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Microbiologia Médica Relação bactéria-hospedeiro 1970: número de células microbianas e células humanas numa proporção de 10:1 em nichos ambientais capazes de fornecem nutrientes, umidade, pH e temperatura. Recentemente os valores estimativos foram corrigidos, numa proporção de 1.3:1, entretanto os micro- organismos encontrados dentro e fora do corpo humano continuam a ser extremamente importantes. O “Human Microbiome Project” é um projeto focado na caracterização detalhada da microbiota humana, entendendo o seu papel no processo saúde-doença. As alterações na composição da microbiota possuem uma ampla correlação com várias doenças e a manipulação dessas comunidades pode servir como tratamento. É importante entender que o processo de colonização é diferente do processo de doença. A colonização ou infecção é um termo utilizado para indicar a presença e multiplicação de um micro-organismo em um hospedeiro. Já a doença ocorre quando se verifica uma alteração do estado normal do organismo, sendo uma alteração da homeostase. Dessa forma, uma infecção pode existir sem doença detectável. Tanto a colonização quanto a doença resultam das inter-relações entre os micro-organismos e seus hospedeiros. Os micro-organismos que habitam os diversos sítios anatômicos do corpo humano e outros animais saudáveis podem ser classificados em dois grupos: microbiota residente e microbiota transitória. Microbiota transitória, transiente ou alóctone: micro-organismos presentes temporariamente nas superfícies externas e internas, geralmente adquiridos pelo contato direto ou com o ambiente (bebidas, alimentos, objetos ou superfícies, poeira). Normalmente são não patogênicos ou potencialmente patogênicos e uma alteração nesse equilíbrio pode causar doença. Esses micro-organismos podem ser eliminados por lavagem; Microbiota residente, autóctone, indígena ou normal: são micro-organismos relativamente fixos em determinados sítios que podem apresentar papel específico, estabelecendo interações positivas ou neutras (não produzem doença em condições normais). Apresentam diversificada habilidade metabólica que permite tanto sua colonização em determinados sítios, quanto a coexistência uns com os outros. A microbiota residente apresenta um papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro, quando em equilíbrio em um sítio específico. Pode haver a produção de substâncias que são utilizadas pelo hospedeiro (ácidos graxos de cadeia curta, vitaminas do complexo B e K), degradação de componentes da dieta não degradados (fibras) pelas enzimas do hospedeiro, desenvolvimento, modulação e maturação do sistema imune do hospedeiro e serve de barreira contra colonização por patógenos (exclusão competitiva). Como exemplo de exclusão competitiva, temos o fato de que a microbiota bacteriana normal da vagina mantem o pH em torno de 4, o que inibe o crescimento excessivo de C. albicans. Quando ocorre uma alteração na microbiota normal da vagina, o pH tende a ficar próximo da neutralidade, o que favorece o crescimento de C. albicans, causando vaginite. A microbiota residente apresenta um caráter anfibiônico. Os micro-organismos podem se comportar como patógenos oportunistas em situações de desequilíbrio ou ao serem introduzidos em sítios não específicos. Como exemplo, temos a E. coli que no intestino delgado é um micro-organismo inofensivo, mas que no trato urinário pode colonizar causando a infecção urinária. Dessa forma, depreende-se que hospedeiro e microbiota possuem uma relação de simbiose, onde pelo menos um depende do outro. A simbiose pode ser comensal, mutualístico ou parasitário. Como exemplo de mutualismo, temos as bactérias do intestino grosso que sintetizam vitaminas B e K, mas que dependem do fornecimento de nutrientes pelo próprio intestino grosso. No trato gastrointestinal humano, os ambientes mais favoráveis para a microbiota residente são o cólon e o jejuno/íleo. Isso porque no cólon o pH é neutro e existe uma abundância de nutrientes. Já no jejuno/íleo, a motilidade intestinal é um pouco mais lenta, o que também favorece a proliferação bacteriana. Estômago e duodeno, entretanto, não são ideais. Na microbiota intestinal elas atuam na modulação do sistema imune, na degradação de componentes não digeríveis da dieta, produção de ácido graxo de cadeia curta, proteção do epitélio intestinal contra patógenos e degradação de produtos tóxicos. Dessa forma, elas atuam de forma importante na manutenção da integridade do hospedeiro, tendo forte impacto na fisiologia e na nutrição do hospedeiro e é crucial para a vida humana. A microbiota residente da pele funciona porque a pele é um ambiente com um baixo conteúdo de umidade, o que favorece o crescimento de micro-organismos resistentes à desidratação, ou seja, cocos gram positivos. A proliferação ocorre principalmente nas glândulas e no folículo piloso, estando presentes cerca de 10 3 -10 4 micro-organismos por centímetro quadrado. Como representantes da microbiota residente da pele, temos Staphylococcus epidermidis que é um micro-organismo não patogênico na pele, mas se atinge outros sítios, como válvulas cardíacas artificiais e articulações prostéticas pode causar doença. Já a Propionibacterium e Peptococcus residem nos folículos mais profundos da derme, onde a tensão de oxigênio é mais baixa (micro-organismos anaeróbios). Já o P. acnes é responsável pela acne. Candida sp. E Malassezia também residem na pele, mas quando atingem a corrente sanguínea podem causar uma grave infecção sistêmica. Já no Acinetobacter é um importante micro-organismo gram negativo que coloniza a pele. Já no trato respiratório superior podemos encontrar uma alta população bacteriana, enquanto no trato respiratório inferior encontramos, em condições normais, poucos ou nenhum micro-organismos. Os elementos envolvidos no processo saúde doença são o ambiente, o agente etiológico e o hospedeiro, sendo que ambos atuam juntos em uma espécie de triângulo. Morte; Doença – alteração do estado normal do organismo; Infecção ou colonização – presença e multiplicação de uma bactéria sem sinais e sintomas; Exposição. Um micro-organismo é patógeno se ele for capaz de causar doença. Dessa forma, patogenicidade pode ser entendida como a propriedade de um micro-organismo de provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, capacidade de produzir doença. A virulência pode ser entendida como o grau de patogenicidade, determinada pelos fatores de virulência expressos pelas células. O resultado da relação bactéria-hospedeiro depende da