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psicologia na educaÇÃo 2496_1090.pdf

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A EDUCAÇÃO INFANTIL E O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO: AS 
CONCEPÇÕES DE EDUCADORAS DA INFÂNCIA 
 
REDA, Maysaa Ghassan 1 - UNICENTRO/I 
maysaareda@yahoo.com.br 
 
UJIIE, Nájela Tavares2 - UNICENTRO/I 
najelaujiie@yahoo.com.br 
 
Área Temática: Educação Infantil 
Agência Financiadora: Não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
O trabalho ora apresentado é parte integrante de uma pesquisa monográfica desenvolvida 
junto ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, do Campus de Irati, 
interior do Estado do Paraná, que visa investigar as concepções de educadoras da infância 
sobre o processo de adaptação. Dessa forma, se caracteriza como um estudo de caso, numa 
abordagem qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de dados: os questionários 
aplicados as profissionais de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) iratiense; a 
análise documental a partir da Proposta Pedagógica do centro e das respostas obtidas; e, a 
observação participante da prática educativa de uma professora, escolhida dentre as que 
responderam e retornaram o questionário. A adaptação escolar é um processo que vai exigir 
tanto da criança que busca adequar-se a essa nova realidade social e de seus pais, quanto do 
educador e da instituição que precisa se preparar para recebê-la. Segundo Martins Filho 
(2006), o processo de adaptação, é, pois, um processo de socialização construtivo entre pares 
educativos. Não é uma tarefa fácil para a instituição de Educação Infantil atender as demandas 
da criança, é preciso que haja atenção à diversidade e que algo seja feito nesse sentido. Assim, 
esta pesquisa tem por intuito compreender e analisar como os profissionais da Educação 
Infantil de um centro municipal iratiense entendem o processo de adaptação, se estes se atem 
somente a conhecimentos superficiais, ou realmente compreendem o sentido e significado 
deste processo tão salutar a saúde cognitiva, social, afetiva, moral e ética da criança. 
 
Palavras-chave: Educação Infantil. Adaptação. Educadora da Infância. Concepções. 
 
Introdução 
 
Quando uma criança inicia sua vida escolar, encontra um mundo todo novo, com 
 
1
 Acadêmica 4º ano de Pedagogia. 
2
 Pedagoga. Psicopedagoga. Mestre em Educação pela UEPG. Professora do Departamento de Pedagogia. Líder 
do Grupo de Estudos e Pesquisa Práxis Educativa Infantil: saberes e fazeres da/na Educação Infantil (GEPPEI). 
 10083 
influências, idéias, amizades e oportunidades com as quais nunca havia se deparado antes. O 
ingresso das crianças na instituição pode criar ansiedade tanto para elas e para seus pais como 
para o professor. As reações podem variar muito, tanto em relação às manifestações 
emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o processo de adaptação. 
Toda criança, seja qual for sua história e sua idade, terá que enfrentar o primeiro dia de 
aula e esta experiência acarreta ansiedade e insegurança. Afastar-se do aconchego do lar e 
enfrentar o desconhecido significa um grande salto na vida de qualquer criança. O ingresso na 
Educação Infantil e na vida escolar representa um passo muito grande em direção à 
independência. Esta é uma fase que exigirá um período de adaptação. Quando falamos em 
adaptação devemos considerar que sempre que enfrentamos uma situação nova, esse processo 
se desencadeia. O processo de adaptação, portanto, inicia com o nascimento, nos acompanha 
no decorrer de toda a vida e ressurge a cada nova situação que vivenciamos. 
A adaptação antecede a ida da criança à escola: surge como acenos de pensamentos 
que vão se fazendo presentes até sermos tomados pela idéia e impulsionados à ação. A 
adaptação escolar é um processo que vai exigir tanto da criança que busca adequar-se a essa 
nova realidade social e de seus pais, quanto do educador e da instituição que precisa se 
preparar para recebê-la. 
Dessa forma, o interesse pela temática da adaptação emergiu após observações 
realizadas numa instituição de Educação Infantil, da cidade de Irati, interior do Estado do 
Paraná, a partir de comportamentos de crianças manifestos por medo e ansiedade, vindo ao 
encontro com sentimentos vividos pela pesquisadora na sua infância. Fortaleceu-se tal desejo 
de pesquisa, pela abordagem dada ao assunto na disciplina de Fundamentos da Educação 
Infantil e do Estágio Supervisionado na Educação Infantil, no curso de Pedagogia. 
Assim, a importância dessa pesquisa se justifica pela tentativa de conceituar o 
processo de adaptação na perspectiva de profissionais da Educação Infantil, tendo em vista 
analisar qual a sua representação. Desse modo, configura-se numa pesquisa qualitativa do tipo 
estudo de caso, que contou com aplicação de questionário as profissionais de um CMEI, 
análise documental e observação participante da prática educativa, por um período de dois 
meses no início do ano letivo de 2009, totalizando 40 horas. 
Considerando o desenvolvimento desta pesquisa este trabalho estará estruturado em 
três tópicos. No primeiro deles buscaremos apresentar a revisão de literatura relacionada à 
temática. No segundo apresentaremos e analisaremos os dados coletados no curso da 
 10084 
investigação. E para finalizar levantaremos nossas conclusões relacionando os aportes 
teóricos com as concepções expressas pelas profissionais. 
A Educação Infantil e o Processo de Adaptação 
 
