibus fungi. 
D. 1.2.2.32 
Capta deinde Sardinia mox Sicilia, item 
Hispania, deinde Narbonensi província 
totidem praetores, quot provinciae in 
dicionem venerant, creati sunt, partim 
qui u rban i s rebus, par t im qui 
p rov inc ia l ibus praeessent . De inde 
Cornélius Sulla quaestiones publicas 
constituit, veluti de falso, de parricidio, 
de sicariis, et praetores quattuor adiecit. 
Deinde Gaius Iulius Caesar duos 
praetores et duos aediles qui frumento 
praeessent et a Cerere cereales constituit. 
Depois, como fosse necessário um ma-
gistrado que presidisse às hastas, foram 
constituídos para este fim20os decênviros 
das lides judiciais. 
Ao mesmo tempo foram constituídos os 
quatórviros21 para que promovessem a 
tutela das ruas, os triúnviros monetários 
marcadores do bronze, da prata e do 
ouro, e os triúnviros capitais que tinham 
a custódia do cárcere, para que, quando 
fosse preciso repreender alguém, se o 
fizesse com a intervenção deles. 
E porque era inconveniente aos magis-
trados permanecer em público nos perí-
odos vespertinos, foram constituídos os 
qüinqüíviros aquém do Tibre e além do 
Tibre, os quais pudessem se portar como 
magistrados. 
Depois, capturada a Sardenha, logo 
depois a Sicília, igualmente a Espanha 
e depois a província de Narbona, foram 
eleitos tantos pretores quantas as pro-
víncias que vinham ao domínio, alguns 
para que presidissem às questões urba-
nas, outros às provincianas. Então 
Cornélio Sula constituiu as quaestiones 
publicae como as de falso, de parricidio, 
de sicariis,22 e acrescentou quatro 
pretores. Depois Caio Júlio César cons-
tituiu dois pretores e dois edis para que 
m Para este fim: acréscimo elucidativo. 
,2 , ) Neologismo, aproveilando o fenômeno que sucedeu com o vocábulo quatorze. 
<22) Instâncias públicas como as relativas à falsidade, ao parricidio e aos sicários. GD 
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 3 3 
Ita duodecim praetores, sex aediles sunt 
creati. Divus deinde Augustus sedecim 
praetores constituit. Post deinde divus 
Claudius duos praetores adiecit qui de 
fideicommisso ius dicerent, ex quibus 
unum divus Titus detraxit: et adiecit 
divus Nerva qui inter fiscum et privatos 
ius diceret. Ita decem et octo praetores 
in civitate ius dicunt. 
D. 1.2.2.33 
Et haec omnia, quotiens in re publica 
sunt magistratus, observantur: quotiens 
autem proficiscuntur, unus relinquitur, 
qui ius dicat: is vocatur praefectus urbi. 
Qui praefectus olim constituebatur: 
postea fere latinarum feriarum causa 
introductus est et quotannis observatur. 
Nam praefectus annonae et vigilum non 
sunt magistratus, sed extra ordinem 
utilitatis causa constituti sunt. Et tamen 
hi, quos cistiberes diximus, postea 
aediles senatus consulto creabantur. 
D. 1.2.2.34 
Ergo his omnibus decem tribuni plebis, 
cônsules duo, decem et octo praetores, 
sex aediles in civitate iura reddebant. 
D.1.2.2.35 
Iuris civilis scientiam plurimi et maximi 
viri professi sunt: sed qui eorum 
guardassem os cereais - e instituiu-os 
pretores e edis cereais,23 termo derivado 
da deusa Ceres. Assim, foram eleitos 
doze pretores e seis edis. Depois o 
divino Augusto constituiu dezesseis 
pretores. Depois o divino Cláudio acres-
centou dois pretores que tivessem juris-
dição nas causas de fideicomisso, um 
dos quais o divino Tito retirou; e o 
divino Nerva acrescentou um que tives-
se jurisdição nas causas entre o fisco e 
os particulares. Assim é que dezoito 
pretores têm jurisdição na civitas. 
E todas estas coisas se observam todas 
as vezes em que houver magistrados na 
res publica: sempre, porém, que se afas-
tam é deixado um que fique com a 
jurisdição: este se chama praefectus urbi. 
Este prefeito se constituía no passado: 
depois foi introduzido ordinariamente 
por causa das férias latinas e anualmen-
te se observava. Quanto ao praefectus 
annonae e ao praefectus vigilum, não 
são eles magistrados, mas foram cons-
tituídos em razão da utilidade de modo 
extraordinário. E todavia estes, os quais 
dissemos (qüinqüíviros) aquém doTibre, 
depois, por um senatus-consulto eram 
elevados a edis. 
Portanto, todos somados, na civitas exer-
ciam jurisdições dois cônsules, dezoito 
pretores, seis edis. 
Muitos e grandes varões professaram a 
ciência do direito civil: mas os que 
123' Cerealcs, i.e., consagrados à deusa Ceres. 
' 3 6 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LIBE» PRIMUS 
maximae dignat ionis apud populum 
Romanum fuerunt, eorum in praesentia 
mentio habenda est, ut appareat, a quibus 
et qualibus haec iura orta et tradita sunt. 
Et quidem ex omnibus, qui scientiam 
nancti sunt, ante Tiberium Coruncanium 
publice professum neminem traditur: 
ceteri autem ad hunc vel in latenti ius 
civi le ret inere cogitabant so lumque 
consul ta tor ibus vacare pot ius quam 
discere volentibus se praestabant. 