patogenicidade do micro-organismo (fatores de virulência) e da resistência do hospedeiro (mecanismo de defesa). Os fatores de virulência são estruturas, produtos e estratégias que contribuem par o aumento da capacidade da bactéria de causar doenças. A aderência, por exemplo, geralmente é específica e depende do reconhecimento bactéria-hospedeiro. As adesinas são importantes nesse processo, sendo localizadas em estruturas de superfície da célula e interagem com receptores das células dos hospedeiros. Os fatores relacionados à adesão compreendem os biofilmes, que são comunidades estruturadas de células microbianas envolvidas por exopolissacaraídeos e aderidas à superfícies. Os patógenos escapam da defesa do hospedeiro por fatores anti-fagocitose como a cápsula e a parede celular, dano direto e utilização de nutrientes do hospedeiro (remoção de ferro das proteínas transportadoras do hospedeiro). Já os danos são causados por exotoxinas que são produzidas e liberadasno meio (como citotoxinas, neurotoxinas e enterotoxinas) e endotoxinas (lipídeo A do LPS). Os micro-organismos também produzem enzimas como a coagulase, que transforma o fibrinogênio em fibrina, formando um coágulo no sangue que protege a bactéria contra a fagocitose, colagenase que faz a hidrólise do colágeno e invasinas que causam o rearranjo de filamentos de actina do citoesqueleto celular. Além disso, os micro-organismos também podem produzir toxinas como a enterotoxina do Vibrio cholerae que causa um aumento da secreção de líquidos e eletrólitos pelas células intestinais. Já as endotoxinas estão presentes na porção externa da parede celular de bactérias gram-negativas, sendo que as bactérias mortas liberam endotoxinas que causam febre, inflamação, diarreia, choque e coagulação sanguínea. Propriedade Exotoxina Endotoxina Relação com a bactéria Produto metabólico Presente LPS Propriedade química Proteína Lipídeo Efeito no organismo Específica para estrutura ou função Geral Indução de febre Não Sim Fonte bacteriana Gram positiva e gram negativa Gram negativa As portas de entrada para os micro-organismos são o trato respiratório, gastrointestinal, geniturinário, conjuntiva, pele e via parenteral. Pelo trato respiratório ocorre a inalação de micro-organismos ou contaminação através de gotículas de umidade e partículas de pó. Streptococcus pneumoniae, por exemplo, pode causar pneumonia, enquanto Mycobacterium tuberculosis e Bordatella pertusis podem causar, respectivamente, tuberculose e coqueluche. No trato gastrointestinal, Shigella spp., Salmonella enterica e Salmonella typhi podem causar, respectivamente shigelose, salmonelose e febre tifoide. No trato geniturinário temos Neisseria gonorrhoeae, Treponema pallidum e Chlamydia trachomatis causando gonorreia, síflis e uretrite, enquanto na pele Clostridium tetani, Rickettsia rickettsii e Clostridium perfringens causam tétano, febre maculosa e gangrena gasosa. As portas de saída costumam a serem as secreções, excreções ou tecidos que descamam, sendo geralmente a mesma porta de entrada. Os fatores relacionados ao hospedeiro também interferem na patogênese. As barreiras físicas e químicas são de grande importância nesse processo, bem como as respostas imunes inatas e adaptativas. Os fatores de risco, por sua vez, relacionam-se com a idade, estresse e dieta e hospedeiros comprometidos. Staphylococcus e outros cocos gram-positivos relacionados Cocos gram positivos de relevância em saúde humana Os cocos gram-positivos compõe um grupo heterogêneo de bactérias que apresentam como características comuns: Forma esférica; Reação a coloração de Gram; Ausência de endósporos; São imóveis. A ausência ou a presença da atividade catalase é um teste simples para subdivisão em gêneros. Catalases são enzimas que convertem o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio gasoso. Assim, quando é colocada uma gota de peróxido de hidrogênio em uma cultura de bactérias produtoras de catalase, aparecem bolhas decorrentes do oxigênio formado. Staphylococcus são catalase-positivos e Streptococcus e Enterococcus são catalase-negativos. Staphylococcus Os Staphylococcus podem apresentar-se como cachos de uvas, células isoladas, aos pares ou cadeias curtas. Tem entre 0,5 micrômeros e 1,5 de diâmetro, podem crescer de forma aeróbia e anaeróbia (anaeróbios facultativos), na presença elevada de sal (halotolerantes, 7-10% de NaCl) e são mesófilas – 18 a 40 graus. A distribuição é ubíqua e estão presentes na microbiota normal de humanos e animas (pele e membranas mucosas), sendo que, por exemplo, os Staphylococcus normalmente colonizam a nasofaringe de 15-40% dos adultos de forma assintomática. Os Staphylococcus são de grande importância médica por causarem infecções oportunistas e doenças sistêmicas – infecções de pele, tecidos moles, ossos e trato urinário. As espécies mais comumente associadas a doenças humanas são: Staphylococcus aureus – membro mais virulento conhecido do gênero, coagulase positivos, MRSA – resistentes à meticilina. São conhecidos como agentes de infecções graves em pacientes hospitalizados e, também, no ambiente extra-hospitalar em crianças e adultos previamente sadios. As colônias de S. aureus podem apresentar uma coloração amarelo-ouro, como resultado da expressão de pigmentos carotenoides que se formam durante o seu crescimento. Quando uma colônia de S. aureus é suspensa em plasma, a coagulase se liga a um fator sérico, e este complexo converte fibrinogênio em fibrina, resultando na formação de um coágulo. Staphylococcus epidermidis; Staphylococcus haemolyticus; Staphylococcus saprophyticus, sendo que essas últimas são coagulases negativas. S. aureus Mediada por toxina – intoxicação alimentar, síndrome da pele escaldada, síndrome do choque tóxico; cutânea – carbúnculo, foliculite, furúnculo, impetigo, infeções de feridas); outras (bacteremia, endocardite, pneumonia, empiema, osteomielite, artrite séptica. S. epidermidis Bacteremia; endocardite; feridas cirúrgicas; infecções oportunistas de cateteres, derivações, dispositivos prostéticos e diálise peritoneal. S. haemolyticus Bacteremia; endocardite; infecções dos ossos e articulações; infecções do trato urinário; infecções de feridas; e infecções oportunistas. S. sapropyticus Infecções do trato urinário; infecções oportunistas. A parede celular de muitos Staphylococcus é recoberta por uma cápsula polissacarídica. A cápsula tem ação protetora porque inibe a fagocitose do microorganismo pelos leucócitos polimorfonucleados. A maioria dos estafilococos produz, em quantidades variáveis, um filme frouxamente ligado