Ao longo da história da Educação Infantil, o processo de adaptação, foi por muitas 
vezes encarado pelos profissionais como sendo um período de tempo e espaço determinado 
pela própria instituição educacional, tendo em vista à sujeição, o controle, a imposição de 
normas, a ausência do choro, a domesticação dos corpos, o sujeito adaptado: a criança. 
Entretanto, considerando as exigências educacionais atuais e a perspectiva vigente da criança 
como sujeito de direitos, ator social, de acordo com Martins Filho (2006), o processo de 
adaptação, é, pois, um processo de socialização construtivo entre pares educativos (pais, 
crianças, professores e instituição), é um espaço de relações, mediações e interações 
dialógicas para todos os envolvidos diretos e indiretos no processo. 
 Segundo Borges e Souza (2002, p. 32), “imaginar que o sucesso de um processo de 
adaptação se resume a ter ausência de choro é banalizar uma situação que não termina em si 
mesma”. É desconsiderar as nuances abrangentes deste processo, que possui múltiplos 
aspectos determinantes. 
Também Strenzel (2000, p.3), é contundente em seus apontamentos sobre essa 
temática ao afirmar que: 
 
 
Inserção, ingresso, acolhida, não é uma questão de adaptação no sentido de 
modulação, que considera a criança como um sujeito passivo que se submete, se 
acomoda se enquadra a uma dada situação. É um momento fundamental e delicado 
que não pode ser considerado como simples aceitação de um ambiente desconhecido 
e de separação da mãe ou de uma figura familiar, ou de fazer a criança parar de 
chorar. 
 