D. 1.2.2.36 
Fuit autem in primis peritus Publius 
Papirius, qui leges regias in unum 
contulit. Ab hoc Appius Claudius unus 
e x d e c e m v i r i s , c u i u s m a x i m u m 
consilium in duodecim tabulis scribendis 
fuit. Post hunc Appius Claudius eiusdem 
generis maximam scientiam habuit: hicCentemmanus appellatus est, Appiam 
viam stravit et aquam Claudiam induxit 
et de PyrTho in urbe non recipiendo 
sententiam tulit: hunc etiam actiones 
sc r ips i sse t rad i tum est p r imum de 
usurpationibus, qui liber non exstat: idem 
Appius Claudius, qui videtur ab hoc 
processisse, R litteram invenit, ut pro 
Valesiis Valerii essent et pro Fusiis Furii. 
D. 1.2.2.37 
F u i t pos t e o s m a x i m a e s c i e n t i a e 
Sempronius, quem populus Romanus 
cjotpòv appellavit, nec quisquam ante 
h u n c aut p o s t h u n c h o c n o m i n e 
cognominatus est. Gaius Scipio Nasica, 
qu i optimus a senatu appellatus est: cui 
e t iam publice domus in sacra via data 
foram entre eles de máxima dignidade 
junto ao povo romano, dos quais deve 
ser feita a presente menção, para que se 
evidencie por meio de quem e de quais 
méritos estes direitos nasceram e foram 
transmitidos. E na verdade de todos os 
que se aplicaram à ciência segundo a 
tradição não houve ninguém antes que 
Tibério Coruncânio professasse-a publi-
camente. Os outros, no entanto, até este, 
cogitavam manter o ius civile em segre-
do ou somente se prestavam com prefe-
rência ensiná-lo aos consulentes que 
desejassem. 
Houve pois, entre os primeiros, o perito 
Públio Papírio que consolidou as leis 
régias em um só corpo. Deste seguiu 
Ápio Cláudio, um dos decênviros, cu jo 
conselho foi enorme em relação à reda-
ção das dozes tábuas. Depois deste, 
Ápio Cláudio, da mesma linhagem, teve 
enorme conhecimento: este foi chamado 
de Centêmano, construiu a Via Ápia e o 
aqueduto Cláudio e sustentou a opinião 
de que Pirro não fosse recebido na 
cidade; conta-se que ele também tivesse 
escrito as ações, primeiramente sobre as 
usurpações - livro este que não existe 
mais. Também um Ápio Cláudio, que 
parece deste ter sido proveniente, inven-
tou a letra " R " de modo que se substi-
tuísse "Valesii" por "Valerii" e "Fusii" 
por "Furii". 
Depois destes veio Semprônio de enor-
me conhecimento, a quem o povo roma-
no chamou de Sábio - e ninguém antes 
ou depois dele foi por este nome 
cognominado. Gaio Cipião Nasica foi 
chamado pelo senado de Ótimo a quem 
também foi dada uma casa pelo povo na 
D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - ÜBER PRIMUS 37 
est, quo facilius consuli posset. Deinde 
Quintus Mucius, qui ad Carthaginienses 
missus legatus, cum essent duae tesserae 
positae una pacis altera belli, arbítrio 
sibi dato, utram vellet referret Romam, 
utramque sustulit et ait Carthaginienses 
petere debere, utram mallent accipere. 
D. 1.2.2.38 
Post hos fuit Tiberius Comncanius, ut 
dixi, qui primus profíteri coepit: cuius 
tamen scriptum nullum exstat, sed 
responsa complura et memorabilia eius 
fuerunt. Deinde Sextus Aelius et frater 
eius Publius Aelius et Publius Atilius 
maximam scient iam in prof i tendo 
habuenint, ut duo Aelii etiam cônsules 
fuerint, Atilius autem primus a populo 
Sapiens appellatus est. Sextum Aelium 
etiam Ennius laudavit et exstat illius 
liber qui inscribitur "tripertita", qui 
liber veluti cunabula iuris continet: 
tripertita autem dicitur, quoniam lege 
duodecim tabularum praeposita iungitur 
interpretatio, deinde subtexitur legis 
actio. Eiusdem esse tres alii libri 
referuntur. quos tamen quidam negant 
iiusdem esse: hos sectatus ad aliquid est 
Cato. Deinde Marcus Cato princeps 
?orciae familiae, cuius et libri exstant: 
;ed plurimi filii eius, ex quibus ceteri 
)riuntur. 
Xl.2.2.39 
'ost hos fuerunt Publius Mucius et 
Jrutus et Manilius, qui fundaverunt ius 
ivile. Ex his Publius Mucius etiam 
via Sacra para que pudesse ser consul-
tado mais facilmente. Depois Quinto 
Múcio, o qual, como legado enviado 
aos cartagineses, quando lhe fora dada 
a escolha entre duas cartas - uma da 
paz, outra da guerra (aquela que quises-
se levaria a Roma) -, segurou as duas 
e disse que os Cartagineses deveriam 
pedir a que entre as duas prefeririam 
receber. 
Depois destes houve Tibério Coruncânio, 
que primeiramente, como eu disse, co-
meçou a professar o direito, mas de 
quem não permanece escrito algum, 
embora fossem deles inúmeras e memo-
ráveis respostas. Depois Sexto Élio, 
Públio Élio, seu irmão e Púbüo Atílio 
tiveram grande conhecimento na profis-
são, de modo que os dois Élios foram 
também cônsules, e Atílio, por sua vez, 
o primeiro a ser chamado pelo povo de 
Sapiente. Até Ênio elogiou Sexto Élio e 
permanece o seu livro que se denomina 
"Tripartidos", livro este que contém por 
assim dizer o berço do direito. Diz-se 
"tripartidos" porque, enunciada a Lei 
das Doze Tábuas, junta-se a interpreta-
ção e a seguir se expõe a legis actio. 