e hidrossolúvel (camada mucoide ou biofilme). Essa substância extracelular possibilita a ligação da bactéria aos tecidos, dispositivos médicos ou corpos estranhos, como cateteres, enxertos, próteses valvulares ou articulares e derivações, sendo particularmente importante para a sobrevivência dos estafilococos coagulase-negativos relativamente não virulentos. A cápsula é importante porque recobre opsioninas protegendo a bactéria da fagocitose e a camada mucoide extracelular também interfere na fagocitose. Ao contrário das bactérias gram-negativas, o peptideoglicano das gram-positivas consiste em muitas camadas unidas por ligações cruzadas, o que torna a parede celular mais rígida. A resistência bacteriana à meticilina e às prenicilinas relacionadas é mediada pela aquisição de um gene que codifica uma proteína ligadora de uma penicilina alterada, que apresenta baixa afinidade por meticilina, penicilinas relacionadas e cefalosporinas. O peptideoglicano tem uma atividade semelhante à endotoxina, estimulando a produção de um pirógeno endógeno. Staphylococcus aureus Os Staphylococcus aureus são bactérias encontradas na microbiota normal do trato respiratório superior e na pele e são coagulase positivas. O principal reservatório é na mucosa nasal, estando presente em até 40% da população adulta que é assintomática. É de grande importância em casos de contaminação pelas mãos, gerando infecções por contato e em profissionais da saúde. Sua disseminação se dá pelo contato direto ou por exposição a objetos contaminados como roupas de cama, vestimentas e etc. Os fatores de risco incluem a presença de corpos estranhos como cateteres, próteses, farpas, suturas e procedimentos cirúrgicos. A equipe médica pode prevenir a disseminação através da antissepsia das mãos. Os principais fatores de virulência da S. aureus são: Escape da fagocitose; Aderência às células do hospedeiro; Produção de toxinas e enzimas líticas (a coagulase, por exemplo, protege a bactéria dentro da cápsula). A cápsula polissacarídica e a camada limosa geram a evasão da fagocitose, facilita a adesãodas células do hospedeiro, dispositivos médicos e corpos estranhos; O peptideoglicano estimula a produção de IL-1 e ácidos teicoicos; A proteína A promove a fixação à célula hospedeira e a ligação à porção Fc de IgG. Uma grande quantidade de proteínas de superfície foi identificada em S. aureus. Estas são importantes para adesão às proteínas da matriz ligadas aos tecidos dos hospedeiros. A patogenia das infecções por estafilococos depende da habilidade da bactéria em evadir da fagocitose, expressar proteínas de superfície que medeiam a adesão aos tecidos do hospedeiro e produzir dano tecidual através da elaboração de toxinas específicas e enzimas hidrolíticas. Além disso, as S. aureus produzem enzimas líticas, tais como: Coagulase – transforma fribrinogênio em fibrina que forma um coágulo protegendo a bactéria da fagocitose; Lipases – hidrolisam lipídeos e asseguram a sobrevivência dos estafilococos nas áreas sebáceas do corpo; Hialuronidase – hidrolisa os ácidos hialurônicos presentes na matriz do tecido conjuntivo o que promove a disseminação bacteriana; Fibrinolisina (estafiloquinase) – pode dissolver coágulos de fibrina o que promove a disseminação bacteriana; Nuclease – hidrólise do DNA, diminuindo a viscosidade o que favorece a disseminação bacteriana. Toxinas estafilocócicas S. aureus produz muitas toxinas, incluindo cinco citolíticas ou que danificam membranas, duas toxinas esfoliativas, 18 enterotoxinas e a toxina- 1 da síndrome do choque tóxico. As citotoxinas são tóxicas para leucócitos, eritrócitos, hepatócitos e plaquetas; As toxinas esfoliativas causam lesão tecidual por destruição dos desmossomos; Enterotoxinas é um superantígeno que aumenta o peristaltismo intestinal gerando perda de fluídos; Toxina-1 da síndrome do choque tóxico é um superantígeno que causa lesão tecidual. Fatores de Virulência Efeitos Biológicos Componentes Estruturais Cápsula Inibe a quimiotaxia e a fagocitose; inibe a proliferação de células mononucleares; Camada mucoide Facilita a aderência a corpos estranhos; inibe a fagocitose; Peptideoglicano Confere estabilidade osmótica, estimula a produção de pirógeno endógeno, formação de abcessos e inibe a fagocitose; Ácido teicoico Liga a fibronectina; Proteína A Se liga aos receptores Fc de IgG; fixação à célula hospedeira; Toxinas Citotoxinas Tóxicas para muitas células, incluindo eritrócitos, fibroblastos, leucócitos, macrófagos e plaquetas; Toxinas esfoliativas Proteases que clivam as pontes intercelulares no estrato granuloso da epiderme; Enterotoxinas Superantígenos; estimulam a liberação de mediadores inflamatórios em mastócitos; aumentam o peristaltismo intestinal e a perda de fluídos, bem como náuseas e vômitos; Toxina-1 da síndrome do choque tóxico Superantígeno; determina o extravasamento de líquidos ou destruição de células endoteliais; Enzimas Coagulase Converte fibrinogênio em fibrina; Hialuronidase Hidrolisa o ácido hialurônico no tecido conjuntivo promovendo a disseminação bacteriana; Lipase Hidrolisa lipídeos; Nuclease Hidrolisa DNA. Doenças Clínicas A S. aureus causa doença através da produção de toxinas ou da invasão direta e destruição do tecido. Na presença de corpos estranhos, como por exemplo, um cateter, um número significativamente menor de estafilococos é necessário para estabelecer uma doença. 1. Doenças Inflamatórias Infecções Piogênicas na pele: Foliculite é a infecção do folículo piloso decorrente de obstrução. A base do folículo é avermelhada e elevada, sendo conhecida como terçol quando atinge a base da pálpebra. Furúnculo é a extensão da foliculite sendo encontrados nódulos elevados, grandes e doloridos que são drenados espontaneamente ou após uma incisão cirúrgica. Carbúnculo são vários furúnculos que formam carbúnculos, estendendo-se para o tecido subcutâneo mais profundo, havendo múltiplos pontos de drenagem e estanho localizados comumente na nuca ou nas costas. 