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Fonologia Provisória da Língua Kamayurá

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Fonologia Provisória da Língua Kamayurá 
MEINKE SALZER 
0. INTRODUÇÃO. 
O presente estudo visa uma apresentação descritiva dos fonemas da língua Kamayurá, 
mostrando-se a distribuição dos mesmos em sílabas e palavras e os contrastes manifestados em 
diversos ambientes. Dar-se-á após a descrição analítica um vocabulário de palavras 
representativas da língua. Observam-se as seguintes convenções tipográficas na representação de 
fonemas: 
è se escreve e kw se escreve kw 
ò se escreve o ts se escreve c 
Š se escreve ' hw se escreve hw 
ř se escreve r 
 
1. QUADRO FONÊMICO. 
Segue o elenco dos fonemas segmentais da língua Kamayurá: 
1.1. Consoantes: 
 Bilabiais Alveolares Alveo- palatais Velares
Velar 
Labializadas Glotais 
Oclusivas p t k kw ' 
Africadas c 
Nasais m n ŋ 
Continuantes w y h hw 
Flapes r 
 
1.2. Vogais: 
 Anteriores Centrais Posteriores 
Altas i ì u 
Baixas e a o 
 
Outros dois fonemas /l/ e /š/, ocorrem somente em nomes próprios. O presente trabalho 
não trata de palavras emprestadas do português e de outras línguas indígenas da região centro-
oeste do Brasil. 
 
2. DESCRIÇÃO DE FONEMAS: 
2.1. Observações preliminares de regularidades fonéticas. 
2.1.1. Toda oclusiva em posição final de fala é não-solta. 
/mo'apìt/ [mòŠapåt] 'três' 
 
2.1. 2. Se uma fala, ou grupo frasal após pausa, se inicia com vogal, costuma ser precedida esta 
de frouxa vogal surda da mesma qualidade, embora tal vogal frouxa não se ouve em outros 
ambientes. 
/oket/ [Òòkät] 'Ele dorme.' 
 
Se uma oclusiva glotal em início de fala aparece em forma escrita, marca a ausência de 
vogal surda, tendência esta já no sentido de oclusiva glotal. Tal oclusiva costuma permanecer 
intata em posição mediana de fala precedida de vogal, desaparecendo em outras posições. 
 
/ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
/po ipira/ [pó ipiřá] 'Há peixe? ' 
 
Existem outrossim palavras que, em início de fala começam com forte aspiração que 
assume a qualidade da vogal seguinte. Tal aspiração, escrita /h/ ou [V] ocorre em posição 
consonantal normal quando não modificada por seu ambiente. 
 
/hakup/ [Aakúp] 'morno, quente' 
/opìhìk/ [Òòpìlåk] 'ele agüenta' 
/yenepomomap hãyá/ [yènèpòmòma Ããỹá] 'cinco dentes' 
2.1.3. Nasalização 
A nasalizaçâo ocorre em palavras inteiras, isto é, determinadas palavras ocorrem com 
nasalização (potencial) em todas as vogais e semi-vogais constituintes. Tal nasalização costuma 
ser mais intensa na sílaba final. As palavras normalmente nasalizadas podem ocorrer 
esporadicamente sem nasalização. Na ortografia empregada no presente estudo, a nasalização de 
palavras é marcada com til (~) na sílaba final das referidas palavras. 
/temi'ũ/ [tèmĩŠṹ] 'mandioca' 
 
As consoantes nasais (/m/ /n/ /ŋ/) costumam nasalizar ligeiramente as vogais contíguas, 
sobretudo em sílabas de acentuação primária. 
 
/'aŋ/ [Šã́ŋ] 'isto' 
/ama/ [Ããmã ́] ''mãe' 
/amo/ [Âãmõ] 'mais' 
/murunu/ [mũřũnṹ] 'amendoim' 
 
Se um substantivo leva sufixo, escreve-se o til na sílaba final do radical. 
 
2.1.4. Acentuação. 
O acento primário cai regularmente na última sílaba das palavras. 
/ama/ [Ããmã ́] 'mãe' 
 
O acento secundário ocorre comumente em sílabas alternativas a contar para trás da 
sílaba de acentuação primária em verbos sem sufixos. 
Quando um substantivo é afixado, o acento primário pode deslocar-se à última sílaba da 
palavra nova ou ficar na sílaba final do radical. Irá cair freqüentemente no lugar da acentuação 
secundária. 
/ka'iá pere/ [kaŠiá perä] 'o fígado do macaco' 
/ka'i-a - a pere/ 
macaco – ms fígado 
 
/ka'ia omano/ [kaŠía òmanö] 'o macaco morreu' 
/ka'i - a omano/ 
macaco – ms ele morreu 
 
Se o substantivo ocorre no final de uma sentença, o sufixo leva acento. 
/yenepomomap hãya/ [yènèpòmòmáp Ããỹã́] 'cinco dentes' 
 
/yenepomomap hãy - a/ 
cinco dente - ms 
2.1.5. Ar Inspirado. 
A maioria das falas se efetua mediante o uso de ar expelido dos pulmões. Por vezes, 
contudo, como no caso de expressões de desgosto e impaciência, pode-se realizar a fala com ar 
inspirado nos pulmões. 
2.1.6. Pausas. 
Há três graus em matéria de pausa: 
// longa 
/ curta 
£ muito curta 
 
2.1.7. Extensão. 
Se a consoante inicial de uma sílaba acentuada é oclusiva, prolonga-se. Tal extensão não 
é indicada nas transcrições fonéticas do presente trabalho. 
 
/tata/ [tat:á] 'fogo' 
 
 
2.1.8. Entonação. 
2.1. 8.1. Entonação interrogativa. 
1) Dá-se um contorno cadente quando a pergunta termina numa palavra que não seja 
substantivo. 
 
mawite te pa epa 'Como você vai fazê-lo?' 
 
2) Dá-se um contorno ascendente quando a pergunta termina em substantivo. 
 
po ipira 'Há peixe?' 
 
2.1.8.2. Entonação enfática. 
A ênfase é marcada por entonação ascendente com prolongação da sílaba acentuada da 
palavra enfatizada. 
 
nokom 'Não o faça!' 
 
 
ìmave kori 'há muito tempo' 
 
2.1.8.3. Declarações. 
Observam-se três contornos entonacionais no caso de simples declarações: 
1) contorno cadente: 
 
 karaiwa hukìpì 'O branco chegou primeiro.' 
 
2) contorno ascendente: 
 
 a'eherawi ye 'am o'ut 'Depois disso, ele chegou.' 
 
3) contorno plano: 
 
 ehuk iye otaip o'ut 'Ele chegou aqui na aldeia.' 
 
Nesta altura, as pesquisas e análises efetuadas na língua Kamayurá não revelam ainda a 
explicação ou motivo desta diversificação de contornos. 
 
