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Universidade Estadual de Santa Cruz Departamento de Cieˆncias Exatas Disciplina Geometria Anal´ıtica Curso de Engenharia Professores Paulo Gala˜o e Pryscilla Silva Notas de Aula Aula 2 1 A´lgebra Matricial Manipular varia´veis ou inco´gnitas faz parte da natureza da a´lgebra. Entretanto, como veremos a seguir, nada impede que a inco´gnita (ou varia´vel) venha a ser uma matriz. 1.1 Propriedades Assim como se verifica algumas propriedades quando trabalhamos com nu´meros reais, as operac¸o˜es com matrizes tambe´m possuem algumas propriedades que sera˜o bas- tante ute´is no estudo da A´lgebra Matricial. 1.1.1 Propriedades da soma de matrizes Proposic¸a˜o 1 Sejam A, B, C matrizes de ordem m× n. A adic¸a˜o de matrizes satisfaz as seguintes propriedades: 1. associativa - (A+B) + C = A+ (B + C), quaisquer que sejam A, B e C ; 2. comutativa - A+B = B + A,quaisquer que sejam A e B; 3. elemento neutro - existe uma matriz M de ordem m× n tal que A + M = A, para toda matriz A; 4. elemento sime´trico - dada uma matriz A, existe uma matriz A′ tal que A+A′ = M . Prova-se que os elementos neutro e sime´trico da Proposic¸a˜o 1 sa˜o respectivamente a matriz nula de ordem m× n e a matriz oposta de A (−A). 1.1.2 Propriedades do produto de constante por matriz Proposic¸a˜o 2 Sejam a, b ∈ R, A e B matrizes de ordem m×n. O produto de constante por matriz obdece a`s seguintes propriedades: 1. a · (b · A) = (ab) · A; 1 2. (a+ b) · A = a · A+ b · A; 3. a · (A+B) = a · A+ a ·B; 4. 1 · A = A. 1.1.3 Propriedades do produto de matrizes Proposic¸a˜o 3 O produto de matrizes satisfaz as seguintes propriedades: 1. associativa - (AB)C = A(BC), quaisquer que sejam as matrizes Am×n, Bn×p e Cp×k.; 2. distributiva a` direita - A(B + C) = AB + AC, quaisquer que sejam as matrizes Am×n, Bn×p e Cn×k; 3. distribuitva a` esquerda - (B + C)A = BA + CA, quaisquer que sejam as matrizes Am×n, Bp×m e Cn×m; 4. k(AB) = (kA)B = A(kB), quaisquer que sejam as matrizes Am×n, Bn×p e k ∈ R. Exemplo 1 Se A = ( 1 0 3 2 ) , B = ( 5 2 3 −1 ) e C = ( 0 1 1 1 ) . Determine a matriz X tal que 2X + A = 3B + C. Para determinar a matriz X vamos utilizar as propriedades vistas anteriormente. 1. Vamos somar −A em ambos os membros da igualdade: 2X + A− A = 3B + C − A 2. Pela Proposic¸a˜o 1 item 4 temos: 2X +O = 3B + C − A, onde O e´ a matriz nula de ordem 2. 3. Pela Proposic¸a˜o 1 item 3 temos: 2X = 3B + C − A 4. Multiplicando 1 2 em ambos os membros da igualdade: 1 2 (2X) = 1 2 (3B + C − A) 5. Pela Proposic¸a˜o 2 itens 1 e 3 temos:( 1 2 2 ) X = 3 2 B + 1 2 C − 1 2 A 2 6. Desse modo, X = 3 2 B + 1 2 C − 1 2 A X = 3 2 ( 5 2 3 −1 ) + 1 2 ( 0 1 1 1 ) − 1 2 ( 1 0 3 2 ) X = ( 15/2 6/2 9/2 −3/2 ) + ( 0 1/2 1/2 1/2 ) − ( 1/2 0 3/2 1 ) 7. Pela Propriedade 1 item 1: X = ( 15/2 7/2 10/2 −2/2 ) − ( 1/2 0 3/2 1 ) = ( 14/2 7/2 7/2 −2 ) = ( 7 7/2 7/2 −2 ) Exemplo 2 Sejam A e B matrizes de ordem m×m. Calcule: (A+B)(A−B). Pelas propriedades 2 e 3 da Proposic¸a˜o 3 (A+B)(A−B) = (A+B)A− (A+B)B = AA+BA− AB −BB = A2 +BA− AB −B2. Ale´m disso, se AB = BA obtemos: 1 (A+B)(A−B) = A2 −B2. 