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CONSTRUINDO UM DICIONÁRIO PARAKANÃ PORTUGUÊS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
CENTRO DE LETRAS E ARTES 
MESTRADO EM LETRAS – LINGÜÍSTICA 
 
 
GINO FERREIRA DA SILVA 
 
CONSTRUINDO UM DICIONÁRIO PARAKANÃ-PORTUGUÊS 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2003 
 2
Gino Ferreira da Silva 
 
 
 
CONSTRUINDO UM DICIONÁRIO PARAKANÃ-PORTUGUÊS 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Colegiado de Pós-
Graduação em Letras e Artes da Universidade 
Federal do Pará, como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Mestre em Letras – Lingüística, 
sob orientação da Profa. Dra Célia Maria Coelho 
Brito. 
 
 
 
 
 
 
 
Belém 
2003 
 3
Gino Ferreira da Silva 
 
CONSTRUINDO UM DICIONÁRIO PARAKANÃ-PORTUGUÊS 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Colegiado de Pós-
Graduação em Letras e Artes da Universidade 
Federal do Pará, como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Mestre em Letras – Lingüística, 
sob orientação da Profa. Dra Célia Maria Coelho 
Brito. 
 
 
 
 
 
Banca examinadora: 
Dra Célia Maria Coelho Brito. 
 Presidente 
Dra Carmem Lúcia Reis Rodrigues 
Dra Ana Vilacy Galucio 
Dra Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira 
 Suplente 
 
 
 
 
 
 
 
Belém 
2003 
 4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Aos Parakanã do Xingu 
À Tate, Késia e Esdras, com amor. 
 5
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Ao Deus Todo Poderoso, pela graça concedida ao longo deste trabalho. 
 À Dra. Célia Brito, pela orientação e por ter aceito este desafio. 
 À Dra. Helga Elisabeth Weiss, pelas sugestões preciosas e orientação na 
parte teórica. 
 Aos colegas José Carlos, Raquel Alcântara e Steve Sheldon, pelo carinho 
e compreensão. 
 Aos amigos Norval, Isaac, Shirley, Oséas e Heliana, por terem me 
incentivado a estudar a língua Parakanã. 
 À família Jensen, por ter dividido comigo seu precioso local de trabalho, 
seu tempo e conhecimentos. 
 A Joe e Liliane Boot, por terem me animado sempre. 
 Aos amigos mais chegados que irmãos, Beth, Márcio, Mimi e Zeca, pelo 
apoio, amizade e orientação. 
 À minha querida sogra D. Ana Caetana, por ter segurado as cordas para 
nos sustentar neste tempo. 
 Aos Parakanã, por terem dividido tempo, língua e saber. 
 A Iatora Parakanã, xemo’enarete, sábio ancião que faleceu em 2000. 
 A Odete Schmalz e Édina Prado, mais que irmãs, que continuaram o 
programa educacional entre os Parakanã do Xingu. 
 Aos filhos amados Késia Nina e Esdras Rafael, pela paciência com as 
constantes irritações do pai. 
 A Auristéa, minha querida Tate, xepi’eete, esposa, grande tema, pelo 
amor, dedicação, conhecimento, orientação e encorajamento. 
 
 
 
 6
ÍNDICE 
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................5 
LISTA DE ABREVIATURAS .........................................................................................10 
RESUMO..........................................................................................................................12 
ABSTRACT......................................................................................................................13 
INTRODUÇÃO .....................................................................................................................14 
CAPÍTULO 1 ..........................................................................................................................16 
CONCEITUANDO OS PRINCÍPIOS DA OBRA LEXICOGRÁFICA ...............................................16 
1.1 A Língua ..................................................................................................................16 
1.2 A Lexicologia ..........................................................................................................17 
1.2.1 O Léxico ...............................................................................................................18 
1.2.1.1 A Unidade Lexical.............................................................................................19 
1.2.2 Relações Lingüísticas de Sentido .........................................................................21 
1.3 A Lexicografia .........................................................................................................22 
1.4 Tipologia de Dicionários ........................................................................................23 
1.4.1 Classificação dos Dicionários .............................................................................23 
CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................25 
O POVO PARAKANÃ ...........................................................................................................25 
2.1 Parakanã: etnônimo e língua..................................................................................25 
2.2 Localização .............................................................................................................25 
2.3 História do povo......................................................................................................26 
2.3.1 Situação atual.......................................................................................................27 
2.3.1.2 Escola na Terra Indígena Apyterewa ...............................................................27 
CAPÍTULO 3 ..........................................................................................................................29 
BASE PARA COMPILAÇÃO DE UM DICIONÁRIO PARAKANÃ-PORTUGUÊS .............................29 
3.1 Coleta e análise dos dados Parakanã.....................................................................29 
3.2 Aprendizado da língua e cultura Parakanã ............................................................30 
3.3 Relações lingüísticas de sentido do Parakanã........................................................31 
3.3.1 Homonímia...........................................................................................................31 
3.3.2 Polissemia ............................................................................................................31 
3.3.3 Hiperonímia e hiponímia .....................................................................................32 
 7
3.3.4 Sinonímia e antonímia..........................................................................................33 
3.3.5 Neologia ...............................................................................................................33 
3.4 A macroentrada do dicionário ................................................................................35 
3.5 A microentrada do dicionário.................................................................................35 
CAPÍTULO 4 ..........................................................................................................................37 
CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS E MORFOLÓGICAS DO PARAKANÃ. ................................37 
4.1 Fenômenos fonológicos do Parakanã.....................................................................37 
4.1.1 As consoantes .......................................................................................................37 
4.1.2 As vogais ..............................................................................................................38 
4.1.3 Sistema ortográfico ..............................................................................................38 
4.1.3.1 Consoantes ........................................................................................................394.1.3.2 Vogais................................................................................................................41 
4.1.4 Os padrões silábicos ............................................................................................41 
4.1.5 O acento ...............................................................................................................42 
4.2 Fenômenos morfológicos do Parakanã ..................................................................43 
4.2.1 Regras morfofonológicas .....................................................................................43 
4.2.2 Processo flexional ................................................................................................45 
4.2.2.1 Prefixos flexionais .............................................................................................45 
4.2.2.1.a. Prefixos relacionais ......................................................................................45 
4.2.2.1.b Prefixos pessoais ............................................................................................49 
4.2.2.2 Sufixos flexionais...............................................................................................50 
4.2.2.2.a Mudança de tema ...........................................................................................52 
4.2.2.2.b Reduplicação..................................................................................................53 
4.2.3 Derivação.............................................................................................................53 
4.2.3.1 Reflexivização ...................................................................................................53 
4.2.3.1.a Prefixo reflexivo .............................................................................................54 
4.2.3.1.b Prefixo recíproco ...........................................................................................54 
4.2.3.2 Causativização ..................................................................................................54 
4.2.3.2.a Prefixos causativos simples: ..........................................................................55 
4.2.3.2.b Prefixo causativo-comitativo .........................................................................55 
4.2.3.3 Nominalização...................................................................................................55 
4.2.3.3.a Prefixo nominalizador de paciente ................................................................56 
 8
4.2.3.3.b Sufixo nominalizador de agente .....................................................................56 
4.2.3.3.c Sufixo nominalizador de predicado................................................................56 
4.2.3.3.d Sufixo nominalizador de similaridade ...........................................................56 
4.2.3.3.e Sufixo nominalizador de circunstância ..........................................................57 
4.2.3.4 Incorporação.....................................................................................................58 
4.2.4 Composição..........................................................................................................58 
4.2.4.1 Nome + Nome ...................................................................................................58 
4.2.4.2 Nome + Verbo ...................................................................................................59 
4.2.4.3 Verbo + Verbo...................................................................................................60 
CAPÍTULO 5 ..........................................................................................................................61 
CLASSES DE PALAVRAS .....................................................................................................61 
5.1 Nomes......................................................................................................................61 
5.2 Verbos .....................................................................................................................62 
5.3 Posposições .............................................................................................................63 
5.3.1 -opi ‘com (companhia), por .................................................................................63 
5.3.2 pope ‘dentro de, em’ ............................................................................................64 
5.3.3 ohi ~ hi ‘de’ ..........................................................................................................64 
5.3.4 katy ‘na direção de; para’....................................................................................64 
5.3.5 enone ‘à frente de’ ...............................................................................................64 
5.3.6 ewiri ‘atrás de’ .....................................................................................................65 
5.3.7 pyri ‘perto de, em’................................................................................................65 
5.3.8 re ~ ehe ‘a respeito de, com (contra), para’ ........................................................65 
5.3.9 wyri ‘sob, embaixo de’ .........................................................................................65 
5.3.10 po ‘com (instrumento)’.......................................................................................66 
5.4 Pronomes pessoais ..................................................................................................66 
5.4.1 Absolutivos ...........................................................................................................66 
5.4.2 Independentes.......................................................................................................67 
5.4.3 Ergativo................................................................................................................68 
5.4.4 Pronome Imperativo.............................................................................................68 
5.4.5 Pronomes correferenciais ....................................................................................69 
5.5 Numerais .................................................................................................................70 
5.6 Partículas ................................................................................................................70 
 9
5.6.1 Dêiticas ................................................................................................................70 
5.6.2 Adverbiais ............................................................................................................71 
5.6.3 Temporais.............................................................................................................71 
5.6.4 Evidenciais ...........................................................................................................71 
5.6.5 Gramaticais..........................................................................................................72 
5.7 Clíticos ....................................................................................................................72 
5.7.1 Negativos..............................................................................................................73 
CAPÍTULO 6 ..........................................................................................................................74 
O PEQUENO DICIONÁRIO PARAKANÃ-PORTUGUÊS ............................................................74 
CONCLUSÃO.....................................................................................................................170 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................171ANEXO 2: FOTOGRAFIAS ..................................................................................................177 
 
