Buscar

Institutos da Boa Fé Objetiva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

� Institutos da Boa-Fé Objetiva 
APRESETAÇÃO
Este trabalho aborda amplamente três dos princípios da Boa-fé objetiva: Venire Contra Factum Próprio, Supréssio e Surréctio. Para cada princípio, trouxemos um julgado do STJSP ou do STJ e sobre a ótica do grupo, expressamos nossa anáçise do fato concreto. Utilizamos bibliografia nacional e sites especializados na área jurídica. A abordagem do tema em epígrafe é ampla porém, completa e rica em detalhes.
BOA-FÉ OBJETIVA - CONCEITO E ESPÉCIES 
A boa-fé objetiva apresenta vários papéis fundamentais no sistema de direito positivo. Tratam-se, por exemplo, da função de imputar a responsabilidade extra-contratual diante da ruptura sem motivo de negociações, de impedir a quebra da base do negócio jurídico, determinando, quando esta se romper, um re-equilíbrio das prestações negociais de acordo com a alteração das circunstâncias advindas. Além destas, importante função consiste na criação de deveres, que pela incidência da cláusula geral de boa-fé, obrigam as partes contratantes independentemente da declaração de vontade e mesmo contra ela.
Esta função da boa-fé é de manter o equilíbrio do contrato bilateral. É de muita importância para contratos de cumprimento diferido em relação ao momento da sua celebração. Entretanto, interessa-nos mais, por ora, o papel da boa-fé na medida em que pode vedar o chamado venire contra factum proprium. Literalmente, venire contra factum proprium significa vir contra um fato próprio. 
Na boa-fé, é comum distinguir a boa-fé objetiva da boa-fé subjetiva. A primeira atua como modo de interpretar negócios jurídicos (CC 113), como fonte de criação de deveres secundários de prestação (CC 422) e como limitação ao exercício do direito subjetivo em sentido amplo (CC 187). A segunda consiste em estado de ignorância, análogo ao erro negocial, daquele que não sabe estar em uma situação irregular e, atua como se fosse titular do direito, ainda sem a titularidade e sem a legitimação para o exercício.
A destinação social da boa-fé decorre da necessidade de se guardar o princípio da confiança em detrimento do abuso do direito, o qual se estabelece quando há violação de direitos subjetivos, isto é, quando um interesse se sobrepuja ao interesse reciprocamente contraposto na relação jurídica.
E essa necessidade de estabilidade social faz com que da relação confiança frente ao abuso de direito, surjam os efeitos da boa-fé nos contratos. Tais efeitos são subdivididos nas seguintes modalidades: supressio, surrectio, venire contra factum proprium, exceptio non adimplente contractus (ou tu quoque), a exceptio doli (desdobrada em exceptio doli generalis e exceptio doli specialis), a inalegabilidade das nulidades formais e o equilíbrio no exercício jurídico. Veremos aqui, apenas três destas modalidades: venire contra factum proprium, supressio, surrectio
VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM - CONCEITO
A teoria do Venire Contra Factum Proprium consiste na vedação do comportamento contraditório. Não tem disposição explícita no CDC, mas seu acolhimento decorre dos outros princípios que orientam as relações de consumo. Por essa teoria, proíbe-se o comportamento inesperado, que viola a boa-fé objetiva, causando surpresa na outra parte.
Baseando-se na regra da pacta sunt servanda. O venire contra factum proprium se verifica, basicamente, nas situações em que uma pessoa, durante determinado período de tempo, em geral longo, comporta-se de certa maneira, gerando a expectativa justificada para outras pessoas que dependem deste seu comportamento, de que ela prosseguirá atuando naquela direção. Em vista disto, existe um investimento ( não necessariamente econômico), no sentido da continuidade da orientação adotada, que após o referido arco temporal, é alterada por comportamento a ela contrário.
Existem, portanto quatro elementos para a caracterização do venire: comportamento, geração de expectativa, investimento na expectativa gerada e comportamento contraditório. 
São exemplos de comportamento contraditório, a demanda por cumprimento de contrato nulo quando a nulidade é de responsabilidade do demandante, a argüição de incompetência de tribunal arbitral e perante a justiça comum e quando existe cláusula arbitral primitivamente questionadas. Existe uma vinculação mínima de responsabilidade perante o ato próprio. Mostra-se, portanto, que o fato próprio tem alguma eficácia vinculativa para além dos limites da autonomia privada negocial em sentido estrito.
