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Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação

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XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB 2013) 
GT 1: Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação 
 
Comunicação Oral 
 
EPISTEMOLOGIAS E ANTI-EPISTEMOLOGIAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO 
 
Marivalde Moacir Francelin – USP 
 
Resumo 
O principal objetivo deste trabalho é analisar a hipótese da presença de epistemologias e anti-
epistemologias na Ciência da Informação. Esta hipótese defende um provável distanciamento 
entre os paradigmas de pesquisa e os conteúdos de formação disciplinar. Utiliza o método de 
revisão de literatura e destaca uma forma de diálogo entre contrários para justificar 
identidades e entendimentos. Conclui que as discussões epistemológicas da Ciência da 
Informação estão avançadas nos eixos paradigmáticos e científicos, mas parecem deslocadas 
das disciplinas e metodologias destinadas à formação institucional ou curricular. 
Palavras-chave: Epistemologia. Anti-epistemologia. Ciência da Informação. Paradigmas. 
 
Abstract 
The principal objective of this paper is to analyze the possibility of the presence of 
epistemologies and anti-epistemologies in Information Science. This hypothesis defend a 
probable gap between research paradigms and the contents of disciplinary formation. Uses the 
method of the literature review and emphasizes a form of dialogue between contraries to 
justify identities and understandings. It concludes that the epistemological discussions of the 
Information Science are well advanced in the scientific and paradigmatic axes, but seem 
displaced of the disciplines and methodologies intended for the institutional formation or 
curricular. 
Keywords: Epistemology. Anti-epistemology. Information Science. Paradigms. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Tradicionalmente, a epistemologia pode ser definida como o estudo do conhecimento, 
aproximando-se da teoria do conhecimento, da gnosiologia e da filosofia da ciência. Sem 
recorrer à distinção “Epistemologia/epistemologia”, com a primeira letra maiúscula e a 
segunda minúscula, para identificar, respectivamente, uma possível área disciplinar e um 
provável método de estudo, pode-se dizer, de acordo com Greco (2008, p.16), que a 
epistemologia parte de questões gerais como “O que é conhecimento?”, “O que é possível 
conhecer?” ou “É possível conhecer o próprio conhecimento?” até discussões sobre o 
realismo, o ceticismo, o naturalismo, as formas de avaliações epistêmicas e os novos rumos 
adotados a partir de questões sociais e tecnológicas. 
Do mesmo modo, observa-se que teorias, processos e procedimentos metodológicos, 
assim como a construção e a desconstrução do conhecimento disciplinar são objetos ou 
fenômenos igualmente abordados epistemologicamente. 
 
 
No campo da Ciência da Informação, como pode ser verificado nos trabalhos de Freire 
(2008) e Arboit, Bufrem e Freitas (2010), as discussões epistemológicas já vêm sendo 
realizadas com alguma sistemática. Essas discussões são fomentadas há algumas décadas e 
têm apresentado, com base em diferentes pontos de vista, significativas contribuições para a 
área. Como área de conhecimento, a Ciência da Informação é observada, analisada e discutida 
a partir de suas perspectivas conceituais, notadamente sobre seu próprio nome e objeto, dos 
“marcos teóricos” de sua formação histórica e disciplinar, das “interfaces” com outras 
disciplinas e dos campos de força ou “domínios” de correntes teóricas e metodológicas 
(ARAÚJO, 2009; SOUZA; DIAS, 2011; RABELLO, 2012; SMIT, 2012; SILVA, 2013). 
Reconhece-se, no entanto, que as discussões epistemológicas da área estimulam novas 
abordagens, quer do ponto de vista da construção disciplinar quanto metodológico. Mas, antes 
destas novas abordagens, talvez seja interessante perguntar se essa construção disciplinar é 
possível a partir do que vem sendo realizado nos domínios de pesquisas epistemológicas da 
Ciência da Informação. 
Para contribuir para aprofundar as reflexões epistemológicas da área propõe-se 
desenvolver algumas hipóteses de pesquisa, apresentando uma discussão sobre o que poderia 
ser entendido ou, pelo menos, identificado como epistemologias e anti-epistemologias da 
Ciência da Informação. 
Consequentemente, o problema está delineado neste entendimento e identificação. 
Supondo que identificar seja uma tarefa que possibilite encontrar uma identidade, esbarra-se, 
no caso da Ciência da Informação, em um conjunto de identidades, multifacetadas e plurais, 
de disciplinas e de metodologias. O entendimento desse conjunto, portanto, não acontece de 
forma harmônica e, muito menos, consensual. 
Pensando na necessidade de uma falta “consciente” do consenso, epistemologias e 
anti-epistemologias serão introduzidas aqui em argumentos gerais e delineadores das 
principais hipóteses de pesquisa que ainda está em andamento. Por este motivo, julga-se 
relevante explicitá-las, como resultados preliminares, fomentando um processo que poderia 
ser chamado de dialético. Tal processo visa, exclusivamente, propor um método de diálogo e 
debate através de contrários que não se excluam e nem sejam direcionados em hierarquias, 
mas se justifiquem em identidades e entendimentos. 
 