2. Intoxicações Síndrome da Pele Escaldada ou Doença de Ritter é caracterizada pelo aparecimento abrupto de um eritema perioral localizado que se espalha pelo corpo em dois dias. A descamação da epiderme se dá pela ação de uma toxina esfoliativa sendo que, de 7-10 dias após a infecção o epitélio se torna novamente intacto por ação de anticorpos. As bolhas não deixam cicatrizes porque só a camada superior da pele é descamada e é mais comum em neonatos, crianças e adultos imunocomprometidos. Impetigo Bolhoso é uma infecção superficial que afeta principalmente crianças pequenas, atingindo principalmente a face e os membros. É uma forma localizada da síndrome da pele escaldada e é contagiosa, estando associada a formação de bolhas superficiais na pele. Síndrome do Choque Tóxico é uma doença de grande importância principalmente em mulheres no período menstrual pela contaminação de absorventes internos. Ocorre um crescimento localizado da bactéria (na vagina ou em feridas) e a liberação da toxina ocorre na corrente sanguínea. Os sintomas incluem febre alta, eritema difuso com descamação da pele. Pode haver destruição das células endoteliais gerando hipotensão e morte por falência múltipla dos órgãos em 5% dos casos. Intoxicação Alimentar Estafilocócica é uma doença de origem alimentar de maior prevalência no Brasil, sendo que pode ser causada por 18 tipos de enterotoxinas resistentes a várias proteases e termoestáveis. Pode ser adquirida através de produtos manipulados e mantidos à temperatura ambiente (carnes, bolos recheados com creme, sorvetes) sendo que o calor é capaz de matar as bactérias, mas não inativa a toxina. Os sintomas se dão de 1-6h após a ingestão do alimento, sendo caracterizados por vômitos, náusea, diarreia, dor abdominal, podendo estar presente dor de cabeça, sudorese e ausência de febre. O tratamento deve ser feito com a reposição de fluidos e o alívio da dor abdominal. A duração da doença é de em média 24h e há baixos índices de mortalidade. Atenção para as cepas de estafilococos resistentes 1960: surgimento de cepas resistentes à penicilina; 1970/1980 surgimento de cepas resistentes à meticilina; 1997, Japão: cepas de S. aureus resistentes à vancomicina. Staphylococcus coagulase-negativos Possuem importância patogênica em dispositivos e aparelhos implantados (próteses, cateteres, válvulas cardíacas), pacientes hospitalizados e imunocomprometidos. Os organismos de importância são: Staphylococcus epidermidis; Staphylococcus haemolyticus; Staphylococcus saprophyticus. Staphylococcus epidermidis Fazem parte da microbiota normal da pele e mucosa, sendo colônias não pigmentadas. São bem menos virulentos que o S. aureus e isso se dá pela ausência de coagulase e baixa produção de enzimas líticas. Em contrapartida, há a presença de fatores de adesão e elevada capacidade de formação de biofilmes. As doenças mais comuns causadas por Staphylococcus epidermidis são bacteremia, endocardite, infecções de próteses, cateteres e válvulas cardíacas. Streptococcus Os Streptococcus são cocos que se arranjam aos pares – diplococos ou em cadeias – estreptococos. São anaeróbios facultativos que possuem exigências nutricionais variáveis. Habitam a microbiota das mucosas do trato respiratório superior, genital e digestivo e alguns membros não são patogênicos. São organismos catalase negativos, mas apresentam cápsula. São importantes em infecções do trato respiratório e septicemia, pneumonia, otite, meningite, faringite, febre reumática, endocardite, cárie dentária e mastite bovina. A classificação taxonômica é complicada, sendo que são usados três critérios que se sobrepõe: grupos antigênicos ou grupos de Lancefield, padrão hemolítico e propriedades bioquímico-fisiológicas. Classificação de gruposantigênicos ou grupos de Lancefield: baseado em antígenos capsulares e polissacarídeos da parede celular (grupo- específico). Os grupos se subdividem de A a W, sendo importante na diferenciação das linhagens beta hemolíticas. As linhagens alfa e gama normalmente não possuem antígenos específicos. Classificação de padrão hemolítico em ágar sangue: alfa-hemólise, parcial; beta-hemólise, completa; gama hemólise, não hemolíticos. Classificação de acordo com propriedades bioquímico-fisiológicas: fermentação de açúcares, presença de enzimas e sensibilidade a agentes químicos. Classificação sorológica Padrão de hemólise S. pyogenes A Beta S. agalactiae B Beta, ocasionalmente não hemolítico S. equi, dysgalactiae C, F, G Beta, ocasionalmente alfa ou não hemolítico S. bovis, equinus D Beta, alfa, ocasionalmente não hemolítico Grupo Viridans Não grupável Alfa ou não hemolítico S. pneumoniae Não grupável Alfa Streptococcus pyogenes São do grupo A, sendo também beta hemolíticos. Possuem uma cápsula composta de ácido hialurônico. São relacionados a doenças supurativas (como faringite, febre escarlatina, piodermatite estreptocócica, erisipela, celulite, fasciite necrosante, síndrome do choque tóxico estreptocócico, febre puerperal, bacteremia) e doenças não supurativas (febre reumática, glomerulonefrite aguda). A fasciite necrosante é uma doença característica causada por Streptococcus pyogenes, sendo conhecida como “bactéria que come carne”. A virulência da S. pyogenes se dá principalmente por: Escape da fagocitose; Aderência às células do hospedeiro; Produção de toxinas e enzimas líticas. O quadro de virulência é característico devido a presença de macromoléculas de adesão (proteína M, ácido lipoteicóico), síntese de hialuronidase, estreptolisinas (lisa eritrócitos, leucócitos e plaquetas), proteases, estreptoquinase (dissolve coágulos, o que permite a disseminação), DNAse (diminui a viscosidade do abscesso, promovendo a disseminação); através da evasão da fagocitose (cápsula) e pela produção de exotoxinas pirogênicas (superantígenos, associados à síndrome do choque tóxico, febre escarlatna e fasciite necrosante). Doenças Supurativas 1. Faringite estreptocócica tem como característica dor de garganta, febre, mal estar e dor de cabeça, sendo observada uma faringite avermelhada com exsudato geralmente presente. Cerca de 20% dos casos são assintomáticos; 2. Febre escarlatina é uma doença causada por complicações da faringite estreptocócica (1 a 2 dias após os sintomas iniciais da faringite). Ocorre a produção de uma exotoxina pirogênica. A doença se caracteriza pelo aparecimento de erupções eritematosas difusas – principalmente na região superior do tórax e se espalha para as extremidades, sendo que, normalmente a área ao redor da boca é poupada. Pode ser observado também um sinal clássico – a língua de morango; 3. Piodermatite estreptocócica (impetigo) infecção purulenta localizada nas camadas superficiais da pele, principalmente em crianças. É causada por lesões traumáticas e contato direto, sendo altamente transmissível; 4. Erispela infecção aguda da pele onde há dor localizada, inflamação, aumento dos linfonodos, edema maciço, calafrios e febre. A região lesionada fica tipicamente mais elevada e essa doença, de rápida progressão, acomete mais crianças e idosos; 5. Celulite também é uma infecção aguda da pele que afeta os tecidos subcutâneos mais profundos. Os sinais de