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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ FACULDADE DE TECNOLOGIA/DMFC - CAˆMPUS RESENDE • LABORATO´RIO DE FI´SICA I ROTEIRO 1 - INSTRUMENTOS, MEDIDAS E INCERTEZAS I. OBJETIVO • Aprender a utilizar instrumentos de precisa˜o, tais como o paqu´ımetro e o microˆmetro, analisando as suas incertezas.; • Fazer medidas diretas de comprimento e massas de pec¸as meta´licas; • Fazer medidas indiretas de volume e densidade de objetos esfe´ricos e cil´ındricos; • Utilizar a teoria de erros para calcular corretamente a incerteza no valor do volume e da densidade. II. INTRODUC¸A˜O Em cieˆncias exatas, precisamos frequentemente fazer uma medic¸a˜o. Em qualquer medida de uma grandeza f´ısica ha´ sempre a presenc¸a de fatores aleato´rios que introduzem erros nas medic¸o˜es. Cabe ao pesquisa- dor determinar as principais fontes de erros durante a medic¸a˜o e reduzir ao ma´ximo a sua importaˆncia. Por exemplo, ao se realizar medic¸a˜o de massa com uma balanc¸a, as correntes de ar ou vibrac¸o˜es podem alterar o valor real da massa de um objeto. Con- tudo, esses dois fatores espec´ıficos podem ser redu- zidos ou praticamente eliminados colocando-se a ba- lanc¸a numa mesa a prova de vibrac¸o˜es e protegendo- se a balanc¸a em uma caixa de vidro ou mesmo em va´cuo quando se desejar alta precisa˜o. Nesta pra´tica laboratorial sera˜o apresentados os con- ceitos fundamentais do processo de medida, que sa˜o aplicados em todo tipo de experimentos ou ensaios de laborato´rio, e sera˜o mostrados os crite´rios utilizados para apresentar os resultados obtidos. II.A MEDIDAS DIRETAS E INDIRETAS Nas medidas diretas, o valor nume´rico atribu´ıdo a` grandeza F´ısica e´ lido diretamente da escala do ins- trumento. Podemos citar como exemplos o compri- mento medido com uma re´gua, o tempo medido com um cronoˆmetro ou a corrente ele´trica medida com amper´ımetro. Nas medidas indiretas, a grandeza resulta de um ca´lculo realizado com valores de grandezas medidas diretamente. Por exemplo, o volume de um objeto pode ser medido indiretamente, a partir das medidas diretas de suas dimenso˜es com re´gua ou paqu´ımetro. A maioria das grandezas f´ısicas e´ medida indireta- mente. II.B PRECISA˜O DOS INSTRUMENTOS Ao utilizar instrumentos de medida direta, temos que saber identificar a precisa˜o dos valores observados e utilizar instrumentos “adequados”. • Em instrumentos com escalas de comparac¸a˜o ou ponteiros de agulha (re´guas, trenas, paqu´ımetros, ba- lanc¸as analo´gicas, veloc´ımetro, etc...) a ma´xima pre- cisa˜o pode ser identificada como a metade da mı´nima divisa˜o da escala que o observador e´ capaz de me- dir. Por exemplo, em uma re´gua, com a menor escala sendo 1mm, a precisa˜o na medida de um objeto seria de 0, 5mm. • Quando for utilizado um instrumento digital, a pre- cisa˜o e´ sempre a u´ltima casa decimal mostrada. II.C ERROS DE MEDIDA Como todo processo de medida possui uma incerteza intr´ınseca, chamada comumente de erro, nunca sabe- remos dizer se o valor que foi medido e´ exatamente o verdadeiro. Para saber avaliar de que ordem e´ o erro, 1 devemos notar que existem treˆs fontes fundamentais de erro: • Erros Grosseiros: sa˜o cometidos por imper´ıcia do operador, como por exemplo em erros de leitura ou pelo pro´prio desconhecimento do me´todo experimen- tal ou do uso dos instrumentos. • Erros Sistema´ticos: sa˜o cometidos de forma ideˆntica durante o experimento, tipicamente cau- sados por uma limitac¸a˜o do me´todo de medida, do uso de fo´rmulas teo´ricas aproximadas, ma´ calibrac¸a˜o ou ate´ mesmo mal funcionamento dos instrumentos utilizados. Esse tipo de erro torna o valor da medida menos exato, embora em alguns casos possa ser