 10
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
-Ø Morfema zero 
1 Primeira pessoa singular 
12 Primeira pessoa plural inclusiva 
2 Segunda pessoa singular 
22 Segunda pessoa plural 
23 Primeira pessoa plural exclusiva 
3 Terceira pessoa singular 
A Agente 
Ab Absolutivo 
AC Acusativo 
AG Sufixo Nominalizador de Agente 
ARG Argumento 
C Consoante 
CAUS Causativo 
CNT Determinante Contíguo 
COM Comitativo 
COR Correferencial 
ERG Ergativo 
EXCL Exclusivo 
GER Gerúndio 
H Humano indefinido 
IMP Imperativo 
INCL Inclusivo 
INTC Sufixo Marcador de Intencionalidade 
INTENS Intensificador 
Lit. Literalmente 
LP Locativo Pontual 
 11
LD Locativo Difuso 
MS Mesmo Sujeito 
NOBJ Nominalizador de Objeto 
NCIRC Sufixo Nominalizador de Circunstância 
NCNT Determinante não-contíguo 
NEG Negação 
Neg.Imp Negação no Imperativo 
NFUT Sufixo Nominalizador de Futuro 
NPAS Sufixo Nominalizador de Passado 
NPRED Nominalizador de predicado 
PROP Propósito 
Q Partícula Interrogativa 
REC Recíproco 
REF Reflexivo 
REL Relacional 
SD Sujeito Diferente 
Simil Sufixo Nominalizador de similaridade 
V Vogal 
Vint Verbo Intransitivo 
Vnom Verbo-Nominal 
Vtran Verbo Transitivo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12
RESUMO 
 
 
 O objetivo da nossa pesquisa é a elaboração de um pequeno dicionário 
Parakanã-Português, um inventário inicial da lexicologia Parakanã, língua pertencente à 
família Tupi-Guarani, subconjunto IV, falada por cerca de 830 pessoas, distribuídas em 7 
aldeamentos no Estado do Pará. 
 Esta dissertação apresenta uma abordagem dos conceitos básicos sobre 
língua, lexicologia, lexicografia, léxico e tipologia de dicionários. Os conceitos de 
homonímia, polissemia, hiperonímia, hiponímia e processos de composição e derivação 
também foram muito importantes para descrição do universo lexical da língua Parakanã. 
 Trata também da morfologia Parakanã, especificamente dos temas 
relevantes para justificar as entradas do dicionário, isto é, classes de temas, itens lexicais 
e gramaticais. Quanto aos itens gramaticais, diferencia-se os flexionais, derivacionais e 
outros usados na formação de unidades lexicais. 
 Todas os dados foram computados através do software Shoebox 5.0, 
programa fundamental usado na análise dos dados, nas análises interlineares de textos 
e formatação do dicionário. 
 O Pequeno Dicionário Parakanã-Português apresentado ao final desta 
dissertação serve como uma obra de consulta para o usuário interessado no 
conhecimento da língua Parakanã. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13
ABSTRACT 
 
 
 The objective of this investigation is the production of a small Parakanã-
Portuguese dictionary as an initial investigation into the study of the Parakanã lexicon. 
This language belongs to the the Tupi-Guarani family of subset IV and is spoken by 
around 830 people in seven villages in the state of Pará. 
 This thesis contains a description of basic concepts about language, 
lexicology, lexicography, lexicon, and types of dictionaries. The concepts of homonymy, 
polysemy, hypernymy, hyponymy, and processes of derivation and composition have 
also been important for the description of the lexical universe of the Parakanã language. 
 This study also deals with Parakanã morphology, in particular with topics 
that are relevant in order to validate entries in the dictionary, that is, classes of radicals 
and lexical and grammatical items. Among grammatical items, a distinction is made 
between those which have to do with inflection and with derivation, as well as others 
which are used in the formation of lexical units. 
 All of the data were entered in a computer by means of the software 
Shoebox 5.0, a fundamental program which was used in the analysis of these data, in 
the interlinear analysis of texts, and in formatting the dictionary. 
 The Small Parakanã-Português Dictionary which is presented at the end of 
this thesis should serve as a reference work for persons who are interested in knowing 
about the Parakanã language. 
 
 14
INTRODUÇÃO 
 
 Este trabalho é fruto de uma pesquisa realizada por nós junto ao povo 
indígena Parakanã que habita o médio rio Xingu entre os municípios de São Félix do 
Xingu e Altamira, no Estado do Pará. 
 Parakanã também é o nome da língua falada por este povo e se encontra 
classificada na família Tupi-Guarani. O objetivo desta pesquisa participante era a 
organização de um dicionário Parakanã-Português. Foi graças à ajuda e interesse dos 
muitos colaboradores nativos que este trabalho se tornou possível. Contar com a 
sabedoria e interesse do grupo foi fascinante, pois tivemos a oportunidade de registrar 
parte do saber de uma língua até pouco tempo ágrafa. 
 Procuramos obter o máximo possível de acuidade na interpretação dos 
fenômenos observados, fazendo ampla coleção de textos orais que serviram de aporte 
para uma análise da morfologia e da sintaxe que subsidiaram a escolha das entradas.Tal 
procedimento gerou um esboço da gramática dessa língua, que precede o dicionário. 
Além das horas gastas na análise lingüística foram necessários longos períodos de 
convivência, observação e interrelação com o povo e a cultura Parakanã, para se chegar 
ao resultado aqui exposto. 
 O dicionário Parakanã não é apenas um simples repositório ou acervo de 
unidades lexicais, mas pode ser também um guia de uso dessas. Para isso procuramos 
não apenas registrar, traduzir e classificar cada lexema, mas, sempre que possível 
procuramos exemplificar o uso de cada um. Cremos que será um instrumento 
pedagógico valioso para os alunos da escola parakanã, que poderão manipular esta 
obra, familiarizando-se com a fórmula dos dicionários, e, principalmente, tendo 
oportunidade de corrigir, acrescer ou suprimir informações, que acharem pertinentes. A 
partir desse trabalho surgirão, certamente, glossários e vocabulários que serão muito 
usados na escola indígena. Este trabalho serve também para lingüistas interessados na 
língua parakanã, para uso em futuros estudos de comparação, para reconstrução e 
conhecimento da evolução de línguas da mesma família lingüística. Além disso, poderá 
ser útil a funcionários da FUNAI e FUNASA que trabalham com esse povo e poderão ter 
maior conhecimento da língua a partir do mesmo. 
 15
 Para colocarmos em prática os princípios da obra lexicográfica, nosso 
primeiro passo, na confecção do dicionário, foi organizar o léxico em ordem alfabética. 
Escolhemos seguir a ordem preconizada para os dicionários monolíngües de línguas 
como o português, espanhol, inglês etc. A diferença no dicionário parakanã, reside no 
fato desta língua não possuir em seu alfabeto todas a letras encontradas nos alfabetos 
daquelas, há muito dicionarizadas. Algumas letras encontradas em português como o c 
e f , são omitidas no dicionário Parakanã-Português. Há, todavia, em parakanã, o sinal  
que representa um som consonantal, e que não ocorre nas línguas românicas, logo, foi 
acrescido na parte final desse alfabeto. 
 Em seguida passamos à seleção e ao arranjo dos elementos descritivos 
que deveriam figurar nas unidades lexicais, incluindo-se nesta etapa informações 
morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas. 
 O trabalho está dividido em capítulos, assim distribuídos: 
No primeiro capítulo tratamos dos conceitos básicos da obra lexicográfica, que serviram 
de aporte para a realização desta pesquisa. 
 No segundo capítulo apresentamos um pouco da história recente eda 
classificação dada à língua da nação indígena Parakanã. 
 No terceiro capítulo descrevemos os procedimentos adotados no 
levantamento do corpus, o processo de aprendizagem da língua e o envolvimento com a 
escola parakanã. Mostraremos também como foi organizada a coleta e o processamento 
dos dados. 
 No capítulo quatro abordamos os aspectos fonológicos, morfológicos e 
sintáticos da língua Parakanã. 
 No capítulo cinco daremos atenção especial às classes de palavras em 
Parakanã. 
 Concluindo, no capítulo seis apresentamos o pequeno dicionário 
Parakanã-Português. 
 
 16
Capítulo 1 
 
Conceituando os Princípios da Obra Lexicográfica 
 
 
 Para confecção de um dicionário Parakanã foi imprescindível explorar, 
resumidamente, alguns conceitos básicos que constituem a fundamentação teórica de 
uma obra lexicográfica. Os conceitos aqui analisados são: língua, lexicologia, léxico, 
unidade lexical, relações lingüísticas de sentido, lexicografia, tipologia e classificação de 
dicionários. 
1.1 A Língua 
 Muitos foram os cientistas da linguagem que empreenderam uma 
definição do conceito de língua. Saussure (1857-1913), sem dúvida, é o principal nome. 
Para Saussure e toda a Escola de Praga, língua é considerada como um sistema de 
relações ou como um conjunto de sistemas interligados, cujos elementos (sons, 
palavras, etc.) não têm nenhum valor independentemente das relações de equivalência 
e de oposição que os unem. 
 Saussure (1972) estabeleceu a oposição langue versus parole. Para ele 
langue é uma instituição social com um sistema gramatical internalizado e comum ao 
conjunto de falantes de uma língua, diferente de parole, que tem a ver com o 
desempenho individual. 
 Devemos também a esse lingüista o conceito de língua como sistema de 
signos. Signo como unidade lingüística dupla, produzida pela junção de dois termos – 
significante e significado, cujo laço que os une tem a característica de ser arbitrário. 
 Coseriu (1967) reformula a dicotomia saussuriana langue-parole por 
acreditar que esta oposição não seja suficiente para demonstrar o que se passa na 
linguagem. Propõe um conceito paralelo, que é o conceito de norma. Comentando a 
contribuição de Coseriu, Lopes (1995, p.80) afirma: 
"Tal como a langue, a norma é convencional; tal como a parole ela é 
opcional. Mas, diferentemente da parole, que é opção individual, 
deliberação de cada falante em cada enunciação concreta, a norma implica 
numa opção do grupo a que pertence o falante e pode, assim, divergir das 
 17
demais normas seguidas por outros grupos da mesma comunidade 
lingüística". 
 