inflamação local e sistêmica são dados pela invasão e rápida disseminação do patógeno, sendo associada a traumatismos, queimaduras, feridas ou incisões cirúrgicas. A identificação precisa do micro-organismo causador da celulite é importante porque vários podem ser responsáveis pelo quadro; 6. Fasciite necrosante é uma infecção da camada profunda do tecido subcutâneo, com necrose extensa, destruição da musculatura e do tecido adiposo. A bactéria é introduzida no organismo através de uma ruptura na pele (corte, trauma, queimadura, cirurgia), sendo que devido à toxicidade pode haver falência múltipla de órgãos e a taxa de mortalidade é maior do que 50%. Deve ser aplicado rapidamente o tratamento com base na antibioticoterapia e no procedimento cirúrgico visando o debridamento do tecido infectado; 7. Síndrome do choque tóxico estreptocócico inflamação do tecido no sítio da infecção, dor e sintomas inespecíficos (febre, calafrios, mal-estar). Ocorre a produção de exotoxinas pirogênias, sendo que esse quadro normalmente é concomitante com bacteremia e fasciite necrosante. O grupo de risco para essa condição é o de indivíduos imunocomprometidos; 8. Febre puerperal causada por penetração de estreptococos no útero após o parto, podendo progredir para a septicemia; 9. Bacteremia maioria das hemoculturas de pacientes com fasciite necrosante e síndrome do choque tóxico é positiva para S. pyogenes. A taxa de mortalidade é próxima de 40%. Doenças não supurativas 1. Febre reumática é uma complicação da faringite por S. pyogenes, sendo a sequela mais grave. Ocorre uma resposta cruzada de anticorpos contra antígenos de membrana com antígenos do músculo cardíaco, gerando um dano crônico e progressivo às válvulas cardíacas. Os sintomas são febre, mal estar, alterações inflamatórias no coração, articulações, vasos sanguíneos e tecido subcutâneo. 2. Glomerulonefrite aguda é uma doença associada à faringite estreptocócica e a infecções cutâneas, sendo característica a formação de complexos antígeno-anticorpo que se depositam. Ocorre inflamação aguda do glomérulo renal com edema, hipertensão, hematúria e proteinúria. Na forma crônica, pode haver insuficiência renal. Streptococcus agalactiae É a única espécie do grupo B de Lancefield, sendo beta-hemolítica. Essas bactérias fazem parte do trato gastrointestinal e geniturinário e o principal fator de virulência é a presença de uma cápsula. É de grande importância nos quadros de meningite e pneumonia em neonatos e em quadros de endometrite e ITU em gestantes. As mulheres grávidas podem ser portadoras transitórias do S.agalactiae, sendo importante a administração de ampicilina intravenosa. Em homens e mulheres não grávidas, a espécie é importante em quadros infecciosos da pele, ITU, bacteremia e pneumonia. Estreptococos do grupo Viridans Compõe um grupo heterogêneo de estreptococos alfa-hemolíticos e não hemolíticos. “Viridans” significa verde em latim e esse nome se dá pela coloração produzida pela alfa-hemólise. Os principais representantes são S. mitis, S. mutans, S. salivarius, S. sanguis. Essas bactérias colonizam a orofaringe, o trato gastrointestinal e o geniturinário. São raramente encontrados na pele (toxicidade dos ácidos graxos) e são nutricionalmente mais exigentes (meios contendo sangue e CO2). As doenças relacionadas são a cárie, causada pelo Streptococcus mutans que produz um polímero extracelular que promove a adesão à superfície dental e ácidos e a endocardite bacteriana onde micro-organismos alcançam a corrente sanguínea após o trauma, se aderem e colonizam válvulas cardíacas. Streptococcus pneumoniae Diplococos (pneumococo), sendo que as linhagens virulentas apresentam cápsula. O polissacarídeo capsular possui 90 sorotipos. São organismos alfa-hemolíticos, fastidiosos (necessitam de um meio suplementado com sangue) e são encontrados na microbiota normal das vias aéreas superiores. A patogênese se dá por infecções causadas por disseminação endógena, da orofaringe ou nasofaringe para outros sítios como os pulmões, seios paranasais, ouvido e meninges, sendo que a disseminação interpessoal é rara. O Streptococcus pneumoniae está associado a pneumonia, bronquite, sinusite, otite, bacteremia e meningite. Fatores de Virulência do S. pneumoniae Evasão da fagocitose: cápsula quepromove a sobrevivência em fagócitos; Colonização e disseminação: adesinas, proteases IgA e pneumolisina (citotoxina); Destruição tecidual: mobilização de células inflamatórias para o foco infeccioso, pela presença de ácidos teicoicos, peptideoglicano e pneumolisina. Epidemiologia: crianças e idosos apresentam maior risco para meningite e os fatores que predispõe a doença são anormalidades no trato respiratório, intoxicação por álcool e drogas e dinâmica circulatória anormal. Enterococcus São diplococos de cadeia curta, anaeróbios facultativos que pertencem a microbiota do trato gastrointestinal. Pertencem a classe de não hemolíticos, mas ocasionalmente podem apresentar-se como alfa-hemolíticos. São capazes de tolerar condições ambientais adversas, sendo halotolerantes e resistentes aos sais biliares. Das 40 espécies conhecidas, duas possuem uma grande importância clínica: Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium. As infecções são de caráter endógeno ou causadas por transmissão. Os fatores de virulência incluem adesão às células do hospedeiro e formação de biofilmes, resistência à antibióticos (frequentes em infecções adquiridas no hospital em pacientes imunocomprometidos, em antibioticoterapia de largo espectro ou em uso de cateteres) (infecções do trato urinário, peritônio e tecido cardíaco, infecções intra-abdominais, de feridas, podendo estar presentes em infecções polimicrobianas). Podemos observar uma resistência intrínseca a vários antibióticos e drogras antimicrobianas, sendo que em infecções graves pode ser necessária a terapia combinada de penincilina/vancomicina + aminoglicosídeo. Os genes de resistência são veiculados por plasmídeos, sendo o processo de transferência horizontal de grande importância. Bactérias Gram-Negativas e outras bactérias de importância no TGI É importante lembrar que as bactérias gram-negativas possuem membrana plasmática, uma fina camada de peptídeoglicano e membrana externa. Além disso, essas bactérias possuem uma endotoxina capaz de promover a resposta pirogênica. Um macrófago ingere uma bactéria gram-negativa e essa bactéria é degradada num vacúolo, liberando endotoxinas que induzem a produção de IL-1 e TNF pelo macrófago. Essas citocinas são liberadas na corrente sanguínea e atingem o hipotálamo onde