 
É preciso enxergar para além das aparências, dos aspectos superficiais, e adquirir uma 
compreensão das interações humanas, da afetividade positiva na perspectiva walloniana, para 
entender os sentidos e os significados desse processo. 
Desse modo coadunamos com Davini (1999, p. 45), quando esta apresenta sua 
concepção adaptativa na esfera educacional, afirmando que “a adaptação é todo um grande 
período, que abrange desde as entrevistas e visitas preliminares dos pais as escolas, bem como 
os primeiros dias, e o primeiro ano de escolarização da criança”. 
 10085 
Entender a adaptação como uma oportunidade para aprender constitui-se num desafio 
e remete a dois pontos que reúnem valores importantes para nossos atos acolhimento e 
aproximação. Corrêa (2008) comenta que acolher tem a ver com a atitude de aceitação e 
hospitalidade que podemos ter frente ao outro.Em relação à adaptação, o autor, expõe 
também que, além de serem acolhidas, as crianças precisam aprender a acolher umas as 
outras, eis ai um processo relacional de interação e mediação. Portanto, não é necessariamente 
um processo natural, porém algo a ser construído por todos os que atuam na dinâmica 
educacional (professores, alunos, funcionários, pais). Para tanto, muito mais do que discursos, 
precisamos de práticas, atitudes coerentes e convincentes, que atinjam mais as emoções e o 
caráter, do que o intelecto. 
Neste sentido, a adaptação é entendida como processo amplo no qual a atividade das 
crianças e a intervenção dos adultos constituem um bloco de motivação no processo 
maturativo e de aprendizagem de cada criança, um contexto de interações sociais e 
formulação de vínculos afetivos. 
Assim, para Ujiie (2005), a sala de aula é um ambiente onde as emoções se expressam 
e a infância é a fase emocional por excelência. Dessa forma, a instituição de Educação 
Infantil, bem como outros ambientes sociais, proporciona o convívio com situações de 
conflitos, cabendo ao professor ou ao educador da infância, uma atitude mediadora, pautada 
na prática do afeto cognitivo, um sujeito racional e equilibrado emocionalmente, capaz de 
gerenciar a ação educativa e o processo de adaptação, a dinâmica de ensino e aprendizagem e 
a socialização que envolve crianças e pais. 
A função da instituição de Educação Infantil e dos profissionais é de receber a criança 
e acolher sua singularidade, enfim, apresentar-se como um ambiente seguro e estimulante. O 
professor deve ser o mediador principal no contexto da adaptação escolar, não deixando a sala 
de aula cair na rotina ao mesmo tempo em que ganha à confiança das crianças e familiares. A 
adaptação é um processo continuo de mudança, crescimento, desenvolvimento e 
amadurecimento para todos. 
Para propiciar tranqüilidade à criança no processo de adaptação, de acordo com Felipe 
(2001), é fundamental que os pais estejam seguros. Assim, é oportuno que a escola da 
primeira infância mantenha uma relação de parceria com pais ou responsáveis, e na medida do 
possível é importante que estes estejam disponíveis e presentes fortalecendo a relação da 
criança com seu professor. 
 10086 
Para Balaban (1988), é necessário tempo para que essa criança apreenda toda a nova 
situação que está vivenciando, seja a característica desse novo adulto, o professor, ou dessa 
nova instituição, rotina e ambiente. 
Cada instituição de Educação Infantil deve planejar-se para esse processo de 
adaptação de acordo com as concepções de educação e da criança que direcionam sua prática. 
Cada instituição tem a sua realidade específica. 