 
 
 
 
 
2 POR UM DIÁLOGO EPISTEMOLÓGICO COM OS ESPAÇOS DOS SABERES 
Um primeiro olhar sobre os estudos epistemológicos contemporâneos informam que as 
características teóricas e metodológicas da pesquisa científica são cada vez mais flexíveis e 
abertas para novas formas de informar, comunicar e conhecer. 
No cotidiano, a informação é um complexo de formas e canais que formam e 
transformam a superestrutura comunicacional. As transformações não se restringem às vias 
virtuais planetárias, mas a uma provável mutação, segundo as perspectivas de Castells (2008), 
do Ser físico em um ser em rede, e de Lévy (2007), sobre o espaço de um “novo nomadismo”. 
Também é possível observar, a partir das coletâneas organizadas por Novaes (2008, 2010), 
que as mutações em curso projetam novas configurações e experiências de mundo, onde os 
limites e as utopias são as características mais marcantes dos compromissos éticos e 
epistêmicos. 
Tais observações não estão restritas aos pontos de vista das teorias e epistemologias 
formalizadas e formalizadoras do discurso disciplinar e acadêmico. Em contrapartida, diz-se 
que, quanto ao conhecer, os compromissos éticos e epistêmicos pressupõem, na 
contemporaneidade, a configuração de ciências determinadas a corresponder ao dinamismo 
social, sendo, portanto, críticos em relação aos princípios canônicos do conhecimento. Walter 
D. Mignolo e Boaventura de Sousa Santos, por exemplo, imprimem consistentes análises 
sobre os deslocamentos dos saberes centrais para as “periferias” do conhecimento. 
A partir da crítica às palavras “epistemologia” e “hermenêutica”, caracterizadas como 
restritas à cultura acadêmica, em aparente oposição aos termos “gnose” e “gnosiologia” para 
uma concepção mais ampla de conhecimento, Mignolo adota a expressão “gnose liminar” ou 
“pensamento liminar”. Para Mignolo (2003, p.49), o pensamento liminar pode ser definido 
como “[...] os momentos de fissura no imaginário do sistema mundial colonial/moderno.” O 
pensamento liminar está situado, ainda segundo o autor, “[...] dentro do imaginário do sistema 
mundial moderno, mas reprimido pelo domínio da hermenêutica e da epistemologia enquanto 
palavras-chave que controlam a conceitualização do saber.” 
A gnose/pensamento liminar seria o local de construção do diálogo com a 
epistemologia, a hermenêutica e os saberes subalternos. Portanto, não se trata de excluir esta 
ou aquela forma de saber, mas de encontrar maneiras para que elas dialoguem e promovam 
espaços de visibilidade e legitimidadeepistemológicas. 
No mesmo sentido, Santos (2010) coloca em debate a epistemologia ocidental como 
promotora da exclusão secular dos contextos culturais e sociais de produção de 
conhecimentos, chamando esse sistema de “pensamento abissal”. Propõe um pensamento 
 
