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�PAGE � �PAGE �1� Émile Durkheim – Tania Quinteiro Introdução Contribuição da Sociologia como Ciência Empírica e implantação no meio acadêmico. Sua produção reflete a tensão entre valores e instituições na Europa. Referências de seu pensamento – Revolução Francesa e Revolução Industrial. Humanidade – gradual aperfeiçoamento – lei do progresso – Filosofia Iluminista e o industrialismo da sociedade moderna. Concepção de vida coletiva não é imagem ampliada da vida individual – é algo distinto com vida própria – fato social - objeto próprio das Ciências Sociais através do método da observação, indução e experimentação – comparação a procura de leis explicativas. Recebe influência de Kant, do darwinismo, organicismo alemão e socialismo de cátedra. Critica Spencer e o individualismo utilitarista. Ciência Social – expressão da consciência racional das sociedades modernas. A Especificidade do Objeto Sociológico Sociologia – ciência das instituições, sua gênese e funcionamento – toda crença e comportamento instituído pela coletividade. Para se constitui como Ciência é necessário um objeto próprio – os fatos sociais. Fato social – maneiras de agir, pensar e existir, mais ou menos fixos, coercitivo, geral na sociedade, existência própria, independente das manifestações individuais. Reino social – leis próprias – existe correntes sociais. É necessário um método próprio para seu estudo. Ainda que o todo só se forme pelo agrupamento das partes, a associação dá origem a algo mais geral que não é diretamente ligado a essa parte, mais algo diferente, com vida própria – a sociedade – síntese – a vida está no todo e não nas partes – o que Durkheim denomina de vida psíquica. Importância do grupo – possui uma mentalidade que não é idêntica à dos indivíduos – os estados de consciência coletiva são distintos dos estados de consciência individual. Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade e não em cada um dos indivíduos. É na coletividade que se deve buscar a explicação do fato social. Fatos sociais mais fluídos – maneiras de agir - correntes sociais, movimentos coletivos, correntes de opinião - diversidade. Fatos sociais mais cristalizados – maneiras de ser – regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, moda, estabelecidos pela diferentes gerações – estão fora dos indivíduos – uma realidade objetiva. Processo educativo – fundamental para a internalização dos fatos sociais – insere o homem na sociedade, faz dele um ser social. Representações coletivas – uma expressão do fato social – são os modos como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia – a massa que a compõe, as coisas de que utilizam e o solo que ocupam com suas representações – mitos, lendas, ideais, religião, moral, etc., produzidas através de uma ampla cooperação – dão origem aos conceitos traduzidos pela linguagem. Valores – também fato social – sua coercitividade se revela quando existe uma violação, a não-submissão, estamos mergulhados numa atmosfera de idéias, sentimentos coletivos que não podemos modificar por ação individual. Apesar da existência de dificuldades, são possíveis comportamentos inovadores e mudanças nas instituições – pela ação coletiva e a emergência de um novo fato social – uma nova concepção, uma nova norma, um novo valor, etc. Nas sociedades modernas esta ação pode ser mais possível, enquanto que nas sociedades mais antigas, mais difíceis. Exemplo do crime em diferentes sociedades. O Método de Estudo da Sociologia Segundo Durkheim Método semelhante ao das Ciências Naturais, mas aplicado ao reino social – estritamente sociológico – possíveis relações entre causas e efeitos e regularidades, visando a descoberta de leis. – regras de ação para o futuro. 1º - estudo do exterior - - estrutura da sociedade - o substrato da sociedade. 2º - a variação, o movimento, as funções de acordo com a constituição do substrato social. Regras na observação dos fatos sociais: - observação dos fatos como coisas – afastar as prenoções, definir previamente os fatos conforme seus caracteres exteriores comuns e considerá-los independentemente de suas manifestações individuais e de maneira objetiva – os caracteres exteriores são apenas indícios, sintomas, pistas, para se chegar aos caracteres invisíveis e profundos. Atitude do cientista – desconhecimento do fato – estranhamento do que é familiar, libertar-se das falsas evidências que se formam fora do campo da ciência – verifica o que é e não o que deveria ser. Seu papel é exprimir a realidade e não o de julgá-la – adotar uma prática cartesiana da dúvida metódica. A Dualidade dos Fatos Morais As regras morais são fatos sociais. São coativas, mas também podem ser agradáveis, estamos ligados a elas, a sociedade é nossa protetora. As regras morais possuem autoridade que implica a noção de dever e também são desejáveis, apesar de seu cumprimento se dê com esforço e nos arrasta para fora de nós