A função da escola da primeira infância e dos profissionais que nela atuam é receber a 
criança e para isso é necessário um trabalho cuidadosamente planejado. A instituição deve 
causar boa impressão, apresentar-se como um ambiente seguro, com um espaço que propicie 
o desenvolvimento e uma aprendizagem significativa. 
Nesse contexto, a organização da sala-ambiente requer duas preocupações 
fundamentais, segundo Rizzo (1986, p.314), “a primeira de constituir-se em ambiente 
atraente, agradável, estimulador da curiosidade exploratória, característica da criança. A 
segunda, de estar de tal forma organizada, que possibilite à criança aprender a “usá-la” 
facilmente para que se sinta segura dentro dela”. 
Nessa dinâmica organizacional Balaban (1988) orienta que antes do início das aulas, 
sejam organizadas reuniões coletivas e individuais com os pais, para a instituição educativa 
expor aos mesmos a sua proposta pedagógica, os seus objetivos, explicando-lhes como se dá 
esse processo de adaptação, enfatizando que esse momento merece uma atenção especial. 
Sendo assim, estabelece uma relação de confiança, afetividade e amizade entre escola e 
família. 
A organização do ambiente escolar, a preparação dos profissionais que irão lidar com 
essas crianças e os familiares é de fundamental importância para que a efetivação da 
adaptação à vida escolar seja um momento positivo nos aspectos enfocados. O planejamento, 
desde o conhecer dessa criança, através de entrevistas e questionários destinados às famílias, à 
organização de atividades e do próprio espaço pelo qual a criança está inserida ou vai se 
inserir merece cuidado. 
Para que ocorra uma adaptação significativa da criança é necessário que a instituição 
escolar fundamente-se teoricamente acerca do assunto e organize-se para receber as novas 
crianças, sabendo que junto a elas receberá também seus pais e/ou responsáveis. O professor é 
o principal mediador e tem que atender as expectativas dos pais, ganhar a confiança das 
crianças e de seus familiares e ainda, conduzir esse processo, além de trabalhar seus próprios 
 10087 
sentimentos. Estarão sendo postos o tempo todo à prova e é necessário sempre ampliar e 
capacitar os seus conhecimentos. 
O processo de adaptação tem vida, ele se move de acordo com o sentimento e as 
percepções das pessoas nele envolvidas. O que toca o que encanta, o que prende a atenção da 
criança é a descoberta que fará o educador no contato com ela. Este contato é dinâmico, se dá 
através do olhar, do toque, do tom de voz, da brincadeira e da imaginação que aparece sempre 
vestida de faz-de-conta. 
Participar do processo de adaptação é estar implicado nele, é contagiar-se com a 
emoção que a interação com a criança proporciona. Segundo Dantas (1994), por ser a criança 
essencialmente emotiva e esta emotividade tendo tendências a propagar-se, o contato com a 
criança faz com que o adulto permaneça exposto ao contágio emocional. 
Criar um clima propício para a aproximação não é tão simples. É preciso um olhar 
cuidadoso e atento para perceber o que aproxima as crianças. Esse tipo de ação contribui para 
a consolidação de vínculos afetivos e de vivência. Nesses casos, o que está em jogo é o 
exercício da convivência, são as pequenas ações que fazem prevalecer à comunhão de uns 
com os outros, a socialização, enfim a efetivação do processo de adaptação de sucesso. 
Dando continuidade a este artigo no tópico subseqüente buscaremos analisar os dados 
coletados na dinâmica de nossa investigação. 
 