Quando um ministro, no seu voto, invoca a teoria dos atos próprios, está falando da proibição do comportamento contraditório – esta razão é implícita a toda a sua argumentação e, portanto, fundamento da decisão.
 Por conta de que a vinculatividade pessoal deriva de ato próprio daquele contra quem se invoca o venire, a teoria que o visa coibir é também conhecida como teoria dos atos próprios.
Quanto aos efeitos do venire:
“O principal efeito será o da inibição do exercício de poderes jurídicos ou direitos, em contradição com o comportamento anterior. Por outro lado, a proibição de comportamento contraditório torna ilegítima a conduta posterior, podendo assim, constituir o agente numa obrigação de indenizar, designadamente por violação de uma obrigação (no caso, por exemplo, de o comportamento posterior contraditório visar a cessação dos efeitos de um contrato). Pode acontecer, contudo, que a conseqüência seja a eventual constituição de uma obrigação do agente.”
O venire contra factum proprium tem aplicação predominantemente extra-contratual. É uma fonte autônoma de obrigação porque importa a quebra da confiança que o factum proprium cria, independentemente de outro ato jurídico. Inclusive este fato não precisa ser ato jurídico. Basta que crie expectativa. Nota-se aqui, a imprecisão da distinção entre boa-fé em sentido objetivo e subjetivo. 
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA E JUSTIFICATIVA DA IDÉIA DE PRECEDENTE JUDICIAL VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM
Há várias decisões judiciais relevantes, no sistema brasileiro, a respeito da doutrina do que se vem denominando de vedação ao comportamento contraditório. Entretanto, uma delas, apresenta a vedação da atuação em duplo sentido, de modo claro, à luz do que denomina teoria dos atos próprios. Sobre a Boa-fé objetiva, notadamente com relação à proibição de incorrer na figura denominada de venire contra factum proprium.
E analise do tema de teoria do direito obrigacional correlatos à figura do venire, bem como o papel da jurisprudência na percepção e construção de peculiares “locais” do sistema de direito privado, selecionamos uma decisão referente a um dos inúmeros casos envolvendo um loteamento irregular feito pelo município de Limeira. Sua ementa já é de todo significativa: “Loteamento. Município. Pretensão de anulação do contrato. Boa-fé. Atos próprios.
Tendo o município celebrado contrato de promessa de compra e venda de lote localizado em imóvel de sua propriedade, descabe o pedido de anulação dos atos, se possível a regularização do loteamento que ele mesmo está promovendo. Art. 40 da Lei 6.766/79. “A teoria dos atos próprios impede que a administração pública retorne sobre os próprios passos, prejudicando os terceiros que confiaram na regularidade de seu procedimento”.
O julgado, da lavra do Min. Ruy Rosado de Aguiar, enfrenta um complexo tema de fato e de direito à luz de uma doutrina translúcida e sedimentada. 
O acórdão que analisaremos pode ser visto, em si mesmo, como um interessante precedente judicial. 
O objeto da referida decisão era uma ação de anulação de contrato de compromisso de compra e venda, celebrado entre municipalidade e cidadão, em que o primeiro, por conta da irregularidade de loteamento, postulava o desfazer o negócio. O loteamento fora por estabelecido pelo município, para venda de terrenosa muitos cidadãos. Verificou-se posteriormente a impossibilidade de sua constituição por conta da proximidade com o aeroporto municipal. Além disso, o empreendimento não havia sido registrado, como o exige a L 6766/1979, devendo também por este motivo ser regularizado, tendo em vista até a proibição de que trata a L 6766/1979 “é vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento ou desmembramento não registrado”.
O relatório do acórdão afirma que “argumenta o Município que está impossibilitado de regularizar o loteamento em tela, visto que dependeria da intervenção de outros órgãos públicos, inclusive do Ministério da Aeronáutica, cujas normas não permitem a realização do empreendimento face à proximidade de aeroporto. Sustenta, por outro lado, a invalidade do contrato por ilicitude e impossibilidade do seu objeto, pois a administração revogou o ato administrativo que autorizara a contratação. Inexistindo o loteamento, impossível será a entrega do imóvel objeto do compromisso”.
Verificada pelo demandante a irregularidade, postulou o cancelamento. Diante de um loteamento feito pelo município em desobediência das normas jurídicas existentes para esta categoria de parcelamento do solo urbano, entendia que a ilegalidade não podia persistir e que, deste modo, o compromisso de compra e venda que visava a alienação de determinado lote necessitava ser anulado. O argumento do município é interessante e convincente: a nulidade deve ser estancada do mundo do direito e para isso existem remédios próprios que impõe sua decretação quando presente.
