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CURSO TOGA DIREITO DO TRABALHO TURMA REGULAR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Prof: Fábio Goulart Villela 3ª Aula: Aplicação, Interpretação e Integração do Direito do Trabalho. 1. Aplicação do Direito do Trabalho: ( Toda a disciplina jurídica está em estreita relação com a realidade do meio a que se aplica. ( No campo de aplicação do Direito do Trabalho, os fatores econômicos desempenham função preponderante. ( A legislação trabalhista deve regular todas as relações decorrentes da prestação do trabalho pessoal e subordinado, independentemente das condições em que se verifique, além daquelas outras normativamente especificadas. ( Tendência expansionista e universalista do direito do trabalho, enquanto fenômeno jurídico, posto que aplicável a todas as espécies de atividade econômica em que se desenvolva a aludida prestação. 1.2. Aplicação Territorial: ( Artigo 22, inciso I, da CF/88: atribui à União Federal a competência privativa para legislar sobre direito do trabalho. ( A lei federal vigora em todo o território nacional, sendo idêntica a amplitude de aplicação aos demais diplomas obrigatórios de natureza também federal, como decretos e regulamentos. ( Assim sendo, as leis trabalhistas (normas de direito do trabalho oriundas de fonte estatal) alcançam, em seu campo de aplicação, todo o território nacional. Exceção: As sentenças normativas, apesar de também serem oriundas de fonte estatal - no caso, o Poder Judiciário Trabalhista, no exercício do denominado “Poder Normativo da Justiça do Trabalho” – possuem âmbito de aplicação circunscrito aos limites territoriais da jurisdição do tribunal respectivo e das bases de representação das categorias envolvidas. ( No tocante aos acordos coletivos e convenções coletivas de trabalho (fontes formais e autônomas do direito do trabalho), o campo de aplicação das respectivas normas também não poderá ultrapassar as bases territoriais de representação dos sindicatos e/ou dos trabalhadores pertencentes às empresas acordantes. 1.3. Aplicação no Tempo: ( Artigo 5º, inciso XXXVI, da CF/88: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. ( Artigo 6º, caput, da LICC: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”. ( Prevalência do princípio da irretroatividade das leis. Regra dirigida não só ao órgão julgador, como hermeneuta e aplicador da norma legal, mas também ao próprio legislador. Exceção: A relativização pelo direito penal, quando a nova lei surge para beneficiar o réu (artigo 5º, inciso XL, da CF/88). ( Este princípio da irretroatividade das leis trabalhistas deve ser combinado com o da aplicação imediata destas mesmas. ( Efeito retroativo (aplicação da lei no passado) x Efeito imediato da lei (aplicação da lei no presente). ( A lei trabalhista não deve ser aplicada às controvérsias concernentes às situações jurídicas definitivamente constituídas antes de sua entrada em vigor. ( Aplicação da Teoria do Direito Adquirido: se a controvérsia recai sobre um direito adquirido ao tempo da lei antiga, não deverá ser aplicada a lei nova pelo órgão julgador. ( Artigo 6º, § 2º, da LICC (amplitude do conceito de direito adquirido): “Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”. ( A lei não pode obrigar antes da sua existência. Assim sendo, é justo e lógico que não se estenda aos fatos ocorridos e consumados antes de sua vigência. Estes são o fundamento e o conteúdo da não-retroatividade. ( As leis trabalhistas são de aplicação imediata e atingem os contratos de trabalho em curso. 1.4. Aplicação no Espaço: ( Artigo 198 do Código de Bustamante (ratificado no Brasil pelo Decreto nº 18.871/29): adota o critério da lei do local da prestação dos serviços. Desta forma, é territorial a legislação de proteção social do trabalho. ( Súmula nº 207 do C. TST: “A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação”. ( Em regra, o princípio da lex loci executionis é que rege os conflitos das leis trabalhistas no espaço. ( Eleição do local da execução do contrato, e não o da sua constituição, como elemento de conexão (vínculo que relaciona um fato qualquer a determinado sistema jurídico). ( Inaplicabilidade do artigo 9º da LICC: “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”. ( Relativização pela doutrina do rigor do princípio lex loci executionis: a) não se deve perquirir o local da prestação de serviço, mas o domicílio, quando se quiser saber, por exemplo, e o empregado tem ou não maioridade trabalhista (artigo 7º da LICC: “A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”). b) Lei nº 7.064/82 (regula a situação de trabalhadores contratados no Brasil, ou transferidos