Conta-se que do mesmo haja três outros 
livros, os quais todavia alguns negam 
que sejam dele mesmo. Catão de um 
certo modo acompanhou-os; depois 
Marco Catão, chefe da família Pórcia 
cujos livros também existem: mas mui-
tos são os filhos dele dos quais se 
originam outros livros. 
Depois deles vieram Públio Múcio, Bruto 
e Manílio que fundaram o ius civile. 
Destes, Públio Múcio deixou também 
38 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LIBER PRIMUS 
decem libellos reliquit, Brutus septem, 
Manilius tres: et extant volumina scripta 
Manilii monumenta. Illi duo consulares 
fuerunt, Brutus praetorius, Publius autem 
Mucius etiam pontifex maximus. 
D. 1.2.2.40 
Ab his profecti sunt Publius Rutilius Rufiis, 
qui Romae cônsul et Asiae procônsul fuit, 
Paulus Verginius et Quintus Tubero ille 
stoicus Pansae auditor, qui et ipse cônsul. 
Etiam Sextus Pompeius Gnaei Pompeii 
patruus fuit eodem tempore: et Coelius 
Antipater, qui historias conscripsit, sed 
plus eloquentiae quam scientiae iuris 
operam dedit: etiam Lucius Crassus frater 
Publii Mucii. qui Munianus dictus est: 
hunc Cice ro ait i u r i s consu l to rum 
disertissimum. 
D.l.2.2.41 
Post hos Quintus Mucius Publii filius 
pontifex maximus ius civile primus 
constituit generatim in libros decem et 
octo redigendo. 
D. 1.2.2.42 
Mucii auditores fuerunt complures, sed 
praecipuae auctoritatis Aquilius Gallus, 
Balbus Lucilius, Sextus Papirius, Gaius 
luventius: ex quibus Gallum maximae 
auctoritatis apud populum fuisse Servius 
dicit. Omnes tamen hi a Sérvio Sulpicio 
nominantur: al ioquin per se eorum 
scripta non talia exstant, ut ea omnes 
appetant: denique nec versantur omnino 
cr ip ta eorum inter manus hominum, 
sed Servius libros suos complevit, pro 
cuius scriptura ipsorum quoque memoria 
habetur. 
dez livros. Bruto sete e Manílio três. E 
restam os volumes escritos, os Monu-
mentos de Manílio. Aqueles dois foram 
consulares, Bruto pretório, mas Públio 
Múcio, além disso, pontífice máximo. 
Deles procederam Públio Rutílio Rufo, 
que foi cônsul em Roma e procônsul na 
Ásia, Paulo Vergínio e Quinto Tuberão, 
aquele um estóico ouvinte de Pansa e que 
também foi, ele próprio, cônsul. Além 
disso. Sexto Pompeu foi ao tempo tio 
paterno de Gneu Pompeu, Célio Antípatro, 
que escreveu suas histórias, mas que mais 
se dedicou à eloqüência do que à ciência 
do direito; também Lúcio Crasso, irmão 
de Públio Múcio, que foi chamado de 
Muniano: diz Cícero que este foi o mais 
eloqüente dos jurisconsultos. 
Depois deles Quinto Múcio, fi lho de 
Públio, pontífice máximo, o primeiro a 
constituir o ius civile por categorias, 
redigindo-o em dezoito livros. 
Muitos foram os ouvintes de Múcio, 
mas de prec ípua au tor idade foram 
Aquílio Galo, Balbo Lucíl io, Sexto 
Papírio e Ga io Juvêncio, dos quais, diz 
Servo, ter s ido Galo o de maior autori-
dade junto ao povo. Todos estes, porém, 
foram referidos por Sérvio Sulpicio; 
diversamente, seus escritos não perma-
necem unificados de tal modo que todos 
os encontrem; enfim, os escritos deles 
de modo a lgum circulam entre as mãos 
dos homens, mas Sérvio completou os 
seus livros e na sua escrita se guarda 
também a memória daqueles.D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - UBEA HÚMUS 
3.1.2.2.43 
servius autem Sulpicius cum in causis 
Drandis primum locum aut pro certo post 
Marcum Tullium optineret, traditur ad 
:onsulendum Quintum Mucium de re 
amici sui pervenisse cumque eum sibi 
respondisse de iure Servius parum 
in te l lex isse t , i terum Quin tum 
in te r rogasse t et a Q u i n t o Muc io 
responsum esse nec tamen percepisse, et 
ita obiurgatum esse a Quinto Mucio: 
namque eum dixisse turpe esse patrício 
et nobili et causas oranti ius in quo 
versaretur ignorare. Ea velut contumelia 
Servius tactus operam dedit iuri civili et 
plurimum eos, de quibus locuti sumus, 
audii t . Inst i tutus a Ba lbo Lucilio, 
instructus autem maxime a Gallo Aquilio, 
qui fuit Cercinae: itaquc libri complures 
eius extant Cercinae confecti. Hic cum 
in legatione perisset, statuam ei populus 
Romanus pro rostris posuit, et hodieque 
exstat pro rostr is Augus t i . Huius 
volumina complura exstant: reliquit 
autem prope centum et octoginta libros. 