 
“pós-abissal”, reconhecendo, através de uma “epistemologia da diversidade” e de uma 
“ecologia dos saberes”, os conhecimentos invisíveis. É relevante para a discussão do presente 
trabalho a indicação de Santos de que reconhecer a diversidade cultural, ou o que se pode 
entender como representações de crenças e ideias, não é o mesmo que reconhecer a 
diversidade epistemológica. Neste caso, quando não há um reconhecimento da diversidade 
epistemológica, Santos (2010, p.55) diz que a “[...] ecologia dos saberes é, basicamente, uma 
contra-epistemologia.” 
Na Ciência da Informação, Antonio García Gutiérrez também apresenta diversas 
análises sobre a organização dos conhecimentos legitimados nas esferas dominantes e dos 
conhecimentos deslegitimados e periféricos. Para García Gutiérrez (2006), existe um conjunto 
de saberes despercebidos, ou cientificamente “favelados”, que precisa ser incorporado a uma 
nova classificação. Mas, uma nova classificação implicaria, como abordado em outra obra de 
García Gutiérrez (2007), a necessidade de “desclassificação” do conhecimento consolidado e 
instituído. Mas, para levar adiante esta tarefa também é necessário, ainda segundo García 
Gutiérrez (2011), encontrar uma epistemologia alternativa ou uma alternativa para a 
epistemologia. 
Desde já, é possível assinalar, portanto, que as mudanças em curso se distinguem das 
de outros momentos históricos dos estudos sobre as ciências. Epistemologias e anti-
epistemologias fazem parte do mesmo movimento que procura identificar e entender os 
constantes fluxos dos conhecimentos canônicos e marginais. Não existe, neste caso, a 
proposta de novos cânones ou de novas aberturas de conhecimentos, sejam eles científicos ou 
do senso comum. 
 De fato, o princípio do século XXI parece marcado pela necessidade de estabelecer 
fluxos contínuos de informação e conhecimento. Os fluxos estão ligados a quase todos os 
tipos de elementos de sentido, ou seja, podem ser definidos por conjuntos de ações, 
assistemáticas e a-metódicas que fornecem uma forma de progresso do conhecimento, 
fundadas na construção e na desconstrução. Deveria estar implícita, portanto, a ideia de que o 
conhecimento, no mundo contemporâneo, descarta a noção de linearidade, mas sem fugir do 
princípio da criação. 
Aceitando-se que o conhecimento é uma forma de criação ou, em outro sentido, que a 
criação é uma forma de conhecimento, as informações produzidas e consumidas não 
dependeriam, exclusivamente, das comunidades especializadas de conhecimento, como as 
comunidades científicas. A descentralização dos saberes, potencialmente e parcialmente, 
incentivada por tecnologias recentes e pela ascensão do senso comum como conhecimento 
 
 
válido, apresenta às ciências o desafio interno da transdisciplinaridade e o desafio externo da 
pluridimensionalidade individual e social. 
O desafio encontrado na passagem da análise do disciplinar para o dimensional, do 
supostamente interno para o supostamente externo, parece reapresentar a hipótese, levantada e 
desenvolvida por Boaventura de Sousa Santos, de que todo conhecimento científico natural é 
científico social. E fica difícil sustentar a afirmação de que algumas ciências independem das 
dinâmicas diretamente relacionadas à sociedade ou das ciências que as estudam. Coloca-se até 
mesmo em questão a noção de sujeito e objeto como elementos necessários ao entendimento e 
à construção dos saberes. Ou seja, em um novo contexto de pensamento a distinção ente 
sujeito e objeto poderia deixar de existir da maneira como se apresenta atualmente. Questão 
aparentemente constante na literatura crítica da epistemologia, mas complexa se transportada 
para os contextos disciplinar e metodológico. 
Por outro lado, uma epistemologia, apesar de necessária, que pretenda somente isolar e 
analisar as ciências em unidades cada vez mais especializadas, separando-as em recortes sem 
relações, pode fugir à própria realidade. Sabe-se que o determinismo epistemológico, a 
delimitação de fronteiras conceituais e a formalização de conhecimentos absolutos precisam 
ser substituídos pelo princípio relacional dos conhecimentos. Não é raro encontrar afirmações 
de que as relações entre os conhecimentos são a essência de quase todo novo conhecimento. 
Mas, como identificar e entender os princípios relacionais do conhecimento se, da 
análise das relações entre os conhecimentos, são criadas condições para diversas e, até mesmo 
complexas, manifestações epistemológicas? Perceber as transformações epistemológicas, 
como reconhece Pombo (2005, p.10), é também perceber que “[...] lá, onde esperávamos 
encontrar o simples, está o complexo, o infinitamente complexo.” Uma ciência, como a 
Ciência da Informação, por exemplo, que apresenta a informação como objeto dinâmico, em 
mutações e transformações constantes, e que só faz sentido enquanto processo e fluxo, 
somente pode ser entendida, percebida talvez, a partir dos propósitos relacionais que usa para 
analisar o fenômeno informacional. 
Como é possível verificar nos contextos social, cognitivo e, especialmente, virtual, o 
fenômeno informacional talvez não seja disciplinado. Seguindo esta via imaginária, um 
fenômeno indisciplinado provavelmente deveria ser analisado por uma ciência 
“indisciplinada”. Nesta perspectiva, seria interessante acompanhar a proposta de Pombo 
(2010, p.31) de que ao contrário de uma interdisciplina, a Ciência da Informação é uma 
disciplina “indisciplinada”, ou seja, adequada às configurações contemporâneas dos saberes. 
 