 Martinet (1973), por sua vez, descreve língua como organização psico-
fisiológica que permite, "...de acordo com as normas, a análise da experiência que se 
quer comunicar, e bem assim a seleção das unidades necessárias a cada ponto do 
enunciado". Martinet (1973, p.22) ainda sugere código e mensagem em lugar da 
tradicional oposição língua e fala: "... o código representa a organização que permite 
redigir a mensagem; é com ele que se confrontam os vários elementos desta, para lhes 
definir o sentido." 
 Chomsky (1965) foi outro nome importante que também formulou um 
conceito de língua. Elaborou as primeiras discussões que deram origem à gramática 
gerativa. Seu conceito de competência-performance está muito próximo do conceito de 
langue-parole, de Saussure. A competência (a langue) faz referência ao sistema de 
regras da língua que uma pessoa domina. Já a performance (a parole) diz respeito à 
atualização ou à manifestação desse sistema em atos concretos. 
 
1.2 A Lexicologia 
 Lexicologia é um ramo da lingüística que trabalha com o componente 
lexical da linguagem, procurando descrever a natureza e a composição desses. Defini-la 
como estudo científico do léxico, para Vilela (1994, p. 10), equivale a dizer que "... a 
lexicologia tem como objeto o relacionamento do léxico com os restantes subsistemas 
da língua, incidindo sobretudo na análise da estrutura interna do léxico, nas suas 
relações e inter-relações." 
 Vilela destaca ainda que a lexicologia estuda as palavras de uma língua, 
em todos os seus aspectos, incluindo a etimologia, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, 
o empréstimo de palavras, mas tem uma ligação especial com a semântica. 
 Barbosa (1990, p.153) também chama atenção para os aspectos acima, 
detalhando as numerosas tarefas da lexicologia, enquanto um nível de articulação 
morfo-sintático-semântico muito complexo: 
• definir conjuntos e subconjuntos lexicais (universo léxico, conjunto 
vocabulário, léxico efetivo e virtual, vocabulário ativo e passivo); 
 18
• conceituar e delimitar a unidade lexical de base (a lexia); 
• analisar e descrever as estruturas morfo-sintático-semânticas dessas 
unidades lexicais, sua estruturação, tipologia e possibilidades 
combinatórias; 
• abordar a palavra como geradora e como reflexo de recortes 
culturais; 
• estabelecer a rede de relações das palavras de um sistema 
lingüístico; 
• circunscrever a aptidão das palavras, para se interligarem a planos 
morfossintático, sintático e semântico, nos eixos paradigmático e 
sintagmático; 
• estudar o conjunto de palavras de determinado sistema, ou de um 
grupo de indivíduos. 
 A lexicologia, segundo Vilela (1994), não providenciará um inventário de 
todo o material armazenado no léxico, mas fornecerá os pressupostos teóricos que 
permitem traçar as linhas que coordenam o léxico duma língua. 
 
1.2.1 O Léxico 
 Tecendo considerações sobre o léxico, Anderson (1985) afirma que 
tradicionalmente o léxico tem sido tratado como uma lista mais ou menos organizada 
das correspondências convencionadas pelos falantes de uma língua entre forma e 
significado. 
 Vilela (1994) amplia a idéia de Anderson e trata o léxico como um conjunto 
de todas as unidades lexicais/palavras de uma língua, que capacita os falantes de uma 
determinada comunidade lingüística a interagirem entre si. Nestes termos, o léxico de 
uma língua é visto como o dicionário ideal. 
 Sobre este mesmo tema, Biderman (2001, p.12) afirma que "O léxico é um 
sistema aberto com permanente possibilidade de ampliação, à medida que avança o 
conhecimento, quer se considere o ângulo individual do falante da língua, quer se 
considere o ângulo coletivo da comunidade lingüística." 
 19
 Sandmann (1991, p. 59) expõe também sua idéia quanto à ampliação do 
léxico, considerando-o como: 
"Expressão da cultura de uma comunidade humana maior ou menor, é 
natural que a língua acompanhe as mudanças ou a evolução dessa cultura, 
criando inclusive unidades lexicais novas para rotular novos aspectos da 
cultura. [...] A língua lança mão, para tal, habitualmente, de modelos 
produtivos tradicionais, não sendo comum, em geral, a inovação nesse 
campo." 
 
 Posicionando-se assim sobre a ampliação do léxico, Sandmann esclarece 
ainda a idéia de norma lançada por Coseriu (apud Biderman 2001, p.20) já mencionada 
anteriormente: 
"O que, na realidade, se impõe ao indivíduo, limitando sua liberdade 
expressiva e comprimindo as possibilidades oferecidas pelo sistema, dentro 
do marco fixado pelas realizações tradicionais, é a norma. A norma é, com 
efeito, um sistema de realizações obrigatórias, de imposições sociais e 
culturais, e varia segundo a comunidade." 
 
 Podemos concluir por meio dessas declarações que o léxico, além de 
constituir-se do saber vocabular de um determinado grupo lingüístico e cultural definido, 
é marcadamente dinâmico, uma vez que "[...] palavras e expressões surgem, 
desaparecem, perdem ou ganham significações ..." (Barcelos in Azeredo 2000, p.142) 
1.2.1.1 A Unidade Lexical 
 As palavrassão unidades léxicas básicas com características que se 
distinguem entre si. 
 Grande tem sido a controvérsia quanto à identificação e definição da 
palavra em comparação com outras categorias da descrição lingüística. Alguns teóricos 
argumentam que conceber palavra como "(...) 'unidades de significação' ou 'de idéias' 
não ajuda muito, por causa da vagueza de noções, como 'idéia'. “ (Crystal, 1985, p.194). 
 Segundo Robins (1965, p.194), foi Bloomfield (1933) quem formulou a 
definição clássica de palavra, como uma "forma livre mínima", sendo a menor unidade 
que pode constituir, por si mesma, um enunciado completo. Este critério, como 
 20
argumenta Robins, mostra-se insatisfatório, pois não dá conta de todas as palavras. 
Existem formas livres mínimas que não se enquadrariam como palavra, se seguido 
apenas o critério bloomfieldiano. Exemplos do português seriam os determinantes o e 
um. 
 Lyons (1969), tentando evitar a ambigüidade do termo palavra utilizada em 
vários níveis da lingüística e da ortografia, criou o termo lexema como unidade do 
vocabulário. Crystal (1985, p.157) comentando sobre este termo, afirma: 
"Sua motivação original era reduzir a ambigüidade do termo palavra, que 
era aplicada aos níveis ortográfico/fonológico, gramatical e lexical, além de 
elaborar um termo mais apropriado para quando se discute o vocabulário 
de uma língua. Assim o lexema é uma unidade abstrata subjacente a grandes 
conjuntos de variantes gramaticais, como caminho, caminha, caminhou, 
caminhando, etc." 
 
 Martinet (1973), ao determinar que a linguagem apresenta dupla 
articulação, introduziu o termo monema para definir a unidade lexical. Monema, assim, 
designa a unidade significativa da primeira articulação, e se apresenta como lexemas 
(morfema lexical ou morfema gramatical). 
 Na verdade, os critérios para determinação e delimitação da 'palavra' 
tornaram-se um grande problema para os teóricos lingüísticos. Biderman (2001, p.12), 
nesse sentido, assume uma posição não radical, afirmando a impossibilidade de definir e 
delimitar a palavra, mas admite, baseada na tese de Sapir-Worf, "... que a conceituação 
e a delimitação da palavra devem ser formuladas para cada língua ou grupo de línguas 
afins." 
 Posicionando-se também a respeito dessa problemática, Anderson (1985) 
afirma que vários critérios devem ser considerados para chegarmos a uma noção de 
palavra em uma determinada língua. Um dos critérios seria o fonológico: pausas, 
acentos fixos e grupos de consoantes ou vogais que servem para determinar a fronteira 
entre as palavras nas línguas. O critério gramatical seria outro. Por meio de composição 
das palavras, combinação e possibilidade ou não de permutas, é possível, ao menos em 
uma certa extensão, reconhecer o limite das palavras. 
 Anderson também chama a atenção para o fato de que nem sempre é 
possível definir as fronteiras das palavras, especialmente quando clíticos estão 
envolvidos. Além do mais, muitos dos critérios que podem ser aplicados a um grupo de 
 21
 
línguas como as isolantes ou as flexionais, simplesmente não funcionam em línguas 
aglutinantes. Por causa desta falta de critério definido e definitivo, é que Anderson afirma 
serem os critérios atuais "mutuamente independentes" e por vezes "conflitantes" (p.4). 
Ele opta por utilizar o termo 'item lexical' ao referir-se às unidades lexicais da língua em 
vez de palavra. De acordo com o preconizado por Anderson, Biderman (2001, p. 155) 
afirma que: "... para determinar as unidades léxicas de um discurso, ou de um corpus, o 
lingüista deverá operar, simultânea e sucessivamente, com os três critérios (...): a análise 
fonológica, a gramatical e a semântica." 
 Neste trabalho, chamaremos de unidades lexicais todos os itens passíveis 
de terem sua própria entrada no dicionário da língua. Tais itens podem ser constituídos 
de temas, temas flexionados (derivação), compostos (mais de um tema) ou expressões 
(constituídos de vários elementos estruturais com um sentido único). 
 