2. 2. As consoantes. 
2.2.1 Oclusivas e Africadas. 
 /p/ [p] oclusiva bilabial surda 
 /'apìkap/ [Šapìkáp] 'banco' 
 /'ipotìt/ [Šipòtåt] 'flor' 
 /peke'i/ [pèkèŠí] 'pequi' 
 
 /t/ [t] oclusiva alveolar surda 
 /tata/ [tatá] 'fogo' 
 /tape/ [tapä] 'picada' 
 /ita/ [Iitá] 'pedra' 
 /'ipotìt/ [Šipòtåt] 'flor' 
 
 /k/ [k] oclusiva velar surda 
 /'imaraka/ [Šimařaká] 'canção' 
 /yekìp/ [yèkåp] 'meus piolhos' 
 /yetìk/ [yetåk] 'batata doce' 
 /kap/ [káp] 'marimbondo' 
 
 /kw/ [kw] oclusiva velar labializada 
 /akwama'e/ [AakwamaŠä] 'homem' 
 /kwat/ [kwát] 'sol' 
 
 /'/ [Š] oclusiva glotal 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 /hupi'a/ [UupiŠá] 'ovo' 
 /'at/ [Šát] 'dia' 
 /'am/ [Šám] 'aqui' 
 
 /c/ [ts] oclusiva alveolar com terminação fricativa em canal 
 /cin/ [tsín] 'branco' 
 /aecak/ [Aaètsák] 'vejo' 
 /'ipicun/ [Šipitsún] 'preto' 
 /'icapiraŋ/ [Šitsapuřáŋ] 'sangue' 
 
 
2.2.2. Nasais. 
 /m/ [m] nasal bilabial 
 /amìnìyu/ [Aamìnìyú] 'algodão' 
 /ama/ [Aamá] 'mãe' 
 /'am/ [Šám] 'aqui' 
 /pem/ [päm] 'aí' 
 /moĩ/ [mõĩ] 'cobra' 
 
 /n/ [n] nasal alveolar 
 /yanuha/ [yanuAá] 'aranha' 
 /pina/ [piná] 'anzol' 
 /'ipicun/ [Šipitsúñ] 'preto' 
 /enua/ [Èènuá] 'pilão' 
 
 /ŋ/ [ŋ] nasal velar 
 /waŋ/ [wáŋ] 'vermelho' 
 /ciŋ/ [tsíŋ] 'branco' 
 /'aŋ/ [Šáŋ] 'isto' 
 /tìpuciŋ/ [tìputsíŋ] 'água suja' 
 
 
2.2.3 Continuantes. 
/w/ [w] semivocóide bilabial 
/waŋ/ [wáŋ] 'vermelho' 
/'ìp iyow/ [Šìp iyów] 'Ele foi à água.' 
/owuwut/ [Òòwuwút] 'inchado' 
/awa/ [Aawá] 'gente' 
Há um alofone nasal de /w/ que ocorre era palavras nasalizadas. 
/weyãm / [w èỹã́m] 'falo' 
 
/y/ [y] semivocóide alveopalatal 
/ayuru/ [Aayuřú] 'tipo de papagaio' 
/yenepomomap/ [yènèpòmòmáp] 'cinco' 
/akarãy/ [Ããkãřã́ỹ] 'escrevo' 
/yawewìt/ [yawèwåt] 'arraia' 
Ha um alofone nasal de /y/ que ocorre em palavras nasalizadas. 
/ayacimõŋ/ [Ããỹãtsĩmõ ́ŋ] 'balanço' 
 
/h/ vocóide surdo fortemente aspirado; assume a qualidade da vogal que lhe segue. 
/ikohup/ [IikòUúp] 'cinza' 
/akwahap/ [AakwaAáp] 'sei' 
/aha/ [AaAá] 'vou' 
/ohuka/ [ÒòUuká] 'ele ri' 
/hea/ [Èèá] 'olho dele' 
/het/ [Èät] 'nome dele' 
 
/hw/ [U] continuante surda labializada 
/ahwarin/ [AaUarín] 'ato' 
/'i'ìhwapẽ/ [ŠĩŠíUãpë] 'unha' 
/yehwã/ [ỹéUã́]'minha mão' 
/'i'ahwen/ [ŠiŠaUän] 'cheira bem' 
 
2.2.4. Flape. 
/r/ [ř] flape alveolar sonoro 
/ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
/ayuru/ [Aayuřú] 'tipo de papagaio' 
/a'eherawi/ [AaŠèÈèřawí] 'depois disso' 
/akarãy/ [Ããkãřã́ỹ] 'escrevo' 
 
 
2.3. As vogais. 
/i/ [i] vogal anterior alta 
/ita/ [Iitá] 'pedra' 
/ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
/ewo'i/ [ÈèwòŠí] 'verme' 
/'icĩ/ [Šĩtsĩ́] 'nariz dele' 
/hacĩ/ [Ããtsĩ́] 'chifre' 
/iarõ/ [Ĩĩãřõ] gostoso 
 
/e/ [è] vogal anterior baixa (média após k) 
/ene/ [Èènä] 'você' 
/ewo'i/ [ÈèwòŠí] 'verme' 
/kuewi/ [kuèwí] 'agulha' 
/he'ẽ/ [ÉéŠë] 'sim' 
/pehẽ/ [péÉë] 'vocês' 
 
/ì/ [ì] vogal central alta 
/'ìp/ [Šåp] 'à água' 
/amìnìyú/ [Aamìnìyú] 'algodão' 
/yeì/ [yèå] 'minha mãe' 
/ha'íy/ [ÃãŠïỹ] 'semente' 
/kì'íy/ [kíŠïỹ] 'pimenta' 
 
/a/ [a] vogal central baixa 
/ama/ [Aamá] 'mãe' 
/tata/ [tatá] 'fogo' 
/'acã/ [Šãtsã] 'um pouco' 
/hãy/ [Ãã́y] 'dente dele' 
 
/u/ [u] vogal posterior alta 
/akuy/ [Aakúy] 'caio' 
/umam/ [Uumám] 'onde' 
/ìwìtu/ [Ììwìtú] 'vento' 
/'ipi'ũ/ [ŠĩpĩŠṹ] 'mosquito' 
/temi'ũ/ [tèmĩŠṹ] 'mandioca' 
 
 
/o/ [ò] vogal posterior baixa 
/ok/ [Òök] 'casa' 
/mokõy/ [mókõỹ] 'dois' 
/'ikõ/ [Šĩkõ] 'língua dele' 
/oyarõ/ [Óóỹãřõ] 'ele está zangado' 
 
3. TIPOS SILÁBICOS. 
Ocorrem os seguintes padrões silábicos: 
a. V apa 'pai' 
 nereìmap 'seu animalzinho de estimação' 
 kìe 'faca' 
 
b. VC 'ìat 'canoa' 
 'aputereap 'aparelho usado para carregar objetos na cabeça'
 
c. CV tata 'fogo' 
 'ímaraka 'canção' 
 
d. CVC 'i'akaŋ 'cabeça dele' 
 'apìkap 'banco' 
 