D. 1.2.2.44 
Ab hoc plurimi profecerunt, fere tamen 
hi libros conscripserunt: Alfenus Varus 
Gaius,25 Aulus Ofilius, Titus Caesius, 
Aufidius Tucca, Aufidius Namusa, 
Flavius Priscus, Gaius Ateius, Pacuvius 
Labeo Antistius Labeonis Antisti pater, 
Cinna, Publicius Gellius. Ex his decem 
libros octo conscripserunt, quorum 
omnes qui fuerunt libri digesti sunt ab 
Aufídio Namusa in centum quadraginta 
libros. Ex his auditoribus plurimum 
auctoritatis habuit Alfenus Varus et Aulus 
Conta-se pois que Sérvio Sulpicio, como 
tivesse obtido o primeiro posto nas ora-
ções das causas, ou por certo, depois de 
Marco Túlio, tivesse vindo consultar 
Quinto Múcio sobre assunto de um seu 
amigo e como ele lhe respondesse em 
termos de direito. Sérvio pouco enten-
deu; novamente interrogou a Quinto e 
por Quinto Múcio foi respondido, mas 
também não compreendeu e assim foi 
repreendido por Quinto Múcio. Pois 
este lhe disse que é vergohoso ao patrício, 
ao nobre e ao orador de causas ignorar 
o direito sobre o qual versa. Tocado por 
esta contumélia, por assim dizer, Sérvio 
se aplicou ao ius civile e ouviu muitos 
daqueles sobre os quais falamos. Inici-
ado por Balbo Lucilio, foi porém ins-
truído principalmente por Galo Aquílio, 
que esteve na Cércina:24 e assim sobre-
vivem muitos livros dele escritos em 
Cércina. Como ele faleceu estando em 
missão de legado, o povo romano colo-
cou-lhe uma estátua nos rostros. e hoje 
está nos rostros de Augusto. 
Muitos foram dele decorrentes, todavia 
escreveram livros, em número provável, 
os seguintes: Alfeno Varo. Aulo Ofílio, 
Tito Césio, Auf íd io Tuca, Auf íd io 
Namusa, Flávio Prisco, Gaio Ateio, 
Pacúvio Labeão Antístio, pai de Labeão 
Antístio, Gaio Cina e Publício Gélio. 
Destes dez, oito escreveram livros. To-
dos estes livros que foram escritos deles 
foram compilados por Aufídio Namusa 
cento e quarenta livros. Destes Alfeno 
Varo foi o que teve grande autoridade e 
,:4) Cércina - ilha africana. 
'»> Gaius aut delendum (Cujácio) aut transponendum ante Cinna (Monimscn-Krüeger). 
4 0 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 
Ofilius, ex quibus Varus et cônsul fuit, 
Ofilius in equestri ordine perseveravit. 
Is fuit Caesari familiarissimus et libros 
de iure civili plurimos et qui omnem 
partem operis fundarent reliquit. Nam 
de legibus vicensimae primus conscribit: 
de iurisdictione idem edictum praetoris 
primus diligenter composuit, nam ante 
eum Servius duos libros ad Brutum 
pe rquam b r e v í s s i m o s ad e d i c t u m 
subscriptos reliquit. 
D. 1.2.2.45 
Fuit eodem tempore et Trebatius, qui 
idem Cornelii Maximi auditor fuit: Aulus 
Casce l l ius , Quint i Muci Volcac i i 
auditoris, denique in illius honorem tes-
tamento Publium Mucium nepotem eius 
reliquit heredem. Fuit autem quaestorius 
nec ultra proficere voluit, cum illi etiam 
Augustus consulatum offerret. Ex his 
Trebatius peritior Cascellio, Cascellius 
Trebatio eloquentior fuisse dicitur, 
Ofilius utroque doctior. Cascellii scripta 
non exstant nisi unus liber bene dictorum, 
Trebat i i c o m p l u r e s , sed m i n u s 
frequentantur. 
D. 1.2.2.46 
Post hos quoque Tubero fuit, qui Ofilio 
operam dedit: fuit autem patricius et 
transiit a causis agendis ad ius civile, 
maxime postquam Quintum Ligarium 
accusavit nec optinuit apud Gaium 
Caesarem. Is est Quintus Ligarius, qui 
também Aulo Offlio; destes dois, Varo 
foi também cônsul, Offlio prosseguiu na 
ordem eqüestre. Este foi muito familiar 
a César e deixou muitos livros sobre o 
ius civile os quais também serviram 
como fundamento a toda parte da obra.26 
Foi, pois, o primeiro a escrever sobre as 
leis da vigésima;27 quanto à jurisdição, 
foi igualmente o primeiro que dispôs 
cuidadosamente o edito do pretor, pois, 
antes dele, Sérvio deixou a Bruto dois 
livros de "Comentários ao Edito", total-
mente concisos. 
Também foi daquele tempo Trebácio, 
que foi igualmente ouvinte de Cornélio 
Máximo; foi também Aulo Cascélio, 
ouvinte de Volcácio, discípulo de Quin-
to Múcio; por fim, em honra deste, este 
deixou por testamento o neto dele, Públio 
Múcio, como herdeiro. Foi ainda questor 
e não quis avançar muito, mesmo quan-
do Augusto lhe oferecera o consulado. 
Destes dois, diz-se Trebácio ter sido 
mais perito do que Cascélio, Cascélio 
mais eloqüente do que Trebácio. Offlio 
mais douto do que ambos. Os escritos 
de Cascélio não sobrevivem exceto um 
só livro "das coisas bem ditas"; de 
Trebácio, vários, mas são menos con-
sultados. 