Entretanto, o argumento de proteção do adquirente do lote, a consolidação de sua situação jurídica pelo decurso do prazo, o pedido de anulação por parte do Município são outros contra-argumentos relevantes e que merecem ponderação para que não se permita que a primeira impressão tome conta e impeça uma separação de raciocínio!
A parte que os pratica gerando confiança na outra parte de que aquela orientação de conduta seria mantida, ao alterar o comportamento, imprimindo-lhe direção oposta àquela original, frustra a expectativa de confiança e viola a boa-fé objetiva. 
Ao afirmar que a teoria dos atos próprios impede a pretensão anulatória da prefeitura, os fundamentos de tal teoria não são espraiados. Além disso, a decisão judicial, justifica a omissão, mas nem por isso é de se deixar de expor agora o em que tal teoria consista. A vedação da violação a atos próprios imporia a impossibilidade de anular, no caso concreto, um contrato, ou uma série de contratos, a que a parte postulante ela própria deu causa em sentido jurídico e econômico, ao colocar em andamento o projeto de loteamento.
Ao proceder deste modo, é como se houvesse a criação de uma situação jurídica por ato unilateral (projeto de loteamento) que impulsionou a celebração de contratos, e que, logo depois, também por ato unilateral (pedido de anulação) se deseja desfazer a situação jurídica, para chegar na situação exatamente oposta. Tal comportamento seria inadmissível e daí a manutenção da sentença de primeiro grau e do acórdão, pelo não conhecimento do recurso. Não se disse que o loteamento, sem registro , era regular, ou que nenhuma providência devesse ser tomada. Apenas se defendeu que não se pode anular os contratos, unilateralmente, fundado em fato a que o próprio sujeito que postula a invalidade deu origem! Especialmente nos casos em que houve investimento na expectativa, ou seja, em que a parte agiu confiando naquele primitivo comportamento.
Na pioneira obra de Riezler, são identificadas quatro situações de venire: a) o cumprimento voluntário de negócio jurídico inválido, b) a constituição de uma determinada situação jurídica por decisão unilateral e potestativa de uma pessoa, c) a criação de situação de aparência em que as pessoas confiam e d) criação de risco conexa a uma situação jurídica. 
Para compreender a boa-fé objetiva, especialmente no campo obrigacional, é absolutamente imprescindível compreender que se trata de cláusula geral e, portanto, dificilmente definível, diante de sua aplicação. A boa-fé objetiva determina a necessária descrição de tipos de situações em que é particularmente relevante e aplicável a fim de que por meio destes tipos se possa compreender o papel do venire.
O ponto central a respeito da doutrina da boa-fé, é o fato de ela vedar a possibilidade do Município implantar o loteamento e, ato contínuo, anular os contratos necessários para sua constituição como realidade urbanística, com fundamento diverso do que ensejou a criação do loteamento. Ou seja, existe uma impossibilidade, detectada neste caso concreto, de voltar sobre os próprios passos, ou seja, de venire contra factum proprium, ainda que o município tenha revogado a licença do loteamento. 
Estas considerações basicamente se circunscrevem a aspectos da doutrina da boa-fé, dentro da que se inclui a chamada teoria dos atos próprios e a figura do venire contra factum proprium. Vejamos abaixo, outro caso contido no mesmo tema.
APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. SÚMULA 469 STJ. PLANO COLETIVO CONTRATO CELEBRADO COM INOBSERVÂNCIA AO NÚMERO MÍNIMO DE TITULARES. RESCISÃO. IMPOSSIBILIDADE. PROIBIÇÃO DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. DESLIGAMENTO DE TITULARES. MANUTENÇÃO DO PLANO. RESCISÃO APÓS LONGO PERÍODO. IMPOSSIBILIDADE. SUPRESSIO. BOA-FÉ OBJETIVA. SEGURANÇA JURÍDICA. CONTRATO MANTIDO. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde". (Súmula 469 STJ). 1.1. In casu, as autoras, ora apeladas, são consumidoras pois assinaram um contrato de adesão ao plano de saúde e utilizam o serviço como destinatárias finais (art. 2º CDC) e a ré, ora apelante, é fornecedora, porquanto desenvolve atividade de prestação de serviços no mercado de consumo, mediante remuneração (art. 3º CDC). 2. O caso deve ser analisado à luz do princípio da boa-fé objetiva que orienta os contratos civis e consumeristas, aplicando-se os institutos da supressio e da proibição do venire contra factum proprium. 2.1. A proibição do venire contra factum proprium ou teoria dos atos próprios visa proteger a parte contra aquele que deseja exercer um status jurídico em contradição com um comportamento assumido anteriormente. 2.2. O instituto da supressio decorre do princípio da boa-fé objetiva e significa o desaparecimento de um direito, não exercido por um lapso de tempo, de modo a gerar no outro contratante a expectativa de que não será mais exercido. 3. No caso em análise, em que pese haver no contrato realizado entre as partes a previsão de rescisão no caso de o número de titulares se tornar inferior a cinco, o contrato já foi celebrado com um número reduzido de titulares, de modo que não pode o apelante, mais de quatro anos depois, desejar rescindir unilateralmente o contrato, uma vez que o instituto do venire contra factum proprium veda atitudes contraditórias que quebre o princípio da confiança que deve existir nas relações contratuais. 4. De igual forma, não pode o apelante rescindir o contrato em razão do reduzido número de titulares se durante sua execução ocorreram sucessivos desligamentos de titulares e este concordou com a manutenção do plano de saúde. A fim de manter a segurança jurídica da relação jurídica deve ser aplicado o instituto da supressio, pelo qual não pode a parte exigir uma obrigação em sua forma original, se não a exigiu durante um longo período de tempo, gerando na outra parte a real expectativa de que seu direito não seria exigido. 5. A luz do princípio da boa-fé objetiva e de seus desdobramentos consubstanciados nos institutos da proibição do venire contra factum proprio e da supressio, tem-se por suprimido o direito do apelante na rescisão do contrato com fundamento no item 5 da cláusula 15.2 que dispõe sobre o número mínimo de titulares para manutenção do plano de saúde. Com efeito, o contrato entabulado entre as partes deverá ser mantido nas exatas condições vigentes. 6. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.SENTENÇA MANTIDA. (Acórdão n.928319, 20140111993895APC, Relator: ALFEU MACHADO, Revisor: ROMULO DE ARAUJO MENDES, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 16/03/2016, Publicado no DJE: 13/04/2016. Pág.: 159).
Diante dessas considerações, percebe-se a importância da boa-fé nos contratos cíveis, posto que a partir destes ocorre a circulação de riquezas e são estabelecidas as regras de convivência social. Logo, entender a aplicação da boa-fé nas relações jurídicas, assim como identificar corretamente os seus efeitos, sobretudo a supressio e surrectio, é fator imprescindível ao operador do direito, o que demonstra a importância do trabalho em questão, sobretudo na fase de orientação jurídica prestada pela Defensoria Pública aos seus assistidos.
SUPRESSIO - CONCEITO
O instituto da 'supressio' indica a possibilidade de se considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo, ou seja, o tempo implica a perda de uma situação jurídica subjetiva em hipóteses não subsumíveis nem à prescrição, nem à decadência. Trata-se de uma caducidade que tem por causa a inação prolongada em segmento temporal significativo. Não se aplica ao simples não ajuizamento de uma ação ou de uma reconvenção. 
Exemplo prático: locatário, depois de três anos na vigência de um contrato locativo comercial com prazo determinado de cinco anos, recebe carta de cobrança da empresa locadora exigindo diferenças quanto à inflação do primeiro ano locatício, as quais não foram cobradas por mera liberalidade, tanto que os recibos locativos mensais foram firmados sem ressalvas. Há se falar na aplicação da "supressio", com a extinção do direito à cobrança da reposição inflacionária devida no primeiro ano? Cremos que sim, houve caducidade do direito decorrente da impossibilidade de posteriormente a empresa locadora postar-se diante de um comportamento contratual contraditório, a chamada Verwikung do direito alemão, onde o instituto restou positivado após a Primeira Guerra Mundial.
O nosso direito positivo tem raízes nos seguintes dispositivos que não ocultam a sua inspiração em área de direito público que, consabidamente, invalida os atos manchados pelo desvio de finalidade. Até bem pouco tempo atrás, raros eram os atos da vida civil passíveis de controle de finalidade (como as doações remuneratórias). Agora, os dispositivos transformaram a exceção em regra:
Art.421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art.422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa – fé.