 
Não se trata de negar modelos e paradigmas anteriores, mas de tentar verificar até que 
ponto eles são suficientes e adequados à nova realidade do conhecimento. Se a Ciência da 
Informação ainda procura um estatuto epistemológico, é possível indagar se a sua busca não a 
está levando para um vazio epistemológico. Por outro lado, como afirmou Pombo (2010, 
p.36), é possível que uma epistemologia baseada na ideia do paradigma kuhniano é “cega” 
para as transformações e mutações em curso no campo do conhecimento. 
Assim, sem entrar na discussão da metáfora da ciência “indisciplinada” e na suposta 
“cegueira” do paradigma kuhniano, entende-se que estas questões são insuficientes para 
identificar um provável e exclusivo vazio epistemológico na Ciência da Informação. Mas, 
como diz Novaes (2008, p.10, 2010, p.13) num contexto mais amplo dos saberes, pode ser 
que estejam se apresentando intervalos do acaso como espaços para o pensamento, coisas 
vagas como formas de experiências e sentidos de mundo. Ou, ainda, neste suposto vazio 
epistemológico poderiam estar os saberes invisíveis de um pensamento abissal ou os 
pensamentos/gnoses liminares como já indicaram Boaventura de Sousa Santos e Walter D. 
Mignolo. O que existiria, então, pode ser considerado como movimentos epistemológicos e 
anti-epistemológicos que procuram retratar a construção e a desconstrução de teorias e 
metodologias que se alternam entre a necessidade de reduções disciplinares e a busca de 
ampliação relacional “indisciplinar”. 
Em síntese, alternando epistemologias e anti-epistemologias, a Ciência da Informação 
está em constante fluxo (contínuo e descontínuo), relacionando os aspectos normativos de 
domínios do conhecimento científico à crescente complexidade do objeto informação 
enquanto provável e discutível forma de acontecimento na aparentemente metafórica, mas 
contundente, realidade dos movimentos nos vazios epistemológicos.3 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E SEUS ENTENDIMENTOS OU DAS 
EPISTEMOLOGIAS E ANTI-EPISTEMOLOGIAS 
Partindo do que foi exposto, é possível retomar a questão das identidades e dos 
entendimentos que talvez estejam presentes nestes breves cenários epistemológicos que se 
apresentam para a Ciência da Informação. 
Talvez, a Ciência da Informação seja uma área repleta de entendimentos e 
desentendimentos, mas isso não implica a suposta anulação de suas identidades. Pelo 
contrário, pode-se dizer que esses desentendimentos enriqueceram uma série de abordagens e 
ampliaram diálogos e debates que parecem ainda estar em fase embrionária em muitas outras 
 