mesmos. O fato moral – mesma dualidade do sagrado – o ser proibido que não se possa violar e também é o bom, amado e procurado. Diálogo com Rousseau sobre as vantagens do homem em sair do estado da natureza. Sociedade – uma realidade que tem vida própria – um ente superior que antecede e sucede os indivíduos, independe dele, tem autoridade moral que os constrange mas que amam – é o que lhes concede humanidade. É necessário porém que haja constante revitalização dos ideais, para não acontecer afrouxamento nas relações – se não – anomia. É necessário sempre revigorar os ideais coletivos, refazer moralmente a sociedade, reafirmar os sentimentos e idéias. Que constituem sua unidade e personalidade. Isto garante a coesão, vitalidade e continuidade dos grupos e instituições – a integração do grupo e sociedade. Coesão, Solidariedade e os dois Tipos de Consciência Elabora o conceito de solidariedade social – expressão da coesão e ligado à maior ou menor divisão do trabalho social. Duas consciências: uma comum com o grupo, representa a sociedade – coletiva; outra só nos representa e nos faz indivíduo. Dois seres: individual e o coletivo – comum. O conjunto – ser social. Coletivo ou comum: conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, um sistema com vida própria – produz um mundo de sentimentos, de idéias, de imagens e independe das manifestações individuais. A consciência coletiva recobre áreas de distintas dimensões na consciência total das pessoas. Quanto mais extensa mais coesão – todas as partes se assemelham – os membros do grupo se atraem por similitudes uns com os outros – solidariedade mecânica. Onde se desenvolve uma divisão do trabalho, a consciência comum passa a ocupar uma reduzida parcela da consciência total – desenvolvimento da personalidade – não há como conter as divergências privadas. A diferenciação não diminui a coesão – faz com que a unidade seja maior pela individualidade das partes. A solidariedade se funda na interdependência e na individuação dos membros que compõem essa sociedade. O equilíbrio e a solidariedade originam-se da própria diferenciação. A divisão do trabalho recobre todas as áreas da sociedade, a educação exprime os elementos comuns que toda sociedade necessariamente possui. A idéia é que conforme a divisão do trabalho avança, não há possibilidade de regulamentar todas as funções e deixa descoberta uma parcela da consciência individual – dessemelhanças, individualidade, personalidades autônomas. Os Dois Tipos de Solidariedade Os laços que unem os membros e o grupo – solidariedade: mecânica ou orgânica dependendo do tipo de sociedade e coesão garantida. Quando os vínculos assemelham-se aos que unem um déspota aos súditos – mecânica, liga diretamente o indivíduo à sociedade sem qualquer intermediário – tipo coletivo. As consciências se assemelham, são muito pouco desiguais – o que os une é o compartilhamento desimilitudes. A educação é difusa, um poder absoluto que encarna a autoridade e consciência comum – agregado informe: horda – sociedade simples. Um conjunto de hordas – sociedade mais complexa: sociedade polissegmentar simples: clã. Ainda um agregado homogêneo, de natureza familiar e política – solidariedade mecânica. Com a dissolução das sociedades segmentares e com a densidade moral e dinâmica inaugura as sociedades parciais – relações mais numerosas, intensificação das relações sociais, vida em comum. Densidade material – concentração da população em cidades e condensação da sociedade, multiplicação das relações intersociais – progresso da divisão do trabalho – redução da solidariedade mecânica gradual substituição pela solidariedade orgânica. Preponderância da solidariedade orgânica pelo efeito da complexificação da divisão do trabalho. Conseqüência: individualização dos membros que se solidarizam pela diferentes ações e funções – efeito de interdependência entre funções diferentes e especiais. Indicadores dos Tipos de Solidariedade Direito – fator externo e objetivo para indicar o fenômeno moral da solidariedade. Sociedades complexas o Direito regula as funções do corpo – mesmo papel do sistema nervoso. O Direito impõe sanções de dois tipos; repressivas e restitutivas (Direito Penal ou Repressivo). Sociedade onde predomina a solidariedade mecânica – o crime, a transgressão são reprimidos pelas tradições, vingança, assembléia do povo, com objetivo de manter o equilíbrio do corpo – a coesão. (Direito Repressivo com mais força). Sociedade onde predomina divisão do trabalho mais desenvolvida – (Direito Restitutivo na figura do Direto Civil, Comercial, etc., está mais presente). Seu objetivo – restituir a coesão, o equilíbrio onde impera a divisão do trabalho, as funções divididas. Ex: Suicídio. Moralidade e Anomia Toda a discussão anterior aponta para a importância dos fatos morais na integração dos homens à vida coletiva – vazio moral de sua época na França. Conflitos e desordem são sintomas da anomia jurídica e moral. O