Análise de Dados: Adaptação na Educação Infantil 
 
Como já mencionado, o objetivo da pesquisa desenvolvida foi constatar e analisar 
como os profissionais da Educação Infantil de um Centro Municipal de Educação Infantil 
(CMEI) de Irati-PR, entendem o processo de adaptação. Se os mesmos atem-se somente em 
conhecimentos superficiais, ou realmente compreendem o sentido e significado do processo 
de adaptação. 
Nesse sentido, foram distribuídos 16 questionários para os profissionais de um CMEI, 
dentre eles: uma coordenadora e 15 professoras. Sendo que desses apesar do interesse 
demonstrado de início, apenas 8 questionários retornaram para análise, o da coordenadora e 
de 7 professoras. 
No que diz respeito aos questionários quando as profissionais da Educação Infantil 
foram perguntadas sobre o período de adaptação, as mesmas demonstraram uma forte 
 10088 
tendência a interligar com o tempo que a criança leva para se integrar à instituição, 
educadoras e demais crianças, não houve menção da relação com os responsáveis, pais e mães 
como parte nesse processo. 
Com relação ao primeiro dia na instituição, todas as educadoras responderam que a 
acolhida da criança é feita da melhor maneira, dando muito carinho e atenção. Vemos de 
modo positivo o apontamento da dimensão afetiva em suas colocações. Entretanto não 
especificaram com detalhadamente o significado de sua práxis educativa, sobre o que vem a 
ser “a melhor maneira”. Segundo Oliveira (1995, p.127), “acolher adequadamente a criança 
exige que se tenha um trabalho coletivo, em que todos se empenhem em organizar o espaço e 
a estrutura da escola, visando atenderas necessidades infantis”. Estas nuances não foram 
apresentadas nas respostas coletadas. 
As maiores dificuldades enfrentadas no período de adaptação explicitadas pelas 
profissionais foram: a falta de convívio das crianças com pessoas além do círculo familiar 
(67,5%), o choro da criança (25%) e a insegurança dos pais que transmitem para as crianças 
(12,5%). Observamos que todas as dificuldades mencionadas são de culpabilização das 
crianças e seus responsáveis de acordo com os sujeitos da pesquisa. 
Quando questionadas sobre quais as estratégias de adaptação utilizadas, todas têm o 
mesmo ponto de vista: “conversar com a criança, tranqüilizá-la, aproximar-se dela para que se 
sinta confortável”. A afetividade é mais uma vez colocada em evidencia, o que nos deixa em 
certa medida satisfeitas. No entanto nada é colocado com relação à prática educativa, o 
estabelecimento da dinâmica de sala, a organização da rotina, a estruturação das atividades, o 
desenvolvimento do lúdico, a proposta pedagógica, que também são elementos salutares no 
processo de adaptação. 
No que tange a parceria entre família e instituição no processo de adaptação 
questionamos sobre sua existência, as profissionais foram contundentes em afirmar que a 
participação da família se restringe a contatos através de bilhetes via caderneta, conversas 
informais no portão, existindo contato direto só no primeiro dia de aula. A esse respeito 
Nicolau (2003) afirma que cabem as instituições de Educação Infantil preocupar-se 
especialmente com a criança e, através dela, atuar junto às famílias construindo parceria 
educativa, para que estas consigam atingir uma consciência crítica acerca dos problemas a 
serem enfrentados e serem discutidos não só no processo de adaptação, mas para além dele na 
superação de dificuldades emocionais, cognitivas e psicomotoras. 
 10089 
 Após aplicação e análise dos questionários escolhemos uma professora, ou seja, uma 
educadora da infância para ser observada em sua atuação prática no processo de adaptação. A 
escolha se deu tendo em vista a ênfase positiva apresentada pela coordenadora da instituição 
em conversas informais e aos comentários elogiosos ao trabalho da educadora, o que suscitou 
interesse e determinou a opção, considerando os objetivos da pesquisa e o delineamento de 
paralelo com o referencial teórico estudado. Para efeitos de preservação da identidade da 
profissional observada e das crianças lhes atribuiremos nomes fictícios. 
A professora Eva atua há cinco anos na Educação Infantil, têm formação no 
magistério, esta cursando Pedagogia à distância pela UNIRATI e o curso de História pela 
UNICENTRO. Este ano é regente de uma turma de maternal II, com crianças de 2 a 3 anos e 
meio, com um total de vinte e três crianças, dessas cinco ingressaram na instituição este ano e 
estavam em processo de adaptação, quando das observações, entretanto registraremos 
momentos da que demonstrou maior dificuldade, um menino de 2 anos e meio. 
Como professora regente de turma Eva conta com o apoio de duas auxiliares, que se 
alternam no turno matutino e vespertino, ambas com formação em nível do magistério apenas. 
Durante as observações foi possível perceber que há um clima de parceria entre a professora e 
as auxiliares, no desenvolvimento da prática educativa. 
A organização do espaço de sala de aula não é adequada pelas limitações da estrutura 
física, a sala possui dimensão restrita, há muitas mesas, adaptadas a altura das crianças o que 
por esse lado é um ganho, mas pouca ventilação e luz, não há colchões e cobertores 
suficientes para o número de crianças, na Hora do Descanso elas ficam espremidas, faltam 
ainda brinquedos próprios à faixa etária. Dentro dessa estrutura física e material com déficits a 
organização espaço-temporal esta distante de atender os preceitos apontados por Ujiie e 
Pietrobon (2007), que são apoios contundentes no desenvolvimento da prática educativa. 
Entretanto, mesmo frente a condições físicas e materiais adversas, Eva ao acolher as 
crianças tem uma prática pautada no afeto cognitivo walloniano, é tranqüila, atenciosa, 
desenvolve um trabalho coletivo, conta com a participação ativa das crianças, as conquista 
facilmente, exercita o diálogo, sabe lidar com o medo da criança, conversa de igual para igual, 
tem o controle de sua turma e das situações que emergem na dinâmica de sala de aula. 
Exemplificando o exposto e tendo em vista o processo de adaptação que é a fonte de interesse 
da pesquisa em desenvolvimento, segue o relato de um momento de observação, da conversa 
mantida entre Eva e Mario, uma das cinco crianças em adaptação no início do ano letivo. 
 10090 
 