Depois destes também veio Tuberão, 
que dedicou sua obra a Offlio: foi, pois, 
patrício e se transferiu da atuação nas 
causas para o ius civile, principalmente 
depois que acusou Quinto Ligário e não 
obteve sucesso junto a Caio César. 
, : 6 ' Da obra, i.e., da construção dos juristas, do s i s tema.* 
<ZT) Leis da vigésima parte da herança. 
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 41 
cum Africae oram teneret, infirmum 
Tuberonem applicare non permisit nec 
aquam haur i re , quo n o m i n e eum 
accusavit et Cicero defendit: exstat eius 
oratio satis pulcherrima, quae inscribitur 
pro Quinto Ligario. Tubero doctissimus 
quidem habitus est iuris publici et privati 
et complures utriusque operis libros 
reliquit: sermone etiam antiquo usus 
affectavit scribere et ideo parum libri 
eius grati habentur. 
D. 1.2.2.47 
Quinto Ligârio é aquele que ao dominar 
a extremidade da África não permitiu 
que Tuberão, doente, desembarcasse e 
haurisse água, razão pela qual acusou-
o e Cícero defendeu-o; existe a oração 
dele na medida da máxima beleza, que 
se intitula Pro Quinto Ligario. O 
doutíssimo Tuberão verdadeiramente 
habituado ao direito público e privado 
também deixou vários livros de obras de 
ambas as matérias. Além disso, o uso da 
língua antiga afetou-o no escrever e por 
isso seus livros são tidos como pouco 
gratos. 
Post hunc maximae auctoritatis fuerunt 
Ateius Capito, qui Ofilium secutus est, 
et Antistius Labeo, qui omnes hos 
audivit, institutus est autem a Trebatio. 
Ex his Ateius cônsul fuit: Labeo noluit, 
cum offerretur ei ab Augusto consulatus, 
quo suffectus fieret, honorem susciperc, 
sed plurimum studiis operam dedit: et 
totum annum ita diviserat, ut Romae sex 
mensibus cum studiosis esset. sex 
mensibus secederet et conscribendis 
libris operam daret. Itaque reliquit 
quadr ingenta volumina, ex quibus 
plurima inter manus versantur. Hi duo 
primum veluti diversas sectas fecerunt: 
nam Ateius Capito in his, quae ei tradita 
fuerant, perseverabat, Labeo ingenii 
qualitate et fiducia doctrinae, qui et 
ceteris operis sapientiae operam dederat, 
plurima innovare instituit. 
D. 1.2.2.48 
Et ita Ateio Capitoni Massurius Sabinus 
successit. Labeoni Nerva, qui adhuc eas 
Depois deste foram de máxima autori-
dade AteioCapitão, que seguiu Ofílio e 
Antístio Labeão que ouviu a todos estes, 
ensinado porém por Trebácio. Destes, 
Ateio foi cônsul; Labeão não aceitou 
assumir o cargo de honra quando lhe foi 
oferecido o consulado por Augusto, para 
que se tornasse o substituto, mas se 
dedicou muitíssimo aos estudos. Deste 
modo dividira o inteiro ano para que 
permanecesse em Roma seis meses com 
os estudantes e seis meses se recolhesse 
para que se dedicasse a escrever livros. 
E assim deixou quarenta volumes, dos 
quais muitos são passados de mão em 
mão. Estes dois, por assim dizer, foram 
os primeiros a criar seitas diversas: pois 
Ateio Capitão perseverava nas coisas 
que lhe foram transmitidas, Labeão, que 
também se dedicara a outros ramos do 
saber, por inata qualidade e coerência de 
doutrina, começou a inovar em muitas 
coisas. 
E assim a Ateio Capi tão sucedeu 
Massúrio Sabino e a Labeão. Nerva, os 
4 2 D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LIBER PRIMUS 
dissensiones auxerunt. Hic et iam Nerva 
Caesari familiarissimus fuit. Massurius 
Sabinus in equestri ordine fuit et publice 
primus respondit: posteaque hoc coepit 
beneficium dari, a Tibério Caesare hoc 
tamen illi concessum erat. 
D.1.2.2.49 
Et, ut obiter sciamus, ante têmpora 
Augusti publice respondendi ius non a 
principibus dabatur, sed qui fiduciam 
s t u d i o r u m s u o r u m h a b e b a n t , 
consu len t ibus r e spondeban t : neque 
responsa utique signata dabant, sed 
plerumque iudicibus ipsi scribebant, aut 
testabantur qui illos consulebant. Primus 
divus Augustus, ut maior iuris auctoritas 
haberetur, constituit, ut ex auctoritate 
eius responderem: et ex illo tempore 
peti hoc pro beneficio coepit. Et ideo 
optimus princeps Hadrianus, cum ab eo 
viri praetorii peterent, ut sibi liceret 
respondere, rescripsit eis hoc non peti, 
sed praestari solere et ideo, si quis 
fiduciam sui haberet, delectari se populo 
ad respondendum se praepararet. 
D. l .2 .2 .50 
Ergo Sabino concessum est a Tibério 
Caesare, ut populo responderei: qui in 
equestri ordine iam grandis natu et fere 
annorum quinquaginta receptus est. Huic 
nec amplae facultates fuerunt , sed 
plurimum a suis auditoribus sustentatus 
est. 
quais aumentaram ainda mais estas dis-
sensões. Também este Nerva foi de 
grande familiaridade a César. Massúr ió 
Sabino foi da ordem eqüestre e o pri-
meiro a responder. Depois disso este 
benefício começou a ser oferecido, to-
davia este já lhe fora concedido por 
Tibério César. 