Os padrões VC e CVC ocorrem somente em posição final de palavra. 
4. INTERPRETAÇÃO DE SEGMENTOS E SEQÜÊNCIAS AMBIVALENTES. 
4.1. Princípios gerais de interpretação. 
Segmentos e seqüências ambivalentes são interpretadas à base de padrões silábicos não 
suspeitos e das possíveis combinações dos mesmos. 
Os padrões silábicos da língua Kamayurá são: V, CV, VC e CVC, restritos os dois 
últimos à posição final de palavra. Até três vogais podem ocorrer em seqüências não-suspeitas. 
 /kìea/ 'faca' 
 /neìa/ 'sua mãe' 
 
As características de extensão, silabicidade e colocação de acento tem sido usadas como 
base para determinar qual das duas interpretações alternativas é mais análoga ao padrão 
estrutural predominante. 
4.2. Interpretação de [u] e [i] consonantais. 
[u] e [i] inter-vocálicas e não-silábicas, podem ser consideradas ou vogais ou 
consoantes dentro dos limites estruturais comumente aceitos. Se são consideradas consoantes em 
 
posição inicial de sílaba, é por causa da extensão, possuindo a série de três vogais, o valor de 
duas sílabas em vez de três. 
 /awá/ [Aauá] 'gente' 
 /ìwìtú/ [Ììuìtú]] 'vento' 
 /tuyáp/ [tuiáp] 'grande' 
 
O fator predominante na interpretação de [u] e [i] não-silábicas, em posição final de 
palavra como consoantes é a colocação de acento, reforçando-se este elemento pela relativa 
brevidade destes fonemas. 
Se fossem interpretadas como vogais, existiriam certos pares de colocação contrastiva de 
acento no caso de verbos sem afixos: p. ex. , 'i'ìáu vs. 'ipìaú. Não há na língua Kamayurá 
evidência para tal contraste. 
 /'i'ìáw/ [ŠiŠìáu] 'está sujo' 
 /mokõy/ [mokõ ĩ] 'dois' 
 
[u] e [i] não-silábicas em posição inicial de palavra são consideradas consoantes. A 
extensão deste segmento mais vogal é mais parecida com a de uma sílaba que a de duas. Tais 
vogais curtas mantêm a sua qualidade em toda posição dentro da fala. Não são precedidas de 
vogal surda da mesma qualidade em posição inicial, o que acontece normalmente no caso de 
palavras com vogal inicial (2.1.2.). Já que toda consoante com exceção de /n/ pode ocorrer em 
posição inicial de palavra, a força de distribuição simétrica de fonemas semelhantes sugere uma 
interpretação consonantal. Com a série aqui descrita, as consoantes /w/ e /y/ mostram uma 
distribuição igual à de /p/ e /t/, as quais manifestam a distribuição mais ampla da língua. 
 /wekìy/ [uèkåi] 'puxar' 
 /yaì/ [iaå] 'lua' 
 /yakaré/ [iakařä] 'jacaré' 
 
4.3. Interpretação de [u] e [i] vocálicas. 
[i] pré-consonantal é considerado vogal. Interpretá-lo como consoante seria aumentar a 
distribuição de sílabas fechadas de posição final a posição inicial e medial. Todas essas sílabas 
distribuídas de forma não-simétrica iriam terminar na consoante interpretada. Tal fato seria 
aceitável, não fossem consideradas as outras forças relevantes. Nesta posição, [i] possui 
extensão vocálica. É necessário que seja considerado vogal para que a acentuação secundária 
seja regular, caindo nas sílabas alternativas a contar da última sílaba das palavras. 
/nikaramemaite/ [níkařámèmáitä] 'Ele não tem coisas' 
 
4.4. Interpretação de seqüências fônicas na qualidade de grupos. 
Seqüências fônicas ambivalentes são consideradas grupos, pois não há grupos 
consonantais não suspeitos na língua Kamayurá. k e h labializados são interpretados como 
fonemas simples kw e hw. São escritos, contudo, em forma de dígrafo em benefício da 
conveniência tipográfica.O grupo ts se escreve c. 
 
 
 /akwama'e/ [AakwamŠä] 'homem' 
 /ahwat/ [Aahwát] 'atei' 
 /'acã/ [Šãtsã] 'um pouco' 
 
5. DISTRIBUIÇÃO DE FONEMAS NOS PADRÕES SILÁBICOS. 
Para facilitar a descrição, sufixos numerados são colocados nas vogais e 
consoantes. V2C1 significa, portanto, que a classe vocálica V2 enche a posição de 
vogal e a classe consonantal C1 a posição de consoante de tipo silábico VC. 
5.1. Distribuição de vogais. 
Vl As seguintes vogais ocorrem na classe V1: todas as vogais orais e nasais. 
V2C1 As seguintes vogais ocorrem na classe V2: a, ì, nasais ã, í 
C2V3 As seguintes vogais ocorrem na classe V3: todas as vogais orais e nasais. 
C3V4C4 As seguintes vogais ocorrem na classe V4: todas as vogais orais e nasais. 
 
5. 2. Distribuição de consoantes. 
V2C1 As consoantes que ocorrem em C1 são: p, t, m, ŋ, w, y. 
C2V3 Toda consoante menos ŋ ocorre na classe C2. 
C3V4C4 As consoantes que ocorrem em C3 são: k, kw, c, m, w, y, h, r, n, p, t. 
 As consoantes que ocorrem em C4 são: p, t, n, ŋ, w, y. 
 
6. EXEMPLOS DE COMBINAÇÕES DE PADRÕES SILÁBICOS NO 
VOCABULÁRIO KAMAYURÁ. 
a. Duas sílabas 
 V.CV /a.ma/ 'mãe' 
 V.CVC /a.man/ 'chuva' 
 CV.CV /ta.ta/ 'fogo' 
 CV.CVC /mo.kap/ 'espingarda' 
 
b. Três sílabas 
 V.CV.CV /i.pi.ra/ 'peixe' 
 CV.CV.CV /ka.pi.ma/ 'veadinho' 
 CV.CV.CVC /ya.we.wìt/ 'arraia' 
 CV.V.CV /tu.a.wi/ 'esteira' 
 
c. Quatro sílabas 
 V.CV.CV.CV /a.ra.wi.ri/ 'braçadeiras' 
 CV.CV.CV.CV /ka.ra.me.ma/ 'presente' 
 CV.CV.CV.CVC /he.tì.ma.kaŋ/ 'perna dele' 
 
 
d. Cinco sílabas 
 CV.CV.CV.CV.CVC /ye.ne.po.mo.map/ 'cinco' 
 
e. Seis sílabas 
 V.CV.CV.CV.CV.CV /o.re.ka.ra.me.ma/ 'nossas coisas' 
 
f. Sete sílabas 
 CV.CV.CV.CV.CV.V.CV 
 'ele não tem coisas' 
 
g. Oito sílabas 
 CV.CV.CV.CV.CV.CV.CV.CVC 
 /ya.wì.rì.pì.wa.na.kwa.rip/ 'Posto' 
 
