Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Estadual de Santa Cruz Departamento de Cieˆncias Exatas Disciplina Geometria Anal´ıtica Curso de Engenharia Professores Pryscilla Silva e Paulo Gala˜o Notas de Aula Aula 4 1 Determinantes A teoria dos determinantes surgiu em meados do se´culo XV II, quando eram estudados processos para a resoluc¸a˜o de sistemas lineares. Hoje em dia sabe-se que essa teoria tem uma vasta aplicac¸a˜o sendo usada principalmente para sintetizar expresso˜es matema´ticas complicadas. Nessa sec¸a˜o iremos apresentar o ca´lculo sem fazer menc¸a˜o a definic¸a˜o de determinantes no caso geral, devido a sua complexidade. Ale´m disso, iremos apresentar algumas de suas propriedades e aplicac¸o˜es. Consideremos o conjunto de matrizes quadradas sobre os nu´meros reais. Seja A uma matriz quadrada de ordem n. Chamamos o determinante da matriz A (e indicamos por detA ou |A|) o nu´mero que obtemos operando com os elementos de A de acordo com as definic¸o˜es abaixo. Definic¸a˜o 1 Se A e´ uma matriz quadrada de ordem 1, isto e´, A = (aij), enta˜o detA = aij. Exemplo 1 Se A = (6), enta˜o detA = 6. Definic¸a˜o 2 Dada uma matriz quadradada A = ( a11 a12 a21 a22 ) de ordem 2×2, definimos o determinante de A por: |A| = ∣∣∣∣∣ a11 a12a21 a22 ∣∣∣∣∣ = a11 · a22 − a12 · a21. Para facilitar a memorizac¸a˜o do ca´lculo pode-se usar o seguinte recursso: a11 a12 a22a21 +- 1 Exemplo 2 Para A = ( 1 2 −2 −1 ) . Temos: |A| = −1 − (−4) = −1 + 4 = 3. Definic¸a˜o 3 Seja A uma matriz quadrada de ordem 3 × 3, definimos e denotamos o determinante de A por: |A| = a11 · a22 · a33+a12 · a23 · a31+a13 · a21 · a32−a13 · a22 · a31−a11 · a23 · a32−a12 · a21 · a33. Para memorizar pode-se utilizar um dos me´todos seguintes: a11 a12 a22a21 - a13 a23 a33a32a31 a31 a21 a11 a12 a22 a32 +++- - Figura 1.1: Me´todo I a11 a12 a22a21 - a13 a23 a33a32a31 + + + - - a31 a11 a33 a13 Figura 1.2: Me´todo II Exemplo 3 Calcule: ∣∣∣∣∣∣∣ 2 1 1 0 5 −2 1 −3 4 ∣∣∣∣∣∣∣ = 2 · 5 · 4 + 1 · (−2) · 1 + 1 · (−3) · 0− 1 · 5 · 1− (−3) · (−2) · 2− 4 · 1 · 0 = 40− 2 + 0− 5− 12− 0 = 21. 1.1 Ca´lculo de determinantes de matrizes quadradas com ordem maior que 3 Menor complementar Consideremos uma matriz A de ordem n ≥ 2 e aij um elemento de A. Definimos o menor complementar do elemento aij e indicamos por Dij como o determinante da matriz que se obte´m suprimindo a linha i e a coluna j da matriz A. Exemplo 4 Tomando A = 4 3 42 1 5 3 3 2 , calcule D11, D21. 2 Por definic¸a˜o para obtermos D11 basta retirar a linha 1 e a coluna 1 da matriz A e em seguida calcular o determinante da matriz que restou, isto e´, D11 = ∣∣∣∣∣ 1 53 2 ∣∣∣∣∣ = 2− 15 = −13. Analogamente, D21 e´ obtido suprimindo a linha 2 e a coluna 1 e em seguida calculando o determinante da matriz ( 4 4 3 2 ) , logo D21 = −4. Cofator ou complemento alge´brico Seja A uma matriz de ordem n ≥ 2 e aij ∈ A. Definimos o cofator (ou comple- mento alge´brico) do elemento aij , indicado por Aij , como o nu´mero (−1) i+j ·Dij . Exemplo 5 Se A = 2 3 22 4 8 1 1 1 , enta˜o A11 = (−1) 1+1 ·D11 = 1 · (−4) = −4 e A12 = (−1) 1+2 ·D12 = (−1) · (−6) = 6. Caso a matriz quadrada tenha ordem maior ou igual que 3 usa-se o me´todo de Laplace para calcular os determinantes. 