 
Roda da conversa. Interação entre professora e as crianças. 
Professora: Meu nome é tia Eva. Agente vai brincar muito juntos? Fala espontânea 
e animada. Mario, chorando muito. Calma, Mario, porque a mãe foi trabalhar não 
precisa chorar. Mario continua chorando. A mamãe logo vem de buscar, apenas foi 
trabalhar, por isso que ela te deixou aqui comigo. Vamos ser amigos? 
Mario: Eu quero a mamãe. As outras crianças tentam consolá-lo, dizer a ele que a 
mamãe foi trabalhar para comprar um brinquedo. Eu não quero ficar aqui. 
Chorando. 
Professora: Vamos, Mario, brincar? Do que você gosta de brincar, Mario? 
Mario: Gosto de carrinho. O choro começa a se suavizar. 
Professora: Sabia que eu tenho muitos carrinhos de diversos tamanhos, grandes e 
pequenos. Não é verdade, Carlos. Conte para ele. Mario ao ver que a professora foi 
pegar os carrinhos, logo se animou. 
Carlos: É verdade, na caixa tem bastantão. Mario ao ver os carrinhos parou de 
chorar e junto com os colegas começou a escolher vários para brincar. E apontar 
todos os carrinhos como seu. Sem aceitar dividir os carrinhos com os outros. 
Professora: Mario, aqui a gente divide os brinquedos com os amiguinhos, os 
carrinhos são de todos. Mario não aceita dividir os brinquedos com as outras 
crianças. Depois da professora persistir ele deixa os outros brincarem, mas se afasta, 
fica distante da roda com três carrinhos pequenos por ele escolhidos. 
Professora: Mario, não quer brincar aqui perto junto com todo mundo. Mario porém 
ignora a fala da professora e continua brincando sozinho, emitindo sons para os 
carrinhos com a boca. (Registro em Diário de Campo – 04/02/2009) 
 
 
A professora exercita a dialogicidade com as crianças é afetiva, mas ao mesmo tempo 
mantém a racionalidade e o controle da ação educativa, não se deixando contagiar pelas 
emoções infantis como pontua Dantas (1994) e Ujiie (2005), o que se evidencia no relato de 
observação apresentado. 
O centro possui uma Proposta Pedagógica, que de acordo com a coordenação foi 
construída com o auxílio de todas as profissionais da instituição. A professora observada não 
possui um planejamento individual de suas ações, apenas segue a rotina institucional, quanto 
a horários de alimentação e higiene, Hora do Descanso, dia do vídeo e do parque. Pelo que foi 
observado a professora tem um trabalho docente fecundo, embora guiado por saberes 
experenciais, mas às vezes pautado na improvisação das atividades. No entanto é interativa e 
tem presença marcante junto às crianças, como observamos no decorrer de sua prática 
conforme segue: 
 
 
Hora do Filme: “O Pinóquio”. Sem conversa previa. Nessa hora não havia a 
presença de nenhuma das auxiliares. A professora solicitou que olha-se um pouco 
as crianças. 
Professora: Mario quer ir comigo, levar os meninos ao banheiro? Já faz duas 
semanas que Mario freqüenta o CMEI, nesse período notamos que desenvolveu 
apego com a professora, mas os colegas ele ainda evita. 
 10091 
Mario: Eu quero a mamãe. Sem choro, apenas lembrou-se da mãe e sentiu a falta. 
Professora: Mario a mamãe logo, logo chega. Com uma voz muito carinhosa e 
suave. 
Mario: Vai demorar para ela chegar? 
Professora:Só um pouquinho. Vamos levar os outros no banheiro, depois quando 
voltar vamos brincar. As outras crianças desviam a atenção do vídeo e olham a 
professora. Ela se ausenta permanecem vendo o desenho. Em pouco tempo retorna. 
Fim do vídeo sem diálogo posterior. 
Momento de brincar livre. A professora anuncia que agora eles vão brincar do que 
quiser e dispõe vários brinquedos espalhados pela sala. Agitação e euforia geral. 
Ao observar o distanciamento de Mario dos colegas a professora se aproxima. 
Professora: Vamos brincar Mario com o Leo. 
Mario: Não. Permaneceu brincando sozinho com um carrinho azul. 
Professora: Então brinque lá com o Carlos. Ele também gosta de carrinho como 
você. 
Mario: Não. Olhou para professora com semblante sisudo. Ela não insistiu e 
começou a dialogar com as meninas próximas que brincavam de boneca. 
Hora do Descanso. Todos vão dormir menos Mario. 
Professora: Não quer dormir, Mario? 
Mario: Não 
Professora: Quer mamar? 
Mario: Sim. Professora lhe dá a mamadeira. Enquanto ele mama comenta que ele 
não dorme, pela excitação, pois sabe que logo depois do sono de todos, a mãe chega 
para buscá-lo. Pois ele vai embora as três na hora do lanche. Disse que se lembra 
da mãe diversas vezes no dia, mas que o choro não é mais freqüente. (Registro em 
Diário de Campo- 18/02/2009) 
 
