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Aula 4 - Litisconsórcio

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UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA 
 CURSO DE DIREITO 
 DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 
 PROFESSORA: Alexsandra Gato Rodrigues 
 
Aula 4 
LITISCONSÓRCIO 
Define-se litisconsórcio como a pluralidade de partes em litígio, em qualquer dos pólos da relação jurídica 
processual. Com efeito, é um dos fenômenos processuais de maior ocorrência, por atender a princípios, tais como a 
instrumentalidade das formas, economia e celeridade processual, além de evitar decisões conflitantes no exercício da 
jurisdição, isto sem contar a hipótese de instituição obrigatória do litisconsórcio, como requisito de validade de toda a 
relação processual. Costuma-se, ab initio, denominar o litisconsórcio de acordo com o pólo da ação em que se verifica: 
havendo pluralidade de réus, o litisconsórcio é passivo; de autores, o litisconsórcio é ativo; se há pluralidade de réus e 
autores, o litisconsórcio é denominado misto. 
1. Classificação 
 Há várias classificações a que se submete o instituto do litisconsórcio, conforme os critérios abaixo explicitados. 
1.1. Quanto à formação 
 Litisconsórcio necessário: existem algumas situações em que o litisconsórcio deve ser formado 
obrigatoriamente. Não há nenhuma opção das partes em formar ou não o litisconsórcio. 
 Litisconsórcio facultativo: é aquele formado por opção do autor, que podia ingressar com ação autônoma em 
relação aos seus litisconsortes, ou ainda podia mover ação em face de um réu, mas move em face de todos, 
a exemplo dos devedores solidários. 
1.2. Quanto à decisão 
 Litisconsórcio unitário: verifica-se o litisconsórcio quando o juiz deve, obrigatoriamente, proferir sentença 
igual para todos os litisconsortes. O juiz não tem opção de decidir de forma igual ou diferenciada a todos 
os litisconsortes de um mesmo pólo. 
 Litisconsórcio simples: é a modalidade de litisconsórcio quanto à decisão, em que o juiz pode optar por dar 
decisões diferentes às partes integrantes de um mesmo pólo da relação jurídica. O juiz pode optar por 
proferir sentença igual ou diversa para cada um dos litisconsortes. 
 
2. Litisconsórcio Multitudinário 
É a denominação conferida ao litisconsórcio excessivo, em que figuram número expressivo de partes em 
quaisquer dos pólos da relação jurídica processual. O Código de Processo Civil, atendendo à celeridade processual, de 
forma a garantir que o litisconsórcio seja um instrumento e não um antinstrumento à rápida solução de litígios, passou 
a permitir ao juiz, no caso de litisconsórcio multitudinário facultativo (ressalte-se: facultativo), a redução do número de 
litigantes em duas situações, a saber: 
 quando, pelo excesso do número de partes, houver prejuízo à rápida solução do litígio; 
 quando, pelo excesso do número de partes, houver prejuízo ao direito de defesa, evitando que a lide seja julgada 
pela questão jurídica em tese levantada, sem aplicação aos inúmeros casos em concreto. 
Presentes quaisquer dessas hipóteses, o juiz tem o poder de reduzir o número de litisconsortes facultativos. O 
entendimento absolutamente dominante é no sentido de que o juiz tem poderes para determinar de ofício o 
desmembramento do processo, com a consequente redistribuição de feitos e redução do número de litigantes. Aqui, cabe 
salientar que, ressalvada a análise do caso em concreto, a jurisprudência entende satisfatória a divisão dos litisconsortes 
em grupos de dez pessoas. 
Há um entendimento minoritário, sustentado pelo Prof. Nelson Nery Júnior, segundo o qual, se houver prejuízo 
à rápida solução do litígio, o juiz poderá determinar de ofício a redução do número de litisconsortes, visto ser de interesse 
público; entretanto, havendo prejuízo do direito de defesa, o juiz não pode reduzir o número de litisconsortes de ofício, 
tendo em vista a análise da existência ou não de deficiência no exercício da defesa configurar interesse privado das 
partes em litígio. 
Verificado o número excessivo, o juiz deverá determinar o desmembramento do processo, não havendo extinção 
do processo para nenhuma das partes. Este desmembramento será feito, conforme dito, observando-se o caso concreto. 
Quem arcará com as custas do desmembramento será a parte que criou o litisconsórcio multitudinário (sempre o autor). 
Caso o juiz não determine o desmembramento do processo, cabe ao réu formular o pedido de desmembramento. 
Este deve formular requerimento no prazo da contestação. Em havendo vários réus, basta que um deles requeira o 
desmembramento. 
O requerimento de desmembramento interrompe o prazo para o oferecimento da contestação, ou seja, o réu 
receberá de volta o prazo para a contestação em sua integralidade. O prazo ficará interrompido até o momento em que 
o réu for intimado da decisão do juiz, desmembrando ou não o processo. Esse requerimento, ainda que seja feito por 
apenas um dos réus, interrompe o prazo para todos os demais. 
 