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA E JUSTIFICATIVA DA IDÉIA DE PRECEDENTE JUDICIAL SUPRESSIO
Temos como exemplo prático precedente haurido do Superior Tribunal de Justiça,  APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. SÚMULA 469 STJ. PLANO COLETIVO CONTRATO CELEBRADO COM INOBSERVÂNCIA AO NÚMERO MÍNIMO DE TITULARES. RESCISÃO. IMPOSSIBILIDADE. PROIBIÇÃO DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. DESLIGAMENTO DE TITULARES. MANUTENÇÃO DO PLANO. RESCISÃO APÓS LONGO PERÍODO. IMPOSSIBILIDADE. SUPRESSIO. BOA-FÉ OBJETIVA. SEGURANÇA JURÍDICA. CONTRATO MANTIDO. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde". (Súmula 469 STJ). 1.1. In casu, as autoras, ora apeladas, são consumidoras pois assinaram um contrato de adesão ao plano de saúde e utilizam o serviço como destinatárias finais (art. 2º CDC) e a ré, ora apelante, é fornecedora, porquanto desenvolve atividade de prestação de serviços no mercado de consumo, mediante remuneração (art. 3º CDC). 2. O caso deve ser analisado à luz do princípio da boa-fé objetiva que orienta os contratos civis e consumeristas, aplicando-se os institutos da supressio e da proibição do venire contra factum proprium. 2.1. A proibição do venire contra factum proprium ou teoria dos atos próprios visa proteger a parte contra aquele que deseja exercer um status jurídico em contradição com um comportamento assumido anteriormente. 2.2. O instituto da supressio decorre do princípio da boa-fé objetiva e significa o desaparecimento de um direito, não exercido por um lapso de tempo, de modo a gerar no outro contratante a expectativa de que não será mais exercido. 3. No caso em análise, em que pese haver no contrato realizado entre as partes a previsão de rescisão no caso de o número de titulares se tornar inferior a cinco, o contrato já foi celebrado com um número reduzido de titulares, de modo que não pode o apelante, mais de quatro anos depois, desejar rescindir unilateralmente o contrato, uma vez que o instituto do venire contra factum proprium veda atitudes contraditórias que quebre o princípio da confiança que deve existir nas relações contratuais. 4. De igual forma, não pode o apelante rescindir o contrato em razão do reduzido número de titulares se durante sua execução ocorreram sucessivos desligamentos de titulares e este concordou com a manutenção do plano de saúde. A fim de manter a segurança jurídica da relação jurídica deve ser aplicado o instituto da supressio, pelo qual não pode a parte exigir uma obrigação em sua forma original, se não a exigiu durante um longo período de tempo, gerando na outra parte a real expectativa de que seu direito não seria exigido. 5. A luz do princípio da boa-fé objetiva e de seus desdobramentos consubstanciados nos institutos da proibição do venire contra factum proprio e da supressio, tem-se por suprimido o direito do apelante na rescisão do contrato com fundamento no item 5 da cláusula 15.2 que dispõe sobre o número mínimo de titulares para manutenção do plano de saúde. Com efeito, o contrato entabulado entre as partes deverá ser mantido nas exatas condições vigentes. 6. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (Acórdão n.928319, 20140111993895APC, Relator: ALFEU MACHADO, Revisor: ROMULO DE ARAUJO MENDES, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 16/03/2016, Publicado no DJE: 13/04/2016. Pág.: 159).
Diante dessas considerações, percebe-se a importância da boa-fé nos contratos cíveis, posto que a partir destes ocorre a circulação de riquezas e são estabelecidas as regras de convivência social. Logo, entender a aplicação da boa-fé nas relações jurídicas, assim como identificar corretamente os seus efeitos, sobretudo a supressio e surrectio, é fator imprescindível ao operador do direito, o que demonstra a importância do trabalho em questão, sobretudo na fase de orientação jurídica prestada pela Defensoria Pública aos seus assistidos.
SURRECTIO – CONCEITO
A surrectio verifica-se nos casos em que o decurso do tempo permite inferir o surgimento de uma posição jurídica, pela regra da boa-fé. Normalmente, é figura correlata à suppressio, consiste no surgimento de uma posição jurídica pelo comportamento materialmente nela contido, sem a correlata titularidade. Como efeito deste comportamento, haveria, por força da necessidade de manter um equilíbrio nas relações sociais, o surgimento de uma pretensão. Deste modo, por exemplo, se ocorre distribuição de lucros diversa da prevista no contrato social, por longo tempo, esta deve prevalecer em homenagem à tutela da boa-fé objetiva. Trata-se do surgimento do direito a esta distribuição – surrectio – por conta da sua existência na efetividade social. 