7. CONTRASTES FONÊMICOS. 
7.1. Contrastes consonantais. 
Oclusivas /p/ /t/ /k/ 
1. Posição inicial: 
 /parana/ [pařaná] 'rio' 
 /tata/ [tatá] 'fogo' 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 
 /pìa/ [pìá] 'rede de pescar' 
 /tìwerap/ [tìwèřáp] 'ondas altas' 
 /kìwap/ [kìwáp] 'pente' 
 
2. Posição medial: 
 /'ipepo/ [ipèpö] 'asa' 
 /ita/ [litá] 'pedra' 
 /'ikatu/ [Šikatú] 'bom' 
 
 /apa/ [Aapá] 'pai' 
 /tata/ [tatá] 'fogo' 
 /'imaraka/ [Šimařaká] 'canção' 
 
3. Posição final: 
 /kìwap/ [kiwáp] 'pente' 
 /yawat/ [yawát] 'onça' 
 /awawak/ [Aawawá] 'acordei' 
 
 
 /'ìpìp/ [Šìpåp] 'perto de' 
 /mo'apit/ [mòŠapåt] 'três' 
 /amoapik/ [Aamòapåk] 'cozinho' 
 
Nasais /m/ /n/ /ŋ/ 
1. Posição inicial: /ŋ/ não ocorre em posição inicial. 
 /mawite/ [mawitä] 'o que' 
 /nakwahawite/ [nakwaAawitä] 'não sei'/mo'ohet/ [mòŠòÈät] 'bebida de mandioca' 
 /norokwahawite/ [nòřòkwaAawitä] 'não sabemos' 
 
2. Posição medial: 
 /aman/ [Aamán] 'chuva' 
 /amanau/ [Aamanaú] 'gelo' 
 /aŋa katì/ [Šaŋá katå] 'para cá' 
 
3. Posição final: 
 /tupaham/ [tupaAám] 'fio' 
 /tukanan/ [tukanán] 'suporte para fritar 
peixe' 
 
 /waŋ/ [wáŋ] 'vermelho' 
 
 /kaparim/ [kapařím] 'rápido' 
 /opin/ [Òòpín] 'ele esfrega' 
 /'ìciŋ/ [Šìtsíŋ] 'areia' 
 
Labiais /p/ /m/ /w/ 
1. Posição inicial: 
 /parana/ [pařaná] 'rio' 
 /maramoe/ [mařamòä] 'quando' 
 /wararuyap/ [wařařuyáp] 'cachorro' 
 
2. Posição medial: 
 /apa/ [Aapá] 'pai' 
 /ama/ [Aamá] 'mãe' 
 /awa/ [Aawá] 'gente' 
 
3. Posição final: 
 /tìpeyap/ [tìpèyáp] 'escova' 
 /pinayam/ [pinayám ] 'fio de pescar' 
 /iyukaw/ [Iiyukáw] 'ele mata' 
 
 
Alveolares /t/ /n/ /r/ /c/ 
1. Posição inicial: /r/ não ocorre em posição inicial. 
 /tata/ [tatá] 'fogo' 
 /natorokite/ [natòřòkitä] 'não o rasgo' 
 /ciŋ/ [tsíŋ] 'é branco' 
 
2. Posição medial: 
 /ita/ [Iitá] 'pedra' 
 /pina/ [piná] 'anzol' 
 /ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
 /'icapiraŋ/ [Šitsapiřáŋ] 'sangue' 
 /'ero'ìcaŋ/ [ŠèřòŠìtsáŋ] 'frio' 
 
 /tata/ [tatá] 'fogo' 
 /parana/ [pařaná] 'rio' 
 /tìwerap/ [tìwèřáp] 'mar' 
 /ta'ìpiacã/ [taŠípĩãtsã́] 'poucos' 
 
 /wetun/ [wètún] 'cheirar' 
 /o'anup/ [Òòanút] 'ele ouve' 
 /werut/ [weřút] 'ele traz' 
 /wecak/ [wètsák] 'ver' 
 
3. Posição final: /c/ e /r/ não ocorrem em posição final. 
 /werut/ [wèřút] 'ele traz' 
 /wetun/ [wètún] 'ele cheira' 
 
 /opìat/ [Òòpìát] 'ele costura' 
 /aman/ [Aamán] 'chuva' 
 
Velares e pós-velares /k/ /kw/ /ŋ/ /y/ 
1. Posição inicial: /ŋ/ não ocorre em posição inicial. 
 /kap/ [káp] 'marimbondo' 
 /kwat/ [kwát] 'sol' 
 /yape/ [yapä] 'grama' 
 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 /kwarip/ [kwaříp] 'ano' 
 /yawat/ [yawát] 'onça' 
 
2. Posição medial: 
 /'akate'ìm/ [ŠakatèŠåm] 'é mau' 
 /wararuyap/ [wařařuyáp] 'cachorro' 
 
 
 /'imaraka/ [Šimařaká] 'canção' 
 /akwama'e/ [AakwamŠä] 'homens' 
 /'aŋa katì/ [Šaŋá katå] 'por aqui' 
 /tayau/ [tayaú] 'porco selvagem' 
 
3. Posição final: /kw/ não ocorre em posição final. 
 /awawak/ [Aawawák] 'acordo' 
 /waŋ/ [wáŋ] 'vermelho' 
 /way/ [wáy] 'rabo' 
 
Glotais /h/ /hw/ /'/ 
1. Posição inicial: /hw/ não ocorre em posição inicial. 
 /hata/ [Aatá] 'fogo dele' 
 /'at/ [Šát] 'dia' 
 
 /ha'o/ [AaŠö] 'carne dele' 
 /'am/ [Šám] 'aqui' 
 
 /henì/ [Èènå] 'saliva' 
 /'ero'ìcaŋ/ [ŠèřòŠìtsáŋ] 'está frio' 
 
2. Posição medial: 
 /'i'ahu'a/ [ŠiŠaUuŠá] 'redondo' 
 /'i'ihwapẽ/ [ŠiŠìUapë] 'garra' 
 /ero'ìcaŋ/ [ŠèřoŠìcáŋ] 'frio' 
 
 /tupaham/ [tupaAám] 'corda' 
 /'i'ahwen/ [ŠiŠaUän] 'cheira bem' 
 /oye'eŋ/ [ÒòyèŠäŋ] 'ele fala, diz' 
 
 /aha/ [AaAá] 'vou' 
 /ahwat/ [AaUát] 'eu ato' 
 /a'am/ [AaŠám] 'fico de pé' 
 