1.2.2 Relações Lingüísticas de Sentido1
 Apresentaremos abaixo algumas relações lingüísticas de sentido 
comumente usadas na metodologia da obra lexicográfica. Nosso objetivo é apenas 
fornecer algumas definições, já preconizadas, que assumimos como base para o nosso 
inventário lexical da língua Parakanã: 
• Monossemia: lexemas que possuem um único sentido, como alguns 
termos científicos; 
• Polissemia: lexemas com vários sentidos. Pode haver, segundo Weiss 
(1998, p.27) "... polissemia de palavras, de seqüências de palavras, de 
interpretação, etc". 
• Homonímia: lexemas com diferentes sentidos, mas com idêntica forma 
fônica (homofonia) ou gráfica (homografia); 
• Hiperonímia: termo que indica haver uma relação entre um elemento 
"superordenado" (Lyons, 1984) e os diferentes elementos incluídos 
numa determinada categoria do léxico, chamados hipônimos: animal é 
o hiperônimo de boi, tatu, cavalo, jacaré etc. 
 
1 Usaremos o termo “sentido” conforme Lyons (1980, p.163) o concebeu: "...como seu significado 
cognitivo e descritivo." 
 22
• Hiponímia: designação para a relação das unidades léxicas 
subordinadas a um termo superordenado: boi é o hipônimo (termo 
específico) de animal (termo genérico). 
• Sinonímia: lexema que pode substituir outro em pelo menos um 
contexto isolado. Lopes (1995, p. 256) afirma que dois termos, a e b , 
são sinônimos "... se as frases que obtemos, comutando-os, 
possuírem, sob algum ponto de vista, sentidos correspondentes". 
Todavia, não há sinonímia perfeita dentro da mesma língua, em todos 
os contextos, e entre itens correlatos de línguas diferentes. 
• Antonímia: lexema que designa uma relação de oposição entre itens 
lexicais. Assumimos que esta relação de oposição não se dá apenas 
como relação de contrariedade, mas também de contraditoriedade2, o 
que nos dá uma idéia melhor de antonímia. 
1.3 A Lexicografia 
 A lexicografia "... é a arte e a ciência da confecção de dicionários" (Crystal 
1988, p.158). Para esse mesmo autor, a lexicografia pode ser considerada um ramo da 
"lexicologia aplicada". 
 Weiss (1998, p.29) também destaca o mesmo aspecto acima na definição 
que formula da lexicografia: 
"Os lexemas de uma língua são organizados em verbetes, que consistem 
numa palavra-entrada, seguida de informações explicitando aquela palavra-
entrada. Para apresentar essas informações nos verbetes e 'falar sobre a 
língua', a lexicografia desenvolve uma metalinguagem própria. A 
lexicografia pertence ao campo da lingüística aplicada, ou melhor, da 
lexicologia aplicada." 
 
 A lexicografia tem caráter semasiológico, pois parte da palavra para se 
chegar à idéia, ou no dizer de Barbosa (1990,157): "... parte da denominação para 
chegar à definição." 
 Barbosa (1990) ainda salienta que existe estreita relação entre lexicografia 
e terminologia-terminografia. A lexicografia tem a tarefa de definir, preenchendo uma 
 23
 
função de decodificação. A tarefa básica da terminologia (conjunto de palavras técnicas 
ou científicas) é de nomear o termo, preenchendo uma função de codificação. A 
metodologia adotada pela terminologia no cumprimento de sua tarefa é de caráter 
onomasiológico, pois parte do conceito para se chegar aos signos lingüísticos que lhe 
correspondem; ou no dizer de Pottier (apud Barbosa 1990, p.157): "de uma intenção de 
significação a soluções de formas de substância que são expressas por meio de certos 
significantes..." 
1.4 Tipologia deDicionários 
 O dicionário é uma obra que descreve o léxico de uma ou mais línguas. O 
dicionário providencia uma exploração sistemática do vocabulário de uma língua, 
incluindo, entre outras coisas, significado, variações e uso. 
 Acentuando o lado analítico do dicionário, Bartholomew & Schoenhals 
(1983: p. 9) argumentam: 
 
"A entrada em um dicionário deve refletir a estrutura léxica da palavra. Ela 
deve enumerar os sentidos distintos da palavra, incluídos os significados 
centrais e estendidos. Incluirá qualquer informação essencial para formar o 
paradigma de formas flexionadas para aquela palavra. Distinguirá a 
palavra de outras a ela relacionadas etimologicamente, isto é, seus 
derivados e compostos. Providenciará distinção da palavra com outras que 
possuam a mesma forma fonológica (homófonos). A entrada deveria dar a 
classificação gramatical da palavra (substantivo, verbo, preposição, etc)".3
 
1.4.1 Classificação dos Dicionários 
 Os dicionários podem ser classificados de acordo com os objetivos ou a 
clientela que deseja alcançar. Podem ser: 
• monolíngües: tratam de uma só língua, apresentam-se em ordem 
alfabética e providenciam ao consulente entendimento para usar 
determinados termos; 
 
2 Este assunto é discutido em Lopes (1995) 
 24
 
• plurilíngües: tratam de duas ou mais línguas, procurando fazer 
equivalência termo a termo entre elas. Em se tratando de dicionários 
bilíngües, veja comentário de Pawley4 (apud Coward e Grimes, 1995, 
p.71) em nota de rodapé. 
• dicionários científicos ou técnicos: procuram, segundo Barbosa (1995) 
situar-se em uma norma lingüística e sociocultural, tendo como 
unidade-padrão o vocábulo; 
• dicionários enciclopédicos: correspondem às obras de conhecimentos 
gerais; 
• tesauro: reúne diversos sinônimos em tópicos semânticos. Coward & 
Grimes (1995) não recomendam o tesauro até que um dicionário pleno 
tenha sido publicado primeiramente. 
 Nossa proposta é apresentar, neste momento, como parte desta 
dissertação um dicionário bilingüe, no qual consideramos como L1 a língua parakanã e 
o português como L2. 
 
 
3 Tradução nossa. 
4 “O dicionário bilíngüe, indo de L1 para L2, é principalmente uma ajuda de tradução e idealmente 
deveria ser apoiado por dicionários monolíngües das duas línguas. O Tesauro procura equivalentes em 
lugar de análise. Comece com o caso mentalmente mais simples onde os dois idiomas, L1 e L2, já têm 
todos os termos completamente intertraduzíveis. Por isto quero dizer que para todo termo em L1 há, 
pelo menos, um termo de significado equivalente em L2. Em tais circunstâncias, a contraparte da 
definição é a tradução equivalente. E o trabalho do lexicógrafo seria especificar a própria tradução 
equivalente. Não haveria qualquer necessidade para definir os significados de termos em L2 em 
condições analíticas porque o falante de L1 ou saberia o termo equivalente na própria língua, ou isto 
já teria sido apontado para ser observado em um dicionário "monolíngüe". (Tradução nossa) 
 25
Capítulo 2 
 
O Povo Parakanã 
 
 Parakanã é o nome do povo e da língua do grupo indígena sobre o qual 
realizamos nossa pesquisa. Este grupo vive em duas áreas distintas no Estado do Pará. 
No presente capítulo serão relatados aspectos da sua história e língua. 
2.1 Parakanã: etnônimo e língua 
 Parakanã foi um nome dado pelos Arara-Pariri ao povo que vivia na região 
mais próxima do rio Iruaná5. Contudo, o povo Parakanã se autodenomina Awaete (áwa 
‘gente’ + eté ‘verdadeiro’) "... em oposição a Akwawa, categoria genérica para 
estrangeiros, cuja determinação fundamental é a inimizade (Fausto 1997, p.1). 
 Parakanã é mais uma língua da família Tupi-Guarani, que, segundo 
Rodrigues (1984/1985), pertence ao subconjunto IV, conjunto este que engloba as 
línguas Asurini do Tocantins, Guajajara, Tembé, Suruí, Tapirapé e Avá Canoeiro. Para 
Rodrigues ainda é possível distinguir-se os subconjuntos conforme o compartilhamento 
de certas propriedades específicas em relação ao Proto-Tupi-Guarani. Assim, as línguas 
desse subconjunto conservam a consoante final, fundem ʧ e ts em h, e mudam j em tx, 
ts, s, ou z, além de acrescentarem o sufixo argumentativo –a aos nomes. 
 Os falantes nativos dessa língua somam hoje mais de 830 indivíduos. O 
grau de bilingüismo é crescente, principalmente entre os mais jovens, uma vez que são 
esses que viajam mais para as cidades vizinhas a fim de negociarem madeira, 
contactarem autoridades e agentes da FUNAI, como acontece entre os Parakanã do 
Xingu. 
 