bas- tante preciso. • Erros Estat´ısticos (Acidentais): estes sa˜o os er- ros mais importantes de analisar. Sa˜o causados por mudanc¸as aleato´rias, na˜o controladas, nas condic¸o˜es do processo de medida incluindo o operador, os ins- trumentos, o ambiente do experimento e o pro´prio sistema f´ısico. Estes erros sa˜o inevita´veis, mas pela sua natureza aleato´ria e´ poss´ıvel definir estrate´gias experimentais para minimiza´-los e para estimar o quanto influenciam na confiabilidade do resultado nume´rico. II.D INCERTEZA NA MEDIDAS DIRETAS Na˜o existem resultados experimentais sem incerteza, enta˜o, nunca deixe valores medidos sem a sua res- pectiva incerteza. Para se reduzir erros realizados durante uma medida, costumamos fazer uma se´rie de N medidas. Estes valores observados xi sa˜o utiliza- dos para estimar o valor verdadeiro da grandeza f´ısica atrave´s do ca´lculo do valor me´dio x¯ = 1 N N∑ i=1 xi (1) enquanto que a melhor estimativa para o erro es- tat´ıstico e´ obtida pelo ca´lculo do desvio-padra˜o le- vando a σest = √√√√ 1 N (N − 1) N∑ i=1 (xi − x¯)2 . (2) Os experimentos de maior precisa˜o sa˜o aqueles onde o erro estat´ıstico e´ o menor poss´ıvel. Contudo, um ex- perimento bastante preciso na˜o necessariamente cor- responde a um experimento com muita exatida˜o: a presenc¸a de erros sistema´ticos pode afastar todos os valores de xi do valor verdadeiro. Observe que na ex- pressa˜o (2), o erro estat´ıstico depende inversamente do nu´mero de medidas N e, portanto, tende a ser reduzido quando N aumenta. Este comportamento pareceria indicar que podemos aumentar a precisa˜o do experimento sem limites, simplesmente repetindo as medidas, o que e´ falso. Temos sempre que lem- brar que a precisa˜o da medida esta´ limitada pela precisa˜o dos pro´prios instrumentos. Portanto, preci- samos tambe´m considerar o erro sistema´tico dos ins- trumentos σsist = ∆inst . (3) Finalmente, a incerteza em uma medida direta deve ser sempre calculada pela seguinte fo´rmula σ = √ σ 2 est + σ 2 sist . (4) Desta forma, o resultado final da mendida e´ dado por x¯± σ. II.E INCERTEZAS NAS MEDIDAS INDI- RETAS Geralmente, se a medida indireta de uma grandeza f´ısica w e´ calculada em func¸a˜o de medidas diretas de outras grandezas f´ısicas, ou seja, w(x, y, z, ...) (5) enta˜o a incerteza σw tambe´m sera´ determinada pelas incertezas das demais grandezas σx , σy e σz. Se os erros nas varia´veis x, y, z, ... sa˜o completamente inde- pendentes entre si, a incerteza na medida indireta e´ obtida pela equac¸a˜o σw = √( ∂w ∂x )2 σ2x + ( ∂w ∂y )2 σ2y + ( ∂w ∂z )2 σ2z . (6) No caso do volume de uma pec¸a cil´ındrica, temos que V = piR2h = 1 4 piD2h . (7) Neste caso, iremos medir diretamente no laborato´rio a altura h e o diaˆmetro D da pec¸a cil´ındrica. Logo, a 2 expressa˜o geral para o ca´lculo da incerteza na medida do volume e´ dada por σV = √( ∂V ∂h )2 σ 2 h + ( ∂V ∂D )2 σ 2 D (8) E´ facilmente verificado que as derivadas parciais sa˜o ∂V ∂h = 1 4 piD 2 e ∂V ∂D = 1 2 piDh (9) e, portanto, a incerteza final na determinac¸a˜o do vo- lume e´ dada por σV = √( 1 4 piD2 )2 σ 2 h + ( 1 2 piDh )2 σ 2 D (10) Observe que se estive´ssemos interessados no ca´lculo da densidade volume´trica dessa pec¸a cil´ındrica, ter´ıamos que considerar uma outra medida direta, a massa. Para isso, considere a equac¸a˜o da densidade ρ = m V (11) A partir da Eq.(6), verificamos que a incerteza sera´ obtida atrave´s da relac¸a˜o σρ = √( ∂ρ ∂m )2 σ2m + ( ∂ρ ∂V )2 σ 2 V (12) onde σm e´ o erro sistema´tico da balanc¸a e σV e´ a incerteza no volume calculada pela Eq.