3. Posição final: 
 Nenhum destes fonemas ocorre em posição final. 
 
7.2. Pares vocálicos contrastivos. 
Vogais anteriores /i/ /e/ 
1. Posição inicial: 
 /ipìhìk/ [IipìÌåk] 'ele está preso' 
 /epìhìk/ [ÈèpìÌåk] 'você o pega' 
 
 
 /ini/ [Iiní] 'rede' 
 /ene/ [Èènä] 'você' 
 
2. Posição medial: 
 /ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
 /'ipere/ [Šipèřä] 'fígado dele' 
 
3. Posição final: 
 /ewo'i/ [ÈèwòŠí] 'verme' 
 /yuru'e/ [yuřuŠä] 'mentiroso' 
 
 /'inami/ [Šinamí] 'orelha dele' 
 /aime/ [Aaimä] 'agudo' 
 
Anterior alta e central alta /i/ /ì/ 
1. Posição inicial: 
 /i'a/ [IiŠá] 'fruto' 
 /ì'ìp/ [ÌìŠåp] 'flecha' 
 
2. Posição medial: 
 /'iciŋ/ [Šitsíŋ] 'branco' 
 /'ìciŋ/ [Šìtsíŋ] 'areia' 
 
 /'iwit/ [Šìwít] 'embira' 
 /ìwìra/ [Ììwìřá] 'árvore' 
 
3. Posição final: 
 /ini/ [Iiní] 'rede' 
 /yanì/ [yanå] 'azeite' 
 
 /'akiki/ [Šakikí] 'formiga' 
 /'akìkì/ [Šakìkå] 'guariba' 
 
Anterior alta e central baixa /i/ /a/ 
1. Posição inicial: 
 /ipìhìk/ [IipìÌåk] 'ele está preso' 
 /apìhìk/ [Aapìík] 'eu o pego' 
 
2. Posição medial: 
 /mawite/ [mawitä] 'o que' 
 /yawat/ [yawát] 'onça' 
 
 
 /hupi'a/ [UupiŠá] 'ovo' 
 /opapat/ [Òòpapát] 'ele conta' 
 
3. Posição final: 
 /ka'i/ [kaŠí] 'macaco' 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 
Anterior alta e posterior alta /i/ /u/ 
1. Posição inicial: 
 /ita/ [litá] 'pedra' 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 
2. Posição medial: 
 /'ìwit/ [Šìwít] 'embira' 
 /ayewut/ [Aayèwút] 'eu frito' 
 
 /tapi'it/ [tapiŠít] 'anta' 
 /o'ut/ [ÒòŠút] 'ele vem' 
 
3. Posição final: 
 /mapakari/ [mapakaří] 'sabão' 
 /akaru/ [Aakařú] 'eu como' 
 
 /arawiri/ [Aařawiří] 'braçadeiras' 
 /kururu/ [kuřuřú] 'sapo cururu' 
 
Anterior alta e posterior baixa /i/ /o/ 
1. Posição inicial: 
 /ipìhìk/ [IipìÌåk] 'ele está preso' 
 /opìhìk/ [ÒòpìÌåk] 'ele o pega' 
 
2. Posição medial: 
 /ipira/ [Iipiřá] 'peixe' 
 /oporawìkì/ [Òòpòřawìkå] 'ele trabalha' 
 
 /miyat/ [miyát] 'bicho do mato' 
 /moyepete/ [mòyèpètä] 'um' 
 
3. Posição final: 
 /ka'i/ [kaŠí] 'macaco' 
 /ha'o/ [AaŠö] 'carne dele' 
 
 /Šinami/ [Šinamí] 'orelha dele' 
 /inimo/ [Iinimö] 'fio' 
 
 
 
Anterior baixa e central alta /e/ /ì/ 
1. Posição inicial: 
 /ewo'i/ [ÈèwòŠí] 'verme' 
 /ìwì/ [Ììwå] 'terra' 
 
2. Posição medial: 
 /owewe/ [Òòwèwä 'ele voa' 
 /ìwìra/ [Ììwìřá] 'árvore' 
 
 /tete/ [tètä] 'só' 
 /kuyatìtì/ [kuyatìtå] 'nome de pássaro' 
 
3. Posição final: 
 /iye/ [Iiyä] 'eu' 
 /'iyì/ [Šiyå] 'mãe dele' 
 
 /(r)ane/ [(ř)anä] 'agora' 
 /yanì/ [yanå] 'azeite' 
 
Anterior baixa e central baixa /e/ /a/ 
1. Posição inicial: 
 /ene/ [Èènä] 'você' 
 /(r)ane/ [(ř)anä] 'agora' 
 
2. Posição medial: 
 /tatupep/ [tatupäp] 'tatu' 
 /opap/ [Òòpáp] 'está terminado' 
 
3. Posição final: 
 /owewe/ [Òòwèwä] 'ele voa' 
 /awa/ [Aawá] 'gente' 
 
Anterior baixa e posterior baixa /e/ /u/ 
1. Posição inicial: 
 /enua/ [Èènuá] 'pilão' 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 
 /erekwahap/ [ÈèřèkwaAáp] 'você sabe' 
 /uru'a/ [UuřuŠá] 'tipo de flauta' 
 
 
2. Posição medial: 
 /yeru'a/ [yèřuŠá] 'instrumento musical'
 /yuru'e/ [yuřuŠä] 'mentiroso' 
 
3. Posição final: 
 /iye/ [Iiyä] 'eu' 
 /amìnìyú/ [Aamìnìyú] 'algodão' 
 
 /amoete/ [Aamòètä] 'longe' 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 
 /yuru'e/ [YuřuŠä] 'mentiroso' 
 /ou'u'u/ [ÒòuŠuŠú] 'ele morde' 
 
Anterior baixa e posterior baixa: /e/ /o/ 
1. Posição inicial: 
 /epìhìk/ [ÈèpìÌåk] 'você o pega' 
 /opìhìk/ [ÒòpìÌåk] 'ele o pega' 
 
2. Posição medial: 
 /'ipepo/ [Šipèpö] 'asa' 
 /'ipoci'a/ [ŠipòtsiŠá] 'peito dele' 
 
 /kuyatã imet/ [kũỹãtã imät] 'moça' 
 /omomot/ [Òòmòmöt] 'ele joga' 
 
3. Posição final: 
 /tape/ [tapä] 'picada' 
 /hapo/ [Aapö] 'raiz' 
 
 /a'e/ [AaŠä] 'ele' 
 /ha'o/ [AaŠö] 'carne dele' 
 
Central alta e central baixa /ì/ /a/ 
1. Posição inicial: 
 /ìwìra/ [Ììwìřá] 'árvore' 
 /awa/ [Aawá] 'gente' 
 
 /ì'ìp/ [ÌìŠåp] 'flecha' 
 /a'u/ [Aa'ú] 'eu como' 
 