2.2 Localização 
 Os Parakanã vivem no Estado do Pará em duas áreas distintas (Vide 
mapa à página 173). Uma é a Terra Indígena Parakanã (latitudes 4o – 5o S, longitude 50o 
 26
 
–51o W), localizada entre os municípios de Itupiranga e Novo Repartimento, com cinco 
aldeamentos denominados: Marudjewara, Paranatinga, Paranowa’ona, Inaxyanga e 
Itaygoa. A outra terra índígena Parakanã é chamada de Área Indígena Apyterewa, que 
se situa entre os municípios de Senador José Porfírio e São Félix do Xingu. Nessa área 
há duas aldeias: o Posto Indígena Apyterewa (lat. 5o 33' 21,4" S, longitude 52o 40' 24,6" 
W), onde vivem 160 indivíduos (junho de 2002)6, e a Aldeia Xingu (lat. 5o 36' 23,0" S, 
long. 52o 41' 20,5" W), habitada por 132 pessoas, estando ambas localizadas à margem 
direita do Rio Xingu, sentido São Félix-Altamira, entre os igarapés São José e Bom 
Jardim. O acesso à Terra Indígena Apyterewa é feito pelo Rio Xingu ou por via aérea. 
 
2.3 História do povo 
 Os diferentes grupos dos Parakanã foram contactados nas décadas de 70 
e 80. O primeiro grupo, contactado no igarapé Lontra (afluente do rio Pucuruí) em 1971, 
contava com uma população, segundo estimativa de Fausto (1997, p.55), de 140 a 145 
pessoas. Um segundo grupo, contactado em 1976, somava 40 pessoas (Magalhães 
(1997, p.57). Posteriormente, esses dois grupos foram transferidos para a Terra 
Indígena Parakanã, demarcada em 1975. Um terceiro grupo, contactado em 1982 (Parisi 
(1999, p.20), foi levado para a aldeia Marudjewara na Terra Indígena Parakanã. 
 Em dezembro de 1983 e março de 1984, os últimos grupos de Parakanã 
“arredios” foram contactados na região do igarapé Bom Jardim, afluente do Rio Xingu. O 
primeiro grupo era composto por 106 pessoas e o segundo, de 31 (Fausto 1997, p. 60). 
Esses dois grupos, juntos, somam, hoje, 292 pessoas, foram remanejados para a Terra 
Indígena Apyterewa. Comentando sobre esses dois grupos, Silva (1999, p.21) se 
expressa, citando Oliveira: 
"Os Parakanã do Xingu contam de sua história em comum com os Parakanã 
da Área Indígena Parakanã. A cisão entre os grupos ocorreu em períodos 
distintos por motivos de brigas internas e também por medo de doenças, 
como foi o caso de um surto de poliomielite em 1976, registrado pela 
FUNAI (Oliveira, 1986)." 
 
5 Nimuendaju apud Magalhães (1988, p.185) in As Hidrelétricas do Xingu e os Povos Indígenas 
6 Monitoramos semestralmente o censo dos habitantes do Pin Apyterewa e Aldeia Xingu, atualizando 
dados referentes a casamentos, nascimentos e falecimentos. 
 27
 
 
2.3.1 Situação atual 
 Os Parakanã da Terra Indígena Apyterewa vivem atualmente às margens 
do Rio Xingu, de onde tiram parte de sua subsistência, por meio da caça e pesca. Os 
Parakanã realizam viagens ao interior da mata para caçar anta, queixada,veado, caititu, 
tatu, paca e aves, como o jacu e o mutum. 
 A agricultura é puramente de subsistência, feita em grandes roças 
coletivas, nas quais os Parakanã cultivam mandioca, arroz, feijão, milho e tubérculos 
como o cará e a batata-doce. A farinha e a proteína animal são os alimentos básicos. A 
complementação da dieta alimentar é feita com os produtos coletados como mel, frutos 
sazonais e castanha-do-Pará, cujo excedente é comercializado na região de Altamira. 
Recentemente com a ajuda de benefícios recebidos da previdência social por parte de 
alguns aposentados, outros itens estão sendo acrescentados à dieta, tais como açúcar, 
café, milharina e óleo vegetal. 
 Depois de terem sua área delimitada em 980.000 ha (Fausto 1997, p.61), 
a Terra Indígena Apyterewa foi invadida por madeireiros, por grileiros e por um 
assentamento instalado pelo Incra, causando sérias perdas territoriais. Em dezembro de 
2001, os Parakanã do Xingu, tiveram seu território delimitado pela portaria 1192 do 
Ministério da Justiça de 31/12/2001, em 773.000 ha. Infelizmente a prefeitura de São 
Félix do Xingu questionou na justiça a atual delimitação e conseguiu derrubar essa 
portaria, o que tem gerado mais invasões e conflitos entre os Parakanã e posseiros. 
 A presença não-indígena entre os Parakanã do Xingu se faz notar por 
funcionários da FUNAI, professores, agentes de saúde e missionários. 
2.3.1.2 Escola na Terra Indígena Apyterewa 
 Julgamos conveniente relatar um pouco sobre a escola Parakanã7, pois, 
além de fazer parte da história do grupo, influenciou na elaboração da grafia da língua. 
 
7 No artigo A Problemática da Educação Indígena, publicado na Moara – Revista dos Cursos de Pós-
Graduação em Letras UFPA, no 14, 2002, discutimos a formação da Escola Indígena Parakanã. 
 28
 
 Em observância às leis brasileiras, foi criada a escola Parakanã em 1993. 
Na ocasião, o ambiente era propício ao ensino exclusivo da língua materna, pois o povo 
era monolingüe. 
 Inicialmente, a expectativa do povo era que apenas a língua do não-
indígena podia ser objeto de estudo na escola. Naquele momento, a escola foi desejada 
pela comunidade como uma forma de apropriação de um bem que era do não-indígena. 
Passado esse primeiro impacto, alguns perceberam que "-mopinim" ('escrever', 
literalmente 'causar pintura') era algo possível e que tinha tudo a ver com sua língua até 
então transmitida entre as gerações apenas de forma oral. A escola foi criada e 
construída com a participação da comunidade, e tornou-se um evento social importante, 
um lugar para diversão e conversação sobre a língua. 
 Como evento social novo, a escola foi vedada às mulheres e crianças, só 
os homens adultos8 puderam estudar. Esse critério foi determinado pela sociedade local. 
Os primeiros alunos tiveram êxito no aprendizado da escrita, ressaltando-se que os 
homens mais jovens tinham muito mais facilidade que os mais velhos. As crianças que 
não estudavam aprenderam rapidamente apenas 'assistindo' às aulas, empoleiradas nas 
cercas ao redor da escola. Elas assimilaram que a leitura é um objeto de ensino paralelo 
à escrita, enquanto os mais velhos gastavam mais tempo tentando desenhar as letras do 
que as associando aos sons que formavam enunciados na sua língua. 
 
 
8 São considerados adultos todos os homens casados. Assim um jovem de 13 anos, casado, é um 
adulto. 
 
 29
Capítulo 3 
Base para compilação de um dicionário Parakanã-Português 
 
 
 Trataremos neste capítulo do processo de levantamento dos dados e 
aprendizagem da língua Parakanã, bem como dos fenômenos semânticos a ela 
pertinentes. Falaremos ainda da organização das entradas e como serão organizadas 
cada unidade lexical do dicionário Parakanã-Português. 
3.1 Coleta e análise dos dados Parakanã 
 Começamos a investigação da língua Parakanã, na nossa primeira viagem 
a campo em março de 1990, quando estivemos entre seus falantes por dois meses no 
Posto Indígena Apyterewa, que funcionava, na época, as imediações do igarapé Bom 
Jardim, afluente do rio Xingu. Neste período, iniciamos a análise da fonologia da língua 
e, no ano de 1991, fomos convidados a iniciar a escola indígena naquela comunidade. 
Nos anos de 1992 e 1993, passamos alguns períodos curtos na aldeia a convite da 
comunidade. A análise fonológica e a descrição ortográfica preliminar foram 
apresentadas à FUNAI como relatório de trabalho de campo. Esse foi reescrito e 
apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Letras à Universidade Federal 
do Pará, campus de Altamira, em 1995. Entre 1993 e 1995 seguimos coletando dados 
sempre que indígenas vinham a Altamira. Retomamos nossa pesquisa de campo em 
agosto de 1995, quando passamos a residir em uma ilha do rio Xingu próxima à Aldeia 
Xingu. Isso só foi possível porque um grupo de Parakanã, na verdade uma grande 
família, havia se mudado para aquela localidade em dezembro de 1994. No ano 
seguinte todos os indígenas que residiam no igarapé Bom Jardim, já estavam habitando 
às margens do rio Xingu em dois aldeamentos: Aldeia Xingu e Posto Indígena 
Apyterewa. 
 O convívio com o povo em seus dois aldeamentos deu-nos condições de 
aprendermos a língua e boa parte do saber Parakanã. Temos gravadas mais de 60 fitas 
magnéticas (algumas estão em processo de digitalização e gravação em compact disc 
(CD). Nossas gravações correspondem a narrativas sobre acontecimentos relevantes, 
 30
 
viagens, mitos, lendas, rituais, músicas, diálogos espontâneos etc, e à vasta elicitação de 
dados lingüísticos feitas em cadernos e cadernetas de campo. 
 As gravações foram feitas com pessoas de todas as idades. Os mitos, 
todavia, foram gravados com os mais velhos contadores de história do povo, inclusive 
com o mais admirado deles, Iatora Parakanã, falecido em 2000, com o qual gravamos 
sobre eventos culturais (mitos, festas) e fatos importantes referentes a contatos 
realizados com a FUNAI e outros povos indígenas. Algumas de suas narrativas e o 
roteiro da festa da "taakwara" estão sendo transformados em livro de leitura, sendo 
grande a expectativa do povo para utilização do mesmo como roteiro para as futuras 
festas da taakwara.9
 A maior parte destes dados foram transcritos e revisados com, pelo 
menos, dois falantes nativos. Posteriormente, fizemos a análise interlinear no programa 
Shoebox que vem sendo utilizado por nós, em suas várias versões, desde 1992. 
 