Para a doutrina alemã, Surrectio é erwirkung e consiste exatamente no fenômeno inverso ao da supressio, haja vista decorrer da ampliação do conteúdo obrigacional mediante surgimento de prática de usos e costumes locais. Na surrectio, a atitude de uma parte faz surgir para a outra um direito não pactuado. 
A doutrina tem exigido a conjugação dos seguintes requisitos para a ocorrência da surrectio, como advertem Rocha e Cordeiro, apud MEZZOMO :
Exige-se um certo lapso de tempo, por excelência variável, duranteo qual se atua uma situação jurídica em tudo semelhante ao direito subjetivo que vai surgir; requer-se uma conjunção objectiva de factores que concitem, em nome do Direito, a constituição do novo direito; impõe-se a ausência de previsões negativas que impeçam a surrectio.
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA E JUSTIFICATIVA DA IDÉIA DE PRECEDENTE JUDICIAL SURRECTIO
Temos como exemplo prático, o precedente a seguir:
PLANO DE SAÚDE – EX-EMPREGADO – MANUTENÇÃO DO CONTRATO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA – APLICABILIDADE DO ART. 30 E NÃO DO ART. 31 DA LEI 9.656/98 – OBSERVÂNCIA, TODAVIA, DO INSTITUTO DA SURRECTIO. 
Nada obstante estar correto o entendimento do magistrado a quo, quanto à inaplicabilidade do art. 31 da Lei 9.656/98, uma vez que o autor se aposentou em 2001, cerca de 6 (seis) anos após a rescisão do contrato de trabalho, o fato da ex-empregadora ter arcado com a integralidade do pagamento do prêmio, apesar de não obrigada, por período muito superior ao prazo de vinte e quatro meses estabelecido na Lei 9.656/98, fez surgir o direito do ex-empregado à manutenção do plano nos mesmo moldes, uma vez que a lei substantiva veda o comportamento contraditório. Surrectio caracterizada. Precedentes. Sentença reformada.
 RESULTADO: apelação provida.
Trata-se de apelação interposta por Nelson Coutinho, contra a respeitável sentença de fls 268/275, cujo relatório ora se adota, que julgou improcedente a ação por ele proposta em face de Fundação Waldemar Barnsley Pessoa e Viação São Bento Ltda, condenando-o ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em R$ 1.000,00, observado o disposto no art. 12 da Lei 1.060/50.
Recorre o autor, em busca da reforma da r. sentença, alegando, em síntese, que a rescisão do contrato de trabalho do apelante se deu no ano de 1995 por acordo entre as partes, no entanto, seu plano foi mantido por 17 anos, o que corrobora a tese do apelante de que sua ex-empregadora prometeu sua permanência no plano de saúde por toda sua vida. Por fim, requer a manutenção do plano em razão da debilidade de seu estado de saúde e a necessidade de continuidade do tratamento da próstata.
Nada obstante estar correto o entendimento do magistrado a quo, quanto à inaplicabilidade do art. 31 da Lei 9.656/98, uma vez que o autor se aposentou em 2001, cerca de 6 (seis) anos após a rescisão do contrato de trabalho, de modo que, uma vez cumprido o prazo máximo do §1º do art. 30 da mesma norma, inexiste direito do ex-empregado em se manter vinculado ao plano de saúde contratado pela ex-empregadora, insta salientar que a causa petendi da presente demanda é o suposto contrato verbal firmado entre o apelante e apelada Viação São Bento Ltda, pelo qual se comprometera a garantir a vitaliciedade do plano de saúde administrado pela Fundação Waldemar Barnsley Pessoa.