1 Me´todo de Laplace O determinante de uma matriz A = a11 a12 . . . a1j . . . a1n a21 a22 . . . a2j . . . a2n ... ... ... ... ... ... an1 an2 . . . anj . . . ann e´ dado por |A| = a1jA1j + a2jA2j + · · ·+ anjAnj. Observe que no me´todo acima fixamos uma coluna qualquer j, pore´m, normal- mente opta-se por fixar a linha ao inve´s da coluna. Prova-se que isso na˜o altera o ca´lculo do determinante. O exemlo a seguir mostra na pra´tica como funciona ese me´todo: Exemplo 6 Na pra´tica o Me´todo de Laplace consiste das seguintes etapas: 1O me´todo tambe´m se aplica a matrizes de ordem 2 e 3, pore´m da forma como definimos anteriormente os ca´lculos sa˜o mais ra´pidos. 3 1. Considere a matriz A = 1 2 4 3 1 0 0 0 3 −1 7 −2 1 −3 6 2 ; 2. Fixe uma linha da matriz, por exemplo vamos fixar a linha 2; 3. Elimine a primeira coluna e a segunda linha da matriz A, obtendo a matriz A21 = 2 4 3 −1 7 −2 −3 6 2 ; 4. Elimine a segunda coluna e a segunda linha da matriz A, obtendo a matriz A22 = 1 4 33 7 −2 1 6 2 ; 5. Elimine a terceira coluna e a segunda linha da matriz A obtendo a matriz A23 = 1 2 3 3 −1 −2 1 −3 2 ; 6. Elimine a quarta coluna e a segunda linha da matriz A obtendo a matriz A24 = 1 2 4 3 −1 7 1 −3 6 ; 7. O determinante da matriz A e´ dado por: |A| = a21 · (−1) 2+1 · |A21|+ a22 · (−1) 2+2 · |A22|+ a23 · (−1) 2+3 · |A23|+ a24 · (−1) 2+4 · |A24| = 1 · (−1) · |A21|+ 0 · (1) · |A22|+ 0 · (−1) · |A23|+ 0 · (1) · |A24| = −131. 2 Propriedades dos determinantes Proposic¸a˜o 1 Se todos os elementos de uma linha (ou coluna) de uma matriz sa˜o todos nulos enta˜o o determinante da matriz e´ igual a zero. Prova. Seja An = (aij)n uma matriz quadrada de ordem n. Suponhamos que a i−e´sima linha dessa matriz tenha todos os elemntos igual a zero, isto e´, ai1 = ai2 = . . . = ain = 0. Utilizando o Me´todo de Laplace por essa linha obtemos: detA = 0 ·Ai1+0 ·Ai2+ · · ·+ 0 · Ain = 0. 4 Se fixa´ssemos uma coluna ao inve´s de uma linha a prova seria ana´loga, desse modo o resultado tambe´m e´ verificado para o caso de uma coluna nula. � Proposic¸a˜o 2 (Produto de linha ou coluna por constante) Se multiplicarmos uma linha (ou coluna) de uma matriz A = (aij) por uma constante k enta˜o o determinante da matriz fica multiplicado por essa constante. Prova. Com efeito se A = a11 a12 . . . a1n a21 a22 . . . a2n ... ... ... ... ai1 ai2 . . . ain ... ... ... ... an1 an2 . . . ann , multiplicndo a i−e´sima linha da matriz A pela constante k obtemos a matriz A′ = a11 a12 . . . a1n a21 a22 . . . a2n ... ... ... ... kai1 kai2 . . . kain ... ... ... ... an1 an2 . . . ann . Fixando a i−e´sima linha da matriz A′ e aplicando o Me´todo de Laplace obtemos: det(A′) = kai1·Ai1+kai2·Ai2+· · ·+kain·Ain = k(ai1·Ai1+ai2·Ai2+· · ·+ain·Ain) = k · detA. Se fixa´ssemos uma coluna ao inve´s de uma linha a prova seria ana´loga, desse modo o resultado tambe´m e´ verificado para o caso de uma coluna ser multiplicada pela constante. � Exemplo 7 Note que ∣∣∣∣∣∣∣ 1 2 7 1 5 2 0 2 7 ∣∣∣∣∣∣∣ = 31, para calcularmos o ∣∣∣∣∣∣∣ 7 14 49 1 5 2 0 2 7 ∣∣∣∣∣∣∣ , pela proriedade anterior, basta observar que a primeira linha da matriz e´ 7 vezes a primeira linha da matriz anterior, assim ∣∣∣∣∣∣∣ 7 14 49 1 5 2 0 2 7 ∣∣∣∣∣∣∣ = 7 · 31 = 127. 