E, saibamos de passagem, antes dos tem-
pos de Augusto o direito de responder 
publicamente não era dado pelos prínci-
pes, mas os que gozavam de confiança 
nos seus estudos respondiam aos que 
consultavam; e não davam a toda força 
respostas seladas, mas geralmente eles 
próprios escreviam aos juízes, ou teste-
munhavam aqueles que os consultavam. 
O divino Augusto foi o primeiro a deter-
minar, a fim de que a autoridade do direito 
se tomasse maior, que eles respondessem 
pela autoridade dele próprio; e desde 
aquele tempo começa a ser pedido isto 
como benefício. E por isso o ótimo prín-
cipe Adriano, como os varões pretórios 
pedissem que lhes fosse permitido res-
ponder, determinou-lhes por rescrito que 
isto não se pedisse, mas que se costumas-
se oferecer e, por isso, se alguém tivesse 
confiança em si mesmo ele próprio 
(Adriano) se alegrava que este alguém se 
preparasse a responder ao povo. 
Portanto, foi concedido por Tibério César 
a Sabino que ele respondesse ao povo; 
este foi recebido na ordem eqüestre já 
com idade avançada, de aproximada-
mente cinqüenta anos. Ele não teve 
amplas faculdades,2* mas foi geralmente 
auxiliado por seus ouvintes. 
,2Í> Muitos bens .* 
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LÍBER PRIMUS 43 
D. 1.2.2.51 
Huic successit Gaius Cassius Longinus 
natus ex filia Tuberonis, quae fuit neptis 
Servii Sulpicii: et ideo proavum suum 
Servium Sulpicium appellat. Hic cônsul 
fuit cum Quartino temporibus Tiberii, 
sed plurimum in civitate auctoritatis 
habuit eo usque, donec eum Caesar 
civitate pelleret. 
D. 1.2.2.52 
Expulsus ab eo in Sardiniam, revocatus 
a Vespasiano diem suum obit. Nervae 
successit Proculus. Fuit eodem tempore 
et Nerva filius: fuit et alius Longinus ex 
equestri quidem ordine, qui postea ad 
praeturam usque pervenit. Sed Proculi 
auctor i tas maior fu i t , nam e t iam 
plurimum potuit: appellatique sunt 
partim Cassiani, partim Proculiani, quae 
origo a Capitone et Labeone coeperat. 
D. 1.2.2.53 
Cássio Caelius Sabinus successit, qui 
plurimum temporibus Vespasiani potuit: 
Proculo Pegasus , qui t e m p o r i b u s 
Vespasiani praefectus urbi fuit: Caelio 
Sabino Priscus Iavolenus: Pégaso Celsus: 
patri Celso Celsus filius et Priscus 
Neratius, qui utrique cônsules fuerunt, 
Celsus quidem et iterum: Iavoleno Prisco 
Aburnius Valens et Tuscianus, item 
Salvius Iulianus. 
A este sucedeu Gaio Cássio Longino, 
nascido da filha de Tuberão, a qual foi 
neta de Sérvio Sulpicio (por isso que seu 
bisavô se chama Sérvio Sulpicio). Este 
foi cônsul com Quartino nos tempos de 
Tibério, mas gozou de muita autoridade 
na cidade até que César o expulsasse 
dela. 
Expulso por ele para a Sardenha e de 
volta chamado por Vespasiano, faleceu. 
Próculo sucedeu a Nerva. Também foi 
daquele tempo Nerva, filho deste; Tam-
bém um outro Longino certamente da 
ordem eqüestre que depois disso alcan-
çou até a pretura. Mas a autoridade de 
Próculo foi maior, de fato tinha mesmo 
muito poder. E de uma parte foram 
chamados Cassianos, de outra Proculia-
nos; origem esta que começou a partir 
de Capitão e Labeão. 
A Cássio sucedeu Célio Sabino que teve 
muito poder nos tempos de Vespasiano. 
A Próculo sucedeu Pégaso que foi 
praefectus urbi nos tempos de Vespasi-
ano. A Célio Sabino, Prisco Javoleno. A 
Pégaso, Celso. A Celso pai, Celso filho 
e Prisco Nerácio, os quais foram das 
duas partes cônsules. Celso na verdade 
foi também outra vez. A Javoleno Prisco 
sucedeu Abúmio Valente e Tusciano, 
bem como Sálvio Juliano. 
III III 
De legibus senatusque Das leis, dos senatus-consultos 
consultis et longa e do longo costume 
consuetudine 
D . l . 3 . 1 
P A P I N I A N U S libro primo clefmitionnm 
Lex est c o m m u n e praeceptum, virorum 
pruden t ium consul tum, delictorum quae 
s p o n t e vel i g n o r a n t i a c o n t r a h u n t u r 
coercitio, communis rei publicae sponsio. 
D . 1 . 3 . 2 
M A R C I A N U S libro primo institutionum 
Nam et Demosthenes orator sic definit: 
T O O T Ó Í : G T I V vóf.ioa, có n á v i a a 
à v B p á m o u a 7 ipoar)K£t TteíOeaOat oià 
no\\à, Kai jiCtÀtaxa õn nác èaxtv 
vó^ioa supcj-ia j.ièv Kai ôcòpov 
0coO, 8óyj.ia 8t àvOpómcov 
(pp ovíj.ta)v, £7tavóp0coj.ia 8è xcòv 
ÉKOIXTÍCOV Kai cucooaícov á|iapx]ij.iáxo)v, 
nóXscoa Sè auvOr|Kr| K O I V Í ] , RAO" 
f]v ô t 7 r a a i 7 u p o a f ) K £ t Çfjv xota cv 
xíj nokz\?l) Sed et philosophus summae 
A lei é um precei to c o m u m , o d i t a m e 
dos homens prudentes , a r e p r e e n s ã o d o s 
delitos que se c o m e t e m v o l u n t a r i a m e n t e 
ou por ignorância , o c o m p r o m i s s o c o -
mum de toda a res publica. 