ocorre a produção de prostaglandinas que alteram o termostato hipotalâmico gerando febre. As bactérias gram-negativas de interesse médico podem ser divididas em: Enterobactérias: Escherichia coli, Salmonella, Shigela, Yersinia enterocolitica, Klebsiella, Proteus, Vibrio cholerae, Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumanni. Os fatores de virulência são: Adesinas, que geram a adesão e a colonização do epitélio; Integrinas que causam mudança na conformação da membrana (citoesqueleto) da célula epitelial para que a célula seja capaz de englobar a bactéria, de forma que a invasão à célula seja mais fácil; Cápsula; Sideróforos (complexos que sequestram o ferro que seria utilizado pela célula); Elementos genéticos extra cromossomais (plasmídeos) – genes que geram resistência aos antimicrobianos; Endotoxinas e exotoxinas. Escherichia coli – enterotoxina termo-lábil e enterotoxina termo-estável; Klebsiella pneumoniae – toxina termo-estável; Shigella dysenteriae – toxina shiga. As principais infecções causadas pela família Enterobacteriaceae são infecções intestinais (enteropatogênicas) – E. coli,Shigella, Salmonella e Yersinia enterocolitica. São infecções causadas por linhagens patogênicas. Outro problema relacionado a família das enterobactérias são as infecções oportunistas – urinárias, pós-cirúrgicas, de feridas, meningites, bacteremia, pneumonia, endocardite, sepse entre outras. Infecções Intestinais Gastroenterite – sintomas como náuseas, vômitos, diarreia e desconforto abdominal; Diarréia – fezes frequentes e/ou líquidas; geralmente resulta de doença no intestino delgado e envolve perda de fluidos e eletrólitos; Disenteria – doença inflamatória do TGI, frequentemente associada com sangue e pus nas fezes e acompanhada de sintomas como dor, febre, cólicas abdominais; geralmente resulta de doença no intestino grosso. Escherichia coli São bacilos gram-negativos não esporulados e anaeróbios facultativos. Causam síndromes como gastroenterites, disenteria, septicemia, pneumonias, meningite, sendo que o habitat é o trato gastrointestinal de homens e animais. Quando isolada em água e alimentos é um indicador de condições higiênicas insatisfatórias devido a contaminação fecal. Os patotipos, ou linhagens patogênicas de E. coli são: E. coli enterotoxigênica – ETEC, E. coli enteropatogênica – EPEC, E. coli enteroinvasiva – EIEC, E. coli enterohemorrágica – EHEC e E. coli enteroagregativa – EAEC E. coli enterotoxigênica – ETEC Encontrada na água ou em alimentos contaminados, causando diarreia infantil ou diarreia do viajante. As fímbrias dessa bactéria aderem especificadamente ao epitélio do intestino delgado onde produzem toxinas termoestáveis (ST) e toxinas termolábeis (LT). As características de uma infecção por E. coli enterotoxigênica são: diarreia não sanguinolenta, sem exsudatos inflamatórios e similar à cólera. E. coli enteropatogênica – EPEC Também é encontrada na água e em alimentos contaminados, possuindo plasmídeos como genes que codificam um fator de aderência – o que garante a adesão à mucosa intestinal. Quando se fixam na mucosa intestinal, promovem a destruição das microvilosidades, o que causa uma diarreia comum principalmente em crianças. E. coli enteroinvasiva (EIEC) Encontradas em água e alimentos contaminados, as bactérias se aderem, invadem e destroem as células epiteliais do cólon se espalhando lateralmente. Esse processo gera uma diarreia aquosa com sangue e leucócitos (disenteria). Acomete crianças e adultos. E. coli enterohemorrágica (EHEC) Contágio por alimentos contaminados, sendo que a dose infecciosa é baixa (<100 bactérias). Esse patotipo de E. coli causa desde diarreias leves até colites hemorrágicas. As toxinas liberadas por esse patotipo inibem a síntese proteica, sendo o mais comum E. coli O157:H7 presente em alimentos mal cozidos. E. coli enteroagregativa (EAEC) Essas bactérias se caracterizam por um padrão de aglutinação semelhante a um arranjo de parede de tijolos. Há formação de um biofilme sobre as células epiteliais, o que leva a lesão da mucosa e secreção de muco. A diarreia causada por esse patotipo é mais comum em crianças e é persistente – dura cerca de 14 dias. Infecções extra-intestinais causadas por E. coli Infecções urinárias: representam cerca de 80% das infecções urinárias adquiridas na comunidade; Meningite neonatal; Infecções de feridas cirúrgicas ou traumáticas; Bacteremias. Klebsiella K. pneumoniae – encontrada em 95% das amostras isoladas. É uma bactéria que possui cápsula e se caracteriza por um crescimento mucoide. As amostras hospitalares são multirresistentes a drogas e causam infecções pós-cirúrgicas, de vias urinárias, pneumonia, endocardite. Estão entre os dez principais patógenos causadores de infecções hospitalares. Proteus Espécies: P. mirabilis e P. vulgaris. Produzem urease – o que causa a hidrólise da ureia com consequente aumento do pH desse líquido, o que favorece a formação de cálculos renais por precipitação de sais de Ca e Mg. Apresentam flagelos peritríqueos de alta mobilidade o que confere a formação de um véu em meio sólido. São bactérias causadoras de infecções urinárias crônicas, pneumonia e bacteremia. Salmonella São bacilos gram-negativos incapazes de produzir esporos e anaeróbios facultativos. O pH ótimo de crescimento é de 7,0, sendo que algumas estirpes são resistentes ao ambiente ácido (suportam uma faixa de pHentre 4-9). A temperatura ótima de crescimento é de 35-37 graus, mas podem crescer de cinco a quarenta e cinco graus. São responsáveis pela febre tifoide, entérica e salmonelose. Patogênese da febre tifoide e entérica e salmonelose Essas doenças podem ser divididas em três grupos: Frebre tifoide (S. typhi) transmitida pela água e alimentos contaminados com material fecal humano. Os sintomas são mais graves incluindo febre alta, diarreia, vômitos e septicemia. A duração dos sintomas é de 1-8 semanas; Febre entérica (S. paratyphi) semelhante à tifoide, mas com sintomas mais brandos e duração de no máximo 3 semanas.; Salmoneloses (demais espécies de Salmonella – S. enteritidis e S. typhimurium) sintomas como diarreia, febre, dores abdominais e vômitos. O período de incubação é de 12-36h e os sintomas duram de 1-4 dias. Shigella dysenteriae É um bacilo gram-negativo anaeróbio facultativo que é ativo numa temperatura de 10-48 graus. Não são resistentes ao calor e o habitat natural dessas espécies é o trato gastrointestinal de homens e primatas. A S. dysenteriae é responsável pela shigelose ou disenteria. Shigelose – doença característica por uma baixa dose infecciosa – de 10 a 