mundo moderno – redução da eficácia de instituições integradoras, a religião e família, falta de regulamentação econômica e do Estado. Em resumo: a existência de uma divisão anômica do trabalho que não consegue impor as regras, os limites e as normas necessárias à regulamentação da sociedade altamente diferenciada e das insatisfações dos indivíduos. Portanto a anarquia dos tempos modernos não dizia respeito apenas à distribuição desigual de riquezas, mas tinha a ver com uma divisão anômica do trabalho que não produzia seu papel moral, qual seja: a solidariedade necessária para manter em equilíbrio o corpo social. Não havia uma auto-regulação dos órgãos divididos que provoca a harmonia das funções - resultado: crises/anomia. A desigualdade social – expressa as desigualdades naturais. Por mais que se lute contra as desigualdades sociais, via riqueza, existe o princípio de herança (riqueza) e da hereditariedade (dons naturais). Moral e Vida Social A moral – noção de dever, obrigação é sentida como desejável, não é mera ordem, penetra a noção de bem. Com a autoridade desenvolve-se o princípio de liberdade. Ser livre não é fazer o que quer, mas saber agir pela razão, praticando o dever. Cada povo, em certo momento histórico possui uma moral que dão base ao julgamento da opinião pública e dos tribunais. A própria sociedade é a autoridade moral (consciência coletiva), comum convivendo com moralidades individuais (consciências individuais). Onde se inicia a vida a vida do grupo começa a moral. Se na sociedade de crescente divisão do trabalho os membros do grupo chegam ao ponto de só terem em comum a qualidade de humano, só resta a moral individualista e a religião da humanidade (o próprio homem). Por isso, nas sociedades modernas, a importância do Estado e outros grupos secundários que podem expressar os diferentes interesses. Na realidade, as instituições seriam intermediárias, regulamentariam os conflitos de interesses diversos. É do equilíbrio entre o Estado e as instituições que emergem as liberdades individuais – noção de um Estado forte. Um homem livre é aquele que contém seu egoísmo natural – por isso é um homem sempre submetido a regras e normas, subordinado aos fins coletivos, universais, que visem o desenvolvimento dos seres humanos – divinização do indivíduo enquanto obra da própria sociedade. Religião e Moral Esta preocupação com o estudo da moralidade resulta em preocupação com a religião, tendo como ponto inicial de reflexão as religiões primitivas. As religiões são constituídas por um sistema solidário de crenças e de práticas relativas às coisas sagradas (Igreja). Os fenômenos religiosos são de duas espécies: crenças (estados de opinião, representações), ritos (modos de conduta) – por isso são fatos sociais. Ambos organizam e classificam o universo das coisas e dos seres humanos: o profano e o sagrado que expressam uma ordem de comportamentos individuais e coletivos – efeito de solidariedade. Onde falta é necessário procurar novos sentidos e nova base moral. A Teoria Sociológica do Conhecimento Religião – sociedade idealizada: o bem e o mal. Ao expressarem sentimentos comuns, as religiões são também os primeiros sistemas coletivos de representação do mundo. Sua preocupação ao estudar a religião: compreender as categorias fundamentais do entendimento humano – as representações coletivas (tempo, espaço, número, causa, substância, personalidade) – relações entre as coisas e o pensamento. Princípio de classificação - a religião expressa de forma resumida a vida coletiva, conceitua, significa, organiza e classifica. A própria razão é obra das representações comuns. As categorias de entendimento seriam instrumentos coletivos de pensamento construídos através dos tempos, meios de comunicação e expressão das coisas e do mundo social. O homem só pensa por meio de conceitos. A ciência, a religião, a moral originam-se de uma mesma fonte: a sociedade. Conclusões Apesar de ser considerado positivista e conservador, Durkheim foi sempre atento às transformações de seu tempo. Acreditava na capacidade de convivência entre os homens, suas diversidade e diferenças, sem, contudo, colocar em risco a sobrevivência do corpo social. Por isso era defensor da justiça social e o exercício da liberdade, sempre procurando a mudança pacífica. Impactos sobre a Sociologia: - os estudos sobre religião e os sistemas simbólicos, educação, instituições. Os estudos com Mauss sobre as representações coletivas e dos sistemas lógicos de compreensão do mundo, originários de diferentes grupos sociais, estabeleceram uma ponte entre sua teoria sociológica e a Antropologia Contemporânea. - os aspectos ligados ao consenso e integração do sistema social foram incorporados pela sociologia norte-americana (Talcott Parsons). - inspira estudos recentes sobre a desintegração de padrões tradicionais de interação devidos aos processos de urbanização, além de pesquisas sobre família, profissão e a socialização.