Pois t a m b é m o o rador D e m ó s t e n e s as-
sim def in iu : "lei é aqu i lo q u e c o n v é m a 
todos os h o m e n s obedece r , se por c a u s a 
de var ias out ras co i sas , e n t ã o p r inc i -
pa lmen te p o r q u e toda lei é u m a d e s c o -
berta e um d o m de D e u s , o p e n s a m e n t o 
dos h o m e n s s á b i o s e a r e p r e e n s ã o d a s 
íaltas tanto das v o l u n t á r i a s q u a n t o d a s 
não vo lun tá r ias ; u m pac to , po i s , c o m u m 
da polis, c o n f o r m e o q u e c o n v é m a 
todos q u e nela v i v a m " . M a s t a m b é m u m 
(2V) Haec lex est, cui omnes homines convenit obtemperare cum propler alia pleraquetum 
maxime, quod omnis lex inventum est et donum dei, placitum vero sapientium hominum 
coercitioque peccatorum tam voluntariorum quam non voluntariorum, civitatis autem 
pactum commune, secundum quod convenit viverc quicunque in ca sunt. 
4 4 
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LIVRO 
stoicae sapientiae Chrysippus sic incipit 
libro, quem fecit T iep i v ó f . i o u : ó 
V Ó ^ I O C T TICTvTcov è a x i p a a i X e ò c r 
Geícov xe Kai àv0pco7iívcov 7rpayf.iáx(ov 
ôeí 5è auxòv 7tpoaxáxi|/v xe e iva i 
T C Ò V K a X c ò v K a i xcòv 
a iaxpcòv Kai a p x o v x a Kai ffyefióva 
xcòv cpóaei 7TOXITIKCÒV Çcócov K a i 
Kaià xouxo Kavóva xe e iva i 
Siraícov Kai ÒÔÍKCOV Kai 7rpoaxaKxiKÒv 
f.ièv cav Troirjxéov, àrcayopeuxiKÓv 
5è cov o ò 3o 7roiT|xéov.3() 
D . l . 3 . 3 
P O M P O N I U S libro vicensimo quinto ad 
Sabinum 
l u r a c o n s t i t u i o p o r t e t , u t d ix i t 
Teophrastus , in his, quae tn\ xò 
7 i X e i a x o v 3 1 accidunt , non quae èK 
7 iapaXóyou . 3 2 
D . 1 . 3 . 4 
C E L S U S libro quinto digestorum 
Ex his, quae forte uno al iquo casu 
acc idere possunt , iura non consti tuuntur: 
D . 1 . 3 . 5 
IDEM libro XVII digestorum 
N a m ad ea po t ius debet aptari ius, quae 
e t f r e q u e n t e r e t faci le, q u a m quae perraro 
e v e n i u n t . 
fi lósofo da grande sabedoria estóica, 
Crisipo, assim começa no livro que fez 
"sobre as normas": ;\a lei é a rainha de 
todas as coisas divinas e humanas . E 
preciso, pois, que seja superior tanto aos 
bons quanto aos maus e q u e se ja 
condutora e mestra dos animais que a 
natureza quis que convivessem civil-
mente, daí então que seja a norma do 
justo e do injusto, que obriga serem 
feitas as coisas que devem ser feitas, que 
proíba as que não devem ser feitas. 
É necessário que os direitos se const i tu-
am, como disse Teofras to , para aquelas 
coisas que na maior parte do t e m p o 
acontecem, não as que vão a lém da 
expectativa. 
Não se const i tuem direi tos a par t i r de 
coisas que podem ocorrer po rven tu r a 
em a lgum único caso. 
Pois o direi to deve adap ta r - se ao q u e 
ocorre mais f r e q ü e n t e e f a c i l m e n t e do 
que ao que ocor re mu i to r a r a m e n t e . 
(1<)) Lex est omnium regina rerum divinarum humanarumque, oportet autem praeesse eam tam 
bonis quam malis, et ducem et magistrum esse animalium quae natura civilia esse voluit, 
indeque normam esse iusti et iniusti, quae iubeat fiieri facienda, vetet fieri non facienda. 
(1,) in his quae plerumque accidunt. 
0 2 ) non quae praeter expectationem. 
D l ü E S T O DE J U S T I N I A N O - LIVRO I 
D . 1 . 3 . 6 
PAULUS libro XVI! ad Plautium 
, § l Cr ," ut ait pois o que se dá por uma ou duas vezes, 
< x s r r n5°levam - -
V O | Ã O 0 £ T C U . C 
D . 1 . 3 . 7 
M O D E S T I N U S libro I regularam 
Legis virtus haec est imperare vetare O mérito da lei e este. mandai , proibir, 
permittere punire. permitir e punir. 
D.l .3.8 
U L P I A N U S libro III cul Sabimim 
Iura non in singulas personas, sed 
generaliter constituuntur. 
D.1.3.9 
I D E M libro XVI ad edictum 
Os direitos não se estabelecem em razao 
de pessoas específicas, mas gener ica-
mente. 