por empresas prestadoras de serviços de engenharia, inclusive consultoria, projetos e obras, montagens, gerenciamento e congêneres, para prestar serviços no exterior). ( Artigo 3º, caput e incisos I e II: “A empresa responsável pelo contrato de trabalho do empregado transferido assegurar-lhe-á, independentemente da observância da legislação do local da execução dos serviços: I – os direitos previstos nesta Lei; II – a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que não for incompatível com o disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas em relação a cada matéria” (exemplo típico da teoria orgânica ou da incindibilidade dos institutos, na aplicação do princípio da norma mais favorável). c) quando o empregado prestar serviço transitório ou ocasional em vários países, aplicar-se-á a lei do local em que se encontrar o centro de direção econômica do grupo empregador. Em suma, é eficaz a norma trabalhista vigente no local onde o contrato é normalmente executado. ( No direito marítimo, a regra é da aplicação da lei do pavilhão. Também mitigada pela lex loci executionis ou pela lex loci contractus. Negar-se-á a aplicação da lei da bandeira, quando invocada com a finalidade de impedir ou fraudar a aplicação de normas de proteção ao trabalho. ( No caso de a contratação ter sido ajustada em porto nacional, a doutrina vem se manifestando pela aplicação da lex fori, como lex loci executionis. ( A aplicação do princípio da norma mais favorável deve ser limitada ao mesmo ordenamento jurídico. ( Necessária a distinção entre competência legislativa (qual lei deve ser aplicada: a nacional ou a estrangeira?) e competência jurisdicional (qual o órgão julgador compete para apreciar a controvérsia?). ( Artigo 16 da LICC: quando se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remição por ela feita a outra lei (não se admite a “teoria do reenvio”). ( O artigo 651 da CLT fixa a competência do juízo trabalhista brasileiro pelo lugar da prestação dos serviços, ainda que o empregado tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. 2. Interpretação do Direito: 2.1. Conceito: ( Interpretar a norma legal é atribuir-lhe um significado, extraindo seu exato alcance e a possibilidade de sua aplicação a um caso concreto. ( Interpretar a lei é determinar-lhe o sentido (espírito ou vontade da lei). ( O espírito ou sentido da lei não é a vontade do legislador, mas a vontade objetiva desta mesma, como um ser dotado de existência própria. Possibilita-se, assim, a sua adaptação às constantes transformações sociais, atribuindo às normas antigas, dentro dos limites impostos pelo princípio da razoabilidade(eqüidade), efeitos novos. 2.2. Métodos de Interpretação: ( No Direito do Trabalho são utilizados os mesmos métodos de interpretação adotados pela Teoria Geral do Direito. a) Interpretação Gramatical ou Literal: extrai-se o significado da norma jurídica a partir de seu sentido gramatical e de sua literalidade. b) Interpretação Lógica: análise da norma jurídica com razoabilidade e bom senso, procurando extrair a vontade objetiva da lei (mens legis). c) Interpretação Sistemática: a norma jurídica é interpretada dentro do sistema no qual se encontra inserida, em harmonia com as demais disposições normativas, e não de forma isolada. d) Interpretação Teleológica ou Finalística: busca-se o fim ou objetivo colimado pela norma jurídica. ( Artigo 5º da LICC: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. ( Artigo 8°, caput, da CLT: “(...) mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. ( O juiz deve aplicar a lei de acordo com os seus fins sociais, extraindo conseqüências práticas em conformidade com as exigências fáticas das relações jurídicas que se encontram sob sua égide. ( Não há como reconhecer a função criadora do juiz, cabendo-lhe apenas a adaptação da lei às novas exigências sociais, e jamais contrariá-la. e) Interpretação Histórica: interpreta-se a norma jurídica a partir da análise dos fatos sociais e históricos que a originaram, bem como do próprio contexto social naquele dado momento. ( Necessidade de aplicação conjunta e harmônica, e não isolada, de todos os métodos de interpretação (gramatical, lógico, teleológico, sistemático e histórico), para que se alcance o verdadeiro e exato sentido/significado da norma. ( Inexiste um método específico de aplicação e interpretação do direito do trabalho, a ele também se estendendo todos os métodos utilizados no direito em geral. ( A peculiaridade do direito do trabalho não se encontra nos meios de interpretação das normas trabalhistas, mas na própria natureza destas mesmas. Quanto ao Resultado da Interpretação: a) Interpretação Restritiva