2 Sistemas de Equac¸o˜es Lineares Uma pessoa consumiu na segunda-feira, no cafe´ da manha˜, 1 pedac¸o de bolo e 3 pa˜ezinhos num total de 140 gramas. No dia seguinte, tambe´m no cafe´ da manha˜, uma pessoa consumiu 3 pedac¸os de bolo e 2 pa˜ezinhos (iguais ao do dia anterior e de mesma massa), totalizando 210 gramas. A tabela a seguir fornece a quantidade aproximada de energia em quilocalorias (kcal) contidas a cada 100 gramas de bolo e de pa˜ozinho. 1Lembre-se que em geral o produto de matrizes na˜o e´ comutativo, mesmo no caso em que as matrizes sa˜o quadradas e de mesma ordem. Por exemplo: para A = ( 1 0 2 3 ) e B = ( 4 5 6 0 ) , temos AB = ( 4 5 26 10 ) 6= BA = ( 14 15 6 0 ) . 3 ALIMENTO ENERGIA 100 g de bolo 420 kcal 100 g de pa˜ozinho 270 kcal Apo´s determinar a quantidade em gramas de cada pedac¸o de bolo e de cada pa˜ozinho, use a tabela e calcule o total de quilocalorias (kcal) consumido pela pessoa, com esses alimentos, no cafe´ da manha˜ de segunda-feira. De fato, para podermos encontrar o que se pede, e´ preciso escrever o nosso prob- lema utilizando linguagem matema´tica. Desse modo: seja x a quantidade em gramas de um pa˜ozinho; seja y a quantidade em gramas de uma fatia de bolo. Assim: { 3x+ y = 140 2x+ 3y = 210 Expresso˜es como as que obtemos anteriormente sa˜o denominadas Sistemas Line- ares. De certo modo, o surgimento do estudo dos sistemas lineares surgiu naturalmente. Por gostar bastante de diagramas, os Chineses, por exemplo, representavam sistemas lineares por meio de seus coeficientes escritos com barras de bambu sobre os quadrados de um tabuleiro. Nesta sec¸a˜o vamos estudar como resolver e analisar o comportamento de sistemas de duas e treˆs indeterminadas. Mais a frente veremos me´todos de resoluc¸a˜o de sistemas lineares que ira˜o nos auxiliar na resoluc¸a˜o do sistema anterior. 2.1 Sistemas Lineares Definic¸a˜o 1 (Equac¸a˜o Linear) Uma equac¸a˜o e´ dita linear se e´ da forma a11x1+a12x2+ a13x3 + · · · + a1nxn = b, a1i ∈ R (1 ≤ i ≤ n). Nesse caso a1i sa´o ditos coeficientes e xi sa˜o as indeterminadas (1 ≤ i ≤ n). Exemplo 3 A equac¸a˜o 3x1 + 2x2 = 5 e´ uma equac¸a˜o linear, enquanto que a equac¸a˜o 2x21 + 4 √ x2 + 3x3 = 0 na˜o e´ linear. Definic¸a˜o 2 (Soluc¸a˜o de uma equac¸a˜o linear) A n−upla (α1, α2, . . . , αn) e´ dita soluc¸a˜o da equac¸a˜o linear a11x1 + a12x2 + a13x3 + · · · + a1nxn = b se a11α1 + a12α2 + a13α3 + · · ·+ a1nαn = b. 2 Exemplo 4 (1, 2, 3,−2) e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o linear 2x1 + 3x2 − x3 + x4 = 3. De fato, 2 · 1 + 3 · 2− 3− 2 = 3. Definic¸a˜o 3 Um sistema linear e´ um conjunto de m (m ≥ 1) equac¸o˜es lineares nas 2Normalmente escreve-se a soluc¸a˜o de uma equac¸a˜o linear dessa forma para que qualquer leitor possa identificar a que indeterminada esta´ se referindo cada soluc¸a˜o. 4 inco´gnitas x1, x2, . . . , xn, isto e´: a11x1 + a12x2 + · · ·+ a1nxn = b1 ... am1x1 + am2x2 + · · ·+ amnxn = bm . 