(8). Resta enta˜o determinar as derivadas parciais da densidade em func¸a˜o da massa e do volume, ∂ρ m = 1 V e ∂ρ V = − m V 2 (13) e obter a expressa˜o final para a incerteza no valor da densidade da pec¸a cil´ındrica medida σρ = √( 1 V )2 σ2m + ( − m V 2 )2 σ 2 V (14) II.F ALGARISMOS SIGNIFICATIVOSQuando expressamos uma medida, devemos sempre considerar o nu´mero correto de algarismos significa- tivos de uma medida. Definimos o algarismo signi- ficativo como sendo a leitura de todos os algarismos significativos de que temos certeza mais um duvidoso. Por exemplo, se medimos um objeto com uma re´gua graduada em mil´ımetros e obtemos 3, 8 cm, o resul- tado da medida e´ dado por 3, 80± 0, 05 cm. Podemos resumir as regras para definir os algarismos significativos como segue: • Os zeros a` esquerda do primeiro algarismo signifi- cativo diferente de zero na˜o sa˜o significativos; • A incerteza auxilia na determinac¸a˜o da quantidade de algarismos significativos; • Os zeros a` direita do primeiro algarismo significa- tivo diferente de zero sa˜o significativos. Exemplos: (a) 27, 40 cm (b) 0, 027 cm (c) 27 cm (d) 27, 0 cm (e) 3, 15× 103 cm (f) 3000 cm (g) 0, 040 cm (i) Represente x¯ ± σ = (0, 000463918 ± 0, 00000353) cm Obs: Em operac¸o˜es com algarismos significa- tivos consideramos: Soma e subtrac¸a˜o: Algarismos com maior in- certeza, ou seja, menos d´ıgitos depois do ponto decimal; Multiplicac¸a˜o e divisa˜o: Na˜o mais algarismos que o nu´mero com menos algarismos signifi- cativos. Na˜o existe uma regra muito bem definida para o nu´mero de algarismos que devem ser indicados na in- certeza, quando apresentada junto com a respectiva grandeza experimental. A tendeˆncia atual e´ indicar a incerteza com 2 algarismos, ale´m de zeros a es- querda. Entretanto, muitos pesquisadores utilizam 1 ou 2 algarismos conforme o caso. Ao longo de todos os experimentos feitos no laborato´rio sera˜o adotadas as regras apresentadas abaixo. Estas regras sempre se aplicam ao caso em que as incertezas (4) ou (6) sa˜o escritas acompanhando a grandeza experimental. • A incerteza deve ser dada com 2 algarismos quando 3 o primeiro algarismo for 1 ou 2. • A incerteza pode ser dada com 1 algarismo quando o primeiro algarismo for 3 ou maior. II.G ARREDONDAMENTO E TRUNCA- MENTO Em qualquer um dos casos, a grandeza experimental deve sempre conter o mesmo nu´mero de casas de- cimais que a incerteza final. Para representarmos os nu´meros com a quantidade de casas decimais adequa- das, devemos considerar aproximac¸o˜es como segue: • Arredondamento: 1, 23 ≈ 1, 2 → 3 < 5 e 1, 25 ≈ 1, 3→ 5 ≥ 5 • Truncamento: 1, 23 ≈ 1, 2 e 1, 25 ≈ 1, 2 Obs: E´ comum utilizarmos o erro cha- mado percentual para comparar o valor ob- tido experimentalmente com o valor teo´rico previsto. E neste caso, consideramos a definic¸a˜o: Erro percentual = |teorico− experimental| teorico × 100% (15) III. MATERIAL UTILIZADO • Re´gua, Paqu´ımetro e Microˆmetro; • Balanc¸a; • Pec¸as Cil´ındricas e Esfe´ricas. IV. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS Precisa˜o do Paqu´ımetro a. Medir as dimenso˜es de uma esfera e de um cilin- dro, utilizando um paqu´ımetro. b. Repetir o procedimento 5 vezes. c. Calcular o valor me´dio das medidas obtidas. d. Calcular o erro estat´ıstico das medidas e determi- nar as suas respectivas incertezas. e. Medir a massa das duas pec¸as e estimar o erro sistema´tico associado a` balanc¸a. f. Calcular o volume das pec¸as e determinar as res- pectivas incertezas no volume. g. Calcular a densidade das pec¸as e determinar a incerteza na densidade. Precisa˜o do Microˆmetro Repetir todos os procedimentos anteriores, utilizando dessa vez um microˆmetro. V. ANA´LISE DOS RESULTADOS Ao final das medic¸o˜es ou dos ca´lculos, fac¸a os arre- dondamentos necessa´rios de forma a apresentar valo- res e incertezas sempre com o mesmo nu´mero de casas decimais. Na˜o se esquec¸a