3.2 Aprendizado da língua e cultura Parakanã 
 Como mencionado anteriormente, nosso primeiro contato com a língua 
Parakanã ocorreu em março de 1990. Estudamos a língua durante nossa graduação no 
projeto de interiorização da UFPA, quando mantivemos contatos intermitentes com o 
povo, especialmente quando alguns deles se deslocavam para Altamira. Desde agosto 
de 1995 temos tido contatos prolongados com este povo. Em meados de 1996 fomos 
convidados pela comunidade da Aldeia Xingu para assumirmos a direção10 da escola 
indígena. Nosso trabalho como educador foi de fundamental importância para 
conhecermos melhor a língua e cultura Parakanã. Acreditamos que o trabalho realizado 
na descrição da língua Parakanã contribuiu significativamente para elaboração do 
programa educacional implantado na Aldeia Xingu a partir de 1996. 
 
9 A festa da Taakwara não foi realizada depois da morte de Iatora até o corrente ano quando nos foi 
solicitada a narrativa transcrita de Iatora, para que a festa fosse organizada, visto que ninguém se 
lembra da ordem correta em que são tocadas as músicas, que somam 82. 
10 Éramos diretor, professor, faxineiro, merendeiro e construtor quase ao mesmo tempo.31
3.3 Relações lingüísticas de sentido do Parakanã 
 Serão apresentados aqui aspectos semânticos pertinentes às relações 
lingüísticas de sentido que foram abordados na secção 1.2.2 e que influenciaram na 
compilação do dicionário da língua Parakanã. 
 
3.3.1 Homonímia 
 A homonímia, conforme definida no capítulo 1, foi observada durante a 
compilação do dicionário Parakanã; nos casos em que formas simples figuram em mais 
de uma categoria gramatical sem uma derivação explícita, decidimos tratá-las como 
casos de homonímia (fônica e graficamente iguais), sendo, portanto, inseridas em 
entradas distintas. Veja ramo (página 139), a'e (página 76) aw e awa (página 85), ipe 
(página 101) etc no dicionário. Durante a análise interlinear de textos Parakanã, o 
programa computacional Shoebox oferece-nos a possibilidade de escolher uma das 
opções entre as formas homônimas encontradas no léxico para ser usada em um dado 
contexto. 
 
3.3.2 Polissemia 
 O fenômeno da polissemia foi definido na secção 1.2.2. Tratando desse 
fenômeno lexical, Weiss (1998, p.50) sublinha que: 
"As razões da polissemia são a adoção de novas técnicas, de diferentes 
utensílios, de novas maneiras de executar o trabalho, a introdução da 
escola, etc. Estes fatores resultam em novos conceitos de lexemas existentes, 
mantendo ou não os antigos." 
 
 Em Parakanã destacamos, como exemplo, os seguintes itens 
polissêmicos: 
 
(1) xoro boca, porta 
(2) xi nariz, ponta de flecha, cumeeira 
 32
(3) mopinim pintar, escrever 
(4) pirer pele, pelo, casco 
(5) kanyni luz, lanterna 
(6) 'na cair, nascer 
 
 Na compilação do dicionário Parakanã-Português, as várias significações 
dos itens lexicais polissêmicos foram numeradas horizontalmente como podemos ver 
nos exemplos abaixo: 
 
(7) ehaite Vnom Classe I a 1.'triste' ; 2.'assustado' 
(8) apo'a Vnom Classe I a 1.'redondo'; 2.'curto'; 3.'baixo' 
3.3.3 Hiperonímia e hiponímia 
 Na secção 1.2.2 definimos os termos hiperonímia e hiponímia. 
Mostraremos agora alguns exemplos da ocorrência dessas relações em Parakanã. Um 
exemplo de hiperônimo é o termo ma'exiroa, que pode significar 'comida' (proteína 
animal) e utensílios. São hipônimos de ma'exiroa todos os termos que nomeiam animais, 
tais como: tapi'ira 'anta', xiwa'a 'caititu', taxahoa 'porcão', mixara 'veado', ka'ia 
'macaco', ipira 'peixe', wyra 'pássaro' etc. 
 Todos os nomes de animais, aves e peixes são co-hipônimos quando 
pensamos em sua relação de subordinação ao termo hiperordenado ma'exiroa. 
Contudo, ma'exiroa, cujo significado mais amplo em português é 'animal', pode possuir 
outras hierarquias subordinadas de termos que são hipônimos, porém, não co-
hipônimos. Por exemplo wyra 'passaro' e ipira 'peixe' são, por seu turno, hiperônimos de 
outros hipônimos, a saber: wyra é o hiperônimo de wainomya 'beija-flor', wyraxiga 
'garça', orowoa 'urubu', arara 'arara', tokona 'tucano'. Ipira 'peixe', por sua vez, é o 
hiperônimo dos termos seguintes: tokonare 'tucunaré', yperoa 'piranha', pirapokoa 
'bicuda', akara 'acará' e ipiraxiga 'pescada' entre outros. Os subtermos de hiperônimos 
diferentes não podem ser considerados co-hipônimos. 
 No estudo do léxico e na elaboração do dicionário, o que se observa de 
fato é que a relação de hiponímia, defendida por Lyons (1977), impõe uma estrutura 
hierárquica não só no vocabulário, mas também em campos específicos dentro deste 
vocabulário. 
 33
 
3.3.4 Sinonímia e antonímia 
 Já mencionamos anteriormente a não existência de sinônimos perfeitos. 
Um bom exemplo deste fenômeno, em Parakanã, ocorre com os verbos ma'e e exag 
'ver, olhar'. Embora sinônimos, ocorrem em contextos particularmente diferentes. O 
primeiro, intransitivo, é usado quando o objeto focalizado está diante do sujeito, não 
havendo dúvida sobre o que se está olhando, vendo. O segundo tema verbal é transitivo 
e exige que o argumento objeto seja especificado. 
 
(9) oma’e ywytyra pe ‘Ele olhou para o morro’
(10) oroexag ‘eu vi você’ 
 
 O fenômeno de antonímia perfeita também não foi observado em 
Parakanã, quando analisados todos os contextos onde um termo pode aparecer. Os 
itens abaixo exemplificam isto: 
 
(11) ikawohoa 'gordo' Lit. 'tem muita gordura' 
(12) ikaweipam 'magro' Lit. ‘o que tem gordura acabada' 
(13) heta 'muito' 
(14) pipi 'pouco, pequeno' 
(15) ipoko 'comprido, alto' 
 
 O termo ikaweipam 'magro' não é uma correspondência perfeitamente 
contrária a ikawohoa 'gordo' . O termo pipi em determinados contextos pode ser 
antônimo tanto de heta 'muito' quanto de ipoko 'comprido, alto'. 
 
3.3.5 Neologia 
 É uma mudança vocabular que ocorre nas línguas. Estudar essa mudança 
é, sem dúvida, um aspecto relevante no domínio da lexicologia, uma vez que é nesse 
 34
campo que "[...] são mais claramente observáveis as transformações pelas quais passa 
o sistema de valores grupalmente compartilhados ..." (Barbosa in Azeredo 2000, p.176)
 Biderman (2001, p. 203 e seguintes) distingue dois tipos de neologismo: o 
conceptual e o formal. Quanto ao primeiro afirma: 
"... uma acepção nova que se incorpora ao campo semasiológico de um 
significante qualquer (...). No domínio dos neologismos conceptuais, 
verifica-se, às vezes, ampliação de um campo semântico através de novas 
conotações que vão sendo dadas a um significante". 
 
 Sobre o segundo, Biderman (2001 p.206) declara: "O neologismo formal 
constitui uma palavra nova introduzida no idioma. Pode ser um termo vernáculo ou um 
empréstimo estrangeiro. Por exemplo: biodiversidade, celular, clique [de mouse], 
scanner, escanear..." 
 
 Em Parakanã os neologismos podem ocorrer por meio de vários 
processos de formação de palavras: composição, derivação, incorporação, 
nominalização e empréstimos. São exemplos de neologismos todos os termos 
referentes aos utensílios e tecnologias inseridas na comunidade após o contato. Por 
exemplo: 
 
(16) kanyni'ao 'pilha' Lit. ‘comida de lanterna’ 
(17) mo'agamonara 'enfermeiro' 
(18) karotawa 'mesa' Lit. ‘lugar de comer’ 
(19) imanatara 'semeador' 
(20) motytyg 'funcionar motor' ( ideofônico) 
(21) tatara'yra 'fósforo' Lit. ‘filho do fogo’ 
(22) motoa 'motor' 
(23) terewixao 'televisão’ 
 
 O exemplo dado acima motytyg 'funcionar motor' é um termo formado a 
partir de uma relação onomatopáica entre som e forma. Este tipo de formação de 
palavra é comum, amplamente encontrado em textos (ideofones) e pode ser 
considerado uma relação arbitrária como qualquer outra no processo de formação de 
palavra, pelo menos em parte, conforme Anderson (1985). 
 35
 
 No dicionário, sempre que possível, informamos o processo de formação 
da unidade léxica, inclusive dos neologismos. 
3.4 A macroentrada do dicionário 
 A macroentrada englobará todas as entradas do dicionário11. Barbosa 
(1995) e Weiss (1998) usam o termo macroestrutura. Segundo Weiss (1998, p. 37) a 
macroestrutura "... é constituída pelo conjunto de palavra-entrada". Para ela, as tarefas 
da construção da macroestrutura são: 
"...a escolha de entradas para incluir no dicionário; 
a escolha da forma canônica das entradas; 
a escolha do conteúdo: língua padrão, especializada; 
a ordenação das entradas: alfabética, analógica; 
tratamento dos lexemas polissêmicos e dos lexemas homônimos ..." 
 