 
disciplinas das Ciências Humanas por causa de tradicionalismos que perderam o elo, a 
relação, com a realidade. 
Pode-se dizer, também, que a Ciência da Informação adotou o risco e conversa de 
forma madura com os aspectos plurais, dinâmicos e, até mesmo, sem sentido do universo 
informacional contemporâneo. Neste ponto, compreendeu melhor as relações humanas e sabe 
como proceder nas sociedades dependentes de informação e nas sociedades que necessitam de 
informação. 
O lugar da reprodução não parece formar novos conhecimentos e, por este motivo, 
esteja distante de um entendimento epistemológico. Mas, igualmente não parece possível falar 
em sociedades dependentes de informação sem a massificação da reprodução da informação. 
A tradição epistemológica flexibiliza-se para entender os fenômenos da informação, mesmo 
que isso implique uma reconceitualização da própria epistemologia. 
Nas sociedades que necessitam de informação a questão pode ser colocada da mesma 
forma, porém, invertendo o enfoque. Não há uma reprodução massiva, pois, faltam meios 
para amplificação do fenômeno. A falta de informação poderia impedir que a tradição 
epistemológica fizesse sua parte no estudo do conhecimento. Porém, a tradição 
epistemológica da Ciência da Informação também procura se juntar aos campos 
informacionais que estão distantes dos centros de reprodução de massa. 
Dois pontos epistemológicos que poderiam ser vistos como antagônicos e conflitantes 
também são entendidos pela Ciência da Informação como “centros” e “periferias” do 
conhecimento. Seria importante lembrar que talvez a metáfora dos centros e das periferias já 
não seja tão expressiva nos dias de hoje, mas ela é relevante para estabelecer uma relação com 
o que se pretende chamar de epistemologia e anti-epistemologia. 
Assim, os esforços disciplinares e metodológicos para entender as novas formas de 
conhecimento fizeram com que as diversas áreas de pesquisa da Ciência da Informação se 
aproximassem dos debates epistemológicos. Além de discutir este ou aquele paradigma 
dominante, parece que a preocupação está cada vez mais voltada para a busca de explicações 
em contextos socialmente construídos, estruturados e significativos. 
Esta forma de análise da realidade implica, por exemplo, em pesquisas sociais, 
históricas, antropológicas sobre a informação. Elas não serão discutidas no momento, mas é 
válido indicar que estes e outros tipos de pesquisas estão revelando e confirmando um 
provável, mas, ainda, insuficiente deslocamento dos cânones epistemológicos da Ciência da 
Informação. 
 
 
De maneira mais objetiva, se quer dizer que esses deslocamentos permitem que 
sujeitos não autorizados pelo cânone dominante explorem contextos de produção de 
conhecimento que fogem aos paradigmas consolidados em teorias tradicionalistas e 
cientificamente cristalizadas. Ou seja, sob o tema epistemologias e anti-epistemologias na 
Ciência da Informação, existem e persistem perguntas “ingênuas” como: a quem é permitido 
falar de epistemologia? Existem epistemólogos profissionais? A epistemologia não 
institucionalizada é uma epistemologia? 
As perguntas acima, além de ingênuas, têm respostas circulares e, por vezes, 
infrutíferas. Não se está interessado nelas porque dependem da tradição canônica e 
legitimadora dos saberes. Mas, essas perguntas são feitas para serem interpretadas e não 
respondidas definitivamente. O que se pretende é formular hipóteses. Elas poderiam ajudar a 
entender as epistemologias e anti-epistemologias nas disciplinas e metodologias da Ciência da 
Informação. Tais hipóteses deveriam verificar se os avanços nas pesquisas da Ciência da 
Informação junto aos contextos da realidade que se apresenta na contemporaneidade estão 
chegando à suas “matrizes” disciplinares. 
Na verdade, epistemologias e anti-epistemologias são movimentos de conhecimento 
voltados para a formação, a construção e o aprendizado nas disciplinas, neste caso, da Ciência 
da Informação. Esses movimentos seriam vigilantes às barreiras impostas por aqueles que, por 
exemplo, confundem “técnica” com falta de conhecimento e distanciam a pesquisa do ensino 
e da profissão. Ainda, a título de exemplo, essa suposta desvinculação dos conhecimentos 
disciplinares dos princípios técnicos ou práticos poderia ser entendida como uma forma de 
anti-epistemologia, pois, o exercício dos conhecimentos do senso comum, dos conhecimentos 
do dia-a-dia, dos saberes da realidade e, porque não, da própria criação, seria um conjunto de 
fazeres da experiência baseada nos sentidos do percebido, na intuição que se apresenta nas 
supostas lacunas do saber. 
Pode-se propor algo ainda mais provocativo. Se a aproximação for correta e se for 
possível tomar de empréstimo a noção de aplicação de conceitos como forma de construção 
científica de objetos, também é possível dizer, seguindo Bachelard (1990, p.141), que “Um 
conceito torna-se científico na medida em que se torna técnico, em que se faz acompanhar de 
uma técnica de realização.” Mas, neste caso, o formalismo técnico-científico regula o caráter 
epistemológico do resultado do conhecimento produzido, conduzindo-o às matrizes 
disciplinares e metodológicas pré-determinadas. 
Mas, se realmente esforços forem realizados para entender, como defende Barato 
(2010), que os fazeres são saberes que possuem dimensões epistêmicas, mas não se 
 