5 Exemplo 8 A Proposic¸a˜o 2, tambe´m pode ser utilizada pra reduzir o tamanho dos ca´lculos do determinante de uma matriz. Com efeito vamos calcular ∣∣∣∣∣∣∣ 5 7 2 10 28 8 15 7 16 ∣∣∣∣∣∣∣ . Note que:∣∣∣∣∣∣∣ 5 7 2 10 28 8 15 7 16 ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 ∣∣∣∣∣∣∣ 1 7 2 2 28 8 3 7 16 ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 · 2 ∣∣∣∣∣∣∣ 1 7 2 1 14 4 3 7 16 ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 · 2 · 7 ∣∣∣∣∣∣∣ 1 1 2 1 2 4 3 1 16 ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 · 2 · 7 · 2 ∣∣∣∣∣∣∣ 1 1 1 1 2 2 3 1 8 ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 · 2 · 7 · 2 · 7 = 980. Proposic¸a˜o 3 (Troca de linhas ou colunas paralelas) Se torcarmos as linhas (ou colunas) paralelas de uma matriz A enta˜o teremos uma nova matriz A′; detA = −detA′. Exemplo 9 Se ∣∣∣∣∣ 3 47 2 ∣∣∣∣∣ = −28 + 6 = −22, enta˜o, pela Proposic¸a˜o 3, ∣∣∣∣∣7 23 4 ∣∣∣∣∣ = 22. Proposic¸a˜o 4 (Linhas ou colunas iguais) Se uma matriz A possui linhas (ou colu- nas) iguais enta˜o detA = 0. Exemplo 10 De fato, pela Proposic¸a˜o 4, ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ 1 5 2 1 4 5 1 3 2 1 2 6 1 4 2 1 1 7 1 2 4 1 4 8 1 3 7 1 0 9 1 1 6 1 0 9 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = 0 pois a coluna 1 e´ igual a coluna 4. Exemplo 11 Pela Proposic¸a˜o 4, ∣∣∣∣∣∣∣ a b c 1 2 3 a b c ∣∣∣∣∣∣∣ = 0, 6 pois a linha 1 e´ igual a linha 3. Proposic¸a˜o 5 (Linhas ou colunas proporcionais) Se as linhas (ou colunas) de uma matriz A sa˜o proporcionais, enta˜o detA = 0. Exemplo 12 Pela Proposic¸a˜o 5, ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ a a + b e a2ba b e e a2bb c d2 a a2bc d f e a2bd ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = 0, pois a coluna 4 e´ a2b a coluna 1. Proposic¸a˜o 6 Se a matriz quadrada A e´ da forma: A = a11 a12 . . . b1j + c1j . . . a1n a21 a22 . . . b2j + c2j . . . a2n ... ... ... ... ... ... an1 an2 . . . bnj + cnj . . . ann , enta˜o teremos: ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ a11 a12 . . . b1j + c1j . . . a1n a21 a22 . . . b2j + c2j . . . a2n ... ... ... ... ... ... an1 an2 . . . bnj + cnj . . . ann ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ a11 a12 . . . b1j . . . a1n a21 a22 . . . b2j . . . a2n ... ... ... ... ... ... an1 an2 . . . bnj . . . ann ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ + ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ a11 a12 . . . c1j . . . a1n a21 a22 . . . c2j . . . a2n ... ... ... ... ... ... an1 an2 . . . cnj . . . ann ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ . O resultado e´ ana´logo se ao inve´s de uma coluna tive´ssemos uma linha. Exemplo 13 Se ∣∣∣∣∣∣∣ x a m y c n z e p ∣∣∣∣∣∣∣ = 5 e ∣∣∣∣∣∣∣ x b m y d n z f p ∣∣∣∣∣∣∣ = 3, calcule ∣∣∣∣∣∣∣ x a+ b m y c+ d n z e + f p ∣∣∣∣∣∣∣ . De fato, pela Proposic¸a˜o 6 ∣∣∣∣∣∣∣ x a+ b m y c+ d n z e + f p ∣∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣∣∣ x b m y d n z f p ∣∣∣∣∣∣∣+ ∣∣∣∣∣∣∣ x a m y c n z e p ∣∣∣∣∣∣∣ = 3 + 5 = 8. 