100 células, sendo que os sintomas aparecem de 1 a 3 dias após a infecção (no intestino delgado a bactéria libera uma enterotoxina). Os sintomas são de cólicas abdominais, febre e fezes sanguinolentas com pus. Geralmente a doença é autolimitada e a antibioticoterapia é recomendada para reduzir o risco de disseminação da deonça para outras pessoas. Yersinia enterocolitica São bastonetes gram-negativos, anaeróbios facultativos móveis e psicrotróficos (resistentes ao congelamento), mas que crescem em temperaturas mesófilas também. Crescem em ambientes terrestres, águas de lagos, nascentes e rios, homens e outros animais. Em salinidade o crescimento é de 5%. A ocorrência em alimentos se dá em tortas, carnes, frutos do mar, vegetais, leite e outros produtos alimentícios. Causa gastroenterite e os sintomas são febre, diarreia, fortes dores abdominais, vômitos, dor de cabeça. A toxina é termoestável e resistente a lipases e proteases, estimulando a adenilato-ciclase e a resposta AMPc no intestino. Vibrio cholerae São vibriões gram-negativos, anaeróbios facultativos, móveis e halotolerantes. Habitam o trato gastrointestinal de homens, animais, águas oceânicas e costeiras. É o agente etiológico da cólera, responsável pela toxina colérica. A transmissão se dá por contaminação fecal (água e alimentos) e os reservatórios são frutos do mar (camarões e ostras). As bactérias são sensíveis aos ácidos do estomago. Sete pandemias da cólera já foram registradas, sendo que o período de incubação da doença é de seis horas cinco dias. Os sintomas são de diarreia moderada ou intensa, dores abdominais, câimbras, náuseas, vômitos, tonturas. A infecção é autolimitada, durando de um a cinco dias. Os casos mais severos são perda de mais de um litro de fezes por hora – levando a perda rápida de líquidos e morte na ausência de terapia. Ocorre aumento da secreção de líquidos e eletrólitos pelas células intestinais o que é a causada diarreia intensa. A diarreia tem característica de água de arroz sendo não hemorrágica, o que causa uma desidratação severa, falhas cardíacas e renais. A enzima mucinase: dissolve a capa protetora das células intestinais de célula intestinais, permitindo aderência. Pseudomonas São anaeróbios estritos e móveis, sendo ubíquos – normais na microbiota do homem. São bactérias de crescimento rápido, com uma grande diversidade metabólica exigências nutricionais mínimas. São considerados patógenos oportunistas e são resistentes a maioria dos antimicrobianos utilizados. Em geral, as infecções oportunistas são localizadas ou sistêmicas e são comuns em pacientes hospitalares, pacientes imunocomprometido e/ou em antibioticoterapia. São encontradas em hospitais, piscinas e águas de recreação. Bactérias anaeróbias de interesse na saúde humana As bactérias anaeróbias são incapazes de eliminar as espécies reativas de oxigênio e por isso não podem conviver nesse meio. As espécies anaeróbias extremamente sensíveis apresentam pouca ou nenhuma atividade da catalase/peroxidase ou enzima superóxido dismutase. Os micro-organismos anaeróbios podem ser divididos em aerotolerantes (não requerem O2 e toleram a sua presença, realizando apenas fermentação), anaeróbios facultativos (o O2 não é requerido, mas o crescimento é melhor em sua presença e por isso realizam respiração aeróbia, anaeróbia e fermentação) e anaeróbios estritos (o oxigênio pode ser letal, existindo diferentes graus de tolerância. Pode ser feita a fermentação ou respiração anaeróbia). A capacidade de um anaeróbio de tolerar pequenas quantidades de oxigênio se dá pela presença de catalases/peroxidases e da enzima superóxido dismutase, o que é um fator de virulência. Essa tolerância gera uma proteção dos anaeróbios contra os danos causados pelo oxigênio, permitindo uma colonização em diferentes sítios anatômicos. Muitas das infecções por anaeróbios é causada por anaeróbios facultativos ou moderadamente resistentes ao oxigênio. O habitat se dá no solo, pântanos, sedimentos de lagos e rios, esgotos. Como microbiota residente, habitam locais anóxicos, sendo que uma região pode se tornar anóxica devido a ferimentos e traumas (queimaduras de larga extensão). Esse tipo de bactéria não corresponde a um patógeno no seu habitat, causando doenças apenas quando deixam os sítios comuns. As doenças incluem abscesso cerebral, sinusite crônica, infecções periodontais, abscesso pulmonar (pneumonia necrótica e emplema), bacteremia, septicemia, endocardite, infecções abdominais (pós-traumáticas, cirúrgicas, posterior a ruptura visceral, tumor maligno), abscesso subdiafragmático, hepático, sub-hepático, abscesso perineal, na mulher pode causar abscesso pélvico, endometrite, infecção pós-aborto, abscesso tubo-ovariano, celulite necrótica, infecção vascular ou gangrena gasosa. As infecções clássicas são causadas por: Bacilos gram-positivos e esporulados: Clostridium tetani – tétano, Clostridium botullinum – botulismo, Clostridium perfriges – gangrena gasosa, Clostridium difficile – colite pseudomembranosa. Cocos e bacilos gram-positivos e gram-negativos: natureza polimicrobiana, patógenos oportunistas e sinais clínicos sugestivos de infecção por anaeróbios. Infecções inespecíficas causadas por anaeróbios: causadas por micro-organismos que fazem parte da microbiota residente: origem endógena. São cocos e bacilos gram-positivos ou gram-negativos que causam infecções periodontais, intra-abdominais, do trato geniturinário, sendo que a natureza é polimicrobiana (5-6 espécies ou mais), sendo esses micro-organismos anaeróbios facultativos e estritos. Geralmente existem fatores que predispõe a uma infecção. As condições que podem predispor a uma infecção por bactérias anaeróbias são: perda do suprimento sanguíneo do tecido: hipóxia local; presença de lesão tecidual; sistema imune comprometido. Os organismos anaeróbios facultativos consomem pequenas concentrações de oxigênio, o que auxilia no estabelecimento dos anaeróbios estritos. Os sinais clínicos para uma infecção inespecífica por anaeróbios são secreções de odor fétido causado por ácidos orgânicos e aminas e necrose tecidual intensa, formação de abscessos, produção de gás e coloração negra. Bacilos Cocos Gram-negativos Gram-negativos Bacteroides fragilis Veillonella Prevotella melaninogenica Gram-positivos Fusobacterium Peptostreptococcus Gram-positivos Peptococcus Actinomyces Lactobacillus Bifidobacterium Clostridium Mobiluncus Bacilos gram-negativos Bacteroides São bacilos gram-negativos não esporulados queconstituem a microbiota intestinal residente dos humanos. Entretanto, essas bactérias podem