3. Litisconsórcio Facultativo 
Para que haja um litisconsórcio facultativo, deve haver entre os litisconsortes um mínimo de relação de 
semelhança no que tange aos interesses defendidos por meio da relação jurídica processual. O artigo 113 do Novo 
Código de Processo Civil traz as hipóteses em que se permite a formação de um litisconsórcio facultativo: 
 Quando houver comunhão de direitos e obrigações: é uma forma de cuidar das hipóteses de solidariedade, ou 
seja, haverá litisconsórcio facultativo quando houver solidariedade entre nas obrigações de titularidade dos 
possíveis litigantes (exemplo: A é credor; e B, C e D são devedores solidários; A pode ingressar com 
cobrança tanto contra cada um, separadamente, ou contra os três, solidariamente). 
 Quando houver conexão: a conexão inclui a identidade de pedido e a identidade de causa de pedir. Em razão 
desse fato, a doutrina aponta a desnecessidade de previsão dessa hipótese, por haver a previsão anterior de 
identidade apenas de pedido ou causa de pedir, tornando-a inócua. 
 Quando houver afinidade por um ponto de fato ou direito: situações afins são aquelas que possuem alguma 
semelhança. A palavra “afinidade” utilizada pelo legislador não é uma palavra exata. O vocábulo vago foi 
utilizado propositalmente para que se permita ao juiz uma certa margem de “discricionariedade”, por óbvio, 
dentro dos limites legais, para verificar se há ou não similitude que permita a formação do litisconsórcio. 
 
 
 
 
 