 Na compilação do dicionário Parakanã-português apresentamos uma 
seqüência de entradas que são as unidades lexicais organizadas em ordem alfabética, 
segundo o alfabeto Parakanã, cuja ordem alfabética segue, basicamente, o mesmo 
padrão do português, sendo a oclusiva glotal grafado com o apóstrofeinserido como 
letra final. 
 
3.5 A microentrada do dicionário 
 A microentrada diz respeito às informações que seguem cada entrada no 
dicionário. Barbosa (1995) e Weiss (1998) preferiram chamá-la de microestrutura, 
embora o sentido seja o mesmo de microentrada. 
 Ao definirmos uma determinada unidade lexical do dicionário Parakanã-
Português, procuramos observar os seguintes aspectos: 
• a classificação gramatical da unidade lexical; 
• a indicação de homofonia quando ocorrer; 
• os diferentes sentidos das unidades lexicais polissêmicas; 
 
11 Adotaremos os termos macro e microentradas por acreditarmos que na confecção de um dicionário 
sempre estamos dando entradas com unidade lexicais e com seus respectivos sentidos. 
 36
• subclasses de temas; 
• ilustração em Parakanã da unidade lexical dentro de um contexto; 
• tradução do sentido em Português da unidade lexical ilustrada; 
• remissão para outras unidades com características semânticas 
relacionadas (sinônimos ou antônimos); 
• notas gramaticais e antropológicas quando necessárias; 
• nomes científicos nos casos referenciados por Literatura especializada. 
 37
Capítulo 4 
Características fonológicas e morfológicas do Parakanã. 
 
 Discutimos a seguir aspectos fonológicos e morfológicos da língua 
Parakanã. Muitos destes aspectos foram discutidos por Silva (1999) e por isso serão 
apenas mencionados nesse trabalho. Fizemos uma re-leitura de alguns aspectos, e 
outros foram introduzidos aqui em primeira mão. 
 No dizer de Krieger (1984), um dicionário não pode ser elaborado sem 
fundamentação teórica. Assim, este capítulo vem suprir essa necessidade. 
 
4.1 Fenômenos fonológicos do Parakanã 
 A língua Parakanã apresenta 17 fonemas, sendo 12 consonantais e 5 
vocálicos (Silva e Silva, 1993,1995). 
 
4.1.1 As consoantes 
 Os doze fonemas consonantais da língua Parakanã são: /p, t ,k ,$, m, n, 
ë, β, h, ʧ, r, kW/ (Silva e Silva, 1991; Gomes, 1991) e são representados com a seguinte 
ortografia: p, t, k, ', m, n, g, w, h, x, r, kw (Silva e Silva, 1995). As letras p, t, k e ' 
representam as oclusivas surdas, bilabial, alveolar, velar e glotal exemplificadas, 
respectivamente, em: [pipí] 'pequeno', [tatá] 'fogo', [kará] ‘cará’, [ka$á] ‘mato, folha’. As 
letras m, n, e g representam as nasais sonoras, respectivamente, bilabial, alveolar e 
velar em: [mádˆ] ‘cobra’, [aná] ‘pai’, [ëïëE¤] ‘mulherio’. w e h são fricativas; w representa 
a bilabial [oE/N¤] ‘ele voa’ e a semivogal labiovelar [oatá] ‘3-andar-gerúndio’; h 
representa a glotal surda em [Ehírɐ] ‘mel’. x é a representação da africada heterorgânica 
com duas contrapartes fonéticas: [ʧ] no início de palavras, como em [ʧatá] ‘banana’ e 
[ʤ] entre vogais como em [iʤé] ‘eu’ e como semivogal palatal, como [tz] na pronúncia 
 38
cuidadosa de algumas palavras que terminam em a, como [étza] ‘abelha’,12 [[ j ] em 
sílabas CVC antes de silêncio. O r representa o flap em [arárɐ]; e kw é a representação 
da oclusiva velar labializada em [kWanóɐ]. 
4.1.2 As vogais 
 As vogais /a, N, i, o, o/são representadas pelas letras a, e, i, y, o. As 
vogais anteriores são não-arredondadas. A vogal alta, fechada é representada por i 
[ipirá] ‘peixe’ e a média por e com dois alofones que ocorrem em variação livre: o [e] que 
é a sonorante anterior meio-fechada em [ené] ‘você’ e a sonorante aberta [E] em [hemE¤] 
‘lábio dele’. A vogal central baixa, não-arredondada é representada por a e também tem 
duas contrapartes fonéticas: [ɐ] em sílabas átonas antes de silêncio como em [taakWárɐ ] 
'taboca' e nos demais ambientes aparece a sonorante [a] como em [tatá] ‘fogo’. A letra y 
representa um fonema vocálico que se realiza foneticamente como a central alta 
fechada, não-arredondada [o] quando contígua a consoantes alveolares em [toróɐ] 
‘roupa’, e como a posterior alta, fechada não-arredondada [] em [/
 
rá] ‘pássaro’ nos 
demais ambientes. A vogal o é a posterior arredondada e tem duas contrapartes 
fonéticas: a média, semi-fechada [o] em [tatóɐ] ‘tatu’ e a alta, fechada [u] [kuʤóɐ] 
‘mulher’. 
4.1.3 Sistema ortográfico 
 Elaboramos a primeira ortografia experimental para a língua Parakanã 
após um estudo de seu sistema fonológico, depois de uma primeira viagem a campo, 
que durou dois meses, em 1990. No final daquele ano, participamos do I Seminário de 
Língua Tupi da Amazônia, quando recebemos orientação do Dr. Carl Horward Harrison e 
da mestre Cheryl Jensen relativa à análise dos dados coletados. 
 Após esse tempo de análise e orientação segura, elaboramos a primeira 
cartilha experimental, datada de março de 1991. Nela utilizamos j para grafar o fonema 
/ʧ/. Posteriormente, Carmem Affonso, antropóloga da FUNAI, examinando nosso 
 
12 Nestes ambientes podemos constatar a ocorrência de ʧ seguido de i numa pronúncia mais rápida 
 39
material didático, sugeriu, informalmente, uniformizar a escrita com a utilizada entre os 
Parakanã da Terra Indígena Parakanã, que grafavam o mesmo fonema com x. 
Acatamos a sugestão dada prevendo que poderia haver contatos entre esses dois 
grupos no futuro por meio de comunicação escrita. 
 No nosso Trabalho de Conclusão de Curso (Silva e Silva: 1995), 
sugerimos uma ortografia que, com algumas mudanças, está sendo utilizada até hoje na 
escola indígena Parakanã do Xingu. Uma das modificações feitas é a grafia do fonema 
/t∆/, que se pronuncia como i no final de palavras e que deveria ser grafado com x, do 
alfabeto fonológico, mas, por insistência dos indígenas, na escrita, é atualmente grafado 
com a letra i nesse ambiente. Esse sistema ortográfico facilitou a transição, no processo 
de ensino-aprendizagem, para o português, conforme previsto por Silva e Silva (1995). 
Utilizamos letras do alfabeto português cujas pronúncias se assemelham aos sons da 
língua Parakanã. Nos casos em que isso foi impossível, optamos pelos símbolos mais 
utilizados nas ortografias das línguas da família Tupi-Guarani. 
 Apresentamos a seguir a ortografia preconizada por Silva e Silva (1995), 
na coluna inicial apresentamos os grafemas, na segunda, os fonemas seguido pela 
forma de pronúncia de cada fonema na terceira coluna. A ordem seguida no quadro 
abaixo, corresponde a ordem de ocorrência dos fonemas no quadro fonético. 
4.1.3.1 Consoantes 
/p/ p pronuncia-se como "p" em português: 
 pipi 'pequeno' 
 
/t/ t pronuncia-se e "t" em português: 
 tatoa 'tatu' 
 
/k/ k pronuncia-se como "c" em casa: 
 kara 'cará' 
 
/kw/ kw pronuncia-se como "qu" em qual: 
 kwarahya 'sol' 
 
 40
/$/ ' pronuncia-se como uma ligeira pausa: 
 o’ia 'farinha' 
 
/ʧ/ x pronuncia-se como "tch" em "tchau", como "j" em "jeans" e 
como "tz", nos dados respectivos abaixo: 
 xata 'banana' 
 koxoa 'mulher' 
 exa 'abelha' 
 
/r/ r pronuncia-se como "r" em "coroa": 
 orowoa 'urubu' 
 
/// w pronuncia-se como a fricativa bilabial (não encontrada em 
português): 
 waxa 'rabo' 
 
/h/ h pronuncia-se como "rr" em "carro": 
 honia '3 dente' 
 
/m/ m pronuncia-se no início e meio de palavras como em 
português. Também pronunciada em final de palavras: 
 mixara 'veado' 
 hakom '3 quente' 
 