 
fundamentam em teorias formalmente estabelecidas, também é possível, contrariando 
Bachelard e outros epistemólogos, pensar em saberes sem a necessidade da enunciação de 
conceitos e, portanto, de teorias de caráter internalista. Assim, seria possível recuperar a 
proposta de uma nova “dialética” baseada nos movimentos do senso comum presentes, como 
já mencionado, no pensamento liminar, na ecologia e na desclassificação dos saberes. 
Esses movimentos não se restringem à formação de conceitos e à construção de 
teorias, mas fazem parte de uma complexa estrutura informacional de base imprecisa e quase 
desconhecida nos domínios epistemológicos da Ciência da Informação. Sem dúvida, é 
necessário rever as premissas científicas da área no sentido de tornar acessíveis o estudo e a 
pesquisa de formas conhecimentos que o cânone da ciência em geral ainda insiste em 
desconsiderar em seus manuais de formação e aprendizado. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nas últimas décadas, as pesquisas em Ciência da Informação apresentam aspectos 
vigorosos e ousados. Apesar dos fundamentos positivistas, cartesianos e tecnicistas, as 
pesquisas em Ciência da Informação não se detiveram em dogmas pré-estabelecidos. Pelo 
contrário, migraram para todas as possíveis áreas correlatas que poderiam oferecer algum 
suporte teórico e/ou metodológico que ajudassem a entender as questões de uma nova 
realidade do conhecimento. Isto pode justificar o porquê de uma parte dos estudos 
epistemológicos, realizados no final do século XX e no início do século XXI, apontarem para 
uma Ciência da Informação fragmentária, possivelmente carente de objeto, teorias, 
paradigmas, modelos e métodos definidose consolidados. 
Paradoxalmente, o princípio da fragmentação temática, resultado da constante 
exploração de outros campos do saber e da abertura de novas frentes de pesquisa, permitiu 
que a Ciência da Informação mantivesse um “olhar” próximo dos principais fenômenos e 
eventos do contexto social e suas repercussões e formas de representação no discurso 
científico. 
Cabe destacar que, apesar do esforço de consolidar e, até mesmo, padronizar linhas 
evolutivas ou de construção histórica, teórica, conceitual e metodológica da Ciência da 
Informação, o que se verifica, em universos disciplinares, são confusões teórico-conceituais 
provenientes de incompreensões científicas. Isto é, a incompreensão ou a compreensão 
equivocada e limitada da própria ciência gera e fomenta movimentos incapazes de entender as 
complexidades que dão identidade à Ciência da Informação. 
 
 
Portanto, as epistemologias e anti-epistemologias não são necessariamente contrárias. 
Ambas trazem destaques sobre a constituição e a construção do conhecimento na Ciência da 
Informação. E, ambas, quando assumidas por uma ciência ou por uma disciplina podem 
determinar diversos aspectos positivos como, por exemplo, a formação disciplinar 
cientificamente consistente e responsável e o debate crítico fundamentado e ancorado no 
princípio da compreensão e do diálogo, e aspectos negativos como, por exemplo, a 
manutenção de tradicionalismos e cânones desvinculados da realidade, estimulando, ao 
mesmo tempo, a adesão incondicional às opiniões dos “experts” das disciplinas de formação e 
o recalque dos saberes da experiência, baseados no fazer, como forma menor de 
conhecimento. 
 
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* Processo nº 2013/02426-5, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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