Com efeito, o art. 422 do Código Civil estabelece que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”
Uma das principais funções do princípio da boa-fé é limitadora, impedindo e punindo o exercício de direito subjetivo quando se caracterizar um abuso da posição jurídica. A esse respeito, Ruy Rosado de Aguiar Júnior leciona que a teoria dos atos próprios “protege uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente. Depois de criar uma certa expectativa, em razão de conduta seguramente indicativa de determinado comportamento futuro, há quebra dos princípios de lealdade e de confiança se vier a ser praticado ato contrário ao previsto, com surpresa e prejuízo à contraparte”. (Aguiar Júnior, Ruy Rosado de. Extinção dos contratos por incumprimento do devedor. 2. ed. Rio de Janeiro: AIDE, 2003, p. 254)
No mesmo sentido, é o magistério de Humberto Theodoro Junior: 
“Um dos grandes efeitos da teoria da boa-fé, no campo dos contratos, traduz-se na vedação de que a parte venha a observar conduta incoerente com seus próprios atos anteriores. A ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição com a sua anterior conduta interpretada objetivamente segundo a lei, segundo os bons costumes e a boa-fé, ou quando o exercício posterior se choque com a lei, os bons costumes e a boa-fé” 
Assim, tendo em vista que a apelada Viação São Bento Ltda, arcou com integralidade do pagamento do plano de saúde disponibilizado pela Fundação Waldemar Barnsley Pessoa entre 02/06/1993 até 01/05/2012, e por cerca de 17 anos após a rescisão do contrato de trabalho, ocorrida em Junho de 1995, ainda que não obrigada pela lei ou pelo contrato, tem-se a estabilização da situação jurídica em benefício do apelante, garantindo-lhe a sua manutenção para o futuro. Neste sentido, confiram-se os seguintes precedentes: Plano de saúde Autor que é beneficiário de contrato celebrado pela ré com sua exempregadora. Rescisão de contrato verificado. Fixação da data do encerramento da cobertura. Ré que enviou ao autor boletos bancários referentes às parcelas vencidas após referida data. Conduta da ré que criou no autor legítima expectativa de que o contrato seria mantido. Surrectio caracterizada. Hipótese de manutenção das mesmas condições contratuais e de cobertura outrora acordadas. Recurso desprovido. 
ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já verificamos, a boa-fé objetiva apresenta vários papéis fundamentais no sistema de direito positivo, por tratar-se da função de imputar a responsabilidade extra-contratual diante da ruptura sem motivo de negociações, de impedir a quebra da base do negócio jurídico, determinando (quando esta se romper), um re-equilíbrio das prestações negociais de acordo com a alteração das circunstâncias advindas. Além destas, importante função consiste na criação de deveres, que pela incidência da cláusula geral de boa-fé, obrigam as partes contratantes independentemente da declaração de vontade e mesmo contra ela. A função da boa-fé é de manter o equilíbrio do contrato bilateral.
Analisando-se os conceitos de supressio e surrectio, pode-se concluir que tais institutos consagram formas de perda e aquisição de direito pelo decurso do tempo, sem que, com isso, não possa a surrectio vir desacompanhada da supressio.
No nosso Codex encontram-se, por exemplo, os fenômenos da supressio e surrectio no artigo 330 , como bem exemplifica a doutrinadora Diniz, ao comentar que há presunção juris tantum de que o credor renunciou (supressio) ao lugar da prestação quando reiteradamente o devedor o realiza em lugar diverso do pactuado, fato que faz surgir, com igual validade, o direito subjetivo do devedor em continuar a fazer o pagamento em local diverso do contratado (surrectio), não podendo o credor a isso se opor, pois houve a perda do direito pelo decurso do tempo. Assim, a supressio implicará o surgimento da surrectio desde que se mantenha a coerência entre o que foi suprimido e o que surgiu em decorrência. Assim, a supressio implicará o surgimento da surrectio desde que se mantenha a coerência.
BIBLIOGRAFIA
BARROS MONTEIRO, Washington de - Curso de direito civil, parte geral, 19ª ed.. São Paulo, Saraiva, 2003.
MENEZES CORDEIRO, Antonio Manuel da Rocha e - Da Boa-Fé no Direito Civil, Coimbra, Almedina, 2001.
LARENZ, Karl - Metodologia da Ciência do Direito, 3ª ed.. Lisboa, FCG, 1997, trad. José Lamego.
REFERÊNCIAS
CRUZ E TUCCI, José Rogério - Precedente judicial como fonte do direito, São Paulo, RT, 2004.
- Efeitos contratuais perante terceiros. Tese, USP, 2006.
<http://www.egov.ufsc.br/venirecontrafactum-proprium>
<http://www.emagis.com.br/supressio/eoprincipio-da-boafe-contratual>
<http://www.portaleducacao.com.br/informatica/artigos/48358/google-analytics>
<http://www.stj.jus.br/SCON/juritfr/#>
�PAGE �
�PAGE �1�

Outros materiais