/n/ m pronuncia-se como em português no início e meio de 
palavras. Também pronunciada em final de palavras: 
 ana 'pai' 
 on '3 vir' 
 
// g pronuncia-se como o "ng" do inglês em "sing": 
 moaga 'remédio' 
 
 41
4.1.3.2 Vogais 
/a/ a Pronuncia-se como em "fato": 
 ara 'dia' 
 
/e/ e Pode ser pronunciada como e em "você" ou como [] em 
"eva": 
 ene 'você' 
 heme '3 lábio' 
 
/i/ i Pronuncia-se como o iem português: 
 ita 'pedra' 
 
/o/ y é uma vogal alta que não apresenta equivalente em português 
e tem realização mais posterior que o i: 
 owya '3 sangue' 
/o/ o Pode ser pronunciada como o em "avô" em sílabas tônicas, 
podendo ser pronunciada como o ou u nos outros ambientes: 
 o'oa 'ele tosse' 
 oata 'ele anda' 
 
 
4.1.4 Os padrões silábicos 
 Os seguintes padrões silábicos são encontrados em Parakanã: CV: [ka] 
‘aqui’; V: [eó] ‘coma’; CVC: [o.kẽn] ‘ele dorme’ e VC: [õn] ‘ele veio. Todas as vogais 
podem ocorrer como núcleo de sílabas. A primeira margem da sílaba pode ser ocupada 
por qualquer consoante. A coda da sílaba é ocupada por um grupo restrito de 
consoantes composto por todas as nasais, pelo “tap”, pela oclusiva glotal e pelas 
 42
 
semivogais fonéticas representadas por i13 e o – que são, de fato, alofones dos fonemas 
/t∆/ e ///, respectivamente. 
4.1.5 O acento 
 Conforme Silva (1999) o acento é previsível, ocorrendo na sílaba final dos 
temas. Temas verbais primitivos geralmente carregam acento na última sílaba. Temas 
nominais, flexionados apenas com casos argumentativos com alofone –a, serão 
paroxítonos, e os temas terminados com as vogais a ou e recebem o alofone -Ø do caso 
argumentativo. 
 
(24) piním-a 'pintura' 
(25) tatá-ø 'fogo' 
(26) akoma'é-ø 'homem' 
(27) opám '3 acabar ' 
(28) onopó '3 bater 
 
 Temas compostos ou derivados podem ter acentos primários e 
secundários. Todavia, a sílaba tônica recai sempre sobre a última sílaba do tema final ou 
no sufixo derivacional. Exemplos: 
 
(29) wyráxíga 'garça’ 
(30) awaxí'ía 'arroz' 
(31) omopiním '3 escrever'' 
(32) morópiaréra 'assassino' 
(33) oxokáwa'é 'o que mata' 
(34) opám '3 acabar' 
(35) onopónopó '3 bater muito' 
 
 Sendo previsíveis, os acentos não são marcados na ortografia. 
 
 
 
13 Por sugestão do Dr. Carl Harrison estávamos usando as letras x e w para representar os fonemas /–/ 
e ///, respectivamente. Todavia, nossos alunos indígenas nos pediram que grafássemos com i e o, em 
 43
 
4.2 Fenômenos morfológicos do Parakanã 
 A morfologia da língua Parakanã foi descrita em detalhes por Silva (1999), 
por esta razão, no presente trabalho, nos deteremos a aspectos da morfologia que são 
pertinentes para determinação das unidades lexicais passíveis de possuírem entradas 
próprias no dicionário. 
 Segundo Anderson (1985), a morfologia dedica-se ao estudo da estrutura 
interna das palavras, que optamos chamar unidades lexicais (cf. secção 1.2.1.1). Nesta 
secção abordaremos a morfologia Parakanã enfatizando tipos de processos envolvidos 
na formação da estrutura interna das unidades lexicais básicas ou na formação de novas 
unidades de palavras. Antes de entrarmos nos processos da flexão, derivação, 
composição e incorporação, falaremos sobre algumas das regras morfofonológicas do 
Parakanã, importantes para a compreensão de aspectos da morfologia. 
 
4.2.1 Regras morfofonológicas 
 Algumas da regras morfofonológicas descritas para o Parakanã, foram 
elaboradas por Harrison (1975) na análise da língua Asurini do Tocantins. As regras aqui 
descritas, restringem-se àquelas relevantes ao processo de formação de unidades 
lexicais que implicam entradas na compilação do léxico. Para maior clareza, os dados 
dos exemplos serão seguidos de representação fonologica: 
 a) As consoantes finais /m/ e /n/ de alguns temas verbais mudam o /m/ 
para // e o /n/ para /r/, quando o tema verbal tem o sufixo -i do Indicativo II (veja secção 
4.2.2.2). Outros temas verbais que terminam em /m/ ou /// não mudam. 
 
(36) opam > ipawi 
/opam/ > /ipai/ 
'acabou' 
(37) open > iperi 
/open/ > /iperi/ 
'quebrou' 
(38) ohem > ihemi 
/ohem/ > /ihemi/ 
'saiu' 
(39) opag > ipagi 
/opa/ > /ipai/ 
'acordou' 
 
 
sua ocorrência como semivogal [j] e [w] para facilitar a leitura e conseqüentemente o aprendizado. 
 44
 
 Esta mesma mudança também pode ocorrer quando o tema verbal tem 
um desses sufixos: -y'ym, -ete, -ypy, -ramo. Vejamos os exemplos: 
 
(40) oxym > oxywy'ym 
/o–ɨm/ > /o–ɨ/ɨ$ɨm/ 
'não desceu' 
(41) oken > okerypy 
/oken/ > /okerypy/ 
'dormiu primeiramente' 
(42) opotan > opotaramo 
/opotan/ > /opotaramo/ 
'quando ele Quis' 
 
 
 b) Em temas derivados de causativo -mo que tenham a raiz lexical iniciada 
pela consoante /p/, ocorre a mudança desta para /m/, num processo de assimilação, 
como podemos ver a seguir: 
 
(43) pag 'acordar' 
/pa/ 
momag 'fazer acordar' 
/moma/ 
(44) pam 'acabar' 
/pam/ 
momam 'fazer acabar' 
/momam/ 
(45) po'om 'levantar' 
/poˀom/ 
mo'om 'fazer levantar' 
/moˀom/ 
 
 
 c) Ocorre queda da consoante /h/ no meio do tema verbal quando seguido 
do sufixo nominalizador -awa ou -ara como podemos ver abaixo: 
 
(46) aha 
/aha/ 
‘ir’ 
(47) aatawa 
/aataa/ 
‘ida’ 
(48) eraha 
/eraha/ 
‘levar’ 
(49) eraatara 
/eraatara/ 
‘levador’ 
 
 d) Em temas na forma gerúndio e em nominalizações verbais, ocorre a 
mudança da consoante // do tema original para /k/. 
 
 45
(50) pag 'acordar' 
/pa/ 
paka ‘acordando’ 
/paka/ 
(51) kwawe’eg ‘conversar’ 
/kwaeˀe/ 
kwawe’eka ‘conversando’ 
/kwaeˀeka/ 
(52) maxarag ’operar’ 
/ma–ara/ 
maxaraka ‘operando’ 
/ma–araka/ 
(53) kytyg ‘ralar’ 
/kɨtɨ/ 
kytykawa ‘ralador’ 
/kɨtɨkaa/ 
 
4.2.2 Processo flexional 
 A flexão é um processo morfossintático que, segundo Payne (1999, p. 25), 
constitui-se de afixação de morfemas a uma raiz. Para Payne, o que caracteriza a flexão 
é que ela ocorre num ambiente sintático, e, normalmente, não altera o conceito básico 
que a raiz expressa; ela tende a ser regular e produtiva, e ocorre em paradigmas. A 
morfologia flexional, característica do Parakanã, pode se dar por meio de prefixação e/ou 
sufixação: 
 Para Silva (1999), a língua Parakanã 'possui um grau médio de flexão', 
com temas flexionáveis e não flexionáveis. 
 
4.2.2.1 Prefixos flexionais 
 Dentre os prefixos flexionais mencionados por Silva (1999), estão os 
prefixos relacionais, os pessoais, os correferenciais, o prefixo acusativo, o reflexivo e o 
recíproco. 
4.2.2.1.a. Prefixos relacionais 
 No Parakanã, bem como na maioria das línguas da família Tupi-Guarani, 
são os relacionais, chamados por Jensen (1989) de prefixo de ligação, que permitem 
fazer a separação dos temas nominais, verbais e posposicionais em subclasses 
conforme a sua ocorrência com estes temas ou não. Para Rodrigues (1996) os 
relacionais determinam se há contigüidade ou não de um determinante, e especificam 
 46
que o determinante de um nome é o seu possuidor, o de um verbo intransitivo é o seu 
sujeito, o de um verbo transitivo é o seu objeto e o de uma posposição é o objeto desta. 
Segundo Silva (1999) são dois os conjuntos de prefixos relacionais que ocorrem em 
Parakanã. Abaixo especificado com os seus alomorfes, bem como as subclasses de 
temas por eles determinados: 
 
Classe I 
 Ø- 'determinante contíguo' (subclasse 1a e 1b respectivamente) 
(54) neakyga ‘tua cabeça’ 
 ne=Ø- akyg-a 
 2AC-CNT-cabeça-ARG 
 
(55) xepy’a ‘meu fígado’ 
 xe=Ø- py’a-Ø 
 1AC-CNT-fígado-ARG 
 
 
i- 'determinante não contíguo (subclasse

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