ou Limitativa: limitação do sentido e do alcance da disposição literal da norma jurídica. Quando o legislador tiver dito mais do que o pretendido. b) Interpretação Extensiva ou Ampliativa: ampliação do sentido e do alcance extraídos da literalidade da norma jurídica. Quando o legislador tiver dito menos do que o pretendido. c) Interpretação Declarativa ou Declaratória: quando a redação da norma jurídica corresponde ao exato sentido normativo. Quanto à Origem da Interpretação: a) Interpretação Autêntica: aquela efetuada pelo próprio legislador, para esclarecer e declarar o seu verdadeiro sentido e alcance. b) Interpretação Jurisprudencial: aquela efetuada pelos Tribunais, de acordo com as decisões proferidas nos casos concretos. c) Interpretação Doutrinária: aquela decorrente dos estudos e dos escritos doutrinários. 2.3. Integração do Direito: ( Diante da impossibilidade de previsão de todos os futuros casos a que o juiz será chamado a resolver, a lei, não raras vezes, é omissa acerca de determinada relação da vida social (fato social), implicando a caracterização da chamada “lacuna da lei”. ( Considerando que o juiz não pode se negar ao exercício da prestação jurisdicional (princípio da indeclinabilidade da jurisdição), este, em face da omissão legislativa, deve integrar as lacunas da lei. ( Artigo 126 do CPC: “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”. ( Artigo 4º da LICC: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. ( Aplicação do princípio da completabilidade da ordem jurídica, na qual esta deve possuir a capacidade de se completar. ( Analogia Legis (no processo de indução, o princípio para aplicação ao caso não regulado é extraído de uma única norma preexistente) x Analogia Iuris (no processo de indução, para extração deste princípio regular, parte-se de uma pluralidade de normas combinadas). ( Quanto maior for o complexo das normas utilizadas para se extrair o princípio a ser aplicado ao caso não previsto, tanto mais amplo será aquele, até chegar-se aos conhecidos “princípios gerais de direito”. ( Heterointegração da lei: quando a lacuna legal é preenchida com auxílio de normas fornecidas por outra fonte do direito, como os costumes. 3. Integração das Lacunas do Direito do Trabalho: ( Artigo 8º, caput, da CLT: “As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. ( Artigo 8º, parágrafo único, da CLT: “O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste”. ( Jurisprudência: não é fonte formal do direito, não consistindo em norma jurídica. Pode sinalizar a orientação predominante nos órgãos jurisdicionais na interpretação e aplicação da ordem normativa. ( Analogia: aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante. Ex: aplicação aos digitadores da norma prevista no artigo 72 da CLT (Súmula nº 346/TST). ( Analogia (método de integração da norma) x Interpretação Extensiva (método de interpretação da norma). ( Eqüidade: seu conceito está intimamente ligado ao sentimento de justiça. Sua finalidade pode ser: a) integrativa: para delimitar o campo de incidência ou os efeitos jurídicos de uma norma preexistente e demasiadamente genérica. b) interpretativa: para delimitar o conteúdo de uma norma preexistente. c) substitutiva: para estabelecer uma regra a fim de que supra a falta de uma norma legislativa (juízo de eqüidade). ( Norberto Bobbio: o juízo de eqüidade é aquele “que não aplica normas jurídicas positivas (legislativas e, podemos até acrescentar, consuetudinárias) preexistentes. No juízo de eqüidade, o juiz decide segundo sua consciência ou com base no próprio sentimento de justiça” (in Positivismo Jurídico). ( A tendência doutrinária é no sentido de que o juiz deve decidir com eqüidade e não por eqüidade. Exceção: jurisdição normativa (não há direito preexistente), como fonte de direito na solução dos conflitos coletivos de trabalho. ( Os princípios especiais do direito do trabalho denunciam a autonomia deste ramo jurídico. ( Usos (conduta habitual no âmbito de relações intersubjetivas) x Costumes (consciência de obrigatoriedade – dever jurídico – fonte formal do direito). ( Direito Comparado: seria o processo sistemático levado a suas últimas conseqüências. Utilização das normas reguladores das relações de trabalho em outros países na verificação do alcance e sentido das normas trabalhistas vigentes em nosso território. ( A aplicação subsidiária do direito comum somente será possível quando for omissa a legislação trabalhista e houver compatibilidade com os princípios fundamentais do direito do trabalho. Ex: inaplicabilidade das normas reguladoras dos contratos paritários. �PAGE � �PAGE �9�
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