2.2 Me´todos de soluc¸o˜es de sistemas lineares 2.2.1 Substituic¸a˜o Como o pro´prio nome diz, esse me´todo constitui em isolar uma das indeter- minadas em uma das equac¸o˜es e substituir em outra equac¸a˜o do sistema, fazendo esse processo tantas vezes quanto necessa´rias para obter a soluc¸a˜o. Exemplo 5 { x− y = 1 (I) x+ y = 2 (II) Em (I) no´s temos x = 1 + y, substituindo em (II) obtemos 1 + 2y = 2 ⇒ y = 1/2⇒ x = 1 + 1/2 = 3/2. Logo a soluc¸a˜o do sistema e´ S = {(3/2, 1/2)} Exemplo 6 Voltemos a` situac¸a˜o vista no in´ıcio da sec¸a˜o: “ Uma pessoa consumiu na segunda-feira, no cafe´ da manha˜, 1 pedac¸o de bolo e 3 pa˜ezinhos num total de 140 gramas. No dia seguinte, tambe´m no cafe´ da manha˜, uma pessoa consumiu 3 pedac¸os de bolo e 2 pa˜ezinhos (iguais ao do dia anterior e de mesma massa), totalizando 210 gramas. A tabela a seguir fornece a quantidade aproximada de energia em quilocalorias (kcal) contidas a cada 100 gramas de bolo e de pa˜ozinho. ALIMENTO ENERGIA 100 g de bolo 420 kcal 100 g de pa˜ozinho 270 kcal Apo´s determinar a quantidade em gramas de cada pedac¸o de bolo e de cada pa˜ozinho, use a tabela e calcule o total de quilocalorias (kcal) consumido pela pessoa, com esses alimentos, no cafe´ da manha˜ de segunda-feira.” Com base nos dados acima, montamos o seguinte sistema:{ 3x+ y = 140 (I) 2x+ 3y = 210 (II) Desse modo, em (I) obtemos: y = 140− 3x Substituindo em (II): 2x+3(140−3x)= 210⇒ 2x+420−9x = 210⇒ −7x = 210−420⇒ 7x = 210⇒ x = 30 5 Logo, y = 140− 90 = 50. Portanto, na segunda-feira a pessoa consumiu 50 gramas de bolo e 90 gramas de pa˜o. Assim, com 50 gramas de bolo houve um consumo de 210 kcal. Por meio de uma regra de treˆs simples obtemos a quantidade de quilocalorias obtidas ao consumir 90 gramas de pa˜o: 100 g → 270 kcal 90 g → x ⇒ 100x = 90 · 270⇒ x = 243 kcal Logo, no total houve um ganho de 453 kcal. Exemplo 7 Resolva o sistema: { X + Y = 3A (I) X − Y = 2B (II) , onde A = ( 2 0 0 4 ) , B = ( 1 5 3 0 ) , X e Y sa¯o matrizes quadradas de ordem 2. Para resolvermos esse sistema vamos utilizar os recursos das Proposic¸o˜es 1 e 2. Com efeito, de (I) no´s obtemos: X = 3A− Y . Substituindo em (II) temos: 3A− Y − Y = 2B ⇒ −2Y = 2B − 3A⇒ Y = −B + 3/2A. Logo, X = 3A+B − 3/2A = 3/2A+B. Por fim, X = 3/2 ( 2 0 0 4 ) + ( 1 5 3 0 ) = ( 4 5 3 6 ) Y = − ( 1 5 3 0 ) + 3/2 ( 2 0 0 4 ) = ( 2 −5 −3 6 ) . 2.2.2 Escalonamento Dado um sistema linear S em que pelo menos um coeficiente e´ na˜o nulo, dizemos que S esta´ na forma escalonada se o nu´mero de coeficientes nulos, antes do primeiro coeficiente na˜o nulo, aumenta de equac¸a˜o para equac¸a˜o. Na pra´tica, o escalonamento consiste em utilizarmos a soma , multiplicadas ou na˜o por constantes, o produto por constante e ou a troca das equac¸o˜es do sistema de modo a obter um sistema onde as equac¸o˜es juntas teˆm o formato de uma escada. Para maiores esclarecimentos veja o exemplo abaixo. 6 Exemplo 8 Considere o sistema: 5x +11y −21z = −22 3x −2y +3z = 11 x +2y −4z = −4 Para escalonar esse sistema vamos seguir as etapas abaixo: 1. Antes de mais nada certifique-se que o sistema esta´ ordenado e na forma completa, caso falte alguma indeterminada basta escreveˆ-la com um 0 multiplicando. 