causar abscessos abdominais e infecções extra-intestinais caso tenham acesso aos tecidos por traumas, feridas cirúrgicas ou neoplasia. Os fatores de virulência são fímbrias, cápsula, pequenas quantidades de catalase e superóxido dismutase e a toxina enterotoxigênica. As Bacteroides fragilis correspondem a linhagem enterotoxigênica. Esses bacilos podem causar peritonite, celulite, abscesso hepático e fasciite necrosante. Prevotella spp. São membros da microbiota oral que incluem P. intermedia, P. corporis, P. melaninogenia, P. denticola, P. loeschii. Causam uma infecção endógena que surge a partir de uma ruptura na superfície de mucosa. Essas bactérias podem também ser encontradas em abscessos pulmonares e cerebrais. Bacilos gram-positivos esporulados Clostridium São ubíquos no solo, na água e no esgoto, sendo que os seus esporos são terminais ou subterminais. Essas bactérias são anaeróbias estritas que fazem parte da microbiota grastrointestinal de humanos e de outros animais. São causadoras de doenças como o tétano e o botulismo. Os fatores de virulência são a capacidade de sobreviver em condições adversas (endósporos), rápido crescimento, produção de diversas toxinas (histolíticas, enterotoxinas e neurotoxinas). Os endósporos são estruturas com elevada resistência térmica, sendo que esse processo de esporulação ocorre a partir da perda de água do citoplasma, mineralização e baixa atividade metabólica com adaptação térmica. Clostridium tetani Possuem flagenos peritríqueos com dez tipos de antígenos flagelares. Nessa espécie há produção de esporos terminais arredondados, sendo de difícil cultivo e de grande sensibilidade ao oxigênio. É o agente etiológico do tétano, sendo produzidas duas toxinas: Tetanolisina: hemolisina sensível ao oxigênio; Tetanopasmina: neurotoxina termolábil – exotoxina plasmidal. Esporo (lesão) – forma vegetativa – toxina (tetanospasmina) – SNC – impede a liberação de glicina/GABA – paralisia espástica – morte O período de incubação é de dias ou semanas e as manifestações clínicas são a paralisia espástica, trismo, riso sardônico, opistótono e morte por paralisia dos músculos respiratórios. O diagnóstico se dá pelo quadro clínico e o tratamento é feito com a imunização toxóide, com o cuidado das feridas contaminadas, a administração da imunoglobulina anti-tetânica e a administração de penicilina. Clostridium botulinum São bacilos grandes, anaeróbios e fastidiosos que produzem endósporos altamente resistentes. É o agente etiológico do botulismo e suas toxinas são as neurotoxinas, designadas de A a G. As toxinas são termolábeis e por isso, o cozimento inativa a toxina. Além disso, os alimentos enlatados e embalados a vácuo sem esterilização fazem com que os endósporos sobrevivam o que causa a germinação no ambiente anaeróbio e a produção da toxina. Existem quatro formas de botulismo: Botulismo clássico: ingestão da toxina pré-formada em alimentos; Botulismo infantil: multiplicação in vivo com produção de neurotoxina no intestino do lactente; Botulismo de ferida: produção de toxina in vivo após multiplicação da bactéria numa ferida infectada; Botulismo de inalação. Esporo no alimento – forma vegetativa – toxina (neurotoxina) – intestino – circulação – nervos (placa mioneural) – inibe a liberação de acetilcolina – paralisia flácida – morte de 18 a 36 horas. Botulismo clássico ou alimentar: apresenta um período de incubação de 12-72h, sendo os sintomas iniciais náuseas, vômito e diarreia. Além desses sintomas, podem estar presentes fadiga, fraqueza, alterações de visão (diplopia), xerostomia, disfagia, constipação, paralisia muscular flácida, paralisia da musculatura respiratória (parada respiratória) levando a morte de 3-5 dias. As medidas de controle e tratamento devem ser a esterelização de alimentos enlatados ou embalados a vácuo, deve-se evitar o consumo de mel por crianças menores de dois anos, a soroterapia pode neutralizar a toxina e o aquecimento do alimento à 80 graus por 10-30 minutos pode destruir a toxina. Além disso, em quadros severos deve-se aplicar o suporte ventilatório adequado. Clostridium perfringes É isolada principalmente em queimaduras, feridas traumáticas, aspiração pulmonar, trato vaginal, abortos e etc, sendo imóvel, causadora de gangrena gasosa, intoxicação alimentar, enterites necrosantes e frequentemente envolvida em intoxicações alimentares associadas à ingestão de produtos cárneos contaminados. Essa bactéria produz diversas toxinas e enzimas. Toxinas e enzimas: hemolisinas, proteinase, colagenase, neuraminidase, lectinase. Gangrena gasosa: infecção grave que atinge a derme, o tecido subcutâneo e muscular podendo ser fatal devido a sua rápida progressão. Como tratamento deve ser feita a excisão do tecido afetado. Clostridium difficile Comensal do trato gastrointestinal é importante na diarreia associada ao uso de antimicrobianos, uma vez que a desestabilização da microbiota intestinal favorece a proliferação de C. difficile endógena ou exógena. Causa colite pseudomembranosa e os fatores de virulência são: adesinas, formação de esporos (difíceis de serem eliminados, podendo permanecer em hospitais durante meses), toxina A (enterotoxina) e toxina B (citotoxina). A toxina A atua destruindo as junções intercelulares causando um aumento da permeabilidade intestinal e consequente diarreia, enquanto a toxina B causa a despolimerização da actina, levando a morte dos enterócitos. Podemos observar a formação de placas brancas no intestino compostas por muco, fibrina e células inflamatórias que ficam sobrepostas a mucosa intestinal. As medidas de controle e tratamento devem ser o controle de infecções hospitalares, a suspensão do antimicrobiano indutor, reposição de líquidos e eletrólitos, antibioticoterapia (tratamento de diarreia grave ou colite pseudomembranosa – vancomicina e metronidazol – recidiva) e o transplante da microbiota fecal. Gram-positivos não esporulados Mobiluncus São bastonetes curvos anaeróbios estritos que colonizam o trato genital em baixo número. Todavia, são abundantes em mulheres com vaginose bacteriana. Cocos gram-positivos Peptostreptococcus e Peptococcus São capazes de metabolizar a peptona e aminoácidos em ácido acético, butírico, isobutírico e capróico. São comensais na pele, boca, trato gastrointestinal, urogenital. Em condições de trauma ou comprometimento do sistema imune se tornam patogênicos, estando normalmente presentes em infecções polimicrobianas causadas por micro-organismos aneróbios. Peptostreptococcus: P. magnus, P. asaccharolyticus, P. prevotti, P. anaerobius Peptococcus: P. niger