 
2. Posição medial: 
 /ìwìra/ [Ììwìrá] 'árvore' 
 /ìwaka/ [Ììwaká] 'céu' 
 
 /owewìy/ [Òòwèwåy] 'bóia' 
 /way/ [wáy] 'rabo' 
 
3. Posição final: 
 /ìwì/ [Ììwå] 'terra' 
 /awa/ [Aawá] 'gente' 
 
 /yì/ [yå] 'machado' 
 /'anuya/ [Šanuyá] 'rato' 
 
Central alta e posterior alta: /ì/ /u/ 
1. Posição inicial: 
 /ìmìra/ [Ììmìřá] 'triturador' 
 /umam/ [Uumám] 'onde' 
 
2. Posição medial: 
 /ayewìt/ [Aayèwåt] 'eu volto' 
 /ayewut/ [Aayèwút] 'eu frito' 
 
3. Posição final: 
 /yì/ [yå] 'machado' 
 /amìnìyu/ [Aamìnìyú] 'algodão' 
 
 /yaì/ [yaå] 'lua' 
 /'i'ìwau/ [ŠiŠìwaú] 'espesso' 
 
Central alta e posterior baixa: /ì/ /o/ 
1. Posição inicial: 
 /ì'ìp/ [ÌìŠåp 'flecha' 
 /o'ìtap/ [ÒòŠìtáp]'ele nada' 
 
 /ìwaka/ [Ììwaká] 'céu' 
 /owawak/ [Òòwawák] 'ele acorda' 
 
2. Posição medial: 
 /yememìt/ [yèmènåt] 'meu filho' 
 /omomot/ [Òòmòmöt] 'ele joga' 
 
 
 /opìtet/ [Òòpìtät] 'ele mastiga' 
 /opotat/ [Òòpòtát] 'ele gosta' 
 
3. Posição final: 
 /yanì/ [yanå] 'azeite' 
 /omano/ [Òòmanö] 'ele morreu' 
 
 /'ipì/ [Šipå] 'pé dele' 
 /'ipepo/ [Šipèpö] 'asa' 
 
Central baixa e posterior alta /a/ /u/ 
1. Posição inicial: 
 /amaraka/ [Aamařaká] 'eu canto' 
 /umam/ [Uumám] 'onde' 
 
 /atorok/ [Aatòřök] 'eu o rasgo' 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 
2. Posição medial: 
 /tataciŋ/ [tatatsíŋ] 'fumaça' 
 /tatupep/ [tatupäp] 'tatu' 
 
 /kap/ [káp] 'marimbondo' 
 /hakup/ [Aakúp] 'quente' 
 
3. Posição final: 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 /a'u/ [AaŠú] 'eu como' 
 
 /ita/ [Iitá] 'pedra' 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 
Central baixa e posterior baixa /a/ /o/ 
1. Posição inicial: 
 /akwahap/ [AakwaAáp] 'eu sei' 
 /okwahap/ [ÒòkwaAáp] 'ele sabe' 
 
2. Posição medial: 
 /kap/ [káp] 'marimbondo' 
 /kop/ [köp] 'às roças' 
 
3. Posição final: 
 /ka'a/ [kaŠá] 'selva' 
 /ha'o/ [AaŠö] 'carne dele' 
 
 
 /ama/ [Aamá] 'mãe' 
 /amo/ [Aamö] 'mais' 
 
Posterior alta e posterior baixa /u/ /o/ 
1. Posição inicial: 
 /urua/ [Uuřuá] 'tipo de flauta' 
 /oroho/ [ÒòřòÒö] 'vamos' 
 
 /utu/ [Uutú] 'avó' 
 /otorok/ [Òòtòřök] 'quebra' 
 
2. Posição medial: 
 /urua/ [Uuřuá] 'tipo de flauta' 
 /oroho/ [ÒòřòÒö] 'vamos' 
 
 /ou'u'u/ [ÒòuŠuŠú] 'ele morde' 
 /mo'ohet/ [mòŠòÈät] 'bebida de mandioca' 
 
3. Posição final: 
 /yahu/ [yaUú] 'tipo de pássaro' 
 /oho/ [ÒòÒö] 'ele vai' 
 
 /a'u/ [AaŠú] 'eu como' 
 /ha'o/ [AaŠò́] 'carne dele' 
 
7.3. Contraste de palavras nasais e orais. 
As palavras nasais são marcadas por um til na vogal final (do radical). 
/õ/ e /o/ 
/'ikõ/ [Šĩkõ] 'língua dele' 
/'aŋ ako/ [Šaŋ akö] 'estou aqui' 
 
/'oyarõ/ [Šóỹãřõ] 'ele é feroz' 
/oyae'o/ [ÒòyaèŠö] 'ele chora' 
 
/mokõy/ [mókõỹ] 'dois' 
/okoy/ [Òòköy] 'aquele' 
 
/ũ/ e /u/ 
/'ipi'ũ/ [ŠĩpĩŠṹ] 'mosquito' 
/ere'u/ [ÈèřèŠú] 'você come' 
 
/meyũ/ [méỹũ ́] 'beiju' 
/amìnìyu/ [Aamìnìyú] 'algodão' 
 
 
/wa'ìerũ/ [w ãŠíèřũ ́] 'anel' 
/ayuru/ [Aayuřú] 'papagaio' 
 
/í/ e /ì/ 
/kì'íy/ [kíŠïỹ] 'pimenta' 
/'ìy/ [Šåy] 'sujeira' 
 
/ha'íy/ [ÃãŠïỹ] 'semente' 
/wekìy/ [wèkåy] 'ele puxa' 
 
/ã/ e /a/ 
/hatã/ [Ããtã ́] 'é duro' 
/hata/ [Aatá] 'fogo dele' 
 
/hãy/ [Ãã́ỹ] 'dente dele' 
/aporahay/ [AapòřaAáy] 'eu danço' 
 
/ĩ/ e /i/ 
/hacĩ/ [Ããtsĩ́] 'chifre' 
/awaci/ [Aawatsí] 'milho' 
 
/kawĩ/ [kãw ĩ́] 'mingau de mandioca'
/matawi/ [matawí] 'pindaíba' 
 
/'ì'apĩ/ ['ỹ'ãpĩ́] 'cuia' 
/hapi/ [Aapí] 'tia' 
 
/ẽ/ e /e/ 
/'iya'ẽ/ [ŠĩỹãŠë] 'pote grande' 
/yuru'e/ [yuřuŠä] 'mentiroso' 
 
/he'ẽ/ [ỲéŠë] 'sim' 
/a'e/ [AaŠä] 'ele' 
 