 
Na conversa informal mantida com Eva, durante o período de observação, sobre a 
dificuldade no processo de adaptação de Mario, tendo se transcorrido mais de um mês de sua 
entrada na instituição, ela credita o fato a insegurança da mãe e ao ciúme que esta demonstra 
em relação à criança. A professora então comenta que sempre que deixa o filho à mãe se 
despede dizendo: “Tchau, nenê. Depois a mamãe vem de pegar. Te amo! Não chora!” Mas 
olha para Mario como se pedisse para ele chorar. No momento da saída como ele vai embora 
mais cedo, a educadora sempre o leva para mãe, esta muitas vezes a ignora e conversa apenas 
com o filho: “Oi, nenê esta feliz que a mãe chegou? I ai, i ai nenê, da cheirinho. Ficou com 
saudade da mamãe?”. E muitas vezes vão embora sem se despedir da professora. 
 A percepção de Eva é significativa, considerando os aportes teóricos de Rizzo (1986), 
Balaban (1988), Felipe (2001) e Nicolau (2003), que demonstram que a forma como a 
família, principalmente a mãe, vê a entrada do filho na instituição influencia as reações da 
criança durante o período de adaptação. 
Com base nas observações podemos visualizar que a afetividade é um dos principais 
ingredientes na prática educativa desta profissional, isto atua como componente essencial e 
preponderante no sucesso que alcança com as crianças em adaptação, o que ficou evidente a 
 10092 
partir dos dois meses de observações realizadas, quando até mesmo Mario já havia evoluído 
no processo de adaptação e socialização entre pares e o espaço institucional, embora apenas 
tivesse constituído vínculo de amizade e coleguismo com Carlos, um dos meninos da turma. 
A educadora é uma pessoa paciente, com voz suave, carinhosa com as crianças e desenvolve 
sua proposta educativa pautada no diálogo com as crianças. Conhece boa parte dos pais das 
crianças e mantém conversas com eles quando do horário de entrada e saída das crianças da 
instituição, realiza esta ação por acreditar que a proximidade dos pais ou responsáveis a 
aproxima mais das crianças. Posicionamento que consideramos interessante e sensível, no 
desenvolvimento de sua ação docente. 
 
Considerações Finais 
 
Ao tomar o arcabouço estudado sobre o processo de adaptação na Educação Infantil e 
a pesquisa desenvolvida sobre as concepções das educadoras da infância de um CMEI 
iratiense, muito se tem a compreender e a considerar sobre o processo de adaptação. Assim, 
podemos concluir que embora a professora observada tenha uma conduta efetiva e de sucesso 
junto as crianças em adaptação, não existe uma proposta do centro ou da coordenação de 
direcionamento quanto a este processo, desse modo ainda falta um percurso para que estes 
profissionais compreendam realmente o sentido e o significado deste processo, incorporando 
não só as crianças, mas também os pais nessa dinâmica construtiva e educativa. 
 Sabemos que o tipo de adaptação mais adequado varia muito de criança para criança, 
segundo suas características afetivo-emocionais e bastante em relação à idade da criança de 
ingresso na instituição educacional. Não havendo uma solução única para todos os casos. A 
adaptação é um período de aprendizagem. Família, escola e criança descobrem sobre 
convívio, segurança, ritmos e exploração de novos ambientes, entre tantas outras coisas. 
Segundo Haddad (2006, p. 540), “uma boa formação é o vinculo mais importante para criar 
uma força de trabalho compatível com os objetivos de uma abordagem integrada”. Até 
porque, como nos diz Leonardo Boff (2007) citado por Corrêa (2008, p. 2), "a estrutura de 
base do ser humano não é a razão, mas o afeto e a sensibilidade". Creio que assim estaremos 
mais próximos de conceber a Educação Infantil como espaço de aprendizagem onde as 
crianças experimentem formas mais humanizadas de ser e agir na convivência, o que é tão 
fundamental nas sociedades contemporâneas. 
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