4. Litisconsórcio Necessário 
Existem certas situações em que o litisconsórcio é necessário por força de lei, ou seja, existe um dispositivo em 
lei que determina que se forme o litisconsórcio (exemplo: pólo passivo em ação de usucapião etc). 
Existem outras situações em que o litisconsórcio é necessário, ainda que não exista lei determinando sua 
formação. Há certas situações em que existe uma única relação jurídica que pertence a mais de uma pessoa, a exemplo 
do casamento, relação jurídica pertencente a, no mínimo, duas pessoas. Quando há uma relação jurídica que pertença a 
duas ou mais pessoas, qualquer ação que envolva essa relação jurídica deverá, obrigatoriamente, haver a formação de 
um litisconsórcio necessário, ainda que não disposto em lei. Assim, a título de exemplo, se o Ministério Público propor 
uma ação de anulação de casamento, obrigatoriamente, haverá um litisconsórcio necessário no pólo passivo, composto 
pelos cônjuges. 
Em síntese, o litisconsórcio será necessário por duas razões: 
 por força de lei; 
 pela natureza da relação jurídica (relação jurídica única que envolve mais de um interessado). 
Em regra, quando o litisconsórcio for necessário em razão da natureza da relação jurídica, além de necessário, 
ele será também unitário, por exigir uma única sentença de igual dispositivo para todos os litisconsortesde determinado 
pólo. Como exemplo de exceção à hipótese descrita, aponta-se a decisão de nulidade de casamento, considerado putativo 
e surtindo efeitos a um dos cônjuges, por estar de boa-fé. De modo diverso, via de regra, o litisconsórcio necessário será 
simples, quando considerado necessário por força de lei. 
Havendo uma única relação jurídica que envolva mais de um interessado, cumpre observar que, caso haja lei 
autorizando que apenas uma das partes defenda o interesse conjunto dos litisconsortes na relação jurídica processual 
(legitimação extraordinária ou substituição processual), estar-se-á criando um litisconsórcio facultativo, mas ainda 
unitário, visto que a relação jurídica é única. 
Desta feita, conclui-se que, no campo da normalidade, quando há uma relação jurídica que pertença a várias 
pessoas, formar-se-á um litisconsórcio necessário. Entretanto, excepcionalmente, quando houver autorização 
expressa em lei de ocorrência de legitimação extraordinária ou substituição processual, poderá se formar um 
litisconsórcio facultativo. Nos dois casos haverá, sempre, um litisconsórcio unitário, uma vez que a sentença deve 
ser a mesma para todos os litisconsortes. 
Quando há legitimação extraordinária, os litisconsortes que não intentaram a ação poderão ingressar no 
processo, posteriormente, como assistentes litisconsorciais. A essa possibilidade, o eminente doutrinador José Carlos 
Barbosa Moreira dá o nome de litisconsórcio facultativo unitário ulterior, em razão de sua pretensa formação tardia. 
Quando houver um litisconsórcio necessário no pólo passivo e o autor não incluir um dos litisconsortes, o juiz 
deverá determinar prazo para que o autor emende a inicial, prazo este de dez dias. Caso não haja a inclusão do requerido 
faltante no pólo passivo da ação, o juiz deverá indeferir a petição inicial, extinguindo o processo sem julgamento do 
mérito ante a falta de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo. 
Entretanto, se houver um litisconsórcio necessário no pólo ativo e um dos autores se recusar a ajuizar a ação, 
haverá uma grande discussão doutrinária sobre a possibilidade de forçá-lo a litigar em conjunto como os demais autores, 
ou não. A doutrina tradicionalista entende que não há como obrigar alguém a propor uma ação, então a ação estaria 
inviabilizada. Outros doutrinadores, no entanto, entendem que seria injusto inviabilizar a ação somente pelo fato de um 
dos litisconsortes necessários não aceitar ingressar com a ação, visto que estaria impossibilitando que os outros tivessem 
acesso à justiça, determinando, por conseguinte, como forma de resolução do problema prático de como compelir o 
outro litisconsorte a ingressar em juízo, a citação do litisconsorte ativo que se manteve omisso, abrindo-lhe três 
hipóteses: 
 quedar-se inerte; 
 assumir sua posição de litisconsorte ativo; 
 contestar a ação, tornando-se verdadeiro assistente do réu. 
5. Regime do Litisconsórcio 
Não é relevante, para o regime do litisconsórcio, a classificação do litisconsórcio em necessário ou facultativo. 
Para que seja definido o regime do litisconsórcio, deve-se saber, em primeiro lugar, se o litisconsórcio é simples ou 
unitário. 
Se o litisconsórcio é simples, a priori, o regime é de independência, ou seja, os atos praticados por um dos 
litisconsortes não afetarão os interesses do outro, nos termos do artigo 48 do diploma adjetivo. Entretanto, mesmo nos 
casos de litisconsórcio simples, se a contestação de um dos litisconsortes for comum ao litisconsorte revel, em relação 
às alegações, a contestação daquele irá aproveitar a este, permitindo assim que os atos praticados por um dos 
litisconsortes interfiram nos interesses do outro. 
Se o litisconsórcio for unitário, não pode haver entre eles o regime da independência, visto que a sentença, 
ao final, deverá ser a mesma para todos; então, os atos praticados por um dos litisconsortes afetam os outros 
obrigatoriamente. 
Embora a regra relativa ao litisconsórcio unitário seja a da interferência na esfera dos direitos dos demais 
litisconsortes por atos de um deles, é prevista a seguinte exceção: no caso de uma confissão em litisconsórcio unitário, 
ela não atingirá os demais litisconsortes. Isto porque os atos benéficos (contestação, apelação etc.) afetam os demais 
litisconsortes, mas quando o ato for prejudicial (a exemplo da confissão) não poderá afetar os demais litisconsortes, 
visto que ninguém pode ser prejudicado por ato que não praticou. Em síntese: no caso de litisconsórcio unitário, se 
houver confissão de somente um dos litisconsortes, a confissão será ineficaz, dado que não poderá atingir os demais 
e a sentença deverá ser igual para todos. O ato prejudicial, que não for praticado por todos os litisconsortes, será 
sempre ineficaz, visto não poder atingir aqueles que não o praticaram.

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