7 Proposic¸a˜o 7 Se uma linha (ou coluna) da matriz A e´ a soma de outras linhas (ou colunas) da matriz previamente multiplicadas por uma constante enta˜o o detA = 0. Exemplo 14 Note que na matriz A = 1 2 3 1 3 3 0 −1 10 11 3 −2 1 1 0 2 , a linha 3 e´ a linha 1 somada com 3 vezes a linha 2. Logo detA = 0. Proposic¸a˜o 8 Se trocarmos uma linha (ou coluna) de uma matriz An pela linha (ou coluna) adicionada a uma outra linha (ou coluna) previamente multiplicada por uma con- stante, obteremos uma nova matriz A′; detA = detA′. Exemplo 15 Considere a matriz A = 1 3 54 2 7 4 1 −6 trocando a coluna 2 pela coluna 2 menos 3 vezes a coluna 1 (em s´ımbolos: C2 ↔ C2−3C1) obtemos uma nova matriz A′ = 1 0 5 4 −10 7 4 −11 −6 ; pela Proposic¸a˜o 8, detA = 117 = detA′. Apesar de sabermos a definic¸a˜o de matriz inversa, se prestarmos bastante atenc¸a˜o veremos que na˜o e´ fa´cil dizer se uma matriz e´ ou na˜o invers´ıvel. Com a proposic¸a˜o abaixo grande parte dos nossos problemas estara˜o resolvidos. Proposic¸a˜o 9 (Determinantes e matriz inversa) Uma matriz quadrada A e´ invers´ıvel se, e somente se |A| 6= 0. Exemplo 16 A matriz A = ( 1 1 3 2 ) e´ invers´ıvel, pois |A| = 2− 3 = −1 6= 0. 8 Proposic¸a˜o 10 Sejam A e B matrizes quadradas de mesma ordem. Enta˜o det (A · B) = detA · detB. Uma da consequeˆncias mais importantes da propriedade anterior e´ a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 11 Se a matriz quadrada A de ordem n e´ invers´ıvel, enta˜o detA−1 = 1 detA . Prova. Se A e´ invers´ıvel, enta˜o A · A−1 = I (onde I e´ a matriz identidade de ordem n). Aplicando o determinante em ambos os lados da igualdade, temos det (A · A−1) = det I. Pela Propriedade 10, detA · detA−1 = det I. Ale´m disso, prova-se que , det I = 1. Logo, como detA 6= 0 (Proposic¸a˜o 9), temos detA−1 = 1 detA . � Exemplo 17 Seja a ∈ R e considere as matrizes reais de ordem 2. A = ( 3a −1 −1 3a ) e B = ( 7a−1 8a−3 7 2−3 ) . O produto AB sera´ invers´ıvel se e somente se: (a) a2 − 5a + 6 6= 0 (b) a2 − 3a 6= 0 (c) a2 − 2a 6= 0 (d) a2 − 5a 6= 0 (e) a2 − 2a+ 1 6= 0 Com efeito, para que AB seja invers´ıvel, e´ necessa´rio e suficiente que detAB 6= 0. Para resolver a questa˜o, poder´ıamos calcular o produto de A por B e em seguida analisar para quais valores de a o detAB 6= 0. Pore´m, esse e´ um caminho um pouco a´rduo em comparac¸a˜o ao que vamos sugerir a seguir. Pela Proposic¸a˜o 10, temos que detAB = detA · detB. 9 Assim detAB 6= 0 se, e somente se detA ·detB 6= 0, isto e´, detA 6= 0 e detB 6= 0. Desse modo, vamos calcular |A| e |B|: ∣∣∣∣∣ 3 a −1 −1 3a ∣∣∣∣∣ = 32a − 1 ∣∣∣∣∣ 7 a−1 8a−3 7 2−3 ∣∣∣∣∣ = 2−37a−1 − 8a−37 Logo, |A| 6= 0 ⇔ 32a − 1 6= 0 ⇔ a 6= 0. Analogamente, |B| 6= 0 ⇔ 2−37a−1 − 8a−37 6= 0: (2−37a−1 − 8a−37 6= 0) · 8 (7a−1 − 8a−27 6= 0) · 7 7a − 728a−2 6= 0 7a 8a 6= 72 82 a 6= 2 Note que a2 − 2a 6= 0⇔ a 6= 0 e a 6= 2. Resposta letra (c). Refereˆncias IEZZI, Gelson; HAZZAN, Samuel. Fundamentos de matema´tica elementar: sequeˆncias, matrizes, determinantes, sistemas. 7 ed. Sa˜o Paulo: Atual, 2004. LIPSCHUTZ, Seymour. A´lgebra Linear. Sa˜o Paulo: Makron Books, 1994. 10
Compartilhar