2. Como somar equac¸o˜es, constitui na verdade somar as constantes que aparecem no sistema, vamos escrever uma matriz com apenas as constantes: 5 11 −21 −223 −2 3 11 1 2 −4 −4 3. Para operar e´ sempre mais fa´cil estabelecermos que a primeira equac¸a˜o do sistema tenha coeficiente de x igual a 1. Desse modo vamos trocar as equac¸o˜es de posic¸a˜o: 1 2 −4 −45 11 −21 −22 3 −2 3 11 4. Como o objetivo e´ deixar o sistema no formato de uma escada, vamos somar as equac¸o˜es de modo a eliminar x e depois y: (a) Eliminanddo x da segunda e da terceira equac¸a˜o. Considere linha = L. Para fazer o que foi dito anteriormente vamos trocar a L3 por L3 − 3L1 e L2 por L2 − 5L1: 1 2 −4 −40 1 −1 −2 0 −8 15 23 (b) Para eliminar y da terceira equac¸a˜o trocaremos L3 por L3 + 8L2: 1 2 −4 −40 1 −1 −2 0 0 7 7 5. Voltando a` escrita convencional de sistemas, obtemos: x +2y −4z = −4 0 y −z = −2 0 0 7z = 7 7 6. Da terceira equac¸a˜o obtemos 7z = 7⇒ z = 1. Substituindo na segunda y − 1 = −2 y = −1. Por fim, substituindo os dois valores obtidos na primeira equac¸a˜o temos: x− 2− 4 = −4 x = 2. Prova-se que ao escalonarmos um sistema, o sistema obtido na forma escada com as operac¸o˜es vistas anteriormente teˆm a mesma soluc¸a˜o do sistema original. Donde conclu´ımos a soluc¸a˜o do sistema S = {(2, −1, 1)}. Exemplo 9 Vamos obter a soluc¸a˜o do sistema: x+ 2y + z = 9 2x+ y − z = 3 3x− y − 2z = −4 Na nossa soluc¸a˜o o s´ımbolo ↔ vai significar troca. L3 ↔ L3 − 3L1: x+ 2y + z = 9 2x+ y − z = 3 0− 7y − 5z = −31 L2 ↔ L2 − 2L1 : x+ 2y + z = 9 0− 3y − 3z = −15 0− 7y − 5z = −31 L2 ↔ −1/3L2 : x+ 2y + z = 9 0 + y + z = 5 0− 7y − 5z = −31 L3 ↔ L3 + 7L2 : x+ 2y + z = 9 0 + y + z = 5 0 + 0 + 2z = 4 Logo, z = 2, y = 5 − 2 = 3, x = 9 − 2 − 6 = 1. Assim a soluc¸a˜o do sistema e´ S = {(1, 3, 2)}. 8 2.3 Classificac¸a˜o de sistemas lineares quanto a soluc¸a˜o Vimos ate´ agora sistemas onde obtemos valores para todas as suas indetermi- nadas. Esse tipo de sistemas sa˜o ditos poss´ıveis e determinados e nesse caso pode-se provar que a soluc¸a˜o encontrada e´ u´nica. Pore´m nem todo sistema tem esse comporta- mento. Existem sistemas que na˜o possuem soluc¸a˜o, nesse caso eles sa˜o ditos sistemas imposs´ıveis, ha´ tambe´m sistemas que possuem infinitas soluc¸o˜es, nesse caso o sistema e´ dito poss´ıvel e determinado. Exemplo 10 Considere o sistema x+ 2y + 3z = 1 2x+ 4y + 6z = 2 3x+ 6y + 9z = 0 . Ao tentar escalonar o sistema acima trocando L3 por L3 − 3L1 obtemos o sistema x+ 2y + 3z = 1 2x+ 4y + 6z = 2 0x+ 0y + 0z = −3 ⇔ x+ 2y + 3z = 1 2x+ 4y + 6z = 2 0 = −3 . Observe que na u´ltima linha temos um absurdo. Desse modo temos um sistema imposs´ıvel. Logo a soluc¸a˜o do sistema e´ S = ∅. Exemplo 11 Considere o sistema 2x+ 3y + 2z = 5 x− 2y − z = 3 3x+ y + z = 8 . Escalonando o sistema obtemos x− 2y − z = 3 7y + 4z = −1 0 = 0 , a identidade na u´ltima equac¸a˜o nos diz que o sistema possui infinitas soluc¸o˜es e nesse caso o sistema e´ poss´ıvel e indeterminado. Para obtermos a soluc¸a˜o do sistema escolhemos uma indeterminada e isolamos as demais em func¸a˜o da mesma: y = 1/7(−1− 4z) x = 19/7− 1/7z S = {(19/7− 1/7z, 1/7(−1− 4z), z), z ∈ R} 9 Refereˆncias IEZZI, Gelson; HAZZAN, Samuel. Fundamentos de matema´tica elementar: sequeˆncias, matrizes, determinantes, sistemas. 7 ed. Sa˜o Paulo: Atual, 2004. LIPSCHUTZ, Seymour. A´lgebra Linear. Sa˜o Paulo: Makron Books, 1994. 10
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