de identificar claramente nas tabelas as unidades dos valores apresentados! VI. ALGUNS PONTOS A SEREM DISCU- TIDOS • Analisando seus dados e as dificuldades encontra- das, quais sa˜o suas concluso˜es sobre a precisa˜o e as limitac¸o˜es das medidas realizadas com o paqu´ımetro e o microˆmetro? • Ficou evidente que para se ter medidas mais preci- sas e´ necessa´rio o uso de instrumentos mais precisos? • Comparando os seus resultados com os valores apre- sentados na Tabela 1, e´ poss´ıvel identificar o tipo de material das pec¸as medidas. • Organize todos os seus resultados, separando por tipo de pec¸as e instrumentos de medida utilizados. Disponha-os em tabelas de acordo com o modelo pro- posto no anexo IX deste roteiro. VII. BIBLIOGRAFIA [1] J.H. Vuolo, “Fundamentos da Teoria de Erro”, Sa˜o Paulo: Edgard Blucher (1996). [2] Texto adaptado da Apostila “Laborato´rio de F´ısica Experimenta” da Universidade Federal do ABC (UFABC). [3] Texto adaptado da Apostila “Laborato´rio de F´ısica I” do Instituto de F´ısica de Sa˜o Carlos da Uni- versidade de Sa˜o Paulo (IFSC-USP). [4] Texto adaptado da Apostila “Medidas diretas e propagac¸a˜o de erros”. Roteiro para as pra´ticas de F´ısica Teo´rica e Experimental I da Universidade Es- tadual do Rio de Janeiro (FAT-UERJ). [5] Texto adaptado da Apostila “Instrumento, medidas e in- certezas”. Roteiro para as pra´ticas de F´ısica Teo´rica e Experimental I da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FAT-UERJ/2015). VIII. APEˆNDICE • Quando e´ necessa´rio mais precisa˜o, podemos usar 4 um paqu´ımetro, como o mostrado na Figura 1. Para medirmos diaˆmetros externos, colocamos a pec¸a entre as esperas (a), no caso de medidas internas usamos as esperas (b), e para medir a profundidade de um orif´ıcio usamos a haste (c). O cursor e´ uma pec¸a que move as treˆs partes ao mesmo tempo, e deve ser des- lizado ate´ que se acomode ao corpo que esta´ sendo medido. Em geral ele possui um trava como a mar- cada pela letra (d), que deve ser pressionada para que o cursor possa ser deslocado. Para fazer a leitura do comprimento, usamos uma escala chamada vernier, que vemos em detalhe na parte inferior direita da Figura 1. Pela posic¸a˜o do zero vemos qual sera´ aproximadamente o valor da medida, na figura, 1, 2 cm mais alguns cente´simos de cent´ımetro que iremos descobrir quanto valem verifi- cando quais dos riscos do vernier coincide com um dos riscos da escala. Vemos que este e´ o caso do se´timo risco, portanto a leitura e´ 1, 270± 0, 005 cm. Caso o paqu´ımetro na˜o tenha a precisa˜o necessa´ria podemos usar o microˆmetro (veja Figura 2). Neste caso, posicionamos o objeto e fazemos a leitura que no nosso caso e´ 4, 82± 0, 01 mm. IX. Tabelas e Figuras Tabela 1: Densidade t´ıpica de alguns materiais. Material Densidade [g/cm3] Alumı´nio 2, 70 Lata˜o 8, 53 Ferro 7, 87 Cobre 8, 92 Acr´ılico 1, 19 Ac¸o 7, 83 PVC r´ıgido 1, 40 Nylon 1, 12 Polietileno 0, 95 Vidro 2, 0− 2, 9 Tabela 2: Medic¸o˜es das dimenso˜es de objetos feitas com paqu´ımetro. N Desf (±σsist)mm Dcil (±σsist)mm h (±σsist)mm mesf (±σsist) kg mcil (±σsist) kg 1 2 3 4 5 x¯ σest σ Roteiro de pra´tica laboratorial modificado pela prof. Silvaˆnia A. Carvalho (FAT/UERJ). 5 Tabela 3: Medic¸o˜es das dimenso˜es de objetos feitas com microˆmetro. N Desf (±σsist)mm Dcil (±σsist)mm h (±σsist)mm mesf (±σsist) kg mcil (±σsist) kg 1 2 3 4 5 x¯ σest σ Tabela 4: Volume e densidade obtidos com diferentes instrumentos de medida. Instrumento Volume [mm3] Densidade [kg/mm3] Paqu´ımetro Microˆmetro (a) (b) (d) (c) Figura 1: Figura ilustrando um paqu´ımetro e a leitura do mesmo. Figura 2: Figura ilustrando um microˆmetro e a leitura do mesmo. 6
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