8. VOCABULÁRIO. 
Todos os verbos e flexões possessivas são mencionados na 3ª pessoa do singular. 
 
a, em /pìpe/ [pìpä] 
água /'ì/ [Šå] 
agüentar, pegar, sustentar /opìhìk/ [ÒòpìÌåk] 
aí /pem/ [päm] 
alguns /weruracã/ [wèřũřãtsã́́] 
amarelo /'iyup/ [Š'iyúp] 
andar /o'ata/ [ÒòŠatá] 
 
animal, bicho /miyat/ [miyát] 
ano /kwarip/ [kwaříp] 
anta /tapi'it/ [tapiŠít] 
apertar /o'ayìwìk/ [ÒòŠayìwåk] 
aquele /pe/ [pä] 
aqui /'am/ [Šám] 
arco /'ìwìrapat/ [Šìwìřapát] 
areia /'ìciŋ/ [Šìtsíŋ] 
arremessar, jogar /omomot/ [Òòmòmöt] 
árvore /ìwìra/ [Ììwìřá] 
asa /'ipepo/ [Šipèpö] 
atar, amarrar /ohwat/ [ÒòUát] 
ave, pássaro /wìra/ [wìřá] 
barriga (humana) /'ipì'a/ [ŠipìŠá] 
beber /oì'u/ [ÒòìŠú] 
boca /'iyuru/ [Šiyuřú] 
boiar /owewìy/ [Òòwèwåy] 
bom (é bom) /'ikatu/ [Šikatú] 
bosque, mato /ka'a/ [kaŠá] 
branco /'iciŋ/ [Šitsíŋ] 
brincar /opuyaru/ [Òòpuyařú] 
cabeça /'i'akaŋ/ [ŠiŠakáŋ] 
cabelo /'i'ap/ [ŠiŠáp] 
caçar /ka'apuwut/ [kaŠapuwút] 
cachorro /wararuyap/ [wařařuyáp] 
cair /okuy/ [Òòkúy] 
caminho /tape/ [tapä] 
canoa /'ìat/ [Šìát] 
cantar /omaraka/ [Òòmařaká] 
carne /ha'o/ [AaŠö] 
casa /ok/ [Òök] 
casca /'ìpe/ [Šìpä] 
cavar /oyo'ok/ [ÒòyòŠök] 
céu /ìwaka/ [Ììwaká] 
cheirar /wetun/ [wètún] 
chifre /hacĩ/ [Ããtsĩ́] 
 
chupar /opìtet/ [Òòpìtät] 
chuva /aman/ [Aamán] 
cinco /yenepomomap/ [yènèpòmòmáp] 
cinza /ikohup/ [IikòUúp] 
cobra /moĩ/ [móĩ́] 
com /nite/ [nitä] 
comer /o'u/ [ÒòŠú] 
como /mawite/ [mawitä] 
comprido /'ihuku/ [ŠiUukú] 
contar /opapat/ [Òòpapát] 
coração /hekowe/ [Èèkòwä] 
corda /tupaham/ [tupaAám] 
correr (água) /'ìekwap/ [Šìèkwáp] 
correto, certo /awuyete nekopì/ [Aawuyètè́ nèkòpå]
cortante, afiado /aime/ [Aaimä] 
cortar /okìci/ [Òòkìtsí] 
coser, costurar /opìat/ [Òòpìát] 
costas /'i'ape/ [ŠiŠapä] 
criança /pitaŋ/ [pitáŋ] 
curto /'i'aìk/ [ŠiŠaåk] 
dar /ome'eŋ/ [ÒòmèŠäŋ] 
delgado, fino /'i'iwa'i'i/ [ŠiŠwaŠiŠí] 
dente /hãy/ [Ãã́y] 
dia /'at/ [Šát] 
dizer, falar /i'i/ [IiŠí] 
dois /mokõy/ [mókõỹ] 
dormir /oket/ [Òòkät] 
e /nite/ [nitä] 
ele /a'e/ [AaŠä] 
eles /a'e/ [AaŠä] 
embotado (faca), cega /naimeite/ [naimèitä] 
empurrar /omomot/ [Òòmomót] 
entranhas, tripas, intestinos /'i'ìepo/ [ŠiŠìèpö] 
erva, capim, grama /yawa'ip/ [yawaŠíp] 
esfregar /opin/ [Òòpín] 
espesso, grosso /'i'ìwau/ [ŠiŠìwaú] 
 
esposa /hemiriko/ [Èèmiřikö] 
estar deitado /o'aw/ [ÒòŠáw] 
estar em pé, ficar de pé /o'am/ [ÒòŠám] 
estar sentado /o'apìk/ [ÒòŠapåk] 
este /'aŋa/ [Šaŋá] 
estreito, apertado /'ipo'i/ ['ipòŠí] 
estrela /yaìtata'i/ [yaìtataŠí] 
eu /iye/ [Iiyä] 
faca /kìe/ [kìä] 
falar, dizer /oye'eŋ)/ [ÒòỹéŠëŋ] 
fígado /'ipere/ [Šipèřä] 
flecha /ì'ìp/ [ÌìŠåp] 
flor /'ipotìt/ [Šipòtåt] 
fogo /tata/ [tatá] 
folha /ka'a/ [kaŠá] 
frio /'ero'ìcaŋ/ [ŠèřòŠìtsáŋ] 
fruta /i'a/ [iŠá] 
fumaça /tataciŋ/ [tatatsíŋ] 
fumo, tabaco /petìm/ [pètåm] 
furar /okutuk/ [Òòkutúk] 
garra, unha de bicho /'i'ìhwapẽ/ [ŠĩŠíUãpë] 
gelo /amanau/ [Aamanaú] 
golpear, bater /onupã/ [Óónũpã ́] 
gorduras, banha /'ikap/ [Šikáp] 
grande /tuyap/ [tuyáp] 
homem /akwama'e/ [AakwamaŠä] 
inchar /owuwut/ [Òòwuwút] 
jacaré /yakare/ [yakařä] 
joelho /'iperenan/ [Šipèrènán] 
lagoa /'iupawape/ [Šìupawapä] 
largo, amplo /'ipìpit/ [Šipìpít] 
lavar /opotuka/ [Òòpòtuká] 
limpar /ikìciŋoki/ [likìtsiŋòkí] 
língua /'ikõ/ [Šĩkõ] 
liso /'iyím/ [Šĩỹïm] 
longe /amoete/ [Aamòètä] 
 