Non ambigitur senatum ius facere pos- Não há dúvida que o senado pode criar 
se. direito. 
D. 1.3.10 
I U L I A N U S libro LVI1II digesto rum 
Neque leges neque senatus consulta ita Nem as leis nem os senatus-consul tos 
scribi possunt , ut omnes casus qui podem escrever de tal maneira que to-
quandoque inciderint comprehendantur, dos os casos, seja qual for o t empo em 
sed sufficit ea quae p lerumque accidunt que ocorram, sejam compreend idos pela 
contineri. norma, mas basta que con templem aque-
les que na maior parte das vezes ocor-
rem-. 
D . l . 3 .11 
IDEM libro LXXXX digestorum 
Et i d e o de h i s , q u a e p r i m o j E por isso, quan to àquelas 3 4 que se 
(33) nam quod semcl vel bis factum est, praetcrcunt Icgum latores. 
(W) Quanto ;\s leis. • 
4 6 D I G E S T O D E J U S T I N I A N O - L I V R O I 
c o n s t i t u u n t u r , au t i n t e rp re t a t i one aut 
c o n s t i t u t i o n e o p t i m i p r inc ip i s certius 
s t a t u e n d u m es t . 
D . l . 3 . 1 2 
I D E M libro XV digesto rum 
N o n possunt o m n e s articuli singillatim 
au t l e g i b u s au t s e n a t u s c o n s u l t i s 
c o m p r e h e n d i : sed cum in aliqua causa 
sentent ia eo rum manifesta est, is qui 
iurisdict ioni praeest ad similia procede-
re a tque ita ius dicere dcbct. 
D. 1.3.13 
U U M A N U S libro / cid edictum ciedilium 
curulium 
N a m , ut ait Pedius , quotiens lege aliquid 
u n u m vel a l te rum introductum est, bona 
o c c a s i o est ce tera , quae tendunt ad 
e a n d c m uti l i ta tem, vel interpretatione 
vel certe iur isdict ione suppleri. 
D . l . 3 . 1 4 
P A U L U S libro XllII ad edictum 
Q u o d v e r o c o n t r a r a t i o n e m iur i s 
r ecep tum est, non est p roducendum ad 
consequen t i a s . 
D . l . 3 . 1 5 
I U L I A N U S libro XXVII digestorum 
In h i s , q u a e c o n t r a r a t i o n e m iuris 
cons t i tu ta sunt , non p o s s u m u s sequi 
r e g u l a m iuris. 
D . 1 . 3 . 1 6 
P A U L U S libro singulari de iure singulari 
Ius s ingu la re es t , quod cont ra tenorem 
constituem pela primeira vez, hão de ser 
fixadas com mais certeza ou por meio 
da interpretação ou por de uma consti-
tuição do ótimo príncipe. 
Não podem todas as ocasiões ser com-
preendidas individualmente seja por leis 
ou senatus-consultos. Mas quando em 
alguma causa torna-se manifesta a sua 
percepção, aquele que exerce a jurisdi-
ção deve proceder por semelhança e 
assim declarar o direito. 
Pois, como diz Pédio, toda vez que fo r 
introduzida uma coisa ou outra pela lei 
é boa ocasião de serem supridas, seja 
pela interpretação seja seguramente pela 
jurisdição, outras que tendem à m e s m a 
utilidade. 
Mas o que foi recebido contra a razão 
do direito não há de ser levado às suas 
conseqüências . 
Não podemos seguir a regra de direito 
naquelas coisas que fo ram es tabe lec idas 
contra a razão do direito. 
Direito s ingular é aquele q u e foi intro-
D I G E S T O DE J U S T I N I A N O - LIVRO I 
rat ionis propter aliquam utili tatem 
auctoritate constituentium introductum 
est. 
D. l .3 .17 
C E L S U S libro XXVI digestorum 
Scire leges non hoc est verba earum 
tenere, sed vim ac potestatem. 
D. l .3 .18 
I D E M libro XXVIIII digestorum 
4 7 
duzido pela autoridade dos que o cons-
tituíram, contra a coerência da razão/5 
por causa de alguma utilidade. 
Conhecer as leis não é reter as palavras 
delas, mas a sua força e majestade. 
Benignius leges interpraetandae sunt, 
quo voluntas earum conservetur. 
D . l .3 .19 
I D E M libro XXXIII digestorum 
As leis devem ser interpretadas com 
mais benignidade para que a vontade 
delas seja conservada. 
In a m b i g u a voce legis ea po t ius 
accipienda est significatio, quae vitio 
caret, praesertim cum etiam voluntas 
legis ex hoc colligi possit. 
No termo ambíguo da lei, há de se 
entender preferencialmente o significa-
do que carece de vício, sobretudo quan-
do a própria vontade da lei possa ser 
dele coligida. 
D. 1.3.20 
I U L I A N U S libro quinquagensimo quinto 
digestorum 
N o n o m n i u m , q u a e a m a i o r i b u s 
consti tuía sunt, ratio reddi potest, 
Não se pode fazer reviver a razão de 
todas as coisas que foram constituídas 
pelos antepassados. 
D. 1.3.21 
N E R A T I U S libro VI membranarum 
E t i d e o r a t i o n e s e o r u m , q u a e 
c o n s t i t u u n t u r , inqui r i non opo r t e t : 
alioqtiin multa ex his quae certa sunt 
subvertuntur . 
E por isso não se deve buscar as razões 
das coisas que são estabelecidas; caso 
contrário,