lua /yaì/ [yaå] 
lutar, brigar /oyu'akap/ [ÒòyuŠakáp] 
macaco /ka'i/ [kaŠí] 
machado /yì/ [yå] 
mãe /'iyì/ [Šiyå] 
mandioca /temi'ũ/ [témĩŠṹ] 
mão /'ihwã/ [ŠĩŨã́] 
mar /tìwerap/ [tìwèřáp] 
marido /'i'irũ7 [ŠĩŠĩřũ ́] 
matar /oyuka/ [Òòyuká] 
mau /nikatuite/ [nikatuitä] 
menina /kuyatã imet/ [kũỹãtã ́ imèt́] 
menino /kunu'um/ [kunuŠúm] 
milho /awaci/ [Aawatsí] 
montanha, monte, morro /'i'atìt/ [ŠiŠatåt] 
morder /ou'u'u/ [ÒòuŠuŠú] 
morno, quente /hakup/ [Aakúp] 
morrer /omano/ [Òòmanö] 
muito /'i'ayãŋ/ [ŠĩŠãỹã́ŋ] 
mulher /kuyã/ [kũỹã́] 
nadar /o'ìtap/ [ÒòŠìtáp] 
não /anite/ [Aanitä] 
nariz /'icĩ/ [Šĩtsĩ́] 
negro, preto /'ipicun/ [Šipitsún] 
noite /'ìpìtun/ [Šìpìtún] 
nome /het/ [Èät] 
nós (exclusivo) /ore/ [Òòřä] 
nós (inclusivo) /yene/ [yènä] 
novo /'ipìau/ [Šipìaú] 
nuvem /ìwìciŋ/ [Ììwìtsíŋ] 
olho /hea/ [Èèá] 
onça /yawat/ [yawát] 
onde /umam/ [Uumám] 
o que /ma'a noat/ [maŠá nòát] 
orelha /'inami/ [Šinamí] 
osso /'ikaŋ/ [Šikáŋ] 
 
outro /amo/ [Aamö] 
ouvir /o'anup/ [ÒòŠanúp] 
ovo /hupi'a/ [UupiŠá] 
pai /tup/ [túP] 
panela (de barro) /iya'ẽ/ [ĨĩỹãŠë] 
papagaio /ayuru/ [Aayuřú] 
pau /ìwìra/ [Ììwìřá] 
pauzinho /ìwìra'i/ [ÌìwìřaŠí] 
pé /'ipì/ [Šipå] 
pedra /ita/ [Iitá] 
peito /'ipoci'a/ [ŠipòtsiŠá] 
peixe /ipira/ [Iipiřá] 
pele /'ipiret/ [Šipiřät] 
pena, pluma /hap/ [Aáp] 
pensar /oyemoneta/ [Òòyèmònètá] 
pequeno /ta'ìpiacã/ [tãŠípĩãtsã́] 
perna /hetìmakaŋ / [Èètìmakáŋ] 
perto /ameweyue/ [Aamèwèyuä] 
pesado /'ipowìy/ [Šipowíy] 
pescoço /'i'ayut/ [Šayút] 
pessoa, gente /awa/ [Aawá] 
piolho /'ikìp/[Šikåp] 
pó, poeira /ìwìcimot/ [Ììwìtsimöt] 
podre, estragado /'icarem/ [Šitsařäm] 
por que /ma'are/ [maŠařä] 
poucos /ta'ìpiacã/ [tãŠìpĩãtsã́] 
puxar /wekìy/ [wèkåy] 
quando /maramoe/ [mařamòä] 
quatro /moyo'irũ/ [móỹóŠĩřũ ́] 
queimar /okay/ [Òòkáy] 
quem /awa/ [Aawá] 
rabo /way/ [wáy] 
rachar /omowok/ [Òòmòwök] 
raiz /hapo/ [Aapö] 
raspar, cocar /we'íy/ [wéŠïỹ] 
redondo /'i'ahu'a/ [ŠiŠaUuŠá] 
 
respirar /oyepìtuerut/ [òyèpìtuèřút] 
reto /'ikatu/ [Šikatú] 
rio /parana/ [pařaná] 
rir /ohuka/ [ÒòUuká] 
saber /okwahap/ [ÒòkwaAáp] 
sal /yukìt/ [yukåt] 
saliva /henì/ [Èènå] 
sangue /'icapiraŋ/ [Šitsapiřáŋ] 
seco /ku'iciŋ/ [kuŠitsíŋ] 
semente /ha'ìy/ [AaŠåy] 
sol /kwat/ [kwát] 
soprar /omonìk/ [Òòmònåk] 
sujo /'i'ìaw/ [ŠiŠìáw] 
temer, ter medo /okìye/ [Òòkìyè́] 
terra /'ìy/ [Šåy] 
todos /wetep/ [wètäp] 
três /mo'apìt/ [mòŠapåt] 
um /moyepete/ [mòyèpètä] 
úmido, molhado /'i'akím/ [ŠĩŠãkïm] 
velho /mìra/ [mìřá] 
vento /ìwìtu/ [Ììwìtú] 
ver /wecak/ [wètsák] 
verde /'icowì/ [Šitsòwå] 
verme, minhoca /ewo'i/ [ÈèwòŠí] 
vermelho /'iwaŋ/ [Šiwáŋ] 
vir /o'ut/ [ÒòŠút] 
viver /okowe/ [Òòkòwä] 
voar /owewe/ [Òòwèwä] 
você /ene/ [Èènä] 
vocês /pehẽ/ [péỲë] 
voltar, dar volta /oyewìt/ [Òòyèwåt] 
vomitar /o'ìwìyewìt/ [ÒòŠìwìyèwåt] 
 
 
NOTAS 
1. Os indígenas da tribo Kamayurá habitam uma aldeia situada no Parque Nacional do Xingu, a uns 9 
quilômetros do Posto Indígena Leonardo Villas Boas, no Estado de Mato Grosso. Há somente uma aldeia 
Kamayurá. Os indígenas, embora conhecidos pelo nome já referido, referem-se a sim mesmos como "Apìap". Sua 
língua é membro da família Tupi e é falada por umas 150 pessoas. De 5-10 por cento dos índios Kamayurá, 
maiormente o elemento masculino na tribo, falam um pouco de português. 
 O presente estudo da língua Kamayurá foi possibilitado por convênios entre o Instituto Lingüístico de 
Verão e o Ministério do Interior/Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Museu Nacional do Rio de Janeiro. 
Agradecemos profundamente a colaboração dos Irmãos Villas Boas, Orlando e Cláudio, do Parque Nacional do 
Xingu. 
 Os dados fundamentais sobre os quais se baseia a presente análise consistem numa série de falas 
espontâneas e eliciadas oferecidas por alguns dos habitantes da aldeia Kamayurá. A autora residiu durante 5 meses 
na aldeia, nos períodos de 18 de outubro a 18 de dezembro de 1973, de 28 de fevereiro a 12 de abril de 1974 e de 2 
de junho a 2 de agosto de 1974. Três pessoas lhe ajudaram na qualidade de assistentes lingüísticos: Takuma, de uns 
38 anos de idade, o chefe da aldeia, e os rapazes Ayukuma e Tatap, ambos de 16 anos de idade. Todos os três falam 
um pouco de português. 
 A autora agradece à sua colega Carolyn Clapper a ajuda prestada no levantamento de dados e na 
datilografia dos manuscritos. Agradece também ao Dr. Carl Harrison a sua gentileza em colocar à disposição das 
pesquisadoras os resultados das suas próprias pesquisas anteriores na língua Kamayurá, fazendo-lhes tantas e tão 
úteis recomendações, e ao Dr. Ivan Lowe a sua valiosa ajuda na elaboração do presente estudo. 
Tradução de Mary L. Daniel

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